16 junho 2025
Meta e IA
Mark Zuckerberg está visivelmente incomodado com a incapacidade da Meta de competir frente a OpenAI e Anthropic na corrida da inteligência artificial, especialmente após o lançamento pouco impactante do LLaMA4 Behemoth. Essa situação levou Zuckerberg a assumir um "modo fundador", reposicionando equipes internas de pesquisa e exigindo resultados imediatos . Ele desmembrou a divisão GenAI, rebaixou a liderança anterior e antecipou uma dedicação intensa: dias, noites e fins de semana de trabalho, com metas voláteis determinadas por suas ansiedades .
Paralelamente, a Meta fez um movimento estratégico ousado ao adquirir cerca de 49% da Scale AI por aproximadamente US$ 14,3–15 bilhões, avaliando a companhia em cerca de US$ 29 bilhões. O objetivo central desse investimento parece ser o “acquihire” do jovem CEO e fundador Alexandr Wang (foto), que agora comandará a nova divisão de “superinteligência” da Meta, embora a Scale continue operando de forma independente. Aos 28 anos, Wang alcançou a marca de bilionário em 2021 e está prestes a liderar os esforços de IA na Meta.
E o jovem já estreou batendo alto: acusou a China de estar tramando uma operação internacional, que inclui roubo de dados e tecnologia. Um discurso que interessa de perto aos atuais governantes.
Sinalização, mercado de trabalho e IA
Os dados dos Estados Unidos mostram que a contabilidade possui uma taxa de desemprego reduzida em relação a campos "novos" como engenharia da computação ou estudos ambientais. A taxa de subemprego também é baixa, quando comparamos com antropologia (mais de 50%) ou comunicação (idem). (Fonte: newsletter da Bloomberg)
Mas sabemos que a Inteligência Artificial ainda não está refletida nos dados de emprego e tudo pode mudar nos próximos anos. Ou não, já que há controvérsias sobre a capacidade dos modelos em fazer tarefas mais complexas. Eis um trecho:
Um novo artigo de pesquisadores da Apple jogou um balde de água fria no hype da inteligência artificial. “O estudo argumenta que os modelos de raciocínio avançado — celebrados por alguns como uma nova fronteira da forma como a IA ‘pensa’ — estão muito aquém das expectativas. Quando um problema se torna suficientemente complexo... os modelos sofrem um ‘colapso total de precisão’”, relata Dave Lee.
E ontem, lendo O Incentivo Certo, de Uri Gneezy, encontrei isso:
Por que investir em um bom ensino é um sinal convincente? Porque é algo difícil de realizar. É necessário investir tempo, esforço e dedicação nesse objetivo de longo prazo. Esse investimento em instrução é menos custos para o candidato do tipo bom do que para o tipo ruim porque, por definição, o tipo bom é mais inteligente e está mais disposto a trabalhar duro. A instrução é menos desgastante e mais recompensadora para ele do que para o tipo ruim, que, provavelmente, a considera muito difícil ou demorada.
Amigo da OPEP
O gráfico mostra o crescimento da produção de petróleo no Brasil nos últimos anos, destacando o marco da descoberta do pré-sal. Mantida a tendência, o país se tornará a segunda maior fonte de produção de petróleo fora da OPEP — que reúne alguns dos principais países produtores —, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, mas à frente da Guiana e do Canadá.
15 junho 2025
Grandes civilizações e contabilidade: Grécia
Grécia (750–31 a.C.)
A Grécia era uma coletânea de cidades-estado que se tornou uma nação quando foi unificada por Filipe da Macedônia em 338 a.C., e depois se transformou em um vasto império durante o breve reinado de seu filho, Alexandre, o Grande (336–323 a.C.). O império se dissolveu rapidamente após sua morte e, em 31 a.C., a Grécia já fazia parte do Império Romano. No entanto, embora o império de Alexandre, o Grande, tenha sido efêmero, a cultura grega desse período se mostrou extremamente duradoura, especialmente nas áreas da filosofia e da política. Os nomes de Homero, Pitágoras, Sólon, Sócrates, Hipócrates, Péricles, Platão, Aristóteles e Demóstenes permanecem vivos até hoje.
O movimento colonizador grego ocorreu entre 750 e 500 a.C. As diversas cidades-estado estabeleceram postos comerciais em toda a região do Mediterrâneo. O comércio local na Grécia era realizado, principalmente, por meio de trocas (escambo). Houve muitas guerras entre as cidades-estado de Esparta, Atenas e Tebas, com alianças variadas entre outras cidades. Do ponto de vista contábil e administrativo, o foco deve ser Atenas, com suas leis bem desenvolvidas, órgãos governamentais, sua academia e seu liceu. De fato, Aristóteles tornou-se tutor de Alexandre quando este tinha 13 anos.
Grande parte das evidências de práticas contábeis na Grécia desse período está relacionada à administração, tanto governamental quanto dos templos. Williard E. Stone, da Universidade da Flórida, escrevendo em 1969, afirmou que se preferia utilizar escravos como contadores, pois, ao contrário dos homens livres, eles podiam ser torturados, e acreditava-se que os testemunhos obtidos sob tortura eram mais confiáveis do que os juramentos dos homens livres. Péricles adotou o costume de exigir que os empreiteiros responsáveis por obras públicas reportassem receitas e despesas em tábuas entalhadas em pedra, fixadas nas paredes dos edifícios, como no Partenon. Isso estava de acordo com práticas semelhantes do Egito Antigo, onde inscrições desse tipo foram encontradas na Pirâmide de Quéops.
O conselho que governava a cidade-estado de Atenas possuía um elaborado sistema de registro e prestação de contas públicas. Aristóteles, em sua obra “Política”, discutiu o papel do auditor governamental, que recebia todas as contas de despesas e as submetia a auditoria, sendo essa uma função tão importante que tais oficiais não podiam exercer nenhuma outra atividade.
George J. Costouros (1978), da Universidade Estadual de San Jose, descreveu os escritos de Ésquines, orador e político ateniense do início do século IV a.C., que afirmou: “Nesta cidade (Atenas), tão antiga e grandiosa, nenhum homem que tenha exercido qualquer função pública está isento de auditoria.” O oficial, após apresentar suas contas e passar por uma auditoria bem-sucedida, recebia então uma “coroa” como reconhecimento. Aristóteles, na obra “Constituição de Atenas”, distingue três conselhos de contadores, cada um composto por dez membros: os Contadores do Conselho, os Contadores Administrativos, assistidos por dez avaliadores, e os Examinadores, assistidos por vinte avaliadores. As contas e seus respectivos responsáveis eram submetidos a audiências públicas, nas quais os valores efetivos eram comparados com os valores orçados, e os oficiais podiam ser acusados caso fossem encontradas discrepâncias.
Uma rica fonte histórica da contabilidade grega são os Papiros de Zenon, do século III a.C., encontrados na região de Fayum, no Egito Ptolemaico. Zenon, um grego, era o diretor executivo de Apolônio, ministro das finanças de Ptolomeu Filadelfo. Além de suas funções governamentais, Apolônio também realizava diversas atividades comerciais em benefício próprio. H.P. Hain, da Universidade de Melbourne, na Austrália, em 1966, descreveu o uso da contabilidade por centro de responsabilidade por Zenon, que mantinha registros escritos detalhados.
Nos papiros, há evidências de auditorias extensivas, indicadas por um traço inclinado ou um ponto grosso à frente de cada valor numérico. Entre os documentos constam resumos contábeis mensais, anuais e trienais. Em conjunto, esses papiros ilustram um sistema altamente desenvolvido de contabilidade centralizada, controles rigorosos e eficiência empresarial.
Richard Vangermeersch para The History of Accounting
É bom lembrar que o conceito de valor de uso e valor de troca já era conhecido pelos gregos. Foto: aqui
Grandes civilizações e contabilidade: China
China
A China foi, em determinado momento, uma líder na área da contabilidade. A história da contabilidade na China abrange cerca de 10.000 anos, desde sua origem até o desenvolvimento de um estilo chinês de escrituração em partidas simples e partidas dobradas.
Por volta de 7.000 a.C., em Xian, já existia um sistema de cálculos relativamente complexo. Durante esse período primitivo, os contadores chineses gravavam registros contábeis em ossos e tábuas de madeira. Isso representava uma forma inicial de escrituração em partidas simples. Houve avanços na escrituração durante a Dinastia Shang (1650–1100 a.C.) e a Dinastia Zhou (1100–256 a.C.). Confúcio (551–479 a.C.) iniciou sua carreira como funcionário responsável pela contabilidade de armazéns.
O governo chinês adotou o método de “registro de recebimentos/pagamentos”, no qual a equação receitas – despesas = superávit era utilizada para balancear as contas. Esse processo era denominado sanzhufa (o método de “contabilidade de três colunas”). Durante a Dinastia Zhou, foi estabelecida uma organização financeira e contábil bastante completa. O grande tesoureiro (dafu) era o mais alto cargo no tesouro. O auditor do tesouro nacional era denominado zaifu. O contador-chefe (sikuai) era o mais alto oficial contábil, contando com três tesoureiros subordinados, responsáveis pelos registros de entradas, saídas e superávit da Corte Imperial.
Em consonância com o princípio financeiro e contábil de “planejar os gastos de acordo com as receitas”, a corte da Dinastia Zhou dava grande importância ao orçamento e aos relatórios contábeis. Todos os anos, a corte definia suas despesas orçamentárias com base nas receitas previstas, controlando os gastos para garantir o equilíbrio fiscal. Havia relatórios a cada 10 dias, mensais, anuais e um relatório final a cada período de três anos. Esse relatório final era submetido ao rei. O sistema era denominado shangji (grande cálculo). O rei de Zhou e o zaifu tomavam decisões sobre recompensas ou punições com base no relatório geral final (shouji). Esse processo de reporte, que se desenvolveu ao longo dos anos, provavelmente não tinha equivalente, na época, nos procedimentos de controle interno, orçamento e auditoria (Chatfield, 1974).
As Dinastias Qin (221–207 a.C.) e Han (207 a.C.–220 d.C.) marcaram a fase de desenvolvimento da sociedade feudal na China. Tornou-se necessário desenvolver um sistema contábil que abrangesse desde o governo central até os governos locais. A expansão do comércio nessas dinastias exigiu o desenvolvimento da contabilidade comercial. Métodos fundamentais para o cálculo de lucros e perdas no comércio, bem como métodos simples para o cálculo dos custos de produtos manufaturados, foram desenvolvidos. Por exemplo, na indústria de processamento de vinho, os custos de matérias-primas, combustível e mão de obra eram calculados separadamente e utilizados como base para a avaliação.
Durante a próspera Dinastia Tang (618–906 d.C.), tanto a contabilidade governamental quanto a comercial fizeram avanços notáveis. Foi criado um departamento de contabilidade como parte da administração nacional. Um departamento de auditoria independente, o Bibu, foi estabelecido e teve um papel relevante na gestão dos aspectos financeiros e contábeis da corte imperial. Os sistemas de controle interno foram ainda mais aperfeiçoados. Na Dinastia Tang, foi instituído um sistema de cruzamento de informações entre o departamento de contabilidade, a tesouraria, o tesouro nacional, o departamento de impostos, a auditoria e os órgãos reguladores econômicos.
Em vez do princípio de “planejar os gastos com base nas receitas”, o financista Yang Yan, da Dinastia Tang, implementou o princípio de “controlar os gastos com base nas receitas”, no qual todas as despesas eram primeiramente orçadas, e, em seguida, as receitas eram projetadas. Isso exigiu que a corte imperial desenvolvesse um orçamento geral. Na Dinastia Song (960–1279 d.C.), o departamento de contabilidade registrava e conferia todas as contas com base no orçamento equilibrado.
Dois tipos de equações contábeis eram amplamente utilizados: a fórmula do “balanço de quatro colunas” (saldo inicial + entradas = saídas + saldo final) e a fórmula da “diferença de quatro colunas” (entradas – saídas = saldo final – saldo inicial). O método das quatro colunas passou, então, a ser o núcleo da metodologia contábil chinesa.
No final da Dinastia Ming (1368–1644 d.C.) e início da Dinastia Qing (1644–1912 d.C.), começaram a surgir inovações na escrituração comercial, impulsionadas pela lenta emergência do capitalismo. Uma versão chinesa da contabilidade por partidas dobradas, chamada de conta Longmen, foi desenvolvida a partir do método das quatro colunas. A conta Longmen adotou uma abordagem dual para registrar ganhos e perdas, enquanto o método das quatro colunas se baseava no conceito de ativos – passivos = capital. Embora os princípios fossem semelhantes aos da contabilidade ocidental, a ausência de um desenvolvimento pleno do sistema econômico capitalista na China fez com que a contabilidade por partidas dobradas se desenvolvesse apenas parcialmente. Assim, foi necessário importar a contabilidade de partidas dobradas ocidental no início do século XX.
Em 1905, Cai Xiyong escreveu um manual de contabilidade que iniciou a disseminação da contabilidade por partidas dobradas no padrão ocidental na China. Em 1907, esse método já era utilizado por alguns bancos. Durante o período da República da China (1912–1949), contadores chineses como Pan Xulun, Xie Lin, Xu Yongzuo, Yong Jiayuan, An Shaoyun e Zhao Xiyu se dedicaram à introdução da contabilidade ocidental adaptada à realidade chinesa. Esses profissionais reformaram a contabilidade chinesa e contribuíram significativamente para a consolidação do campo contábil na China.
Após a fundação da República Popular da China em 1949, a contabilidade entrou em uma nova fase histórica, caracterizada por reformas organizacionais, legislativas, filosóficas e teóricas. Para enfrentar os desafios da globalização, a contabilidade desempenhará um papel ainda mais relevante na economia do século XXI.
Guo Daoyang - The History of Accounting
O verbete foi escrito nos anos 90 e a parte final mostra os desafios. Recentemente, a China foi o primeiro país a ativar, através de regulação, os dados. O crescimento da economia chinesa e o tamanho populacional do país despertam a atenção atual da contabilidade. Imagem: aqui
Grandes civilizações e contabilidade: Índia
Índia (1600 a.C. – 1856 d.C.) Por muitos séculos, o subcontinente que hoje compreende as áreas da atual Índia, Paquistão e Bangladesh esteve sob domínio provincial. O governo central era raro, embora, ocasionalmente, uma província forte dominasse sua própria região e outras áreas desse vasto e populoso território.
O primeiro império indiano (325–150 a.C.) foi governado pela dinastia Maurya. Um livro escrito nesse período, o Arthsastra, descrevia a economia política. A base financeira do sistema imperial era sustentada pela arrecadação de impostos sobre a terra e, em menor escala, pelo comércio. Parece ter existido um corpo significativo e bem estruturado de administradores, incluindo cargos de tesoureiro, responsável pela manutenção das contas, e de coletor-chefe, encarregado dos registros de arrecadação. O imperador enviava oficiais para inspeção a cada cinco anos, realizando auditorias adicionais e supervisionando a administração provincial. A aldeia era a unidade administrativa básica.
Esse modelo administrativo permaneceu ao longo dos anos sob outras dinastias, incluindo os Gupta no norte da Índia (320–540 d.C.), a Hegemonia Muçulmana (1200–1526 d.C.), a dinastia Bahmani (1347–1527 d.C.), o Império Vijayanagar (1336–1646 d.C.) e o Império Mogol (1526–1761 d.C.). O imposto sobre a terra manteve-se, de forma constante, como a principal fonte de receita. Por volta de meados do século XVIII, as influências europeias tornaram-se bastante fortes; no final do mesmo século, os britânicos passaram a dominar a região por meio da Companhia das Índias Orientais. O domínio britânico trouxe consigo registros empresariais no modelo ocidental. Em 1857, os britânicos assumiram o controle político completo da Índia.
Assim como no caso da Grécia e de Roma antigas, estudiosos da contabilidade examinaram fontes históricas na tentativa de identificar a presença de um sistema de partidas dobradas na Índia. Em um artigo de 1986, B.M. Lall Nigam, da Delhi School of Economics (Índia), procurou relacionar as referências contábeis presentes no Arthsastra e no Manu Samhita ao sistema de partidas dobradas, embora seus argumentos tenham sido contestados no ano seguinte em um artigo de Christopher W. Nobes, da University of Reading (Reino Unido). Em 1992, Michael E. Scorgie, da La Trobe University (Austrália), e Somendra Chandra Nandy, historiador de Calcutá (Índia), não conseguiram encontrar evidências documentais da existência do método das partidas dobradas, embora tenham realizado uma análise detalhada da contabilidade indiana no final do século XVIII. Independentemente da questão das partidas dobradas, a literatura indiana oferece evidências da importância da contabilidade e dos contadores na administração dos primeiros governos.
Richard Vangermeersch para The History of Accounting
O verbete não destaca o papel da criação dos números hindus (figura), que é a base da nossa numeração moderna. Há autores que enfatizam a relevância da adoção dos números nas cidades italianas como um dos requisitos para a adoção das partidas dobradas.
Grandes civilizações e contabilidade: Egito
A contabilidade governamental na Babilônia e no Egito teve um desenvolvimento geralmente semelhante, embora a introdução do papiro como material de escrita tenha tornado os registros egípcios menos volumosos e permitido um uso mais amplo de documentos auxiliares. As contas egípcias mais antigas que sobreviveram datam de aproximadamente 2390 a.C. Assim como na Babilônia, a coesão nacional dependia da organização das finanças reais, nas quais os armazéns de cada distrito recebiam impostos pagos em espécie e encaminhavam os itens menos perecíveis para um tesouro central. Em um império mantido coeso por meio dos registros, os escribas foram descritos por A.H. Woolf como os “pivôs sobre os quais girava toda a engrenagem do tesouro e de outros departamentos”. Com extremo cuidado, os contadores vinculados a cada armazém registravam tudo o que era recebido e os detalhes de sua utilização. Nada saía do tesouro sem uma ordem escrita. Uma segurança adicional era garantida por um elaborado sistema de controle interno, que exigia que os registros de um oficial estivessem em concordância com os de outro. A precisão era altamente recomendada, pois as contas eram auditadas pelo superintendente do armazém, sendo que irregularidades graves podiam ser punidas até mesmo com mutilação ou morte.
A importância atribuída a esses registros contrasta, de forma curiosa, com sua falta de sofisticação. A escrituração egípcia parece ter se desenvolvido rapidamente e, depois, estagnado virtualmente por vários milhares de anos. Os registros de recebimento e desembolso do governo permaneceram, essencialmente, como listas em colunas, que não podem ser consideradas contas no sentido moderno de categorias de acumulação de dados. Argumenta-se que métodos mais avançados não eram necessários porque a economia egípcia mudou muito pouco após seu período inicial de desenvolvimento. O contraste entre a contabilidade antiga e a moderna pode ser expresso nos termos de um sistema econômico egípcio complexo, porém primitivo, que nunca evoluiu a ponto de tornar útil uma escrituração baseada em acumulação e somatório.Do verbete de Michael Chatfield do livro The History of Accounting.
Como muito documento da civilização sobreviveu, temos alguns aspectos curiosos sobre o Egito. Em uma postagem anterior, comentamos sobre as desculpas por faltar ao trabalho, em um documento encontrado no Egito antigo. O mapa da postagem mostra como a população do atual Egito concentra em torno do Nilo.
14 junho 2025
Crise global: observe o consumo de pizza próximo ao Pentágono
Um texto do El Economista aborda o curioso fenômeno chamado "Pizzómetro", uma ferramenta informal que se popularizou por prever possíveis crises globais a partir da movimentação nas pizzarias próximas ao Pentágono, nos Estados Unidos. A lógica é simples: quando ocorrem reuniões emergenciais ou operações militares secretas, os funcionários do Departamento de Defesa costumam trabalhar até tarde, o que gera um aumento significativo nos pedidos de pizza na região. Esse indicador surgiu ainda na Guerra Fria, quando os soviéticos, atentos a qualquer sinal da movimentação americana, passaram a observar o volume de entregas de pizza como possível sinal de crise.
O método voltou a chamar atenção recentemente, no dia 12 de junho de 2025, quando picos incomuns no tráfego das pizzarias próximas ao Pentágono foram detectados horas antes do ataque de Israel ao Irã, acompanhado da ordem para evacuação de diplomatas americanos em países do Oriente Médio. Após o ataque, o volume de pedidos voltou ao normal, exceto em uma pizzaria, sugerindo que certas operações ainda estavam em andamento. O episódio demonstra como, em tempos de inteligência aberta (OSINT), até informações aparentemente banais, como o consumo de pizza, podem antecipar grandes movimentos geopolíticos.
Grandes Civilizações e Contabilidade: Babilônia
Antes de iniciar, é importante distinguir Suméria, Mesopotâmia e Babilônia. A Suméria foi um reino que existiu anteriormente. A Mesopotâmia é uma região geográfica. Já a Babilônia foi a cidade central de uma civilização localizada na Mesopotâmia, atual Iraque. Era um centro econômico e cultural, com um impressionante desenvolvimento arquitetônico — o mais famoso deles, os Jardins Suspensos. Na prática, é comum tratar Suméria e Babilônia conjuntamente, como faz Chatfield no verbete sobre o assunto em The History of Accounting.
Falar da Babilônia é também falar de Hamurábi, rei da primeira metade do século XVIII a.C., e de Nabucodonosor (605–562 a.C.). Os vestígios da vida na cidade que sobreviveram ao tempo revelam uma intensa atividade econômica, com registros de empréstimos, operações comerciais e partilhas de herança. A cidade tem presença marcante na Bíblia: com a Torre de Babel, com Nabucodonosor e como símbolo do pecado, em uma conotação negativa.
Uma das principais influências da cidade é o Código de Hamurábi, um conjunto de leis provavelmente redigido pelo rei de mesmo nome, por volta de 1772 a.C. Fisicamente, trata-se de uma pedra, encontrada em 1901, com escrita cuneiforme e 282 leis (ou 281, já que a de número 13 foi omitida por superstição) distribuídas em cerca de 3.600 linhas. A mais conhecida é o princípio do talião (do latim talis, “tal” ou “igual”): olho por olho, dente por dente. O código traz diversas normas sobre o comércio, como aquelas relativas ao não cumprimento de contratos. Trata-se do primeiro corpo legal conhecido, e o fato de estar inscrito em pedra tem uma forte carga simbólica: a lei é imutável, nem mesmo o rei poderia alterá-la.
O fato de os habitantes da Babilônia serem obcecados por registros contábeis, conforme destaca Michael Chatfield, é uma influência importante. Os códigos enfatizam essa prática. O Código de Hamurábi determinava que, ao vender uma mercadoria, o comerciante deveria entregar ao comprador um documento com os preços; se não o fizesse, o acordo poderia ser legalmente contestado. Assim, as transações comerciais eram registradas por escrito, com as assinaturas das partes e das testemunhas.
Grandes civilizações e Contabilidade: Suméria
A Suméria foi uma civilização que existiu no atual sul do Iraque, entre aproximadamente 3000 e 1000 anos antes de Cristo, sendo considerada uma das primeiras civilizações da história. O povo sumério vivia da agricultura, do comércio e das primeiras manufaturas, como tecelagem, curtume, metalurgia, alvenaria e cerâmica. Foi também na Suméria que surgiu a escrita cuneiforme.
O desenvolvimento da escrita é um indicativo de que já existia, também, uma forma de contabilidade. Nos primórdios da civilização suméria, a escrita consistia basicamente em desenhos; apenas posteriormente passou a representar sons e sílabas. Trata-se da mais antiga língua escrita conhecida da humanidade.
A principal cidade suméria era Ur, e nas grandes cidades havia um sistema de governo composto por reis, burocratas e sacerdotes. Os burocratas cuidavam dos interesses do rei, da administração do tesouro público, da arrecadação de impostos e de outros assuntos. Os comerciantes mantinham relações comerciais com diversos povos, inclusive do Mediterrâneo e do Vale do Indo.
As contribuições da Suméria foram significativas: desenvolveram o sistema sexagesimal, sistemas de medidas de capacidade, superfície e peso, a divisão do dia em 24 horas, além de produzirem um dos primeiros manuais de medicina e fórmulas químicas. Utilizavam substâncias como laxantes e purgantes, produziam salitre e fabricavam instrumentos como martelos, pregos, machados, adagas e, possivelmente, a própria roda. Também estudaram os astros, inventaram a cerveja e foram pioneiros na domesticação de plantas e animais.
Através dos textos que sobreviveram ao tempo, sabemos sobre a sociedade suméria e suas transações comerciais. Nos anos 1970 e 1980, a arqueóloga Denise Schmandt-Besserat descobriu que pequenas peças de argila eram utilizadas no comércio como unidades concretas de contagem, representando, portanto, a forma mais antiga conhecida de contabilidade. Um comerciante colocava, dentro de uma espécie de bolsa de argila, as representações dos bens negociados. Quando a argila secava, o conteúdo ficava lacrado e seguro. A cada transação, o negociante quebrava o artefato para acessar os registros — ou fazia isso sempre que precisava verificar o saldo.
Com o tempo, os sumérios passaram a registrar essas informações diretamente na superfície externa da bolsa de argila, evitando a necessidade de quebrá-la. Mais adiante, alguém percebeu que não era necessário utilizar as representações físicas dos bens; bastava fazer marcas na argila — surgindo, assim, os primeiros registros contábeis escritos, semelhantes a uma folha de papel.
Foi nessa civilização que surgiu Kushim, o nome de pessoa mais antigo de que se tem conhecimento — considerado o primeiro contador da história. Ele era responsável pelo registro da produção e armazenagem de cevada.
13 junho 2025
Novo chefe de contabilidade da SEC
A SEC nomeou hoje Kurt Hohl (foto) como novo Chief Accountant, com início oficial em 7 de julho de 2025. Hohl traz quase 40 anos de experiência em contabilidade e auditoria. Ele foi parceiro da Ernst & Young por 26 anos, chegando a vice-presidente global adjunto de garantia profissional, liderando mais de 1.400 profissionais responsáveis por qualidade, gestão de risco e conformidade.
Entre 1989 e 1997, Hohl atuou na própria SEC, chegando a Associate Chief Accountant na Divisão de Corporation Finance. Foi autor do manual Fundamental Reporting Manual, referência para práticas contábeis e regulatórias da agência. Após sair da SEC, fundou em 2023 a Corallium Advisors, oferecendo suporte a empresas em auditoria, conformidade, gestão de risco e ofertas públicas iniciais.
Fonte: aqui
Siga Brasil e a transparência nas contas públicas
Siga Brasil é o nome do principal programa usado pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle, um órgão do Senado responsável por assessorar os parlamentares. Lançado em 2004, o Siga Brasil reúne informações sobre as receitas e despesas do Executivo, Legislativo e Judiciário federais. Graças às atualizações e ampliações ao longo dos últimos vinte anos, tornou-se fundamental para fiscalizar os gastos públicos e, mais recentemente, para monitorar as emendas parlamentares. “Hoje em dia, todos os especialistas em contas públicas, sem exceção, utilizam o Siga Brasil”, diz o economista Francisco Gil Castello Branco Neto, fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, ONG que monitora o Orçamento.
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Grandes civilizações e contabilidade: Código de Hamurabi
O Código sobreviveu ao tempo, e hoje temos acesso ao conjunto de leis. O que transcrevemos a seguir da obra de Jair Lot Vieira. Há também a tradução do livro de Emanuel Bouzon, O Código de Hamurabi (Editora Vozes). Das leis existentes no Código, destaquei as seguintes:
7 - Se um homem comprou ou recebeu em depósito, sem testemunhas ou contrato, ouro, prata, escravo ou escrava, boi ou carneiro, asno, ou o que for, das mãos de um filho alheio ou de um escravo alheio, esse homem se assemelha a um ladrão e é passível de morte.
Esse texto destaca a importância do registro contratual das operações e a punição esperada. Veja que o código é rígido, o que deveria coibir trapaças. A lei a seguir segue no mesmo sentido:
8 - Se um homem roubou um boi, carneiro, asno, porco ou um barco, se pertencente ao deus ou ao palácio, restituirá o correspondente a trinta vezes; se pertencente a um súdito comum, a compensação será correspondente a dez vezes. Se incapaz de restituir, o ladrão será passível de morte.
Aqui há uma pena alternativa, que seria a pena em pecunia. No texto, muskenum (súdito comum) seria uma classe social intermediária, abaixo do awilum (homem), mas acima do escravo. Ou seja, a lei era mais rigorosa se o roubo fosse de bens dos mais ricos.
9 - Se um homem que perdeu um objeto o encontra em poder de um outro e este declara: “Foi vendido a mim por um vendedor e eu o comprei na presença de testemunhas”, e se o dono do objeto perdido declara: “Apresentarei testemunhas que identicarão meu objeto perdido”, o comprador apresentará o vendedor que lhe transmitiu o objeto e as testemunhas na presença das quais o comprou. O dono do objeto perdido encaminhará as testemunhas que conhecem o objeto. O juiz fará o exame das declarações deles. As testemunhas da compra tanto quanto as testemunhas que reconheceram o objeto perdido declararão diante da divindade1 o que é de seu conhecimento. O vendedor será comparado a um ladrão e passível de morte. O dono do objeto perdido retomará seu objeto, ao passo que o comprador receberá de volta a prata que serviu de pagamento do objeto na casa do vendedor.
Bem complicado, mas a lei trata da receptação de objeto e a punição do envolvido. As leis seguintes (até a 13) tratam de situações derivadas do caso principal e ressalta a importância do contrato e testemunhas. Há diversos outros itens sobre roubo e punições pesadas para o crime.
48 - Se um homem está comprometido com uma dívida que envolve juros, tendo um temporal inundado seu campo e carregado sua colheita ou se, por falta e água, o trigo não cresceu em seu campo, nesse ano ele não entregará trigo ao credor, molhará na água sua plaqueta, e não pagará o juro desse ano.
Como os contratos eram feito em argila, ao molhar a água, o contrato poderia ser modificado.
100 - O comissionado registrará os juros da prata proporcionalmente à quantidade que levou, computará seus dias e pagará ao negociante
A presença de juros significa o conhecimento do valor do dinheiro no tempo. Esse trecho tem problemas de compreensão e lacunas.
102 - Se um negociante deu prata gratuitamente a um comissionado, e se este teve prejuízo onde esteve [no decurso de sua viagem], ele restituirá o capital em prata ao negociante.
Esse trecho apresenta a noção de capital e resultado, no caso prejuízo. Conforme destaca Bouzon, o texto depende do que compreendemos do termo "tadmiqtim" que parece ser um empréstimo sem juros, como um adiantamento de capital para uma viagem de negócios. A lei anterior usa o termo "samallum" que alguns traduzem como "agente" e outros como "comissionado", mas há diferentes interpretações. As normas seguintes são derivações da relação entre o agente e o dono do capital.
123 - Se, na ausência de testemunhas e sem obrigações (estabelecidas) ele deu em custódia, e se onde deu for contestado, essa causa não dará ensejo a nenhuma demanda.
A garantia legal para uma custódia é a existência de testemunhas e um contrato.
Em suma, apesar de não ser tecnicamente uma obra contábil, o Código mostra como a cultura da época lidava com os negócios, enfatizando a necessidade do registro contratual dos mesmos.
Notícia e tempestividade
A notícia:
As ações da fabricante de aviões Boeing caíram 8% nas negociações pré-mercado dos Estados Unidos nesta quinta-feira, depois que um avião da Air India com 242 pessoas a bordo caiu minutos após decolar da cidade de Ahmedabad, no oeste da Índia.
Enquanto o mercado reagiu imediatamente ao fato, a contabilidade da empresa tende a responder de forma mais lenta — possivelmente conservadora. Isso não significa que os contadores da Boeing não estejam, neste momento, calculando os possíveis impactos sobre os lucros futuros. É provável que já tenham, inclusive, uma boa estimativa de passivo. No entanto, o ambiente contábil costuma aguardar o próximo balanço, buscando reunir o maior número possível de informações.
Essa postura tem seu lado positivo. O impacto da notícia pode variar significativamente de acordo com a causa do acidente — um erro mecânico, por exemplo, é muito mais prejudicial para a empresa do que um atentado provocado por um grupo terrorista. E, em geral, leva-se tempo até que se tenha clareza sobre esse tipo de informação. Assim, postergar o reconhecimento contábil do evento mostra-se adequado neste momento.
PCAOB será absorvido pela SEC?
A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) está se preparando para assumir as funções da PCAOB caso uma proposta no Congresso seja aprovada. Essa proposta, parte de um pacote de redução de gastos, busca acabar com a PCAOB — criada após os escândalos da Enron — e transferir suas responsabilidades de auditoria, inspeção e definição de normas para a SEC dentro de um ano, além de extinguir suas taxas de suporte. Críticos alertam que a SEC carece da estrutura especializada da PCAOB, risco de perda de acordos internacionais (como na China) e exigirá contratar centenas de profissionais, o que apagaria supostas economias.
Auxílio cursinho
Não conhecia esse programa do governo:
O Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta quarta-feira (dia 11) a lista com os cursinhos preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cujos alunos selecionados terão direito a uma ajuda de custo mensal de R$ 200. A Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP) selecionou 393 cursos em todo o país, sendo 66 deles no Estado do Rio. A estimativa é que mais de 15 mil estudantes sejam beneficiados com o auxílio.
Em termos de gasto público, o impacto parece não ser significativo. No entanto, há uma preocupação quanto à dificuldade de controle — embora sejam poucas bolsas por curso, a criatividade na utilização indevida de recursos públicos não deve ser subestimada. Soma-se a isso a questão da oportunidade: muitos cursos de ensino superior enfrentam queda na demanda, o que torna ainda mais relevante avaliar a real necessidade e o direcionamento dessas bolsas.
Uma política de acesso livre a IA para toda população, como recentemente foi anunciado em um país árabe, talvez seja uma política bem melhor.
Rir é o melhor remédio
Em 2022, a McKinsey recebeu 55 milhões para aconselhar a Warner Brothers a se unir à Discovery. De 2022 a 2025, a McKinsey cobrou 37 milhões da Warner Brothers Discovery por aconselhar a empresa a mudar o nome de HBO para HBO Max, depois para Max, e depois de volta para HBO Max. Em 2025, a McKinsey faturou mais 63 milhões à Warner Brothers Discovery para concluir que a Warner Brothers e a Discovery deveriam voltar a ser marcas separadas.
Rir é o melhor remédio, desde que você não seja acionista da empresa. Os consultores podem ser horríveis em palpitar, mas são excelentes em vender.
12 junho 2025
Mentira ou trapaça: distinção importante
Quando as pessoas mentem, elas distorcem intencionalmente informações factuais. Quando trapaceiam, elas criam informações fraudulentas. Embora esses dois tipos de comportamento antiético sejam distintos, a literatura em ética comportamental tem confundido mentira com trapaça. Os paradigmas experimentais clássicos usados nessa área avaliam o comportamento de mentir, não o de trapacear. No entanto, estudiosos têm usado os resultados de estudos sobre mentira para desenvolver teorias sobre trapaça. Essa abordagem limitou a nossa compreensão do comportamento antiético. Neste trabalho — que inclui um estudo piloto e 14 experimentos pré-registrados com participantes de painéis online (N = 7.684) — eu separo a trapaça da mentira e demonstro que esses comportamentos são não apenas teoricamente distintos, mas também significativamente diferentes na prática. Especificamente, mostro que os mentirosos são menos propensos do que os trapaceiros a apresentar um relatório que maximize o lucro, e que os trapaceiros geralmente se sentem melhor consigo mesmos após trapacear do que os mentirosos se sentem após mentir. Além disso, demonstro que sentimentos de conforto mediam a maior disposição dos trapaceiros em apresentar um relatório voltado ao lucro máximo, e que a menor probabilidade de os mentirosos o fazerem diminui quando sabem que não precisarão apresentar evidências para comprovar suas alegações. Ao identificar essas diferenças, este trabalho reconcilia resultados conflitantes na literatura de ética comportamental e estabelece uma base conceitual mais clara para pesquisas futuras.
Caso do impacto da poluição sobre os ativos das empresas de satélite
Achei esse resumo, que mostra o efeito da poluição sobre os ativos das empresas que fazem lançamentos de satélites. O cálculo mostra um impacto direto sobre a depreciação dos equipamentos. A primeira parte do resumo é bem técnica, mas a parte final é o que interessa:
Contribuições antropogênicas de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre têm causado resfriamento e contração na termosfera, um fenômeno que deve continuar por muitas décadas. Essa contração resulta em uma redução secular da densidade de massa atmosférica na região onde a maioria dos satélites opera, na órbita baixa da Terra. A diminuição da densidade reduz o arrasto sobre os detritos espaciais e prolonga sua permanência em órbita, o que representa um risco constante de colisão com outros satélites e aumenta a chance de geração em cascata de mais detritos. Este estudo utiliza projeções de emissões de CO₂ com base nos cenários socioeconômicos compartilhados (SSPs) para investigar o impacto das emissões de gases de efeito estufa sobre a capacidade de suporte da órbita baixa da Terra para satélites. Introduz-se o conceito de capacidade de Kessler instantânea para calcular o número máximo e a distribuição ideal de satélites característicos que mantêm a população de detritos em equilíbrio estável. Os cenários modelados de emissões de CO₂ entre os anos de 2000 e 2100 indicam uma possível redução de 50% a 66% na capacidade de suporte de satélites entre as altitudes de 200 a 1.000 km. Considerando a recente e rápida expansão no número de satélites nessa região orbital, compreender a variabilidade ambiental e seu impacto nas operações sustentáveis é essencial para evitar a superexploração do espaço.
Foto: Wikipedia, Sputinik, o primeiro satélite.
Hollywood contra Midjourney: criação de imagem por IA pode levar a uma grande processo
Algumas empresas de mídia tradicional, entre elas a Disney, entraram com processo contra a empresa de inteligência artificial Midjourney, por violação de direitos autorais. A Midjourney estaria usando obras protegidas, como personagens de Star Wars e Shrek, para gerar imagens que seria criações de forma fiel, sem autorização.
No processo há um grande número de imagens originais e as geradas pela IA como prova da acusação. Além de solicitarem a proibição de geração de imagens, as empresas acusadoras querem compensações financeiras.
Esse é o primeiro grande processo de Hollywood contra a geração de imagens de IA e pode estabelecer precedentes sobre o uso das ferramentas.
Wikipedia recua no uso de IA
Recentemente, a Wikipédia fez um experimento em que mostrava para seus usuários um resumo, gerado por uma Inteligência Artificial, no topo dos artigos. O resultado foi uma reação muito negativa da comunidade de editores da enciclopédia.
Em um mundo em que a qualidade da IA é muitas vezes questionável, a Wikipédia seria uma fonte confiável de informação, produzida por humanos. Além de um possível problema reputacional, a enciclopédia deve lidar com uma eventual insatisfação de seus editores e produtores de texto. Sendo um conteúdo colaborativo, que funcionou perfeitamente bem até o presente momento, ter a interferência da IA, por menor que seja, pode não ser adequado.
A Wikipédia é ainda hoje um local onde a desinformação e o desleixo gerados pela Inteligência Artificial estão distantes. E isso graças à comunidade de editores e à infinidade de colaboradores.
Produzido a partir daqui
11 junho 2025
Frase
O maior presente é não ter medo de questionar.
Essa frase estava na newsletter de hoje da 1440. Ruby Dee é um atriz que nasceu em 1922 e faleceu em 2014. Atuou em filmes de Spike Lee. Fiquei pensando se a frase não seria contraditória com o Rir é o melhor Remédio de hoje:Mas creio que o cartunista está criticando aqueles que olham no celular e a partir de algo que alguém - sem conhecimento - postou na internet, passa a acreditar (leia-se "ciência picareta"). O estado permanente de questionamento é uma das boas características do ser humano.Cyrus escondeu compra com drogas do seu contador
Miley Cyrus revelou, em episódio recente do podcast Every Single Album, que durante a produção de seu álbum independente de 2015, Miley Cyrus & Her Dead Petz, os gastos com drogas eram tão elevados que ela os disfarçava como compras de “roupas vintage” para seu contador. Ela comentou que frequentemente emitiam cheques de milhares de dólares sob essa descrição - inclusive um cheque de US 15 000 por uma suposta camiseta vintage do John Lennon. Quando questionada, dizia apenas que a peça estava bem guardada e era “muito delicada”.
(Resumo feito pelo GPT a partir da notícia aqui)
Dependência do governo em países desenvolvidos: o caso de Musk e Trump
Costuma-se ter a impressão de que, nos países desenvolvidos, as empresas desfrutam de ampla liberdade e pouca dependência do governo. No entanto, a recente disputa entre Elon Musk e Donald Trump revela que essa percepção nem sempre corresponde à realidade.
Recapitulando: durante a campanha eleitoral, o empresário Musk doou 275 milhões de dólares para apoiar a eleição de Trump. Em contrapartida, Trump o nomeou para um cargo em seu futuro governo — até que uma briga recente levou Musk a se afastar e a fazer críticas públicas ao ex-presidente, que, por sua vez, reagiu de forma agressiva.
Os números demonstram que Musk depende consideravelmente do governo. Em 2023, suas empresas receberam 3 bilhões de dólares em contratos provenientes de 17 agências federais. Trump ameaçou cortar esses contratos. No entanto, o ponto mais delicado talvez seja a questão regulatória: ao menos 11 agências estão atualmente investigando ou processando empresas de Musk — e isso antes mesmo de Trump assumir novamente a presidência. Normas mais flexíveis para veículos autônomos são estratégicas para Musk, mas Trump pode atuar na direção oposta. Além disso, a SpaceX tem forte dependência de contratos públicos.
O que representa um risco para Musk e seus negócios pode se tornar uma oportunidade para seus concorrentes. Logo após a saída de Musk do governo, Bill Gates visitou a Casa Branca e apoiou cortes em programas de ajuda externa. Paralelamente, a NASA e o Pentágono passaram a incentivar outras empresas — além da SpaceX — a desenvolverem sistemas alternativos de lançamento espacial, o que beneficia Jeff Bezos e sua Blue Origin.
No campo contábil, é importante lembrar que Musk já entrou em conflito com a SEC por diversos motivos, incluindo a compra do Twitter e o uso de normas relacionadas ao bitcoin, entre outros pontos.
Com base nas informações da newsletter do NYTimes
10 junho 2025
Esquema de Fraudes no Banco Cruzeiro do Sul - Mais um capítulo
Pode estar chegando ao fim o processo do Banco Cruzeiro do Sul. O Ministério Público Federal reiterou à Justiça Federal pedido de condenação penal da cúpula do Banco Cruzeiro do Sul, que teve falência decretada em 2015. É a fase final do processo. Eis um resumo feito pelo GPT a partir do texto obtido aqui
Entre 2007 e 2012, a cúpula do Banco Cruzeiro do Sul executou um complexo esquema de fraudes contábeis e financeiras que gerou um rombo de quase R$ 2 bilhões. O mecanismo central consistia na simulação de operações de crédito consignado usando dados falsos ou de terceiros sem consentimento, intermediadas por associações controladas pelos próprios gestores. Embora os valores não saíssem efetivamente do banco, esses "empréstimos" eram cedidos a fundos de investimento ligados à instituição, inflando artificialmente os ativos no balanço e permitindo remuneração elevada a executivos.
Paralelamente, entre 2008 e 2012, empréstimos foram usados para esconder a falta de liquidez de FIPs associados ao banco. Recursos eram desviados para adquirir dívidas de empresa ligada ao presidente do banco, enquanto pessoas próximas à gestão compravam temporariamente cotas dos fundos no fim do mês, mascarando os reais detentores e enganando investidores.
A fraude também envolveu emissão de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs) em nome de laranjas, sem lastro ou provisão, causando perdas de R$ 236,5 milhões. Em 2010, houve ainda manipulação de ações preferenciais na bolsa para manter seu valor (prejuízo de R$ 285,1 milhões) e desvio de R$ 28,5 milhões via compra fictícia de cartões telefônicos. Os delitos são enquadrados como crimes contra o sistema financeiro e o mercado de capitais.
A IFRS 18 será adotada no Brasil? Parece que sim
Comentamos da lentidão do processo de adoção da IFRS 18 no Brasil. Hoje saiu a seguinte notícia:
Os membros do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) realizaram, nesta sexta-feira (6), a 223ª Reunião Ordinária da organização. Um dos principais pontos da pauta foi a apresentação e discussão final [1] sobre a IFRS 18, que será convergida para o Brasil como CPC 51 – Demonstrações Financeiras Primárias.
A IFRS 18 foi emitida pelo International Accounting Standards Board (Iasb) em abril de 2024 e no mesmo mês foi constituído um Grupo Técnico no CPC [2], que vem discutindo sobre as traduções e cronogramas para aplicação de um novo pronunciamento técnico, o CPC 51 [3].
Durante a Reunião Ordinária, o GT avaliou os termos traduzidos, bem como os demais itens pertinentes ao CPC 51. O documento final será aprovado virtualmente ainda nesta semana e encaminhado para aprovação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), bem como da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A previsão é que o novo pronunciamento técnico entre em audiência pública no início do segundo semestre de 2025.
Outro destaque da pauta foi a análise do CPC 07 (R2) – Subvenção e Assistência Governamentais e do ICPC 24 - Assistência Governamental sem Relação Específica com as Atividades Operacionais. A discussão foi conduzida pelos membros do Grupo de Trabalho GT-Iasb.
[1] Há uma luz no fim do túnel
[2] Mais de um ano para traduzir a norma.
[3] 51 é uma boa ideia.
(A fotografia acima mostra a reunião do grupo e foi colocada originalmente no site do CFC. Eu não postaria uma foto assim para destacar o trabalho do grupo. Mas é uma questão pessoal, já que um terço dos presentes estão com a câmera fechada.)
Regra dos 40%
Eis o trecho onde a heurística do 40%:
Em seus resultados do primeiro trimestre divulgados esta semana, a Nvidia apresentou uma forte surpresa positiva de receita, com vendas de 44,1 bilhões de dólares, um aumento de 69% em relação ao ano anterior. Nos últimos quatro trimestres, a margem de lucro líquido da Nvidia (antes dos impostos) foi de 60%. Trata-se de uma combinação poderosa de crescimento e lucratividade — algo sem paralelo entre as ações de grande capitalização no mercado atualmente. Isso ajuda a explicar por que, mesmo com uma valorização considerada extremamente alta, os investidores continuaram a comprar ações da Nvidia na quinta-feira, levando o valor de mercado da empresa a quase 3,4 trilhões de dólares.
Podemos entender melhor o quão impressionante é esse desempenho ao considerar a chamada “Regra dos 40” — uma heurística útil geralmente aplicada a startups de rápido crescimento por investidores de capital de risco, que estabelece que a soma da taxa de crescimento com a margem de lucro deve ser de pelo menos 40%. Para ser considerada “saudável”, a empresa precisa estar crescendo rapidamente, ser solidamente lucrativa ou ter uma combinação razoável de ambos.
Um comercial infeliz
Um comercial da Deloitte chamou a atenção do GoingConcern. Chama-se Birthday Party e mostra uma mãe organizando um aniversário e para os preparativos para ter uma reunião com o Dream Team da empresa. Eis uma tela do comercial:
Esse é o Dream Team reunido com a senhora. Observe que no canto inferior um dos integrantes da equipe está na própria empresa. No Youtube, nesse momento, há 13 likes, 13 comentários e 5 mil visualizações. Um dos comentários, com 50 likes diz: "Ainda bem que o time não tem família com aniversários".09 junho 2025
Usando IA para detectar sentimentos
Será verdade?. Eis a notícia:
O YouTube está introduzindo um novo formato de anúncio chamado "Peak Points" que utiliza a IA Gemini do Google para identificar os momentos de maior engajamento dos espectadores nos vídeos e exibir anúncios imediatamente após esses momentos de maior impacto emocional, aproveitando as capacidades de detecção de emoções para analisar expressões faciais, tom de voz e pistas contextuais, visando o impacto publicitário ideal.
As capacidades de detecção de emoções da Gemini AI formam a espinha dorsal tecnológica do sistema Peak Points do YouTube, analisando expressões faciais, tom de voz e pistas contextuais para identificar momentos carregados de emoção nos vídeos. Essa análise multimodal permite que a IA identifique quando os espectadores estão mais emocionalmente engajados—seja experimentando alegria, surpresa ou outras reações intensas—criando oportunidades para a colocação estratégica de anúncios. Estudos demonstraram que a Gemini alcança alta precisão no reconhecimento de emoções, especialmente na distinção de polaridades emocionais em diferentes contextos.
A tecnologia vai além das aplicações em publicidade, alcançando diversos setores. No varejo, a detecção de emoções da Gemini ajuda a personalizar experiências de compra, com empresas como a Pizza Hut utilizando IA emocional para customizar pedidos com base no humor do cliente.
Há problemas de ética aqui, mas o passado sugere que nem sempre um tecnologia "revolucionária" funciona. O objetivo da empresa - que é dona do Blogger - certamente é vender mais anúncios, não desenvolver algo que realmente capte a sensação do usuário.
Mas fiquei imaginando uma empresa publicando seus números e usando a IA para tentar perceber a reação do usuário.
Foto: Buster Keaton
Esquecimento institucional
Harford fala sobre o esquecimento institucional:
O esquecimento pode ocorrer por diversos motivos. Pessoas vão embora. Arquivos físicos são vulneráveis a mofo, incêndios e extravios. Arquivos digitais tendem a se tornar ilegíveis à medida que a tecnologia muda — de fato, a última referência na entrada da Wikipedia sobre memória organizacional é um link morto para um site perdido do NHS. E às vezes as organizações esquecem de propósito. (...)
Mais de 100 mil páginas do governo dos EUA desapareceram após a posse do presidente Trump. Resta saber o que foi apenas temporariamente retirado e o que se perdeu para sempre.
Muito do trabalho contábil está fundamentado em registros e documentação histórica, pois a contabilidade depende disso para assegurar a fidedignidade das informações registradas. Por exemplo, no controle da despesa de depreciação, é imprescindível que a empresa disponha de documentação que comprove a aquisição do ativo imobilizado, tais como notas fiscais, contratos de compra, registros patrimoniais e laudos técnicos. Além disso, o cálculo correto da depreciação requer dados sobre a vida útil estimada do bem, valor residual, método de depreciação adotado e eventuais melhorias ou manutenções que possam ter impactado seu valor contábil. Portanto, a manutenção de arquivos históricos organizados e acessíveis é essencial para o processo contábil.
Foto: aqui , com a queima de livros da Alemanha de Hitler, uma forma de apagar a memória institucional
Um novo serviço da Uber
As empresas de tecnologia sempre surpreendem. Eis um "novo produto de uma delas:
A gigante de transporte por aplicativo Uber está lançando o "Route Share", um novo serviço de transporte coletivo com rotas fixas em sete grandes cidades dos EUA, que oferecerá viagens para os passageiros com até 50% de desconto em relação ao preço de uma corrida UberX. A partir de quarta-feira, o serviço funcionará em Baltimore, Boston, Chicago, Dallas, Nova York, Filadélfia e São Francisco, com vans circulando a cada 20 minutos em corredores movimentados durante os horários de pico nos dias úteis.
(...) Essas cidades foram escolhidas com base na extensa análise de dados da Uber sobre padrões populares de viagem, com dezenas de rotas planejadas para cada localidade. (...) A Uber já implementou serviços de transporte por van em outros mercados globais, incluindo Délhi e Calcutá na Índia, além de cidades no Egito e no México. (...)
Parece que eles redescobriram a roda. Mas o nome Uber tem peso e fará diferença entre andar em uma van popular (ou um ônibus de transporte urbano) e um carro da Uber.
Continuidade Operacional
A IAASB (International Auditing and Assurance Standards Board) divulgou um documento de FAQ para auxiliar a implementação da norma ISA 570 (Revised 2024), que fortalece os procedimentos de auditoria relacionados à continuidade operacional (going concern). A atualização exige avaliação mais rigorosa dos riscos, análise aprofundada da avaliação da administração — incluindo premissas, julgamentos e possíveis vieses —, e extensão do período de revisão para pelo menos 12 meses após a data de aprovação das demonstrações. Também reforça a transparência, exigindo comunicação clara no relatório dos auditores e com os responsáveis pela governança sobre questões de continuidade. A norma entra em vigor em 15 de dezembro de 2026.
O IAASB é o órgão responsável por emitir normas internacionais de auditoria, asseguração, revisões, trabalhos relacionados e normas sobre controle de qualidade para auditorias. A entidade está ligada ao IFAC (International Federation of Accountants).
A norma pode ser obtida aqui
Rir é o melhor remédio
Por que há sempre uma vaga de diretor financeiro?
Se ele for realmente bom, ele será um recrutador, deixando uma vaga.
Se ele for muito ruim, ele será demitindo, deixando uma vaga.
Se a empresa prosperar, o diretor financeiro será promovido, deixando uma vaga.
Se o executivo morre ou aposenta antes, o diretor financeiro está familiarizado com todos os aspectos do negócio e irá assumir o cargo, deixando uma vaga.
Se a empresa está indo mal, o diretor financeiro irá saber antes e vai sair, deixando uma vaga.
Adaptado daqui
08 junho 2025
Google ainda domina o mercado de busca na internet
Apesar do crescimento recente, o ChatGPT ainda está atrás dos serviços da Alphabet, o que inclui Google e Youtube. As empresas Alphabet respondem a 19 bilhões de buscas por dia, enquanto a ferramente de IA tem 1 bilhão. O gráfico foi obtido aqui
Remuneração de executivo e metas ESG
Uma pesquisa da KPMG mostra que 78% das empresas de capital aberto já vinculam metas ESG (ambientais, sociais e de governança) à remuneração de executivos. Esses objetivos incluem redução de emissões, diversidade nos quadros e sustentabilidade, refletindo o movimento apontado pela Forbes Brasil como transformação na gestão corporativa. A interferência das métricas ESG na remuneração já é predominante e expressiva, influenciando não apenas bônus, mas também parte significativa do salário variável dos altos executivos. A tendência deve se intensificar, alinhando performance financeira a resultados extra‑financeiros.
Fonte: Aqui