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01 dezembro 2023

O Lado bom da Fraude

A fraude pode ter um efeito positivo. Eis o resumo:  


A fraude nas demonstrações financeiras gera muitos efeitos negativos, incluindo a redução da disposição das pessoas em participar no mercado de ações. Se também estigmatiza a contabilidade, pode afetar adversamente a quantidade e qualidade de profissionais dispostos a se tornarem contadores, potencialmente criando efeitos negativos por anos. Examinamos o impacto da fraude na força de trabalho que ingressa na profissão contábil, que é um componente chave na produção de informações contábeis (ou seja, o resultado). Usando dados que descrevem milhões de estudantes universitários nos Estados Unidos, descobrimos que os estudantes que ingressam na faculdade têm uma probabilidade maior de escolher contabilidade quando ocorrem fraudes locais durante seus anos formativos. Esses estudantes também têm mais probabilidade de possuir atributos desejados pela profissão contábil (por exemplo, alta aptidão acadêmica) e são mais propensos a posteriormente atuar na public accounting e se tornar Contadores Públicos Certificados. No contexto de outras áreas (ou seja, todas as especializações universitárias), descobrimos que a fraude estimula o interesse em outras disciplinas de negócios, mas não em especializações fora das escolas de negócios. No entanto, aqueles atraídos por outras disciplinas de negócios geralmente possuem características diferentes. Especificamente, os estudantes que ingressam na contabilidade têm uma probabilidade distintamente maior de apresentar valores defendidos pela profissão contábil, incluindo uma predisposição para o serviço público e uma orientação menos comercial. Assim, motivações não pecuniárias parecem impulsionar de maneira única a matrícula de estudantes de contabilidade após a ocorrência de fraudes. Coletivamente, nossas descobertas sugerem que, embora a fraude seja inegavelmente prejudicial, ela parece ter a consequência não intencional positiva de atrair mão de obra para disciplinas de negócios e, na contabilidade, aumentar a prevalência de características desejáveis entre os ingressantes.

Externalities of Financial Statement Fraud on the Incoming Accounting Labor Force - Robert Carnes, Dane Christensen & Paul Madsen - Journal of Accounting Research, December 2023, Pages 1531-1589 

foto: Bermix Studio

14 novembro 2023

Pesquisa em Fraude

 Eis o resumo traduzido:

Baseando-se em uma análise de 208 artigos, este artigo argumenta que, embora a literatura sobre fraudes varie no diagnóstico das fraudes, ela está enraizada em uma narrativa comum sobre sua natureza e causas. Especificamente, este artigo adota uma abordagem investigativa para compreender como as fraudes são frequentemente pesquisadas e influenciam políticas e práticas de auditoria. Os resultados revelam que as fraudes geralmente são vistas como um fenômeno individual e/ou organizacional, permitindo que a análise em nível meso escape à escrutínio. Portanto, existe uma lacuna na capacidade de detectar fraudes em nível meso, como no caso de serviços financeiros (ou seja, manipulação da LIBOR). Uma análise em nível meso das fraudes permitirá que os pesquisadores destaquem problemas em todo o campo, como os bancos manipulando a LIBOR ou distorcendo o mercado de câmbio, como no escândalo forex. A análise em nível meso das fraudes é importante porque destaca o comportamento contagioso em todo o campo e oferece insights para a prevenção e detecção de fraudes. Reconhecer essa epistemologia única permitirá que os pesquisadores descubram novos conhecimentos e não fiquem presos a uma compreensão reificada das fraudes e dos riscos de fraudes. Os formuladores de políticas podem obter insights e elaborar políticas que reflitam as necessidades dos profissionais.

Two Decades of Accounting Fraud Research: The Missing Meso-Level Analysis - Mark E. Lokanan and Prerna Sharma

08 setembro 2023

Fraude em restaurantes

Entre os proprietários de restaurantes, que enfrentam o maior risco de fraude, estão os donos de restaurantes, que muitas vezes são suscetíveis a esquemas de apropriação indevida de ativos. É aqui que um especialista em contabilidade forense pode desempenhar um papel inestimável. Isso envolve a aplicação de habilidades contábeis e investigativas para analisar dados financeiros, transações e registros relacionados às operações de um restaurante. O objetivo é descobrir irregularidades financeiras e possíveis fraudes.

Os funcionários perpetraram os esquemas de fraude mais comuns em restaurantes, incluindo vários esquemas de apropriação indevida de dinheiro e estoque.

Apropriação indevida de dinheiro

Um funcionário pode apropriar-se indevidamente de dinheiro e manipular transações para ocultar o roubo. No entanto, existem também maneiras de se proteger contra roubos de dinheiro de várias formas.

Preços alterados, descontos e anulações: Enquanto alguns garçons deixam de registrar pedidos em dinheiro e embolsam o dinheiro, outros praticam a manipulação de preços. Por exemplo, um barman pode vender um vinho caro, mas registra um vinho menos caro no sistema de ponto de venda do restaurante, embolsando a diferença. Contagens regulares de estoque podem ajudar na descoberta de vinhos caros ausentes, enquanto se tem inventários extras de vinhos mais baratos.

Outra maneira pela qual os funcionários ocultam o roubo de dinheiro é registrando descontos ou reembolsos não autorizados e anulando vendas. Para combater isso, os proprietários devem comparar as anulações criadas por cada garçom com as anulações médias em um determinado período. Além disso, verifique os horários registrados nas transações anuladas para determinar se uma anulação ocorreu no momento da transação, durante o horário de funcionamento ou no fechamento, e se um determinado funcionário está anulando transações com mais frequência.

Os funcionários também manipulam o sistema de ponto de venda (POS) para ocultar o roubo, movendo pedidos de uma conta para outra. Por exemplo, o cliente 2 faz o pedido do mesmo item que já foi pago pelo cliente 1. O garçom move o pedido do cliente 1 para a conta do cliente 2 e embolsa o dinheiro recebido da primeira conta. Fique de olho no tempo médio das contas e acompanhe os garçons que reimprimem recibos com frequência. Ao longo do tempo, isso pode resultar em um impacto financeiro na casa dos milhares de dólares.

Documentos alterados e fornecedores fictícios: Esquemas de faturamento incluem a criação de um fornecedor fictício, para onde o pagamento é direcionado para a conta bancária do funcionário. Para combater esse esquema, certifique-se de que as responsabilidades estejam segregadas. O funcionário que recebe o estoque deve evitar processar o pagamento ao fornecedor. Além disso, o funcionário que processa os pagamentos não deve reconciliar as contas bancárias.

A adulteração de cheques ou o saque de cheques é outro esquema de fraude que pode ser perpetrado por um funcionário ou por alguém de fora. Alguém pode alterar as informações do beneficiário e sacar o cheque. Entre em contato com os fornecedores com frequência para verificar os saldos em aberto. Verifique suas transações bancárias diariamente e verifique a endosso no verso dos cheques para garantir que corresponda ao endosso do fornecedor.

Criar um funcionário fantasma é outro esquema de fraude usado, adicionando funcionários fictícios ao sistema de folha de pagamento e desviando seus salários. Funcionários falsos podem ser descobertos revisando relatórios de folha de pagamento regularmente. Revise os arquivos dos funcionários para garantir que haja um arquivo para cada funcionário listado no registro de folha de pagamento.

Roubo de estoque ou dinheiro

O estoque é um aspecto crítico das operações de restaurante. O estoque pode ser roubado de várias maneiras, incluindo consumo, fornecimento de refeições gratuitas para familiares e amigos, levar comida para casa ou servir bebidas em excesso. Uma maneira de minimizar essa perda é limitar o acesso a itens caros, como garrafas de alto valor de álcool específico.


Além do roubo de estoque, funcionários desonestos podem roubar do caixa do restaurante. Um exemplo pode ser um funcionário que desvia dinheiro do caixa e altera os registros financeiros para encobrir seus rastros, pois usou os fundos para despesas pessoais, itens de luxo e viagens.

Também é importante realizar contagens de estoque diárias e compará-las com os relatórios de estoque do POS para encontrar e investigar discrepâncias.

Portanto, embora existam muitas maneiras de prevenir e minimizar fraudes, a mais importante é criar um ambiente de integridade e desenvolver políticas de controle interno sólidas. Os funcionários devem entender a importância da integridade e as consequências de cometer fraudes. Os funcionários também devem ser capazes de denunciar fraudes suspeitas à administração e/ou aos proprietários. Denúncias anônimas são a ferramenta mais útil para detectar fraudes.

Os empregadores sempre esperam que uma auditoria interna encontre apenas pequenas discrepâncias nos relatórios financeiros. No entanto, se (ou mais provavelmente, quando) encontrarem fraudes em sua organização, podem contar com empresas profissionais para revelar uma imagem financeira precisa.

Anneliese Scherer - Forensic Accounting And Valuation Services Manager, Fiske & Company. Foto: Jason Leung

09 julho 2023

Dois tipos de fraude

(...) Além disso, um dos pontos principais do livro é que existem dois tipos de fraudes, que chamarei linear e exponencial.


Em uma fraude linear, o fraudador tira dinheiro do reservatório comum a uma taxa aproximadamente constante. Exemplos de fraudes lineares incluem cobrança excessiva de todos os tipos (taxas médicas, pagamentos de horas extras, trabalhos fantasmas, cobrança dupla, etc.).), juntamente com o outro lado disso, que não está pagando por coisas (desvio de impostos, despejo de resíduos tóxicos, etc.).). Uma fraude linear pode continuar indefinidamente, até você ser pego.

Em uma fraude exponencial, o fraudador precisa continuar roubando cada vez mais para permanecer solvente. Exemplos de fraudes exponenciais incluem esquemas de pirâmide (é claro), fraude de mineração, manipulações do mercado de ações e golpes de investimento de todos os tipos. Um exemplo familiar é Bernie Madoff, que levantou zilhões de pessoas prometendo retornos irrealistas sobre seu dinheiro, mas, como resultado, incorreu em muito mais zilhões de obrigações financeiras. O golpe era inerentemente insustentável. Da mesma forma com Theranos: quanto mais dinheiro eles levantavam de seus investidores, mais problemas estavam, já que eles nunca tiveram um produto. Com uma fraude exponencial, você precisa continuar expandindo seu círculo de otários - uma vez que isso pare, você estará pronto.(...)

Fonte: aqui. Foto: Bermix Studio

06 julho 2023

Denúncias e Fraude

Examinamos o impacto do aumento das recompensas por denúncias sobre a estratégia dos denunciantes e a eficiência regulatória na detecção de fraudes. Nossa análise mostra que o órgão regulador extrai informações sobre a incidência de fraudes das ações dos denunciantes, e a qualidade dessas informações depende do tamanho das recompensas por denúncias. Com uma recompensa maior, ao receber um relatório de denúncia, a qualidade das informações do órgão regulador sobre a fraude se deteriora, ao passo que, ao não observar nenhuma denúncia, a qualidade das informações sobre a ausência de fraude melhora. Embora a melhoria da informação quando não há denúncia não tenha sido amplamente discutida, demonstramos que ela é um determinante fundamental do programa ideal de denúncia. Demonstramos que, considerando o valor informativo da denúncia e da ausência de denúncia, o regulador deve definir a recompensa para incentivar mais denúncias quando a crença prévia de fraude for mais forte e o insider estiver mais bem informado. Nossa análise gera implicações políticas e empíricas para a elaboração e o estudo de programas de denúncia de irregularidades.

Via aqui

16 junho 2023

Como Javice enganou o poderoso JP Morgan


Com 31 anos, Charlie Javice (foto) cometeu uma fraude contra o poderoso JPMorgan Chase. É uma história bem interessante. Javice criou um aplicativo chamado Frank, que ajudava estudantes a lidar com auxílio financeiro para a faculdade. O banco decidiu comprar a empresa por US$ 175 milhões. Javice afirmava que o aplicativo tinha mais de 4 milhões de clientes, mas na verdade tinha cerca de 300.000, de acordo com a acusação.

Em setembro de 2021, Javice vendeu o Frank para o JPMorgan Chase e também se tornou chefe de soluções estudantis do banco. Porém, em janeiro de 2022, o banco percebeu que algo estava errado e ela foi demitida no final do ano.

Uma das trapaças de Javice foi contratar um professor de ciência de dados por US$ 18.000 para criar uma lista falsa de clientes. Atualmente, ela está em liberdade sob fiança e está sendo acusada de fraude de valores mobiliários, fraude eletrônica, fraude bancária e conspiração.

15 junho 2023

Concurso público e Fraude Contábil

Realizamos um levantamento sobre Editais de concurso para o cargo de Auditor Fiscal de Tributos Estaduais (2016-2023), onde buscamos identificar os conhecimentos que são requeridos no que diz respeito ao tema “Auditoria”. Em todos eles, conhecimentos de natureza contábil também foram requeridas, mas não foram consideradas em nosso estudo.


Ao final da análise constatamos que nos Editais para provimento deste importante cargo, praticamente todas as SEFAZ exigiram dos concurseiros noções gerais de auditoria independente, porém poucas se detiveram em exigir conhecimentos específicos relacionados à auditoria contábil tributária do ICMS, cobrando a capacidade de identificação das fraudes contábeis mais comuns (saldo credor de caixa, suprimento de caixa de origem não comprovada, passivo fictício, etc.).

De forma estranha outras exigiram conhecimentos relacionados à auditoria interna, tema totalmente alheio às atribuições de um auditor de tributos estaduais.

Observamos ainda que algumas SEFAZ trouxeram a temática da Lei Complementar nº 105/2001, assunto totalmente relacionado à auditoria contábil. Lembrando que até o momento, apenas cinco Estados não regulamentaram esta importante Lei Complementar (confira aqui).

E apenas uma SEFAZ não trouxe nenhuma temática de auditoria, seja ela de foco contábil ou fiscal.

Fraudes Contabeis é tema recorrente nos editais de concurso para Auditor Fiscal - Por Alexandre Alcantara


07 maio 2023

Guia de Risco de Fraude

O COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission) e a ACFE (Association of Certified Fraud Examiners) atualizaram o guia de gerenciamento de risco de fraude. A atualização do guia é importante porque as empresas enfrentam atualmente um aumento nos riscos de fraude decorrentes da pandemia de COVID-19.


O guia tem como objetivo auxiliar as empresas no desenvolvimento e implementação de um sistema eficaz de gerenciamento de risco de fraude. As atualizações incluem novos exemplos de riscos de fraude e medidas preventivas, além de uma maior ênfase na importância do monitoramento contínuo do sistema de gerenciamento de risco de fraude.

O guia enfatiza a importância de um sistema de gerenciamento de risco de fraude que envolva toda a empresa, com participação ativa da administração e de todos os funcionários. Destaca a importância de medidas preventivas, como a implementação de controles internos fortes e a adoção de uma cultura de ética e integridade, que pode ajudar a prevenir fraudes antes que elas ocorram. E enfatiza a necessidade de um monitoramento contínuo do sistema de gerenciamento de risco de fraude, que deve ser revisado e atualizado regularmente para garantir sua eficácia.

Fonte: aqui. Foto: Landon Arnold

04 abril 2023

Wirecard: EY punida

Fonte da imagem: Aqui

Em 2020 comentamos aqui no blog sobre como a EY sabia da fraude da Wirecard. Como desdobramento, agora a empresa foi multada em 500 mil euros e proibida de assinar novos contratos na Alemanha por dois anos. Adicionalmente, cinco auditores, cujos nomes não foram revelados, receberam multas variando entre 20 mil e 300 mil euros.

Em “A saga da Wirecard continua”, explicamos: A empresa Wirecard entrou em colapso em 2020 e a história guarda alguns segredos ainda não revelados. Questiona-se sobre o papel de um "espião" entre os executivos da empresa, a incompetência da entidade responsável pela fiscalização do mercado de capitais do país e o lugar da contabilidade neste drama. O escândalo só foi revelado depois de uma série de reportagens do Financial Times. Logo no início, o regulador tentou frear a investigação do jornal. Mas uma investigação realizada por outra empresa de auditoria revelou uma diferença na conta caixa da empresa de quase 2 bilhões de euros.

A empresa EY era responsável pela auditoria da Wirecard e não viu a ausência de 2 bilhões.

09 março 2023

Fraude ou blefe?

A empresa Ozy atua na área de mídia e entretenimento desde 2013. Seu principal executivo é Carlos Watson. Ao longo da sua história, a Ozy chegou a estabelecer parcerias com o The  New York Times e Wireless, com Oprah Winfrey, BBC e History Channel. 

Em setembro de 2021, o antigo parceiro, o New York Times, anunciou que a empresa tinha feito algumas ações que aparentavam fraude. Uma delas é que o COO da empresa, Samir Rao, se fez passar por um executivo do YouTube em uma teleconferência com o Goldman Sachs. A empresa queria obter um investimento de 40 milhões e foi desmascarada quando o Goldman entrou em contato com o YouTube e confirmou que nenhum executivo da empresa estava participando da teleconferência.  


Aparentemente o Conselho de Administração da Ozy exigiu a demissão de Rao. A CNBC consultou Sharon Osbourne se ela seria investidora da empresa, conforme uma declaração do CEO da empresa em 2019. Sharon negou e informou ter recebido ações da empresa como parte de um acordo legal. 

O fechamento da empresa e a investigação de fraude aconteceram logo após. Rao, o falso executivo do YouTube, se declarou culpado; Watson, o principal executivo, foi preso e disse que era inocente. 

Mas a acusação inclui mentiras sobre o desempenho da empresa e fabricação de documentos. Na newsletter DealBook do NYTimes, uma questão interessante: 

ao nomear uma listagem de investidores no negócio - quando nem todos estivessem aportado dinheiro na empresa - o executivo estava sendo antiético. Mas esta prática é mais comum do que pensamos: quantas vezes um corretor imobiliário exagera nas pessoas que compraram um imóvel semelhante? ou quantas vezes uma empresa destaca que há um grande interesse por um produto? No mundo dos negócios isto chama-se blefe. 

Enquanto a fraude é condenável, o blefe é defensável. Mas qual a fronteira entre ambos? 

Foto: aqui

15 fevereiro 2023

Enganou o Google e o Facebook: como a governança é frágil

postamos aqui, mas a notícia de 2019 é tão inusitada que vale uma repetição. Um lituano fraudou o Facebook e o Google em mais de 172 milhões de dólares, enviando faturas falsas. Eis a notícia do golpe: 

Evaldas Rimasauskas enfrenta até 30 anos de prisão depois de se declarar culpado de fraude em um tribunal de Nova York na semana passada por causa do esquema fraudulento de e-mail comercial.

O cidadão lituano de 50 anos foi extraditado para os EUA em agosto de 2017 após ser preso pelas autoridades lituanas em março daquele ano.


"Como Evaldas Rimasauskas admitiu hoje, ele criou um esquema flagrante para atrair empresas americanas de US $ 100 milhões e depois desviou esses fundos para contas bancárias em todo o mundo", afirmou Geoffrey S. Berman, advogado dos EUA em Manhattan disse em um comunicado.

“Rimasauskas pensou que poderia se esconder atrás de uma tela de computador no meio do mundo enquanto conduzia seu esquema fraudulento, mas como ele aprendeu, os braços da justiça americana são longos e agora ele enfrenta um tempo significativo em uma prisão nos EUA."

As empresas vítimas, embora não tenham sido mencionadas na acusação, foram identificadas em reportagens anteriores da mídia como Google e Facebook, que foram fraudados em US $ 23 milhões e US $ 99 milhões, respectivamente.

Entre 2013 e 2015, a Rimasauskas direcionou funcionários para as duas empresas com e-mails de phishing projetados para se parecerem com faturas do principal fabricante asiático de hardware Quanta Computer Inc., com o qual eles “realizavam regularmente transações multimilionárias”.

A Rimasauskas registrou e incorporou uma empresa na Letônia com o mesmo nome e a usou para abrir contas bancárias na Letônia e Chipre. Seus e-mails "supostamente de funcionários e agentes" da Quanta Computer e "foram enviados de contas de e-mail projetadas para criar a aparência falsa" de serem legítimos.

Assim que o dinheiro foi conectado às suas contas bancárias, Rimasauskas rapidamente transferiu os fundos para diferentes contas bancárias em todo o mundo, incluindo Letônia, Chipre, Eslováquia, Lituânia, Hungria e Hong Kong.

Ele também falsificou faturas, contratos e cartas que pareciam ter sido executadas e assinadas por funcionários do Facebook e Google para convencer os bancos a transferir os grandes volumes de fundos.

Como parte de sua acusação de culpa, Rimasauskas concordou em perder pouco menos de US $ 50 milhões, "representando a quantidade de recursos rastreáveis à comissão do crime". Não está claro o que aconteceu com os outros US $ 72 milhões.

Um porta-voz do Facebook disse: “O Facebook recuperou a maior parte dos fundos logo após o incidente e tem cooperado com a polícia em sua investigação."

Um porta-voz do Google disse: “Detectamos essa fraude e alertamos prontamente as autoridades. Recuperamos os fundos e estamos satisfeitos que este assunto seja resolvido."

Foto: aqui

14 fevereiro 2023

Fraude corporativa é MUITO maior que você pensa


Fornecemos uma estimativa da parcela não detectada de fraude corporativa. Para identificar a parte oculta do "iceberg", exploramos a morte de Arthur Andersen, que desencadeou um exame minucioso dos ex-clientes de Arthur Andersen e, assim, aumentou a probabilidade de detecção de fraudes preexistentes. Nossas evidências sugerem que, em tempos normais, apenas um terço das fraudes corporativas são detectadas. Estimamos que, em média, 10% das grandes empresas de capital aberto cometam fraude de valores mobiliários todos os anos, com um intervalo de confiança de 95% de 7% a 14%. Combinando a difusão de fraudes com as estimativas existentes dos custos de fraudes detectadas e não detectadas, estimamos que a fraude corporativa destrua 1,6% do valor do patrimônio líquido a cada ano, igual a US $ 830 bilhões em 2021.

O estudo pode ser acessado aqui. Foto Kenny Eliason

16 janeiro 2023

Americanas: a resposta está na governança?

Em uma entrevista para o Valor, Luciana Dias, ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), afirma que até o momento não é possível apontar culpados em relação às inconsistências da Americanas, pois não se sabe é um problema de política contábil ou de controles. Ela também argumenta que é difícil falar sobre uma regulação mais rígida para impedir problemas assim, já que o Brasil está 100% adequado às normas do IFRS. A questão se volta, então, para aspectos de governança.

“Há questões de governança que não são necessariamente fraudes. Não ter controles específicos, não ter discussões nas notas explicativas é bastante intrigante do ponto de vista de governança. O fato relevante não menciona quando surgiu a desconfiança do problema, quem está solucionando. Mesmo que não tenha fraude, pode haver problemas de governança relacionados à falta de controles. É possível ter um problema de governança que não é desonestidade.”

Em uma publicação no LinkedIn, Andre Burger ressalta que a Americanas supostamente apresentava uma boa governança, com um Conselho de Administração atuante, Conselho Fiscal, Comitê de Auditoria, Código de Conduta, dentre outros, que não captaram a situação problemática das tais inconsistências contábeis.


Ainda segundo Dias, as normas contábeis dão espaço para que a entidade faça julgamentos, estabeleça políticas e explique as opções feitas nas demonstrações contábeis. As empresas com boa governança “levantam as questões mais relevantes para aquele assunto e discutem nas instâncias de governança adequadas. Isso precisa ser documentado para que as informações não se percam, e devem ser estabelecidos controles para que essas políticas sejam adequadamente implementadas.” Dias acrescenta que a resposta está neste caminho e que, no momento, é necessário descobrir onde houve falha na cadeia de governança da Americanas.

29 dezembro 2022

Descobrindo fraude em cripto

We introduce systematic tests exploiting robust statistical and behavioral patterns in trading to detect fake transactions on 29 cryptocurrency exchanges. Regulated exchanges feature patterns consistently observed in financial markets and nature; abnormal first-significant-digit distributions, size rounding, and transaction tail distributions on unregulated exchanges reveal rampant manipulations unlikely driven by strategy or exchange heterogeneity. We quantify the wash trading on each unregulated exchange, which averaged over 70% of the reported volume. We further document how these fabricated volumes (trillions of dollars annually) improve exchange ranking, temporarily distort prices, and relate to exchange characteristics (e.g., age and userbase), market conditions, and regulation.


Veja o texto completo aqui

O apêndice C traz uma revisão da Lei de Benford

12 fevereiro 2022

Fraude e Inteligência Artificial


Um trecho do blog de Tracey Conen, sobre o uso de Inteligência Artificial (AI) no combate de fraude. 

Algumas das coisas que o software que usa a AI para detectar fraudes pode identificar como problemas incluem:

= > número incomumente alto de transações um pouco abaixo do nível de autorização para um supervisor

= > alto número de desembolsos físicos

= > transações que ocorrem com frequência com valores redondos

= > padrões incomuns para perdas ou ajustes

= > evidência de pagamento de faturas duplicadas

= > pagamentos parciais por parte de clientes

= > identificação de endereços suspeitos ao comparar dados de funcionários, clientes e fornecedores

= > faturamento de fornecedores além dos valores orçados devido à codificação inadequada de pagamento

= > preço do fornecedor aumenta a uma taxa que excede os valores semelhantes de outros fornecedores

=> alterar os padrões de compra (...)

Existem três vantagens principais no uso de software com IA:

A capacidade de examinar grandes conjuntos de dados em um curto período de tempo

A capacidade de monitorar transações em tempo real

O aprendizado de máquina significa que o software aprende a reconhecer padrões e atividades suspeitas para detectar melhor a fraude no futuro

Acrescento que a IA por si só não garante a inexistência de fraude. A possibilidade de usar a IA é real quando você tem uma grande massa de dados para o aprendizado; em muitas empresas, isto não é possível e o software só irá "aprender" depois que a fraude for uma realidade. 

29 janeiro 2022

Rir é o melhor remédio

 

Muita diversão para fazer esta mensagem fake. (1) notem que a bateria está acabando e o sinal da rede está baixo (2) a fotografia é de Ponzi, um picareta famoso (3) Espoir Inutile é francês ou "esperança inútil" (4) o empresário, quando falou em "segunda opinião" obviamente pensava em contratar outro auditor e não ter mais esta notícia ruim. 

Livremente inspirado em:



17 janeiro 2022

Como cometer uma fraude

Há algumas regras que um fraudador típico explora dos incautos. No Stumbling and Mumbling uma relação de várias delas que não deixa de ser um alerta para as pessoas. O texto lá também tem uma conotação política, que também pode ser aplicado. Fizemos algumas adaptações no texto

Explore o otimismo – Experimentos mostraram que as pessoas que recebem incentivos na previsão de ativos para preços mais elevados tendem a fazer previsões mais otimistas do que as pessoas que recebem incentivos para preços em queda. As pessoas são otimistas e gostam de receber informações com este tom. Isto inclui saber que a tecnologia permite saber da saúde de uma pessoa com uma gota de sangue (vide Theranos) ou que a empresa encontrou nova jazida de petróleo (caso do Eike Batista)

Medo de ficar de fora é poderoso – A síndrome do medo de ficar de fora ou síndrome de FOMO (fear of missing out) é algo real para muitas pessoas. Cerca de dois terços dos usuários de redes sociais padecem de FOMO, o que faz com que tenham o vício de se manter atualizado, inclusive em tempo real. Para a área de finanças, o medo de ficar de fora acontece quando o investidor não quer perder a próxima oportunidade de investimento, o que inclui starups (Theranos), bolha do mercado de ações ou modismo.

Glamour importa muito – Três pesquisadores chegaram a criar o emotion beta na tentativa de mensurar com ações de “alta emoção” possuem uma atração especial. Elizabeth Holmes é glamourosa, com sua voz rouca, roupas à la Jobs e juventude. A Theranos, de Holmes, era uma empresa glamourosa. Investir em tecnologia – mesmo que não faça sentido – também possui um glamour.

Similaridade – Ou “like atrai like” ou fraudes são mais fáceis quando conquista a confiança das pessoas que possuem uma similaridade com você. Este é inclusive um verbete da Wikipedia: Affinity Fraud. Madoff conquistou muitos investidores entre os judeus ricos e respeitáveis, como ele. Mas há muitos exemplos de fraude que ocorreu entre os membros de uma igreja ou de uma comunidade.

Histórias são poderosas – as finanças comportamentais já mostraram que as histórias são mais poderosas do que os dados frios. Narrativas são tão poderosas que o prêmio Nobel de Economia Robert Shiller escreveu um livro, chamado Economic Narratives, sobre elas. Damodaran, um especialista em avaliação de empresas, também dedicou uma obra, Narratives and Numbers para discutir as histórias. Até no meio acadêmico isto funciona: ao escrever um artigo, contar histórias pode ajudar nos argumentos. Isto não é muito científico, mas funciona. Os políticos adoram sair da objetividade de sua proposta para contar uma história. O fraudador sabe disto e usa a seu favor: você certamente já ouvi falar do bilhete premiado da loteria esportiva.

Deferência – Em 1968 experimentos mostraram que motoristas são menos propensos a buzinar para outros automóveis quando o veículo é caro. Fingir que é um policial ou funcionário de um banco faz com que as pessoas tenham uma “deferência” para o fraudador. O filho de alguém – que na língua portuguesa virou fidalgo – tem um poder de persuasão maior que um simples mortal. O pai de Eike Batista era figurão no governo e isto abriu muitas portas.

Ser diferente, mas não tanto, é bom – Os vendedores de tônicos prosperam quando diferenciam seu produto. Holmes era uma mulher no meio de um ambiente predominantemente masculino. Batista era um “empreendedor” em um ambiente cheio de regras. Derek Thompson alerta para o poder de ser inovador e, ao mesmo tempo, familiar (similaridade, acima) para ser um Hit Makers. O projeto da Theranos era realmente uma tecnologia nova, mas familiar para o leigo.

Ao final do texto do Stumbling and Mubling o autor chama a atenção: as pessoas são fraudadas não por serem estupidas. A história ensina de Isaac Newton e Jonatham Swift investiram seu dinheiro, e perderam, na bolha do South Sea. Mesmo pessoas brilhantes podem cair em lorotas, pois existem muitas maneiras de enganar as pessoas.

Foto: The Day Book, 30 de dezembro de 1913

25 junho 2021

Bandeiras Vermelhas de Fraude no Divórcio


A especialização contábil em casos de divórcio tem um fértil campo de trabalho. A especialista Trace Coenen apresenta as bandeiras vermelhas que seria um indício de fraude no divórcio. 

A grande maioria dos casos de direito da família é resolvida sem julgamentos. No entanto, um cliente não deve entrar em um acordo voluntário se houver preocupações significativas sobre a verdade das divulgações financeiras e indicações de que ativos ou receitas podem estar ocultos. O primeiro passo para determinar se um contador forense é necessário para avaliar as finanças das partes é a identificação de "bandeiras vermelhas" de fraude Uma bandeira vermelha é simplesmente um sinal de aviso ou um item ou circunstância incomum. 

Os advogados costumam usar seu instinto para determinar quando um contador forense é necessário em um caso de direito da família. Se algo não parece certo, provavelmente deve ser investigado. Um cliente geralmente suspeita do cônjuge antes mesmo de se separar. Pode-se até saber que o cônjuge manipula o dinheiro.  

Além de usar a intuição para determinar se algo está errado, há muitos sinais de alerta que indicam que as finanças devem ser avaliadas com cuidado. Essas bandeiras vermelhas por si só não significam que o dinheiro tenha desaparecido ou que as finanças estejam sendo manipuladas. Mas são sinais de que uma investigação é justificada. Como o divórcio é tão contraditório, é provável que um ou ambos os cônjuges ocultem ou manipulem fatos financeiros.  

Sinais vermelhos comportamentais  

Avalie o comportamento do cônjuge, tanto em casa quanto no trabalho. Existe sigilo ou controle extremo em torno de questões financeiras? Algumas bandeiras vermelhas comportamentais gerais incluem:  
  • Controle excessivo exercido sobre questões financeiras, como controle de todas as informações bancárias, extratos e acesso on-line 
  • Detalhes das transações ocultas do cônjuge 
  • Grandes despesas ou compras de ativos sem o conhecimento do cônjuge 
  • Segredo sobre assuntos financeiros ou outros 
  • Um histórico de engano
  • Pedir ou coagir um cônjuge a assinar documentos financeiros ou legais incomuns 
  • Usar uma caixa postal ou outro endereço privado para receber e-mails (que não podem ser acessados pelo cônjuge) 
Sinal Vermelho da documentação 

O processo de produção de documentos financeiros em matéria de direito da família geralmente é controverso, principalmente em casos com maior renda e valores de ativos. A documentação pode ser volumosa, portanto, pode levar muito tempo e esforço para atender às solicitações. Alguns dos problemas mais comuns que podem constituir bandeiras vermelhas incluem: 
  • Variações entre a divulgação financeira e a documentação de suporte 
  • Divulgações financeiras incompletas e / ou não assinadas
  • Arquivos financeiros computadorizados excluídos 
  • Documentação financeira alterada ou destruída 
  • Documentos com data anterior ou falsamente datada 
  • Recusa em produzir documentos financeiros relevantes 
  • Produção fragmentada de documentos financeiros, especialmente de maneira confusa ou redundante 
  • Tentativas deliberadas de atrasar ou atrapalhar a parte financeira da descoberta 
  • Confusão intencional de registros financeiros e trilhas de papel em dinheiro 
Sinais Vermelhos financeiros Pessoais

Mais especificamente, existem vários sinais vermelhos financeiros que podem apontar para a ocultação de ativos ou receitas nos meses ou anos que antecederam o divórcio: 
  • Alto volume de transações em dinheiro, possivelmente destinadas a evitar uma trilha de papel do dinheiro 
  • Falha no depósito do salário total ou de outras fontes conhecidas de fundos 
  • Valores em dinheiro ou outros ativos valiosos 
  • Combinação proposital de finanças pessoais e comerciais, a fim de obscurecer o cenário financeiro 
  • "Empréstimos" dinheiro a amigos ou familiares para reduzir o dinheiro existente 
  • Contas não divulgadas, principalmente se tiverem atividade atual e / ou saldos substanciais 
  • Ativos valiosos escondidos durante o casamento - Se uma parte descobriu ao longo do casamento que o cônjuge estava escondendo bens valiosos, é provável que haja ativos adicionais que a parte não conheça. 
  • Os valores dos investimentos diminuíram drasticamente 
  • Inflar ou fabricar dívidas 
  • Excluir propriedade do cônjuge 
  • Os ativos que se sabe existir durante o casamento desapareceram após a separação sem trilha de papel 
  • A renda pessoal supostamente diminuiu, mas as despesas não diminuíram de acordo 
Uma bandeira vermelha financeira comum é a retirada substancial de dinheiro de uma conta bancária, geralmente várias vezes. O cônjuge também pode receber dinheiro em suas mãos, não depositando um salário completo ou outro cheque, ou através de saques em caixas eletrônicos. O dinheiro pode ser usado para financiar despesas não conjugais (como um "caso" ou empreendimento secreto), comprar ativos ocultos ou adicionar fundos a contas não divulgadas. O dinheiro também pode ser usado para comprar cheques ou ordens de pagamento que estão ocultos até que o divórcio seja finalizado. 

A descoberta de várias bandeiras vermelhas acima deve ser um catalisador para uma investigação financeira em um divórcio. Quanto maior o número de bandeiras vermelhas descobertas, mais importante será analisar cuidadosamente as finanças para procurar renda oculta, ativos ocultos ou outras irregularidades que possam afetar a divisão de ativos ou o pagamento de suporte.

22 março 2021

Auditoria deve detectar fraude?

Ainda texto do Digg sobre a proposta do Reino Unido de reforma na contabilidade. Uma questão interessante é qual o objetivo da auditoria. Eis um trecho interessante:

Em março de 2007, o ex-presidente da PwC dos EUA, Dennis Nally, foi entrevistado pelo WSJ:

WSJ: O trabalho de um auditor é tentar encontrar fraudes?

Nally: Com certeza. Temos a responsabilidade de executar procedimentos que detectem fraudes, assim como temos a responsabilidade de executar procedimentos para detectar erros nas demonstrações financeiras.

WSJ: Você parece bem certo, mas as empresas como um todo frequentemente evitam alguma responsabilidade por encontrar fraudes, especialmente em tribunais.

Nally: A profissão de auditoria sempre foi responsável pela detecção de fraudes. O debate sempre foi até onde você carrega isso, que tipo de procedimentos você tem que desenvolver e em que ambiente. A questão clássica passa a ser o custo-benefício de tudo isso e é por isso que acho que existe essa lacuna de expectativa.

Em 2011, Nally mudou de tom. Helen Thomas, do Financial Times, perguntou ao presidente global da PwC, Nally: “E quanto a fraude ou contabilidade fraudulenta?

(...) Existem padrões profissionais lá fora [e] uma auditoria não é projetada sob esses padrões para detectar fraude ", [Nally] diz, apontando que a detecção de comportamento fraudulento depende de outras indicações, incluindo a governança da empresa, tom de gestão e sistemas de controle. As razões pelas quais isso foi feito é porque, embora sempre ouçamos e lemos sobre fraudes de alto perfil, o número dessas situações que você realmente encontra na prática é mínimo.

19 janeiro 2021

Por que os auditores não encontram fraude?


Mesmo com toda a publicidade em torno da questão da fraude financeira nos últimos vinte anos, a maioria dos auditores, investidores e outros profissionais ainda não “entende” quando se trata de detectar fraudes. As auditorias de demonstrações financeiras tradicionais nunca foram projetadas para detectar fraudes.

A auditoria é simplesmente um processo pelo qual os auditores verificam a matemática da empresa e a aplicação das regras contábeis. Os auditores examinam uma porcentagem muito pequena das transações. A fraude raramente é detectada por auditorias de demonstrações financeiras porque não têm o objetivo de fazê-lo. No entanto, às vezes a fraude é detectada pelos auditores, e eles podem aumentar suas chances de encontrá-la se quiserem. Existem oportunidades durante cada auditoria de demonstração financeira para encontrar fraudes, se apenas os auditores fossem diligentes. Um dos segredos para se tornar melhor na detecção de fraudes é entender por que os auditores com tanta frequência não as encontram.

A questão de encontrar fraudes em auditorias é importante não apenas para os auditores. Os investidores e outros profissionais que usam as demonstrações financeiras precisam entender os riscos de fraude para avaliar plenamente o quão não confiáveis ​​as demonstrações financeiras podem ser quando se trata de fraude.

O resultado final é que aqueles que estão confiantes de que as auditorias encontrarão fraudes estão se enganando. Nada poderia estar mais longe da verdade. A ocorrência ocasional de auditores detectando fraude durante uma auditoria de demonstração financeira não significa que as auditorias sejam eficazes na detecção de fraude.

Este artigo discute os nove motivos mais comuns pelos quais os auditores deixam de perceber a fraude que está ocorrendo bem debaixo de seus narizes. Ao destacar esses problemas, os profissionais podem entender melhor os problemas relacionados à detecção de fraudes e evitar uma falsa sensação de segurança ao examinar as demonstrações financeiras auditadas.

Confiança nos controles internos

A profundidade dos testes de auditoria e os tipos de procedimentos usados ​​são fortemente influenciados pela avaliação dos controles internos pelos auditores. Eles estão observando as políticas e procedimentos da empresa que ajudam a garantir demonstrações financeiras precisas. Os auditores determinam se esses controles existem, são adequados e são aplicados.

Com base em suas avaliações do risco e dos controles, os auditores planejarão seu trabalho de auditoria. É fácil ver que quaisquer avaliações incorretas nesta fase do processo podem ser prejudiciais para toda a auditoria. Se os auditores não estiverem totalmente cientes dos riscos, eles não podem planejar seu trabalho para lidar com esses riscos.

Os clientes de auditoria geralmente são culpados de ter controles internos deficientes que nunca são corrigidos. Os auditores dizem aos clientes que há um problema, mas eles continuam os negócios normalmente. Quando a auditoria do ano seguinte começa, os auditores descobrem que nenhum dos problemas foi corrigido. Eles ajustam o escopo de seu trabalho de auditoria de acordo? Frequentemente, a resposta é não e, portanto, ano após ano, existem deficiências que não são tratadas com o aumento dos procedimentos de auditoria.

Os previsíveis testes de auditoria

Os  auditores são notórios por repetir seus testes ano a ano, concentrando-se nas mesmas contas ou tipos de transações e usando limites em dólares com os quais os clientes de auditoria estão intimamente familiarizados. Quando os funcionários sabem exatamente quais riscos e contas os auditores visam, a eficácia dos testes de auditoria diminui.

O elemento surpresa é bastante eficaz na prevenção e descoberta de fraudes, mas os auditores não costumam empregar essa técnica. A surpresa ajuda a prevenir fraudes porque os funcionários nunca têm certeza se certas contas ou transações podem ser selecionadas para teste. É menos provável que se envolvam em fraudes porque não sabem se os auditores estarão olhando.

Mas se o cliente sabe onde os auditores estão focalizando sua atenção, é fácil fabricar documentos, fazer lançamentos estratégicos no diário ou adulterar os registros contábeis. Pense em como é simples para uma empresa mover estoque de um local para outro, se souber com antecedência que local os auditores irão visitar. Dentro de cada local, considere como é fácil organizar o estoque para fazê-lo parecer que há mais itens disponíveis do que realmente existe, especialmente se a administração souber quais tipos de itens os auditores provavelmente contarão ou examinarão.

Os auditores tendem a ser complacentes em seus testes. É muito fácil testar os mesmos itens da mesma maneira de ano para ano. E como os novos auditores são ensinados a fazer auditoria? Normalmente, eles são orientados a examinar os papéis de trabalho do ano anterior e fazer os mesmos procedimentos na auditoria do ano corrente. Qual a melhor maneira de garantir que o cliente nunca se surpreenda com os procedimentos de auditoria?

A amostragem não é suficiente

O coração de uma auditoria é testar as transações. Os auditores selecionam uma amostra e testam essas transações para garantir que foram devidamente registradas no sistema de contabilidade. A limitação inerente à amostragem é que todas as transações não são testadas. E, claro, não seria possível para os auditores examinar todas as transações que uma empresa realiza em um ano.

Sempre há uma boa chance de que uma transação importante não faça parte da amostra dos auditores e, portanto, não seja examinada. Muitas transações não são testadas pelos auditores, e isso significa que há uma boa chance de que um item fraudulento não faça parte do teste.

Trabalhando em torno do escopo e da materialidade

Para piorar as coisas, a administração sabe que os auditores geralmente escolhem transações em dólares maiores para testar. Ao testar quantias maiores, os auditores obtêm maior “cobertura” e podem testar uma porcentagem maior dos dólares. Isso cria uma grande oportunidade para alguém cometer uma fraude. Se ela precisar manipular os registros contábeis, vários lançamentos menores (em vez de um grande lançamento) provavelmente nunca serão examinados pelos auditores.

Os auditores estão constantemente observando os números em termos de escopo e materialidade. Valores menores, certos ou errados, não significam muito em termos do quadro financeiro mais amplo de uma empresa. O que os auditores muitas vezes esquecem, porém, é que a questão da materialidade não se limita apenas à magnitude dos dólares. Embora um pequeno número possa não significar muito para a empresa como um todo, os fatos que envolvem esse pequeno número podem torná-lo relevante.

Considere um roubo relativamente pequeno pelo CFO da empresa. Embora o total de dólares possa cair bem abaixo do que normalmente se considera “material” para a empresa, as circunstâncias do roubo o tornam material. O fato de o principal profissional de finanças da empresa estar roubando repentinamente torna a pequena quantia em dólares muito importante e, portanto, material.

Auditores inexperientes

O modelo de negócios atual para firmas de auditoria (e aquele que existe há décadas) depende de auditores relativamente inexperientes para fazer a maior parte do trabalho de campo. Embora isso possa fazer sentido do ponto de vista econômico em termos de controle dos custos das auditorias, é uma prática terrível do ponto de vista do controle de qualidade.

Os auditores jovens geralmente não sabem o que fazer e geralmente relutam em fazer perguntas difíceis ou desafiar as afirmações da administração. Eles são facilmente manipulados, influenciados e enganados por causa de sua inexperiência. Frequentemente, eles não compreendem verdadeiramente os negócios e as demonstrações financeiras, pois essas coisas levam tempo para serem aprendidas no mundo real.

A maioria dos auditores carece de um conhecimento profundo dos esquemas de fraude e como eles são executados. Se solicitados a explicar um esquema de fraude comum, como ida e volta ou bloqueio de canais, a maioria dos auditores inexperientes ficará sem fala. Simplificando, eles não são adeptos de reconhecer transações suspeitas e documentação fraudulenta.

Aqueles que têm conhecimento para identificar problemas e fazer perguntas difíceis passam muito pouco tempo no campo. Eles estão mais bem equipados para focar em fraudes, mas fornecem pouca supervisão prática dos auditores inexperientes.

Ambiente de negócios dinâmicos 

Já se foi o tempo em que os negócios de uma empresa mudavam pouco de ano para ano. Fusões e aquisições, desenvolvimento de novos produtos e serviços e planejamento estratégico constante significam que os negócios estão mudando mais rápido do que nunca. Comparar os resultados financeiros de uma empresa de ano para ano torna-se quase impossível por causa de todas as mudanças.

No entanto, a auditoria não mudou muito ao longo dos anos. As empresas são mais difíceis de auditar e os riscos de fraude estão mudando, mas o processo de auditoria demorou para ser atualizado. A abordagem certa de auditoria, 20 anos atrás, ainda não é a abordagem certa hoje, mas muitas facetas das auditorias são basicamente as mesmas.

Os perpetradores de fraude sabem que os auditores não conseguem acompanhar todas as mudanças em seus negócios e podem facilmente explorar isso. Os auditores estão à mercê da gerência e só descobrem as coisas se fizerem as perguntas certas que obtenham respostas verdadeiras. É fácil ver como os auditores podem ser enganados por causa de sua falta de conhecimento.

Acompanhamento inadequado

O que acontece quando os auditores encontram uma “exceção” em seus testes de auditoria? Quando a exceção é considerada séria o suficiente para ação? O trabalho de auditoria após a descoberta de uma exceção pode às vezes ser inadequado. É difícil dizer quantos testes adicionais devem ser feitos depois que um problema é encontrado nos registros contábeis.

Um dos casos mais básicos de acompanhamento inadequado ocorre quando o cliente de auditoria é incapaz de produzir documentação para apoiar uma transação. Quem pode dizer que a documentação ausente é simplesmente um erro, em vez de algo mais sinistro? Os auditores geralmente são rápidos em selecionar transações alternativas para teste quando a documentação não pode ser localizada, mas isso cria uma oportunidade para o perpetrador de fraude.

Os gerentes e os executivos envolvidos em fraudes costumam usar a engenharia social para manipular os auditores. Eles podem parecer cooperativos e até mesmo concordar com os ajustes que os auditores possam sugerir, especialmente se essa cooperação desviar o foco de outras áreas das demonstrações financeiras que contenham evidências de fraude.

Agulha no Palheiro

Quando se trata de fraude, a administração tem uma vantagem significativa sobre os auditores. A gerência sabe exatamente onde a fraude está escondida, enquanto os auditores ficam procurando por uma “agulha no palheiro”. Os auditores não têm ideia se ocorreu fraude, que tipo de fraude pode ter sido perpetrada ou onde está oculta nas demonstrações financeiras.

As probabilidades são pesadas em favor da pessoa que cometeu a fraude. Já é ruim o suficiente que os auditores não saibam o que devem procurar, mas as coisas ficam ainda piores se o perpetrador levar em consideração as limitações de auditoria acima.

Por exemplo, é bastante fácil esconder fraude em uma conta com um grande volume de pequenas transações. O que acontece se o auditor tiver a sorte de descobrir uma dessas transações fraudulentas? Quem pode dizer que pode ser um erro honesto? O auditor pode convencer-se a não fazer mais perguntas.

Uso de estimativas

As partes críticas das demonstrações financeiras de uma empresa geralmente baseiam-se no julgamento da administração, que deve usar seu conhecimento do negócio para fazer estimativas. Infelizmente, o julgamento e as estimativas da administração são difíceis de auditar. Por exemplo, a empresa pode precisar fazer estimativas relacionadas aos custos de prestação de serviços a clientes que compraram itens com garantia. Será difícil para o auditor avaliar essas estimativas, pois geralmente eles não têm um conhecimento profundo do negócio e das questões de garantia.

Os auditores estão à mercê da gestão, detentores de todas as informações. A administração pode estar ciente das mudanças de negócios que invalidam os métodos históricos de estimativa de certos itens, mas a menos que informe aos auditores sobre essas mudanças, os auditores provavelmente não estarão cientes delas.

Tornando as auditorias mais eficazes

Os usuários de demonstrações financeiras precisam entender as limitações inerentes ao processo de auditoria. As auditorias nunca foram projetadas para detectar fraude e, a menos que haja uma grande mudança no negócio de auditoria, elas nunca irão detectar fraude em uma taxa significativa.

Ajudar os auditores a compreenderem melhor o negócio que estão auditando é a chave para realizar auditorias mais eficazes. Auditores mais jovens precisam de melhor treinamento e supervisão, e o trabalho em sala de aula não pode substituir a experiência real no campo.

As auditorias devem usar técnicas básicas como o elemento surpresa. Os auditores devem variar seus procedimentos e escopos de ano para ano, e procedimentos surpresa devem ser conduzidos ao longo do ano, bem como durante a auditoria. É necessário gastar mais tempo avaliando como a fraude pode ser cometida na empresa.

Aqueles que sabem mais sobre negócios e demonstrações financeiras precisam se envolver mais no campo para ajudar os auditores a aprender mais. Auditores inexperientes precisam do suporte de auditores mais experientes para que possam fazer perguntas difíceis com segurança e questionar métodos ou transações suspeitas.

As auditorias podem ser mais eficazes quando se trata de encontrar fraudes, mas haverá um custo para isso. O modelo financeiro atual para firmas de auditoria não será capaz de apoiar as sugestões acima. Haverá necessidade de mudanças generalizadas no negócio de auditoria, se algum dia esperamos que as auditorias encontrem mais fraudes.

Fonte: aqui. Imagem: aqui

Eu acrescentaria mais dois pontos: (a) muitas vezes a empresa de auditoria está muito mais interessada em vender outro negócio vantajoso (consultoria); (b) a justificativa de que a auditoria não foi feita para detectar fraude faz com que o auditor deixe de considerar este aspecto como crucial no seu trabalho.