31 março 2021
Cameron e a Greensill
A participação do ex-primeiro-ministro da Cameron nos negócios da Greensill Capital ainda vai gerar muita discussão. Recapitulando, a Greensill era uma instituição que financiava empresas. Recentemente, sua seguradora recusou a renovar apólices de certos ativos da Greensill e o negócio entrou em colapso. Cameron, um político inglês, foi contratado como consultor da Greensill logo após deixar seu emprego de primeiro-ministro e teria usado sua influência para ajudar certos negócios da Greensill.
Foi revelado que Cameron está sendo investigado pelas atividades de lobista e também por parte de um comitê de ética britânico. Um ex-presidente deste comitê afirmou que as atividades de Cameron escandalosas. E a investigação deve abranger o período em que ele ocupava o cargo político mais relevante do país. Há uma suspeita que Cameron teria participação acionária na Greensill.
Como um bom político inglês, há grandes chances de Cameron conseguir escapar deste problema.
Cartoon: The Independent
30 março 2021
Acumulação de cargos
Em uma daquelas MP com um bando de assunto distinto, eis que o governo resolveu alterar a Lei 6.404
É vedada, nas companhias abertas, a acumulação do cargo de presidente do conselho de administração e do cargo de diretor-presidente ou de principal executivo da companhia.
Mortes, segundo jornais e segundo as estatísticas
O gráfico abaixo mostra as notícias dos jornais:
Agora a comparação com a realidade:
Efeito disponibilidade. Os valores são para 2019.
Ambiente e avaliação de empresas
Um dos desafios da avaliação de empresas é levar em consideração na estimativa de valor o impacto ambiental. Como um tipo de risco qualquer, a questão ambiental pode ser inserida na análise na taxa de desconto ou no fluxo de caixa.
Na segunda forma, no fluxo de caixa, o avaliador pode reduzir o montante que será gerado pela empresa. Mas esta não é a única forma. Avaliando a empresa pelo equivalente caixa, o analista pode estimar o fluxo de caixa com uma taxa sem risco e sobre o valor multiplicar um equivalente certeza de caixa. Para refletir a questão ambiental, este equivalente - usualmente menor que 1 - deve ser inferior ao que seria calculado em uma situação normal.
A primeira forma é considerar a análise através da taxa de desconto. A obra de Mario Massari, Gianfranco Gianfrate e Laura Zanetti apresenta um exemplo do beta carbono. Geralmente o custo de oportunidade do capital próprio é estimado através de modelos como o CAPM. O que o analista faz é acrescentar um adicional pela emissão de carbono.
Vejamos um exemplo construído pelos autores, onde o beta carbono é incorporado ao custo do capital próprio dado pelo CAPM. A taxa de desconto deste modelo seria:
Kec = Rf + Be (Rm - Rf) + Bc (Rc - Rf)
onde Kec = custo do capital próprio considerando o carbono, Rf = taxa sem risco, Rm = retorno do mercado, Bm = beta da empresa, Bc = beta carbono, Rc = retorno do carbono.
A segunda parte da equação é que seria a "novidade" do cálculo. No exemplo do livro Corporate Valuation, de Massari, Gianfrate e Zanetti, os autores usaram um trabalho de 2013, de Koch e Bassen, onde estimaram os parâmetros.
Exemplo
Rc = 9% (segundo Koch e Bassen, 2013)
Rf = 1,5% (média de títulos alemães de 10 anos)
Bm = 0,654
Rm - Rf = 5% (retorno de empresas europeias)
Rc - Rf = 9% - 1,5% = 7,5%
Bc = 0,034 (beta de empresas europeias com elevada emissão, oriundo de Koch e Bassen)
Com estes parâmetros, basta substituir na fórmula
Kec = 1,5% + 0,654 x 5% + 0,034 x 7,5% = 5,02%
A estimativa tradicional seria
Kec = 1,5% + 0,654 x 5% = 4,77%
Parece pouco, mas veja que se o fluxo de caixa for de $100 milhões a diferença seria:
100 / 0,052 = 1.923
versus
100 / 0,0477 = 2.096
Um adicional de 173 a menos no valor. Como a estimativa de Koch e Bassen foi realizada com dados passados, seus valores de beta estariam subestimados.
(Foto: aqui)
29 março 2021
Precisamos de representação fiel na Contabilidade - Exemplo
Já falamos sobre isto no blog: talvez a representação fiel não seja uma característica qualitativa para a informação contábil. Aqui mais um exemplo:
Na parte de cima, o mapa do metrô, como é apresentado ao usuário. Na parte debaixo, o mapa, na sua versão mais realista - ou melhor, na sua melhor representação fiel. Qual mapa é mais fácil para o usuário atingir seu objetivo? Aquele como representação fiel ou o mapa disproporcional?
SPAC ou cheque em branco
A febre da Spac nos Estados Unidos parece estar chegando ao Brasil. Veja o que seria:
Essas empresas do cheque em branco são conhecidas como Spac, sigla para Special Purpose Acquisition Company (veículo de propósito específico de aquisição), e estão ganhando fama mundo afora. Esse mercado gira em torno de nomes reconhecidos, já que a credibilidade da gestora é que vai fazer o investidor lhe dar um “cheque em branco”. A vantagem para o investidor é entrar antes numa aposta com alto potencial de valorização, algo muito valioso em um mundo que ainda vive o fenômeno do juro negativo. Por ter um trâmite regulatório menor, o Spac é visto como uma alternativa mais rápida do que os IPOs clássicos para as companhias com intenção de acessar o mercado de capitais.
A denominação da reportagem como "cheque em branco" é apropriada. Nada mais adequado.
Mas há algumas consequências. Se por um lado a credibilidade da gestora pode contar bastante, o investimento deve ter um maior risco, por suas características. Espera-se também um maior retorno.
Fonte: IPO do ‘cheque em branco’ chega ao País - Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo - 28 de março de 2021. Foto: aqui
Prazo de divulgação das informações contábeis
Mas usando dados de empresas de capital aberto, que estavam adimplentes nos últimos 9 trimestres, o gráfico mostra que o efeito da pandemia foi reduzido neste atraso. É bem verdade que as empresas que estão apresentadas no gráfico são as maiores do país e que estão com a contabilidade em dia. Mas não deixa de ser um indicativo do esforço feito pelos departamentos de contabilidade destas empresas.
Como sua história única pode fazer com que você seja contratado
28 março 2021
Resistência ao novo foco da SEC
Na newslater do DealBook há a informação de um novo site da SEC para tratar da questão ambiental, social e de governança nas empresas (ESG). Entretanto, indicações de que a intenção da entidade que regula o mercado de capitais dos Estados Unidos está enfrentando resistência. Um parlamentar republicado da Pensilvânia, membro do Comitê Bancário do Senado, Pat Toomey, considera que a SEC não deve usar suas funções de fiscalização como "porta traseira" para novas regras sobre a questão ESG. Ele lembra que a escolha de Gary Gensler para SEC ainda não foi confirmada.
Os parlamentares republicanos são contrários as normas sobre este assunto. Toomey afirma que a questão climática não é, necessariamente, importante para todos os tipos de negócios.
Traduzido com a versão gratuita do tradutor - www.DeepL.com/Translator
Greensill
Mais um problema de insolvência que expõe alguns dos problemas financeiros do mundo moderno. Desta vez é uma empresa denominada Greensill Capital, fundada em 2011, com atuação no Reino Unido e na Austrália.Sua insolvência ocorreu no início de março. (O nome é também de seu fundador, na foto)
A empresa financiava a cadeia de suprimentos, através de um produto chamado “factoring reverso”, do factoring e de financiamento de valores a receber futuras. Uma vez que alguns bancos possuem restrições por parte dos reguladores para fazer este tipo de operação, empresas como a Greensill não possuem tantas amarras legais. Há problemas com as operações realizadas pela Greensill já que termina por encobrir dívidas das empresas.
Durante a fase de expansão, a Greensill inicialmente contou com recursos de investidores. Mas no final de 2020, a Greensill passou a considerar a possibilidade de abertura de capital. Tentou mudar sua empresa de auditoria, de uma empresa desconhecida, Saffery Champness, para uma Big Four ou outra de renome no mercado. Mas três destas empresas recusaram trabalhar para a Greensill (KPMG, Deloitte e BDO).
Sabe-se agora que a Greensill tinha uma grande concentração de negócios com o bilionário do açõ Sanjeev Gupta. A inadimplência neste negócio pode ser responsável parcial pelos problemas da Greensill. Aindam em 2020, o regulador BaFin da Alemanha (aquele que não fez nada com a Wirecard) começou a investigar uma subsidiária da empresa. Em março de 2021, o Bafin proibiu a atividade do banco.
Parte dos negócios da Greensill estavam segurados pela Tokio Marine. Mas em julho do ano passado a Tokio informou para a Greensill que não iria mais fornecer cobertura depois de descobrir que um funcionário tinha fornecido cobertura além os limites de risco.
O problema da Greensill pode trazer dificuldades para o grupo de Gupta e e outros negócios relacionados com este tipo de operação. Além disto, as operações passaram durante muito tempo sem uma análise mais rigorosa dos reguladores, incluse o BaFin.
Há denúncias de lobbying por parte do ex-primeiro ministro Cameron e tudo leva a crer que outros desdobramentos devem surgir
Contra a padronização dos relatórios ESG
Uma coluna de opinião da Forbes tem argumentos contrários a uma tendência de criar relatórios padronizados para as informações ambientais, governança e sociais. Eis um ponto apresentado importante:
(...) algumas empresas claramente têm exposição financeira às mudanças climáticas: um hoteleiro com propriedades ao longo da costa atlântica poderia ver o valor de suas propriedades cair se as mudanças climáticas resultassem em furacões mais frequentes e destrutivos. Por outro lado, uma fábrica de máquinas-ferramenta no meio-oeste precisaria considerar um bando de fatores mais sutis para desenvolver sua estimativa de como as mudanças climáticas podem impactar seus resultados financeiros.
As informações relevantes que essas duas empresas precisariam fornecer aos investidores para ajudá-los a compreender o impacto das mudanças climáticas provavelmente seriam completamente ortogonais uma à outra. Embora possa ser politicamente conveniente para a SEC formalizar os requisitos de relatórios nessas questões, dada sua potência política no momento, ela deve resistir a fazê-lo exatamente porque seu impacto difere muito entre as empresas. Prescrições mais precisas para relatar seu possível impacto provavelmente não beneficiarão os investidores, mas certamente aumentará os custos de conformidade.
O título do texto é "padronizar os relatórios não irá beneficiar os investidores"
Wirecard e a auditoria
Quando a empresa alemã Wirecard começou a apresentar problemas, um aspecto de chamou a atenção foi a notícia que a empresa de auditoria não tinha observado que a informação de 1,9 bilhão de euro que a contabilidade interna informava não era verdadeira.
27 março 2021
26 março 2021
Handbook com normas internacionais do setor público
As normas internacionais de contabilidade para o setor público foram reunidas em dois livros publicados agora. O primeiro volume traz a abordagem conceitual e vai até o IPSAS 27. O segundo volume vai da norma 28 a 40.
Boa leitura
Estados Unidos e as auditorias na China
No final do governo Trump houve uma ameaça contra as empresas chinesas com ações negociadas na bolsa de valores dos Estados Unidos. O motivo era a auditoria. Ou melhor, a qualidade da auditoria realizada em território chinês. A China tinha alguns obstáculos que as empresas de auditoria fizessem seu trabalho.
O governo Trump colocou a questão da seguinte forma: sem auditoria com acesso à informação contábil não era possível usar o mercado de capitais dos Estados Unidos.
Na quarta a entidade responsável pela regulação do mercado de capitais dos Estados Unidos emitiu um comunicado sobre o assunto, agora sob nova direção. O anúncio diz que a pressão irá continuar. Ou seja, a falta de inspeção do trabalho do auditor por parte do PCAOB poderá levar a expulsão do papel nas bolsas dos Estados Unidos.
O comunicado não significa que isto ocorrerá de imediato. O que a SEC fez foi propor diretrizes na aplicação da regra. O anúncio não é válido somente para empresas chinesas.
Rir é o melhor remédio
"Dia após dia, o seu contador pode ganhar ou perder mais dinheiro do que qualquer pessoa em sua vida, com a possível exceção de seus filhos."
- Harvey Mackay via aquiFilho de peixe
Using a survey of 7218 professors in PhD-granting departments in the United States across eight disciplines in STEM, social sciences, and the humanities, we find that the estimated median childhood household income among faculty is 23.7% higher than the general public, and faculty are 25 times more likely to have a parent with a PhD. Moreover, the proportion of faculty with PhD parents nearly doubles at more prestigious universities and is stable across the past 50 years.
(Via Marginal Revolution.)
Taxa de Retorno sobre Imóveis
Real estate—housing in particular—is a less profitable investment in the long run than previously thought. We hand-collect property-level financial data for the institutional real estate portfolios of four large Oxbridge colleges over the period 1901–1983. Gross income yields initially fluctuate around 5%, but then trend downward (upward) for agricultural and residential (commercial) real estate. Long-term real income growth rates are close to zero for all property types. Our findings imply annualized real total returns, net of costs, ranging from approximately 2.3% for residential to 4.5% for agricultural real estate.
25 março 2021
Finalmente o Brasil está preocupado com o Covid?
O Google Trends mostra o número de vezes que uma palavra é pesquisada no Google. No gráfico de cima, o termo Covid no Brasil. O ponto máximo na pesquisa no Google está ocorrendo agora. Parece que nosso país realmente ficou preocupado com o Covid.
O resultado do resto do mundo está abaixo do primeiro gráfico. Veja que o maior volume de pesquisa mundial ocorreu no surgimento da doença.
Eis o gráfico da Itália
Portugal
Para sua próxima reunião de negócios
Uma transação transformacional
Um racional estratégico convincente
Forte complementaridade geográfica
Uma oportunidade única de aprimorar e expandir nosso ecossistema
um player estratégico
uma proposta de valor premium
um ecossistema poderoso, omnicanal e integrado
maximiza a monetização
nosso ecossistema o tornará mais forte e abrangente
Act for food
nos permitirá capturar um maior Share of Wallet dos clientes
Desenvolver ainda mais o e-commerce graças ao aumento da capilaridade
A transação irá desbloquear um valor adicional significativo
O componente em ações suportará a performance do negócio
forte incentivo para uma rápida captura de sinergias
Gostou? Sugestão: anote para sua próxima reunião de negócios.
Frases dos slides de apresentação da aquisição do BIG pelo Carrefour.
24 março 2021
UGC, Petrobras, CVM, CPC ... - 2
UGC, Petrobras, CVM, CPC ...
No final do ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários reuniu seus diretores para julgar os procedimentos contábeis da Petrobras relacionados com o teste de impairment e a atuação dos seus executivos, que assinaram as demonstrações contábeis.
A questão começou quando denúncias de corrupção na Petrobras começaram a aparecer no noticiário policial e político. Haveria uma esquema, onde alguns diretores receberiam uma percentagem pelas decisões que seriam realizadas na empresa. Alguns fornecedores, interessados em vender para a Petrobras, pagavam uma comissão sobre o valor da transação e este dinheiro era usado para fins políticos e particulares.
Mas como isto passava pela contabilidade da empresa? O valor adicional nas compras é complicado de ser rastreado, mas fez com que os eventos fossem registrados incluindo a comissão cobrada pelos diretores. Descoberto o esquema, este adicional deveria ser considerado como uma despesa. Diante da recusa do auditor em assinar um balanço onde o ativo estaria superestimado em razão da comissão cobrada, a gestão da empresa finalmente concordou em levar a resultado uma grande parcela do ativo sob a forma do teste de impairment.
Este teste obriga a empresa a comparar o valor registrado na contabilidade com aquele usado nas transações do mercado e com o fluxo de caixa que será gerado, trazido a valor presente. Se o valor existente na contabilidade estiver superestimado, isto deveria ter sido considerado no resultado da empresa ao longo do tempo. E realmente isto aconteceu, já que nos anos anteriores a Petrobras tinha feito decisões de investimento inadequadas, colocando recursos em projetos inviáveis financeiramente.
Como o teste de impairment é uma espécie de alerta para os usuários da informação de que a empresa tomou decisões inadequadas no passado, em geral não é bem aceita pelo mercado. Assim, há uma regra informal na contabilidade de tentar ser reprovado no teste. Em outras palavras, o nome "teste" não é gratuito: se houver lançamento como despesa é sinal de que a empresa foi reprovada no teste em razão de decisões passadas ruins.
A questão da Petrobras é o gigantismo dos números. Em 2015 a empresa publicou seus resultados com perdas de 45 bilhões de reais. Uma perda tão grande não aparece do nada.
A área técnica da CVM resolveu investigar as demonstrações de 2010 a 2014. Depois de analisar documentos da empresa, a área técnica fez alguns questionamentos para as pessoas que comandavam a Petrobras no período. Com a resposta, alguns pontos nebulosos surgiram e o caso foi levado para julgamento. A decisão se a empresa agiu corretamente ou não deveria ser dos diretores da entidade que regula o mercado de capitais.
O grande problema é que o teste de impairment é muito subjetivo. Sua aplicação deve ser feita pelas empresas, usando uma comparação de três valores: o valor que está registrado na contabilidade, o valor usado no mercado e a riqueza que será gerada a valor presente. O primeiro valor é bem objetivo. O segundo é um pouco menos, dependendo do que estiver sendo mensurado. Mas o terceiro é muito subjetivo e depende da opinião de quem está fazendo o teste.
Se o teste fosse usado para cada item que a empresa possui, o custo de seu cálculo tornaria impraticável o procedimento. Em lugar disto, é possível juntar os itens em grandes "unidades", chamada de geradora de caixa (UGC é a sigla usada). E assim calcular as três medidas necessárias para cada UGC da empresa. Há um requisito necessário para fazer isto: é preciso "coerência" por parte da empresa. Em termos práticos, a coerência significa que um item que estava em uma UGC não deve ir para outra UGC ou ficar de fora do teste.
Foi exatamente isto que ocorreu na Petrobras entre 2010 e 2014, conforme comprovou a área técnica da CVM. Olhando a UGC chamada de refino, a Refinaria Abreu e Lima e o Complexo do Rio de Janeiro, a área técnica percebeu grandes incoerências nos procedimentos da Petrobras.
Veja o caso da Refinaria Abreu e Lima. Em 2010, quando começou o teste de impairment no Brasil, não foi feito o teste para esta Refinaria. No ano seguinte, a Petrobras fez o teste e concluiu que a Refinaria tinha "passado". Em outras palavras, o valor da contabilidade era menor que a riqueza que a unidade iria gerar no futuro, conforme a estimativa da empresa. Em 2012, a Refinaria foi incluída dentro da UGC Refino e foi feito um único teste. Nada de anormal foi constatado. Isto também ocorreu nos anos seguintes.
Quando começaram a surgir as notícias dos escândalos da Petrobras, a contabilidade separou a Refinaria Abreu e Lima. Isto não era "coerente" com o procedimento anterior. Uma parte continuou na UGC Refino e o teste não acusou nada. Mas a outra parte, correspondente ao "2o. trem de refino" da unidade, foi testada e foi reprovada. Enquanto a contabilidade tinha um registro de 16,5 bilhões de reais para esta parte da refinaria, o teste chegou a um resultado de 7,4 bilhões. Diante do teste, a contabilidade registra o novo valor e a diferença aparece no resultado da empresa, com um sinal negativo. Veja que o valor do teste é menos que a metade do valor registrado e a Petrobras só percebeu isto após surgirem as notícias informando dos desvios de recursos.
O caso do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro também é parecido. Em 2010, a Petrobras não fez o teste. Em 2011, a empresa fez um teste parcial, do primeiro trem de refino somente. O resultado foi um "aprovado". Em 2012, o primeiro trem foi novamente testado, agora dentro da UGC Refino. Mas o segundo trem não foi testado. No ano seguinte, o Comperj foi testado na sua globalidade, dentro da UGC Refino.
O ano de 2014 foi um divisor para a empresa. Com um teste isolado da UGC Refino, o Complexo Petroquímico chegou a um resultado de 4 bilhões de reais. Ao olhar no registro contábil era possível perceber um valor de R$25,8 bilhões. E esta diferença só foi percebida em 2014.
Mesmo diante deste números, os diretores e membros dos conselhos da empresa alegaram que isto tudo era muito técnico. E como a área técnica da empresa era bastante competente e estava seguindo as regras internas da empresa, confiaram nos valores apresentados. Para finalizar, lembraram que isto passou pelo olhar dos auditores, que não reclamaram do que estava ocorrendo na empresa.
Todas as alegações foram, de certa forma, aceitas pelos diretores da Comissão de Valores Mobiliários. Pode parecer que este tenha sido o grande problema deste caso, mas realmente não foi. Como afirmado antes, o teste não é objetivo. Vale o valor colocado pela empresa e o responsável pela correção do teste, aqui a CVM, não pode reprovar, mesmo que a situação tenha sido tão surreal.
Capítulo adicional de Steinhoff
A empresa Steinhoff apresentou alguns problemas no final de 2017. Eis um resumo, publicado no blog:
2020 foi um ano estranho
O gráfico mostra o resultado divulgado até o momento para as empresas de capital aberto no Brasil. Do lado esquerdo, queda no lucro líquido das empresas e na receita operacional. Tudo normal, conforme o ambiente de pandemia que vivemos no ano. Mas do lado direito, aumento no valor de mercado. Enquanto a receita caiu 9%, o valor de mercado aumentou 8,5%. O lucro diminuiu em quase 25%. Faz sentido?
(Dados obtidos na base Economática, no dia de ontem. Somente foram consideradas as empresas com informação disponível. Assim, o número de empresas é diferente entre cada variável, apesar de ser constante ao longo do tempo)
23 março 2021
Palavras são palavras: o caso da arbitragem da Eldorado
Grupo de trabalho criado pela Fundação IFRS para a sustentabilidade
Os curadores da Fundação IFRS (International Financial Reporting Standards) formaram um grupo de trabalho para trabalhar na harmonização dos padrões globais dos relatórios de sustentabilidade. O resultado esperado serão recomendações técnicas para um novo conselho de padrões.
Aparentemente há um clamor para que os padrões existentes na área ambiental, social e de governança sejam consistentes e coerentes. O interesse de investidores encontra, na prática, um grande número de padrões potenciais. Em outubro do ano passado, cinco destas organizações que já emitiram padrões na área resolveram tentar fazer um processo de harmonização. Estas entidades são o Sustainability Accounting Standards Board, o International Integrated Reporting Council, o Global Reporting Initiative, o Climate Disclosure Standards Board e o Carbon Disclosure Project.
A entidade que reúne as bolsas de valores e a Federação Internacional de Contadores encorajaram a Fundação IFRS a organizar um conselho de padrões para a área, sob a supervisão da Fundação. A primeira reunião do grupo de trabalho deverá ocorrer no próximo mês.
Mais aqui
Volkswagen é uma grande surpresa do mercado
A empresa alemã Volkswagen manipulou a emissão de carbono nos seus veículos. O escândalo custou uma mancha na sua reputação e muitos milhões de multa. Mas agora a Volkswagen renasce e parece ser a grande aposta do mercado para concorrer com a Tesla.
Nos últimos dias, a empresa teve uma grande valorização no mercado acionário. Com um preço sobre lucro de 13, a ação saiu de 150 euros, em janeiro, para 230, agora (gráfico). O Deutsche Bank informou que sua avaliação da empresa, negócio de carros elétricos, é de 230 bilhões de dólares. O valor atual é bem inferior a esta cotação. Alguns analistas calcularam um preço de 270 euros para empresa.
Atualmente, a Volks é a maior empresa em negociação no mercado alemão, acima da SAP. Uma das razões do otimista é que a empresa deverá ultrapassar a Tesla na entrega de veículos elétricos (EV), já que lançou um SUV compacto mundialmente. E a empresa tem planos de transformar a fábrica de Barcelona, produzindo 500 mil veículos ano.
22 março 2021
Auditoria deve detectar fraude?
Ainda texto do Digg sobre a proposta do Reino Unido de reforma na contabilidade. Uma questão interessante é qual o objetivo da auditoria. Eis um trecho interessante:
Em março de 2007, o ex-presidente da PwC dos EUA, Dennis Nally, foi entrevistado pelo WSJ:
WSJ: O trabalho de um auditor é tentar encontrar fraudes?
Nally: Com certeza. Temos a responsabilidade de executar procedimentos que detectem fraudes, assim como temos a responsabilidade de executar procedimentos para detectar erros nas demonstrações financeiras.
WSJ: Você parece bem certo, mas as empresas como um todo frequentemente evitam alguma responsabilidade por encontrar fraudes, especialmente em tribunais.
Nally: A profissão de auditoria sempre foi responsável pela detecção de fraudes. O debate sempre foi até onde você carrega isso, que tipo de procedimentos você tem que desenvolver e em que ambiente. A questão clássica passa a ser o custo-benefício de tudo isso e é por isso que acho que existe essa lacuna de expectativa.
Em 2011, Nally mudou de tom. Helen Thomas, do Financial Times, perguntou ao presidente global da PwC, Nally: “E quanto a fraude ou contabilidade fraudulenta?
(...) Existem padrões profissionais lá fora [e] uma auditoria não é projetada sob esses padrões para detectar fraude ", [Nally] diz, apontando que a detecção de comportamento fraudulento depende de outras indicações, incluindo a governança da empresa, tom de gestão e sistemas de controle. As razões pelas quais isso foi feito é porque, embora sempre ouçamos e lemos sobre fraudes de alto perfil, o número dessas situações que você realmente encontra na prática é mínimo.
Proposta do Reino Unido tem chance de dar resultado?
Após ler no Digg um longo comentário, a resposta da pergunta seria Não.
Recentemente , o Reino Unido apresentou uma proposta de reforma da regulação contábil, com foco nas grandes empresas de auditoria. Mas o texto é crítico
Seria um grande erro para o Reino Unido modelar suas reformas - aquelas que têm tanto ímpeto e necessidade urgente - após a reforma dos auditores dos EUA que falhou tão miseravelmente. Os investidores do Reino Unido merecem mais. Escrevi em 2012, dez anos após a aprovação da Lei Sarbanes-Oxley, que a lei e a fraca aplicação dela não conseguiram restaurar a confiança dos investidores nas firmas de auditoria após o fracasso da Arthur Andersen em mitigar a fraude na Enron. Quase vinte anos depois do meu veredicto é ainda mais severo. A lei Sarbanes-Oxley revelou-se uma mistura negociada de regras que mal foram aplicadas e gradualmente diluídas até um centímetro de sua intenção original, tudo para reduzir custos para empresas e aumentar novas listagens de ações.
Qual a razão desta opinião?
Isso porque as maiores firmas de auditoria globais capturaram totalmente o governo e o aparato regulatório por meio da porta giratória e têm um objetivo comum de sustentar o mercado de ações e as empresas, independentemente do custo para os trabalhadores e pequenos investidores. Após a crise de 2008, quase nenhum auditor foi multado ou preso por não alertar a sociedade.
A base da proposta foi um relatório feito por Brydon, ex-presidente da Bolsa de Londres, que recomendava
incluindo a proposta de uma nova definição do objetivo de uma auditoria corporativa . Ele também enfatizou por que se deve esperar que os auditores ajam como “cães de caça” que detectam fraudes corporativas.
O texto é crítico com a possibilidade da proposta gerar resultado. O relatório final é longo, irá a consulta pública até julho e deve gerar muitos e-mails.
21 março 2021
Língua alemã e o Coronavírus
A língua alemã tem um vocabulário enorme e a todo momento está criando novas palavras, a partir da junção de palavras já existentes. Além de uma gramática complexa, o alemão tem no vocabulário um desafio para quem deseja aprender a língua.
O Coronavírus permitiu a junção de palavras, com o aumento no vocabulário. O Leibnitz Institute afirmou que mais de mil palavras novas foram criadas. A seguir, algumas delas (via aqui)
Máscara facial para proteger do vírus. Junção com a palavra Kondom (camisinha)Pessoa que age como hamsters
Esta é boa: ansiedade causada pelo Corona.
Típico de nosso tempo: estilo de cabelo provocado pelo corte doméstico
Beber cerveja respeitando a distância social
Em lugar do aperto de mão, o toque dos pés.
Horas de sono
Estudo publicado (via aqui) mostra que os holandeses dormem, em média, 5 minutos a mais do que as oito horas recomendadas. O brasileiro tem um déficit de sono de 26 minutos. Japão e Cingapura são piores.
20 março 2021
NFT é um ativo?
Bom, em primeiro lugar é importante entender o que significa NFT. Eis um texto do Estado de S. Paulo sobre o assunto:
(...) NFT, uma tecnologia que promete mudar a percepção de propriedade e comercialização de bens digitais.
É difícil imaginar como um arquivo, que pode ser replicado infinitas vezes, tenha o status de obra de museus, pois o que caracteriza peças do tipo é a aura de serem únicas. Muitas vezes, o que garante a originalidade dessas obras são certificados de autenticidade. O NFT (sigla para “token não fungível”) funciona da mesma maneira: é um registro de que uma peça é única e tem dono. Ou seja, quem compra uma arte digital via NFT não está levando um arquivo que pode ser submetido com facilidade aos comandos de copiar e colar — está levando um certificado único, que não pode ser substituído.
Os certificados de NFT usam a estrutura da tecnologia de blockchain, que, assim como acontece com o bitcoin, oferece um registro seguro, transparente e descentralizado. Quando o sistema anota que uma pessoa é dona de um bem digital, é impossível apagar ou duplicar o registro — e todo o histórico de transações envolvendo esse NFT fica disponível.
Isso não significa que apenas o dono do NFT possa ter acesso ao arquivo JPEG — a obra recordista do Beeple poderá ser reproduzida em infinitos celulares e computadores. Da mesma forma que a Mona Lisa é reproduzida em diferentes formatos, as obras certificadas com NFT podem ganhar cópias. Porém, assim como o museu do Louvre é dono do certificado de autenticidade da obra mais famosa de Leonardo Da Vinci, apenas uma única pessoa é dona do NFT da obra de Beeple.
O conceito de ativo inclui a geração de riqueza, baseado em uma transação que ocorreu no passado. E esta riqueza está sob o controle da entidade. Seria o NFT um ativo? Um adendo:
Para quem planeja entrar nesse mercado com expectativas de lucros nas mais variadas frentes possíveis, os especialistas lembram que o NFT não garante o direito autoral da obra em questão — embora ainda existam muitas questões a serem debatidas na área. A princípio, o NFT é apenas o registro de compra de um item colecionável, como acontece na aquisição de um quadro no mundo físico — a não ser que no contrato esteja especificado algum direito em relação à obra. Olhando para o mundo real: ter uma foto original de Sebastião Salgado não garante ao detentor o direito de vender livros e camisetas com aquela imagem.
“É um mercado que ainda está em fase de experimentação. Mas há uma boa razão para acreditar que colecionáveis digitais podem valer mais que colecionáveis físicos. Eles são mais líquidos: a venda é mais simples (qualquer um na internet pode participar) e a aquisição é instantânea, sem necessidade de logística”, explica Pakman. Pode parecer loucura, mas o NFT não altera uma premissa básica da arte: a beleza — e o valor — está nos olhos de quem vê.
A Imagem acima foi vendida em leilão por 69 milhões de dólares.
Efeito dotação e mensuração ambiental
O termo "efeito de dotação" foi cunhado por Thaler em seu trabalho de 1980, descrevendo várias anomalias no comportamento do consumidor. Este efeito logo chamou a atenção dos economistas ambientais.
Os economistas que estudam questões envolvendo a política ambiental frequentemente precisam encontrar um valor para bens que não podem ser comercializados no mercado. Assim, eles podem precisar determinar o valor para os consumidores locais de um novo shopping a fim de determinar se vale a pena os custos ambientais. Aos consumidores em potencial poderia ser solicitada sua disposição de pagar pelo novo shopping. Alternativamente, aqueles que possuem casas muito próximas do local podem perder uma vista espetacular quando o shopping sobe, além de precisar lidar com o tráfego adicional, o ruído e o brilho luzes em todas as horas da noite. A estas pessoas pode ser solicitada sua disposição para aceitar estes inconvenientes. Então o economista poderia determinar se o shopping melhoraria ou diminuiria o bem-estar, examinando se aqueles que querem o shopping poderiam potencialmente pagar aqueles que não o querem para compensá-los. No início, havia sido observado que as respostas de aceitar pareciam estar infladas em relação à vontade de pagar.
(...) O efeito de doação coloca em questão muitas das técnicas que têm sido utilizadas para determinar o valor de bens ambientais - um campo fértil para a aplicação de comportamentos econômicos nos modelos.
David Just, Behavioral Economics, p. 88