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15 março 2021

VPL e Impairment


No recente caso julgado pela CVM sobre o teste de impairment na Petrobras, um ponto foi discutido era a análise feita pela área interna, sobre o investimento a ser realizado pela empresa, e o teste de impairment. Especificamente, a discussão centrou no fato de que a área responsável pela decisão de investimento, no início do milênio, usou uma taxa de desconto para analisar a decisão de colocar recursos na Comperj e na Refinaria Abreu e Lima que era diferente daquela usada no teste de impairment.

Na realidade, as decisões de VPL e o teste de impairment estão vinculados, mas não se confundem. Espera-se usar o valor presente líquido como critério de decisão de investimento antes da decisão. Após a decisão de investimento, o VPL deveria focar nos fluxos futuros de caixa. O teste de impairment deve analisar os ativos da empresa sob a ótica de geração de caixa futuro - valor em uso - ou sob a forma de venda - valor de troca, comparando com o valor contábil - valor histórico, em alguns casos. 

Muitas vezes uma decisão ruim pode não passar pelo crivo do VPL, mas não significa, necessariamente, que deva produzir uma perda em razão do teste de impairment

Eis um exemplo numérico onde isto fica mais claro. Uma empresa faz a análise de aquisição de uma máquina no valor de $300, com vida útil de dez anos, sem valor residual. Esta máquina irá gerar um caixa de $48 por ano e a taxa de desconto é de 10%. Ao fazer a análise da decisão de investimento, a área técnica calculou que a máquina terá um retorno um pouco maior que 6 anos. Mas a taxa interna de retorno é de 9,61%, indicando que a aquisição não passa no critério técnico da empresa.

[O valor da taxa interna de retorno pode ser obtido em uma planilha Excel com o seguinte comando: =TIR(-300;48;48;48;48;48;48;48;48;48;48)]. 

Ao calcular o valor presente líquido, o resultado é negativo, com um valor de -5,06. 

[O cálculo no Excel é feito da seguinte forma: =VPL(10%;48;48;48;48;48;48;48;48;48;48)-300]

Ou seja, a empresa não deveria comprar a máquina. Mas muitas vezes a gestão de uma empresa não segue as indicações da área técnica, e toma decisões sem levar em consideração seus cálculos. Vamos imaginar que no dia 1o. de janeiro, a administração da empresa decidiu comprar a máquina, mesmo existindo uma análise técnica em sentido contrário. 

Ao final do ano, é feito o teste de impairment da seguinte forma:

1) Calcula o valor de troca - vamos admitir, para simplificar, que este seja igual ao valor contábil. 

2) Determina o valor em uso - usando os dados estimados, a máquina irá gerar um fluxo de caixa de $48 para os próximos nove anos. O valor presente será então de 276,43, admitindo a mesma taxa de desconto. 

3) Estima o valor contábil. A máquina foi adquirida por $300 e tem vida útil de 10 anos. Isto corresponde a uma depreciação de 30 por ano. O valor contábil será de $270. 

Uma vez que o valor em uso é maior que o valor contábil, não haverá redução do valor do ativo. O que ocorreu aqui? Parte do problema da decisão tomada pela empresa foi para o resultado através da depreciação. O teste de impairment não revelou a decisão ruim que foi realizada pelos gestores no passado. 

Imagem: aqui

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