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21 março 2025

Líderes e gerentes

As empresas são fundamentais para o desenvolvimento econômico, e os CEOs são essenciais para a produtividade das empresas. Mas será que, em países em diferentes estágios de desenvolvimento, as empresas estão sendo lideradas pelos CEOs certos? E, se não, por quê? Desenvolvemos uma medida concisa do uso do tempo dos CEOs que nos permite diferenciá-los entre "líderes" e "gerentes", com base em uma pesquisa realizada com 4.800 indústrias em 42 países, cuja renda per capita varia de USD 4.000 a 45.000. Constatamos que países mais pobres têm menos líderes, o que está relacionado às oportunidades de formação. Mesmo quando há líderes adequados disponíveis, eles muitas vezes não estão à frente das empresas que mais se beneficiariam da sua liderança, resultando em desajustes que podem levar a perdas de produtividade de até 20% nessas empresas. Os resultados sugerem que políticas voltadas para as causas desse desajuste podem impulsionar significativamente o crescimento sem necessidade de recursos adicionais.

Empresas brasileiras estão na amostra (cor vermelha), mas a presença de líderes é menor que nossa renda per capita.

Poder da IA na área de finanças

Esses resultados são impressionantes


Este artigo descreve um processo para gerar automaticamente trabalhos acadêmicos em finanças utilizando grandes modelos de linguagem (LLMs). Ele demonstra a eficácia do processo ao produzir centenas de artigos completos sobre a previsibilidade de retornos de ações — um tema particularmente adequado para nossa ilustração. Inicialmente, extraímos mais de 30.000 potenciais sinais preditores de retorno de ações a partir de dados contábeis e aplicamos o protocolo “Assaying Anomalies” de Novy-Marx e Velikov (2024) para gerar “relatórios-modelo” padronizados para 96 sinais que atendem aos rigorosos critérios do protocolo. Cada relatório detalha o desempenho de um sinal na previsão de retornos de ações utilizando uma ampla variedade de testes e o compara com mais de 200 outras anomalias conhecidas. Por fim, utilizamos LLMs de última geração para gerar três versões completas distintas de artigos acadêmicos para cada sinal. As diferentes versões incluem nomes criativos para os sinais, introduções personalizadas com justificativas teóricas variadas para os padrões de previsibilidade observados e citações a literatura existente (e, ocasionalmente, imaginada) que apoia suas respectivas alegações. Este experimento ilustra o potencial da IA para aumentar a eficiência da pesquisa financeira, mas também serve como um alerta, ao mostrar como ela pode ser usada de forma indevida para industrializar o HARKing (formular hipóteses após os resultados serem conhecidos).

Inflação de nota e sinalização

Nos últimos anos, em diversos países, percebeu-se uma inflação nas notas dadas aos alunos. Nunca vi uma pesquisa sobre isso no Brasil, mas pode estar acontecendo também em nosso país. Isso significa que o número de notas mais elevadas tem se tornado cada vez mais comum. Como a educação é, antes de tudo, um sinal, conforme Brian Kaplan, a nota deixou de desempenhar essa função.  

Tenho um pequeno exemplo da minha universidade. Raramente um aluno recebe uma nota que não seja a máxima no Trabalho de Conclusão de Curso. Veja que, apesar de o exemplo ser da minha instituição de ensino, creio que isso também ocorra em outras escolas. Se a nota máxima é o esperado, perde-se um critério para distinguir qual trabalho de conclusão de curso é de boa qualidade e qual é, na verdade, um texto mediano.  

Uma forma de o aluno sinalizar que seu TCC é de boa qualidade é obter a aprovação em um congresso. Assim, seu trabalho recebe a chancela de um evento acadêmico, tornando-se um indicativo de qualidade. O que deveria ser resolvido na nota do TCC acabou beneficiando os organizadores de eventos científicos.  

Isso também distingue um curso a distância de um curso presencial nos dias de hoje no Brasil. Talvez eu esteja errado aqui, mas conto com o respaldo da dissertação de mestrado de Elizabeth Araújo, que comprovou esse fato. Fazer um curso presencial é um sinal importante para um futuro empregador.  




Há uma proposta de utilizar o modelo de resposta ao item como solução para a inflação das notas. As notas ajustadas significariam que uma nota máxima em Cálculo teria um valor muito maior do que uma nota máxima no TCC. Se os alunos soubessem disso, se dedicariam mais a disciplinas como Cálculo; os professores, sabendo que sua nota nessa disciplina seria mais valorizada, poderiam atribuir uma avaliação mais justa.  

Aproveitando minha experiência pessoal, conto um caso que ocorreu recentemente comigo. Um aluno estava sendo reprovado e argumentou que a nota poderia prejudicá-lo em sua tentativa de estudar no exterior. Pensando bem sobre o assunto, percebi que o discente só considerava o seu próprio lado. Caso eu me sensibilizasse com sua perda e ele conseguisse o intento de ir para o exterior, poderia estar prejudicando alguém que foi avaliado de maneira mais justa. Decidi, então, sinalizar que o aluno não era tão brilhante quanto imaginava, atribuindo-lhe a nota justa.  

Imagem: aqui

20 março 2025

Poluição, mercado e moral


Eis o resumo

Uma crítica comum aos instrumentos baseados no mercado é que eles transformam a poluição em uma mercadoria, reduzindo assim seu estigma moral. Se isso fosse verdade, o uso crescente desses instrumentos poderia diminuir a preocupação com o meio ambiente. Com um estudo experimental pré-registrado e demograficamente representativo, envolvendo mais de 2.000 americanos, este projeto encontra evidências contrárias à crítica da mercantilização. Os participantes que foram aleatoriamente designados para aprender sobre regulamentações baseadas no mercado para um poluente fictício, chamado malzene, não consideraram a poluição por malzene menos moralmente problemática do que aqueles que aprenderam sobre um mandato que impunha limites de poluição. Os resultados foram suficientemente precisos para descartar qualquer redução no estigma moral decorrente de um imposto sobre a poluição (em comparação com um mandato) e para excluir uma redução maior que 4% em um programa de cap-and-trade. Além disso, regulamentações baseadas no mercado podem fazer a poluição parecer pior: empresas que pagavam para poluir em conformidade com esses instrumentos eram vistas como moralmente piores do que aquelas que poluíam em conformidade com um mandato. Essa descoberta sugere um novo e diferente argumento contra as regulamentações baseadas no mercado — de que elas reduzem os benefícios reputacionais do cumprimento legal. No entanto, os instrumentos baseados no mercado não parecem reduzir o estigma moral da poluição.

Educação e sustentabilidade

Do CFC:


A International Federation of Accountants (Ifac) finalizou as revisões das Normas Internacionais de Educação (IES, na sigla em inglês) com o objetivo de assegurar que os profissionais da contabilidade de todo o mundo desenvolvam as competências certas para implementar os relatórios de sustentabilidade e as normas de asseguração de forma eficaz.

“A Ifac e seus membros trabalham juntos para moldar o futuro da profissão por meio do aprendizado, da inovação, de uma voz coletiva e de um compromisso compartilhado com o interesse público”, disse o diretor executivo da Ifac, Lee White.  As revisões das normas educacionais estabelecem uma base global de competência em sustentabilidade. Isso inclui as normas emitidas pelo International Auditing and Assurance Standards Board (Iaasb), pelo International Ethics Standards Board for Accountants (Iesba) e pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), bem como aquelas em desenvolvimento pelo International Public Sector Accounting Standards Board (Ipsasb).

Foto: aqui

Autocitações na ciência


Conheço pesquisadores da nossa área que fazem isso com frequência: citam excessivamente seus próprios trabalhos. Outros vão além: quando atuam como pareceristas de periódicos, exigem a citação de seus artigos como condição para aprovação. Ético? Eu acho que não.  

Dois pesquisadores, ao analisarem milhares de artigos e periódicos, identificaram pelo menos 45 mil trabalhos com autocitações. Os dados, extraídos da base Web of Science da Clarivate, abrangem textos desde 1980.  

Algumas inconsistências foram constatadas na pesquisa, conforme apontado pelo site que divulgou a notícia. O periódico Quantitative Economics, por exemplo, frequentemente atribui DOIs — números únicos que identificam artigos no mundo acadêmico — diferentes para materiais suplementares ou apêndices.  

Ainda assim, mesmo os erros podem representar um problema, pois podem indicar que alguns pesquisadores descobriram maneiras de burlar o sistema.

Quando a política incomoda

A marca de sorvete Ben & Jerry’s é muito conhecida em alguns países. Durante décadas, a empresa adotou uma postura considerada progressista. Um exemplo recente é o posicionamento de seus executivos em favor da causa palestina.

Se uma pequena empresa de sorvetes não causa grande impacto, o fato de Ben & Jerry’s pertencer a um grande grupo multinacional pode gerar controvérsias. Desde 2000, a marca é propriedade da Unilever, e sua postura política tem se tornado cada vez mais relevante.

Agora, a Unilever tomou uma medida drástica ao demitir o CEO da Ben & Jerry’s, David Stever. Segundo boatos, o motivo seria político. A empresa entrou com uma ação contra a Unilever na Justiça de Nova York, alegando que a demissão violou um acordo firmado no momento da aquisição, que não teria sido cumprido.


19 março 2025

Preconceito racial nas avaliações

A coluna de Fernando Reinach (15 de março, O preconceito racial em avaliações, Estado de São Paulo) traz uma pesquisa interessante sobre preconceito racial e o processo avaliativo. Em uma empresa que faz a intermediação entre clientes e pessoas que prestam serviços domésticos, a avaliação dos prestadores era feita com a tradicional escala de notas de 1 a 5. No entanto, a análise da empresa revelou que os clientes levavam em consideração, de maneira sutil e inconsciente, a cor do prestador. Assim, mesmo que a qualidade do serviço fosse boa, as estrelas concedidas não faziam jus aos profissionais negros. Os dados mostraram que os prestadores brancos recebiam nota máxima em 90% a 95% das vezes, enquanto os negros atingiam cinco estrelas em 85% a 90% dos casos.




Ao mudar a escala para um sistema binário — com um polegar para cima (satisfeito) e um polegar para baixo (insatisfeito) —, a diferença na avaliação desapareceu. Esse dado é interessante, pois sugere uma forma de reduzir o impacto do preconceito.

Mas fico me perguntando: se essa solução fosse realmente eficaz e amplamente aceita, mecanismos de avaliação como os do Uber, do Booking e de outras empresas já não deveriam adotá-la? Qual seria a razão para não fazê-lo? Será que o tipo de produto ou serviço avaliado interfere na eficácia do sistema? Vale lembrar que a Netflix, no passado, usava um sistema de estrelas, depois mudou para um modelo binário e, atualmente, adota uma escala com três opções. Será que há algum fator que ainda nos escapa?

O uso de IA pelo Blog

A lição do Quartz, da postagem anterior, mostra os riscos do uso da IA. O Contabilidade Financeira tem utilizado ferramentas de inteligência artificial, especialmente em dois casos: a tradução de textos de outras línguas, uma rápida revisão ortográfica e gramatical (caso dessa postagem) e a eventual criação de figuras horríveis para ilustrar as postagens (idem). Nós usamos o ChatGPT e outras ferramentas de tradução, inclusive aquelas acopladas aos navegadores (Firefox e Vivaldi). Há uma revisão e uma tentativa de evitar textos inadequados, mas, eventualmente, alguns erros passam. Também pedimos para a IA fazer resumos de sites cujo acesso é negado ao usuário humano, mas apenas em casos excepcionais.

Em resumo, o Contabilidade Financeira ainda é um blog imperfeito, que comete muitos erros, mas é feito por seres humanos.

O uso da IA pelo Quartz

A G/O Media é uma empresa do setor de comunicação, conhecida pelo site de negócios Quartz. Durante anos, esse blog acompanhou o site de notícias por meio do agregador que utilizamos (inicialmente o Reader e, mais recentemente, o Feedly). O Quartz publicava notícias interessantes e mantinha um grande volume de postagens.

Com o tempo, no entanto, percebemos que as notícias do Quartz deixaram de despertar interesse e não eram mais relevantes para postagens no blog. Além disso, o número de notícias diárias era enorme e, após uma rápida análise do custo-benefício de continuar seguindo o site, decidimos deixá-lo de lado.


Agora, porém, me deparo com uma notícia interessante sobre o Quartz — e ela ressalta a necessidade de termos cuidado no uso da IA para produzir conteúdo.

Recentemente, o Quartz começou a publicar notícias e artigos gerados por IA sob a autoria do Quartz Intelligence Newsroom. Inicialmente, eram apenas atualizações sobre resultados financeiros de empresas, mas agora a IA passou a produzir notícias completas.

O problema é que a IA tem gerado informações imprecisas e, muitas vezes, citando conteúdos também gerados por IA. Além disso, não fica claro de onde a IA do Quartz obtém suas fontes. Segundo um texto do Futurism, o Quartz tem citado um site chamado Devdiscourse, que aparentemente é uma plataforma automatizada de notícias que gera resumos de artigos por meio de IA.

Considere um artigo publicado hoje pela IA do Quartz, intitulado "Fabricante do Ozempic, Novo Nordisk, limitará preços da insulina para encerrar um processo judicial". No topo do artigo, a "Intelligence Newsroom" cita três fontes, começando por um link para um artigo do Devdiscourse intitulado "Novo Nordisk limita preços da insulina em acordo histórico".

Assim como os artigos gerados por IA do Quartz, a publicação do Devdiscourse não tem um autor humano listado; em vez disso, é atribuída à "Devdiscourse News Desk", uma assinatura sob a qual o site publica uma quantidade impressionante de conteúdo. O artigo é curto e não indica qualquer reportagem original.

Ainda pior? Ele contém uma versão absurdamente malfeita do logotipo da farmacêutica Novo Nordisk, gerada por IA, com palavras incompreensíveis. O nome da empresa está claramente escrito errado como "NORDIISK", e abaixo dele aparece "STIAPLAME", uma palavra aparentemente inventada. (Quase todos os artigos do Devdiscourse parecem conter imagens geradas por IA igualmente distorcidas.)

Maior prejuízo acumulado da década

Eis algo curioso: qual é a empresa que tem o maior prejuízo acumulado na década? Segundo a Forbes, a resposta é a Boeing. No início do ano, a empresa anunciou um prejuízo líquido de 5,46 bilhões de dólares no quarto trimestre, indicando uma perda de 11,8 bilhões no ano. Assim, pelo sexto ano consecutivo, a empresa registra prejuízo.

E os "concorrentes" estão se saindo melhor: a Uber deve ter lucro, assim como a Carnival. Quando o parâmetro são os últimos 25 anos, a Boeing ocupa a sexta posição. Em primeiro lugar está a American International Group, que teve um prejuízo de US$ 162 bilhões em 2008 e 2009 — um valor bem superior ao acumulado da Boeing (US$ 39,4 bilhões). Em segundo lugar está a General Motors, que perdeu US$ 130 bilhões (R$ 767 bilhões) entre 2005 e 2008.

O resultado da Boeing é impressionante por três fortes motivos. Primeiro, a empresa atua em setores oligopólicos, onde é mais fácil estabelecer o preço de seus produtos. Segundo, a contabilidade de fabricantes de aviões é tão complexa que permite certa flexibilidade na gestão dos resultados. E, por fim, a empresa também é fornecedora de armas para o governo dos Estados Unidos, com contratos de fabricação vantajosos, muitas vezes baseados no custo.



As explicações para esse desempenho incluem má gestão — desde a fusão com a McDonnell Douglas, em 1997 — até os projetos fracassados de novos aviões, especialmente o 737 Max e o 787.

18 março 2025

O sentido das previsões

Esse é um tema que deveria atrair todos os contadores. Mas espera, a contabilidade não lida somente com o passado? Os mais experientes podem sorrir aqui, pois o espaço temporal da contabilidade é o passado, o presente e o futuro. Veja o caso da estimativa dos clientes que não irão pagar a empresa. Ao fechar o balanço, o contador levanta o valor da conta clientes e, baseado no passado e nos seus cabelos brancos, estima qual o percentual de clientes que não irá efetuar o pagamento. 

Mas eis o que diz Tim Harford:

Aqui está o problema com previsões: algumas estão certas, outras estão erradas, e quando finalmente descobrimos quais são quais, já é tarde demais. Isso leva ao que podemos chamar de paradoxo das previsões: o teste de uma previsão útil não é se ela se revela precisa, mas se leva a alguma ação útil antecipadamente. A precisão pode ajudar, mas também pode não ajudar. Ser avisado com antecedência não significa necessariamente estar preparado.

 

Ele cita como exemplo o furacão Ivan. Existia uma previsão de um furacão atingir uma cidade costeira dos Estados Unidos. E apareceu o furacão Ivan, que poderia provocar um grande desastre. Mas no último momento ele desviou sua rota e não aconteceu nada. A previsão deveria alertar as autoridades para um plano caso surgisse um outro furacão. As previsões mostravam que isso era um risco real. Mas não fizeram nada, até que outro furacão, o Katrina, apareceu e causou grandes danos. Esse é um exemplo de previsão que não foi útil, que não ajudou. 

Harford cita o caso do Brigham and Wome's Hospital, que não previu duas bombas em uma maratona. Mas quando isso aconteceu, o hospital tinha feito 78 grandes exercícios de emergência e estava bem preparado.

Gênero importa?

Eu gostei do início do texto: 

É desejável uma maior participação das mulheres nos órgãos de decisão das empresas? Diversos estudos destacam as diferenças de gênero na tomada de decisão, especialmente diante de riscos e padrões éticos. Note-se que, em média, as mulheres são mais versadas em risco (Jianakoplos e Bernasek, 1998; Eckel e Grossman, 20022002), mais sensíveis às considerações éticas (Gerasymenko, 2018) e mais propensas a relatar irregularidades (Brabeck, 1984 , Miethe e Rothschild, 19941994). Além disso, sua presença em cargos seniores parece melhorar o desempenho dos negócios (Adler, 2001; Carter et al., 2003 , Terjesen et al., 2016) e reduzir a má conduta financeira (Wahid, 2019; Arnaboldi et al., 2021).


e a conclusão é que

(...) os regulamentos de cotas de gênero nos conselhos de administração e políticas anti-poster interagem, influenciando a composição de gênero dos conselhos em empresas sancionadas por pertencer a cartéis. Evidências empíricas destacam que sanções e processos por cartéis são ferramentas eficazes para a reestruturação corporativa, enquanto as políticas vinculativas de gênero contribuem para uma maior paridade nos conselhos de administração. Assim, ambas as políticas complementam e promovem uma maior presença feminina nos órgãos de governo. Várias linhas abrem a partir de agora. Vamos tentar responder nos próximos trabalhos de pesquisa.

foto: aqui

Declínio do DEI nos relatórios contábeis


O gráfico mostra que o tema DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) já não faz parte de muitos relatórios contábeis nos Estados Unidos. O governo Trump atacou fortemente a tendência, e as empresas recuaram diante da ameaça de investigação por parte da Justiça. O número de empresas que utilizaram essa linguagem caiu quase 60% em relação ao ano anterior.


Nacionalização do Cobre no Chile na década de 1970 e os lucros excessivos

Eis o resumo:

 Nesta redação, analiso a nacionalização das grandes minas de cobre durante o governo socialista de Salvador Allende no Chile, na década de 1970. Este é um dos primeiros casos de "nacionalização sem compensação". O argumento jurídico do Chile baseou-se na ideia inovadora de que o pagamento "adequado" deveria ser calculado como o valor contábil menos os "lucros excessivos". Por sua vez, os lucros excessivos foram definidos, para cada ano, como os lucros acima de 12% do valor contábil. Analiso os argumentos econômicos que levaram à nacionalização e desconstruo e avalio criticamente a metodologia utilizada para calcular os "lucros excessivos" e a "compensação adequada". Também examino a resposta dos Estados Unidos e das multinacionais às políticas de nacionalização do Chile.

É um artigo de avaliação e histórico. Eis uma tabela:


 

17 março 2025

Rir é o melhor remédio

 

Hagar, o horrível. O melhor viking de todos.

A última decisão de Daniel Kahneman


Daniel Kahneman ficou muito conhecido pelas suas pesquisas sobre decisão. Ganhou um Nobel de Economia, fez sucesso com seu livro sobre o assunto e antes de morrer tomou a decisão final de viajar para Suíça. 

Antes disso, encaminhou uma mensagem aos amigos, comunicando a decisão de acabar com sua própria vida. Na Suíça é permitido ter a ajuda médica para concretizar essa decisão.  Sua mensagem:

“Esta é uma carta de despedida que estou enviando amigos para dizer a eles que estou a caminho da Suíça, onde minha vida terminará em 27 de março.”

Qualidade da IA


Na postagem anterior, falamos sobre quantidade e IA. Agora, comentaremos sobre qualidade. Uma pesquisa publicada na Columbia Journalism Review analisou oito modelos de IA, incluindo o GPT e o Gemini (via aqui). O resultado mostrou que as respostas fornecidas pelos modelos estavam erradas em mais de 60% dos casos.

O pior modelo foi o Grok3, cuja taxa de erro chegou a 94%. O fato de as respostas da IA apresentarem uma taxa de erro tão significativa está relacionado à maneira como esses modelos operam: utilizando informações de sites de notícias, blogs, Wikipedia, livros e outros conteúdos, reembalando-os.

O estudo selecionou dez artigos aleatórios de um grupo de vinte publicações, como The Wall Street Journal e TechCrunch. As ferramentas foram solicitadas a identificar o título do artigo, seu editor, a data de publicação e a URL. Além de cometerem erros, os modelos demonstraram confiança excessiva e não recusavam responder mesmo quando não sabiam a resposta. Ou seja, não diziam "eu não sei". Outro erro comum foi a citação imprecisa de fontes.

O mais preocupante é que, muitas vezes, acreditamos na qualidade do resultado fornecido.

Quantidade de dados no mundo

A estimativa da quantidade de dados coletados, armazenados e processados cresce a cada ano. O gráfico apresenta essa estimativa ao longo do tempo. Se, em 2010, essa quantidade era de 2 zettabytes, no ano passado chegou a 149. O crescimento recente tem a marca da IA.

Isso também é observado na contabilidade, não apenas nos relatórios, cujo número de páginas aumenta a cada ano, mas também nas informações divulgadas em fatos relevantes e outros comunicados ao mercado, assim como nas mídias sociais das empresas. No entanto, há muita redundância e dados não processados.

Rir é o melhor remédio

De Um Sábado Qualquer: Pensador e Executor
 

16 março 2025

Crimes e Imigrantes

Essa é uma surpresa que os políticos demagogos não gostam:

Em um artigo na American Economic Review: Insights, os autores Ran Abramitzky, Leah Boustan, Elisa Jácome, Santiago Pérez e Juan David Torres reuniram a primeira imagem abrangente das taxas de encarceramento de imigrantes que abrangem 150 anos de história dos EUA. Suas descobertas repudiam as suposições amplamente difundidas sobre imigração e segurança pública e revelam novos padrões nos dados de crimes de imigração.


Ativos Digitais e sua influência sobre a contabilidade

Accountancy Age (tradução resumido do GPT):

Os ativos digitais, como criptomoedas (Bitcoin, Ethereum), ativos tokenizados e finanças descentralizadas (DeFi), estão transformando as bases financeiras das empresas globais. Essa evolução pressiona estruturas contábeis, sistemas regulatórios e práticas de auditoria tradicionais, exigindo uma reavaliação de métodos estabelecidos há décadas.

Desafios aos Padrões Contábeis

As criptomoedas introduzem desafios aos frameworks contábeis existentes. Pelo IFRS, são classificadas como ativos intangíveis, exigindo testes de imparidade periódicos; já pelo US GAAP, podem ser categorizadas como inventário, dependendo do modelo de negócios da entidade. Essa inconsistência global complica os relatórios financeiros de multinacionais, destacando a necessidade urgente de padronização. Além disso, a volatilidade das criptomoedas, como o Bitcoin, que variou de US$68.789 em 2021 a US$16.537 em 2022, exige reavaliações constantes do valor justo, desafiando métodos tradicionais e introduzindo riscos significativos aos demonstrativos financeiros.

Impacto na Auditoria e Relatórios

A tecnologia blockchain, base dos ativos digitais, oferece um registro imutável e transparente de transações, permitindo auditorias em tempo real e reduzindo riscos de fraude. Estima-se que o blockchain possa reduzir custos de auditoria em até 50% ao automatizar processos de verificação e diminuir a dependência de verificações manuais. Setores com cadeias de suprimentos complexas, como farmacêutico e alimentício, já utilizam blockchain para maior transparência, o que, na contabilidade, se traduz em uma abordagem simplificada para verificar propriedade e reconciliar transações.


Complexidade Regulamentar

A rápida adoção de ativos digitais criou um cenário regulatório fragmentado. Enquanto alguns países adotam abordagens progressistas, outros impõem restrições rigorosas, resultando em um mosaico de regulamentações que desafia empresas e profissionais contábeis a navegar por requisitos variados e, às vezes, conflitantes.

15 março 2025

Incerteza econômica - 1

O índice Economic Policy Unceertainty dos Estados Unidos atingiu um ponto bastante alto nos últimos meses: 

Certo que não foi superior ao da pandemia, mas é alto suficiente para ser notícia. Afinal, imposição de tarifas, anúncios espetaculares e gritarias diversas trazem reflexo sobre o índice. O índice foi criado por pesquisadores de três universidades dos Estados Unidos.

Incerteza econômica - 2

 O mesmo índice de incerteza econômica tem o seguinte gráfico para o Brasil:

O ponto máximo foi 2017. Mas em novembro de 2024 o índice atingiu o nível de 360, um pouco abaixo de março de 2020, quando foi de 369. Em fevereiro o índice reduziu para 293, mas ainda assim muito acima da mediana (124). Maio de 1995 e março de 1992, com um índice de 13, ainda são os meses mais "calmos" da história recente do Brasil.
 

Custo de Saída

O problema das redes sociais é que as pessoas que amamos e com quem queremos interagir estão presas em jardins murados. O mecanismo de sua prisão são os "custos de mudança" para sair. Nossos amigos e comunidades estão em redes sociais ruins porque amam uns aos outros mais do que odeiam Musk ou Zuck. Deixar uma plataforma social pode custar o contato com familiares no país de onde você emigrou, um grupo de apoio formado por pessoas que compartilham sua doença rara, os clientes ou a audiência dos quais você depende para seu sustento, ou simplesmente os outros pais que organizam o jogo da liga infantil do seu filho.  

Hipoteticamente, você poderia organizar todas essas pessoas para saírem de uma vez, irem para outro lugar e reestabelecer todas as suas conexões sociais. Na prática, o "problema da ação coletiva" torna isso quase impossível. É nisso que os donos das plataformas apostam – é por isso que sabem que podem tornar seus serviços piores sem perder usuários. Enquanto a dor de usar o serviço for menor do que a dor de deixá-lo, as empresas podem apertar o cerco e tornar a vida dos usuários pior para extrair mais lucro deles. É por isso que Musk eliminou o botão de bloqueio e por que Zuck demitiu todos os seus moderadores. Por que arcar com o custo de fazer algo bom para os usuários se eles continuarão na plataforma mesmo que você reduza drasticamente a equipe e/ou o processamento caro?


Fonte: aqui 

Imagine que você seja um profissional que tem uma conta no Instagram. Uma mudança nas políticas da plataforma pode fazer com que você perca um grande número de clientes. O que você pode fazer? Nada. 

O custo de saída também é conhecido como switching cost (custo de mudança), decorrente do efeito rede.

Dez novos fatos sobre desigualdade de gênero


Este artigo apresenta dez novos fatos sobre desigualdade de gênero e desigualdade nos maiores rendimentos ao longo da vida no Brasil, com base em dados administrativos abrangentes que cobrem quase todo o mercado de trabalho formal de 1985 a 2018. Documentamos disparidades significativas nos rendimentos ao longo da vida entre os gêneros, especialmente entre os que possuem os maiores ganhos, onde as mulheres estão sub-representadas e enfrentam lacunas salariais maiores em comparação aos homens. Identificamos os principais fatores dessa desigualdade, incluindo participação na força de trabalho, segregação ocupacional, emprego em grandes empresas e padrões de mudança de emprego. O emprego no setor público atenua parcialmente essas disparidades.

Link aqui

O Dinheiro dos Imigrantes

As remessas de dinheiro enviado por migrantes a seus países de origem, totalizaram US$ 781 bilhões em 2021, mais que o triplo da ajuda externa global de US$ 202 bilhões. Essas transferências beneficiam cerca de 800 milhões de pessoas globalmente, financiando despesas como educação, saúde e moradia. A maior parte das remessas flui de países de alta renda para países de renda média e baixa, contribuindo significativamente para a redução da pobreza e desigualdade. 

O Brasil não é substancialmente afetado por essas remessas (cor clara no gráfico), mas há países, como Honduras, onde o valor corresponde a 26% do PIB. Comparando, para o Brasil esse percentual é de 0,2%. Mas há cidades no Brasil onde os recursos são expressivos para a localidade. 

Onde estão os influenciadores?

Os dados são dos Estados Unidos e de 2024. Variações entre países e ao longo do tempo são esperadas, mas pode ser uma pista para tentarmos entender o mundo do influenciadores.  Esses são pessoas com grande número de seguidores, que postam regularmente e usualmente não filiados a grandes grupos. 

O gráfico abaixo, da Statista (via aqui), mostra o resultado de um relatório do Pew Research Center. Os influenciadores de notícias estão, na sua grande maioria, no X.  


 

Palestras TED e excesso de informação


O estudo traz algumas conclusões importantes: 

O que torna produtos culturais, como edutainment (por exemplo, palestras online), bem-sucedidos ou não? Em outras palavras, quais características fazem com que certas apresentações sejam mais (ou menos) atraentes? Por meio de 12 estudos de campo e laboratório, exploramos quando, por que e para quem a carga de informação transmitida em palestras do TED influencia sua popularidade – positiva ou negativamente. Em primeiro lugar, identificamos um efeito negativo: quanto maior o número de tópicos abordados em uma palestra (ou seja, maior a carga de informação), menor a adoção por parte dos espectadores. O motivo? Dificuldade de processamento. À medida que a carga de informação aumenta, o conteúdo se torna mais difícil de processar, reduzindo o interesse do público.

Aprofundando essa análise, mostramos que esse efeito desaparece entre indivíduos com alta necessidade de cognição, um traço de personalidade associado à tendência de processar informações de forma ampla e profunda. Da mesma forma, o efeito se atenua entre espectadores de edutainment motivados por objetivos educacionais (isto é, enriquecimento cognitivo), mas se intensifica entre aqueles que buscam apenas entretenimento (isto é, prazer hedônico). Nossa investigação também revela o caráter contraintuitivo desses achados, mostrando como as pessoas frequentemente erram ao prever quais palestras irão (ou não) gostar.

Com base nesses resultados, extraímos insights teóricos sobre pesquisa em fluência de processamento e a psicologia da adoção de produtos culturais – ou seja, analisamos quando, por que e para quem a fluência tem efeitos favoráveis ou desfavoráveis. Além disso, derivamos recomendações práticas para: (a) empresas do setor de edutainment, cujo modelo de negócio depende da curadoria de conteúdos atraentes (por exemplo, TED, Talks@Google, The Moth, Big Think, Spotify), e (b) comunicadores de diversas áreas que desejam ampliar seu alcance e impacto (como professores, cientistas, políticos, jornalistas, blogueiros, podcasters, editores de conteúdo e gestores de comunidades online).

Foto: aqui