Os dados são da Transparência Internacional: o Brasil caiu duas posições no índice mundial. Agora estamos em 107o. em 180 países. E parece que essa é uma tendência dos últimos anos, pois ocupávamos a 94o em 2022.
16 fevereiro 2025
Tempo de resposta pode ajudar na qualidade de uma pesquisa
Do Interscience
Uma equipe da Índia, Holanda, Polônia e Suíça analisou formas de melhorar a análise de dados e reduzir o viés inerente à análise de redes sociais. Escrevendo no International Journal of Applied Management Science, os pesquisadores reconhecem que, em pesquisas quantitativas e na análise de redes sociais, a precisão dos dados pode ser distorcida por vieses na forma como os participantes respondem às perguntas. Um tipo específico de viés, conhecido como viés declarativo, representa uma ameaça significativa à confiabilidade dos resultados de pesquisas, especialmente quando se trata de questões sociais complexas.
O viés declarativo ocorre quando os participantes de uma pesquisa, consciente ou inconscientemente, fornecem respostas influenciadas por expectativas sociais, cansaço ou pressões externas, em vez de refletirem suas verdadeiras atitudes ou crenças. Esse viés é particularmente problemático quando a pesquisa busca embasar políticas públicas, pois pode levar a conclusões equivocadas sobre as atitudes e comportamentos da sociedade, resultando em políticas inadequadas.
O teste de tempo de resposta pode oferecer uma solução. Parte-se do pressuposto de que uma resposta mais imediata tende a refletir uma opinião mais forte e internalizada, enquanto uma resposta mais lenta pode indicar incerteza ou ser influenciada por fatores externos, como a desejabilidade social ou a tentativa de interpretar a pergunta para identificar a resposta "correta". Ao distinguir entre esses tipos de respostas, os pesquisadores sugerem que é possível separar respostas firmes de respostas frágeis.
Eles testaram essa abordagem em uma pesquisa internacional realizada na Espanha e na Suécia para explorar atitudes em relação à pandemia de COVID-19. Os resultados foram surpreendentes. Ao focar em respostas rápidas e de alta confiança, a equipe identificou uma diversidade muito maior de opiniões. Em contraste, uma análise convencional, onde o viés declarativo estava presente, revelou opiniões muito mais homogêneas.
Esses achados têm implicações para políticas públicas e intervenções na área da saúde baseadas em pesquisas de opinião pública ou consultas a partes interessadas sobre um determinado tema. Por exemplo, políticas de saúde pública formuladas com base na suposição de uma opinião pública uniforme sobre questões como a pandemia podem não levar em conta as nuances das diferentes perspectivas dos diversos grupos. Ao reduzir o viés declarativo na análise de pesquisas, torna-se possível desenvolver políticas que considerem uma gama mais ampla de opiniões e necessidades.
Referência:
Fernandez, G.P., Norré, B.F., Reykowska, D., Dutta, K., Nguyen-Phuong-Mai, M., Fernandez, J. e Ohme, R. (2024) ‘Social network of confident attitudes with response time testing’, Int. J. Applied Management Science, Vol. 16, No. 5, pp.1–31.
Twitter agora
Da newsletter de Nate Silver
As perspectivas de negócios do Twitter também se deterioraram. Suas receitas com publicidade caíram drasticamente. E embora não haja uma maneira perfeitamente objetiva de avaliar seu valor de mercado, já que a empresa é privada, a Fidelity avaliou o X em 9,4 bilhões de dólares no final do ano passado, menos de um quarto do preço pago por Musk.
E, no entanto, as previsões de um colapso imediato do Twitter estavam embaraçosamente erradas. O motivo oficial pelo qual comecei esta newsletter, ironicamente, foi por conta das alegações generalizadas de que as demissões em massa da equipe de engenharia feitas por Musk poderiam levar a uma perda rápida de funcionalidade. Mas, embora tenha havido algumas falhas, a plataforma basicamente funciona como sempre funcionou. (...)
Além disso, as alternativas à plataforma não decolaram de fato. O concorrente do X criado pela Meta, o Threads, colapsou quase da noite para o dia. E o Bluesky, um spin-off originalmente criado pelo ex-CEO do Twitter, Jack Dorsey? Ele encontrou um público à esquerda — mas, por enquanto, é relativamente pequeno. O compromisso revigorante do Bluesky com a transparência proporciona dados públicos de melhor qualidade — mas esses dados sugerem que os perfis ocasionalmente elogiosos da mídia estão superestimando sua influência. O número de seguidores, curtidas e postagens no Bluesky disparou após a vitória de Trump na eleição, mas desde então se estabilizou.
O nascimento das partidas dobradas na contabilidade pública portuguesa
Eis o resumo (doi: 10.37885/241218527)
Apresenta-se o primeiro tesoureiro-geral do Erário Régio (1761), José Francisco da Cruz (1717-1768). Homem de negócios da praça de Lisboa, membro da notável família dos Cruzes, accionista das três companhias de comércio pombalinas de maior dimensão e Provedor (Presidente) da Junta do Comércio aquando da sua nomeação para o Erário Régio, entre o mais, este tecnocrata da contabilidade forneceu um contributo determinante para a transferência e difusão das partidas dobradas no século XVIII em Portugal. O artigo pretende ser um subsídio para que se percebam quais os agentes sociais e políticos envolvidos na emergência e desenvolvimento da contabilidade por partidas dobradas em Portugal. A principal contribuição do estudo respeita à sistematização dos traços biográficos e linhas de percurso profissional de José Francisco da Cruz, como tentativa de trazer, para as agendas de investigação em História da Contabilidade portuguesa, o estudo
de individualidades instrumentais para o processo inicial de reconhecimento e dignificação social da contabilidade. Este apontamento justifica-se pela importância atribuída a José Francisco da Cruz no desenvolvimento da aplicação das partidas dobradas no contexto português: por uma parte, pelo seu desempenho em cargos de administração no Erário Régio e nas duas companhias comerciais monopolistas respeitantes ao Brasil (Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão e Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba), organizações nas quais obrigatoriamente se utilizava a tenência de livros de contabilidade escriturados por partidas dobradas; e, por outra, pelo seu contributo político para a fundação da Aula do Comércio (1759), como Provedor em exercício da entidade que lhe
serviu de patrona, a Junta do Comércio.
O texto é de Miguel Gonçalves, que tem atuado na pesquisa histórica da contabilidade portuguesa. Ele apoia a ideia de que o Erário Régio foi a primeira organização pública que usou as partidas dobradas em Portugal. No quadro acima, Marquês de Pombal, que também tem um papel relevante no processo.
10 fevereiro 2025
Vale quanto pesa?
Em alguns países, o dinheiro físico ainda é uma realidade, sendo amplamente utilizado. Em outros, há um processo de transição, com uma clara tendência para o uso de transações por meios digitais. Poucos países enfrentam a situação em que o governo, diante do uso massivo da moeda digital, está tentando incentivar o uso do dinheiro físico.
Uma das questões a considerar é o custo. No caso do dinheiro físico, é necessário comparar o custo de produção com o valor de face da moeda. O gráfico acima mostra um exemplo em que um centavo custa mais três centavos para ser produzido e distribuído nos Estados Unidos. É verdade que essa diferença desfavorável é compensada pelas outras moedas (abaixo). No passado, havia uma relação clara entre o valor de face da moeda e o custo do metal utilizado na produção. Mas isso é coisa do passado.
O que muitas vezes não questionamos é o custo dos meios de pagamento digitais. Veja o caso do PIX. Quem está pagando por cada transação que fazemos? Parte do custo deve ser assumida pelo governo. Nesse caso, o governo pode ter interesse em pagar a conta, pois ganha em termos de informações sobre os contribuintes (ou potenciais contribuintes) e por permitir o acesso de pessoas ao sistema financeiro. Porém, parte do custo é bancada pelas instituições financeiras. Esse custo pode ser compensado pelo aumento no número de contas, o que eleva os ganhos na intermediação financeira. Mas será que a conta fecha?
09 fevereiro 2025
Plataforma Acácia
Uma tentativa de mapear a genealogia da pesquisa brasileira. Usa a base de dados do Lattes. Os dados estão um pouco defasados, mas bem legal saber que tenho 160 descendentes na pesquisa, diretos e indiretos. (Dica: Sandro, grato)
08 fevereiro 2025
Homofilia cultural no futebol
Isso é muito interessante:
Pode-se razoavelmente pensar que a homofilia cultural, definida como a tendência de se associar a outros de cultura semelhante, afeta a colaboração em equipes multinacionais de forma geral, mas não em equipes de elite compostas por profissionais no topo de sua indústria. No entanto, a análise de um conjunto de dados abrangente sobre os passes realizados por jogadores profissionais de futebol europeu nas cinco principais ligas masculinas revela que, ao contrário dessa suposição, a homofilia cultural é persistente, disseminada e impactante, mesmo em equipes multinacionais de alto nível, compostas por indivíduos altamente qualificados, com objetivos comuns claros e incentivos alinhados, envolvidos em tarefas interativas bem definidas e que não são particularmente intensivas em aspectos culturais.
Também conhecido como "panelinha".
07 fevereiro 2025
Rir é o melhor remédio
O romance e os relacionamentos são centrais para a experiência humana — mas podem dificultar a obtenção de financiamento mais do que o normal, dizem cientistas da área. “As agências federais muitas vezes ficam preocupadas com a palavra ‘sexo’”, afirma o biólogo evolucionista Justin Garcia. Também pode haver desvantagens irônicas em trabalhar em um campo que quase todo mundo acha interessante. Um convite para um café de uma colega renomada fez Garcia pensar em uma colaboração promissora, mas “em menos de dois minutos, ela pegou o celular, virou para mim e disse: ‘Você pode me ajudar com meu perfil de namoro?’”
Fonte: Nature
Gênero nas pesquisas
Eis o resumo:
Considerar sexo e gênero na pesquisa em ciências sociais é um desafio. Enquanto outros artigos metodológicos abordam questões relacionadas à medição adequada, nós analisamos o problema do ajuste para a não resposta em pesquisas e a generalização de amostras para populações no contexto do movimento recente para medir sexo ou gênero como um construto não binário. Esse desafio surge não apenas porque as categorias de resposta diferem entre as medições de sexo e gênero, mas também porque ambos esses atributos são potencialmente multidimensionais. Refletimos sobre as semelhanças com a medição de raça/etnia antes de considerar as implicações éticas e estatísticas das opções disponíveis. Apresentamos um estudo de simulação para compreender as implicações estatísticas em diversos cenários e demonstramos a aplicação do processo de decisão com o New York City Poverty Tracker. No geral, concluímos não com uma única recomendação ideal para todas as pesquisas, mas sim com uma conscientização sobre a complexidade do problema e as vantagens e limitações de diferentes abordagens.
Aqui uma listagem de trabalhos posteriores que tratam da questão.
Ainda Itau e agora uma tal de régua ética
Milton Maluhy Filho, do Itaú, falou sobre ética na apresentação dos resultados do banco no quatro trimestre de 2024
Ao ser questionado por jornalistas se os casos evidenciam falhas no compliance do Itaú (ITUB4), o CEO da instituição financeira disse que os gestos sinalizam justamente o contrário.
“Eu acho que isso fala bem da governança”, disse Milton Maluhy Filho, durante a apresentação dos resultados do Itaú no quarto trimestre de 2024 e ano cheio.
No caso de Alexsandro Broedel, o ex-CFO que sendo processado pelo banco por conflito de interesse. Ele é sócio de Eliseu Martins, uma das maiores referências em contabilidade do país, e que prestava serviços ao banco com emissão de dezenas de pareceres técnicos e de consultoria.
“Quando ele [Broedel] veio para o banco, já tinha uma relação de muitas décadas [com Eliseu], o que não foi declarado nem por um, nem por outro”, explicou o CEO. “Uma vez descoberto o ‘evento’, o banco tomou todas as medidas necessárias e cabíveis”.
Pelo que o executivo está falando, o caso foi descoberto agora. Uma instituição do porte do Itau não sabia que Broedel fez doutorado na faculdade e no curso onde Martins era docente. Também não sabia que eles chegaram a publicar um livro em conjunto. Realmente, não consigo deixar de imaginar que Broedel desagradou alguém muito poderoso no Itaú e agora busca vingança a qualquer custo. A tal ponto que a instituição é capaz de reconhecer falhas grosseiras na sua gestão.
Quando a IA Exagera nos Números
Eis um exemplo de como o uso de IA pode derrubar até a empresa mais preparada. No final de janeiro, o Google resolveu fazer um anúncio vendendo o Gemini como uma solução de IA, juntamente com o Docs, o Sheets e outros. No anúncio, o dono de um comércio de queijos em Wisconsin explicava o impacto da tecnologia em seu negócio, o que incluía o comércio eletrônico e o uso do Gemini para ajudá-lo a descrever seus produtos na web.
O vídeo lançado mostrava o Gemini respondendo a uma solicitação para descrever o Smoked Gouda. A IA do Google produzia um parágrafo sobre a textura do produto e informava que ele representava "50 a 60% do consumo mundial de queijos".
Alguns usuários atentos questionaram a informação. Mais da metade do consumo mundial de queijo ser de Gouda parece estranho, especialmente considerando que temos a muçarela, o queijo minas, o queijo prato, o cheddar e outros. Uma publicação chegou a consultar um professor universitário para verificar a veracidade da afirmação.
Fonte: Futurism
Frase
Você pode pensar que “Florida’s Natural” usa apenas laranjas de seu estado homônimo, mas você estaria enganado: ele usa suco importado do México e do Brasil também. O mesmo com Tropicana e Simply Orange.
(Da Bloomberg newsletter de 6 de fev)
06 fevereiro 2025
Política do Chefe
Do mesmo Cory Doctorow:
A “política do chefe” é uma característica de sociedades corruptas. Quando uma sociedade é dominada pelo favorecimento próprio e por instituições corruptas, líderes autoritários podem tomar o controle ao explorar a fúria e o desespero do público. Então, o chefe pode punir seletivamente entidades corruptas que se opõem a ele e, como todos são corruptos, essas perseguições serão juridicamente válidas.
Em outras palavras, é possível fazer cumprir a lei de maneira corrupta contra os culpados. Trata-se apenas de uma questão de prioridade na aplicação da lei: em um Estado legítimo, os agentes da lei priorizam os infratores que mais prejudicam o público. Sob a política do chefe, a prioridade é dada às entidades corruptas que desafiam o poder do chefe, sem levar em conta se esses infratores são os piores. Enquanto isso, criminosos ainda mais nocivos continuam impunes, desde que se alinhem ao chefe.
Foi assim que Xi Jinping conduziu suas expurgos antes de sua nomeação vitalícia como Secretário-Geral do Partido (2012-2015). Xi processou os culpados, mas não os mais culpados. Os funcionários públicos que foram removidos e/ou presos durante seus expurgos eram todos corruptos, mas também faziam parte da base de poder de seus rivais. Enquanto isso, os oficiais corruptos dentro do círculo de Xi permaneceram intocados.
O rigor provavelmente será para o Google ou, talvez, Microsoft. Mas não Meta ou Amazon. Acho que é algo assim.
Precificação por vigilância
Do excelente Cory Doctorow:
(...)A Uber foi pioneira nisso ao aumentar o preço das corridas para usuários cujos celulares estavam prestes a descarregar. Mas outras empresas levaram essa prática muito mais longe:
A McDonald's é co-proprietária de uma empresa chamada Plexure, que vende tecnologia para que empresas cobrem mais caro pelo seu pedido no drive-thru se detectarem que você acabou de receber o pagamento.
Mas a precificação por vigilância é ainda pior para trabalhadores do que para consumidores. Nos EUA, enfermeiros estão cada vez mais trabalhando para aplicativos sob demanda, semelhantes à Uber, como Shiftkey, Carerev e Shiftmed. Esses aplicativos podem comprar os dados financeiros dos enfermeiros da indústria não regulamentada de corretores de dados e, com base nessas informações, oferecer salários mais baixos para enfermeiros com faturas de cartão de crédito vencidas, assumindo que, por estarem desesperados, aceitarão um corte salarial.
Perigo da IA para Finanças
Tenho dúvidas sobre o perigo, mas...
O perigo final surge quando um grande grupo de gestores de ativos, controlando trilhões de dólares, adota os mesmos ou algoritmos de IA semelhantes para a gestão de risco. Um robô individual, trabalhando para um gestor específico, pode recomendar a venda de ações em um mercado em queda. Em alguns casos, o robô pode estar autorizado a iniciar a venda sem intervenção humana adicional. (Fonte: via aqui)
Já cheguei a pensar sobre isso no passado, mas não em termos de IA e sim de modelos quantitativos. Da mesma forma que pequenas mudanças na pergunta para uma IA altera o resultado, imagino que pequenas alterações na forma de uso da IA possa gerar resultados finais distintos. Algo próximo ao efeito borboleta da Teoria do Caos.
Quem está pior de saúde mental? Os jovens ou os velhos? Surpresa
O resumo tem uma conclusão surpreendente:
Encontro evidências em 167 dos 193 países membros da ONU de que os jovens apresentam níveis mais baixos de bem-estar do que os grupos etários mais velhos, com base em dados autorrelatados coletados na internet a partir das pesquisas globais Global Minds realizadas entre 2020 e 2024, utilizando sua medida MHQ. Descobrimos que as evidências sobre a saúde mental dos jovens diferem quando se utilizam respostas autorrelatadas e coletadas via internet, em comparação com aquelas obtidas por meio de entrevistadores, seja presencialmente ou por telefone. Nossa análise dos Estados Unidos, baseada em 14 pesquisas realizadas por meio dos três métodos, mostrou consistentemente que os jovens tinham o menor nível de bem-estar entre todas as faixas etárias. A evidência de um bem-estar relativamente baixo entre os jovens nos quatro principais levantamentos europeus foi mais forte nas pesquisas baseadas na internet e quando variáveis de afeto negativo foram consideradas, em vez de satisfação com a vida e felicidade. No levantamento EU Loneliness Survey de 2022, realizado via internet, os jovens foram significativamente mais solitários e infelizes do que todas as outras faixas etárias em 26 dos 27 países membros da União Europeia. Também analisamos a pesquisa Global Flourishing de 2022-2024 em 22 países, que utilizou tanto entrevistas telefônicas quanto levantamentos via internet. Os resultados mostraram um aumento do bem-estar com a idade nas pesquisas online, enquanto as pesquisas telefônicas indicaram um declínio do bem-estar com o avanço da idade. O método de coleta e o tipo de pergunta utilizada fazem diferença. Os jovens estão enfrentando uma crise global de saúde mental, especialmente evidente nos dados autorrelatados. Isso é um fenômeno novo.
A amostra brasileira é bem expressiva.
Sobre a origem do Covid
Eis o resumo (grifo nosso):
Este artigo utiliza métodos Bayesianos em conjunto com dados espaço-temporais e zoonóticos para avaliar a razão de chances de duas hipóteses sobre a origem da pandemia de COVID-19: um vazamento acidental de laboratório de um vírus quimérico ou a transmissão de um vírus natural a partir de um mamífero selvagem infectado. O fator de Bayes geral é decomposto em quatro componentes: (1) a probabilidade de o surto ocorrer na República Popular da China (RPC); (2) a probabilidade de o surto ocorrer em Wuhan, considerando que ele ocorreu na RPC; (3) a probabilidade de observar o padrão espaço-temporal dos casos confirmados de COVID-19 sem vínculo conhecido com o mercado atacadista específico onde mamíferos selvagens estavam sendo vendidos, considerando que o surto ocorreu em Wuhan; e (4) a probabilidade de observar o padrão espaço-temporal dos casos confirmados entre os vendedores desse mercado, considerando que o surto ocorreu em Wuhan. Esses quatro fatores condicionais de Bayes são estimados em 2,3:1, 20:1, 27:1 e 12:1, respectivamente, resultando em uma razão de chances geral de 14.900:1, o que indica uma evidência esmagadora a favor da hipótese de que a pandemia resultou de um vazamento acidental de laboratório. Esta conclusão se mantém robusta mesmo diante de especificações alternativas da análise estatística detalhada.
São 562 citações e uma análise bem detalhada em um paper de 100 páginas. O autor é do departamento de Economia do Dartmouth College.
05 fevereiro 2025
Mudando de histórico para mercado faz a Tesla registrar quase 900 milhões em Bitcoin
No balanço da Tesla (TSLA) divulgado na última quarta-feira, 29, um número chamou a atenção do mercado: um valor contábil de US$ 1,08 bilhão em ativos digitais, contra US$ 184 milhões nos quatro trimestres anteriores.
Esse aumento expressivo se deve a uma mudança na política do Conselho de Normas de Contabilidade Financeira (FASB, na sigla em inglês), que determinou que, a partir do começo de 2025, as empresas contabilizem os seus ativos digitais segundo o valor de mercado a cada trimestre.
Antes, as empresas que possuíam bitcoin e outras criptomoedas tinham que divulgar suas participações pelo menor valor registrado durante o período de posse, independentemente de qualquer valorização posterior.
No final do terceiro trimestre de 2024, os bitcoins em posse da Tesla estavam registrados com um valor contábil de US$ 184 milhões, embora seu valor de mercado real fosse de cerca de US$ 730 milhões. Isso significa que o aumento real no valor dos ativos digitais da Tesla no período foi de aproximadamente US$ 347 milhões.
Em outras palavras, o Fasb permitiu a troca do preço histórico pelo preço de mercado. Se no próximo trimestre o preço cair, o valor no balanço deve acompanhar o comportamento do mercado.
Imagem aqui
Imposto de 15% sob ameaça
O sistema tributário internacional sofre há muito tempo com dois problemas relacionados: as empresas fazem grandes esforços para serem taxadas nos seus lucros em jurisdições de baixa tributação, e os governos que têm, portanto, fortes incentivos para competir entre si na redução de taxas, de modo a atrair investimentos. Na esperança de evitar uma corrida competitiva sem fim, 136 países chegaram a um compromisso em 2021 para revisar as regras tributárias – o resultado das negociações realizadas sob os auspícios da OCDE, um grupo de países principalmente ricos. O elemento crucial era que os governos impusessem uma taxa mínima de imposto de 15% sobre os lucros das empresas multinacionais.
(...) se alguns países optarem por taxar uma empresa multinacional com uma alíquota mais baixa, outros podem reivindicar a diferença.
Trump espera quebrar essa lógica prometendo retaliação brutal. Qualquer país que imponha um imposto adicional a uma empresa dos EUA seria, na opinião de seu governo, culpado de excesso extraterritorial.
Celular: previsão de 1925
As pessoas usariam um dispositivo de bolso para se comunicar, permitindo ver e ouvir umas às outras sem estarem no mesmo ambiente.
Fonte: aqui
Mulheres na ciência: uma previsão de 1925
"As mulheres, devido ao seu desenvolvimento acelerado, competirão em igualdade de condições com os homens em todas as áreas da pesquisa científica, resultando em avanços mais rápidos na saúde, no conforto e na velocidade do pensamento e da vida. Muitas das novas descobertas do futuro serão, sem dúvida, inteiramente mérito do sexo atualmente chamado de 'frágil'—um termo que elas desprezarão em tempos de verdadeira igualdade."
Fonte: aqui
04 fevereiro 2025
Itaú e ex-diretor
A notícia é de quinta passada, mas relevante pelos personagens:
O Itaú Unibanco entrou com ação de responsabilidade contra o ex-diretor financeiro do banco Alexsandro Broedel e o professor de contabilidade Eliseu Martins, e pede a devolução de R$ 3,350 milhões que o ex-executivo teria recebido indevidamente. A ação se refere a acusações que o banco fez aos dois em dezembro do ano passado.
O Itaú afirma que Broedel recebeu indevidamente valores pagos pelo banco a Martins por serviços de consultoria prestados ao longo de cinco anos, entre 2019 e 2024. Estes serviços foram aprovados pessoalmente pelo executivo, de acordo com o conglomerado, o que configuraria conflito de interesse: Broedel e Martins são sócios em uma empresa desde 2012, relação esta que não foi declarada pelo ex-diretor ao banco ao longo do período em que ele exerceu a função.
Na ação, os advogados afirmam que o banco apurou que o ex-executivo tinha situação financeira incompatível com o cargo que exercia. Essa informação toma como base levantamentos feitos junto a serviços de proteção de crédito, e também a bases judiciais públicas.
Eles elencam ações de dois bancos, Bradesco e Safra, que foram à Justiça para cobrar dívidas de Broedel. No primeiro caso, segundo eles, ele admitiu não ter condições de pagar o valor à vista. Em ambos, fechou acordos para quitar os débitos em parcelas. Além disso, a Prefeitura de São Paulo também entrou com processo contra a Broedel Consultores, de natureza fiscal.
Os processos dos dois bancos foram ajuizados em 2022. O processo da Prefeitura contra a Broedel Consultores foi ajuizado em 2023, com suspensão naquele mesmo ano após um pedido de parcelamento por parte da empresa, e retomada no ano passado diante do não-pagamento das parcelas.
Em outro texto, a defesa de Broedel:
“Causa profunda estranheza que o Itaú levante a suspeita sobre supostas condutas impróprias somente depois de Broedel ter apresentado a renúncia aos seus cargos no banco para assumir uma posição global em um dos seus principais concorrentes”, disse Broedel, através de nota enviada por sua assessoria.
Minha opinião: temos poucas informações sobre o que ocorreu. Mas a ação da instituição financeira parece exagerada diante do valor cobrado. Geralmente uma empresa desse porte busca a discrição, o que não é o caso. Parece que o Itaú pretende queimar o nome de Broedel no mercado. E agora divulgando outras "dívidas" do ex-executivo, indica que a briga vai longe. Foram doze anos que ele trabalhou no banco e somente depois de sair que o problema é "descoberto".
Correios e o PND
Na Exame a discussão se os Correios geram déficit ou não:
O prejuízo dos Correios foi um dos principais responsáveis pelo resultado negativo [das estatais em 2024]:
Déficit de R$ 3,2 bilhões em 2023;
Déficit de R$ 440 milhões em 2023;
Superávit de R$ 186 milhões em 2022.
Em 2024, até setembro, o prejuízo acumulado já somava R$ 2,1 bilhões.
Ela [Elisa Leonel, secretaria das estatais] também destacou que a entrada da estatal no Plano Nacional de Desestatização (PND), durante o governo de Jair Bolsonaro, prejudicou sua situação financeira, pois reduziu investimentos e cancelou contratos com empresas privadas de marketplace.
Também podemos dizer que o atual governo sabia que ao retirar os Correios do PND isso traria o déficit apurado.
Educação reduz impacto da falácia do custo irrecuperável
Eis o resumo:
A falácia do custo irrecuperável é geralmente abordada em cursos introdutórios de economia. Trata-se de um dos vieses mais importantes que influenciam a tomada de decisão. Ronayne et al. (2021a, b) encontraram evidências de comportamentos compatíveis com o efeito do custo irrecuperável e desenvolveram oito questões para medir a suscetibilidade dos indivíduos a essa falácia. Ampliamos essa pesquisa analisando se uma intervenção pedagógica baseada na "cultura pop" em um curso de princípios de microeconomia reduz a predisposição dos alunos à falácia. Constatamos que, após aprenderem sobre o tema, os alunos se tornam 14,95% menos suscetíveis à falácia do custo irrecuperável. Além disso, observamos que estudantes que já haviam cursado economia anteriormente apresentam menor suscetibilidade em todos os períodos analisados.
Para quem acha que educação não é importante. Interessante o uso de Frozen para explicar o conceito.
Crime organizado
O crime organizado possui uma forte relação com a contabilidade. Com frequência, a imprensa divulga a descoberta de registros contábeis de grupos criminosos. No entanto, além dessa associação direta entre contabilidade e crime, a própria existência do crime organizado pode fomentar negócios ilícitos e impactar negativamente empresas que dependem de um ambiente social estável, livre da ameaça criminosa.
Muito certamente, a existência de crime organizado é ruim para os negócios. O Índice Global do Crime Organizado analisa 193 países com base na escala de atividade criminosa. Sua estrutura está dividida em: a) Influência e estrutura dos atores criminosos: por exemplo, grupos do tipo máfia, redes criminosas, agentes infiltrados no Estado; b) Escala e impacto dos mercados criminosos: por exemplo, tráfico de armas, comércio de heroína, tráfico de pessoas; c) Resiliência de cada país ao crime organizado: por exemplo, sistema judicial, transparência governamental.
Os países recebem uma nota entre 0 e 10, conforme o grau de controle exercido por grupos do crime organizado sobre suas atividades econômicas diretas. A Somália, por exemplo, recebeu, na última avaliação, uma nota 9,5, indicando uma forte presença do crime organizado. A mesma nota de Myanmar, Colômbia e Venezuela. A Itália, terra da Cosa Nostra, recebeu uma nota 9, um ponto a mais que o Brasil.
03 fevereiro 2025
Delaware deixou de ser atrativo?
O estado de Delaware é conhecido por sua justiça rápida, eficiente e favorável aos negócios, o que atrai muitas empresas para estabelecer sua sede lá, incluindo multinacionais. Até o terceiro setor já reconheceu essas vantagens. Um exemplo é a Fundação IFRS, que tem sua sede jurídica em Delaware.
No entanto, esse prestígio parece estar se dissipando. Algumas empresas passaram a considerar que as decisões judiciais no estado estão prejudicando seus interesses. Recentemente, um juiz decidiu a favor dos acionistas em um caso envolvendo um pacote de remuneração de 50 bilhões de dólares para Elon Musk. Em resposta, o bilionário anunciou sua intenção de transferir a sede de seus negócios para outro local. Além de Musk, empresas como Meta (dona do Instagram) e Dropbox também planejam realocar suas sedes.
A ascensão de Donald Trump ao poder e sua promessa de reduzir a regulamentação alteraram as expectativas do mundo corporativo, que agora busca mais flexibilidade. Estados que adotam políticas alinhadas ao discurso de Trump podem se tornar mais atraentes, colocando Delaware em desvantagem. Isso também afetaria a Fundação IFRS?
Baseado na Newsletter DealBook
Seguros e uso de IA
eis o resumo:
Diante das mudanças tecnológicas e do avanço da utilização da Inteligência Artificial (IA) por diversos setores econômicos, o presente estudo teve por objetivo investigar a utilização de IA pelas seguradoras brasileiras, a partir da sua divulgação nas demonstrações contábeis, relatório de administração e nos relatórios de sustentabilidade. Para tanto, selecionou-se uma amostra de 30 seguradoras que representavam 80,8% do volume total de prêmios do mercado em 30/09/2024. Foram analisadas as demonstrações contábeis de 31/12/2023, 30/06/2024 e o relatório de sustentabilidade de 31/12/2023. Os resultados apontaram que apenas 9 seguradoras divulgaram em seus relatórios a utilização de IA. Dentre as aplicações de IA divulgadas, tem-se a melhoria na experiência do cliente e corretores, criação de produtos e soluções, excelência operacional e digitalização, cultura de IA e captação de novos talentos.
Acredito que 9 seja um número considerável, já que a ausência da informação não significa que não esteja usando. E é curioso que estejam divulgando essa informação. Esse pode ser um tema de pesquisa, mais abrangente, para todas as empresas de capital aberto.
Qualidade e normas do ISSB
As normas novas do ISSB contribuem com a qualidade das informações contábeis? Eis um resumo de um artigo recentemente publicado:
O objetivo deste ensaio foi discutir a padronização na linguagem contábil relacionada à sustentabilidade e refletir sobre a melhoria potencial da qualidade informacional dos relatórios financeiros a partir da implantação das normas IFRS S1 e S2, emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB). Essas normas abordam a divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, com ênfase na comparabilidade e transparência. A IFRS S1 foca nos requisitos gerais para a divulgação de informações financeiras sustentáveis, enquanto a IFRS S2 tem foco nas questões climáticas. A pesquisa destaca a importância de integrar as práticas socioambientais na estratégia corporativa, beneficiando a reputação e reduzindo custos de capital, além de atrair investidores ESG. Considerando a lente teórica da Teoria da Sinalização, pode-se afirmar que relatórios financeiros de qualidade tendem a reduzir a assimetria informacional e poderiam promover aumento do nível de confiança entre empresas e seus stakeholders. Apesar dos benefícios percebidos, a implementação enfrenta desafios relacionados à conciliação entre as diferentes abordagens de materialidade, notadamente entre as normas IFRS. Esses desafios estão relacionados às visões distintas adotadas até então pelas normas internacionais de contabilidade que vislumbram a materialidade a partir de uma ótica financeira, enquanto as diretrizes do GRI possuem perspectivas mais associadas aos impactos sociais e ambientais. A pesquisa conclui que, embora as normas IFRS S1 e S2 promovam melhorias na qualidade informacional, sua abordagem limitada à materialidade financeira pode restringir seu alcance, favorecendo principalmente investidores e levantando questões sobre o equilíbrio entre comparabilidade e materialidade em relatórios de sustentabilidade.
Da Economia da Atenção para a Economia da Intenção
Em 1971, Herbert Simon chamou a atenção para a economia da atenção. Segundo Simon, ganhador do Prêmio Nobel em 1978, o excesso de informação cria um problema para as pessoas: a dificuldade de manter a atenção. Em casos como esse, a filtragem torna-se uma parte importante do processo de tomada de decisão. A visão de Simon surgiu em um momento pré-internet e, hoje, parece cada vez mais atual.
Um artigo recém-publicado (via aqui) destaca a economia da intenção. Para os autores, a Inteligência Artificial (IA) mudará a relação entre informação e atenção. Os modelos de IA desenvolvidos recentemente não apenas observam o que os usuários desejam, mas também o que eles desejam desejar.
Um exemplo concreto ajuda a ilustrar como a economia da intenção, como um mercado digital para a comercialização de sinais de ‘intenção’, diferiria da atual economia da atenção. Hoje, anunciantes podem comprar acesso à atenção dos usuários no presente (por exemplo, via redes de leilão em tempo real como o Google AdSense) ou no futuro (por exemplo, comprando espaços publicitários para o próximo mês em um outdoor ou linha de metrô). LLMs diversificam essas formas de mercado ao permitir que anunciantes comprem acesso tanto em tempo real (“Você já pensou em assistir *Homem-Aranha* hoje à noite?”) quanto contra futuros possíveis (“Você mencionou que está se sentindo sobrecarregado, devo reservar aquele ingresso para o cinema sobre o qual conversamos?”). Se você estiver lendo esses exemplos online, imagine que cada um deles foi gerado dinamicamente para corresponder ao seu histórico comportamental, perfil psicológico e contexto atual.
Na economia da intenção, um LLM poderia, a um custo baixo, utilizar seu tom de voz, inclinações políticas, vocabulário, idade, gênero, preferências por bajulação e outros fatores, combinados com lances de anunciantes, para maximizar a probabilidade de alcançar um determinado objetivo (por exemplo, vender um ingresso de cinema). Zuboff (2019) descreve esse tipo de assistente pessoal de IA como um “avatar de mercado”, que orienta a conversa em favor de plataformas, anunciantes, empresas e outras partes interessadas.
Em resumo, imagine mensagens persuasivas muito mais individualizadas em diversos aspectos. Essas mensagens poderiam ser baseadas em uma gama muito maior de dados sobre você: onde você mora e trabalha, padrões de viagem, estado civil, compras passadas, buscas na internet e muito mais. Seus dados pessoais poderiam ser comparados com os de outras pessoas estatisticamente semelhantes a você, permitindo que as mensagens fossem redigidas na linguagem mais eficaz para te influenciar—baseando-se tanto no seu próprio histórico de respostas quanto no comportamento de pessoas parecidas com você.
Além disso, essas mensagens poderiam ser "dinamicamente ajustadas", ou seja, em vez de receber a mesma mensagem repetidamente, você receberia uma sequência de mensagens que evoluem para maximizar sua persuasão ao longo do tempo.