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14 dezembro 2024

Em defesa das revisões sistemáticas

Na área de contabilidade, há uma excessiva valorização de "novas" pesquisas, enquanto revisões sistemáticas são frequentemente deixadas de lado ou subvalorizadas. Periódicos e congressos aceitam facilmente "novas" pesquisas sobre temas já conhecidos, mas com mudanças sutis na amostra ou nos modelos estatísticos. Em contrapartida, as revisões sistemáticas tendem a ser recusadas, com argumentos como "falta de profundidade", "falta de criatividade" e "pouca contribuição". Talvez isso realmente ocorra com alguns estudos.


No entanto, a revisão sistemática na contabilidade é muito mais útil do que se acredita. Veja um exemplo: um regulador deseja alterar uma norma contábil. Um resumo crítico que reúna todas as pesquisas relevantes realizadas pode destacar os principais problemas que precisam ser considerados na norma. Essa abordagem é tão evidente que alguns reguladores já adotaram a prática de realizar revisões sistemáticas antes de começar a discutir uma nova norma.

Essa ideia tem sua origem em Archie Cochrane, epidemiologista e médico britânico (1909-1988), que defendia a saúde baseada em evidências, com o uso de ensaios clínicos randomizados para determinar a eficácia de tratamentos médicos. Seu trabalho inspirou a criação da Cochrane Collaboration, em 1993, cuja finalidade é realizar revisões sistemáticas na área de saúde. Uma das consequências das revisões é que pesquisas individuais inconclusivas podem ser sintetizadas, resultando em conclusões definitivas. No entanto, esse processo não é simples.

A Cochrane Library contém mais de 9.000 revisões sistemáticas na área de medicina. Muitas dessas revisões derrubam mitos ou ajudam a construir verdades. Em contraste, áreas como a educação recebem menos atenção nesse sentido, conforme destaca Tim Harford. A Campbell Collaboration, uma organização similar na área de educação, conta com apenas 231 revisões sistemáticas.

Na contabilidade, a situação parece ser ainda mais desafiadora. As revisões sistemáticas existentes não estão reunidas em um único lugar e, frequentemente, resultam de esforços individuais. Considere uma questão relativamente simples: há benefícios na adoção de normas internacionais por parte de um país? Existem revisões sistemáticas que abordam esse tema, mas a ausência de uma organização como a Cochrane Collaboration na área contábil impede que uma pergunta tão relevante tenha uma resposta abrangente e de alta qualidade.

13 dezembro 2024

NudgeRio

A NudgeRio é a primeira unidade governamental de ciência comportamental do Brasil. E seria mais uma entre as 200 existentes no mundo, sendo 50 baseadas no governo local, segundo dados da OCDE. A entidade deseja melhorar a vida dos cidadãos do Rio de Janeiro usando os conhecimentos do empurrão (nudge) para desenvolver soluções. 

Durante o período do G20, que ocorreu no Rio de Janeiro, a Nudge Rio organizou a Conferência Latino-Americana sobre Ciência Comportamental. O evento reuniu pesquisadores, profissionais e tomadores de decisão locais. 

Um pequeno relato foi feito no Behavioral Scientist. 

R-g entre 1500 a 2023

A diferença de r-g é relevante para as decisões de investimento e para o estudo da economia de uma maneira geral. O "r" corresponde a taxa de juros, enquanto o "g" seria o crescimento. Um estudo coletou uma série histórica do r-g entre 1500 e os anos atuais. O gráfico é um resumo visual do resultado:

Eis o resumo da pesquisa:

Apresentamos novas séries de longo prazo de r-g ao longo de séculos para as principais economias do sistema financeiro internacional. Por meio de uma ampla variedade de abordagens econométricas, incluindo construções ajustadas por duração, demonstramos evidências sólidas de estacionariedade de tendência nessas séries. Embora confirmemos a estacionariedade de tendência, encontramos evidências robustas de uma grande ruptura estrutural no primeiro terço do século XX.

Uma tendência secular de queda em r-g parece ter se estabilizado por volta de 1930, e, desde então, r-g tem mostrado alta volatilidade acompanhada por uma clara pressão de alta: notavelmente, embora as taxas de juros reais ainda possam parecer favoravelmente baixas, as taxas de crescimento agregado estão em declínio nas economias avançadas desde o período entre guerras, criando pressões seculares sobre r-g e a sustentabilidade da dívida.

Nossos resultados contrastam com grande parte da literatura recente e sugerem a necessidade de muito mais cautela ao assumir tendências benignas na sustentabilidade da dívida pública global. Ao mesmo tempo, ao incluir elementos mais arriscados dos retornos de capital, os dados sustentam o aumento estrutural da "eficiência dinâmica".

Associamos a principal inflexão da década de 1930 ao estabelecimento e crescimento dos estados de bem-estar social nas economias avançadas, bem como ao aumento expressivo dos gastos não relacionados à defesa e aos juros.

O texto completo está aqui

Paradoxo de Jevons

Um artigo, "Tech on the Treadmill: Jevons Paradox and the Rise of Accounting" chama a atenção para o fato de que os avanços tecnológicos, embora destinados a aumentar a eficiência do trabalho, o que inclui a contabilidade, podem levar a um aumento no consumo de recursos e na carga de trabalho. Isso ocorre devido ao Paradoxo de Jevons, que sugere que melhorias na eficiência de uso de um recurso podem resultar em maior consumo desse recurso. 


Jevons percebeu, no século XIX, que isso ocorria com o carvão. Na situação contábil, com as recentes inovações tecnológicas, ao invés de existir uma redução no trabalho, pode aumentar a quantidade de tarefas a serem realizadas. 

Rir é o melhor remédio

 

Síria. Fonte: aqui

12 dezembro 2024

Por que nenhuma empresa trilionária está sendo criada na Europa?

do Marginal Revolution


Segundo um artigo recente de Olivier Coste e Yann Coatanlem, dois investidores franceses, essas respostas perdem o ponto central: o motivo pelo qual mais capital não é direcionado para ideias de alto risco na Europa é que o custo do fracasso é alto demais.

Coste estima que, para uma grande empresa, realizar uma reestruturação significativa nos EUA custa à companhia aproximadamente dois a quatro meses de salário por trabalhador. Na França, esse custo médio é de cerca de 24 meses de salário. Na Alemanha, 30 meses. No total, Coste e Coatanlem estimam que os custos de reestruturação sejam aproximadamente dez vezes maiores na Europa Ocidental do que nos Estados Unidos.

Considere um exemplo simples. Duas grandes empresas estão avaliando se devem ou não buscar uma inovação de alto risco. A probabilidade de sucesso é estimada em uma chance em cinco. Se tiverem sucesso, elas obtêm um lucro de $100 milhões, e o investimento custa $15 milhões.

Uma das empresas está na Califórnia, onde, se a inovação fracassar, o custo da reestruturação é de $1 milhão. A outra empresa está na Alemanha, onde a reestruturação é 10 vezes mais cara, custando $10 milhões (uma estimativa conservadora).

O valor esperado desse investimento na Califórnia é um lucro de $5 milhões. Na Alemanha, o valor esperado é um prejuízo de $3 milhões.

Gukesh é o novo campeão mundial de xadrez

Como alguém que adora assistir a partidas de xadrez ao vivo, acompanhei ao longo das últimas semanas a disputa entre Ding e Gukesh pelo título mundial de xadrez. Talvez meu entusiasmo não tenha sido tão intenso desta vez, em razão da ausência do melhor jogador de todos os tempos, o norueguês Magnus Carlsen. Diante da falta de um concorrente à sua altura, do cansaço representado pela preparação para um título e de seu maior interesse por outras atividades, incluindo o xadrez rápido, Carlsen simplesmente deixou a disputa de lado há dois anos. Isso levou o título a ser decidido entre o chinês Ding e o russo Nepomniachtchi, com vitória de Ding.

Agora, Ding estava colocando o título novamente em disputa. No torneio de candidatos, fortes desafiantes se enfrentaram, mas o favorito Caruana, o segundo melhor do mundo, e Nakamura, o terceiro, não venceram. O resultado coube ao jovem indiano Gukesh, de apenas 18 anos. Na verdade, há tempos o xadrez mundial tem sido dominado pelo país asiático. Jogadores de alto nível não faltam para dar continuidade à herança de Anand, ex-campeão mundial, que ainda hoje compete, ocupando um honroso 10º lugar entre os melhores do mundo. Anand preparou seus sucessores, como Erigaisi (21 anos, atualmente 4º no ranking mundial), Pragga (17 anos, 14º no mundo, com um futuro brilhante), Aravindh (23º), e Vidit (24º). Assim, a Índia conta com seis jogadores entre os 25 melhores do mundo.


Entre o torneio de candidatos e a disputa pelo título passaram-se alguns meses. O desempenho de Ding nesse período não foi muito bom, e alguns chegaram a apontar Gukesh como amplo favorito. Ding iniciou o confronto com 2728 de rating, contra 2783 de Gukesh, uma diferença de 55 pontos — comparável à diferença entre Gukesh e Carlsen (2783 contra 2831). Contudo, logo na primeira partida, Ding venceu. O empate veio na terceira, com uma vitória do indiano. Na 11ª partida, Gukesh tomou a liderança, mas na seguinte o chinês venceu, deixando o confronto empatado novamente.

Na manhã de hoje, tivemos a 14ª partida, com o placar ainda igualado. Essa seria a última partida disputada no formato clássico. Caso permanecesse empatada, partidas rápidas seriam jogadas no dia seguinte até que houvesse um vencedor. Ding é considerado um jogador de rápidas superior a Gukesh, o que tornava a disputa ligeiramente favorável ao chinês.


A partida estava no 55º lance, em equilíbrio, quando Ding ofereceu a troca de torres, prontamente aceita pelo indiano. Com um peão a mais e bispos de mesma cor no tabuleiro, a análise feita pelos computadores indicou que o equilíbrio da posição, antes avaliado em -0,5, desapareceu. A nova análise mostrava uma vantagem de -3,37 para as pretas, o que equivale a uma vantagem de mais de três peões — algo enorme em partidas de alto nível. Após a troca de torres, três lances depois, Ding reconheceu a derrota.

Gukesh chorou ao conquistar o título. Há um vídeo na internet em que um garoto indiano, o próprio Gukesh, diz que gostaria de ser o mais jovem campeão mundial de xadrez. Alguns anos depois, o sonho do garoto tornou-se realidade. Parabéns ao novo campeão mundial!