No passado, a Standard Oil era uma das maiores empresas do mundo. E incomodava as autoridades, por ter quase o monopólio da extração de petróleo nos Estados Unidos. A empresa de Rockfeller foi um caso histórico onde o governo forçou a separação em diversas outras empresas, conforme figura.
Há um boato de que duas das atuais herdeiras da Standard Oil poderiam estar conversando sobre uma possível fusão: a ExxonMobil e a Chevron. A primeira possui um valor de mercado de 190 bilhões de dólares; a segunda, um valor de 164 bilhões. A nova empresa poderia ter um valor acima de 350 bilhões, com 7 milhões de produção. Seria a segunda maior empresa de petróleo do mundo, atrás apenas da Aramco.31 janeiro 2021
Pandemia e Informação
Do que tenho lido sobre o assunto, poucos destacam que a pandemia tem um vínculo forte com a informação. Em um livro sobre a relação entre economia e pandemia, Joshua Gans (Pandemic Information Gap and the Brutal Economics of Covid, MIT Press) destaca que resolver o problema de informação da pandemia significa salvar o mundo. O autor não está falando da fake news ou das instruções passadas pelas autoridades sanitárias - ele também trabalha isto. Afinal, sabendo que tem o vírus, basta isolar esta pessoa e o resolvemos o problema.
No livro tem também uma discussão interessante sobre o trade-off entre economia e saúde. Aqui há uma discussão bem acalorada se o lockdown era necessário ou não, mas vivemos em um mundo com dados incertos, como bem lembra Gans. E não sabemos como apontar para uma melhor escolha (ou escolha ótima) entre olhar a saúde ou olhar a economia. Não é uma escolha fácil, embora ache que Gans poderia ter discutido também os fatores não monetários deste trade-off. Há também uma discussão que precisa ser feita sobre os impactos comportamentais. No passado tivemos o efeito da adoção do cinto de segurança no comportamento das pessoas em situação de risco e isto deve ser usado para analisar a situação.
Em um mundo com excesso de informação, este livro apresenta uma boa visão inicial do problema.
Riscos Globais
Em Factfulness, escrito em 2017, Hans Rosling tem uma visão bem otimista/realista do mundo. Mas no final ele alerta para os cinco riscos globais com os quais devemos nos preocupar. E o primeiro da lista é:
Pandemia global
(...) Respeitados especialistas em doenças infecciosas concordam que um novo e terrível tipo de gripe ainda é a mais perigosa ameaça à saúde global. A razão: a rota de transmissão da gripe. Voa pelo ar em gotículas. Uma pessoa pode entrar num vagão de metrô e infectar todos dentro sem que os passageiros se toque, ou sequer encostem no mesmo lugar. Uma doença transportada pelo ar como a gripe, com a capacidade de se espalhar rapidamente, constitui uma ameaça à humanidade maior do que enfermidades como ebola ou o HIV. Para dizer o mínimo, vale a pena nos proteger de todas as maneiras possíveis de um vírus que é altamente transmissível e ignora todo tipo de defesa.
30 janeiro 2021
Contágio na gripe espanhola
Este gráfico encontrei no livro The Pandemic Information Gap, de Joshua Gans. Durante a gripe espanhola, a cidade de Filadélfia, nos Estados Unidos, teve uma parada com os soldados que estavam regressando da I Guerra Mundial. O resultado está na linha continua: número de mortos cresceu substancialmente. A linha pontilhada é Saint Louis, que fechou escolas e igreja, impedindo reunião com mais de 20 pessoas.
29 janeiro 2021
Percepção da Corrupção
A organização Transparência Internacional divulgou seu relatório de 2020. O mapa abaixo mostra os países e a percepção de corrupção, quanto mais escuro, maior a corrupção. Laranja são os países menos corruptos.
O Brasil ficou em 94o. lugar, com 38 pontos. Os países com menor percepção de corrupção: Dinamarca, Nova Zelândia, Finlândia, Singapura, Suécia, Suíça, Noruega, Holanda, Alemanha e Luxemburgo. A pontuação média é de 4328 janeiro 2021
Machado de Assis e o café
Um dos profissionais contábeis brasileiros mais relevantes foi ... Machado de Assis. O maior escritor brasileiro trabalhou com contabilidade durante muitos anos. Quando era diretor de contabilidade do Ministério da Viação, Assis recebeu uma pessoa que pede que seu processo seja despachado naquele dia. Assis diz que não é possível, pois precisa examiná-lo com atenção.
Sem perder a oportunidade, a pessoa arrisca um novo pedido: sua filha queria uns versos. Assis retruca dizendo que o local não era apropriado e que tinha muito serviço para fazer.
Neste momento, entra na sala o contínuo e oferece café. Machado de Assis oferece ao intruso, que afirma não tomar café, pois é um "veneno".
- E peço-lhe que faça como eu: não o tome também.
Assis devolve a xícara e diz:
- Certo. É o terceiro pedido que me faz o senhor desde que aqui está. A este ao menos posso satisfazer: hoje não tomo café.
Fonte: Ubiratan Machado. O Rio de Machado de Assis. Manchete, ed. 1940, 1989. Foto: Ricardo Beliel
Resposta à pandemia
O instituto Lowy fez um estudo sobre o desempenho de cada país na questão da pandemia após o 100 caso. A metodologia inclui o número de casos confirmados, de mortes e número de testes, em números absolutos e relativos (1). O melhor desempenho é da Nova Zelândia, seguido por Vietnam, Taiwan, Tailândia e Chipre (2). Bélgica, onde o problema tem sido anunciado como grave, ficou 72o. lugar. Melhor que Estados Unidos, Irã, Colômbia, México e Brasil, que teve uma pontuação de 4,3 e ficou em 98o. lugar (foto).
Foram investigados ... 98 países e o cálculo não inclui a China, por falta de dados confiáveis.
Um aspecto curioso do estudo é que países com regimes totalitários tiveram uma resposta inicial melhor, mas o resultado final, em relação aos regimes democráticos, foram convergentes. Os países menores tiveram melhor desempenho, assim como países mais desenvolvidos.
Duas observações:
(1) a escolha dos índices vai influenciar o resultado. Países menores, provavelmente o contágio será mais rápido do que os países com maior dispersão da população e área geográfica maior. Mas é importante destacar que talvez estes sejam os indicadores existentes no momento
(2) Uma característica interessante: as melhores posições são ocupadas por "ilhas", onde o controle da fronteira provavelmente é mais efetivo.
Rir é o melhor remédio
Em 1989, um sindicato de empresas contábeis fez uma série de anúncios, incentivando a contratação de uma profissional contábil, na revista Manchete. Eis as propagandas. Gostei muito do "aposente seu pai como contador".
27 janeiro 2021
Incentivo e a questão da dose da vacina
Durante a fase de testes, a empresa Oxford-AstraZeneca aplicou, em parte dos pacientes, metade da dose inicial da vacina que estava desenvolvendo. Muitas explicações sobre a influência disto para uma futura aprovação do produto, mas Steve Landsburg usa incentivos para olhar o assunto:
Indivíduos com meia dose geralmente terão menos efeitos colaterais. Os indivíduos com menos efeitos colaterais acharão mais provável que tenham recebido o placebo. Indivíduos que acham que receberam o placebo continuarão tomando mais precauções com máscaras, distanciamento social, etc. Portanto, é inteiramente plausível que indivíduos com dose média tenham taxas de infecção mais baixas.
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Importância da denúncia para combater o crime financeiro
Uma das formas que os reguladores possui para combater os chamados crimes financeiros é o incentivo à denúncia. Isto pode ser feito apurando as denúncias recebidas e instituindo prêmios para àqueles que fizeram denúncias comprovadamente corretas.
Este tem sido o caminho trilhado pela SEC. Desde 2012, a entidade que regula o mercado de capitais dos Estados Unidos faz pagamentos para as denúncias realizadas por pessoas que conhecem o problema e muitas vezes não possuem coragem de levar a questão internamente. Em 2020, as denúncias significaram 2,7 bilhões de penalidades e estas pessoas receberam 562 milhões. Isto significa uma média de 5,3 milhões para 106 pessoas. Nada mal.
Um artigo do Propublica alerta que o governo Trump conseguiu reduzir o valor dos prêmios. O argumento é que o dinheiro poderia ser gasto em outra fonte. Isto poderia, segundo o texto, reduzir o impacto da medida, já que as empresas com maiores multas são aquelas onde é mais difícil detectar o problema sem uma ajuda, principalmente interna.
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26 janeiro 2021
Capitalismo e leilão do fracasso
O NY Times traz uma reportagem de um mercado lucrativo: a venda de produtos de empresas que foram fracassos. Isto inclui um peso de papel a missão da Lehman Brothers ou livro da Enron sobre conduta de negócios.
Uma empresa Wall Street Treasures foi criada e vende estas lembranças. Uma lembrança do prêmio recebido por quatro anos da Enron como "empresa inovadora" está sendo vendido por 1.495 dólares.
Isabel dos Santos deixa de ser "bilionária"
25 janeiro 2021
Perdão financeiro
Ao sair da presidência, Trump concedeu 143 indultos e comutações. Muito do bom coração do ex-presidente tinha uma relação com a área financeira. Segundo Sorkin (do NYT), eis os destaques:
Elliott Broidy - responsável pela arrecadação de Trump e condenado por violar as leis de lobby estrangeiro, incluindo o fugitivo malaio Jho Low
Ken Kurson - antigo editor do New York Observer e acusado de perseguição cibernética
Anthony Levandowski - o ex-executivo do Google, culpado de roubar segredos corporativos;
William Walters - o apostador esportivo, condenado por informações privilegiadas
Sholam Weiss - condenado a mais de 800 anos de prisão por fraude de seguro
Bob Zangrillo - acusado no escândalo Varsity Blues College-admissions.
(Imagem do filme "o brother where art thou")
A linguagem dos gráficos
Quatro gráficos contam diferentes histórias. Mas mostram muita informação. Três deles da Bloomberg e um da Nature. Abaixo, a participação da Netflix no mercado de vídeo dos Estados Unidos. Confesso surpreso com a importância da Prime, da Amazon, e da Hulu.
O gráfico abaixo mostra a participação do petróleo do Irã depois das sanções dos Estados Unidos. Efeito certo na economia do Irã.Este é da Nature e tem o efeito do Covid sobre a emissão de carbono. No mundo, significou -6,4%, com impacto maior nos Estados Unidos, Europa e Índia.
24 janeiro 2021
Custo Perdido em hidrelétrica do Canada
O Canadá está construindo uma usina hidrelétrica na província de Colúmbia Britânica. Denominado de Site C Clean Energy Project, a usina deveria permitir ao país uma maior geração de energia "limpa". Há diversas controvérsias sobre o projeto, incluíndo impacto sobre a comunidade indígena.
O custo estimado da construção é de 20 bilhões de dólares canadenses (aproximadamente US$16 bilhões). Diante dos problemas com o projeto, um artigo (via aqui) questiona se não seria o caso de abandonar o projeto. Já foram investidos no projeto mais de 6 bilhões. E um estudo aponta que o projeto não é econômico e não entrega uma energia limpa, com redução de emissão de carbono.
Trata-se de um típico caso de custo perdido. Eis uma análise:
o valor presente total da eletricidade produzida no Site C é estimada em $ 2,76 bilhões contra um custo total estimado de $ 10,7 bilhões, implicando em uma perda de $ 8 bilhões . Isso é ruim. No entanto, se o projeto fosse cancelado agora, a perda seria cortada pela metade, para talvez US $ 4,5 bilhões.
Foto: By Jason Woodhead - https://www.flickr.com/photos/woodhead/33925655676/, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=93611410
Previsão e Contabilidade - 2
Na postagem anterior vimos que existe uma ênfase em se fazer previsão na contabilidade atual. Mas temos vários problemas com esta escolha.
Aqui vamos enfatizar somente um aspecto: como melhorar a contabilidade, através da melhoria do processo preditivo. Quando a contabilidade lida com a previsão, geralmente isto não está explicito nas informações. O especialista sabe que o valor do passivo judicial de uma empresa depende, substancialmente, de previsão. Também sabe que uma decisão sobre a recuperabilidade dos ativos é apoiada nestas previsões.
Uma das melhores maneiras que as pessoas aprendem é errando e corrigindo o erro. Entretanto, o processo contábil não permite que isto seja feito. Se o profissional fez uma estimativa que uma determinada causa não resultaria em um passivo para a empresa e errou, o usuário dificilmente saberá deste erro. Há algumas exceções. Algumas empresas divulgam suas principais projeções. Mas na maioria dos casos, é impossível saber aonde termina uma estimativa e começa uma projeção. A melhor maneira de saber se a mensuração realizada pela entidade através da previsão é adequada será através de um sistema que permita analisar seu grau de acerto.
Fazer uma previsão de que o PIB deverá aumentar este ano pode ser fácil. Ou dizer que a sua vida irá mudar para melhor este ano é muito genérico. Os horóscopos geralmente se baseiam em afirmações amplas o suficiente para incorporar as mais diferentes possíveis situações. Por isto a leitura dos astros parece com charlatanismo.
Mas especificar um valor para este acréscimo faz com que tenhamos melhores motivos para tentar acertar nossa decisão. Da mesma forma, indicar que um processo judicial não irá resultar em perdas para a empresa é uma previsão bem específica. Assim podemos saber se houve um acerto ou um erro na previsão.
Observe que isto também pode ajudar os reguladores. Divulgando as previsões precisas das empresas, será possível perceber o quanto erramos e como isto interfere nos resultados apresentados nas informações. Se o erro for substancial e estiver atrapalhando a análise do desempenho da empresa, talvez seja melhor pensar em outra alternativa para mensuração contábil.
Previsão e Contabilidade
Historicamente, a partidas dobradas não dependia substancialmente do processo preditivo. A partir dos meados do século passado, a questão da previsão começou a aparecer na contabilidade, seja na obra dos teóricos, seja nos documentos preparados pelas associações de profissionais contábeis. Com a criação do Fasb, nos Estados Unidos, e a adoção de sua filosofia na preparação de informações contábeis na maioria dos países, através do Iasb, a previsão passou a constar da estrutura conceitual. Sob a denominação de valor preditivo, a informação contábil deveria permitir que o usuário fizesse inferências sobre o futuro da empresa e também confirmasse suas previsões passadas.
Aqui é importante fazer uma distinção entre os termos estimativa e previsão. A estimativa é geralmente utilizada na literatura contábil sem uma associação com o futuro. Quando o profissional calcula a depreciação mensal de um equipamento, é necessário fazer uma estimativa da vida útil deste ativo, para a determinação do valor da despesa. Da mesma forma, quando é feito o levantamento do estoque através do inventário periódico, estima-se o valor do custo a partir da fórmula (CMV = Estoque Inicial + Compras - Estoques Final). Nos dois exemplos, o futuro não é a parte relevante no processo de mensuração, embora esteja mais forte na primeira situação.
Já a previsão tem uma associação mais estreita com o que irá ocorrer no futuro. Com base nos processos judiciais anteriores, é possível prever que a empresa deverá ter sucesso em uma determinada causa, e irá vencer. Assim, a contabilidade não irá reconhecer no passivo este processo.
O que a estrutura conceitual enfatiza é o chamado valor preditivo. Há uma discussão inicial se o valor preditivo é do preparador da informação ou se, com base nas informações apresentadas, deve ser do usuário. Quando a norma enfatiza o valor justo, parece que a responsabilidade está sob os ombros do preparador.
Imagem: aqui
23 janeiro 2021
Google Earth Time-Lapse
O Google juntou fotografias de satélites em diferentes anos em um site chamado de Earth Time-Lapse. Ao entrar no site, você pode ver a história de alguns lugares selecionados. Isto inclui Rondônia e Teles Pires River. Mas você pode localizar uma cidade e ficar observado a sua evolução no tempo.
Por exemplo, eis Patos de Minas no ano de 1984:
Mesma posição do satélite, agora em 2018:
Boa diversão.
22 janeiro 2021
Campeões da Netflix
SEC sob o governo Biden
O novo presidente dos Estados Unidos escolheu Gary Gensler para ser o presidente da SEC. Mas o seu nome deve ser aprovado pelo Senado. O processo está atrasado, pois o período de transição foi um pouco tumultuado. Gensler já foi presidente da Commodity Futures Trading Commission. Enquanto isto, a SEC será conduzida por Allison Herren Lee:
Lee já estava na SEC desde julho de 2019 e marcou posição nas tentativas do ex-presidente da SEC em afrouxar algumas regras. Além do presidente da SEC, a nova administração deverá contar com um novo chefe de contabilidade, já que o anterior, Sagar Teotia, já saiu do cargo. Ao contrário do antigo comandante da SEC, Gensler deve ter uma postura mais incisiva sobre a regulamentação financeira. No passado, ele foi da Goldman Sachs.
Se Lee continuar mais tempo no cargo de interina da SEC, a entidade deve enfatizar a questão do clima, o que está coerente com a nova gestão.
21 janeiro 2021
Mais informação é mais informação de baixa qualidade - II
Os psicólogos têm um nome para isso: “phubbing” ou desprezar uma pessoa em favor do seu telefone. Estudos têm mostrado que o phubbing excessivo diminui a satisfação no relacionamento e contribui para sentimentos de depressão e alienação.
Mais informação é mais informação de baixa qualidade
Uma lei da economia pode ajudar a explicar como prevalece, nos dias atuais, as informações de baixa qualidade. Entre ler um artigo da New Yorker, preferimos ler a última fofoca de uma pretensa celebridade. A Lei de Gresham foi proposta para produtos tangíveis, mas pode ser aplicada para a informação.
Atacada pela competição acirrada do ciclo de notícias diárias, a notícia sofre com a Lei de Gresham, um conceito financeiro que afirma que o dinheiro ruim tira o dinheiro bom até que só o dinheiro ruim reste. A Lei de Gresham pode explicar por que o consumidor mediano lê informações de baixa qualidade online. Na Internet, o conteúdo de baixa qualidade expulsa o conteúdo de alta qualidade, já que os artigos mais lidos são polarizadores e emocionalmente chocantes. Primeiro, eles distorcem a verdade eliminando nuances e adicionando carga emocional a tópicos importantes. Se você verificar quase todas as publicações importantes, verá que as histórias mais populares são opinativas e causam medo. Eles nos atraem porque influenciam nossos instintos básicos de maneiras irresistíveis.
20 janeiro 2021
Esportes e imposto de renda
Segundo advogados tributaristas ouvidos pelo Estadão, somente de 2013 para cá, pelo menos 300 jogadores de futebol receberam multas da Receita Federal por problemas na declaração do Imposto de Renda. Os valores são pesados. Neymar, por exemplo, chegou a levar uma multa de cerca de R$200 milhões. A assessoria do jogador afirmou que ele teve um ganho de causa no Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais) e reduziu para um valor bem menor - cerca de R$ 88 milhões. Já o técnico Cuca, hoje no Santos, foi multado em 2017 em R$ 3,6 milhões e alegou à época que não sabia da ilegalidade. No mesmo ano, o atacante Alexandre Pato, atualmente sem clube, também foi condenado pelo Carf a pagar cerca de R$ 5 milhões. (...)
Os atletas e técnicos costumam receber os salários divididos da seguinte maneira: 60% do valor total do salário é pago para a pessoa física e os outros 40% são destinados como direito de imagem, que são registrados em nome de uma empresa. E é justamente nesta última modalidade que a Receita Federal está de olho. Procurada pelo Estadão, o órgão não retornou o contato para comentar asautuações.
A divisão entre as duas formas de recebimento chama a atenção dos auditores fiscais por causa do valor recolhido em imposto. A tributação sobre o salário chega a 27,5%, além de encargos trabalhistas, como férias, FGTS e 13.º salário. Já no direito de imagem, é de no máximo 15%. Por isso, há o rigor para verificar se ao receber em nome de uma empresa não há uma tentativa por parte do atleta e do clube de pagar menos impostos. Erros na declaração do IR, falta de documentos e imprecisão nas informações também abrem brechas para problemas.
Adaílton se lembra bem do erro que causou a multa. "Abri uma empresa para receber o direito de imagem. Mas, como demorei para emitir a nota ao clube, recebi o conselho de uma contadora de que eu poderia receber os pagamentos na minha conta pessoal. Segui uma orientação equivocada", contou.O ex-zagueiro revela ter gasto até hoje cerca de R$ 200 mil com advogados para conseguir reduzir a multa. O processo ainda não terminou. "Depois de tudo isso eu aprendi o quanto é importante cuidar da nossa declaração", disse.
Após autuações de Neymar, Cuca ePato, jogadores fazem 'blindagem'para evitar multas da Receita. Ciro Campos, O Estado de S.Paulo 15 de janeiro de 2021
Volks paga indenização sobre atuação durante a ditadura militar brasileira
O Ministério Público Federal formalizou nesta sexta-feira, 15, o arquivamento do inquérito aberto contra a Volkswagen pelo apoio da montadora alemã à repressão durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Oencerramento da investigação é resultado do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com a empresapara garantir a reparação judicial pela anuência a violações aos direitos humanos.
A Volks tinha contratado um pesquisador alemão para elaborar um relatório sobre a participação da empresa no regime militar brasileiro.
Segundo o pesquisador, até 1979 a Volks mantinha um ‘apoio irrestrito’ à ditadura que não se limitava a declarações de lealdade pessoais. Em 1969, foi iniciada uma colaboração entre a segurança industrial da montadora alemã e a polícia política do regime militar através do chefe do departamento de segurança industrial, Ademar Rudge, oficial das Forças Armadas. Consta no relatório que as trocas de informações levaram à prisão ao menos sete empregados da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Fonte: Procuradoria homologa acordo dereparação de R$ 36 milhões com a Volkse põe fim a inquérito por apoio da multialemã aos porões da ditadura. Rayssa Motta. 15 de janeiro de 2021. Estado de S Paulo
19 janeiro 2021
Amortização nas empresas de petróleo
O ano de 2020 foi horrível para as empresas de petróleo. Segundo o The Wall Street Journal, o setor já registrou 145 bilhões de dólares nos três primeiros trimestres de 2020, considerando as empresas da América do Norte e da Europa. Isto equivale a 10% do valor de mercado das empresas.
O ano de 2020 foi rigoroso pela queda no preço do petróleo.
A reavaliação do setor neste ano está entre as mais rígidas de todos os tempos, porque as empresas de petróleo também enfrentam incertezas de longo prazo sobre ademanda futura por seus principais produtos em meio ao aumento dos carros elétricos, aproliferação de energia renovável e a crescente preocupação com o impacto duradouro das mudanças climáticas.
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Por que os auditores não encontram fraude?
Mesmo com toda a publicidade em torno da questão da fraude financeira nos últimos vinte anos, a maioria dos auditores, investidores e outros profissionais ainda não “entende” quando se trata de detectar fraudes. As auditorias de demonstrações financeiras tradicionais nunca foram projetadas para detectar fraudes.
A auditoria é simplesmente um processo pelo qual os auditores verificam a matemática da empresa e a aplicação das regras contábeis. Os auditores examinam uma porcentagem muito pequena das transações. A fraude raramente é detectada por auditorias de demonstrações financeiras porque não têm o objetivo de fazê-lo. No entanto, às vezes a fraude é detectada pelos auditores, e eles podem aumentar suas chances de encontrá-la se quiserem. Existem oportunidades durante cada auditoria de demonstração financeira para encontrar fraudes, se apenas os auditores fossem diligentes. Um dos segredos para se tornar melhor na detecção de fraudes é entender por que os auditores com tanta frequência não as encontram.
A questão de encontrar fraudes em auditorias é importante não apenas para os auditores. Os investidores e outros profissionais que usam as demonstrações financeiras precisam entender os riscos de fraude para avaliar plenamente o quão não confiáveis as demonstrações financeiras podem ser quando se trata de fraude.
O resultado final é que aqueles que estão confiantes de que as auditorias encontrarão fraudes estão se enganando. Nada poderia estar mais longe da verdade. A ocorrência ocasional de auditores detectando fraude durante uma auditoria de demonstração financeira não significa que as auditorias sejam eficazes na detecção de fraude.
Este artigo discute os nove motivos mais comuns pelos quais os auditores deixam de perceber a fraude que está ocorrendo bem debaixo de seus narizes. Ao destacar esses problemas, os profissionais podem entender melhor os problemas relacionados à detecção de fraudes e evitar uma falsa sensação de segurança ao examinar as demonstrações financeiras auditadas.
Confiança nos controles internos
A profundidade dos testes de auditoria e os tipos de procedimentos usados são fortemente influenciados pela avaliação dos controles internos pelos auditores. Eles estão observando as políticas e procedimentos da empresa que ajudam a garantir demonstrações financeiras precisas. Os auditores determinam se esses controles existem, são adequados e são aplicados.
Com base em suas avaliações do risco e dos controles, os auditores planejarão seu trabalho de auditoria. É fácil ver que quaisquer avaliações incorretas nesta fase do processo podem ser prejudiciais para toda a auditoria. Se os auditores não estiverem totalmente cientes dos riscos, eles não podem planejar seu trabalho para lidar com esses riscos.
Os clientes de auditoria geralmente são culpados de ter controles internos deficientes que nunca são corrigidos. Os auditores dizem aos clientes que há um problema, mas eles continuam os negócios normalmente. Quando a auditoria do ano seguinte começa, os auditores descobrem que nenhum dos problemas foi corrigido. Eles ajustam o escopo de seu trabalho de auditoria de acordo? Frequentemente, a resposta é não e, portanto, ano após ano, existem deficiências que não são tratadas com o aumento dos procedimentos de auditoria.
Os previsíveis testes de auditoria
Os auditores são notórios por repetir seus testes ano a ano, concentrando-se nas mesmas contas ou tipos de transações e usando limites em dólares com os quais os clientes de auditoria estão intimamente familiarizados. Quando os funcionários sabem exatamente quais riscos e contas os auditores visam, a eficácia dos testes de auditoria diminui.
O elemento surpresa é bastante eficaz na prevenção e descoberta de fraudes, mas os auditores não costumam empregar essa técnica. A surpresa ajuda a prevenir fraudes porque os funcionários nunca têm certeza se certas contas ou transações podem ser selecionadas para teste. É menos provável que se envolvam em fraudes porque não sabem se os auditores estarão olhando.
Mas se o cliente sabe onde os auditores estão focalizando sua atenção, é fácil fabricar documentos, fazer lançamentos estratégicos no diário ou adulterar os registros contábeis. Pense em como é simples para uma empresa mover estoque de um local para outro, se souber com antecedência que local os auditores irão visitar. Dentro de cada local, considere como é fácil organizar o estoque para fazê-lo parecer que há mais itens disponíveis do que realmente existe, especialmente se a administração souber quais tipos de itens os auditores provavelmente contarão ou examinarão.
Os auditores tendem a ser complacentes em seus testes. É muito fácil testar os mesmos itens da mesma maneira de ano para ano. E como os novos auditores são ensinados a fazer auditoria? Normalmente, eles são orientados a examinar os papéis de trabalho do ano anterior e fazer os mesmos procedimentos na auditoria do ano corrente. Qual a melhor maneira de garantir que o cliente nunca se surpreenda com os procedimentos de auditoria?
A amostragem não é suficiente
O coração de uma auditoria é testar as transações. Os auditores selecionam uma amostra e testam essas transações para garantir que foram devidamente registradas no sistema de contabilidade. A limitação inerente à amostragem é que todas as transações não são testadas. E, claro, não seria possível para os auditores examinar todas as transações que uma empresa realiza em um ano.
Sempre há uma boa chance de que uma transação importante não faça parte da amostra dos auditores e, portanto, não seja examinada. Muitas transações não são testadas pelos auditores, e isso significa que há uma boa chance de que um item fraudulento não faça parte do teste.
Trabalhando em torno do escopo e da materialidade
Para piorar as coisas, a administração sabe que os auditores geralmente escolhem transações em dólares maiores para testar. Ao testar quantias maiores, os auditores obtêm maior “cobertura” e podem testar uma porcentagem maior dos dólares. Isso cria uma grande oportunidade para alguém cometer uma fraude. Se ela precisar manipular os registros contábeis, vários lançamentos menores (em vez de um grande lançamento) provavelmente nunca serão examinados pelos auditores.
Os auditores estão constantemente observando os números em termos de escopo e materialidade. Valores menores, certos ou errados, não significam muito em termos do quadro financeiro mais amplo de uma empresa. O que os auditores muitas vezes esquecem, porém, é que a questão da materialidade não se limita apenas à magnitude dos dólares. Embora um pequeno número possa não significar muito para a empresa como um todo, os fatos que envolvem esse pequeno número podem torná-lo relevante.
Considere um roubo relativamente pequeno pelo CFO da empresa. Embora o total de dólares possa cair bem abaixo do que normalmente se considera “material” para a empresa, as circunstâncias do roubo o tornam material. O fato de o principal profissional de finanças da empresa estar roubando repentinamente torna a pequena quantia em dólares muito importante e, portanto, material.
Auditores inexperientes
O modelo de negócios atual para firmas de auditoria (e aquele que existe há décadas) depende de auditores relativamente inexperientes para fazer a maior parte do trabalho de campo. Embora isso possa fazer sentido do ponto de vista econômico em termos de controle dos custos das auditorias, é uma prática terrível do ponto de vista do controle de qualidade.
Os auditores jovens geralmente não sabem o que fazer e geralmente relutam em fazer perguntas difíceis ou desafiar as afirmações da administração. Eles são facilmente manipulados, influenciados e enganados por causa de sua inexperiência. Frequentemente, eles não compreendem verdadeiramente os negócios e as demonstrações financeiras, pois essas coisas levam tempo para serem aprendidas no mundo real.
A maioria dos auditores carece de um conhecimento profundo dos esquemas de fraude e como eles são executados. Se solicitados a explicar um esquema de fraude comum, como ida e volta ou bloqueio de canais, a maioria dos auditores inexperientes ficará sem fala. Simplificando, eles não são adeptos de reconhecer transações suspeitas e documentação fraudulenta.
Aqueles que têm conhecimento para identificar problemas e fazer perguntas difíceis passam muito pouco tempo no campo. Eles estão mais bem equipados para focar em fraudes, mas fornecem pouca supervisão prática dos auditores inexperientes.
Ambiente de negócios dinâmicos
Já se foi o tempo em que os negócios de uma empresa mudavam pouco de ano para ano. Fusões e aquisições, desenvolvimento de novos produtos e serviços e planejamento estratégico constante significam que os negócios estão mudando mais rápido do que nunca. Comparar os resultados financeiros de uma empresa de ano para ano torna-se quase impossível por causa de todas as mudanças.
No entanto, a auditoria não mudou muito ao longo dos anos. As empresas são mais difíceis de auditar e os riscos de fraude estão mudando, mas o processo de auditoria demorou para ser atualizado. A abordagem certa de auditoria, 20 anos atrás, ainda não é a abordagem certa hoje, mas muitas facetas das auditorias são basicamente as mesmas.
Os perpetradores de fraude sabem que os auditores não conseguem acompanhar todas as mudanças em seus negócios e podem facilmente explorar isso. Os auditores estão à mercê da gerência e só descobrem as coisas se fizerem as perguntas certas que obtenham respostas verdadeiras. É fácil ver como os auditores podem ser enganados por causa de sua falta de conhecimento.
Acompanhamento inadequado
O que acontece quando os auditores encontram uma “exceção” em seus testes de auditoria? Quando a exceção é considerada séria o suficiente para ação? O trabalho de auditoria após a descoberta de uma exceção pode às vezes ser inadequado. É difícil dizer quantos testes adicionais devem ser feitos depois que um problema é encontrado nos registros contábeis.
Um dos casos mais básicos de acompanhamento inadequado ocorre quando o cliente de auditoria é incapaz de produzir documentação para apoiar uma transação. Quem pode dizer que a documentação ausente é simplesmente um erro, em vez de algo mais sinistro? Os auditores geralmente são rápidos em selecionar transações alternativas para teste quando a documentação não pode ser localizada, mas isso cria uma oportunidade para o perpetrador de fraude.
Os gerentes e os executivos envolvidos em fraudes costumam usar a engenharia social para manipular os auditores. Eles podem parecer cooperativos e até mesmo concordar com os ajustes que os auditores possam sugerir, especialmente se essa cooperação desviar o foco de outras áreas das demonstrações financeiras que contenham evidências de fraude.
Agulha no Palheiro
Quando se trata de fraude, a administração tem uma vantagem significativa sobre os auditores. A gerência sabe exatamente onde a fraude está escondida, enquanto os auditores ficam procurando por uma “agulha no palheiro”. Os auditores não têm ideia se ocorreu fraude, que tipo de fraude pode ter sido perpetrada ou onde está oculta nas demonstrações financeiras.
As probabilidades são pesadas em favor da pessoa que cometeu a fraude. Já é ruim o suficiente que os auditores não saibam o que devem procurar, mas as coisas ficam ainda piores se o perpetrador levar em consideração as limitações de auditoria acima.
Por exemplo, é bastante fácil esconder fraude em uma conta com um grande volume de pequenas transações. O que acontece se o auditor tiver a sorte de descobrir uma dessas transações fraudulentas? Quem pode dizer que pode ser um erro honesto? O auditor pode convencer-se a não fazer mais perguntas.
Uso de estimativas
As partes críticas das demonstrações financeiras de uma empresa geralmente baseiam-se no julgamento da administração, que deve usar seu conhecimento do negócio para fazer estimativas. Infelizmente, o julgamento e as estimativas da administração são difíceis de auditar. Por exemplo, a empresa pode precisar fazer estimativas relacionadas aos custos de prestação de serviços a clientes que compraram itens com garantia. Será difícil para o auditor avaliar essas estimativas, pois geralmente eles não têm um conhecimento profundo do negócio e das questões de garantia.
Os auditores estão à mercê da gestão, detentores de todas as informações. A administração pode estar ciente das mudanças de negócios que invalidam os métodos históricos de estimativa de certos itens, mas a menos que informe aos auditores sobre essas mudanças, os auditores provavelmente não estarão cientes delas.
Tornando as auditorias mais eficazes
Os usuários de demonstrações financeiras precisam entender as limitações inerentes ao processo de auditoria. As auditorias nunca foram projetadas para detectar fraude e, a menos que haja uma grande mudança no negócio de auditoria, elas nunca irão detectar fraude em uma taxa significativa.
Ajudar os auditores a compreenderem melhor o negócio que estão auditando é a chave para realizar auditorias mais eficazes. Auditores mais jovens precisam de melhor treinamento e supervisão, e o trabalho em sala de aula não pode substituir a experiência real no campo.
As auditorias devem usar técnicas básicas como o elemento surpresa. Os auditores devem variar seus procedimentos e escopos de ano para ano, e procedimentos surpresa devem ser conduzidos ao longo do ano, bem como durante a auditoria. É necessário gastar mais tempo avaliando como a fraude pode ser cometida na empresa.
Aqueles que sabem mais sobre negócios e demonstrações financeiras precisam se envolver mais no campo para ajudar os auditores a aprender mais. Auditores inexperientes precisam do suporte de auditores mais experientes para que possam fazer perguntas difíceis com segurança e questionar métodos ou transações suspeitas.
As auditorias podem ser mais eficazes quando se trata de encontrar fraudes, mas haverá um custo para isso. O modelo financeiro atual para firmas de auditoria não será capaz de apoiar as sugestões acima. Haverá necessidade de mudanças generalizadas no negócio de auditoria, se algum dia esperamos que as auditorias encontrem mais fraudes.
Eu acrescentaria mais dois pontos: (a) muitas vezes a empresa de auditoria está muito mais interessada em vender outro negócio vantajoso (consultoria); (b) a justificativa de que a auditoria não foi feita para detectar fraude faz com que o auditor deixe de considerar este aspecto como crucial no seu trabalho.
18 janeiro 2021
Qualidade da Contabilidade
O que faz a contabilidade ser de boa qualidade? Um possível resposta a seguir:
Em 1939 a Revista Cruzeiro publicou um conto de Bernard Gervaise denominado "O bilhete 77.372". A história é a seguinte: em uma repartição, os funcionários se unem para comprar um bilhete de loteria. O responsável por arrecadar o dinheiro é Martin, o caixa-contador. Com o tempo, as pessoas deixam de comprar sua parcela e Martin termina por assumir a parte da cota do desistente. Até que todos deixam de apostar e o Martin tem que pagar o bilhete.
Um dia, Martin chega ao escritório e anuncia que o bilhete 77.372 tinha vencido o prêmio de 1 milhão de francos. A notícia espalha e vários tentam ficar com uma parte da sorte de Martin.
Nesta occasião, ai!, a conducta de Martin, o caixa-contador, foi motivo de grande assombro para todos aqueles que julgavam conhecer a fundo o caracter desse excellente companheiro. O que se viu foi elle rechassar com igual firmeza todas as solicitações, inclusive a da encantadora dactylographa.
Martin solicita uma entrevista com o patrão. Na entrevista, Martin supreende e afirma que irá reembolsar seu chefe. O chefe fica pasmo, pois Martin não lhe devia nenhum dinheiro.
- Mas ... o senhor me deve alguma coisa?
- Sim, senhor; devo-lhe uma centena de milhar de francos, pouco mais ou menos
O patrão cravou um olhar inquieto no seu fiel collaborador.
- O senhor está louco, meu caro amigo - lhe disse - Esta sorte inesperada transtornou-lhe a cabeça... Cem mil francos! Donde os teria tirado?
- Da caixa, meu caro senhor, da caixa - respondeu Martin serenamente
O senho Mercerelle esteve a ponto de estourar.
- O senhor tirou cem mil francos da caixa do meu estabelecimento? O senhor?
- Oh! Não de uma só vez, é claro. Aos poucos fui retirando o dinheiro. Em dez annos consegui arrancar essa quantia. Foi uma media de dez mil francos por anno.
- E eu que nada percebera de anormal! - gemeu o patrão.
- Isso demonstra, senhor, que minha contabilidade foi executada com perceição. A característica de uma contabilidade bem feita é que ninguem pode entende-la, salvo o seu executor, e ainda assim ! ...
Cliente tem sempre razão?
Um texto da Food and Wine discute os direitos dos clientes em restaurantes e seus efeitos sobre o trabalho no setor de hospitalidade. O texto, de Khushbu Shah, apresenta uma série de exemplos onde os direitos dos clientes fizeram com que o trabalho ficasse insuportável.
A pandemia COVID-19 devastou a indústria , dizimou salários e deixou restaurantes em uma espiral de fechamentos, reaberturas e diretrizes em constante mudança, ao mesmo tempo que expôs os trabalhadores a riscos à saúde. E não há um fim real, ou assistência governamental, à vista. Para piorar as coisas, os direitos do cliente estão em um nível mais alto, de acordo com os vários servidores, maitres, gerentes e proprietários com quem conversei em todo o país.
Os direitos do cliente, ou o que os clientes acreditam que são devidos, há muito tempo são um problema no setor de hospitalidade. Funcionários de restaurantes trocam histórias como veteranos de guerra sobre exigências ridículas, clientes difíceis e gorjetas ruins. Mas a pandemia e o péssimo comportamento do cliente que veio com ela - impaciência em relação aos tempos de espera, xingamentos, frustração com a limitação de lugares e opções de menu e desrespeito aos protocolos de segurança - só serviu para destacar o quão difundido e, francamente, perigoso o problema realmente é.
“Espera-se que forneçamos a eles um serviço completo, mesmo que seja abusivo. Faz-nos sentir que não podemos ter a expectativa de ser tratados como pessoas ”.
Essa questão de direitos está enraizada no ditado popular “O cliente tem sempre razão”, que está no centro da hospitalidade americana. (...)