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Mostrando postagens com marcador risco. Mostrar todas as postagens
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30 dezembro 2023

Preparados para o risco

O livro Preparados para o Risco foi escrito em 2014. Gerd Gigerenzer é um dos grandes nomes na área comportamental e isso aparece claramente na obra. Unindo o seu conhecimento médico, com uma análise estatística e uma sagacidade lógica, Gigerenzer derruba alguns mitos na obra. Apesar de escrito em 2014 e publicado no Brasil em 2022, vale a pena ler o livro. O cientista alemão trabalha com muita informação dos Estados Unidos e da Alemanha para analisar a heurística e a tomada de decisão. Há diversos ensinamentos na obra mas irei limitar em três deles. 


Primeiro, acredite nas regras simples. O livro traduziu o termo para regras de polegar, que são aquelas regras de decisão usadas em situações complexas do tipo não faça investimento naquilo que você não conseguiu entender. A regra, “não invista do que não entende”, para simples demais para ser usada, mas para Gigerenzer, regras simples funcionam na maioria dos casos. É obvio que não existe uma regra que seja infalível e no final da obra Gigerenzer sente esse peso ao propor uma regra: “quanto mais noticiada uma doença, menor o risco para a saúde”. Ele falava da vaca louca, mas seis anos depois a grande notícia da imprensa provou ser muito letal. Nesse ponto, a leiturra da obra A Navalha de Ockham, de McFadden, pode ajudar a entender a posição do autor. 

A segunda regra é “não pergunte ao médico o que ele recomenda, mas o que ele faria se estivesse em seu lugar”. Nesse ponto, a obra traz ensinamentos valiosas sobre saúde, derrubando alguns mitos e apresentando pontos instigantes. De uma maneira geral, médicos não compreendem estatística e são perigosos na gestão de risco. Há uma citação no livro em que é dito se um avião fosse administrado como um hospital, cairia 1 ou 2 aeronaves por dia. Na área de saúde a ausência de seguir um checklist é muito danoso para as pessoas. Tendo uma grande experiência com saúde e risco, Gigerenzer afirma que você deveria pensar duas vezes antes de fazer um exame de prostrata (regra simples: não faça) ou uma tomografia (idem, o risco de contrair cancer é muito elevado e isso não é informado). Uma regra similar que ele anuncia no livro é não pergunte ao garçom o que tem de bom, mas o que ele comeria. 

A terceira regra é semelhante ao que li em um artigo de Tim Harford: se tiver dúvida, jogue uma moeda para decidir. Particularmente eu uso essa regra para decidir qual os livros que adquiri na minha estante eu devo ler. É uma regra simples, mas eu entendo que se comprei o livro é que deve ter algum valor. Então a decisão de leitura por um número aleatório pode ser um critério válido na minha próxima leitura. Espero que essa seja sua próxima leitura, pois você certamente aprenderá algumas coisas interessantes. 

Espero que outros livros do autor sejam traduzidos para língua portuguesa, para que os ensinamentos apresentados possam alcançar um público mais amplo. 

13 junho 2023

Vinte anos de mercado - 2

Usando os dados do mercado entre 2003 a 12 de junho de 2023, eu calculei o risco e o retorno. 

No período de 2003 a 2023 o índice teve uma varição diária de 0,058%. Mas o desvio padrão desta variações ficou em 0,0152. Há um índice na estatística, o Coeficiente de Variação, que relaciona a dispersão com a média, sendo uma forma fácil de verificar se a variação dos valores durante um período de tempo foi grande ou não. Geralmente os livros de estatísticas dizem que o CV devem ser de 0,3 ou menor. Dividindo 0,0152 por 0,00058 nós temos um valor de 26,25. Ou seja, a volatilidade do índice é muito, muito alta. 

Também fiz o modelo para os índices DowJones, o câmbio (euro e real) e as cotações de quatro empresas (Vale, Petrobrás, Ambev e Eletrobras). 

O aspecto que gostaria de destacar aqui é a relação entre as médias e o desvio. Há um mantra em finanças que relaciona o risco e o retorno. Quanto maior o risco, maior o retorn. Se o desvio é uma medida de risco, pois expressa a volatilidade, a média seria a medida do retorno a longo prazo. Veja que a primeira linha mostra o câmbio, com uma média de 0,01% e um desvio de 0,010. A última linha tem a ação da Vale, com média muito maior, de 0,06%, e desvio de 0,026, também maior. Maior risco, maior retorno. 

07 maio 2023

Guia de Risco de Fraude

O COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission) e a ACFE (Association of Certified Fraud Examiners) atualizaram o guia de gerenciamento de risco de fraude. A atualização do guia é importante porque as empresas enfrentam atualmente um aumento nos riscos de fraude decorrentes da pandemia de COVID-19.


O guia tem como objetivo auxiliar as empresas no desenvolvimento e implementação de um sistema eficaz de gerenciamento de risco de fraude. As atualizações incluem novos exemplos de riscos de fraude e medidas preventivas, além de uma maior ênfase na importância do monitoramento contínuo do sistema de gerenciamento de risco de fraude.

O guia enfatiza a importância de um sistema de gerenciamento de risco de fraude que envolva toda a empresa, com participação ativa da administração e de todos os funcionários. Destaca a importância de medidas preventivas, como a implementação de controles internos fortes e a adoção de uma cultura de ética e integridade, que pode ajudar a prevenir fraudes antes que elas ocorram. E enfatiza a necessidade de um monitoramento contínuo do sistema de gerenciamento de risco de fraude, que deve ser revisado e atualizado regularmente para garantir sua eficácia.

Fonte: aqui. Foto: Landon Arnold

05 maio 2023

Risco da Biodiversidade

 Neste texto, exploramos os efeitos dos riscos físicos e regulatórios relacionados à perda de biodiversidade na atividade econômica e nos valores dos ativos. Primeiramente, desenvolvemos uma medida baseada em notícias de risco de biodiversidade agregada e analisamos como ela varia ao longo do tempo. Também construímos e divulgamos publicamente várias medidas de exposição ao risco de biodiversidade em nível de empresa, com base em análises textuais das declarações 10-K das empresas, uma grande pesquisa de profissionais financeiros, reguladores e acadêmicos, e as participações de fundos relacionados à biodiversidade. As exposições ao risco de biodiversidade variam substancialmente entre setores de uma maneira economicamente sensata e distinta das exposições ao risco climático. Descobrimos evidências de que os riscos de biodiversidade já afetam os preços das ações: retornos de portfólios que são classificados de acordo com nossas medidas de exposição ao risco de biodiversidade covariam positivamente com inovações em risco de biodiversidade agregado. No entanto, nossa pesquisa indica que os participantes do mercado não percebem que a precificação atual dos riscos de biodiversidade seja adequada.

O artigo pode ser encontrado aqui. O gráfico a seguir mostra os setores com maiores riscos:


Veja que o risco poderia ser considerado na análise das empresas de auditoria, nos setores internos de governança e nos gestores de carteiras de investimentos. 


01 março 2023

Educação Financeira: aprendendo sobre o risco em um parquinho

Eis uma ideia controversa: em lugar de parque infantil "seguro", não seria interessante para o aprendizado das crianças frequentar um espaço de diversão com aparência perigosa? Seria uma forma de permitir que a criança saiba os desafios que terá que enfrentar e achar uma forma de gerenciar o risco. 

Em Melbourne um playground foi construído com enormes pedras:


O playground [acima] é a mais recente criação de Mike Hewson, um artista-engenheiro da Nova Zelândia, que encontrou uma certa fama como designer de espaços de jogos de aparência extremamente perigosa para crianças. Ele agora construiu outros três playgrounds, além do de Southbank, todos na Austrália e todos com estruturas peculiares e extravagantes, que convidam à exploração e ao risco (calculado). (...)

Mas os perigos que espreitam nas criações de Hewson são principalmente ilusões. Os playgrounds estão em conformidade com os regulamentos de segurança da Austrália, e o histórico de engenharia de Hewson significa que, embora as estruturas possam parecer prontas para desmoronar, rolar para longe ou cair sobre alguém, elas estão firmemente instaladas. "Os bonecos não são realmente bonecos", diz ele, "e embora as coisas pareçam instáveis ou amarradas, na realidade elas são soldadas, embutidas ou adicionadas quimicamente à pedra."

08 abril 2022

Divulgando incerteza na contabilidade


Jessica Hullman faz algumas recomendações sobre a comunicação da incerteza por parte do governo. Hullman está falando de informações como o número de mortos pela pandemia, as taxas de desemprego, o PIB e outras informações. Mas muitos comentários são válidos para a contabilidade.

Quando o profissional contábil divulga o valor do ativo, da receita, do resultado e de outros elementos contábeis, o número geralmente é um valor único. Entretanto, muitos valores poderiam ser evidenciados no seu intervalo. O valor de caixa e bancos é um número único, mas a estimativa dos créditos de clientes que podem ser recebidos irá variar dentro de um intervalo. Haveria uma necessidade de comunicar a incerteza no número.

(Não irei entrar em discussão sobre a distinção entre incerteza e risco. Conforme a tradição, incerteza está vinculado àquilo que não sabemos e risco a probabilidade, conhecida, de ganhar ou perder. Um lançamento de uma moeda tem 50% de chance de ser cara e 50% de dar coroa e apostar em cara tem um risco conhecido de perder ou ganhar)

Hullman afirma que uma das várias razões pelas quais se têm o receio de expressar a incerteza é que a pessoa comum não saberá o que fazer com a informação. Penso que o mesmo se aplica para a contabilidade. Já existem dúvidas sobre a qualidade da contabilidade das empresas (vide, por exemplo, a crítica de Lev) e a divulgação da incerteza pode gerar preocupações sobre a falibilidade da contabilidade e do grau de erro existente na informação divulgada. Talvez um usuário consciente saiba que os valores contábeis não são “exatos”, mas prefere ignorar tal problema. Os meteorologistas já lidam com este problema melhor do que a contabilidade. Mas a meteorologia possui algumas vantagens sobre a contabilidade: o número de incerteza e previsões é suficientemente grande para ajustar seus modelos preditivo e reduzindo o viés do conservadorismo , muitas decisões são binárias e você tem um output bastante claro (choveu ou não choveu, ao contrário da contabilidade, que geralmente não tem isto).

Hullman não esquece do desafio da comunicação. Em alguns casos, esta incerteza é comunicada através de texto, como ocorre nas notas explicativas. Mas há alternativas disponíveis, como comunicar intervalo mais provável dos valores. Isto é um problema realmente, já que muita comunicação na contabilidade é, até certo ponto, “vazia”.

Talvez seja possível começar com algum item. Por exemplo, o percentual de clientes que não irão efetuar o pagamento. Isto é uma informação até certo ponto binária, algo que desejamos para melhor calibrar nossos modelos preditivos, e permite um feedback mais persistente, mais próximo da previsão de chuva da meteorologia.

(A questão do meteorologia está bem discutida no livro O Sinal e o Ruído. Acabo de perceber que nunca fizemos uma resenha deste livro de Nate Silver)

Foto: Michael Shannon

13 outubro 2021

Risco Financeiro Climático é uma bobagem

O texto a seguir é de John Cochrane, de julho de 2021, com observações pertinentes sobre o risco climático.


A ideia de que as mudanças climáticas representam uma ameaça ao sistema financeiro é absurda, até porque todos já sabem que o aquecimento global está acontecendo e que os combustíveis fósseis estão sendo eliminados. O novo impulso para a regulamentação financeira relacionada ao clima não é realmente sobre risco; trata-se de uma agenda política.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve, a Securities and Exchange Commission e o Departamento do Tesouro estão se preparando para incorporar a política climática à regulamentação financeira dos EUA, seguindo etapas ainda mais audaciosas na Europa. A justificativa é que o "risco climático" representa um perigo para o sistema financeiro. Mas essa afirmação é absurda. A regulamentação financeira está sendo usada para contrabandear políticas climáticas que, de outra forma, seriam rejeitadas como impopulares ou ineficazes.

"Clima" significa a distribuição de probabilidade do clima - a variedade de condições climáticas potenciais e eventos, juntamente com suas probabilidades associadas. "Risco" significa o inesperado, não as mudanças que todos sabem que estão em andamento. E "risco financeiro sistêmico" significa a possibilidade de todo o sistema financeiro derreter, como quase aconteceu em 2008. Isso não significa que alguém, em algum lugar, possa perder dinheiro porque algum preço dos ativos cai, embora os banqueiros centrais estejam aumentando rapidamente sua competência nessa direção.

Em linguagem simples, então, um “risco climático para o sistema financeiro” significa uma mudança repentina, inesperada, grande e generalizada na distribuição de probabilidade do clima, suficiente para causar perdas que explodem através do patrimônio e amortizações de dívida de longo prazo, provocando uma execução em todo o sistema de dívida de curto prazo. Isso significa o horizonte de cinco ou no máximo dez anos em que os reguladores podem começar a avaliar os riscos nos balanços das instituições financeiras. Os empréstimos para 2100 ainda não foram feitos.

Esse evento está fora de qualquer ciência climática. Furacões, ondas de calor, secas e incêndios nunca chegaram perto de causar crises financeiras sistêmicas, e não há possibilidade cientificamente validada de que sua frequência e gravidade mudem tão drasticamente para alterar esse fato nos próximos dez anos. Nossa economia moderna, diversificada, industrializada e orientada a serviços não é tão afetada pelo clima - mesmo por eventos de manchete. As empresas e as pessoas ainda estão se mudando do frio Rust Belt para o Texas e a Flórida, propensos a furacões.

Se os reguladores estão preocupados, de maneira imparcial, com os riscos prontos para uso que colocam em risco o sistema financeiro, a lista deve incluir guerras, pandemias, ataques cibernéticos, crises de dívida soberana, colapsos políticos e até ataques de asteroides. Todos, exceto os últimos, são mais propensos que o risco climático. E se estamos preocupados com inundações e custos de incêndio, talvez devêssemos parar de subsidiar a construção e reconstrução em áreas inundáveis e propensas a incêndios.

O risco regulatório climático é um pouco mais plausível. Os reguladores ambientais podem se tornar tão incompetentes que danificam a economia a ponto de criar uma corrida sistêmica. Mas esse cenário parece absurdo até para mim. Novamente, porém, se a questão é de risco regulatório, os reguladores imparcial devem exigir um reconhecimento mais amplo todos riscos políticos e regulatórios. Entre as novas interpretações do governo Biden da lei antitruste, as políticas comerciais do governo anterior e o desejo político generalizado de "quebrar a grande tecnologia", não há falta de perigo regulatório.

Certamente, não é impossível que algum evento terrível relacionado ao clima nos próximos dez anos possa provocar uma corrida sistêmica, embora nada na ciência ou na economia atual descreva esse evento. Mas se esse é o medo, a única maneira lógica de proteger o sistema financeiro é aumentando drasticamente a quantidade de capital social, que protege o sistema financeiro contra qualquer tipo de risco. A medição de risco e a regulamentação tecnocrática dos investimentos climáticos, por definição, não podem proteger contra incógnitas desconhecidas ou “pontos de inflexão não modelados”."

E quanto aos "riscos de transição" e "ativos ociosos"? As empresas de petróleo e carvão não perderão valor na mudança para energia de baixo carbono? De fato eles vão. Mas todo mundo já sabe disso. As empresas de petróleo e gás perderão mais valor apenas se a transição ocorrer mais rapidamente do que o esperado. E os ativos herdados de combustíveis fósseis não são financiados por dívidas de curto prazo, como as hipotecas ocorreram em 2008, portanto as perdas por seus acionistas e detentores de títulos não colocam em risco o sistema financeiro. "Estabilidade financeira" não significa que nenhum investidor jamais perca dinheiro.

Além disso, os combustíveis fósseis sempre foram arriscados. Os preços do petróleo ficaram negativos no ano passado, sem consequências financeiras mais amplas. O carvão e seus acionistas já foram martelados pela regulamentação climática, sem um indício de crise financeira.

De maneira mais ampla, na história das transições tecnológicas, os problemas financeiros nunca vieram de indústrias em declínio. O crash da bolsa de 2000 não foi causado por perdas na máquina de escrever, filme, telégrafo e indústrias de régua de cálculo. Foram as empresas de tecnologia um pouco à frente de seu tempo que faliram. Da mesma forma, a quebra do mercado de ações em 1929 não foi causada pela queda na demanda por carruagens puxadas por cavalos. Foram as novas indústrias de rádio, cinema, automóvel e eletrodomésticos que entraram em colapso.

Se alguém está preocupado com os riscos financeiros associados à transição energética, novos queridinhos com valor astronômico, como Tesla, são o perigo. O maior perigo financeiro é uma bolha verde, alimentada como booms anteriores por subsídios do governo e incentivo ao banco central. Os passageiros altos de hoje são vulneráveis a mudanças de caprichos políticos e novas e melhores tecnologias. Se os créditos regulatórios secarem ou se as células a combustível de hidrogênio deslocarem as baterias, a Tesla está com problemas. No entanto, nossos reguladores desejam apenas incentivar os investidores a se amontoarem.

A regulamentação financeira climática é uma resposta em busca de uma pergunta. O objetivo é impor um conjunto específico de políticas que não podem ser aprovadas por meio de legislações democráticas regulares ou de legislações ambientais regulares, o que requer pelo menos uma pretensão de análise de custo-benefício.

Essas políticas incluem o desembolso de combustíveis fósseis antes da substituição, subsidiando carros elétricos movidos a bateria, trens, moinhos de vento, energia fotovoltaica - mas não nuclear, captura de carbono, hidrogênio, gás natural, geoengenharia ou outras tecnologias promissoras. Mas, como os reguladores financeiros não têm permissão para decidir para onde o investimento deve ir e o que deve estar sem fundos, o "risco climático para o sistema financeiro" é sonhado e repetido até que as pessoas acreditem, a fim de incluir essas políticas climáticas nos reguladores financeiros. mandatos legais limitados.

Mudança climática e estabilidade financeira são problemas prementes. Eles exigem respostas políticas coerentes, inteligentes e cientificamente válidas e prontamente. Mas a regulamentação financeira do clima não ajudará o clima, politizará ainda mais os bancos centrais e destruirá sua preciosa independência, ao mesmo tempo que forçar as empresas financeiras a criar avaliações de risco climático absurdamente fictícias arruinará a regulamentação financeira. A próxima crise virá de alguma outra fonte. E nossos reguladores obcecados pelo clima mais uma vez falharão totalmente em prever isso - assim como uma década de testadores de estresse nunca considerou a possibilidade de uma pandemia.

(grifo no original. Fonte: Project Syndicate, via aqui)

31 janeiro 2021

Riscos Globais


Em Factfulness, escrito em 2017, Hans Rosling tem uma visão bem otimista/realista do mundo. Mas no final ele alerta para os cinco riscos globais com os quais devemos nos preocupar. E o primeiro da lista é:

Pandemia global

(...) Respeitados especialistas em doenças infecciosas concordam que um novo e terrível tipo de gripe ainda é a mais perigosa ameaça à saúde global. A razão: a rota de transmissão da gripe. Voa pelo ar em gotículas. Uma pessoa pode entrar num vagão de metrô e infectar todos dentro sem que os passageiros se toque, ou sequer encostem no mesmo lugar. Uma doença transportada pelo ar como a gripe, com a capacidade de se espalhar rapidamente, constitui uma ameaça à humanidade maior do que enfermidades como ebola ou o HIV. Para dizer o mínimo, vale a pena nos proteger de todas as maneiras possíveis de um vírus que é altamente transmissível e ignora todo tipo de defesa. 

09 setembro 2020

IFRS 9 e a recessão


 

Eis um trecho de um artigo da PwC (grifo do blog):

Até agora, bilhões foram contabilizados em provisões incrementais, enquanto a inadimplência ainda está para aumentar. Em muitos casos, a inadimplência nem mesmo ocorreu graças aos feriados de pagamento e ao enorme apoio governamental. Tão enorme, na verdade, que alguns indivíduos se descobriram melhor do que antes. Para os bancos, isso significa algumas coisas. Em primeiro lugar, é provável que haja perdas. As provisões retiradas serão consumidas à medida que as inadimplências atrasadas se concretizarem. Em segundo lugar, o risco continuará a ser muito difícil de medir. Simplificando, as regras normais não se aplicam. Estar desempregado ou não lucrativo geralmente reduz a capacidade de pagamento, o que leva à inadimplência e, em última instância, à inadimplência - não é verdade (imediatamente, pelo menos) quando o dinheiro está de graça e os reembolsos estão em espera.

(Imagem: aqui)

13 junho 2020

Amor e Risco

Esta pesquisa é muito interessante. Estava guardando para um postagem futura e o dia dos namorados (ontem) é uma boa desculpa. Segundo Jordan Neyland, da George Mason University, o fato de um CEO divorciar pode ter impacto no risco da empresa e na compensação paga. O título do artigo é bem sugestivo: Love or Money: The Effect of CEO diverce on Firm Risk and Compensation.

Neyland encontrou que há uma redução no risco da empresa no ano em que o CEO divorcia. Esta menor volatilidade também está associada a incentivos arriscados. Nesta situação, o CEO também toma decisões diferenciada de investimentos para a empresa, em especial àquelas com problemas de caixa e diversificação.

O artigo foi publicado no Journal of Corporate Finance de 2020.

27 maio 2020

Apetite ao risco

O COSO publicou orientações sobre o "apetite ao risco" e como este assunto deve ser considerado no processo de tomada de decisão. Segundo o COSO, o apetite ao risco não é separado de outras atividades da organização, sendo diferente de tolerância ao risco. Este conceito pode ser aplicado a qualquer tipo de entidade, em especial o setor financeiro (bancos, por exemplo).

O documento pode ser encontrado aqui (via aqui)

02 abril 2020

Riscos da Humanidade

SlatestarCodex faz uma análise de um livro chamado The Precipice, escrito pelo professor de filosofia de Oxford Toby Ord. O livro fala sobre o futuro da humanidade, diante de possíveis desastres. Ord considera que a chances da humanidade acabar diante de uma guerra nuclear é de 1 para mil, o que não deixa de ser surpresa. Afinal já escutamos falar tanto da existência de bombas capazes de destruir várias vezes a Terra.

O interessante é que o livro foi lançado agora, mas escrito muitos meses antes do Covid-19. E ele analisa a chance de uma pandemia natural (1 e 10 mil) ou criada (1 em 30). A chance de a humanidade acabar por conta da Inteligência Artificial (1 em 10) e assim por diante.

Tudo isto somado, segundo Ord, nossas chances de sobrevivência seriam de 5 para 6.


24 setembro 2018

Risco e Retorno em Criptomoeda

Estabelecemos que a relação risco-retorno das criptomoedas (Bitcoin, Ripple e Ethereum) é diferente das ações, moedas e metais preciosos. As criptomoedas não têm a exposição ao mercado de ações e a fatores macroeconômicos. Elas também não têm exposição aos retornos das moedas e commodities. Por outro lado, mostramos que os retornos da criptomoeda podem ser previstos por fatores específicos dos mercados de criptomoedas. Especificamente, determinamos que há um forte efeito momentum na série de tempo e que os proxies para a atenção do investidor preveem fortemente os retornos da criptomoeda. Finalmente, criamos um índice de exposições a moedas criptográficas de 354 indústrias nos EUA e 137 indústrias na China.

Leia o texto completo aqui

25 janeiro 2018

Solvência, Comparabilidade

A noção de solvência de uma instituição financeira é um dos pilares da regulação bancária do mundo atual. Basicamente, isto é derivado do acordo de Basileia II. Este acordo permitiu que os bancos usassem uma abordagem de risco interno para “quantificar seus requisitos de capital de risco”. O acordo de Basileia incluiu uma abordagem simplificada que poderia ser usada por instituições menores.

Ao optar por isto, prejudicou a comparabilidade e incentivou os bancos a usar suas estimativas de maneira favorável. Mais ainda: os índices extraídos desses modelos passaram a depender da origem da instituição. Este debate é importante para a contabilidade não somente pela discussão relacionada com a regulação, mas também pelo fato de que algumas normas contábeis caminham por usar modelos “internos” de risco, o que afetaria a comparabilidade. (Mas ajudaria na relevância e na representação fidedigna?)

Dois pesquisadores fizeram uma análise comparativa do risco na comunidade europeia para tentar verificar se a sede do banco (e a origem da supervisão bancária) afeta o resultado. E a resposta foi positiva, já que as próprias regras internas mudam. Os pesquisadores usaram dados de mais de 130 bancos, de 24 países europeus. E isto tem efeito sobre o risco bancário de cada país:

há diferenças estatisticamente significativas e economicamente importantes relacionadas ao país em que o banco está sediado. Isso fornece evidências de que os padrões são implementados de forma diferente da jurisdição para jurisdiç
ão.

18 janeiro 2018

Evidenciação

Um caso interessante envolvendo a SEC, uma empresa e acionistas que desejam maior transparência aparece aqui.

A empresa AmerisourceBerge atua na área de distribuição farmacêutica. Recentemente a empresa teve que fazer um acordo por não ter um controle efetivo das vendas de substâncias controladas, inclusive opióides, um grupo de medicamentos com efeitos parecidos com o ópio, mas com características químicas diferentes.Além disto, parece existir uma epidemia do consumo desse produto. E algumas pessoas acreditam a evidenciação pode ajudar a reduzir o risco futuro.

Um grupo de investidores propôs votar em uma assembleia sobre estes dois assuntos. O primeiro é maior transparência sobre como a empresa está gerenciando os riscos financeiros e de reputação sobre a epidemia. O segundo assunto é como a empresa lidou com o pagamento do acordo sobre o controle de substâncias feito pelos executivos.

A SEC decidiu que estes dois assuntos devem ser discutidos na reunião anual dos acionistas. O link apresenta mais detalhes sobre o assunto.

25 agosto 2017

Risco do Direito

Uma notícia interessante sobre a justiça de outros países. Joaquín El Chapo Guzmán está sendo julgado nos Estados Unidos. El Chapo (foto ao lado e sua esposa) está tentando contratar alguns advogados privados para ajudar na sua defesa. O valor estimado para a defesa é bastante elevado, já que as acusações são graves.

Os advogados contratados solicitaram ao juiz garantias de que seus honorários não seriam confiscados, antes de aceitarem oficialmente o caso. O receio é que a justiça considere que o dinheiro tenha sido obtido ilegalmente. O juiz da corte federal negou o pedido e considerou que este seria o “risco” de trabalhar para defender El Chapo, acusado de comercializar cocaína, além de outros crimes. Um dos advogados conseguiu livrar da prisão o ex-mafioso Gotti Jr, em 2005.

O julgamento deverá começar em abril de 2018.

06 janeiro 2017

Eleições e mercado

As eleições de 2014 podem ter afetado o risco de mercado de empresas cotadas na bolsa de valores:

O risco oscilou e apresentou comportamento diferente para as empresas, dividindo-as em dois grupos: empresas que o risco aumentou e empresas que o risco diminuiu. Essa oscilação do risco pode ser explicada também pela variação do volume de negócios feitos por estas, pois o volume de negócios dos títulos pode influenciar o preço das transações aumentando ou reduzindo o risco das operações. (...) Entre os setores mais afetados se encontram o setor de mineração, Petróleo e Gás, onde todas as empresas tiveram oscilação no risco. Esse resultado pode também estar relacionado ao caso da Petrobras caracterizado pelas denúncias de corrupção por parte das empreiteiras contratadas e em consequência a operação Lava-jato.

31 maio 2016

Links

Lucros ajustados é sinal de mercado em queda?

A importância da análise de sensibilidade do risco para o Basileia II

Comparabilidade das demonstrações na transição para as normas internacionais no Brasil (via Vladmir)

Artigos inovadores tem impacto no longo prazo (viés contra a novidade na ciência) (Como as agências de fomento usam as citações de curto prazo, a distribuição de recursos prejudica as pesquisas inovadoras)

Nudge: Analisando os pedidos de doações dos candidatos a presidente dos EUA (continua aqui)

11 maio 2016

Gestão de Risco e Governança no Executivo

Saiu no Diário Oficial de hoje a instrução normativa Conjunta de 10 de maio de 2016, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e a Controladoria Geral da União. A norma dispõe sobre “controles internos, gestão de riscos e governança no âmbito do Poder Executivo federal”. No seu capítulo I trata de disposições gerais, incluindo conceitos dos termos usados. O capítulo II é sobre os controles internos da gestão. Segundo a norma, estes controles baseiam-se no gerenciamento de riscos e devem integrar o processo de gestão. Este capítulo também aponta os princípios, os objetivos, estrutura e responsabilidades. O capítulo III trata da gestão de riscos e talvez seja o capítulo mais interessante da instrução. O capítulo seguinte é sobre governança. A seguir, institui o Comitê de Governança, Riscos e Controle em cada órgão e entidade do executivo, com suas competências.

A questão da gestão de risco já tem sido tratada em alguns órgãos públicos por pressão do TCU. Na UnB, por exemplo, existe um relatório de riscos, como ocorre nas principais universidades do mundo. Na UFRJ, na gestão passada, existia uma pro-reitoria de governança, sob direção da professora Aracéli.

O grande problema desta instrução: a data de publicação. Hoje teremos a votação no senado para o afastamento do presidente. Tudo leva a crer que será aprovado com tranquilidade. A publicação no dia de hoje, com a assinatura de dois ministros que estão saindo (fracos politicamente) pode dificultar sua legitimidade.

Um aspecto adicional: será que a gestão de risco e governança é suficiente para barrar as decisões políticas? O empoderamento do Comitê pode ser feito por uma “instrução”?