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14 novembro 2025

Rankings

 Eis alguns rankings interessantes:

Exercitos mais poderosos

  1. Estados Unidos 
  2. Rússia 
  3. China 
  4. Índia 
  5. Coreia do Sul 
  6. Reino Unido 
  7. França 
  8. Japão 
  9. Turquia 
  10. Itália 
  11. Brasil 
  12. Paquistão 
  13. Indonésia 
  14. Alemanha 
  15. Israel 
  16. Irã 
  17. Espanha 
  18. Austrália 
  19. Egito 
  20. Ucrânia

 A Maioria das Pessoas pode ser Confiável (Percentual de resposta):

  1. Dinamarca 
  2. Noruega 
  3. Finlândia 
  4. China 
  5. Suécia 
  6. Islândia 
  7. Suíça 
  8. Países Baixos 
  9. Nova Zelândia 
  10. Áustria

(Nesse ranking, a Dinamarca obteve 74%. O Brasil, somente 7% ou 83o. lugar de 90 países) 

Bandeiras mais reconhecidas

  • Japão — sol vermelho sobre fundo branco 
  • Canadá — folha de bordo vermelha entre barras vermelhas 
  • Reino Unido — cruzes vermelhas e brancas sobre azul 
  • Brasil — verde com losango amarelo e globo azul 
  • Coreia do Sul — yin-yang com trigramas sobre branco 
  • Itália — listras verticais verde, branca e vermelha 
  • França — listras verticais azul, branca e vermelha 
  • Índia — laranja, branco e verde com roda azul 
  • Alemanha — listras horizontais preta, vermelha e dourada 
  • China — vermelho com cinco estrelas amarelas

Total de presos:

  1. China - 1,952 milhão
  2. EUA - 1,726
  3. Brasil - 664 mil
  4. India - 448 mil
  5. Rússia - 356 mil
  6. Turquia - 246 mil
  7. Tailândia - 230 mil 
  8. Indonésia - 199 mil 

(Por habitante, El Salvador é imbatível)

Países que mais usam dinheiro:

1    Myanmar    98% 
2    Etiópia    95% 
3    Gâmbia    95% 
4    Albânia    90% 
5    Camboja    90% 
6    Laos    90% 
7    Líbano    90% 
8    Nepal    90% 
9    Paquistão    90% 
10    Iraque    85% 

Menos usam dinheiro

1. Coréia do Sul

2. Noruega

3. China

4. Islândia

5. Austrália 

Mudança no IAS 21

Do excelente IASPlus:

O International Accounting Standards Board (IASB) emitiu o documento “Translation to a Hyperinflationary Presentation Currency (Amendments to IAS 21)”. As alterações entram em vigor para períodos anuais iniciados em ou após 1º de janeiro de 2027, sendo permitida a aplicação antecipada.

Contexto

Em junho de 2022, o IFRS Interpretations Committee (IFRS IC) discutiu uma consulta sobre o tratamento contábil aplicado por uma controladora cuja moeda funcional é de uma economia hiperinflacionária ao consolidar uma subsidiária cuja moeda funcional pertence a uma economia não hiperinflacionária. Durante a análise, o IFRS IC também identificou um tema relacionado: situações em que uma entidade com moeda funcional não hiperinflacionária apresenta suas demonstrações financeiras em uma moeda de apresentação hiperinflacionária.

O IFRS IC decidiu encaminhar o assunto ao IASB, recomendando o desenvolvimento de uma alteração de escopo limitado que fornecesse um método de conversão adequado para responder tanto à questão original quanto ao tema relacionado. Em julho de 2024, o IASB propôs alterações ao IAS 21 para tratar desses pontos, as quais agora foram finalizadas após a consideração dos comentários recebidos.

Alterações

As alterações introduzidas por Translation to a Hyperinflationary Presentation Currency (Amendments to IAS 21) são as seguintes:

  1. Quando uma entidade converte valores de uma moeda funcional de economia não hiperinflacionária para uma moeda de apresentação de economia hiperinflacionária, ela deve converter esses valores — inclusive valores comparativos — utilizando a taxa de fechamento da data da demonstração da posição financeira mais recente;

  2. Quando a moeda de apresentação da entidade deixa de pertencer a uma economia hiperinflacionária e sua moeda funcional continua sendo de uma economia não hiperinflacionária, a entidade deve aplicar prospectivamente (sem reexpressar valores comparativos) o método atualmente previsto no IAS 21 para tais situações;

  3. A entidade deve divulgar que aplicou esse método, incluindo informações financeiras resumidas sobre suas operações no exterior convertidas conforme o método proposto; também deve divulgar se a economia em questão deixou de ser hiperinflacionária.

Após considerar custos e benefícios esperados, o IASB também decidiu incluir uma exceção ao método de conversão acima (item 1) para entidades que aplicam o IAS 29 e são obrigadas a converter os resultados e a posição financeira de uma operação no exterior conforme as novas alterações.

Data de vigência e transição

As alterações entram em vigor para períodos anuais iniciados em ou após 1º de janeiro de 2027. Devem ser aplicadas retroativamente, com certas disposições transitórias.

(Traduzido pelo GPT) 

Doação ou Investimento:

Eis a notícia: 

A Casa Branca acaba de divulgar sua lista de 37 doadores que estão financiando a ampliação de 300 milhões de dólares do salão de festas de Trump, e ela parece um verdadeiro “quem é quem” do mundo corporativo americano tentando manter-se em boas relações com o presidente.

Segundo a AP, gigantes de tecnologia dominam a lista — Amazon, Apple, Google, Meta, Microsoft — cada uma contribuindo com valores não revelados após anos de disputas regulatórias. O YouTube, do Google, já fez um acordo com Trump no valor de 24,5 milhões de dólares por causa da suspensão de sua conta, sendo que 22 milhões irão para o Trust for the National Mall (que pode ajudar a financiar a construção do salão). Mark Zuckerberg, da Meta, que havia banido Trump após o 6 de janeiro, agora aparece ao lado de bilionários das criptomoedas, como os gêmeos Winklevoss.

Há muitas questões contábeis e financeiras envolvidas aqui. Esse tipo de doação não seria feito a fundo perdido, já que os doadores estariam pensando em recompensas futuras. Provavelmente, a contabilidade registrou o valor como despesa, mas, na essência, talvez se tratasse de um ativo — um investimento.

Imagem aqui 

Sobre os Correios

Há muitos anos, prestei, por duas vezes, serviços aos Correios. Na época, aprendi a admirar a empresa pela eficiência dos serviços e qualidade dos recursos humanos. Por esse motivo, é triste ver a situação da empresa, que busca 10 bilhões de reais de recursos para garantir a continuidade operacional, e tem uma grande desconfiança, não somente das instituições financeiras, mas também da população. 


Mesmo a presença da garantia da União de uma potencial dívida não parece animar os financiadores.  Em maio, os Correios obtiveram um empréstimo de quase dois bilhões com três instituições bancárias. O custo seria de CDI mais 3%, com garantia do Tesouro. Mas o fato de a entidade não ter cumprido algumas cláusulas, fez com que a taxa aumentasse para CDI mais 5%. 

A empresa tem um grande número de precatórios, uma intensa concorrência da iniciativa privada no negócio mais lucrativo - entrega de encomenda, obrigatoriedade de prestar serviço que geram prejuízo, como carta social, e um passado nada aconselhável em termos de relacionamento com o fundo de pensão e má gestão. E para agravar, há diversos exemplos internacionais de correios de outros países que estão "saindo" do mercado. 

Quando se olha para o desempenho operacional, a situação é grave e parece irreversível. 

13 novembro 2025

Imposto Mínimo aumenta os tributos da Meta em quase 16 bilhões de dólares

A visão de uma grande empresa pagando uma alíquota ridícula de imposto de renda parece revoltar muita gente. E as grandes empresas, com empregados especializados em tributos, possuem uma vantagem pois acham brechas nas normas para reduzir sua carga tributária. É por esse motivo que é cômico alguém falar que a alíquota do imposto de renda no Brasil é de 34%. Se uma empresa estiver pagando essa alíquota é que o departamento contábil é ineficiente e incompetente.

O que é válido para o Brasil também é válido para outros países do mundo. As multinacionais usam um grande número de artimanhas para pagar um imposto de renda muito reduzido. E isso é revoltante para algumas pessoas. 


Nos últimos anos, os políticos se juntaram em um esforço de cobrar mais dessas empresas.  A OCDE, uma entidade que agrega algumas dos maiores economias do mundo, instituiu o Pillar Two, um imposto mínimo global de 15% para multinacionais, tentando evitar que uma empresa tenha receita em um país e pague imposto de renda em um paraíso fiscal. O objetivo é equalizar os impostos cobrados entre os países, a partir de uma base padronizada. 

Nos Estados Unidos tem-se o Corporate Alternative Minimum Tax (CAMT), aprovado em 2022, no governo Biden. Nesse caso, a alíquota incide sobre o lucro contábil, apurado conforme o US GAAP. As empresas que tiveram um lucro contábil superior a 1 bilhão nos últimos três anos, aplica a alíquota de 15% e compara com o valor apurado pelas regras atuais da receita daquele país. O que for maior é o valor a ser pago. 

O CAMT está fazendo a primeira vítima famosa. A empresa Meta (leia-se Instagram) terá um impacto tributário de 15,9 bilhões de dólares de tributos adicionais com esse novo imposto mínimo corporativo. 

Linguagem Simples pode virar lei nos órgãos públicos


Da Revista Piauí:

Há cerca de oitenta anos que surgiu um movimento internacional “pelo direito de entender”, intitulado “Plain Language” (em inglês) ou Linguagem Simples (no Brasil). (...)

No Brasil, há algumas semanas, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei 6256/19, que determina que os órgãos públicos usem Linguagem Simples nos textos dirigidos ao cidadão. 

Não se trata de escrever de maneira simplória, infantil, informal ou errada. O assunto é técnico: há uma norma internacional (ISO) de Linguagem Simples, adaptada no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 2024. 

Há vários exemplos no texto. Eis um deles:

Original: O Programa de Pós-Graduação é uma experiência educacional inovadora, que criou dentro do Parlamento uma estrutura acadêmica de alto nível para estudar a própria instituição.

Sugestão de redação: O Programa de Pós-Graduação oferece especializações e Mestrado com foco exclusivo no Poder Legislativo.

Imagem aqui  

Comitê Gestor do IBS


Há muito tempo os contribuintes e as empresas reclamam do sistema tributário nacional. A sua estrutura pode ser rastreada aos anos sessenta, durante o regime militar. A Constituição de 1988, que alguns gostam de chamar de Constituição Cidadã, mas que talvez seja melhor denominada de Constituição Remendada — são mais de cem emendas em 37 anos — alterou pouco o processo de financiamento do setor público, apesar de ter criado muitas obrigações e travas para o gestor governamental. Em outras palavras, manteve um sistema tributário defasado e confuso.

Nos últimos anos, iniciou-se uma discussão para tentar melhorar o sistema tributário brasileiro. Por meio de um debate envolvendo especialistas, governo e representantes do Legislativo, começa a tomar forma uma nova realidade, na qual o ICMS e o ISS seriam substituídos pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Trata-se de um imposto sobre valor agregado; ou seja, a alíquota incide sobre aquilo que é agregado em cada etapa do processo produtivo, o que reduz a chamada tributação em cascata.

Outra característica é que a cobrança é feita no destino, isto é, no local de consumo. Se consumidores de uma unidade da federação compram um produto de um fabricante localizado em outra, a arrecadação será realizada no destino.

Agora, o Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (CG-IBS) lançou o seu site. Há diversos links que ainda não estão funcionando e, confesso, o material disponibilizado, denominado Guia Orientativo para Impactos Administrativos da Reforma Tributária, é pobre e confuso. E preocupa por trazer a visão dos estados e municípios, mas não do governo federal e dos legisladores.

Outro ponto: o símbolo (vide imagem) parece uma bandeira do Brasil estilizada, assim como linhas de um texto, também estilizada, dentro de um círculo. 

11 novembro 2025

Gestor e participação no lucro

Um dos principais mecanismos para resolver o conflito de agência é a remuneração do executivo. Em termos gerais, a teoria da agência envolve dois indivíduos: o agente e o principal, que possuem objetivos próprios, nem sempre alinhados. O principal delega tarefas ao agente e cria instrumentos para alinhar os interesses de ambos.

Um desses instrumentos é justamente a remuneração. O gestor — o agente — atua em nome do acionista, o principal. No entanto, suas decisões nem sempre correspondem aos melhores interesses do acionista. Para reduzir esse conflito, o principal pode adotar formas de remuneração baseadas em desempenho, como valorização das ações ou participação nos lucros futuros, incentivando o gestor a agir em prol dos resultados da empresa.

(Há diversos outros mecanismos para mitigar o conflito de agência, mas o exemplo a seguir foca na remuneração, razão pela qual este aspecto é enfatizado.)


Eis um exemplo da aplicação dessa teoria:

Essa mentalidade de “crescer para descobrir o que acontece” acompanha Altman há anos. Antes mesmo do lançamento do ChatGPT, ele já havia dito aos funcionários da Worldcoin — sua empresa cripto, hoje rebatizada como World — que um de seus princípios de gestão é “escalar e ver o que acontece”, estratégia que, segundo ele, funciona tanto para grandes redes neurais quanto para projetos complexos como reatores de fusão nuclear. E, para ele, velocidade é essencial: escalar “antes mesmo de fazer sentido” é, em suas palavras, “extremamente valioso”.

Especialistas afirmam que Altman pode agir com essa ousadia, pois não tem nada a perder financeiramente. Ele declarou repetidas vezes que não possui participação acionária na OpenAI, e que isso não mudará mesmo após a reestruturação da empresa como uma corporação de benefício público. “Ele tem o lado positivo, em certo sentido, em termos de influência, se tudo der certo”, explica Ofer Eldar, professor de governança corporativa da Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Altman assume todos esses compromissos sabendo que não enfrentará consequências diretas, já que não tem participação financeira.” 

O artigo completo pode ser encontrado aqui. O título do mesmo é  Por que Sam Altman Não Deve Pagar a Conta pelos Gastos Bilionários da OpenAI?

IA e Futebol


Um artigo do excelente site Trivela aborda o crescente uso de inteligência artificial (IA) no mundo do futebol, tomando como ponto de partida o alerta feito por Arsène Wenger, um ex-técnico, a Mikel Arteta, atual técnico do Arsenal F.C. Wenger reconhece o valor da IA para a avaliação de dados e cenários, mas alerta que existe um risco se as máquinas passarem a dominar as decisões. Arteta tinha confirmado que a IA já está sendo usada no Arsenal em análise de desempenho e identificação de melhorias. 

Na visão de Wenger, o futebol ainda depende de elementos intangíveis — como sensibilidade, leitura emocional e instinto — que não podem ser automatizados. 

Assim como no futebol, na contabilidade há diversas tarefas que dependem dos elementos intangíveis, nos termos de Wenger 

IA e Contabilidade


O artigo do site mexicano “El Conta" trouxe um texto ontem sobre Contabilidade e Inteligencia Artificial. Eis o resumo feito pelo GPT: 

O texto analisa a crescente integração da inteligência artificial (IA) na contabilidade profissional. Segundo o autor, a IA evoluiu rapidamente graças a um investimento superior a 14 bilhões de euros em 2023, e diversas ferramentas além do ChatGPT — como Google Gemini, Microsoft Copilot, Meta AI e o sistema chinês DeepSeek — já estão disponíveis. O texto argumenta que, embora o ChatGPT seja muito utilizado como assistente, sua autonomia e aplicação prática ainda são limitadas — por exemplo, uma fala de René Beltrán define-o como “o melhor assistente que você pode ter, mas o menos proativo e com pouca autonomia que você pode encontrar”. Em contabilidade e auditoria, essas ferramentas podem agilizar tarefas mecânicas — como extrair dados de PDFs/XML, organizar faturamento, montar tabelas — mas ainda demandam supervisão humana, especialmente para interpretação, julgamento e validação de resultados. O artigo conclui que o futuro profissional da contabilidade não será substituído pela IA; ao contrário, o contador que melhor souber empregar a IA como ferramenta terá vantagem competitiva — a “máquina” não substitui o profissional, mas o profissional que domina as máquinas substituirá quem não domina.

10 novembro 2025

História e um hábito antigo de cair nas graças da imprensa


Molina, ainda na mesma obra, relata como a Corte Portuguesa apoiou a criação do Correio Braziliense, um jornal de notícias e opiniões publicado na Inglaterra. Esse periódico exerceu grande influência no reino, mesmo enfrentando restrições de circulação em determinados períodos. No entanto, era financeiramente deficitário, e uma análise das condições de vida de seu fundador e jornalista, Hipólito José da Costa, revela um mistério: as vendas não eram suficientes para garantir sua subsistência.

Molina argumenta que o rei português, D. João VI, comprava várias assinaturas do jornal como forma de evitar que Hipólito fosse demasiadamente crítico em relação a ele. De fato, o jornalista atacava alguns figurões da corte, mas poupava o monarca. Essa prática guarda semelhança com os dias atuais, em que presidentes e governos “compram” espaços publicitários em jornais, revistas e programas de televisão, influenciando a pauta e a posição editorial dos meios de comunicação.


Imprensa no Brasil Colônia e a Contabilidade

Molina, em História dos Jornais no Brasil, volume 1, discute as razões pelas quais o Brasil não teve uma imprensa entre 1500 e 1809. Há uma lenda segundo a qual existiria uma proibição real de se estabelecer uma imprensa no país. No entanto, até onde se sabe, não havia uma proibição formal do rei nesse sentido. Há registros de que Portugal permitiu a existência de imprensa em outras colônias, mas permanece o mistério acerca da ausência dessa instituição em território brasileiro.


Antes de prosseguir, é importante destacar dois fatos mencionados por Molina. O primeiro refere-se à presença de uma imprensa nas missões jesuíticas no centro-sul do país. Existem exemplares de livros produzidos pelos religiosos, mas o autor observa que, muito provavelmente, a tipografia — construída com apoio dos indígenas — funcionava em território que hoje pertence à Argentina. O segundo fato comprovado é a existência de uma tipografia implantada por Antônio Isidoro da Fonseca em meados do século XVIII, posteriormente desmantelada por determinação de uma Carta Régia.

O atraso do Brasil colonial em instituir uma imprensa tem relevância direta para a história da contabilidade. Convém lembrar que o sucesso da Summa, de Pacioli, não decorreu de ter sido a primeira obra de contabilidade — honra que cabe a Cotrugli — nem de ter criado os procedimentos das partidas dobradas, mas sim por ter sido o primeiro livro impresso e, por isso, amplamente difundido no ensino contábil.

Sem uma imprensa, as possibilidades de surgir uma obra contábil que pudesse servir de referência a aprendizes ou comerciantes eram mínimas. O acesso ao conhecimento contábil dependia, portanto, da importação de livros estrangeiros — provavelmente escritos em outro idioma que não o português —, o que restringia sua disseminação e aplicação prática no contexto colonial.

Rir é o melhor remédio

 

Do Estado de hoje

08 novembro 2025

Pressa?

Anteriormente postamos:

O CFC colocou em audiência pública as minutas das novas Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC TSP). Entre elas a NBC que trata da Estrutura Conceitual, na sua primeira revisão. (...) O CFC quer receber comentários até o final de julho. Ou seja, deu 30 dias de prazo para que as pessoas possam ler e refletir sobre o assunto. 

Até o presente momento a nova EC não foi aprovada, conforme print da página do Conselho


 

07 novembro 2025

Museus, furtos, roubos e contabilidade

Roubo de obra de arte em museu é sempre uma notícia. O contraponto entre a audácia dos ladrões e a falha da segurança parece coisa de cinema. Um site listou sete roubos de obra de arte que seriam memoráveis.

Ao ler o texto, é possível perceber uma conexão com a contabilidade, seja na questão do reconhecimento, seja no processo de mensuração. O caso mais famoso foi o roubo da Mona Lisa, em 1911. O roubo foi feito por um italiano, Vincenzo Peruggia, que trabalhava como operário encarregado de construir vitrines de vidro para o Louvre. Peruggia entrou discretamente no museu, esperou o momento apropriado e retirou o quadro da parede. Depois de esconder o quadro, ele retirou a moldura e deixou o museu tranquilamente.

O detalhe curioso da história é que o roubo só foi percebido horas depois, pois na época o quadro era pouco conhecido. Mas a imprensa, para vender seus jornais, decidiu dar destaque ao caso, afirmando que a Mona Lisa era um quadro fundamental na história da arte. E de tanto afirmar isso, a obra de Leonardo da Vinci tornou-se um retrato mundialmente conhecido. O interessante aqui é como um evento, a princípio negativo, contribuiu para a valorização da peça do museu. Ninguém poderia prever isso.

Um segundo roubo de destaque da lista ocorreu em 2004, quando dois homens invadiram o Museu Munch, em Oslo, e levaram o quadro mais conhecido do pintor norueguês, O Grito. Além do prejuízo de não contar com o quadro para mostrar aos visitantes, o Museu teve que passar por uma reforma na sua segurança, que durou quase um ano. Os ladrões foram capturados. Nesse caso, o roubo revelou uma redução drástica de receita e um aumento nas despesas. Isso foi compensado com o aumento do público na reabertura do museu.

Mas nem sempre um caso como esse tem um final feliz. Em 1990, dois homens entraram no Museu Isabella Stewart Gardner, em Boston, e conseguiram realizar um grande roubo de obras avaliadas em meio bilhão de dólares. Só a obra O Concerto, de Johannes Vermeer, está avaliada em 250 milhões de dólares. A questão contábil desse caso deveria aparecer no relatório dos auditores: anos antes, o FBI tinha alertado para o problema de segurança do museu e somente alguns dos itens recomendados foram implantados. Até hoje, o museu mantém uma promessa de recompensa de 10 milhões de dólares (um passivo, mas que poderia ser contabilizado?) por informações.


Em 2019, novamente dois homens desativaram os alarmes de segurança do Museu Grünes Gewölbe de Dresden, Alemanha. Levaram joias estimadas em 120 milhões de dólares. As autoridades conseguiram identificar os responsáveis e recuperaram grande parte das joias roubadas. Se as joias tivessem sido baixadas para resultado em 2019, a recuperação, anos depois, merece a reversão do lançamento. Se não foram baixadas — mas registradas com um valor menor, usando uma contraconta do ativo —, também seria necessário um lançamento.


Mas por quanto tempo um museu deveria manter uma obra de arte que foi roubada nos registros contábeis como um ativo? Uma boa questão, que o caso do Museu de Belas Artes de Montreal pode servir de exemplo. O museu canadense foi roubado em 1972 e foram levadas 50 obras de arte. Naquele mesmo ano, os ladrões fizeram contato, devolvendo algumas obras menores para iniciar uma negociação pelo resgate. Mas com o fracasso das negociações, as obras restantes não foram recuperadas até hoje.

O roubo, em 2012, do Museu Kunsthal, em Roterdã, revela o quanto a despesa em segurança é importante para esse tipo de entidade. Parece inacreditável, mas o Museu não possuía vigilância noturna. Ao não ter essa despesa, o resultado do museu ficou melhor para seus doadores. Mas o preço foi perder parte do acervo — somente uma das pinturas foi recuperada, em 2018.

O Museu Van Gogh, também na Holanda, sofreu um roubo em 2002. Em cinco minutos, os ladrões levaram duas pinturas (uma delas, abaixo). A polícia conseguiu desvendar o crime por conta de um boné deixado no local. Apesar de descoberto os autores, as obras não foram encontradas de imediato. Mas, em 2016, uma operação policial na Itália encontrou as pinturas. Esse último caso traz um aspecto importante desses roubos: apesar do valor estimado das obras ser elevado, as mesmas são muitas vezes negociadas por um valor muito reduzido por dois motivos: primeiro, perde-se a liquidez, já que a obra só tem o mercado paralelo para ser vendida; segundo, o risco da operação, uma vez que a polícia procura pelas obras e pelos meliantes.


 

04 novembro 2025

NewJeans e os eventos invisíveis

Min Hee Jin, ou MHJ, foi contratada pela gravadora ADOR, pertencente ao conglomerado Hybe, para criar o primeiro girl group coreano da empresa. MHJ recrutou e formou o grupo NewJeans. Com o tempo, mesmo sendo executiva da gravadora, ela tentou sair da ADOR e levar consigo o grupo para uma nova empresa, buscando novos investidores.

Um potencial investidor com quem MHJ conversou revelou seus planos à Hybe, que então iniciou uma auditoria na ADOR. O trabalho confirmou a tentativa de ruptura por parte de MHJ, que foi removida do cargo de CEO, mas mantida como uma espécie de diretora criativa. No entanto, MHJ recusou a nova função e deixou a gravadora.

Com a crise, as integrantes do NewJeans declararam quebra de confiança e consideraram o contrato inválido, passando a atuar fora da ADOR. A gravadora entrou na Justiça, e um tribunal rejeitou as alegações do NewJeans, atribuiu a responsabilidade a MHJ e sentenciou que os contratos permaneciam válidos. Há uma multa de 250 milhões de dólares em caso de quebra contratual.

O grupo agora pode recorrer da decisão — o caminho que parece ter escolhido —, voltar a trabalhar para a ADOR ou pagar a multa.

No Brasil, no passado, houve um caso semelhante: Chico Buarque assinou contrato com uma gravadora comprometendo-se a entregar determinada quantidade de trabalhos, mas não conseguiu cumpri-lo, e a empresa passou a pressioná-lo. Da crise entre o artista e a gravadora nasceu a música Dono da Voz.

E a contabilidade? Pelo lado da ADOR, provavelmente as artistas não estão registradas no ativo, e como a chance de vitória judicial é significativa, também não deve haver registro de um potencial passivo — caso fosse necessário pagar alguma indenização. Tampouco deve haver um ativo referente à multa a receber, pois o valor é tão elevado que as artistas dificilmente teriam condições de desembolsar um quarto de bilhão. No entanto, todo esse atrito pode reduzir o apelo do grupo, e o “intangível” não registrado não poderá ser amortizado. Ou seja, tudo isso não deve ser registrado na contabilidade da empresa. Faz sentido? 

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

382 bilhões de dólares em caixa

Na sexta-feira (postado aqui), escrevemos sobre o chamado “Indicador Buffett”, uma medida muito simples do valor do mercado de ações em relação ao PIB.

Mas há outro sinal relacionado a Buffett que está chamando a atenção dos investidores: o crescimento da reserva de caixa da Berkshire Hathaway, que atingiu 382 bilhões de dólares no terceiro trimestre, impulsionada pelo aumento do lucro de suas operações de seguro.

Embora não possamos presumir o que Buffett e sua equipe de investimentos — conhecida por ser extremamente discreta — estão pensando, é difícil não especular o óbvio: que a alta cúpula da Berkshire simplesmente não vê investimentos atraentes no momento.

Em teoria, a Berkshire Hathaway tem várias opções: investir em suas diversas empresas controladas, como ferrovias e seguradoras; comprar ações para seu portfólio; ou até recomprar suas próprias ações.

Na prática, porém, 382 bilhões de dólares é uma quantia tão gigantesca que a lista de investimentos capazes de realmente impactar esse montante é muito pequena.
Uma das opções seria realizar uma grande aquisição, financiada pelo caixa acumulado da Berkshire — que agora vale mais do que várias empresas icônicas americanas.


Então, será que a Berkshire realmente poderia comprar uma dessas gigantes? Em teoria, sim. Na prática, quase certamente não.

Para começar, a Berkshire provavelmente teria que pagar um alto prêmio — geralmente entre 20% e 40% — para convencer os acionistas a vender, sem contar o fato de que qualquer acordo desse porte seria altamente complexo e levantaria preocupações regulatórias.

Mais importante, porém, é que se a Berkshire já tem dificuldade em encontrar oportunidades atraentes para aplicar 5 ou 10 bilhões de dólares, parece extremamente improvável que Buffett, aos 95 anos, decida se aventurar em uma megafusão — e ainda mais improvável que Greg Abel, que assumirá como CEO da Berkshire a partir de janeiro de 2026, resolva fazer uma aposta tão arriscada como seu primeiro grande ato no comando.

Fonte: aqui 

IOSCO, IVSC e IFRS

A Organização Internacional de Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO) emitiu uma declaração destacando a importância de informações de avaliação consistentes e de alta qualidade em demonstrações financeiras para apoiar a confiança dos investidores e a integridade do mercado.

A declaração observa que as demonstrações financeiras podem muitas vezes conter elementos que representam ou são derivados de informações de avaliação. Como resultado, a declaração enfatiza, é importante que os emissores tenham práticas sólidas e sólidas para apoiar o desenvolvimento de informações de avaliação de alta qualidade para relatórios financeiros, e auditores externos aplicam procedimentos suficientes para avaliar as informações de avaliação de um emissor em seu relatório financeiro como parte da auditoria de demonstração financeira.

A IOSCO faz expressamente referência às Normas Internacionais de Avaliação (IVS) emitidas pelo Conselho Internacional de Normas de Avaliação (IVSC):

Melhorar a conexão entre os IVS e as normas contábeis, como as Normas de Contabilidade da IFRS, poderia apoiar os relatórios de demonstrações financeiras de maneira eficiente e eficaz e fornecer maior confiança aos investidores que confiam nessas informações ao tomar decisões de investimento.

Fonte: traduzido do Iasplus . O documento original está aqui

03 novembro 2025

Ambipar

A Ambipar é uma empresa brasileira com atuação internacional. Nos últimos dias, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial em razão de uma desconfiança generalizada do mercado. Existiria indícios de irregularidades em operações financeiras. O preço da ação caiu de R$10 para R$0,58. 

E na crise há problemas de governança, falta de transparência, liquidez, decisões inadequadas, entre outros aspectos. Eis um resumo da situação atual:

Capitaneada pelo executivo Tercio Borlenghi Junior, a empresa aponta o ex-diretor financeiro João Arruda como o grande causador da crise que se abateu sobre a companhia a partir de setembro de 2025.

Na versão da Ambipar, Arruda firmou contratos desvantajosos com a instituição financeira alemã Deutsche Bank sem as aprovações do Conselho de Administração. E esses contratos teriam levado a multinacional de gestão ambiental, com mais de R$ 4,7 bilhões de caixa até junho deste ano, a um rápido colapso. 

Entretanto, o E-Investidor teve acesso a um documento que contradiz essa argumentação.

No dia 27 de fevereiro deste ano, o Conselho de Administração da Ambipar se reuniu e aprovou um contrato firmado com o Deutsche Bank no valor de US$ 493 milhões, como mostra uma ata assinada por Borlenghi Junior, diretor-presidente e conselheiro da companhia.

O mesmo contrato, agora, é classificado pela Ambipar como feito à revelia dos conselheiros e um dos estompins da crise. Procurados, Ambipar e Tércio Borlenghi não se posicionaram até a publicação do texto.

O Deutsche Bank reafirmou a regularidade dos contratos firmados com a Ambipar (leia abaixo). A assinatura de João Arruda, acusado de negociar o contrato individualmente, não consta na ata.

Procurada, a defesa técnica do ex-CFO da Ambipar apontou que “as falsas acusações feitas pela empresa (Ambipar) e seus representantes contra João Daniel Piran de Arruda acabaram de desmoronar” frente à descoberta desse documento. O corpo jurídico, coordenado pelo David Rechulski Advogados, aponta que a ata evidencia a ciência “plena e inequívoca” da alta direção da empresa do aval do Conselho de Administração da Ambipar em relação às operações com Deutsche Bank.

“O que estava em curso era um arremedo de tentativa de transformar João Arruda em ‘bode expiatório’ de uma crise que, comprovadamente, não deu causa. Felizmente, contra fatos e documentos que provam a verdade, não há campanha de fake news que resista. O bode expiatório saiu da sala”, afirmou a defesa de Arruda, que é taxativa em apontar a própria administração da Ambipar pela condução dos contratos com o Deutsche Bank.

O contrato da Ambipar com o Deutsche Bank

O contrato com o Deutsche Bank era um “swap cambial”. Esse é o nome técnico para operações que visam diminuir os efeitos da variação do câmbio sobre as dívidas que uma empresa tem em moeda estrangeira.

No caso da Ambipar, o Deutsche Bank seria responsável por garantir que um salto do dólar não encarecesse demais as dívidas da companhia no exterior. Como? Em uma troca de “riscos”: se o dólar subir, o Deutsche Bank paga a Ambipar. Se o dólar cair, é a empresa que deve desembolsa valores.

Nesse tipo de contrato é comum que garantias sejam pedidas ou que ocorram “chamadas de margem“, quando um dos lados precisa depositar mais dinheiro para cobrir as garantias.

Segundo a Ambipar, tais swaps foram negociados pelo ex-diretor financeiro Arruda sem o aval necessário da administração e com a inserção de cláusulas que abriram caminho para que o Deutsche Bank exigisse mais dinheiro da empresa como garantia das operações. Uma dessas cláusulas desvantajosas, diz a companhia, permitiu incluir nos cálculos o preço dos greenbonds, os títulos de dívida da Ambipar no exterior.

A última parcela exigida, e não paga pela Ambipar no prazo, foi de R$ 60 milhões. Antes, a empresa diz ter pago R$ 200 milhões em chamadas de margem.

“Ocorre que as chamadas de margem passaram a se basear numa interpretação indevida do aditivo e em cálculos unilaterais elaborados pelo próprio Deutsche Bank, com sobrecustos embutidos no preço e curvas de precificação totalmente dissociadas da realidade de mercado”, argumenta a Ambipar, no processo de recuperação judicial.

Sem pagar o débito com o Deutsche Bank, a Ambipar ficou submetida ao vencimento cruzado de praticamente todas as outras dívidas que a empresa tinha – cerca de R$ 10 bilhões. Por isso, a companhia recorreu à recuperação judicial. O diretor Arruda renunciou em 19 de setembro.

Já de acordo com o Deutsche, todas as operações seguiram os padrões de mercado e foram aprovados pela administração da Ambipar. “Os swaps foram firmados a pedido da empresa e o aditivo foi celebrado para ajudar a reduzir os custos de hedge (proteção cambial) da empresa”, disse o banco alemão, em nota à reportagem. “As chamadas de margem solicitadas pelo Deutsche Bank foram motivadas principalmente pela variação cambial e de taxas de juros.” 

Uma pergunta no ar

Independentemente da discussão técnica sobre os contratos com o Deutsche Bank, os investidores ainda se perguntam como uma empresa que havia registrado um caixa de R$ 4,7 bilhões em junho de 2025 entra em uma recuperação judicial três meses depois. E tendo como estopim uma dívida de R$ 60 milhões com operações de câmbio.

O Estadão apurou que os credores da Ambipar também buscam responder a essa pergunta e procuram desde o fim de setembro onde está o caixa bilionário da empresa.

Na semana passada, o Bradesco (BBDC3; BBDC4), que tem R$ 390 milhões de créditos a receber da companhia, ingressou com um processo para responsabilizar pessoalmente os executivos da empresa por suposta fraude contábil. A suspeita é de que o caixa da Ambipar tenha sido esvaziado ou fraudado – veja aqui. 

Fluxo de decisão do Comitê de Interpretação

A figura abaixo é de um documento emitido pela Fundação IFRS 

É o fluxo de decisão do Comitê de Interpretação. Conforme o nome diz, trata de um comitê que faz a interpretação sobre assuntos que trazem dúvidas dos regulados.  Uma questão é encaminhada para ser analisada. Esse é o início do processo, onde é feita uma análise para verificar se a questão tenham um efeito significativo. Havendo esse efeito, o Comitê analisa se é necessário mudar o pronunciamento. Depois de analisar tais fatos, o Comitê pode propor uma emenda, uma interpretação, que é discutida e aprovada pelo Iasb.  

02 novembro 2025

História da Contabilidade: Entre o Discurso e a Escravidão

Em 1831, o Brasil assumiu o compromisso de tornar livres todos os escravos vindos de fora do Império e de impor penas aos importadores. A medida ficou conhecida como Lei Feijó, pois foi promulgada durante a regência de Feijó. Já existia um acordo com a Inglaterra nesse sentido, mas seu cumprimento esteve longe de ser pleno — tanto que a norma ficou conhecida como “lei para inglês ver”.

Nos primeiros anos, alguns poucos navios chegaram a ser barrados. No entanto, a “carga” não era devolvida à África, dada a dificuldade de fazê-lo. O governo, então, distribuía os escravos entre seus aliados políticos. Esse é o pano de fundo.

Matias Molina, em História dos Jornais no Brasil: 1840-1930, narra a trajetória de alguns dos periódicos mais relevantes do país. Logo no início, trata de um dos maiores jornalistas do período, Justiniano José da Rocha. Ele provavelmente nasceu no Recife, em 1811. Apesar de mestiço, formou-se em Direito em São Paulo. Em 1836, lançou o jornal O Chronista, inicialmente de periodicidade semanal. Após a queda de Feijó, passou a apoiar o gabinete conservador. Era contrário ao tratado comercial com Portugal e também à escravidão.

Segundo Molina, Justiniano afirmava que “o tráfico de escravos, esse crime que (...) resume toda a barbaridade do assassino, toda a perfídia do ladrão (...) é a nódoa da civilização moderna”. Contudo, sobre a práti


ca do governo de distribuir os escravos apreendidos em águas brasileiras, o jornal assumia uma postura bastante interessada. Eis um trecho que sintetiza bem as contradições humanas:

“O próprio Justiniano pediria a um ministro que lhe fosse entregue um dos africanos apreendidos e outro a cada um de seus companheiros de jornal. (...) Ele também chegou a queixar-se da ingratidão do governo, pois pedira dois africanos como paga de seu apoio e não os recebera, enquanto um jornalista da oposição levou quatro.”

Imagem da Wikipedia, verbete Justiniano, "A primeira caricatura feita no Brasil, por Araújo Porto-Alegre, em 1837, retrata a cooptação da imprensa pelo governo na pessoa de Justiniano, retratado de joelhos a receber dinheiro." 

Resenha: No Limite


No Limite
é a segunda obra de Nate Silver. Como gostei bastante de O Sinal e o Ruído, tinha grandes expectativas para um livro cujo subtítulo é “a arte de arriscar tudo”. Apesar de ter ficado desanimado em muitos trechos, percorri as mais de 400 páginas do texto — contando com citações, índices e glossário, o livro chega a cerca de 560 páginas.

Eu recomendaria esse livro a um amigo? Provavelmente não, afinal são muitas páginas de leitura e nem todo mundo gosta de jogos. Eu, particularmente, conheço algumas noções de pôquer e só fui até o final por teimosia — ou pela expectativa de que o livro melhorasse em algum momento. Se você gosta de pôquer, talvez possa ser uma leitura interessante. E olha que não faltou material para o autor: há os torneios dos quais ele participou, as entrevistas que fez com SBF — responsável por uma das maiores fraudes corporativas dos últimos anos —, além do conhecimento adquirido em sua experiência de predição de resultados esportivos, entre outros elementos.

Apesar da extensa pesquisa feita por Silver, o estilo parece muito menos didático que o de seu primeiro livro, o que torna a leitura menos agradável. Arrisquei meu tempo na leitura — e não foi uma boa ideia.

Andrew: o dinheiro público sustentando quem não deveria

Andrew Albert Christian Edward Mountbatten-Windsor, anteriormente Príncipe Andrew, Duque de York, é o terceiro filho da Rainha Elizabeth II (em Portugal, Rainha Isabel II) e, segundo a série The Crown, o seu filho predileto. Foi piloto da Marinha Britânica, chegando a participar da Guerra das Malvinas.

Sua relação próxima com Jeffrey Epstein trouxe muitos problemas. Em 2014, Virginia Giuffre afirmou ter tido relações com Andrew quando tinha 17 anos. Em 2022, sua mãe retirou algumas de suas prerrogativas reais, e agora parece estar em curso um processo formal para que ele perca seus títulos e honrarias, sendo afastado da estrutura da realeza. No entanto, esse não é o único episódio polêmico envolvendo Andrew: suas amizades com figuras como Muammar Gaddafi, Ilham Aliyev e outros poderosos também são consideradas controversas.

Diante de tantos problemas, o atual rei do Reino Unido anunciou a retirada dos títulos e da residência oficial de Andrew, embora ele continue levando uma vida confortável. Da Marinha, ele recebe uma pensão anual de 20 mil libras (cerca de 141 mil reais). Além disso, possui um patrimônio pessoal considerável, parte dele proveniente de serviços prestados a ditadores e empresários de origem duvidosa. Há ainda uma pensão anual que será bancada por Charles, aparentemente muito maior do que a pensão da Marinha. Suas filhas, entretanto, manterão seus títulos.

O caso de Andrew também revela como os privilégios da monarquia britânica ainda impactam as finanças públicas. Mesmo após perder títulos e funções oficiais, ele continua recebendo benefícios indiretos custeados pelo contribuinte. O caso é mais grave quando há o uso de recursos públicos para sustentar membros da realeza afastados de suas funções. 

Baseado no verbete da Wikipedia e no texto Andrew receberá indenização e pensão anual do rei Charles, Estado de S Paulo, 2 de novembro de 2023.  

Quantidade ou Qualidade - 4


Em uma entrevista no Estado de S. Paulo, um dos fundadores da Wikipedia, Jimmy Wales, afirmou

Para muitas pessoas, o nível de confiança em Elon Musk é extramamente baixo, porque ele diz coisas absurdas o tempo todo. Quando ele nos ataca, as pessoas doam mais dinheiro. Essa não é minha maneira favorita de arrecadar fundos ...

É interessante que uma organização sem fins lucrativos tenha aumento de arrecadação justamente após um ataque político. Algo similar ocorreu com a Universidade de Harvard, que após os ataques de Trump, viu crescer as doações recebidas. 

No passado fiz doações para Wikipedia. Fiquei ausente quando vi, nas demonstrações financeiras, que a Wikipedia não estava tão mal de recursos. Mas recentemente voltei a doar. Eu confesso que fiquei com vontade de fazer uma doação aqui.  

Imagem aqui 

Quantidade ou Qualidade - 3

Mais ainda:

A Grokipedia não é realmente uma concorrente, porque é tudo o que a Wikipédia não é: não é uma enciclopédia, não é transparente, não é humana, não é uma organização sem fins lucrativos, não é colaborativa ou crowdsourced, na verdade, não é realmente editada. 


Quantidade ou Qualidade - 2


Não sou tão otimista assim:

Mas até mesmo chamá-lo de concorrente da Wikipédia é dar ao projeto semi-avaliado muito crédito. Não é um “concorrente” da Wikipédia. É uma máquina de regurgitação totalmente robótica e sem coração que cinicamente e indiscriminadamente suga o trabalho da humanidade para servir os interesses, proteger o ego, amplificar os pontos de vista e enriquecer ainda mais o homem mais rico do mundo. 

Quantidade ou Qualidade


A empresa de inteligência artificial de Elon Musk, xAI, lançou uma enciclopédia denominada Grokipedia. A história indica que Musk aparentemente não gostou de um texto no verbete sobre ele, que mencionava um gesto feito em público e considerado por muitos como nazista. A irritação levou o bilionário a criar sua própria enciclopédia, que seria “livre” de viés ideológico. O lançamento ocorreu em 27 de outubro, e Musk afirmou que a Grokipedia seria uma alternativa à Wikipedia, livre de propaganda.

Os verbetes da Grokipedia são criados e editados por um modelo de inteligência artificial, mas o processo de elaboração não é conhecido. Muitos artigos foram copiados da Wikipedia, o que permitiu que a enciclopédia estreasse com cerca de 800 mil verbetes, em comparação com mais de 7 milhões na versão em inglês da Wikipedia.

Há um viés ideológico perceptível nas posições da Grokipedia, com presença de teorias da conspiração, promoção de ideias de extrema direita e outros problemas. Isso não significa que a Wikipedia esteja livre de críticas semelhantes, embora as acusações contra ela venham de ambos os lados do espectro político — ora de ser conservadora demais, ora liberal demais. Em outras palavras, enquanto a Grokipedia se posiciona claramente à direita, a Wikipedia é acusada de parcialidade tanto por conservadores quanto por progressistas.

Essa não é a primeira tentativa de lançar um produto que pretenda corrigir os vieses da Wikipedia, mas talvez seja a que alcançou maior destaque devido ao volume de recursos envolvidos. E, com dinheiro, tenta-se impor uma versão dos fatos. Um exemplo claro está nos verbetes relacionados às empresas do próprio Musk, que já se mostraram mais tendenciosos do que os da Wikipedia. Contudo, pela estrutura de governança, enquanto os vieses da Wikipedia são visíveis e podem ser corrigidos, nada indica que o mesmo ocorra com a Grokipedia.

Entretanto, como a Grokipedia é criada por uma inteligência artificial, a tendência é que rapidamente o volume de conteúdo ultrapasse o da Wikipedia, tanto em tamanho quanto em detalhamento. Na verdade, isso já acontece. Fiz uma rápida contagem de palavras no verbete Accounting em ambas as enciclopédias: a Wikipedia possui 3.159 palavras, enquanto a Grokipedia apresenta 12.121 — quase quatro vezes mais. O contraste é impressionante.

Se a maioria dos artigos que li critica o conteúdo da Grokipedia, sua estrutura pode permitir que a enciclopédia de Musk ultrapasse a Wikipedia em pouco tempo. A questão é: as pessoas irão preferir qualidade ou quantidade?