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29 junho 2018

Alemanha ainda vive

A eliminação da Alemanha da fase de grupos da Copa do Mundo é uma ruptura notável com a história. A Alemanha chegou à elite dos oito melhores de cada Copa do Mundo desde 1966. A Alemanha apareceu em sete das últimas treze finais da Copa do Mundo e ganhou três vezes. Ainda mais notável, a final da Copa do Mundo em 15 de julho será apenas a segunda, desde 1966, que não inclui a Alemanha, a Itália ou a Holanda. Pelo menos uma dessas equipes chegou às quartas de final (ou equivalente, dado que o formato da competição mudou) nas últimas 13 Copas do Mundo; e pelo menos duas chegaram a essa fase em dez das treze ocasiões; e em três ocasiões todas as três estiveram nas quartas de final. No entanto, este ano a Itália e a Holanda nem se qualificaram para a competição e a Alemanha ficou em último lugar do seu grupo depois de perder dois dos três jogos.

Embora essas três equipes européias tenham saido mal na Copa do Mundo, o resto da Europa prosperou. Três quartos das vagas nas oitavas de final foram ocupadas por equipes européias. Até agora, as equipes européias perderam apenas sete dos 30 jogos disputados contra adversários não europeus. Estas derrotas são as da Alemanha, assim como as derrotas da Islândia, Rússia, Sérvia e duas também da Polônia. No entanto, a Islândia conseguiu um empate contra a Argentina e a Suíça contra o Brasil. Igualmente surpreendente, a Croácia derrotou a Argentina por 3-0. Tratando os empates como meia vitória, a porcentagem de vitórias da Europa nesta Copa do Mundo é de 68%, a América do Sul é de 63% e nenhum outro continente está acima de 33%.

Esse domínio não é novidade. As Confederações da Europa e da América do Sul sempre dominaram a Copa do Mundo. Desde 1950, nenhum estrangeiro já chegou à final da Copa do Mundo, apenas uma equipe chegou à semifinal (Coréia do Sul em 2002) e apenas nove equipes chegaram às quartas de final (7% do total). Na década de 1960, apenas cerca de 10% das vagas no torneio eram para estas nações estrangeiras [fora da Europa e América do Sul], mas desde então sua participação total subiu para cerca de 40% (nesta Copa 13 das 32 vagas foram para as outras três confederações: Ásia, África e América do Norte / Central). Na próxima rodada da Copa [da Rússia] haverá apenas dois (13%) - México e Japão - nenhum dos quais, se as casas de apostas estiverem corretas, deverão chegar às quartas de final. Pela primeira vez desde que as oitavas-de-final foram inauguradas em 1986, nenhuma nação africana chegou a esse estágio.

Assim, por um lado, a periferia da Europa parece estar se saindo melhor do que seu eixo historicamente dominante, enquanto os países tradicionalmente dominantes parecem entrincheirados. Como podemos explicar isso? Em pesquisa conjunta com Melanie Krause, da Universidade de Hamburgo, usando dados sobre cerca de 27.000 partidas internacionais de futebol disputadas entre 1950 e 2014, descobrimos que há uma tendência das nações mais fracas alcançarem as nações mais fortes - análogo à noção econômica de convergência. Assim como as nações mais pobres podem alcançar as nações mais ricas por meio de um programa de investimento e imitação, as nações mais fracas do futebol podem alcançar as mais fortes investindo em habilidades básicas. De fato, enquanto as evidências de convergência entre as economias internacionais são irregulares, as evidências para as nações no futebol são realmente muito fortes.

No entanto, também descobrimos que existe o que alguns economistas chamam de “armadilha de renda média”. Quando se trata da economia nacional, o que eleva seu nível de vida de baixo para o meio (investimento de grande escala no capital para tornar os trabalhadores mais produtivos) é diferente do que o eleva do meio para o topo (inovação e criatividade). Muitas nações de renda média parecem achar difícil fazer a transição. Assim também parece ser com o futebol: os países mais fracos podem eliminar erros básicos, mas o desenvolvimento de talentos de classe mundial tem se mostrado elusivo. Enquanto a Europa e a América do Sul estavam regularmente jogando futebol internacional e desenvolvendo infra-estruturas de liga nacional na época da Primeira Guerra Mundial, a maioria dos outros continentes não começou a fazer isto a sério até depois da Segunda Guerra Mundial.

Ser o primeiro nem sempre funciona - já não há quase nenhuma fábrica têxtil em Lancashire, Detroit há muito tempo perdeu o domínio da indústria automobilística e os vinhos franceses não são o que eram. Mas quando os primeiros impulsionadores também criam uma rede, a vantagem pode ser auto-sustentável. Pense nos mercados financeiros de Londres e Nova York ou na indústria de tecnologia no vale do silício. Barings e Lehman Brothers podem ter deixado de existir e a IBM pode ser uma sombra da empresa que era, mas as empresas que cresceram em torno delas prosperaram. A mesma coisa parece estar acontecendo no futebol europeu. Na década de 1960, a Alemanha, a Itália e a Holanda estabeleceram-se como o núcleo do futebol europeu - a maior parte da inovação e criatividade veio dessas três nações. Ao longo dos anos, outros países europeus se beneficiaram da exposição constante - seja na competição ou contratando jogadores e treinadores para as equipes em suas próprias ligas nacionais. Os países da Europa Central, como a Croácia, que foram atingidos por convulsões políticas no século XX, puderam ressurgir e se integrar ao sistema europeu. A Espanha, cuja equipe nacional há muito tempo teve um mau desempenho, foi atraída mais de perto pela rede européia. Até mesmo a insular Inglaterra começou a se sentir mais cosmopolita.

Assim, os alemães, holandeses e italianos podem ficar decepcionados com sua exibição nesta Copa do Mundo, mas podem razoavelmente afirmar que seu espírito vive nas outras nações européias. E, de qualquer maneira, se a história é alguma coisa, eles logo voltarão.


Stefan Szymanski

14 novembro 2014

Listas: Nações como marca

1. Alemanha
2. Estados Unidos
3. Reino Unido
4. França
5. Canadá
6. Japão
7. Itália
8. Suíça
9. Austrália
10. Suécia

É o Nation Brands Index. O interessante é que no ano passado a Alemanha estava em segundo lugar. A razão para a melhoria: A Copa do Mundo! O Brasil foi uma das nações citadas, mas não foi divulgado a posição.

22 julho 2014

Efeitos do Socialismo no comportamento humano


“UNDER capitalism”, ran the old Soviet-era joke, “man exploits man. Under communism it is just the opposite.” In fact new research suggests that the Soviet system inspired not just sarcasm but cheating too: in East Germany, at least, communism appears to have inculcated moral laxity.

Lars Hornuf of the University of Munich and Dan Ariely, Ximena García-Rada and Heather Mann of Duke University ran an experiment last year to test Germans’ willingness to lie for personal gain. Some 250 Berliners were randomly selected to take part in a game where they could win up to €6 ($8).

The game was simple enough. Each participant was asked to throw a die 40 times and record each roll on a piece of paper. A higher overall tally earned a bigger payoff. Before each roll, players had to commit themselves to write down the number that was on either the top or the bottom side of the die. However, they did not have to tell anyone which side they had chosen, which made it easy to cheat by rolling the die first and then pretending that they had selected the side with the highest number. If they picked the top and then rolled a two, for example, they would have an incentive to claim—falsely—that they had chosen the bottom, which would be a five.

Honest participants would be expected to roll ones, twos and threes as often as fours, fives and sixes. But that did not happen: the sheets handed in had a suspiciously large share of high numbers, suggesting many players had cheated.

After finishing the game, the players had to fill in a form that asked their age and the part of Germany where they had lived in different decades. The authors found that, on average, those who had East German roots cheated twice as much as those who had grown up in West Germany under capitalism. They also looked at how much time people had spent in East Germany before the fall of the Berlin Wall. The longer the participants had been exposed to socialism, the greater the likelihood that they would claim improbable numbers of high rolls.

The study reveals nothing about the nature of the link between socialism and dishonesty. It might be a function of the relative poverty of East Germans, for example. All the same, when it comes to ethics, a capitalist upbringing appears to trump a socialist one.

Fonte: aqui

Lembrei desta frase do João Ubaldo Ribeiro numa entrevista para a revista Veja em 2006 falando sobre o Brasil:

Veja – Não é um exagero dizer que a corrupção reina no Brasil?

Ubaldo –Nós vivemos num ambiente de lassitude moral que se estende a todas as camadas da sociedade e que esse negócio de dizer que as elites são corruptas mas que o povo é honesto é conversa fiada. Nós somos um povo de comportamento desonesto de maneira geral, ou pelo menos um comportamento pouco recomendável.

20 setembro 2012

Alan Turing


No princípio era o abstrato
14/09/2012
Valor Econômico
Antonio Carlos Barbosa de Oliveira é engenheiro (USP) e "master of science" (MIT). E-mail: acbolive@mac.com

Estamos acostumados a utilizar diariamente nossos computadores e telefones inteligentes para uma enorme diversidade de tarefas, tais como escrever um texto, calcular uma planilha, pesquisar um fato na internet ou simplesmente jogar um vídeo game. Fazemos isso sem nos darmos conta de que uma única maquina consegue realizar um número ilimitado de funções. Quando queremos utilizar nosso computador para uma nova tarefa, vamos à loja de aplicativos do nosso fabricante favorito e escolhemos um novo programa, que, depois de instalado em nosso computador universal, passa a realizar a nova função. Essa ideia, aparentemente simples e hoje em dia absolutamente clara para qualquer pessoa, foi concebida em 1936 por um dos maiores gênios do século XX, o matemático inglês Alan Turing, de quem se comemora neste ano os cem anos de nascimento. Praticamente desconhecido do grande público, mesmo em seu país, Turing merece reconhecimento amplo, ainda que tardio.

O matemático alemão David Hilbert definiu nos anos 1920 um programa de pesquisa centrado em demonstrar a consistência, a completude e a decidibilidade da matemática. Consistência, na matemática, significa que os axiomas não geram contradições lógicas. Completude significa que qualquer sentença matemática verdadeira pode ser demonstrada a partir dos axiomas. Decidibilidade significa dispor de um processo puramente mecânico que permita saber se uma sentença matemática é falsa ou verdadeira. O programa de Hilbert, como seu projeto passou a ser conhecido, sofreu um primeiro impacto negativo com o matemático austríaco Kurt Gödel, que em 1931 demonstrou a impossibilidade de qualquer sistema lógico formal de certa complexidade ser simultaneamente completo e consistente. Utilizando a própria lógica matemática para demonstrar suas limitações, Gödel constrói a sentença lógica "Esta sentença não pode ser demonstrada". Se admitirmos que a sentença é verdadeira, ela realmente não pode ser deduzida a partir dos axiomas e o sistema lógico é incompleto. Se admitirmos que a sentença é falsa, então ela pode ser deduzida a partir dos axiomas e o sistema é inconsistente, pois permite a dedução de uma sentença falsa. Um sistema lógico que permite a dedução de sentenças falsas permite também a demonstração de qualquer coisa e é absolutamente inútil. Assim, os matemáticos passaram a trabalhar sabendo que existem verdades matemáticas que não podem ser deduzidas ou demonstradas; qualquer sistema axiomático, sendo consistente, será sempre obrigatoriamente incompleto.

A questão da decidibilidade permanece em aberto até que Alan Turing, com 23 anos e recém-nomeado "fellow" na Universidade de Cambridge, resolve atacar o problema. Em 1936, ele conclui o trabalho que dá o golpe de misericórdia no programa de Hilbert, mostrando que é impossível definir um procedimento mecânico que determine a verdade ou a falsidade de toda e qualquer sentença matemática. Para chegar a essa importante descoberta matemática, Turing inventa uma máquina computacional universal, um dispositivo abstrato que posteriormente se realizaria fisicamente nos computadores hoje utilizados.

A palavra "computador", ou "computer" em inglês, era utilizada para descrever pessoas, em geral mulheres, que realizavam cálculos manualmente. Existiam empresas cujo negócio era vender serviços de cálculos matemáticos, utilizando o trabalho de "computers", treinadas para executar manualmente uma sequência de procedimentos que resultaria na solução numérica de um problema matemático.

Para formular adequadamente o "Entscheidungsproblem" (problema da decidibilidade), Turing precisava formalizar a noção de um procedimento puramente mecânico em um calculo matemático, e parte da observação de como os seres humanos, as "computers" da época, faziam cálculos, escrevendo símbolos com lápis e papel. Tentando caracterizar os principais elementos do processo de cálculo, Turing define uma máquina simples, composta por uma fita unidimensional e infinita em que símbolos podem ser lidos ou escritos. Com essa máquina puramente abstrata, que funciona com regras bastante simples, Turing consegue capturar a essência do processo computacional e afirma que existe uma máquina universal capaz de executar qualquer cálculo, a partir de instruções gravadas na própria fita. Não é necessário criar máquinas especificas e individuais para cada problema. Uma única máquina universal, com uma sequência de símbolos em sua fita - hoje, diríamos com um programa ou software -, pode realizar toda e qualquer computação. Especificando a máquina universal, Turing prova que existem funções incomputáveis e que não é possível, como imaginou Hilbert, criar um processo puramente mecânico para determinar se sentenças matemáticas são verdadeiras ou falsas. Turing consegue, simultaneamente, obter um maravilhoso resultado matemático e cria a base teórica para a maior revolução tecnológica do século.

Turing termina de escrever seu importante trabalho e viaja aos Estados Unidos para fazer o doutorado em Princeton. Ao voltar à Inglaterra, em 1938, resolve aplicar seu talento matemático para ajudar o país a enfrentar a ameaça nazista.

A máquina de guerra alemã necessitava de um processo eficiente de comunicação para implementar a estratégia de blitzkrieg com movimentação rápida de tropas e recursos. Resolve, então, adotar um sistema de comunicação por radiotelégrafo, baseado em mensagens cifradas por uma máquina chamada Enigma. A máquina, portátil e alimentada por bateria, consistia em um teclado e um painel de lâmpadas. Quando uma tecla era pressionada, o sinal elétrico passava por uma série de três rotores e um painel de cabos que trocava a letra pressionada por outra letra que aparecia acesa no painel luminoso. Para cada letra, os rotores mudavam de posição, fazendo com que a letra resultante fosse diferente. Teoricamente, para decifrar uma mensagem, seria necessário tentar 10 bilhões de bilhões de combinações diferentes, para determinar a configuração utilizada na criptografia da mensagem e conseguir decifrá-la.

O serviço de inteligência inglês escolheu Bletchley Park, uma casa senhorial construída por um negociante no século XIX, localizada entre Oxford e Cambridge, para instalar um time de matemáticos, linguistas, jogadores de xadrez e outros especialistas, em um ambiente sem nenhuma disciplina militar. Nesse lugar quase acadêmico, muito parecido com os atuais laboratórios de pesquisa multidisciplinares, as maiores inteligências da Inglaterra conseguiram decifrar o código Enigma e outros códigos alemães e japoneses.

Turing teve papel fundamental. No inicio da guerra, a Inglaterra estava totalmente dependente dos comboios de navios para abastecer a ilha. Esses navios eram extremamente vulneráveis aos submarinos alemães, os "U-boats", que recebiam ordens e reportavam suas posições através do radiotelégrafo cifrado pela Enigma.

Para quebrar o código, os ingleses se valeram de uma limitação da máquina e de erros humanos cometidos pelos operadores alemães. Uma característica da Enigma era que uma letra nunca era cifrada como ela mesma, mas sempre como uma letra diferente. Os operadores alemães utilizavam muitas vezes mensagens padronizadas, em que algumas palavras sempre eram repetidas no inicio da mensagem. Alinhando as palavras que provavelmente haviam sido utilizadas com as letras da mensagem cifrada e sabendo que uma letra seria sempre cifrada em uma letra distinta, para cada mensagem interceptada era possível obter um diagrama que reduzia substancialmente o numero de combinações a serem exploradas. Mesmo assim, a análise manual dessas combinações era inviável.

Turing projetou uma máquina eletromecânica, apelidada de "Bombe", que permitia a análise de combinações em alta velocidade e viabilizava a produção de mensagens decodificadas em escala industrial. Os líderes militares aliados começaram a receber diariamente as mensagens alemãs e as perdas de navios nos comboios caíram substancialmente.



No auge da guerra, mais de 10 mil pessoas trabalhavam na recepção, decodificação e análise de mensagens cifradas. Historiadores modernos acreditam que o trabalho em Bletchley Park reduziu a duração da guerra em pelo menos dois anos. Terminada a guerra, Churchill ordena a destruição de todas as máquinas "Bombe" e proíbe todos os civis e militares em Bletchley Park de comentarem o que fizeram. O segredo foi mantido durante mais de 20 anos. Turing recebeu a condecoração OBE ("Order of the British Empire"), mas ninguém pôde saber por quê. Seu trabalho na quebra do código Enigma permaneceria desconhecido até os anos 1970.

No final da guerra, os americanos anunciam o término da construção do ENIAC, o primeiro computador eletrônico, utilizado para cálculos de trajetórias balísticas. Essa máquina gigantesca precisava ser reconfigurada, mudando-se cabos e chaves elétricas, para cada novo problema a ser resolvido, processo que muitas vezes durava várias semanas. Não era a máquina universal programável que Turing havia imaginado.

Em 1945, o matemático John von Neumann escreve o projeto EDVAC, novo computador baseado na ideia de um programa armazenado internamente na memória. Von Neumann não cita o trabalho de Turing em seu relatório, mas existem várias evidências de que ele conhecia a proposta da máquina universal de Turing e a utilizou em seu projeto.

Os ingleses, temendo ficar atrasados em relação aos americanos no desenvolvimento de computadores, iniciam vários novos projetos. Turing passa a trabalhar no National Physical Laboratory (NPL) e escreve uma proposta para construção do computador programável ACE ("automatic computing engine"). Enquanto o relatório de von Neumann é preliminar e deixa muitos pontos indefinidos, a proposta de Turing é completa e detalhada. Mais de dez anos após inventar a máquina universal, Turing tem a oportunidade de realizar fisicamente seu computador.

Além de ter a ideia da máquina universal e projetar um dos primeiros computadores baseados nessa ideia, Turing também se dedica a indagações filosóficas sobre a natureza da mente e inicia o debate sobre a possibilidade de uma máquina ter inteligência. Seu trabalho mais conhecido nessa área é "Computer machinery and intelligence", publicado em 1950. Pela primeira vez o computador é visto não apenas como uma máquina para calcular números, mas como um processador de símbolos, capaz de apresentar comportamento que talvez possa ser considerado inteligente.

O estilo do ensaio é claramente de provocação aos filósofos. Turing propõe um jogo, envolvendo três participantes, para determinar se um computador é inteligente. Um deles faz perguntas através de um teletipo aos dois outros participantes, um dos quais é um computador programado para imitar um ser humano. Se o computador conseguir se fazer passar por um ser humano, ou seja, se o indagador não conseguir distinguir quem é humano e quem é a máquina, pode-se dizer que se está frente a um computador inteligente. O "Teste de Turing", como esse jogo passou a ser conhecido, até hoje é relevante nas discussões dos filósofos sobre a natureza da mente.

Nos ambientes mais tolerantes de Cambridge e Bletchley Park, a homossexualidade de Turing, sempre assumida e aberta, nunca havia sido um problema. Em Manchester, onde desenvolvia modelos matemáticos do processo biológico de morfogênese, Turing é vitima de um pequeno furto em sua casa. Vai à delegacia local denunciar o furto e menciona seu relacionamento com um jovem. Imediatamente, deixa de ser a vítima de um furto e passa a ser réu, pois a relação homossexual na Inglaterra era considerada crime. Em 1952, é julgado e condenado por "gross indecency" e perde o status de segurança que ainda tinha como consultor do serviço secreto britânico. A pena imposta é a castração química, através da ingestão de hormônios femininos que, entre outros efeitos, faz crescer seios. Em 1954, sua governanta o encontra morto na cama; ao seu lado, uma maçã mordida e um forte cheiro de cianureto no quarto. Turing não deixa nenhuma nota e a policia conclui o inquérito como suicídio por envenenamento.

Em geral, os matemáticos fazem suas grandes contribuições antes dos 30 anos. No caso de Turing, sua grande descoberta sobre números computáveis foi feita antes dessa idade, mas sem dúvida, quando foi condenado, ele ainda estava cheio de ideias e poderia ter produzido muito, se não tivesse morrido. Também se pode imaginar que, caso tivesse sido incriminado antes por sua homossexualidade, a Inglaterra teria ficado sem sua criatividade e engenhosidade para decifrar os códigos alemães e poderia ter perdido a guerra.

Quando ligo o computador e vejo uma maçã mordida na tela, não posso deixar de pensar nesse gênio terrivelmente injustiçado. A Apple nega que seu logotipo seja uma referência ao suicídio de Turing.

29 junho 2012

Rir é o melhor remédio

O tabloide alemão Bild fez uma chamada criativa informando a listagem dos jogadores italianos e desejou uma feliz viagem. A lista, reproduzindo a posição dos jogadores em campo na distribuição dos assentos de um avião, mostrava a confiança na vitória germânica no jogo de ontem pela Eurocopa. Faltou combinar com os italianos, especialmente Balotelli !

06 março 2012

Entrevista com Jeffrey Sachs



Jeffrey Sachs, um dos economistas mais importantes e influentes do mundo, concedeu entrevista ao Valor Econômico, onde trata de desenvolvimento sustentável e da Rio+20. Eis alguns pontos interessantes:

Valor: O senhor disse em discurso nas Nações Unidas que a Rio+20 deveria ser honesta e admitir as mais de duas décadas de fracasso global na área ambiental. O que quis dizer?

Jeffrey Sachs: A conferência do Rio em 1992 foi uma grande conquista da legislação ambiental internacional. Três grandes tratados ambientais saíram de lá: a Convenção do Clima, a da Biodiversidade e a do Combate à Desertificação. Quando olhamos para tudo isso 20 anos depois, temos três fundamentos da lei internacional, mas sem muito resultado. A mudança climática piorou dramaticamente e não temos um arcabouço no qual trabalhar. Registramos perdas gigantes em biodiversidade e enfrentamos secas cada vez mais fortes nas regiões áridas. Acho que é justo dizer que nos últimos 20 anos houve muito debate sobre legislação e acordos, mas não muito progresso em ações concretas. Penso que teríamos de sair da Rio+20 com caminhos práticos. Em outras palavras: esses problemas não devem ser deixados mais ao crivo de advogados. É preciso encontrar abordagens de desenvolvimento sustentável que façam sentido, que sejam mensuráveis e possíveis de replicar. É disso que se trata.

Valor: Mudando de assunto: o Brasil descobriu um volume imenso de petróleo no mar. Poderia trilhar o caminho errado, do passado?

Sachs: Há dois pontos bem diferentes quando se pensa sobre o que fazer com o petróleo no mar. O primeiro é como explorar esse petróleo de maneira segura. Os EUA viveram um enorme desastre nesse campo em 2010 e frequentemente essas empresas são desonestas, míopes, corrompem os legisladores. Os EUA têm um sistema regulatório todo corrompido por empresas que cortaram custos onde não deviam, comportaram-se mal e terminamos com um grande desastre. Mesmo em um país como o Japão, vimos como o sistema que controlava uma usina nuclear era horrivelmente mal gerenciado. Então, a primeira coisa que eu diria é que o Brasil deveria ter um sistema de gerenciamento ambiental muito sério, capacitado e técnico. O segundo ponto é sobre o que vamos fazer com o petróleo nesse mundo. Claro, continuaremos usando petróleo por algumas décadas ainda e evidentemente o Brasil vai explorar seu petróleo. Mas é preciso colocar a questão do combustível fóssil dentro de uma moldura climática séria.

Valor: Estamos vivendo o fim do capitalismo?

Sachs: Penso que precisamos modernizar o capitalismo. Veja as economias que, na minha opinião, têm o melhor desempenho: Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda e Alemanha.

Valor: Por que o senhor escolhe essas?

Sachs: Porque equilibram mercado com políticas sociais e ambientais. Fazem isso de maneiras diferentes e não são perfeitas, mas são países altamente produtivos, orientados pelo mercado, com baixa desigualdade, taxas bem baixas de pobreza, igualdade entre homens e mulheres. São generosos nas licenças-maternidade e paternidade e nas férias porque acreditam em uma vida equilibrada. São economias baseadas em mercados dentro de regimes capitalistas, mas não são a face implacável do capitalismo. Os governos dos países escandinavos têm níveis de corrupção muito baixos porque não deixam os negócios ditarem a política, deixam os governos regulamentarem os negócios. Acho que são bons modelos. Não são perfeitos, mas mostram que podemos ter uma economia de mercado e ao mesmo tempo uma sociedade muito humana. Os EUA são um modelo muito pobre neste momento. É corrupto, altamente desigual, ambientalmente negligente e tem preços excessivos no sistema de saúde porque deixaram o setor privado dominar a nossa política. É um exemplo de mercado que foi longe demais. Os modelos escandinavos são de sociedades equilibradas, éticas e moderadas. Espero que esses países continuem muito prósperos. Neste momento eles estão muito bem, dão ótimas condições de vida às pessoas, mostram como evitar a corrupção e provam, no meu ponto de vista, que é possível ter um capitalismo não imprudente. Eles usam a bandeira da social-democracia. Isso, na minha cabeça, são boas descrições.

18 janeiro 2012

Made in Germany em risco

Whether it's attached to a car, a dish washer or a pepper grinder, the "Made in Germany" label is key to selling products made in the country. But if the European Union has its way, goods carrying the tag will soon have to comply with higher standards, much to the consternation of German industry representatives.


EU Commissioner Algirdas Semeta plans to restrict the sought-after "Made in Germany" label to products where at least 45 percent of the value content comes from Germany. Until now, EU rules defined the country of origin as the place where "the last substantial, economically justified processing" took place.

Under that rule, products tagged "Made in Germany" today can be almost completely produced abroad but given their finishing touches in a German factory.

Fonte: 'Made in Germany' Label At Risk

09 setembro 2011

Ao contrário do Brasil, Alemanha quer menos Estados

Enquanto no Brasil há planos para a criação de novos Estados, na Alemanha o governo quer reduzir o número de unidades federativas para diminuir gastos administrativos.

No Brasil, tramitam atualmente na Câmara projetos para a criação de seis novos Estados, como Mato Grosso do Norte, Maranhão do Sul ou Tapajós e Carajás, no atual Pará. Na Alemanha a tendência é inversa: vários dos 16 Estados atuais poderão ser fundidos no futuro, formando unidades maiores.
Entre as possíveis fusões, está a criação de um mega-estado na ex-Alemanha Oriental, que se chamaria Alemanha Central, e a união de três ou quatro Estados no norte do país, formando a Alemanha do Norte. Além disso, Berlim poderá se unir a Brandenburgo, o Estado que circunda o território da capital alemã, e no sudoeste do país fala-se em um “casamento” entre os Estados da Renânia-Palatinado e Saarland.

Vantagens econômicas

A redução do número de Estados é defendida veementemente por economistas e pelo empresariado alemão. As fusões poderiam cortar custos administrativos, diminuir a máquina estatal e tornar os novos Estados mais competitivos – as regiões cooperariam entre si, em vez de ficarem brigando por investimentos.

Os maiores empecilhos até agora são de fundo cultural: os moradores dos Estados alemães têm uma forte identidade regional.Isso ocorre apesar das atuais fronteiras estaduais terem sido criadas pelas forças de ocupação americanas, francesas, inglesas e russas depois da Segunda Guerra.
Manfred Nitsch, economista da Universidade Livre de Berlim, disse em entrevista à BBC Brasil que a situação na Alemanha é diferente do que ocorre no Brasil, já que a área dos Estados é menor.
Além disso, a população está diminuindo, o que significa que há cada vez menos gente para ser governada, diz Nitsch.

Como no Brasil, na Alemanha também são necessários plebiscitos para mudar as fronteiras dos Estados. Apesar das animosidades regionais, analistas apostam que, no longo prazo, o número de Estados alemães vai mesmo diminuir por causa das fortes razões econômicas para as fusões estaduais.

Fonte: BBC Brasil - Marcelo Crescenti

25 fevereiro 2007

Efeito do Futebol

Segundo a revista alemã Spiegel os hospitais da Alemanha estão constatando um aumento no número de nascimentos logo após a Copa do mundo.

Os especialistas consultados pela revista dizem que isso não é surpresa pois a felicidade tende a produzir hormônios, tornando mais fácil a fertilidade humana. Isso é uma boa notícia para a Alemanha, que possui uma baixa de nascimento abaixo da União Européia. A reportagem acredita na possibilidade de aumento no número de crianças com nome de Bastian (Schweinsteiger), Jens (Lehmann) ou Lukas (Podolski).