Grécia (750–31 a.C.)
A Grécia era uma coletânea de cidades-estado que se tornou uma nação quando foi unificada por Filipe da Macedônia em 338 a.C., e depois se transformou em um vasto império durante o breve reinado de seu filho, Alexandre, o Grande (336–323 a.C.). O império se dissolveu rapidamente após sua morte e, em 31 a.C., a Grécia já fazia parte do Império Romano. No entanto, embora o império de Alexandre, o Grande, tenha sido efêmero, a cultura grega desse período se mostrou extremamente duradoura, especialmente nas áreas da filosofia e da política. Os nomes de Homero, Pitágoras, Sólon, Sócrates, Hipócrates, Péricles, Platão, Aristóteles e Demóstenes permanecem vivos até hoje.
O movimento colonizador grego ocorreu entre 750 e 500 a.C. As diversas cidades-estado estabeleceram postos comerciais em toda a região do Mediterrâneo. O comércio local na Grécia era realizado, principalmente, por meio de trocas (escambo). Houve muitas guerras entre as cidades-estado de Esparta, Atenas e Tebas, com alianças variadas entre outras cidades. Do ponto de vista contábil e administrativo, o foco deve ser Atenas, com suas leis bem desenvolvidas, órgãos governamentais, sua academia e seu liceu. De fato, Aristóteles tornou-se tutor de Alexandre quando este tinha 13 anos.
Grande parte das evidências de práticas contábeis na Grécia desse período está relacionada à administração, tanto governamental quanto dos templos. Williard E. Stone, da Universidade da Flórida, escrevendo em 1969, afirmou que se preferia utilizar escravos como contadores, pois, ao contrário dos homens livres, eles podiam ser torturados, e acreditava-se que os testemunhos obtidos sob tortura eram mais confiáveis do que os juramentos dos homens livres. Péricles adotou o costume de exigir que os empreiteiros responsáveis por obras públicas reportassem receitas e despesas em tábuas entalhadas em pedra, fixadas nas paredes dos edifícios, como no Partenon. Isso estava de acordo com práticas semelhantes do Egito Antigo, onde inscrições desse tipo foram encontradas na Pirâmide de Quéops.
O conselho que governava a cidade-estado de Atenas possuía um elaborado sistema de registro e prestação de contas públicas. Aristóteles, em sua obra “Política”, discutiu o papel do auditor governamental, que recebia todas as contas de despesas e as submetia a auditoria, sendo essa uma função tão importante que tais oficiais não podiam exercer nenhuma outra atividade.
George J. Costouros (1978), da Universidade Estadual de San Jose, descreveu os escritos de Ésquines, orador e político ateniense do início do século IV a.C., que afirmou: “Nesta cidade (Atenas), tão antiga e grandiosa, nenhum homem que tenha exercido qualquer função pública está isento de auditoria.” O oficial, após apresentar suas contas e passar por uma auditoria bem-sucedida, recebia então uma “coroa” como reconhecimento. Aristóteles, na obra “Constituição de Atenas”, distingue três conselhos de contadores, cada um composto por dez membros: os Contadores do Conselho, os Contadores Administrativos, assistidos por dez avaliadores, e os Examinadores, assistidos por vinte avaliadores. As contas e seus respectivos responsáveis eram submetidos a audiências públicas, nas quais os valores efetivos eram comparados com os valores orçados, e os oficiais podiam ser acusados caso fossem encontradas discrepâncias.
Uma rica fonte histórica da contabilidade grega são os Papiros de Zenon, do século III a.C., encontrados na região de Fayum, no Egito Ptolemaico. Zenon, um grego, era o diretor executivo de Apolônio, ministro das finanças de Ptolomeu Filadelfo. Além de suas funções governamentais, Apolônio também realizava diversas atividades comerciais em benefício próprio. H.P. Hain, da Universidade de Melbourne, na Austrália, em 1966, descreveu o uso da contabilidade por centro de responsabilidade por Zenon, que mantinha registros escritos detalhados.
Nos papiros, há evidências de auditorias extensivas, indicadas por um traço inclinado ou um ponto grosso à frente de cada valor numérico. Entre os documentos constam resumos contábeis mensais, anuais e trienais. Em conjunto, esses papiros ilustram um sistema altamente desenvolvido de contabilidade centralizada, controles rigorosos e eficiência empresarial.
Richard Vangermeersch para The History of Accounting
É bom lembrar que o conceito de valor de uso e valor de troca já era conhecido pelos gregos. Foto: aqui
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