Gino Zappa (1879–1960) foi um dos gigantes da contabilidade e da economia do século XX, tanto pela influência que exerceu no mundo científico quanto na profissão. O tema central da contabilidade empresarial, segundo Zappa, é a determinação do resultado (rendimento/lucro). Esse fenômeno básico constitui o alicerce de todas as explicações sobre o processo contábil e seus elementos, especialmente nas teorias contábeis sobre o balanço patrimonial e a demonstração de resultados.
Zappa reconheceu o aspecto dinâmico da contabilidade ao enfatizar o papel da demonstração de resultados. Assim, o balanço patrimonial torna-se um instrumento para a determinação do resultado. Essa teoria contábil, centrada na determinação do resultado, é uma teoria de quatro séries de contas, que, em conformidade com a prática atual, distingue duas séries de contas patrimoniais (ativos, de um lado; passivos e patrimônio líquido, de outro) e duas séries de contas de desempenho (despesas e receitas). A inclusão dessas diferentes séries de contas permite o reconhecimento de todas as transações e processos em diferentes tipos de entidades: o fluxo contínuo e a formação interna de bens e serviços, seu consumo subsequente e a produção final.
Zappa desenvolveu o aspecto dinâmico da contabilidade e da economia da empresa, predominante até hoje na Itália. As demonstrações de resultados esclarecem a correlação geral entre componentes positivos e negativos de renda atribuídos a um período específico. O balanço patrimonial mostra um sistema de valores (um fundo de valores), referente ao final desse período, para a determinação futura do resultado. Os componentes do resultado são determinados, basicamente, por trocas monetárias. Para expressar de forma compreensiva a magnitude desses componentes, eles devem ser considerados como valores de troca. Assim, o resultado é concebido como um conceito de valor. O resultado é, essencialmente, um fato de valor e, portanto, de distribuição, pois só é determinado nas trocas e para as trocas.
Zappa via o balanço patrimonial como um reflexo do futuro. Para ele, os valores dependem dos resultados futuros. Seu conceito de balanço patrimonial possui, simultaneamente, caráter de orçamento e avaliação — eventos futuros devem ser trazidos a valor presente. É mérito da escola contábil de Zappa ter reconhecido os efeitos das atividades futuras nos dois lados do balanço patrimonial, em uma época em que o balanço era normalmente interpretado apenas como reflexo de eventos passados.
Zappa foi o fundador da economia da empresa (economia d’azienda), uma teoria geral que considera a empresa como um todo complexo: composta por partes específicas, mas interligadas, e que busca investigar essa complexidade total. Ele expressou sua visão assim:
“... se se acredita que aquilo que é organicamente um todo pode ser dividido com segurança; se se acredita que a ainda maior variedade de fenômenos sob investigação exige um alto grau de especialização, então podemos aceitar a autonomia científica das três disciplinas: gestão, organização e sistema de informações. Contudo, não devemos esquecer os muitos laços, tanto evidentes quanto ocultos, que unem essas três disciplinas; uma ordem de conhecimento não pode ser desenvolvida — ou pior, legitimada — isolando-a do conhecimento que constitui seu substrato natural e complemento lógico.”
A seriedade, a originalidade e a concretude de seus pensamentos científicos — enraizados na experiência e em um poder incomum de observação dos fenômenos econômicos — deram origem a muitos discípulos que se destacaram nos estudos de contabilidade e de economia da empresa. Os estudos contábeis na Itália após Zappa tornaram-se praticamente idênticos aos da administração de empresas, e a metodologia passou a se orientar cada vez mais na direção dos eventos econômicos da empresa, uma direção que se espalhou amplamente. O verdadeiro objeto dos estudos contábeis é a economia da empresa — empresas de todos os tipos — expressa em termos de quantidades elaboradas principalmente por métodos contábeis e desenvolvidas na empresa em resposta às suas necessidades de informação e controle.
Giuseppe Galassi para The History of Accounting
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