Stevin, Simon (1548–1620) - Não é possível apresentar uma bibliografia completa das publicações de Simon Stevin, pois ele escreveu sobre uma variedade de temas. Stevin foi profundamente influenciado pelo Pai Fundador da Contabilidade, o renomado matemático e erudito Luca Pacioli. Assim como Pacioli, Stevin se interessava pela aplicação prática das ciências (especialmente da matemática): aritmética, geometria, perspectiva, ciência militar, navegação, arquitetura e música. Aqui, o foco está nas contribuições de Stevin para a contabilidade.
Simon Stevin nasceu em 1548 em Bruges, um importante porto comercial à época, e trabalhou, como Pacioli, para um rico mercador (em Antuérpia). Por isso, Stevin teve que aprender as práticas da escrituração contábil e da aritmética comercial. Essa experiência resultou em seu primeiro livro, publicado em 1582, Tafelen van Interest (Tabelas de Juros), no qual ele estabeleceu as regras de juros simples e compostos e, como auxílio, forneceu tabelas para o cálculo de descontos e anuidades (importantes para as letras de câmbio). Havia, por exemplo, 16 tabelas variando de 1% a 16% e cobrindo períodos de 1 a 30 anos, com três colunas: valor presente, juros compostos e anuidades.
A ideia de usar tabelas não era nova. Pacioli havia publicado algumas em sua Summa de Arithmetica (1494), intituladas "Tariffa". Na Itália, banqueiros já utilizavam essas tabelas há dois séculos, mas frequentemente as mantinham em segredo como ferramentas comerciais.
Assim como Pacioli, Stevin defendia que a língua nativa, e não o latim ou o grego, era a melhor ferramenta de comunicação. Essa posição, contudo, não teve muito sucesso e teve consequências negativas, pois limitou a circulação de seus livros e a reputação do autor.
Stevin foi um dos primeiros autores a compor um tratado sobre contabilidade governamental. Ele o fez na obra Vorstelicke Bouckhouding op de Italiaensche Wyse (Contabilidade Princípua à Maneira Italiana), de 1604 (segundo Flesher). Esse livro incluía quatro partes: Escrituração Comercial; Escrituração de Domínios; Escrituração de Despesas Reais; e Escrituração de Guerra e Outras Finanças Extraordinárias. A obra foi escrita para seu patrono e amigo, o Príncipe Maurício de Nassau. Stevin enfatizava que a aplicação da partida dobrada para municípios e governos era extremamente necessária, pois a supervisão nessas esferas era mais fraca do que nas empresas. Tesoureiros públicos frequentemente enriqueciam enquanto o governo empobrecia, devido à ausência de um sistema de controle robusto baseado na partida dobrada.
É provável que Stevin tenha tido impacto tanto na Suécia quanto nos Países Baixos. O governo sueco reorganizou seu sistema contábil e introduziu a partida dobrada na administração pública em 1623. O. Ten Have (1956), chefe do Departamento de Estatísticas Sociais e Econômicas do Bureau Central de Estatísticas dos Países Baixos, rastreou a influência de Stevin por meio do mercador holandês Abraham Cabeljau, que liderou os esforços suecos nessa reforma contábil.
As obras de Stevin foram reunidas em um volumoso conjunto de dois volumes intitulado Wisconstighe Ghedachtenissen (vol. 1 em 1608 e vol. 2 em 1605), que era uma coleção dos manuscritos das lições que Stevin ministrava ao Príncipe Maurício. O texto contábil de Stevin foi incluído nesse conjunto. É importante observar, do ponto de vista da educação contábil, que Stevin usava a forma de diálogo entre ele e o Príncipe Maurício para estabelecer uma fundamentação sistemática das práticas contábeis.
A base da escrituração, segundo Stevin, é o começo e o fim dos “direitos de propriedade”. Essa ideia é um tema atual, e há uma vasta literatura sobre “direitos de propriedade”, com ênfase nos direitos estabelecidos por contratos. Stevin foi um dos primeiros historiadores da contabilidade, tendo realizado investigações sobre a antiguidade da escrituração. A contabilidade por partidas dobradas, afirmou ele, tem muitas raízes no período romano (ou até mesmo grego). A importância da história da contabilidade para o desenvolvimento de uma teoria contábil sólida e realista, bem como para uma compreensão mais profunda do legado contábil por parte dos profissionais, foi recentemente reconhecida. A profissão contábil evoluiu ao longo de muitos séculos.
Stevin também reconheceu que a escrituração é, antes de tudo, uma forma de organizar informações financeiras, e sua compilação do balanço patrimonial (staet proef) é realizada para determinar matematicamente o lucro do ano. Stevin é considerado o inventor da demonstração de resultados. “Stevin desenvolveu a demonstração de resultados como uma prova da exatidão da variação no patrimônio líquido apresentada no balanço patrimonial” (Flesher).
Há também uma grande diferença entre Pacioli e Stevin. Enquanto Pacioli, por exemplo, iniciava o inventário com: “Em nome de Deus, 8 de novembro de 1493, Veneza”, Stevin omitia todas as referências religiosas no topo das páginas ou no início dos livros. Esse é, de fato, um ponto fundamental. Talvez essa seja uma das razões pelas quais, quando em 1645 foi proposta a construção de uma estátua para esse ilustre cidadão em sua cidade natal, Bruges, houve forte oposição por parte do clero local ao projeto (Flesher).
Frans Volmer - The History of Accounting
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