Translate

14 março 2025

Vulnerabilidades do Clima

A tabela mostra que, por exemplo, no Brasil, 75-100% das unidades geográficas estão expostas a um alto risco de inundação e 28,6% dos ativos bancários estão localizados nessas regiões.

 
O Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) publicou em janeiro um relatório para avaliação das vulnerabilidades do clima. É um arcabouço analítico e um conjunto de ferramentas para avaliar esse tipo de risco.

Uma ferramenta complementar ao arcabouço inclui três categorias de métricas para monitorar vulnerabilidades climáticas de forma prospectiva. São elas: (i) indicadores que fornecem sinais iniciais sobre potenciais fatores de risco físico e de transição; (ii) métricas de exposição para avaliar a extensão dos impactos diretos e indiretos na economia real e no sistema financeiro; e (iii) métricas de risco para quantificar os impactos sobre as instituições financeiras e o sistema como um todo. Embora essas métricas já sejam utilizadas domesticamente por alguns membros do FSB, diversos desafios metodológicos e de dados precisam ser superados para que possam ser aplicadas ao monitoramento global.

Esquemorfismo

 

Esquemorfismo seria uma tradução para o termo Skeuomorph. Veja o desenho acima: o ícone de "salvar" representa um disquete, um instrumento que já não é utilizado há mais de vinte anos. Ainda assim, as pessoas compreendem seu significado. Observe também que o telefone é um objeto arcaico. E o que dizer da lupa, que simboliza a função de pesquisa?

Ao criar a representação visual de um produto ou serviço, utilizamos elementos familiares e intuitivos, muitas vezes inspirados em objetos do passado.

Na contabilidade, o termo "caixa" é, de certa forma, um exemplo de esquemorfismo. Originalmente, as pessoas guardavam dinheiro em uma "caixa", e o termo passou a ser utilizado nesse contexto. No entanto, nos balanços atuais, "Caixa e Equivalentes" representa, em grande parte, os equivalentes, e muito pouco o caixa propriamente dito.

Fake news e informações contábeis

Muito interessante:


Apresentamos evidências empíricas sobre o papel das informações contábeis na formação dos incentivos para a produção de fake news. Documentamos que os autores de fake news estrategicamente (1) publicam seus artigos próximos aos anúncios de resultados, aproveitando a ampla atenção do mercado que esses eventos atraem e (2) dentro desse período, evitam publicar após o anúncio, quando os investidores estão menos suscetíveis a fake news devido à divulgação das informações contábeis.

Ao expandir nossas análises para o ambiente mais amplo das informações contábeis, constatamos que os autores de fake news são menos propensos a mirar em empresas com informações contábeis mais robustas e geram reações menores no mercado quando o fazem. Esses resultados destacam os papéis ex-ante e ex-post das informações contábeis na proteção das empresas contra a desinformação financeira.


Telefone sem fio das notícias financeiras


Examinamos como as notícias financeiras são distorcidas à medida que se espalham por diferentes veículos de imprensa, de forma semelhante ao "telefone sem fio". Utilizando uma amostra de artigos exclusivos do Wall Street Journal, empregamos o ChatGPT-4 para quantificar o viés de transmissão à medida que veículos concorrentes recontam essas histórias. Encontramos fortes evidências de que os artigos recontados tendem a ser mais opinativos e negativos, além de menos factuais e atraentes em comparação com a história original. A especialização reduzida dos veículos de imprensa, o maior intervalo de tempo entre a publicação original e sua recontagem, e a presença de narrativas concorrentes de outros meios de comunicação contribuem para essa distorção. A distorção midiática prevê negativamente os retornos anormais do mês seguinte, sugerindo que o viés de transmissão cria uma percepção pública mais forte e pessimista da história original. Esse viés afeta principalmente investidores de varejo e leva a um maior desacordo entre traders sofisticados e não sofisticados.

Fonte: aqui. Imagem: aqui

13 março 2025

Responsabilização climática

Enquanto o tema parece estar em retração em algumas partes do mundo, em outras, a pauta ainda é relevante e pode trazer consequências para as empresas poluidoras. No final de dezembro de 2024, o estado de Nova York aprovou uma lei que entrará em vigor em 2028. A legislação prevê a análise das emissões de carbono das grandes empresas nos primeiros 19 anos do século, com o objetivo de reparar os danos causados.


Em outras palavras, as empresas com maior impacto no problema climático serão responsabilizadas financeiramente. O montante a ser pago pode alcançar 3 bilhões de dólares por ano, e o dinheiro arrecadado será utilizado para cobrir os custos das mudanças climáticas. O estado de Nova York segue o exemplo de Vermont, que já havia aprovado uma lei semelhante no início de 2024. No entanto, como o peso econômico do primeiro é maior que o do segundo, o destaque acabou recaindo sobre aquela que seria a décima economia do mundo.

Há controvérsias sobre a medida, e uma potencial reação das empresas é esperada. No entanto, fico imaginando se as companhias que poderão arcar com essa dívida não terão incentivo para omitir ou distorcer informações sobre sustentabilidade, já aprovadas ou em elaboração pelos reguladores.

Fonte: aqui . Imagem: aqui

Como a não checagem de informações comprometeu uma revista

Saiu na Revista Pesquisa FAPESP: “Uso de e-mails falsos leva à retratação de 45 artigos de pesquisadores brasileiros: Avaliação por pares foi comprometida: três revisores indicados por autor não eram quem pareciam ser”. 

O caso ousado envolveu um biólogo “altamente produtivo”, do Instituto Federal Goiano (IF-Goiano), que acabou tendo 45 de seus artigos invalidados pela Science of the Total Environment (Elsevier), após descobrirem que ele enviou sugestões de possíveis revisores do trabalho com e-mails falsificados. Esses pareceristas renomados e realmente existentes, tiveram contas falsas criadas por “terceiros”. 

O autor nega qualquer envolvimento na manipulação dos pareceres, alegando que apenas forneceu sugestões de contatos, com base em informações antigas, coletadas de uma plataforma de publicações chinesa. Porém, ao ser solicitado, não conseguiu recuperar a origem dos dados. 

A questão vai um pouco além: a revista aceitou as contas de e-mail, há anos sem verificar a veracidade, o que comprometeu a integridade do processo de revisão.

Fonte da imagem: aqui

Multa de Big Four. De novo.

Fonte da imagem: aqui

Eu até tentei dar um tempo das Big Four, mas elas estão com tudo nas manchetes atuais.

Desta vez a Susep (Superintendência de Seguros Privados) noticiou a aplicação de penalidades envolvendo a Ernst & Young (EY) e sua auditoria sobre as demonstrações do IRB Brasil Resseguros. Os grifos são nossos:
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) concluiu, em reunião ordinária do Conselho Diretor realizada ontem (12), a análise de dois processos administrativos sancionadores relacionados à auditoria atuarial independente das demonstrações financeiras do IRB Brasil Resseguros S/A referentes a 31 de dezembro de 2019. Como resultado, foram aplicadas penalidades à Ernst & Young Serviços Atuariais S/S (EY) e a três profissionais que atuaram na auditoria, em razão de indícios de descumprimento de normativos regulatórios.

Trata-se de processos administrativos sancionadores submetidos ao Conselho Diretor da Susep para juízo de confirmação do julgamento realizado pela Coordenação Geral de Regimes Especiais, Autorizações e Julgamentos – CGRAJ, e as decisões ainda estão sujeitas a recurso.

As análises conduzidas pela Susep indicaram que a auditoria atuarial realizada não teria observado elementos que exigiam maior diligência na avaliação das provisões técnicas do IRB RE. Há indicativos de que documentos e informações disponíveis à época poderiam ter sinalizado inconsistências que não foram devidamente refletidas no parecer atuarial emitido.

Em um dos processos, o Conselho Diretor da Susep entendeu que havia elementos que indicam falhas na avaliação da adequação da Provisão de Sinistros a Liquidar (PSL) e da PSL "Legal Cedents". Em outro processo, foram identificados indícios de que o parecer atuarial foi emitido antes da conclusão de análises relevantes, sem apontar ressalvas sobre informações que ainda estavam pendentes de esclarecimento.

Considerando os elementos analisados, foram aplicadas penalidades de multas que ultrapassaram o montante de R$1 milhão de reais, além da inabilitação de um dos auditores para o exercício de cargo ou função pelo período de 4,4 anos (1.606 dias). A empresa de auditoria atuarial, EY, responde solidariamente pelo pagamento das multas aplicadas aos profissionais.

A Susep reforça que as decisões ainda estão sujeitas aos trâmites recursais e ressalta a importância da atuação diligente das auditorias independentes na verificação das provisões técnicas das entidades supervisionadas, em linha com os normativos vigentes e as melhores práticas do setor.
Além disso, em outubro de 2024, a PwC (PricewaterhouseCoopers) foi multada pela Susep em mais de R$ 2 milhões também por auditorias inadequadas relacionadas às demonstrações contábeis do IRB. Segundo a Susep, os processos ainda transitam pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), podendo ter novos desdobramentos.

Boa vontade dos clientes

Pedro Demo, das obras de metodologia, escreve com muita regularidade sobre muitas coisas. Em recente artigo, ele conta um pouco da história de Datini, um marco na contabilidade mundial: 


Exemplo disso foi Francesco di Marco Datini, que virou comerciante bem-sucedido, com a história de suas aventuras fora da Itália (era de Prato), na Ilha Canária. O rei lá o convidou para jantar. Havia na mesa guardanapos e neles um taco do tamanho do braço, cuja finalidade era enigmática. Sentando-se à mesa, quando a comida foi posta, o odor atraiu ratos de todos os cantos; o taco era para os espantar. No dia seguinte, o comerciante trouxe do navio uma gata e, logo, ela matou 25 ratos e os outros fugiram. O rei ficou impressionado, enquanto Datini o presenteava com a gata. Ao deixar a ilha foi coberto de presentes, sobretudo joias, valendo 4 mil escudos. Voltou no ano seguinte, levando um gato doméstico – que lhe rendeu 6 mil escudos. Ficou rico (AR:L2870). Comentam AR que a história pode ser forjada, pois não há registro da viagem às Canárias. Datini nasceu de taberneiro pobre, em 1335. Com 13 anos, a Peste Negra varreu a Itália, e sua mãe, seu pai e seus dois irmãos morreram. Só ele e seu irmão Stefano sobreviveram, com pequena herança: uma casa, um pedaço de terra e 47 florins.

Um ano depois da morte do pai, Datini mudou-se para Florença, virou aprendiz de lojista e ouvia histórias de cidades prósperas de Avignon, no sul da França. Lá estava residindo o Papa (por disputa sucessória), e a presença papal agitava o mercado local, do qual comerciantes italianos se aproveitavam. Grande parte do comércio de luxo e serviços bancários eram de famílias italianas, vivendo em bairro exclusivo na cidade. Com 15 anos, Datini vendeu seu terreno em Prato e se mudou para lá. Em 1361, com 26 anos, era sócio de dois toscanos, Toro di Berto e Niccolò di Bernardo. Negociava armamentos para os dois lados do conflito. Em 1368, sua contabilidade registrava a venda de armas em 64 libras para Bernard du Guesclin, comandante militar francês. No mesmo ano, houve venda enorme de armas para a comuna de Fontes, para se proteger contra Guesclin. Em 1363, Datini teve a primeira loja, comprada por 941 florins, com outros 300 pagos pela "boa vontade dos clientes". Em 1367, renovou a parceira com Toro di Berto, investindo cada um 2,5 mil florins de ouro, com três lojas. Em 1376, comercializava sal e lançou operador de câmbio, incluindo comércio de prataria e obras de arte. Abiu taverna de vinho e um armarinho, e enviou funcionários para negociar em lugares mais distantes, como Nápoles. Sua principal loja em Avignon tinha cintos de prata florentina e anéis de casamento de ouro, peças de couro, selas e arreios de mula da Catalunha, utensílios domésticos de toda a Itália, lençóis de Gênova, fustão de Cremona, e zendado escarlate, tecido especial de Lucca. A loja em Florença surgiu como eixo movimentado de produtos manufaturados à época e tinha tecido de lã branco, azul ou cru; linhas de costura, cortinas de seda e anéis de cortina; toalhas de mesa, guardanapos e grandes toalhas de banho; baús pintados à mão e porta-joias usados como dote da noiva.

Voltando de Avignon em 1382, montou negócio em Prato e Florença com filiais em Pisa, Gênova, Barcelona, Valência e Ibiza. Com diferentes empórios moviam-se ferro, chumbo, alumínio, cativos e temperos da Romênia e do Mar Negro; lã inglesa de Southampton e Londres; trigo da Sardenha e da Sicília; couro de Túnis e Córdoba; seda de Veneza; uva passa e figos de Málaga; amêndoas e tâmaras de Valência; maçãs e sardinhas de Marselha; óleo de oliva de Gaeta; sal de Ibiza; lã espanhola de Maiorca; da Catalunha, laranjas, óleo de oliva e vinha. Documentos de negócio têm cartas em latim, francês, italiano, inglês, flamengo, catalão, provençal, grego, árabe e hebraico. De comerciante, passou a produzir tecidos em Florença, comprando lã inglesa e espanhola e exportando o tecido pronto. Para AR, Datini fez fortuna sem "nenhum conhecimento, conexões ou capital, e sem a vantagem de contatos, monopólios ou ajuda do governo, exceto pelo contexto institucional amplo criado pelas comunas italianas" (AR:L2909). Revelou mobilidade ascendente vertiginosa, algo temido pela elite tradicional ameaçada. Bispo Otto, tio de Barbarosa, criticava nos genoveses: "não desdenhavam de oferecer o cinto de cavaleiro ou títulos de distinção a jovens homens de status inferior e mesmo a trabalhadores de baixos ofícios manuais, que, em outros lugares, seriam barrados como a praga caso quisessem assumir atividades mais respeitáveis" (Ib.). Reclamava da erosão da hierarquia e normas, embora a corrosão desse sistema fosse fundamental para o desenvolvimento econômico, enquanto permitia que gente simples, mas com talento, chegassem ao topo. 

O negrito é meu. Vocês sabem qual o termo que usamos hoje no lugar do negrito?

Tecnologia pode colocar em risco grandes empresas de energia

A notícia:


O plano da China de construir uma enorme usina solar no espaço poderia gerar mais energia em um ano do que todas as reservas remanescentes de petróleo da Terra. O painel solar de 0,6 milha de largura proposto, que orbitará 22.370 milhas acima da Terra, superaria as limitações tradicionais de energia solar, como cobertura de nuvens e interferência atmosférica, fornecendo energia limpa contínua.

Conforme relatado no South China Morning Post, o cientista-chefe Long Lehao comparou o significado do projeto a “mover a Barragem das Três Gargantas a uma órbita geoestacionária”. A estação capturaria a energia solar no espaço, onde a luz solar é 10 vezes mais intensa do que na superfície da Terra, e a transmitiria de volta à Terra usando a tecnologia de microondas. 

Outros concorrentes estão com projetos semelhantes, o que inclui empresas privadas ocidentais. Na medida que estudos avancem, uma tecnologia como essa pode eclipsar grandes empresas de energia. Mas acredito que isso esteja ainda muito distante.

Rir é o melhor remédio

 

de Umsabadoqualquer

12 março 2025

E com você, novamente: multa das Big Four


A KPMG apareceu de novo nas manchetes e não pelos motivos certos.

A Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB), órgão criado pela Lei Sarbanes-Oxley para supervisionar auditorias de empresas públicas listadas nos Estados Unidos, anunciou sanções contra nove filiais da KPMG por violarem regras e padrões da PCAOB, incluindo requisitos de controle de qualidade.

Na berlinda: Brasil, Canadá, Itália, Israel, Reino Unido, México, Coreia do Sul, Suíça e Austrália.

Todas receberam multas por: falhas relacionadas a padrões de controle de qualidade, não atendimento aos padrões exigidos pela PCAOB (e nem os próprios!), supervisão e implementação falhas de processos de controle interno, omissão na divulgação de quem realmente participou da auditoria.

Ainda, quatro filiais, incluindo a brasileira, apresentaram falha na comunicação com comitês de auditoria.

E o Brasil conseguiu um destaque extra: foi a única filial a não cumprir obrigações de relatórios anuais, deixando de divulgar corretamente certos documentos obrigatórios.

O prejuízo total? US$ 3,375 milhões.

A PwC teve a filial de Singapura multada em US$ 1,5 milhão, devido a uma falha em procedimentos e políticas relacionadas à independência.

Papa João Paulo II e o comércio entre as nações

Será verdade


Durante seu pontificado, de 1979 a 2005, o Papa João Paulo II visitou 130 países, mais do que os 263 papas anteriores juntos. Eu documento um aumento significativo nas exportações para parceiros comerciais com uma proporção relativamente alta de católicos após uma visita pastoral, resultando em um aumento não negligenciável nas exportações agregadas. Os maiores beneficiários, em termos de crescimento do comércio, são os países visitados que estão em estágios mais baixos de desenvolvimento econômico, possuem relativamente menos católicos e têm laços comerciais mais fracos. Esse efeito não é observado em outros eventos de destaque, como visitas de líderes seculares renomados ou eventos esportivos globais.

Lojas americanas processa ex-diretores

A notícia:


A Americanas (AMER3) informou na noite desta terça-feira 11, que iniciou um processo arbitral contra quatro ex-diretores, que acusa serem os operadores da fraude contábil de mais de R$ 20 bilhões revelada em 2023. A varejista busca indenização por danos morais e imateriais do ex-CEO Miguel Gutierrez e dos ex-diretores Anna Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles. A Americanas não revela os valores, mas afirma que “buscará ser integralmente ressarcida de todos os danos materiais e imateriais sofridos em decorrência dos atos ilícitos praticados, e que serão ainda detalhadamente apresentados durante a tramitação do procedimento”. A companhia está em recuperação judicial.

Sempre tive a impressão de que a "cultura" organizacional foi relevante para a fraude. Mas quem seria o responsável? E os membros dos conselhos?   Imagem aqui

Estudo de campo, ESG e polarização no Brasil

Resumo


Examinamos as preferências heterogêneas de candidatos a emprego por benefícios não salariais, com foco em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG), por meio de um experimento de campo incentivado no Brasil. Nossos resultados revelam que o ESG é o benefício não salarial mais polarizador entre diversos grupos sociodemográficos, com as preferências mais fortes observadas entre indivíduos altamente educados, brancos e politicamente liberais (Colonnelli et al., 2025). Enquanto as mulheres demonstram uma preferência maior por políticas de trabalho remoto, todos os outros benefícios não salariais apresentam variação mínima entre os grupos sociodemográficos. Nossos achados destacam o papel crucial dos valores corporativos na configuração dos resultados econômicos em uma sociedade cada vez mais polarizada.
 

Foto:aqui

Rir é o melhor remédio

Vida de contador
 

Razões para poucas empresas listadas nos Estados Unidos

O resumo traduzido: 

Doidge, Karolyi e Stulz (2017) mostram que, de 1999 a 2012, os EUA desenvolveram uma lacuna de listagem em relação a outros países, ou seja, apresentaram um número anormalmente baixo de empresas de capital aberto. Neste artigo, atualizamos essa evidência até 2023 e constatamos que a lacuna de listagem aumentou, embora a um ritmo lento. Em 2023, os EUA possuem cerca da metade do número de empresas listadas per capita em comparação com outros países desenvolvidos. Discutimos algumas das questões importantes levantadas pela existência e pelo aumento dessa lacuna, para as quais esperamos que os pesquisadores encontrem respostas.

Eis o gráfico mais relevante:

Como a base é per capita, obviamente estamos muito atrasados em relação aos demais países. Uma das principais justificativas para o declínio do peso das empresas listadas nos Estados Unidos: fusão e aquisição.

11 março 2025

Holmes continua na prisão

A fundadora e responsável por uma fraude chamada Theranos, Elizabeth Holmes, está presa. Recentemente, porém, ela apelou a um tribunal, alegando ter um papel muito importante a desempenhar fora da prisão. O tribunal ouviu Holmes e decidiu que a humanidade está melhor com ela atrás das grades.

No passado, Holmes criou sua empresa e anunciou um milagre: com uma gota de sangue, seria possível realizar uma grande variedade de exames. Convincente, a empresária persuadiu pessoas influentes de que a tecnologia era viável e acessível. Muitos investiram recursos na empresa, e ela moldou uma imagem semelhante à do fundador da Apple, Steve Jobs: adotou uma voz rouca, vestia preto e cultivava um estilo inovador.

Na realidade, a máquina da empresa não tinha capacidade para realizar os exames que prometia. A farsa foi descoberta, e Holmes foi julgada por enganar os investidores. Inicialmente, tentou evitar a prisão ao se casar e ter filhos, mas isso não comoveu o júri, que a condenou a uma pena severa.

Recentemente, Holmes tentou convencer o público de que realizava um trabalho social relevante na prisão. Agora, fez um novo apelo para conquistar a liberdade. A notícia, porém, é que ela permanecerá presa até 2032.

 

STJ condena KPMG e abre precedente para responsabilização de auditorias no Brasil


Saiu no Valor uma recente condenação da KPMG, uma das Big Four, a pagar cerca de R$ 10 milhões a um investidor do Banco BVA. Isso estabelece um precedente importante para o mercado financeiro e para a responsabilidade das auditorias independentes no Brasil. A decisão - inédita - do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a qual não cabe mais recurso, responsabiliza a KPMG por ter emitido pareceres sem ressalvas sobre as demonstrações financeiras, pouco antes do colapso da instituição.

O ministro do STJ, Villas Bôas Cueva. destacou a atuação "exemplar" do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e reforçou a responsabilidade das auditorias por negligência e imperícia. O STJ manteve o entendimento do TJSP, que condenou a KPMG a indenizar uma holding familiar que investiu R$ 3,5 milhões em CDBs do Banco BVA, confiando nos pareceres da auditoria.

O caso KPMG sugere uma tendência de maior responsabilização das auditorias no Brasil. A decisão do STJ indica que investidores lesados por pareceres contábeis inadequados podem recorrer à Justiça para buscar reparação de seus prejuízos.

Leia postagens anteriores sobre o Banco BVA: aqui.

Memória da Contabilidade Brasileira precisa olhar os

Eis um trecho de uma reportagem que li:

Sorrisos, festa, música… Oito de março era sempre de celebração especial do aniversário de Elza dos Santos. Além de comemorarem a vida dela, os seis filhos lembravam que era dia das mulheres. E ela, a ‘rainha’ deles, na casa de um quarto, em que todos moravam no Rio de Janeiro. Elza, que perdeu o marido precocemente, atravessava a madrugada trabalhando como costureira. Foi também em um mês de março, no dia 15, em 1971, que a dor passou a ocupar espaço naquela casa.

Foi aquele o dia em que o filho mais velho, o estudante de ensino técnico em contabilidade Joel Vasconcelos, de 21 anos, foi preso por agentes da ditadura militar e desapareceu. Elza, desde então, passou a lutar para tentar salvar o rapaz. Iniciou um périplo. Carregava a foto do filho por onde ia. Buscou notícias, chorou escondida a ausência do rapaz, que era idealista e  diretor da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). 


 

No Brasil, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tem um passado de luta e posicionamento diante de questões sociais e políticas, reconhecendo sua responsabilidade para além do exercício profissional. No entanto, outras entidades de classe nem sempre adotaram a mesma postura. 

(Posso estar cometendo uma injustiça aqui, espero que sim. Mas não lembro nada nesse sentido na nossa área)

Alíquota do imposto de renda em diferentes países do mundo

O mapa mostra a alíquota legal entre 2024 e fevereiro de 2025, conforme dados coletados pela PwC. Os valores apresentados correspondem àqueles estabelecidos na legislação, mas o valor efetivo pode ser bastante diferente. De modo geral, a Europa possui uma elevada carga de imposto de renda. Na Dinamarca, por exemplo, a alíquota é de 55,9%, quase o dobro da do Brasil (27,5%). Na faixa inferior, há um pequeno número de países onde a alíquota é zero. Geralmente, são produtores de petróleo e paraísos fiscais, cujas receitas governamentais provêm das empresas estatais e da movimentação financeira.

Na prática, é preciso ter cautela com os dados, pois a complexidade da legislação pode ocultar algumas nuances.

Dados genéticos, seguros e risco

Uma pesquisa recente  usou os dados genéticos de milhares de pessoas para verificar a saúde. O resumo:

O poder preditivo dos dados genéticos tem aumentado rapidamente e está atingindo níveis de utilidade clínica para muitas doenças. Enquanto isso, muitas jurisdições proibiram as seguradoras de utilizar informações genéticas. Isso levou a preocupações de que novas melhorias na previsão genética levarão a uma seleção adversa. Fazemos três contribuições para este debate. Primeiro, desenvolvemos um método para medir a quantidade de seleção em um mercado de seguros onde os consumidores têm acesso à atual tecnologia de previsão genética. Em segundo lugar, estendemos o método para estimar a quantidade de seleção dadas as melhorias esperadas na tecnologia de previsão genética. Em terceiro lugar, usando o conjunto de dados do UK Biobank com quase 500.000 indivíduos genotipados, aplicamos o método ao mercado crítico de seguro de doença. Descobrimos que as melhorias esperadas na previsão genética provavelmente levarão a níveis insustentáveis de seleção e, portanto, ameaçarão a viabilidade do mercado. Discutimos as implicações políticas.


Ou seja, baseado na pesquisa, o acesso aos dados genéticos poderão quebrar o mercado de seguros por conta da seleção adversa: os mais propensos às doenças irão contratar seguros e os menos propensão não o farão.

Isso faz parte da análise que as seguradoras estão mapeando como ponto de risco futuro? A evolução dos dados genéticos pode desbalancear a carteira de segurados. Alguns países estão proibindo o uso de dados genéticos para precificação de seguros, mas não sei se isso é uma medida suficiente. 

Mais discussão aqui e aqui

10 março 2025

IA está matando a internet do passado

Encontrei esta imagem que parece apoiar a ideia de substituição de capital/trabalho no desenvolvimento de software (veja a postagem anterior). O Stack Overflow é o principal site onde desenvolvedores de software obtêm respostas para suas dúvidas de codificação e encontram trechos de código para resolver problemas. No entanto, por ser intermediado por humanos, pode ser lento e, às vezes, trolls podem induzir ao erro. O volume de acessos ao site parece ter começado a declinar com o advento do ChatGPT, o primeiro e mais amplamente utilizado modelo de linguagem (LLM). O ChatGPT pode fornecer respostas instantaneamente, embora, em alguns casos, seja necessário um certo "ajuste de prompts" para obter a resposta específica desejada.


 

Curiosamente, grande parte dos dados de treinamento relevantes vem do Stack Overflow. Isso significa que perguntar ao ChatGPT é, de certa forma, perguntar ao Stack Overflow, mas com a intermediação de um computador. Se o fato de o ChatGPT permitir que programadores obtenham respostas mais rapidamente está levando a uma queda na demanda por desenvolvedores de software, isso sugere que a IA está tornando os desenvolvedores de software tão mais produtivos que a necessidade por eles está diminuindo.

Isso é muito radical

Os pagamentos do Google para Hackers

A empresa Google já sofreu, no passado, uma série de ataques contra os usuários do Android, do Chrome e de outros produtos. Uma das formas que a empresa utiliza para combater esses ataques é o pagamento de recompensas para pessoas que tentem hackear seus produtos e serviços. Em 2024, a empresa pagou quase 12 milhões de dólares para essa defesa, uma atividade considerada legal.

A empresa oferece 300 mil dólares por “vulnerabilidades críticas em aplicativos de alto nível”, enquanto as recompensas do Chrome chegam a 250 mil dólares. Esses valores pagos seriam considerados despesas ou ativos?

Rankings mais Séries: uma nova lista


Parece que gostamos muito de rankings. Eis um curioso, da Variety, com os 100 melhores desempenho da TV. A lista a seguir são as 10 melhores, pela ordem (1o. ao décimo):

Julia Louis-Dreyfus as Selina Meyer, “Veep”

Jeremy Strong as Kendall Roy, “Succession” 

Elisabeth Moss as Peggy Olson, “Mad Men”

Lisa Kudrow as Valerie Cherish, “The Comeback”  

Bryan Cranston as Walter White, “Breaking Bad” 

Michael Kenneth Williams as Omar Little, “The Wire”  

Carrie Coon as Nora Durst, “The Leftovers”

Andre Braugher as Capt. Raymond Holt, “Brooklyn Nine-Nine” 

Rhea Seehorn as Kim Wexler, “Better Call Saul”

Sandra Oh as Dr. Cristina Yang, “Grey’s Anatomy”

(Tive a oportunidade de ver o desempenho 6 dos 10 primeiros. Todos ótimos. 

Europa quer simplificar as normas de sustentabilidade


Segundo a newsletter da EY, a Comissão Europeia (CE) propôs alterações à sua Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD). A justificativa é a simplificação dos relatórios de sustentabilidade dos países. A Diretiva seria postergada por dois anos para as grandes empresas de capital fechado, o que inclui subsidiárias de multinacionais, e seria aplicada somente para empresas com mais de mil funcionários (antes 250 funcionários), receitas acima de 50 milhões de euros ou ativos totais acima de 25 milhões de euros.

As reformas devem incluir a redução de informações que serão reportadas. As novas normas ainda precisam de aprovação no parlamento europeu, entre outras instâncias. Mas sinaliza uma mudança na tendência favorável as normas de sustentabilidade. 

Foto: aqui

09 março 2025

Modelo de falência pode ser aplicado em municípios?

A ideia é interessante, mas seria viável no Brasil? 

O artigo "Municipal Z-Score: A Forecasting Tool Revisited" discute a adaptação do modelo Z-Score de Edward Altman — originalmente desenvolvido em 1968 para prever falências corporativas — para avaliar a saúde fiscal de municípios. Ao modificar certas razões financeiras para alinhá-las às práticas contábeis governamentais, o modelo adaptado avalia liquidez, eficiência operacional e solvência, servindo como um sistema de alerta precoce para dificuldades fiscais. Pontuações acima de 2,99 indicam perfis fiscais sólidos, com forte liquidez, eficiência e solvência. Pontuações abaixo de 1,81 sinalizam vulnerabilidade fiscal significativa, destacando a necessidade de medidas corretivas imediatas.

A adaptação do modelo Z-Score para finanças municipais oferece uma ferramenta proativa e baseada em dados para intervenção antecipada. À medida que os municípios enfrentam desafios fiscais cada vez mais complexos, a adoção de métodos analíticos inovadores torna-se essencial para proteger os recursos públicos e garantir a estabilidade financeira de longo prazo.

No Brasil temos um índice chamado CAPAG, criado pela STN, que poderia ser um parâmetro nesse sentido. 

Fim dos Correios?


A notícia é o reflexo de uma tendência observada em todo o mundo:

O serviço postal estatal da Dinamarca, PostNord, encerrará todas as entregas de cartas no final de 2025, citando uma queda de 90% no volume de correspondências desde o início do século.

A decisão marca o fim de 400 anos de serviço de entrega de cartas da empresa. As 1.500 caixas de correio da Dinamarca começarão a desaparecer a partir de junho.

Via aqui. A imagem é do Estadão de 1999, quando foi recusada a privatização dos Correios.

Quando o gasto público compensa...

Na América Latina — a região mais desigual do mundo — as populações rurais não brancas sofrem desproporcionalmente com a doença de Chagas, uma doença tropical negligenciada (DTN) que causa semanas de sintomas agudos e pode levar a problemas cardíacos crônicos décadas depois. Demonstramos que a campanha do Brasil pós-1983 para eliminar a transmissão dessa doença reduziu significativamente a desigualdade de renda (racial), a transmissão intergeracional de baixo capital humano e a sobrecarga no maior sistema público de saúde do mundo. Explorando a presença prévia do principal vetor da doença de Chagas, descobrimos que o controle dessa DTN aumentou o PIB per capita dos municípios em 11,1% e reduziu seus coeficientes de Gini em 1,1% no longo prazo. Além disso, evitar a exposição infantil à doença de Chagas aumentou a parcela de adultos não brancos com renda acima da mediana em 1,4 pontos percentuais (p.p., ou 2,8%) e as taxas de alfabetização de seus filhos em 0,4 p.p. (0,5%). Coincidindo com a redução esperada de problemas cardíacos crônicos, também constatamos que os gastos públicos com internações por doenças circulatórias diminuíram em 16%, contribuindo para uma taxa interna de retorno de 24% e um valor marginal infinito dos fundos públicos. Esses resultados sugerem que o controle de DTNs pode melhorar a saúde econômica e fiscal de países em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que mitiga disparidades (raciais) e ciclos intergeracionais de pobreza.

Esse é o resumo, traduzido, da pesquisa. O controle de uma doença melhorou a economia e reduziu o gasto público futuro.

Vantagens da rotatividade do governo local


O resumo:

 Em muitos países, os governos locais lutam com a ineficiência e a corrupção, muitas vezes perpetuados pelas elites arraigadas. Este artigo explora como as mudanças de liderança afetam o desempenho burocrático local. Combinando pesquisas de pessoal e cidadãos com um projeto de descontinuidade de regressão em uma grande amostra de aldeias indonésias, mostramos que as rotatividades nas eleições das aldeias revitalizam as burocracias locais, interrompem as redes nepotísticas e melhoram o desempenho do governo local. Os burocratas que servem novos líderes são mais engajados e menos propensos a serem ligados a funcionários da aldeia passados ou presentes, resultando em uma burocracia mais responsiva que interage mais com os cidadãos e entende melhor suas necessidades. Isto melhora a prestação de serviços públicos, medida em dados administrativos e inquéritos aos cidadãos. No geral, nossos resultados mostram que as mudanças de liderança podem mitigar a captura de elite e melhorar a governança no nível de base.

Texto aqui

Imagem: A Província de São Paulo, 10 de Janeiro de 1878, p. 1

Uma dica para quem gosta de série

Uma dica interessante para os amantes de séries: quantos episódios assistir antes de abandonar um programa que não está agradando tanto? Uma análise baseada nas notas atribuídas a cada série e a cada episódio revela a resposta.

Utilizando dados do IMDb, onde os espectadores avaliam tanto as séries quanto seus episódios, um estudo comparou a nota média geral com as dos primeiros episódios. Quando um episódio ultrapassa a nota média, isso pode indicar que a série está "engrenando".

Por exemplo, a série Friends tem uma nota média de 8,34. O primeiro episódio recebeu 8,1, abaixo da média. O segundo episódio foi ainda pior: 7,9. Os episódios seguintes continuaram abaixo da média até o sétimo episódio, que alcançou 8,8. O estudo sugere que se deve assistir até o sétimo episódio antes de decidir abandonar a série.

Isso varia de série para série. Vikings tem uma média de 8,5, e a primeira temporada fica abaixo desse número. Já Breaking Bad, com média de 9,5, só começa a "engrenar" na terceira temporada. The Wire segue um padrão semelhante, embora três episódios da primeira temporada tenham recebido notas acima de 9.


Quando a análise é feita com um grande número de séries, a média sugere uma regra interessante: até quando insistir em uma série?

O estudo conclui que, em média, são necessários de seis a sete episódios para tomar essa decisão. Por um lado, isso pode parecer muito tempo – seis episódios de 50 minutos somam 300 minutos, o equivalente a metade do tempo necessário para ler Dom Casmurro. Por outro lado, seguir essa regra pode economizar muitas horas evitando séries que não levam a lugar nenhum.


Sucesso de crítica não é sucesso de público

Sobre o Oscar, eis um gráfico curioso:

Talvez o Oscar aumente a bilheteria de um filme. Mas isso não o torna popular, um sucesso de público. Nos últimos anos, os grandes vencedores estiveram muito longe de serem os melhores em termos de receita. Talvez a exceção seja 2023, quando Oppenheimer chegou perto de Barbie. Em termos históricos, somente em 2004 o melhor filme também foi o de maior receita: Senhor dos Anéis.
 

Mudança de uma denominação geográfica e a contabilidade

Tudo começou com a mudança na presidência de um determinado país. O novo governante decidiu alterar o nome de uma localização geográfica, assinando uma ordem nesse sentido. A entidade responsável pela nomeação de lugares geográficos cumpriu a determinação. No entanto, há uma controvérsia: um país fronteiriço não reconhece a nova denominação, mantendo o nome tradicional.

O Google Maps segue uma política de reconhecimento de nomes com base em consultas a órgãos de padronização autorizados, como a ONU, a ISO e as entidades locais. O sistema de informações geográficas do país que promoveu a mudança indicava um novo nome. Em casos polêmicos, o Maps adota a denominação correspondente a cada país, dependendo da localização do usuário.

E a contabilidade? Imagine que você esteja preparando as demonstrações financeiras da sua empresa e se depare com a denominação desse local controverso. O que faria? Se sua empresa está no país que promoveu a mudança, o mais adequado seria utilizar o novo nome. No país vizinho, a nomenclatura antiga. Mas e em um país distante?


Faz sentido ter normas contábeis separadas para o terceiro setor?

Eis um exemplo que reforça a resposta "não":

Sam Altman, presidente da OpenAI, e Musk fundaram a OpenAI em 2015, como uma organização beneficente. No entanto, o CEO da Tesla saiu do projeto por desentendimentos com Altman sobre a direção que a empresa estava tomando. Altman então se tornou presidente-executivo da empresa de IA e criou uma unidade com fins lucrativos dentro da OpenAI para garantir o financiamento de investidores como a Microsoft.

Altman agora está trabalhando em um plano para reestruturar o negócio principal em uma empresa com fins lucrativos que não será mais controlada por seu conselho sem fins lucrativos. No entanto, a organização sem fins lucrativos continuará a existir e terá uma participação minoritária na empresa com fins lucrativos.
 

Fonte: aqui

08 março 2025

Serviço gratuito de imposto é desativado nos EUA

Elon Musk [dispensou] (...) uma equipa de trabalhadores civis altamente qualificados na área tecnológica que contribuíram para a operacionalização do serviço gratuito de preenchimento de declarações de impostos.

De acordo com um representante dos Serviços Gerais Administrativos (GSA) norte-americanos citado pela ‘Reuters’, esta equipa de 90 trabalhadores foi informada durante o sábado que as suas posições haviam sido terminadas, com o diretor de transformação tecnológica dos GSA a comunicar-lhes a decisão durante o dia. A justificação apresentada terá sido que as suas posições não eram consideradas “críticas”.

Após a comunicação, estes 90 trabalhadores terão sido imediatamente barrados de aceder aos equipamentos que lhe foram disponibilizados pela entidade patronal. (...)


Fonte: aqui. Nos Estados Unidos não há um software público para preenchimento do imposto de renda, como ocorre no Brasil. É uma atividade bastante lucrativa para as empresas que vende os programas. 

China inova e registra dados no balanço


As empresas chinesas geram quantidades impressionantes de dados diariamente, desde corridas de aplicativos de transporte até transações de compras online. Uma recente política permitiu que as empresas chinesas registrassem dados como ativos em seus balanços, a primeira regulamentação desse tipo no mundo, abrindo caminho para que os dados sejam comercializados em um mercado e impulsionem a valorização das empresas.  

No entanto, a adoção tem sido lenta. Quando a China Unicom, uma das maiores operadoras de telefonia móvel do mundo, divulgou seus lucros recentemente, contadores atentos notaram que a empresa havia listado 204 milhões de yuans (28 milhões de dólares) em ativos de dados em seu balanço patrimonial. A operadora estatal foi a primeira gigante da tecnologia chinesa a aproveitar a nova política de dados corporativos do Ministério das Finanças, que permite que as empresas classifiquem dados como inventário ou ativos intangíveis.  

"Nenhum outro país está tentando fazer isso em nível nacional. Isso pode definir padrões globais de gestão e contabilidade de dados", disse Ran Guo, pesquisador afiliado do Asia Society Policy Institute, especializado em governança de dados na China, ao Rest of World.

Somente em 2023, a China gerou 32,85 zettabytes — mais de 27% do total global, de acordo com uma pesquisa governamental. Para colocar isso em perspectiva, armazenar esse volume em discos rígidos padrão de 1 terabyte exigiria mais de 32 bilhões de unidades. 

Os números estão crescendo. Até 2025, a geração global de dados deverá atingir 174 zettabytes, ou 1 sextilhão de bytes, com a participação da China se expandindo para 48,6 zettabytes — a taxa de crescimento mais rápida de qualquer nação, segundo um relatório da International Data Corporation, uma empresa americana de inteligência de mercado.  

Já em 2013, logo após assumir o poder, o presidente Xi Jinping comparou os vastos volumes de dados da China aos recursos petrolíferos: "O imenso oceano de dados, assim como os recursos petrolíferos na era industrial, contém um imenso poder produtivo e oportunidades. Quem controlar as tecnologias de big data controlará os recursos para o desenvolvimento e terá a vantagem."  

No entanto, a lenta adoção do registro de dados como ativos desde que o governo lançou a política contábil em janeiro do ano passado sugere que as empresas chinesas estão sendo cautelosas. Até o final de 2024, apenas 55 empresas listadas e 228 empresas não listadas na China — de um total de quase 60 milhões de empresas registradas — haviam registrado ativos de dados em seus balanços, segundo uma estimativa da Universidade de Shanghai Jiao Tong. Dessas, 18 pertenciam principalmente aos setores de serviços de TI e software.

Empresas de tecnologia que possuem grandes volumes de dados estão bem posicionadas para se beneficiar do registro de dados como ativos e transformá-los em commodities comercializáveis, disse Guo. No entanto, as empresas devem primeiro investir em armazenamento seguro e comprovar que os dados foram obtidos legalmente para atender às rígidas normas do governo sobre segurança de dados.  (...)

Algumas empresas de tecnologia estão navegando lentamente por esse novo território. A Kaipuyun, uma fornecedora de soluções de big data de médio porte, usou seu próprio modelo de IA para processar e validar conjuntos de dados para relatórios financeiros. Especializada em contratos governamentais, a abordagem da Kaipuyun demonstra como até mesmo uma empresa menor pode tornar viável o registro de dados como ativos, disse He. Mas isso também destaca a desigualdade do cenário: sem infraestrutura tecnológica avançada, muitas empresas podem se ver excluídas das novas oportunidades para impulsionar seus balanços patrimoniais, acrescentou.  (...)

Embora a política chinesa sobre ativos de dados possa servir como um exemplo global, ainda não está claro como outros países ou órgãos internacionais responderão. Não existem padrões globais para mensurar dados como ativos, embora discussões sobre o tema estejam em andamento na ONU.  

No entanto, ao adotar padrões nacionais para ativos de dados desde cedo, mesmo que a grande maioria das empresas chinesas ainda não tenha aderido, Pequim está se posicionando para influenciar as normas contábeis globais, disse Guo. Instituições como a ONU estão explorando atualizações para o *System of National Accounts* — um conjunto de recomendações sobre como compilar medidas da atividade econômica — para incluir melhor os ativos intangíveis. 

Apesar dos inúmeros desafios e do interesse ainda morno das empresas, Pequim continua firme em sua visão de monetização de dados para revitalizar uma economia em desaceleração, disse Guo.  

"Pequim está definitivamente incentivando uma corrida pelo ouro para aprimorar e aproveitar melhor os enormes volumes de dados já existentes", disse Guo. "Embora os dados não sejam intrinsecamente valiosos, eles estão amplamente disponíveis, e o governo quer que as empresas melhorem tanto a qualidade quanto a transparência da coleta de dados para extrair valor deles." 

Fonte: aqui

Bolhas e Mídias Sociais

No artigo "A Mecânica de Como as Redes Sociais Turboalimentam Bolhas de Ativos" (via aqui), Thomas Ash, da UCLA Anderson, explora como as redes sociais aceleram a formação e o colapso de bolhas de ativos ao amplificar narrativas de investimento.  

Ash desenvolveu um modelo que simula como diferentes teorias sobre o valor de uma empresa ganham ou perdem força nas plataformas de redes sociais. Para validar esse modelo, ele analisou postagens no Twitter relacionadas à GameStop entre abril de 2020 e abril de 2021, conseguindo replicar a dramática alta e queda do preço da ação nesse período.  

O estudo sugere que as redes sociais intensificam bolhas de ativos ao facilitar a rápida disseminação e evolução das narrativas de investimento, levando a comportamentos de mercado mais extremos e imprevisíveis em comparação com a mídia tradicional. Diferentemente da mídia tradicional, que tende a convergir para uma única narrativa, as redes sociais permitem que múltiplas narrativas concorram e evoluam rapidamente, contribuindo para uma maior volatilidade.  

As descobertas de Ash indicam que monitorar discussões em redes sociais pode fornecer insights valiosos sobre bolhas emergentes de ativos, oferecendo um potencial preditivo para estratégias de negociação e gestão de riscos.


Foto: personagem Bubbles, The Wire

Todos os livros do mundo

A figura é uma visualização de todos os livros do mundo. Bom, todos é um exagero, já que a base de dados de onde os valores foram obtidos é a numeração ISBN. Cada livro pode receber um número, mas nem toda obra possui esse número, uma vez que existem publicações de editoras pequenas ou livros antigos ou livros manuscritos. Mas é uma representação boa dos livros publicados.

Cada obra publicada começa com um código do país, o que permitiu a segregação por país. No projeto de visualização, é possível digitar o número ISBN e a visualização dos dados da obra.
 

07 março 2025

Governo importa com a emissão?

Do Semafor:


Os produtores estatais de petróleo e gás lideram a lista por uma ampla margem, especialmente os da China; 23% das emissões globais de CO₂ provenientes de combustíveis fósseis e cimento em 2023 foram geradas por empresas chinesas. As grandes petrolíferas ocidentais de capital aberto, como Exxon e Shell, foram responsáveis por cerca de 1% das emissões cada. Embora as empresas de energia geralmente desviem a responsabilidade individual — afinal, elas apenas produzem o que seus clientes demandam — esse argumento vem sendo cada vez mais contestado nos tribunais. O rastreamento das emissões corporativas individuais também é a base das tarifas de comércio baseadas em carbono que estão sendo implementadas na Europa e em outros lugares, tornando essa diferenciação financeiramente mais significativa do que nunca.

A base de dados usada é bastante interessante.  Sobre o gráfico acima, a Petrobras aparece em 21o. da lista, com 0,97% da emissão global. Um histórico, de 1854 a 2023, mostra o seguinte:

Petrobras em 28o. na listagem, com 0,55%. Seria interessante uma base de comparação, como a quantidade de petróleo produzida no período.
 

Risco de Carbono é relevante?

Eis o resumo:


O objetivo deste estudo é analisar a relação entre retorno acionário e a divulgação de emissões de carbono no mercado brasileiro. A literatura internacional vem documentando forte correlação entre o retorno acionário e emissões de carbono em escala global. No mercado brasileiro, há poucas evidências do impacto da divulgação de emissões de carbono para o mercado de capitais. Estudos anteriores, em geral, analisaram as empresas do Índice Carbono Eficiente da B3 – ICO2, não identificando retornos acionários superiores. Este estudo amplia a amostra, considerando as empresas que divulgaram emissões de carbono, e analisa a relação entre emissões de carbono e o retorno acionário. Apesar do alto nível de divulgação das emissões de carbono das empresas brasileiras, os resultados deste estudo não identificaram que os investidores exigem compensação pelo risco de carbono na transição energética. Esse resultado contraria as evidências apresentadas por estudos internacionais. Este estudo contribui para a literatura de finanças sustentáveis ao analisar a relevância da divulgação de emissões de carbono no mercado de capitais de uma economia emergente.
 

Imagem: aqui

Economia Gig e o mercado de trabalho

Coloquialmente, a expressão “economia gig” refere-se a pessoas que ganham renda por meio de posições viabilizadas por plataformas da era digital, como motoristas da Uber e anfitriões do Airbnb. Embora o tamanho da economia gig seja difícil de medir, estimativas de um estudo de 2023 sugerem que havia aproximadamente 4,9 milhões de trabalhadores nesse setor nos Estados Unidos em 2021.  

A Uber está entre as maiores plataformas da economia gig nos EUA, com uma avaliação de aproximadamente $150 bilhões em 2024. O Airbnb e o Doordash são avaliados em mais de $75 bilhões e mais de $65 bilhões, respectivamente, no mesmo ano.  

Assim como qualquer mercado de trabalho, a economia gig é baseada na oferta e na demanda. Os trabalhadores gig oferecem a “oferta” de mão de obra, enquanto as pessoas que precisam de seus serviços representam a “demanda”.  

Na economia gig, plataformas tecnológicas como o aplicativo da Uber conectam os fornecedores (pessoas com carros que trabalham como motoristas da Uber) com aqueles que precisam dos serviços (passageiros que solicitam viagens). Essas plataformas atuam como intermediárias do mercado, ajustando oferta e demanda quase em tempo real.  

Elas também costumam receber uma porcentagem de cada transação—por exemplo, se alguém pagar $50 por uma corrida até o aeroporto, uma parte desse valor vai para o motorista, enquanto outra parte vai para a Uber pelo serviço de intermediação. As taxas cobradas pelas plataformas da economia gig variam conforme a região e outros fatores—no caso da Uber, essa taxa costuma girar em torno de 30%. (...)

Leia mais: aqui


Será possível existir uma economia gig na contabilidade. Alguém precisa de um profissional para fazer uma tarefa específica. Entra no aplicativo e solicita um profissional. Talvez ainda não seja viável por algumas razões, entre as quais o fato de não existir um fluxo contínuo de trabalho ao longo do tempo que seja claramente identificável e mensurável. Acrescente que provavelmente as entidades reguladoras exercerão uma pressão contra a solução. 

Ao ler o texto notei que a economia gig já existia antes das empresas de tecnologia. Há uma cena na série The Wire (A Escuta, no Brasil) onde um contratador sai arrebanhando trabalhadores braçais para fazer serviços em residências dos mais ricos, como jardinagem. Ao final do dia, os empregados recebem uma diária pelo serviço.  

Valor justo de uma estátua do Oscar


Desde 1951, todas as estatuetas do Oscar são entregues com uma condição: se o vencedor quiser vendê-la, deve primeiro oferecê-la de volta à Academia por US$1. Atualmente, existe um mercado paralelo para os "cavaleiros dourados". Alguns compradores são cinéfilos anônimos, mas outros são as próprias estrelas: Steven Spielberg comprou estatuetas do Oscar e as doou de volta à Academia. (1440 Daily Digest, 2 de março)

 Algumas discussões contábeis interessantes aqui: qual o valor justo do Oscar?; existiria realmente um valor justo, já que não há uma transação "justa" entre as partes?; é possível considerar o mercado paralelo, mesmo sendo "ilegal"?.

100 melhores coffee shops do mundo

Um ranking com os 100 melhores "coffee Shops" do mundo tem loja de vários países. O maior produtor do mundo só aparece uma vez, com a loja Cupping Café, em São Paulo. Só para se ter uma ideia, a Argentina, que não é um produtor natural, possui seis vezes na lista.

Fim do Skype

A Microsoft anunciou ontem que aposentará o outrora popular aplicativo de chamadas por vídeo Skype em maio, concentrando-se em seu serviço principal, o Teams. O Skype foi considerado um pioneiro na forma como as pessoas se comunicavam online além das fronteiras, antes que a concorrência aumentasse com plataformas como FaceTime, WhatsApp, Slack e Zoom.  

O Skype foi fundado em 2003 por um grupo de engenheiros nórdicos. A plataforma rapidamente alcançou 10 milhões de usuários e, dois anos depois, foi adquirida pelo eBay por $2,6 bilhões. Em 2009, um consórcio de investidores, incluindo a Andreessen Horowitz, comprou 65% do Skype por $1,9 bilhão, avaliando o negócio em quase $3 bilhões. A Microsoft então adquiriu o Skype por $8,5 bilhões em 2011, tornando-se sua maior aquisição até então, com o objetivo de substituir o Windows Live Messenger. No auge, em 2016, o Skype contava com cerca de 300 milhões de usuários mensais. Em 2023, esse número havia caído para aproximadamente 36 milhões.  

O nome "Skype" tem origem em "Sky peer-to-peer", que foi abreviado para "Skyper" e depois encurtado ainda mais para "Skype", pois o domínio "Skyper.com" já estava registrado.


Fonte: 1440 Daily Digest, 1o. de Março. Imagem: Wikipedia