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27 maio 2025

Fraude da Volkswagen: Executivos Condenados


Um dos maiores casos de fraude dos últimos tempos finalmente teve uma punição. No passado, a montadora Volkswagen programou seus veículos para emitirem menos gases durante os testes realizados por órgãos reguladores. Essa prática era de conhecimento de executivos da empresa. Agora, um tribunal em Braunschweig condenou ontem dois ex-executivos da companhia à prisão.

O antigo diretor de Desenvolvimento de Motores do construtor automóvel alemão, Jens Hadler, foi condenado a 4,5 anos de prisão, enquanto outro quadro superior, Hanno Jelden, foi condenado a dois anos e sete meses.

O tribunal considerou provado que os arguidos tinham conhecimento dos milhões de casos de manipulação de dados de emissões de motores a gasóleo.

IA e a questão ambiental


Pesquisadores estimam que (...) uma sessão típica de usuário (de 10 a 50 comandos) consome cerca de meio litro de água.

Fonte: aqui

Formato de avaliação influencia a avaliação

Muito interessante: 


Alguns varejistas utilizam estrelas, enquanto outros usam números arábicos para apresentar avaliações de produtos. Será que os consumidores interpretam essas avaliações de forma diferente, dependendo do formato? Qual formato representa com mais precisão a real magnitude das avaliações? Ao longo de 12 experimentos, descobrimos que nenhum dos formatos é totalmente fiel. Consumidores superestimam avaliações fracionárias em formato de estrela e subestimam avaliações fracionárias em números arábicos (por exemplo, 3,5).

A superestimação das avaliações gráficas decorre do efeito de completamento visual: quando o sistema visual percebe uma imagem de estrela incompleta, ele automaticamente ativa a imagem completa, levando os consumidores a ancorar seus julgamentos em números arredondados para cima. Importante destacar que nossos resultados mostram que essa superestimação pode ser mitigada ao utilizar estrelas visualmente completas.

Por outro lado, a subestimação das avaliações numéricas decorre do efeito do dígito à esquerda, que faz com que os consumidores ancorem seus julgamentos no número inteiro inferior (ou seja, uma avaliação de 3,5 é percebida como mais próxima de 3 do que de 4).

Assim, tanto as avaliações em formato de estrela quanto as em números arábicos são sistematicamente mal interpretadas pelos consumidores, sendo que o grau dessa distorção varia conforme o valor fracionário e a técnica de preenchimento das estrelas. Esses achados demonstram que os formatos de avaliação amplamente utilizados são enganosos, evidenciando a necessidade de novos padrões para o setor.

Fumaça no Caixa: Ex-CFO da Acreage cria transação fantasma de 4,2 milhões


A Securities and Exchange Commission (SEC) acusou o diretor financeiro (CFO) de uma empresa de cannabis de orquestrar uma chamada operação de "round-trip" — uma troca simulada — no valor de 4,2 milhões de dólares com uma organização sem fins lucrativos afiliada, com o objetivo de inflar o saldo de caixa da empresa no fechamento do exercício.

O ex-CFO da Acreage Holdings, Glen Leibowitz, teria orientado os contadores da empresa a falsificar a transação de dezembro de 2019 — inicialmente registrada como um pagamento de empréstimo e, posteriormente, como um empréstimo de curto prazo da entidade sem fins lucrativos para a Acreage — além de ter deturpado a natureza da operação perante os auditores, segundo a SEC.

“Leibowitz sabia que a transferência de caixa em formato de round-trip não possuía substância econômica nem finalidade comercial legítima, sendo realizada com o objetivo de inflar artificialmente o saldo de caixa reportado publicamente pela Acreage no encerramento do ano fiscal”, afirmou a SEC em comunicado divulgado na segunda-feira.
 

Continue lendo aqui. Título acima, sugestão do GPT

Rir é o melhor remédio


 Viciados em tecnologia

26 maio 2025

Bilionários, casamentos e desigualdade

Eis o resumo


Apesar das descobertas recentes sobre o efeito das uniões homogêneas no aumento da desigualdade, a literatura crescente sobre “os super-ricos” tem negligenciado a análise dos atuais níveis de desigualdade de riqueza global sob a ótica das escolhas matrimoniais. Sabe-se pouco sobre a formação familiar no topo da distribuição de riqueza. Combinando dados da lista de bilionários da Forbes e dos artigos da Wikipédia desses bilionários com dados qualitativos, o artigo apresenta um conjunto de dados único que abrange todos os bilionários norte-americanos (n = 948) e seus cônjuges. Os resultados sugerem uma divisão de papéis tradicionais profundamente enraizada entre os casais bilionários. As bilionárias parecem ter maior probabilidade de ter um parceiro pertencente à mesma fração da classe alta do que os bilionários homens, que se mostram mais flexíveis em relação à posição de classe de suas esposas. Ao lançar luz sobre a demografia matrimonial única dos super-ricos, o artigo reforça a importância das estratégias familiares voltadas à formação de dinastias e ao fechamento social para a compreensão das elites econômicas contemporâneas.

Uso de IA em provas gera polêmica na Hungria

Do blog Market Design:

Alguns alunos podem usar IA na prova, outros não, e ficaram indignados
Por Halász Nikolett, Interior – 21 de maio de 2025

Neste semestre, os professores da disciplina de Pesquisa Operacional iniciaram um experimento especial na Universidade Corvinus de Budapeste, no qual metade dos alunos pode utilizar inteligência artificial (como o ChatGPT) nas provas, enquanto a outra metade não pode. Mais de dez alunos entraram em contato com nosso jornal, pois consideram o sistema injusto. No entanto, segundo os docentes da disciplina, o experimento foi precedido de uma consulta profissional bastante cuidadosa.

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Para que nenhum dos grupos fosse prejudicado, os professores implementaram um sistema de compensação de pontos, que ajusta a média dos dois grupos para o mesmo nível — ou seja, os alunos com desempenho pior recebem a diferença calculada em relação à média do outro grupo. Para ilustrar com um exemplo: Marcsi faz parte do grupo experimental B. Os participantes do grupo A tiveram uma média de 67 pontos ao longo do semestre, enquanto os do grupo B obtiveram uma média de 62 pontos. Marcsi tirou 46 pontos na prova. Esse resultado é compensado com os 5 pontos da diferença entre as médias dos grupos, então sua nota final na prova é 51 pontos.

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De acordo com vários alunos, o principal problema é que há estudantes que conseguem concluir a disciplina sem praticamente nenhum esforço, apenas com a ajuda da IA. Enquanto isso, outros se preparam durante vários dias, até uma semana, para alcançar um resultado similar — mas esses realmente adquiriram o conhecimento.


Hamburguer ou material de escritório?

Tive a impressão que a notícia não é nova: 

Uma hamburgueria de Toronto chamada Good Fortune Burger renomeou os itens do seu cardápio para parecerem materiais de escritório, ajudando trabalhadores remotos a, potencialmente, registrar as refeições como despesas nas contas da empresa.

O “grampeador básico de aço” e o “cabo HDMI trançado” estão entre os mais populares.

O bom é que a nota fiscal passa fácil pela auditoria interna.
 

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Fonte: aqui
 

25 maio 2025

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Ympyn


Ympyn, Jan (1485–1540) - Jan Ympyn foi um comerciante flamengo que viajou extensivamente, viveu durante 12 anos em Veneza e, por fim, se estabeleceu em Antuérpia. Sua obra Nieuwe Instructie (1543), o primeiro tratado em língua holandesa sobre contabilidade em partidas dobradas, foi traduzida para o francês em 1543 e para o inglês em 1547. 

Embora amplamente derivado do tratado de Luca Pacioli, Particularis de Computis et Scripturis (1494), o texto de Ympyn trouxe diversas inovações importantes. Enquanto Pacioli abordava cada tópico contábil de forma isolada, Ympyn estruturou sua exposição utilizando um conjunto de contas ilustrativas. Seus procedimentos para fechamento e conciliação do razão eram superiores aos de Pacioli. 

Ympyn foi o primeiro autor a incorporar uma conta de balanço no razão e também o primeiro a apresentar o novo razão com seus lançamentos iniciais. O processo de encerramento do razão começava com a transferência dos saldos finais para a conta de balanço, encerrando assim o razão. Em seguida, essa conta de balanço era reaberta no novo razão e imediatamente fechada, por meio da redistribuição dos saldos para as diversas contas reabertas. A partir de autores como Alvise Casanova (1558), James Peele (1569) e Angelo Pietra (1586), os tratados posteriores passaram a adotar a conta de balanço proposta por Ympyn, e seus procedimentos de fechamento do razão tornaram-se prática padrão na contabilidade. 

Michael Chatfield - The History of Accounting 

Há um livro sobre Ympyn, de 1928, de autoria de Raymond De Roover, denominado
Jan Ympyn : essai historique et technique sur le premier traité flamand de comptabilité, 1543. Foto aqui

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Snell

Snell, Charles (1670–1730) - Assim como ocorreu com o colapso da Bolsa de 1929, a quebra da South Sea Bubble em 1720 gerou demandas por verificação contábil e auditorias. Após a forte queda no preço das ações da South Sea Company, o banco da companhia, a Sword Blade Company, tornou-se insolvente em setembro de 1720. Em janeiro de 1721, foi nomeada uma Comissão Secreta da Câmara dos Comuns para investigar o caso, que descobriu “lançamentos falsos e fictícios” nos livros contábeis da South Sea Company. Isso não foi uma surpresa. Para garantir a aprovação legislativa de seu plano de assumir parte da dívida pública britânica, a South Sea Company pagou mais de um milhão de libras em subornos a membros do Parlamento.


Charles Stanhope, secretário do Tesouro, obteve um lucro de £250.000 a partir da emissão de ações da South Sea Company, que foram registradas como vendas nos livros da empresa, embora ele nunca tenha pago ou recebido tais ações. Posteriormente, a companhia revendeu essas ações a um preço mais alto, repassando a ele a diferença.

Charles Snell, mestre de caligrafia e contador, foi contratado pelos administradores do banco Sword Blade para examinar os registros da Sawbridge and Company, uma subsidiária falida da South Sea Company, com a missão específica de analisar os lançamentos contábeis relacionados a Charles Stanhope. Dessa forma, Snell se tornou o primeiro contador independente contratado para auditar os registros de uma corporação pública e também o primeiro a conduzir o que hoje chamaríamos de uma investigação de fraude.

Em seu relatório de auditoria, intitulado Observations Made Upon Examining the Books of Sawbridge and Company (1721), Snell demonstrou que os lançamentos envolvendo Charles Stanhope se anulavam entre si e concluiu: “Não me parece, pelos livros, que as referidas £250.000, ou qualquer lucro, tenham sido obtidos na referida operação com ações.” Stanhope acabou sendo absolvido da acusação de ter recebido subornos.

Michael Chatfielf - The History of Accounting - Retrato aqui

Veja que interessante: há um mapa turístico de Londres com os locais da história da contabilidade. E inclui o local onde Snell foi educado.



Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Pietra


Pietra, Angelo (falecido em 1590) -
Em 1586, Dom Angelo Pietra, um monge beneditino, publicou Indrizzo degli Economi, o primeiro livro impresso sobre contabilidade não empresarial. Pietra adaptou a escrituração comercial em partidas dobradas às atividades econômicas de um mosteiro. Seu modelo de diário e razão registrava as operações do mosteiro durante um ano, incluindo compras, produção, vendas e consumo de diversos tipos de produtos. Ele avaliava as plantações em crescimento e calculava os gastos com sementes e adubos para a colheita do ano seguinte. Determinava corretamente os ganhos da fazenda do mosteiro.

Ao final do ano, Pietra elaborava um balancete de verificação e uma conta de balanço. As contas nominais eram encerradas em uma conta de receitas e despesas. Calculavam-se os lucros provenientes dos produtos do mosteiro e, em seguida, encerravam-se as contas de produtos. O excedente das receitas sobre as despesas era então transferido para uma conta de capital.

Pietra acreditava que as contas do mosteiro poderiam ser melhor analisadas por meio do exame de demonstrações financeiras destacadas. Embora tais demonstrações já fossem utilizadas na prática comercial desde o século XIV, foi a primeira vez que um autor as mencionou explicitamente. Pietra também foi o primeiro escritor a considerar uma entidade como separada e distinta de seus proprietários, e sua defesa do uso de um balanço patrimonial, de uma demonstração de resultados e de um detalhado demonstrativo do capital do mosteiro decorreu de seu desejo de contabilizar todas as mudanças na situação financeira da entidade, e não apenas as variações no patrimônio dos proprietários.

Michael Chatfield para The History of Accounting - Imagem aqui

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Necker

Jacques Necker (Genebra, 30 de setembro de 1732 — Genebra, 9 de abril de 1804) foi um economista e político suíço do século XVIII. Atuou como ministro das Finanças do rei Luís XVI da França. Reformista, suas inovações, embora pioneiras, frequentemente geravam grande descontentamento, especialmente entre a aristocracia francesa.

Foi um bem-sucedido homem de negócios, construindo carreira como banqueiro e síndico da Companhia das Índias, chegando, inclusive, a emprestar recursos ao tesouro francês. Por incentivo de sua esposa, abandonou os negócios e decidiu ingressar na política francesa, apesar de ser protestante e nascido na Suíça.

Necker exerceu o cargo de ministro das Finanças da França entre julho de 1777 e 1781. Nesse período, destacou-se pela decisão inédita de publicar o Compte Rendu, tornando públicas as contas do Estado — algo sem precedentes na monarquia francesa, onde a situação financeira sempre foi tratada como segredo de Estado. Pouco depois dessa publicação, Necker foi demitido. Em 1788, diante de uma profunda crise, a França o reconduziu ao cargo, mas sua gestão não durou muito. Sua nova demissão, em 11 de julho de 1789, foi um dos fatores que precipitaram a Tomada da Bastilha.

Como autor, Necker publicou, em 1784, a obra De l’Administration des Finances (em português: *Da Administração das Finanças*), um tratado abrangente em três volumes, que obteve grande repercussão. Pouco tempo depois, travou uma célebre controvérsia com Charles Alexandre de Calonne sobre os números apresentados no Compte Rendu au Roi (em português: Prestação de Contas ao Rei). Assim, o Compte Rendu é considerado não apenas o primeiro exemplo de divulgação pública das finanças do reino, mas também, segundo alguns historiadores, o primeiro caso documentado de possível manipulação das contas apresentadas ao público.

Adaptado do verbete da wikipedia


24 maio 2025

Rir é o melhor remédio

Escola e sucesso
 

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Limperg

Limperg, Theodore Jr. (1879–1961) - Nascido em Amsterdã, Países Baixos, em 19 de dezembro de 1879, Theodore Limperg Jr. frequentou a Commercial High School — uma formação típica para estudantes que pretendiam trabalhar ou iniciar uma carreira em negócios privados ou corporativos — e se formou em 1897. Em seguida, começou a estudar para o exame nacional de contabilidade avançada, obtendo o certificado que o qualificava para lecionar contabilidade e disciplinas afins no ensino médio.

É notável que Limperg nunca se matriculou como estudante universitário em contabilidade e nunca obteve um diploma de nível superior. No início do século XX, não havia cursos de administração de empresas nas universidades holandesas. O rápido progresso e os feitos impressionantes desse jovem contador foram resultado de seu profundo interesse pela profissão contábil e de sua forte dedicação ao desenvolvimento de uma teoria de economia e administração empresarial. Sua ausência de formação superior foi mais do que compensada por uma vontade de ferro, que o manteve em um rigoroso cronograma de estudos autodidatas até o fim da vida.

Em 1901, três anos antes de ser aprovado no exame de contador público e ser admitido no Netherlands Institute of Accountants, Limperg tornou-se sócio da Volmer and Co., uma sociedade de contadores públicos certificados em Amsterdã. Naquele momento (janeiro de 1901), ele acabava de completar 21 anos. Apenas dois anos depois, o nome da sociedade foi alterado para incluir o seu (passando a se chamar Nijst, Bianchi and Limperg), embora apenas Jules Nijst tivesse autorização para assinar pela empresa. Somente em 1904 os co-sócios de Nijst seriam admitidos no Instituto de Contadores. Após a saída de Nijst da sociedade, em 1905, a firma continuou operando como Bianchi and Limperg. Posteriormente, Limperg atuou como sócio na firma Th. and L. Limperg.

Nesse meio tempo, Limperg também se tornou ativo em outros campos. Em 1903, foi lançado um novo periódico profissional para contadores holandeses, Accountancy, do qual Limperg foi um dos fundadores e membro da equipe editorial. Pouco tempo depois, tornou-se editor-chefe, cargo que ocupou por 20 anos. Sob sua liderança, o periódico tornou-se uma força importante no desenvolvimento da profissão contábil e do Netherlands Institute of Accounting. Sua contribuição para o sucesso da revista era facilmente reconhecida pelos artigos inovadores e acadêmicos que publicava, com ou sem sua assinatura. Em 1924, o nome do periódico foi alterado para Monthly Journal of Accountancy and Business Administration, e atualmente é publicado como Monthly Journal of Accountancy and Business Economics.

Surgiram conflitos com a “velha guarda” do Netherlands Institute of Accounting, especialmente sobre o desenvolvimento da contabilidade e a regulamentação da profissão. Limperg era paciente ao discutir propostas inovadoras, mas tinha uma forte inclinação para fazer prevalecer suas ideias e, quando princípios estavam em jogo, recusava-se firmemente a ceder. Em 1906, sua decisão de publicar uma carta desconfortável ao editor resultou na revogação de sua associação ao Instituto. Contudo, no mesmo dia, Limperg e cerca de 20 apoiadores fundaram sua própria organização, a Netherlands Accountants Association, que se tornaria uma força poderosa no desenvolvimento da contabilidade na Holanda. Esse novo grupo organizou um programa educacional e uma comissão de exames (presidida por Limperg) para candidatos ao título profissional.

Em 1918, o instituto e a associação concordaram em se fundir, e a associação de Limperg foi restabelecida. Ele tornou-se presidente da comissão de exames. Todos os reconhecimentos lhe foram concedidos, e a comunidade contábil holandesa finalmente reconheceu sua grandeza.

O forte apoio de Limperg ao ensino da contabilidade e da economia empresarial no ensino superior contribuiu para a criação do Departamento de Economia e Administração de Empresas da Universidade de Amsterdã. Em 1922, Limperg assumiu o cargo de professor, lecionando tanto para alunos de graduação quanto de pós-graduação. Contabilidade, economia empresarial e administração eram estudadas dentro de uma estrutura abrangente de economia social e empresarial. Para ele, essencialmente, os conceitos e as leis de todas essas áreas eram idênticos, e sua análise científica deveria recorrer, quando apropriado, a métodos dedutivos. Essas ideias contrastavam fortemente com as visões pragmáticas da maioria dos contadores da época, especialmente dos professores da Business Academy de Roterdã.

A oposição de Limperg ao nominalismo e à doutrina do custo histórico tornou-se amplamente reconhecida. À medida que os principais debatedores sobre metodologia e questões específicas da teoria e prática contábil começaram a ser identificados como membros das "escolas" de Amsterdã e Roterdã, o antagonismo se intensificou. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial e a morte de Limperg, grande parte da controvérsia sobre essas questões fundamentais desapareceu.

O famoso postulado da continuidade de Limperg e sua teoria do valor de reposição tornaram-se temas centrais na literatura contábil teórica e prática holandesa, especialmente depois que a gigante N.V. Philips Industries adotou os princípios de avaliação por valor de reposição em sua contabilidade gerencial e financeira. Ainda assim, no setor empresarial holandês, o conceito de valor de reposição nunca teve ampla adoção.

Em 1947, a Netherlands School of Economics (atualmente Erasmus University) concedeu a Limperg o título de doutor honoris causa. Ele se aposentou da universidade em 1949, mas permaneceu ativo como presidente do Conseil International de l'Organisation Scientifique (CIOS) e como membro do conselho consultivo do Netherlands Institute of Efficiency (NIVE). Faleceu em 5 de dezembro de 1961.

Ao lado dos escritos de Fritz Schmidt e Eugen Schmalenbach, dois dos mais importantes estudiosos da Alemanha, a obra de Limperg marcou o fim da predominância dos conceitos nominalistas entre os principais teóricos da contabilidade. A escola nominalista havia sustentado, por muitos anos, que os dados contábeis deveriam ser expressos em unidades monetárias, mensurando as transações no momento de sua origem; assim, a manutenção do investimento original em termos de unidades monetárias registradas era a base aceita para a apuração do resultado. O desenvolvimento da teoria contábil moderna na Europa e em outras partes do mundo exigiu o trabalho sofisticado de estudiosos talentosos e dedicados para expandir e aprimorar os legados de Limperg e seus contemporâneos — e os holandeses cumpriram bem seu papel.

Não está claro por que Limperg nunca escreveu um livro. Seus numerosos artigos e apresentações abordam uma diversidade de tópicos; sua escrita é sempre rigorosa e criteriosa, refletindo sua extrema atenção aos detalhes e à precisão, além de ser frequentemente inovadora e, por vezes, controversa. A “grande teoria limpergiana”, desenvolvida entre 1922 e 1929, constitui uma estrutura fechada e rigorosa, na qual organização interna e externa, contabilidade, finanças, auditoria e relações trabalhistas eram posicionadas como campos especializados, de acordo com sua função. Esse material foi apresentado a seus alunos por meio de aulas cuidadosamente elaboradas, frequentemente inovadoras e controversas. O Limperg Instituut, em Amsterdã, patrocinou a publicação de notas de aula e materiais correlatos sob o título Bedrijfseconomie, Verzameld Werk. Uma edição revisada foi publicada (em parte) em 1976.

Após sua morte, seus seguidores continuaram aperfeiçoando e desenvolvendo sua teoria. Várias premissas e conclusões foram questionadas, e algumas acabaram abandonadas. No entanto, a estrutura básica sobreviveu, e o grande valor da contribuição de Limperg para a metodologia e os princípios da contabilidade é amplamente reconhecido.

A. van Seventer - The History of Accounting

Foto: aqui. Eu citei Limperg quando comentei de Schmidt e Most

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Degrange

Edmond Degrange (? – 1826)francês e um dos autores de maior sucesso na área da contabilidade no século XIX. Atualmente, no entanto, não é possível encontrar muitas informações sobre ele: a Wikipédia (nas versões em francês, italiano, espanhol, inglês ou português) não possui um verbete próprio dedicado ao autor. Assim, as informações desta postagem correspondem a um apanhado geral encontrado em diversas fontes.


O fato é que Degrange teve grande influência — seus livros de contabilidade, inclusive, foram traduzidos para o português, mas também para o espanhol e italino, no início do século XIX. Em 1838, após seu falecimento, O Guarda-Livros foi traduzido para o português por João Cândido. No mesmo ano, surge Método Fácil de Escriturar os Livros, com tradução de M. J. da Silva Porto. Este Método Fácil parece ser uma tradução da obra de 1795, La Tenue des Livres Rendue Facile. Nessa obra, Degrange apresenta a chamada teoria cinco-contista. Alguns anos após o La Tenue, ele cria o jornal-razão (1804).

Com o objetivo de simplificar a contabilidade, Degrange classificou as contas em cinco grandes grupos, o que deu origem à escola cinco-contista, mencionada no parágrafo anterior. As contas do comerciante seriam: Mercadorias Gerais, Caixa, Contas a Receber, Contas a Pagar e Lucros e Prejuízos. Esse método simplificava significativamente a mecânica contábil, reduzindo o número de contas ao mínimo necessário, o que permitia que leigos aprendessem com mais facilidade a escrituração contábil.

Parte das inovações apresentadas por Degrange já tinham sido pensadas por outros autores. Assim, o papel dele na história da contabilidade parece ser relegado a sua influência na formação de profissionais de alguns países de língua latina na primeira metade do século XIX. 

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Dodson

 Dodson, James (1710–1757) As técnicas de apuração de custos são tão antigas quanto a contabilidade de partidas dobradas, mas a contabilidade de custos sistemática praticamente não existia no início da Revolução Industrial. No entanto, para apurar o lucro, os fabricantes precisavam calcular não apenas o custo dos produtos acabados, mas também dos bens em diversos estágios de produção.


James Dodson, matemático, professor e contador inglês, iniciou sua obra The Accountant, or the Method of Book-keeping (1750) com uma breve discussão sobre a teoria da escrituração contábil. Em seguida, apresentou exemplos de contas aplicadas a uma propriedade rural e fazenda, a um grande comerciante, sociedades, um banqueiro e, mais significativamente, a um sapateiro que também mantinha uma loja de varejo.

As contas do sapateiro incluíam transações relacionadas à compra e corte de couro, entrega de solados e cabedais aos oficiais para a confecção dos sapatos e venda de cinco modelos de sapatos masculinos, com a contabilidade realizada separadamente para cada um deles. Isso exigiu que Dodson demonstrasse o custeio por lote nas contas do sapateiro, mostrando o fluxo dos custos de um estágio de produção para o outro, o aumento do valor dos produtos em processo e, finalmente, a distribuição dos custos de fabricação entre os diferentes tipos de sapatos.

Michael Chatfield - The History of Accounting

Dodson ficou conhecido como atuário e chegou a ser membro da prestigiosa Royal Society. Como atuário, ele usou as tabelas de mortalidade de Halley (do cometa). Ele escreveu obras de matemática, o que incluía um conjunto de tabelas de anti-logaritmo, que foi usada entre 1742 e 1849.

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Badoer

Jachomo Badoer (1402 - 1442 ou 1445) -  Foi um mercador veneziano que comercializou em Constantinopla entre 1436 e 1440. Seu livro razão de partidas dobradas foi o único documento comercial escrito em Constantinopla que sobreviveu, em sua totalidade, à conquista turca da cidade em 1453. Por isso, é uma fonte única de informações sobre o comércio, as moedas e as práticas de mercado do Levante durante a primeira metade do século XV. Badoer foi um inovador na escrituração contábil, mas seu livro também retrata o estado da arte da contabilidade naquela época.

Badoer mantinha apenas um livro razão, sem um diário unificado, embora utilizasse uma série de livros de memorandos nos quais registrava diversos tipos de pagamentos e recebimentos. Seu razão foi escrito no estilo veneziano de partidas dobradas, com débitos e créditos lado a lado na página aberta. Letras de câmbio, contas de consignação, transações de escambo e pagamentos de seguros marítimos estão incluídos em seus registros. Ele estabelecia contas separadas para cada cliente e para cada remessa de mercadorias, calculando lucros e perdas individualmente. Sua conta de lucros e perdas também incluía ganhos com câmbio de moedas e com descontos concedidos por credores, fornecedores e agentes. O livro razão de Badoer contém um dos lançamentos compostos mais antigos de que se tem conhecimento.

Michael Chatfield - The History of Accounting


A Wikipedia traz mais informações sobre ele: o livro de contas dele é chamado de Libro di Conti. Ele era de Veneza, tinha dois irmãos mais velhos e uma irmã. Casou com Maria Grimani e tiveram dois filhos. Tornou-se membro do Conselho dos Quarenta, uma especie de suprema corte de Veneza, o que significa poder político e social. Pouco depois da morte da esposa, viajou para Constantinopla. Quando retornou, em 1441, casou novamente.

O Libro di conti (ou Libro dei conti, "livro de contas") é um registro, em partidas dobradas, dos negócios de Giacomo em Constantinopla entre 1436 e 1440. Trata-se de uma fonte inestimável sobre o comércio em Constantinopla nesse período. O livro demonstra que a cidade funcionava principalmente como um entreposto. Os negócios anuais de Giacomo, considerados de escala média, somavam 126.000 hipérpiros. Embora os gregos estivessem fortemente envolvidos no comércio, contribuíam com relativamente pouco capital. A participação da República de Gênova superava a de Veneza, enquanto o Império Bizantino mantinha um déficit comercial com o Ocidente.

Aqui um artigo sobre ele. Outro artigo, bem extenso, pode ser encontrado aqui, em italiano. E outro aqui, na Accounting Review. Na imagem, o brasão de Badoer.

23 maio 2025

A Marca GPT

Do texto da Forbes


De acordo com Cecilia Russo Troiano, CEO da TroianoBranding, a entrada do ChatGPT no ranking da Kantar BrandZ Global é fruto de tres fatores: pioneirismo da marca em trazer acessibilidade para a IA, onda favorável de disseminação maciça da IA como ferramenta do dia a dia e ainda a marca ter correspondido às expectativas, que não eram baixas, em termos de qualidade. Isso não garante ela permanecer nesse ranking já que esse é um mercado em plena evolução, com novos players surgindo que podem ameaçar sua liderança atual”.

Satisfação

Em um texto sobre satisfação do cliente em uma empresa de contabilidade:


Aqueles que têm sucesso na satisfação do cliente são os que vão além das pesquisas de opinião. Eles não estão obcecados em elevar seus níveis de dopamina com respostas cheias de carinhas felizes; eles fundamentam sua pesquisa com dados qualitativos.

Essas empresas podem até aplicar pesquisas rápidas com seus clientes, mas obtêm um engajamento mais profundo por meio de consultores externos, realizando exercícios de cliente oculto ou vinculando a qualidade do serviço a métricas internas. No entanto, em vez de se perder ainda mais na caverna dos dados, o ingrediente que muitas vezes falta é, de fato, agir com base nas respostas.

No fim das contas, a verdadeira satisfação não é algo que você mede até a exaustão. É algo que você entrega de forma consistente, sem precisar perguntar de novo e de novo.

Corrupção e extremismo

A questão da corrupção é importante para a contabilidade pública. Eis um estudo recente: 

Este artigo mostra que a corrupção gera extremismo, mas principalmente do lado da oposição. Embora a corrupção prejudique todos os cidadãos, apenas os eleitores do lado minoritário podem desejar mudar para um representante mais extremo quando percebem um sistema político mais corrupto. No nosso modelo, fazer campanha explorando um escândalo de corrupção contra o incumbente aumenta a probabilidade de vitória do político da oposição, mas, ao mesmo tempo, reduz as rendas futuras esperadas decorrentes do cargo. Como políticos extremistas normalmente têm menos chances de vencer contra um oponente moderado, eles possuem um incentivo maior para adotar uma postura firme contra a corrupção. Dado que o lado da minoria política tem uma chance menor de eleger seu representante, enfrenta um custo de oportunidade menor ao votar em extremistas. Nosso principal resultado é que minorias têm maior probabilidade de reagir à corrupção com mais extremismo. Apresentamos evidências causais para essa nova previsão assimétrica a partir dos casos da Indonésia e do Brasil.

Fonte: aqui. Os pesquisadores não são brasileiros.

Rir é o melhor remédio

Análise custo-benefício
 

22 maio 2025

AGC com inscrições abertas


 

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

Refere-se ao presente que foi dado à Trump, um avião. O Slogan "America primeiro" transforma em "Me (Eu) primeiro". 

IA e a autoconfiança das pessoas

Eis o resumo:

À medida que a inteligência artificial generativa (IA generativa) se torna mais prevalente, torna-se cada vez mais importante compreender como as pessoas reagem psicologicamente ao conteúdo que ela cria explicitamente. Nesta pesquisa, demonstramos que a exposição a conteúdos produzidos por IA generativa pode afetar a autoconfiança das pessoas na realização da mesma tarefa, por meio de um processo de comparação social. Focando este estudo no domínio da criatividade, descobrimos que expor pessoas a conteúdos criativos que elas acreditam ter sido produzidos por IA generativa (em comparação com um par humano) aumenta a autoconfiança delas em suas próprias habilidades criativas. Esse efeito surge em diferentes contextos — como piadas, histórias, poesia e artes visuais — e pode, consequentemente, aumentar a disposição das pessoas em tentar realizar essas atividades, ainda que a confiança que fundamenta essas ações possa ser, de certo modo, infundada. Mostramos ainda que esses efeitos ocorrem porque a IA generativa é percebida como um referencial social inferior em empreitadas criativas, fortalecendo, assim, as próprias percepções que as pessoas têm de si mesmas. Como resultado, em domínios nos quais a IA generativa é percebida como um referencial social igual ou superior (ou seja, em áreas baseadas em fatos), esses efeitos são atenuados. Esses achados têm implicações significativas para a compreensão das interações entre humanos e IA, dos fatores que antecedem a autoconfiança criativa e dos referenciais que as pessoas utilizam nos processos de comparação social.

Fonte: aqui, via aqui

Franquia de heróis: usando conceitos de receita marginal, custos fixos, custo marginal...

 Quanto conteúdo uma franquia deve produzir? Uma reportagem recente do Wall Street Journal indica que o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) está se aproximando de um ponto de saturação. O gráfico que eles criaram certamente aponta para um enorme aumento na quantidade de conteúdo, principalmente na TV. Decidir quanto produzir é uma decisão de extensão.

Por um lado, o enorme sucesso dos filmes dos Vingadores gerou um valioso reconhecimento da marca. O estúdio investiu custos fixos em desenvolvimento de personagens, roteiros e valores de produção, que trarão retorno em termos de engajamento futuro do público. Ou seja, o custo marginal de atrair mais audiência agora é menor devido a esses investimentos anteriores. A decisão estratégica implícita, diante desse custo marginal mais baixo, é aumentar a produção de conteúdo.

Por outro lado, o público está experimentando uma utilidade marginal decrescente ao consumir mais conteúdo. Pode não valer a pena para os fãs acompanhar todos os desdobramentos da franquia. Vingadores: Ultimato foi o ápice de um arco narrativo consistente que manteve o alto engajamento. Produzir conteúdo adicional necessariamente significa fragmentar as linhas narrativas, e os fãs podem não sentir a necessidade de acompanhar tudo. Talvez o estúdio não tenha percebido que a consequente redução da receita marginal (MR) deveria, de forma ótima, levar a uma redução na produção de conteúdo.

Talvez haja lições aqui para o universo de Star Wars.

Fonte: aqui

21 maio 2025

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

Imposto de renda: retenção e devolução

Prestar logo suas contas com o Leão pode trazer recompensas. A dez dias do fim do prazo, cerca de 20 milhões de contribuintes ainda não entregaram sua Declaração Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) à Receita Federal. Até as 18h16 da segunda-feira (19), 26,7 milhões de contribuintes tinham enviado os dados, ou 57,78% do total previsto para este ano.

Segundo a Receita Federal, 64,9% das declarações entregues até agora terão direito a receber restituição, enquanto 19,2% terão que pagar Imposto de Renda e 15,9% não têm imposto a pagar, nem a receber.

A informação foi obtida aqui. A reportagem parece indicar que é "vantajoso" preencher uma declaração de imposto de renda. Também já escutei, na prática, muitas pessoas felizes por terem devolução. Mas se a grande maioria das pessoas possuem direito a restituição, isso é um claro sinal que o imposto, durante o ano exercício, foi retido a mais. Isso seria igual a adiantarmos um dinheiro para o governo, sem juros e correção. E um ano depois, o mesmo governo devolve seu dinheiro. Não seria mais justo simplesmente não termos sido taxados? 

GPT e Ensino: uma boa notícia


Desde sua chegada em novembro de 2022, o ChatGPT gerou grande entusiasmo. Professores, estudantes, tecnólogos e formuladores de políticas públicas debatem seu potencial como ferramenta de aprendizagem, mas também seus riscos. Estamos diante de uma revolução educacional ou apenas de um assistente com luzes e sombras? E talvez seja prudente adotar cautela. Primeiro, porque a tecnologia avança em altíssima velocidade, e não sabemos o que pode acontecer em três anos — muito menos em uma década. E segundo, porque há um histórico de diferentes tecnologias serem anunciadas como extremamente disruptivas, e depois não mudarem tanto assim. Eu me lembro de que havia quem pensasse que os MOOCs nos deixariam sem trabalho — e aqui estamos. E os mais velhos me dizem que algo parecido aconteceu quando surgiu a televisão.

O trabalho de Wang e Fan realiza uma meta-análise de 51 estudos experimentais e quase-experimentais publicados entre novembro de 2022 e fevereiro de 2025. Seu objetivo é determinar se o ChatGPT melhora o desempenho acadêmico, a percepção da aprendizagem e o pensamento crítico ou criativo. E, talvez mais importante, entender quando e como ele funciona melhor.
(...)

Os resultados são bastante contundentes. No desempenho acadêmico, o tamanho do efeito é muito alto, g = 0,867. Francamente, é tão alto que me custa acreditar. A maioria das intervenções educacionais que conheço tem efeitos muito menores — no melhor dos casos, um terço desse valor. Não estou dizendo que seja mentira, e certamente isso eleva minhas crenças a posteriori, mas, por enquanto, mantenho certo ceticismo. Na percepção da aprendizagem e no pensamento de ordem superior, o efeito também é grande, mas um pouco mais modesto: g = 0,456 e g = 0,457, respectivamente. Isso significa que, em média, os estudantes que usam o ChatGPT obtêm melhores resultados acadêmicos, têm uma experiência de aprendizagem mais positiva e desenvolvem melhor suas habilidades cognitivas complexas, em comparação com aqueles que não o utilizam.

O estudo também analisa quais fatores ampliam ou reduzem esse impacto. Para começar, o efeito é mais forte em cursos de escrita acadêmica e em desenvolvimento de habilidades não quantitativas do que em matemática ou ciências exatas. Talvez o mais interessante, para mim, seja que o ChatGPT funciona melhor quando atua como tutor inteligente — oferecendo orientação, feedback ou correções — ou como companheiro de aprendizagem, em vez de ser apenas uma ferramenta auxiliar. Acredito que isso seja muito relevante. Sabemos, na educação, que a tutoria é extremamente útil, mas também cara, pois funciona melhor em grupos pequenos. Se o ChatGPT funciona como substituto de um input caro, então estamos, de fato, diante de uma grande revolução. 

(...)

fonte: aqui

Política e desempenho

O resumo:

Construímos uma medida inédita de discurso corporativo partidário utilizando técnicas de processamento de linguagem natural e a utilizamos para estabelecer três fatos estilizados. Primeiro, o volume de discurso corporativo partidário aumentou de forma acentuada entre 2012 e 2022. Segundo, esse aumento foi desproporcionalmente impulsionado por empresas que adotaram uma linguagem mais alinhada ao Partido Democrata, uma tendência que se observa de forma ampla em diversos setores, regiões geográficas e perfis de orientação política dos CEOs. Terceiro, declarações corporativas de cunho partidário são seguidas por retornos anormais negativos nas ações, com uma heterogeneidade significativa de acordo com o grau de alinhamento dos acionistas em relação à declaração. Por fim, propomos um modelo teórico e fornecemos evidências empíricas sugestivas de que essas tendências são, ao menos em parte, impulsionadas por uma mudança nas preferências não pecuniárias dos investidores em relação ao discurso corporativo partidário. 

Achei bem interessante a sugestão que política faz mal para o retorno acionário.

20 maio 2025

Meios de pagamento no México

Enquanto no Brasil cada vez mais difícil achar um lugar que aceite pagamento em dinheiro, eis a realidade do México:


Retorno e emissão de carbono

Este estudo investigou a relação entre as emissões de carbono e o retorno acionário no mercado brasileiro, utilizando uma amostra de 87 empresas, financeiras e não financeiras da B3, no período de 2014 a 2022. Foram aplicadas regressões para dados em painel, com efeitos fixos de tempo de setor para controle da heterogeneidade entre os grupos de empresas. A literatura internacional elenca evidências consistentes de que o mercado exige um prêmio de carbono pela exposição ao risco de carbono resultante das incertezas relacionadas a uma possível transição desordenada do uso de fontes de energia fósseis para energias renováveis. A literatura nacional, ainda embrionária, não identificou relações significativas nas análises carbono-retorno, ao analisar retornos anormais relacionados ao índice ICO2 e em análises das emissões de carbono por escopo. Esta pesquisa apresenta um novo recorte temporal e métodos estatísticos
ainda não explorados. Os resultados evidenciaram que há uma relação inversamente proporcional entre o total das emissões de carbono e o retorno acionário, e essa relação oscila na presença de sinalizações das empresas, políticas e regulamentos que ameaçam ser severos, de modo que o risco de carbono se concretize. Essa relação não foi identificada nas investigações por escopo, nas emissões por unidade de receitas ou na variação das emissões, tal como as evidências já presentes na literatura nacional, demonstrando uma análise do mercado na perspectiva do curto prazo e ainda em estágio de evolução. Este estudo contribui para a literatura ao documentar a posição do mercado brasileiro frente à sustentabilidade ambiental.

Da dissertação de Jucellia Prates.

Um pequeno presente para Trump: um presente que pode custar caro


Já tínhamos postado sobre um pequeno presente que Trump ganhou: um avião. Pois, "cavalo dado, não se olha os dentes". Mas "não existe almoço grátis" deve ser lembrado. A doação pode custar muito caro:

Poucos negócios em potencial chamaram tanta atenção nos últimos meses quanto a possível doação de um Boeing 747 de propriedade do Catar para o governo Trump.

Críticos levantaram questões sobre as implicações éticas. Mas uma investigação aprofundada feita pelo The Times sobre a história do avião revelou alguns números surpreendentes.

O custo potencial: reportagens noticiaram que um novo Boeing 747-8, o modelo oferecido pelo Catar, custa 400 milhões de dólares.

Trump afirmou que apenas uma “pessoa estúpida” recusaria um presente tão caro. Mas isso não leva em conta os altos custos de adaptação do avião:

Seria necessário um trabalho considerável para preparar o avião para servir como um verdadeiro Air Force One — incluindo a remoção de possíveis dispositivos eletrônicos de escuta escondidos, a instalação de equipamentos de comunicação avançados e de sistemas especializados para proteger a aeronave contra ataques com mísseis ou outras ameaças. E mesmo que o avião seja doado, o custo dessas adaptações seria enorme, segundo autoridades atuais e ex-integrantes do Pentágono: pelo menos 1 bilhão de dólares.

Também não está claro quanto o governo pagaria à L3Harris, a empresa contratada para realizar a adaptação, ou de onde viriam esses recursos. 

O possível cronograma: autoridades da Casa Branca inicialmente presumiram que o avião do Catar precisaria apenas de uma nova pintura e algumas melhorias, e estaria pronto para uso dentro de um ano. Mas adequar o jato aos padrões do Air Force One levaria anos, possivelmente até depois de 2027. (Embora Trump possa dispensar exigências de sistemas avançados de segurança, ex-oficiais do Pentágono afirmam que isso seria um erro.)

Veja o que disse Marc Foulkrod, engenheiro aeroespacial que chegou a tentar ajudar na venda do avião do Catar, sobre o plano do governo:

“É ridículo”, disse Foulkrod sobre a ideia de que o avião do Catar poderia ser uma solução rápida, acrescentando que os projetos já existentes da Boeing provavelmente poderiam ser acelerados. “Isso tem um custo-benefício melhor do que tentar pegar o avião de outra pessoa e transformá-lo em um avião presidencial. Não faz sentido.”
Texto da Newsletter do NYTimes

A questão dos gastos públicos dos Estados Unidos

Recentemente ocorreu o rebaixamento da nota de investimento dos Estados Unidos. O Gráfico acima revela um dos principais motivos: a dívida pública é crescente desde a crise de 2008. Isso foi citado pela Moody´s: “large annual fiscal deficits and growing interest costs.” É uma decisão que tem respaldo anterior com as decisões da SP em 2011 e Fitch em 2023.  Somente 11 países possuem a classificação máxima nas três agências. 

Mas a preocupação é a tendência crescente. Os números mostram que os juros da dívida é maior que o orçamento de defesa e Medicare, o sistema de saúde deles. O déficit foi de 1,8 trilhão no ano passado, um pouco acima de 6% do PIB. E a política de cortes de impostos e o perfil de Trump como uma pessoa que importa pouco com a dívida também preocupa. 

Fonte: Chartr


19 maio 2025

Rebaixamento da nota de crédito dos EUA

A agência Moody’s rebaixou nesta sexta-feira a classificação de crédito dos Estados Unidos em um degrau, de “Aaa” para “Aa1”, citando dívida e juros crescentes, “que são significativamente mais altos do que os de soberanos com classificação semelhante”.

“Sucessivas administrações e o Congresso dos EUA falharam em chegar a um acordo sobre medidas para reverter a tendência de grandes déficits fiscais anuais e custos crescentes de juros”, disse a Moody’s em um comunicado, ao mudar sua perspectiva para os EUA de “negativa” para “estável”.

Fonte: aqui.

O mais interessante é que o mercado subiu na segunda. 

Uma fraude de 2 bilhões de libras


A Ernst & Young (EY) está sendo processada por negligência no Reino Unido, em um caso que envolve cerca de £2 bilhões (aproximadamente US$ 2,7 bilhões), devido à sua atuação como auditora da NMC Health entre 2012 e 2018. A NMC, uma operadora de hospitais com sede nos Emirados Árabes Unidos e listada na bolsa de Londres, entrou em colapso em 2020 após a descoberta de mais de US$ 4 bilhões em dívidas ocultas.

O processo foi iniciado pela administradora judicial Alvarez & Marsal, que alega que EY falhou em detectar sinais claros de fraude contábil durante os anos em que auditou a NMC. Entre as falhas apontadas estão a falta de acesso ao livro razão da empresa e a ausência de confirmações bancárias independentes, o que teria permitido que os executivos da NMC manipulassem os registros financeiros.

A EY nega as acusações, argumentando que foi vítima de uma fraude complexa e orquestrada pelos próprios executivos e acionistas da NMC, e que não tinha como detectar o esquema devido à sua natureza sofisticada.

Fonte: aqui

Próximo presidente da Romênia

 

Poucas pessoas sabem que a Romênia fala uma língua latina. E agora, o seu próximo presidente tem uma formação incomum: matemática. Mas não é algo tão corriqueiro, pois ele foi duas vezes escore máximo na prestigiosa Olimpíada de Matemática.


O Problema dos Três Corpos (2)

Ontem falamos sobre a série O Problema dos Três Corpos e hoje eu, infelizmente, descobri que ainda não há previsão de estreia para a segunda temporada. 

Segundo a revista Esquire, o alto custo da primeira temporada é um dos principais fatores que colocam a continuação em xeque. Cada episódio teria custado cerca de US$ 20 milhões, o mesmo nível de investimento de A Casa do Dragão. Para comparação, Game of Thrones (em sua 8ª temporada) ficou na faixa de US$ 15 milhões por episódio. 

 O ScreenRant aponta que esse valor coloca Três Corpos entre as séries mais caras da Netflix. E a Forbes foi além: segundo reportagem, o custo total foi de US$ 233,1 milhões, o que dá uma média de impressionantes US$ 29,1 milhões por episódio, valor semelhante ao da consagrada Stranger Things.

Ainda assim, há esperança. O site Omelete noticiou que a continuação está nos planos, mas só deve chegar em 2028 (!!). As gravações, inclusive, foram realocadas do Reino Unido para a Hungria, onde o governo oferece um incentivo fiscal de 30% sobre os custos de produção.

Multa do UBS por uma investigação criminal

O banco suíço UBS Group AG concordou ontem [5 de maio] em pagar US$ 511 milhões para resolver uma investigação criminal do Departamento de Justiça dos EUA que concluiu que o Credit Suisse (o banco que o UBS comprou em 2023 [1]) ajudou americanos ricos a escapar de impostos sobre mais de US$ 4 bilhões em pelo menos 475 contas offshore. O acordo surge mais de uma década depois de o Credit Suisse se ter comprometido a pôr termo a tais práticas [2]. 

No caso mais recente, o Credit Suisse admitiu ter conspirado para ajudar indivíduos ricos a preparar e apresentar declarações fiscais falsas dos EUA entre 2010 e 2021 e descobriu-se que falhou repetidamente na divulgação completa de contas offshore às autoridades. O acordo ocorre dois anos depois de o Comité de Finanças do Senado dos EUA ter concluído que o Credit Suisse tinha violado o seu acordo de confissão de 2014 com o governo dos EUA.

O UBS disse que não estava envolvido na má conduta, que ocorreu antes de o UBS comprar o Credit Suisse por US$ 3,2 bilhões sob um acordo mediado pelo governo suíço para evitar uma potencial crise bancária [3].

[1] A questão da contabilidade dessa aquisição é muito interessante e foi tratada no blog anteriormente

[2] Isso deve ter pesado no valor da multa

[3] Até então, eram os dois grandes bancos da Suíça. 

Fonte: 1440 newsletter

18 maio 2025

Resenha: O Problema dos Três Corpos

Escrever para o blog é uma tarefa interessante. As minhas resenhas presenciais são falhas ao não entrarem em detalhes, pois considero tudo spoiler. De vez em quando, não leio nem a sinopse e me deixo levar pela capa, título ou autor. É uma prática que me trouxe ótimos frutos e recomendo. Todavia, como a ideia aqui não pode ser essa, tentarei sintetizar sem estragar a experiência. 

Hoje quero conversar sobre “O Problema dos Três Corpos”, obra que faz parte de uma trilogia de ficção científica escrita pelo chinês Cixin Liu. O primeiro livro recebeu o prestigiado prêmio Hugo de melhor romance de ficção científica em 2008 e, atualmente, é considerado um clássico moderno. 

A saga merece o seu tempo e atenção, caso se interesse por física, suspense, mundos extraterrestres e, até história (por que não?). Na narrativa, alguns cientistas se envolvem em projetos ultrasecretos sobre ondas sonoras e a possibilidade de uma comunicação extraterrestre. Nessa brincadeira, uma civilização alienígena à beira do colapso decide aproveitar o embalo e planeja uma invasão. O pano de fundo da história é a China, meio à Revolução Cultural, no final dos anos 1960. 

Há uma adaptação louvável na Netflix. Quando a iniciei, achei o início lento e precisei me ajustar ao clima, mas, após esse momento inicial, me peguei fascinada. Pausa para a minha inabilidade em elogiar algo que quero que você assista, mas não quero influenciar a experiência. ...! 


Há apenas uma temporada disponível na Netflix, então, quando a terminei, fui sedenta ler o livro que já estava na minha pilha há algum tempo. Eu estava imensamente interessada na continuidade da história e, como estava envolvida com a magia da conclusão da primeira temporada na Netflix, achei a leitura arrastada, acabei deixando-a de lado. Mas voltei, persisti e terminei. E posso afirmar: é um bom livro. 

E aí fui para o segundo. Gente! Que livro!!! Que livro!!! O terceiro também é sensacional. A trama é muito bem estruturada; o universo que sustenta a saga é construído e alimentado de forma sólida. Os personagens são interessantes, as explicações envolvendo física e pesquisa são didáticas e fascinantes. O desenrolar da história não perde o fôlego, muito pelo contrário, é cada vez mais eletrizante. Parece que com a experiência, o Cixin Liu cresceu ainda mais e se superou de novo e de novo. 

O único problema que encontrei foi o tamanho da letra na versão impressa. Ela é um pouco menor do que o padrão; eu tenho a vista muito ruim, então acabei deixando de lado e comprando o ebook para o Kindle. 

Na época, minhas expectativas estavam tão medianas que troquei meu exemplar físico no sebo de livros usados. Um pouco mais à frente, acabei comprando novamente um exemplar, para presentear meu irmão, que se interessou ao acompanhar a minha experiência. Alerta de spoiler: ele ainda não leu. Acho que entregar quase duas mil páginas para alguém de uma só vez não é a melhor forma de incentivá-la a ler. Porém, prometo que vale a pena! 

Vale a pena? Com certeza! Se ficção científica não é a sua praia, sugiro que ainda assim dê uma chance à série. Embora haja diferenças consideráveis entre a adaptação e o livro, a primeira temporada se saiu excepcionalmente bem. Acredito que, em alguns aspectos, ela é até melhor do que o primeiro livro. Um alerta: devido a essas diferenças, não recomendo assistir à primeira temporada e, em seguida, partir para o segundo livro. O primeiro livro da saga é o menor, então, se você se interessar, vale o investimento.

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Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Sombart

Sombart, Werner (1863–1941)

Werner Sombart, influente economista político, nasceu e morreu na Alemanha. Estudou direito, economia, história e filosofia nas universidades de Berlim, Roma e Pisa, e acabou se tornando professor de economia em Berlim. Foi aluno dos chamados socialistas de cátedra (Kathedersozialisten), como Schmoller e Wagner, e, quando jovem, tornou-se marxista. No entanto, provavelmente era inteligente demais para permanecer marxista por muito tempo e acabou se tornando um crítico do marxismo. De fato, sua obra Der Moderne Kapitalismus (O Capitalismo Moderno), publicada em 1919, é na verdade um livro que elogia o capitalismo, no qual previu que esse sistema atingiria seu auge no século XX.


Mais tarde, já idoso, Sombart tornou-se um apologista do Nacional-Socialismo, mas os nazistas não o aceitaram plenamente nesse papel, principalmente porque suas observações sobre o papel dos judeus na Idade Média entravam em conflito com as teorias do regime.

Em termos de volume de publicações e traduções, Sombart pode ser considerado um dos economistas de maior sucesso de sua época. No entanto, ele não fundou uma escola de pensamento nem deixou discípulos de suas ideias, sendo hoje visto mais como uma curiosidade histórica. Isso provavelmente se deve ao fato de que combinou as origens sociais e históricas de seu pensamento econômico em uma mistura empolgante, porém instável, de forma que as gerações seguintes passaram a considerar pouco científica.

Essas chamadas “proposições de Sombart” receberam atenção significativa na literatura contábil. Yamey (1950, 1964) as revisou criticamente em dois artigos, Winjum (1972) identificou “apoio acadêmico substancial à tese de Sombart”, e Kenneth S. Most (1972) reconheceu algum mérito nelas. As proposições se referem ao papel da contabilidade no desenvolvimento do capitalismo. Sombart chegou a afirmar que a introdução da contabilidade foi de importância máxima para o desenvolvimento do capitalismo — e, claramente, tal percepção merece estudo especial.

Sombart partiu de uma Europa feudal pré-capitalista, na qual o objetivo de cada homem era garantir o suficiente para sua subsistência. Observou, então, que em determinado momento o motivo do lucro substituiu a satisfação de necessidades pessoais como força motriz da sociedade. Ele levantou a questão: por meio de que mecanismos isso ocorreu? O que transformou o artesão pré-capitalista no fabricante capitalista? Sua resposta foi que o ser humano desenvolveu duas capacidades: calcular e poupar. E a importância da contabilidade estaria justamente em unir essas duas habilidades em uma poderosa ferramenta de gestão: a firma capitalista, vista como uma entidade contábil.

De forma resumida, Sombart viu a invenção da escrituração por partidas dobradas como um instrumento para objetivar o conceito de capital. Ele escreveu que “a representação da firma por meio das contas, especialmente a representação dos interesses de propriedade na forma das contas de capital, torna objetiva a ideia de riqueza, dissociando-a das pessoas humanas envolvidas na empresa”. A ideia de capital desvinculava-se de qualquer objetivo de satisfação de necessidades ou motivações pessoais dos participantes da firma, e isso levou diretamente à formulação do racionalismo econômico. Por esse caminho, a produção e a distribuição tornaram-se objetos de cálculo, o que significava que as ferramentas da matemática podiam ser usadas para planejar poupança e investimento e fomentar o crescimento do capitalismo.

Em uma passagem marcante, Sombart citou as palavras que Goethe colocou na boca do cunhado de Wilhelm Meister: “A escrituração por partidas dobradas é uma das mais belas descobertas do espírito humano.” E prosseguiu explicando: “Para se compreender corretamente seu significado, ela deve ser comparada ao conhecimento que os cientistas desenvolveram desde o século XVI sobre as relações no mundo físico. A escrituração por partidas dobradas surgiu do mesmo espírito que produziu os sistemas de Galileu e Newton e o conteúdo da física e da química modernas. Por meios semelhantes, organiza percepções em um sistema, e pode ser caracterizada como o primeiro Cosmos construído puramente com base no pensamento mecanicista. A escrituração por partidas dobradas captura para nós a essência de um mundo econômico ou capitalista do mesmo modo que, mais tarde, os grandes cientistas usaram para construir o sistema solar e os glóbulos do sangue. Sem muita dificuldade, podemos reconhecer na escrituração por partidas dobradas as ideias de gravitação, da circulação do sangue e da conservação da matéria. E até mesmo num plano puramente estético não podemos olhar para a escrituração por partidas dobradas sem espanto e admiração diante de uma das mais artísticas representações da fantástica riqueza espiritual do homem europeu.”

Kenneth S. Most The History of Accounting

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Schreiber ou Grammateus

Schreiber, Heinrich (c. 1496–1525)

O segundo texto publicado sobre a escrituração por partidas dobradas foi escrito por um matemático e professor de aritmética alemão, Heinrich Schreiber, também conhecido como Henricus Grammateus. A obra de Schreiber, Ayn neu Kunstlich Buech (Nuremberg, 1518), incluía capítulos sobre álgebra, aritmética comercial, música e contabilidade. O texto de Schreiber foi revisado e reimpresso diversas vezes após sua morte; foi plagiado duas vezes durante o século XVI.


Schreiber não imitou a Summa de Arithmetica (1494), de Luca Pacioli; parece ter derivado seu sistema de partidas dobradas da prática comercial alemã. Ele utilizava três livros contábeis: um diário, um razão de mercadorias e um razão de dívidas. As compras eram lançadas no lado esquerdo das contas de inventário no razão de mercadorias, e as vendas no lado direito. No razão de dívidas, que continha contas a receber, a pagar e de caixa, as dívidas eram registradas no lado direito, e os pagamentos a credores no lado esquerdo. As contas a receber eram lançadas no lado direito, e os recebimentos no lado esquerdo. Assim, não havia uma posição fixa para os lançamentos de débito e crédito. Também não eram apurados separadamente os saldos a receber de devedores nem os saldos a pagar a credores no razão de dívidas.

Schreiber apresentou 10 regras para o registro de compras e vendas e descreveu o tratamento das despesas. O lucro ou prejuízo de cada tipo de estoque podia ser apurado subtraindo-se as compras das vendas. Ele reunia esses lucros e prejuízos individuais ao final de seu diário. Concluía com um teste rudimentar de exatidão contábil: “Some os recebimentos, o que lhe é devido e, então, as mercadorias restantes; e da soma total subtraia os pagamentos, o que você ainda deve, e se o saldo restante for igual ao lucro, então está correto.” Esse cálculo, que equipara o lucro ao ativo líquido, funcionava apenas porque as contas ilustrativas de Schreiber não continham saldos iniciais de ativos ou passivos.

Michael Chatfield para The History of Accounting

Ele também é conhecido como Henricus Grammateus