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02 julho 2023

Doação para o Museu Nacional


O Museu Nacional da Dinamarca doou a sua mais excepcional Capa de Penas brasileira do século XVII para o novo Museu Nacional, a fim de ajudar na reconstrução do patrimônio do museu, após a destruição de toda a sua coleção etnográfica de 20 milhões de artefatos insubstituíveis em um incêndio em 2018. Curiosamente, as icônicas capas de penas de ibis escarlate não estavam entre elas, pois todos os poucos exemplares sobreviventes conhecidos estavam em museus europeus.

Feita com penas de ibis escarlate e arara em uma rede de algodão tecida, a capa remonta ao início dos anos 1600 e foi criada pelo povo Tupinambá do Brasil. Os Tupinambá foram os primeiros povos indígenas que os portugueses encontraram quando chegaram ao Brasil em 1500. Os cronistas europeus registram que os Tupinambá eram adeptos das penas e as utilizavam em joias, faixas, bandanas, mantos e até mesmo como agulhas de tatuagem, todas feitas com penas de aves locais. As capas escarlates de ibis, utilizadas em rituais e cerimônias importantes, eram reverenciadas por sua beleza e significado religioso. (...)

Sabe-se que apenas 11 capas de penas Tupinambá sobreviveram, sendo que várias delas também pertencem ao Museu Nacional da Dinamarca. A capa recém-doada é a melhor preservada de todas elas.

Fonte: aqui

Fiquei pensando em como a capa seria contabilizada pelo Museu Nacional. É uma doação, mas cujo valor monetário é muito difícil de ser estimado. 

21 setembro 2022

Patagonia: empresa ativista ou ...

A empresa Patagonia foi fundada em 1973 por Yvon Chouinard. A empresa tem uma receita anual de US$1,5 bilhão e possui um valor estimado de US$ 3 bilhões. A Patagonia vende roupas relacionadas com esportes, além de equipamentos esportivos, mochilas, sacos de dormir, entre outros produtos.


A empresa se considera uma “empresa ativista”. Sua política de licença familiar e maternidade é elogiada. Há um compromisso de destinar 1% das vendas para os grupos ambientais desde 1985 e um compromisso de tornar neutro em carbono até 2025. Em 2020 suspendeu sua publicidade no grupo Meta por considerar que a empresa do Facebook não estava tomando medidas necessárias para reduzir o ódio nas mídias sociais.

A notícia recente é que o fundador da empresa anunciou que a empresa seria doada para garantir que os lucros fossem usados para a questão ambiental. Este notícia teve uma boa repercussão. Segundo a Exame, o bilionário excêntrico e ambientalista estaria doando a empresa para “caridade”.

A partir de agora, todo o lucro da companhia (algo como US$ 100 milhões por ano), será destinado à causa ambiental por meio do Holdfast Collective, uma ONG dedicada à preservação do meio ambiente — e para a qual os Chouinard também doaram 98% do capital social da empresa.

"Esperamos que isso influencie uma nova forma de capitalismo que não acabe com algumas pessoas ricas e um monte de pessoas pobres", disse Chouinard em entrevista ao portal americano.“Vamos doar o máximo de dinheiro para as pessoas que estão trabalhando ativamente para salvar este planeta.”

A posição de Chouinard foi comemorada como um exemplo a ser seguido. Os textos com a notícia reforçaram a imagem de um ativista humilde e que luta contra o governo pela causa ambiental. Em outro texto da Exame temos

O incômodo se tornou gritante nos últimos dois anos, quando Chouinard passou a buscar por alternativas para diluir seu patrimônio líquido. Em última instância, ele havia considerado até mesmo vender a empresa. Abrir o capital, porém, nunca foi uma opção.

O executivo não acreditava que a companhia seria capaz de cumprir com as diretrizes ambientais e sociais como uma companhia pública. "Eu não respeito o mercado de ações", disse ao NYT. “Uma vez que você se torna público, você perde o controle sobre a empresa e precisa maximizar os lucros para o acionista, e então se torna uma dessas empresas irresponsáveis.”


Há duas questões importantes aqui que a imprensa parece não ter explorado adequadamente. A primeira é a postura ambiental da Patagonia. E a segunda refere-se ao pagamento de impostos com a operação de doação. Vamos começar pela primeira.

Em um texto para New Republic, Rachel Donald mostra que esta história de empresa ativista deve ser vista com cautela. Na própria Wikipedia há uma breve nota que a empresa sofreu uma queixa crime por uso de trabalho forçado em Uigur. Mas a denúncia de Rachel Donald vai além. Donald informa que uma rede de organizações da indústria de moda estava usando dados falsos para promover materiais baseados em combustíveis fósseis (leia-se petróleo) como sendo sustentável. A Sustainable Apparel Coalition criou o Higg Materials Sustainability Index (MSI de Higg). Este índice considera o poliéster como sendo a fibra mais “sustentável de todas as fibras”. Mas o poliéster é originário do petróleo. Coincidentemente, também é a fibra mais barata de todas. A Patagonia teve um papel de liderança neste processo.

O que a imprensa fez é elogiar o bilionário como um ativista, embora sua empresa defenda o poliéster. É parecido com os elogios à Bill Gates, muito embora use jatinhos nas suas viagens.

A mensagem que esse tipo de relatório envia é que os bilionários poderiam nos salvar de nós mesmos se apenas mais deles [mais bilionários] tivessem o espírito da Patagônia. No entanto, dados brutos sobre as emissões de bilionários, fica claro que muito mais pessoas precisam ser salvas dos bilionários que são salvos por eles.

Foto acima: Malik Skydsgaard

A segunda questão é a tributária. No ZeroHedge destaca esta questão, apesar da escassez das informações sobre como o processo irá ocorrer. A escolha de Chouinard significa que o bilionário irá deixar de pagar US$700 milhões em impostos. Aparentemente, a doação permitira que Chouinard e sua família mantenham o controle da empresa. Usando uma legislação tributária dos Estados Unidos,

"Chouinard não terá que pagar os impostos federais sobre ganhos de capital que ele teria devido se tivesse vendido a empresa", diz o relatório. Isso teria sido cerca de US $ 700 milhões em uma venda de US $ 3 bilhões. Além disso, ele também evita o imposto sobre imóveis e presentes nos EUA, o que teria sido um pedaço de 40% de mudança quando sua empresa foi transferida para seus herdeiros.

Será que existe almoço de graça? E doação de graça?

24 fevereiro 2022

Psicologia da Doação

As entidades do terceiro setor aprenderam, ao longo do tempo, a usar de pequenos truques para extrair dinheiro dos potenciais doadores. Isto funciona para doações em um templo, no sinal de trânsito e, também, na internet. Em lugar de números, belas fotografias de pessoas com animais, de for uma entidade de defesa da vida animal, ou com crianças, se o público for esta faixa etária. Para uma entidade de defesa do ambiente, imagens de árvore são mais atraentes do que o desempenho frio dos números.

Uma estratégia interessante é solicitar uma doação em dinheiro. Algumas apelam para valores como $19 por mês. Mas qual a razão de pedir $19 e não $20? Uma resposta interessante é que ao pedir $19, as pessoas terão mais dificuldades de calcular o valor ao final de um ano. Se o pedido for de $20, parece mais simples multiplicar por 12 para ter a despesa anual.

Outro fato de pode ajudar na definição do valor é que o montante deve ser grande o suficiente para cobrir os custos de arrecadação e permitir que o doador imagine que fará diferença com aquele valor, sem pesar demais no bolso.

Adicionalmente é comum a solicitação em outra moeda - em dólar, por exemplo. Dez dólares não parece muito e pode ser que isto aumente a possibilidade de doação. Parece melhor que pedir R$50 (câmbio na data da postagem era um pouco acima de R$5 = US$1). Ou pedir o correspondente a 12 cafezinhos.

Veja mais aqui

04 agosto 2021

Doação


Um dos aspectos mais complicados em uma entidade do terceiro setor é a contabilidade das doações. Eis uma situação prática apresentada pelo IntheBlack da Austrália

Uma grande quantidade de receita vem de doações concedidas por governos, fundos fiduciários e fundações, filantropos privados e, em muitos casos, membros do público em geral fazendo pequenas doações.

É aqui que as coisas podem ficar bastante complicadas do ponto de vista contábil, especialmente quando se trata de determinar o momento em que certas formas de receita precisam ser reconhecidas.

Fazer isso efetivamente requer um entendimento detalhado de dois padrões contábeis da Conselho Australiano de Normas Contábeis (AASB) - AASB 15 Receita de contratos com clientes e AASB 1058 Renda de entidades sem fins lucrativos.

Também é importante entender a distinção entre revenue e income.

Embora "revenue" seja geralmente definida como receita decorrente no curso das atividades comuns de uma entidade, "income" inclui não apenas receita, mas também outros aumentos nos benefícios econômicos recebidos (incluindo doações) que não sejam contribuições dos proprietários.

(...)

 “Algumas doações podem envolver o recebimento de uma quantia em dinheiro sem condições específicas de como ela é usada. Outros envolvem dinheiro fornecido sob um contrato formal que especifica como e quando o dinheiro é gasto. A questão gira em torno do momento do reconhecimento da receita da subvenção.

“Às vezes, quando um ESL (entidade sem fins lucrativos) recebe uma grande quantia em dinheiro da subvenção, as regras contábeis podem exigir o reconhecimento de todo o dinheiro recebido como receita no ano do recebimento.

“Isso pode causar desafios para a ESL, pois os leitores de suas demonstrações financeiras podem assumir que a entidade teve um ano muito bom quando, de fato, o dinheiro reconhecido como receita naquele ano deve ser alocado para uso em anos futuros." (...) 

"As organizações sem fins lucrativos querem um resultado equilibrado ou sustentável que não possua oscilações. Eles não querem mostrar um grande lucro com o reconhecimento antecipado de receita em um ano e depois despesas no próximo exercício financeiro. David Hardidge FCPA, Escritório de Auditoria de Queensland

"Eles não têm necessariamente a equipe que pode passar um tempo lendo os padrões de 100 páginas.

(...)

28 fevereiro 2021

Mulheres ricas e generosas

 Eis a lista das mulheres mais ricas do mundo:


Meyers é dona de um terço da L´Oreal. Quando ocorreu o incêndio em Notre Dame, Francoise Meyers prometeu uma doação de 200 milhões de euros para reconstrução. MacKenzie Scott foi co-fundadora da Amazon e durante muito tempo trabalhou na contabilidade da empresa. Com o divórcio recente, MacKenzie recebeu 4% das ações da empresa. Em 2020, MacKenzie fez uma doação de quase 5 bilhões de dólares para causas relacionadas ao clima e a igualdade racial. 

A tabela a seguir mostra a percentagem de mulheres e homens generosos, de uma amostra de bilionários.


As mulheres que herdaram sua fortuna são mais propensas a fazerem doações (68%), mas aquelas que construíram sua fortuna geralmente fazem poucas doações (12%). Com os homens ocorre o inverso: são mais filantropos aqueles que construíram sua própria fortuna (67%), não os que herdaram (5%).


29 setembro 2020

Doação e sua contabilização: novas regras do Fasb


O Fasb, entidade que emite normas contábeis nos Estados Unidos, está atualizando a forma de evidenciar uma doação não financeira:

A atualização exige que uma organização sem fins lucrativos mostre os ativos não financeiros doados como um item de linha separado na demonstração de atividades, à parte das contribuições em dinheiro ou outros ativos financeiros.

As organizações sem fins lucrativos também precisarão divulgar os ativos não financeiros doados reconhecidos na demonstração de atividades desagregada por categoria que descreve o tipo de ativos não financeiros doados.

Para cada categoria reconhecida dos ativos não financeiros doados, as organizações sem fins lucrativos também precisam divulgar informações qualitativas sobre se os ativos não financeiros contribuídos foram monetizados ou usados ​​durante o período de relatório. Se tiver sido usado, eles precisam fornecer uma descrição dos programas ou outras atividades em que esses ativos foram usados. As organizações sem fins lucrativos também precisam fornecer sua política (se houver) sobre monetização, em oposição à utilização de ativos não financeiros contribuídos. Eles também precisam incluir uma descrição de quaisquer restrições impostas pelo doador associadas aos ativos não financeiros contribuídos.

16 setembro 2020

Caridade com o bolso alheio


Recentemente comentamos um ranking das empresas que mais fizeram caridade:

Realmente não sei se faz sentido uma instituição ficar fazendo doação. O executivo aparece como "mocinho", mas o dinheiro é do acionista. Parece hipocrisia. Mas quando imagina que uma doação pode gerar uma imagem favorável da empresa perante seus clientes, talvez a decisão não seja tão inadequada assim. Talvez.

Nos 50 anos do famoso artigo de Milton Friedman (postamos há dois dias), eis um argumento neste sentido de Oliver Hart:

Um exemplo que acho que Friedman estava certo foram as contribuições de caridade. Este é um exemplo famoso. Não acho que as empresas tenham uma vantagem comparativa em doar para instituições de caridade. Seria muito melhor para eles pegar o dinheiro que dariam para a caridade, entregá-lo aos acionistas e deixar que cada um deles decida quanto dar à sua instituição de caridade favorita

Mas quando se trata de coisas como a pegada de carbono, as empresas estão, na verdade, em uma posição muito melhor para ajudar nas mudanças climáticas do que os indivíduos. E se você perguntar aos acionistas individuais: Você estaria disposto a abrir mão de algum lucro, algum dinheiro, algum valor de longo prazo para os acionistas e, em troca, sua empresa se tornará mais verde? Muitos acionistas, os mesmos que instalam painéis solares ou compram carros elétricos, podem muito bem dizer "sim". E, nesse caso, se a maioria pensa assim, acho que a empresa deveria fazer a coisa verde.

Imagem: aqui

04 setembro 2020

Empresas que mais doaram: caridade com bolso dos outros ou investimento em imagem?

Mais um ranking. Agora, das empresas com maior volume de doação. Realmente não sei se faz sentido uma instituição ficar fazendo doação. O executivo aparece como "mocinho", mas o dinheiro é do acionista. Parece hipocrisia. Mas quando imagina que uma doação pode gerar uma imagem favorável da empresa perante seus clientes, talvez a decisão não seja tão inadequada assim. Talvez.


Veja o caso do Senai, que está na lista abaixo. O dinheiro produtivo vai para esta entidade para fazer algo e a entidade resolve "doar" parte deste dinheiro. Fazem parte da lista Vale, JBS e outras empresas. É uma lista bastante polêmica, então. 

O ineditismo das consequências da pandemia do novo coronavírus no Brasil não vai entrar para os livros de história apenas pelo viés dramático do número de vítimas fatais e da recessão econômica acachapante. A Covid-19 despertou o brasileiro para uma corrente de solidariedade que também nunca se tinha visto por aqui. Em dois meses e meio – de 31 de março a 19 de junho, foram doados mais de R$ 5,6 bilhões em resposta à terra arrasada causada pelo vírus, montante que é o resultado da atitude de 395.042 doadores. Entre eles, desde pessoas físicas repassando R$ 30 até grandes bancos, como o Itaú Unibanco, que fez a maior doação até agora, de R$ 1 bilhão (sem mencionar aportes subsequentes de menor valor das empresas ligadas ao grupo). 

Os dados foram compilados pelo site “Monitor das Doações”, criado pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), que faz parte de uma rede mais ampla chamada Movimento por uma Cultura de Doação, e foram verificados pela Forbes junto às empresas. Doações em produtos, matéria-prima, logística e outros itens não monetários foram convertidos em reais. 

O segmento que mais doou foi o sistema financeiro, com 33% do total. Alimentação e bebidas estão em segundo, com 14%, e, logo atrás, mineração, com 10%. “Foi o maior movimento de generosidade já visto no Brasil. Incrível termos pessoas, empresas e instituições de todo o país mobilizadas pela doação, por incentivar ainda mais doações, por fazer o bem”, diz João Paulo Vergueiro, diretor executivo da associação.

 “Quando o Monitor das Doações Covid-19 foi ao ar, ele estava em R$ 450 milhões. Hoje esse número é dez vezes maior. Surpreendeu-nos como ele cresceu rápido, e como engajou a sociedade civil para fazer a diferença na vida das pessoas. Em dois meses, as empresas doaram muito mais do que costumam doar em um ano inteiro.” 

 João Paulo credita esse resultado ao fato de o vírus ter atingido todas as camadas sociais do país. “A causa é de todos. Quando temos um motivo que mexe com todos nós, que nos impacta, somos inspirados a doar e sermos ainda mais generosos. O desafio é fazer essa generosidade ser permanente.” 

1 Itaú Unibanco Área de atuação: Serviços financeiros Valor da doação: R$ 1 bilhão 
 2 Vale Área de atuação: Mineração Valor da doação: R$ 500 milhões 
 3 JBS Área de atuação: Indústria alimentícia Valor da doação: R$ 400 milhões 
 4 Ambev Área de atuação: Bebidas Valor da doação: R$ 110 milhões 
 5 Rede D’Or Área de atuação: Hospitais Valor da doação: R$ 110 milhões 
 6 Bradesco Área de atuação: Serviços financeiros Valor da doação: R$ 99 milhões* 
 7 Santander Área de atuação: Serviços financeiros Valor da doação: R$ 85 milhões 
 8 Caoa Chery Área de atuação: Indústria automobilística Valor da doação: R$ 74 milhões 
 9 Senai Área de atuação: Formação profissional Valor da doação: R$ 63 milhões 
 10 Nestlé Área de atuação: Indústria alimentícia Valor da doação: R$ 55 milhões 

12 maio 2020

Doação de uma empresa

Renato Chaves escreve no blog de Governança:


Uma pesquisa nos documentos depositados na CVM mostra que poucas empresas listadas oficializam uma Política de Doações.

O assunto normalmente é tratado de forma genérica nos códigos de ética e conduta, mais preocupados com o “não receber” do que estabelecer regras de “como doar”, além dos óbvios alertas de relacionamentos com fornecedores e entes públicos.

São figurinhas carimbadas nesses documentos as regras de recebimento de brindes, como se isso fosse o grande problema do mundo corporativo. Aliás, escrevi sobre esse tema com um “exemplo SEC” em 22/11/19 (https://www.blogdagovernanca.com/2019/11/perguntar-nao-ofende.html).

Mas parece que existe luz no fim do túnel, como podemos ver no Informe de Governança da Klabin:

“As regras sobre doações voluntárias da Companhia estão contidas no Manual Anticorrupção da Companhia, aprovado pelo Conselho de Administração e destinado a administração, colaboradores, fornecedores, clientes e às coligadas e subsidiárias da Companhia, tanto no Brasil quanto no exterior, e estabelece que a realização de doações pela Companhia deve observar as seguintes regras: (i) doações em espécie devem ser evitadas: (ii) doações a órgãos públicos, tais como hospitais, corpo de bombeiros, polícia militar e escolas, somente deverão ser autorizadas após análise e aprovação da Diretoria, e devem seguir as normas internas da Klabin; (iii) não devem ser autorizadas quaisquer doações que não tenham como finalidade atender aos interesses das comunidades onde a Companhia atua e, em hipótese alguma, ser realizadas diretamente a qualquer pessoa física; (iv) as doações a partidos políticos devem seguir as determinações da legislação em vigor e as diretrizes da Klabin; e (v) sempre que houver dúvidas, a Ouvidoria deve ser acionada para auxiliar nas decisões.
Além disso, a Companhia possui uma tabela de alçadas de doações aprovada pelo Conselho de Administração e está em elaboração uma política específica de doações e patrocínios, que está em fase final de aprovação. Vide link para acesso ao Manual Anticorrupção http://ri.klabin.com.br/fck_temp/1004_3/file/manual-anticorrupcao.pdf.”

Recentemente o Itaú fez uma doação que parecia mais uma despesa de publicidade. Agora, a JBS anunciou uma doação de 700 milhões de reais, destinados para saúde pública, assistência social, ciência e tecnologia. 

07 maio 2020

Custo ou destinação do lucro?


A figura acima é a divulgação da marca Osklen, justificando cobrar 147 reais por duas máscaras. As críticas foram pesadas, já que o preço pareceu abusivo. A empresa Alpargatas, dona da marca, usou os dados para responder: afinal o lucro seria somente de R$11 por produto vendido. Mas a doação de cesta básica faz parte da estrutura de custo? Ou contabilmente, não seria mais uma destinação do lucro? Para o consumidor, mesmo sabendo da "boa" intenção da empresa, justifica pagar 70 reais a mais? Não seria melhor deixar que o consumidor decidisse, ele mesmo, fazer a doação?

24 abril 2020

Devolva o dinheiro - parte 2

A Universidade de Harvard estaria recebendo um auxílio do governo dos Estados Unidos e isto provocou a ira de Donald Trump. Inicialmente a universidade tinha dito que não devolveria os recursos.

Agora, a entidade anunciou que não irá aceitar os 8,6 milhões de dólares. É muito pouco, para uma instituição que possui um orçamento de 41 bilhões de dólares. Mesmo que os recursos sejam destinados a assistência financeira dos alunos carentes.

O apoio é uma ajuda do governo dos Estados Unidos para as instituições que recebem alunos carentes, dentro de um pacote de 2 trilhões de ajuda aprovado em março pelo congresso dos EUA. Ao recusar, Harvard disse que enfrenta sérios desafios financeiros, mas que o foco político da ajuda era um problema. O senador Ted Cruz, ex-aluno de Harvard, também condenou o apoio. Logo após a crítica de Trump, Stanford e Princeton afirmaram que não aceitariam o financiamento público; isto significa 7 e 5 milhões de dólares, na ordem.

15 abril 2020

Faz sentido uma empresa fazer uma doação neste momento?

O Itaú Unibanco anunciou a criação de uma iniciativa chamada Todos pelas Saúde, com uma "doação" de 1 bilhão. Segundo a instituição, o recurso "tem o objetivo de combater o novo coronavírus e seus efeitos sobre a sociedade brasileira". Nestes últimos dias, a Alpargatas anunciou a doação de sandálias para a população. Um pouco antes da páscoa, a Nestlé fez uma doação de 20% da produção de ovos de chocolates para pessoas carentes.

Isto faz sentido? Sob a ótica financeira, talvez. Observe que a administração de cada uma das entidades tomou uma decisão, sem uma consulta ao acionista. Se o trabalho da gestão é agregar valor, cabe a pergunta se este tipo de ação atinge este objetivo.

O caso da Nestlé foi anunciado bem perto da páscoa. Como neste momento o consumo de supérfluos deve ser reduzido, provavelmente parte do estoque não seria vendido. Veja o que diz o Valor (Alexandre Melo, Nestlé doa 20% dos ovos de chocolate, 13 de abril de 2020, B6)

Questionado se a doação tem relação com a venda sazonal fraca, Milo [vice-presidente da Nestlé Brasil] respondeu que as conversas com a varejista [Lojas Americanas] começaram há duas semanas [quando já se sabia da demanda].

Como os ovos são negociados com o varejo em consignação, e as vendas se mostravam fracas, na semana passada a Mondelez retirou produtos estocados na Lojas Americanas para revender a pequenos e médios varejistas. 

Sobre o caso do Itaú é importante fazer uma grande ressalva. No meu entendimento, considero que a entidade não fez uma doação. Eis o que foi dito no anúncio da entidade:

Caberá a uma equipe de sete reconhecidos especialistas a definição das ações a serem financiadas por esses recursos.



Na realidade, o Itaú reservou um valor de 1 bilhão para serem gastos em ações. Contabilmente, nenhuma entidade recebeu estes recursos, embora possa acontecer. Veja as ações que serão/poderão ser financiadas:

  • Informar: orientação da população como campanha de incentivo ao uso de máscaras;
  • Proteger: testagem populacional e para profissionais de saúde;
  • Cuidar: apoio aos gestores públicos estaduais e de grandes municípios na estruturação de gabinetes de crise; capacitação e apoio aos profissionais de saúde; uso de telemedicina; ampliação da capacidade e eficiência em estruturas hospitalares referenciadas; compra e distribuição de insumos estratégicos, além da mobilização de equipamentos e recursos humanos.
  • Retomar: colaboração para o desenvolvimento de estratégias, visando a: retorno mais seguro às atividades sociais; e programas de monitoramento da população com risco elevado.
Veja que o primeiro item pode se confundir com uma campanha institucional. Considero muito mais uma despesa operacional do que uma doação. O segundo tem uma característica maior de doação. Mas o terceiro e quarto item são amplos demais para uma análise contábil mais precisa.

Talvez a ação do Itau seja muito mais defensiva. No momento atual, uma "doação" (perdão, mas continuo achando que não é uma doação) pode inibir uma atitude política de questionar os lucros dos bancos, por exemplo. Ou aumento na alíquota do imposto.

06 janeiro 2020

Evidenciação

Parece que falta uma melhor evidenciação no terceiro setor em todo lugar do mundo. E no caso das igrejas, o problema também é grande. Nos Estados Unidos, há uma denúncia sobre a forma como os mórmons, como são conhecidos a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, estão usando os recursos obtidos pelas doações de seus fiéis. O díziimo de 10% arrecadado estaria sendo desviado para outras finalidades. Como muitas vezes tenta-se evitar uma discussão pública, isto termina por aumentar a especulação sobre as finanças da Igreja.

São 16 milhões de fiéis que deve gerar algo em torno de 7 bilhões de dólares de doação.

17 dezembro 2019

Balanço e Terceiro Setor

As entidades do terceiro setor devem apresentar suas demonstrações contábeis para os membros da sociedade. O principal usuário é o doador, que irá usar as demonstrações contábeis para avaliar a saúde da entidade e sua continuidade. Os doadores não querem colocar dinheiro em entidades com problemas financeiros. Uma forma de tomar esta decisão é olhar para o balanço e tentar ver a posição do net asset. Valores positivos seriam considerados como entidade solvente; o que gera doações.

Uma pesquisa mostrou existir uma relação entre a posição patrimonial destas entidades e as doações, nos Estados Unidos:

Using Form 990 data reported by public charities, we document significant bunching of nonprofits at near-zero net assets, the threshold for insolvency. Bunching occurs despite the fact that creditors cannot force insolvent nonprofits into involuntary bankruptcy. We show that the extent of bunching is greater among organizations that rely more heavily on contribution revenue, and that by inflating their net assets, bunching organizations are able to increase their contribution revenue relative to firms that report negative net assets. Charitable donors appear to use the net assets threshold as heuristic for a charity's financial health; nonprofit managers, in turn, respond to the preferences of their donors.

19 setembro 2019

Doações falsas

O bilionário Jeffrey Epstein estava preso, quando cometeu suicídio na sua cela. Mas suas maldades ainda estão sendo reveladas. O Wall Street Journal (via aqui) mostrou que sua fundação, chamada Gratitude America, fundada em 2012, foi utilizada provavelmente para gerar benefícios fiscais com doações suspeitas. Mais de 1,8 milhão em doações, feitas entre 2016 e 2017, não chegaram ao destino final.

As transações financeiras tiveram a participação ... do Deutsche Bank (aqui ou aqui). Epstein era um cliente especial da instituição. Uma das doações, para uma entidade do terceiro setor das Ilhas Virgens, onde Epstein tinha duas ilhas, tinha por objetivo resolver uma multa do governo. O cheque, de 160 mil dólares, não foi recebido pela entidade. Outro pagamento, de 15 mil dólares, para a entidade de Elton John, também não chegou ao destino. (cartoon aqui)

22 setembro 2016

Doação e Resultado contábil

Nem sempre a doação é algo razoável para uma empresa. A editora Cosac Naify está encerrando suas atividades. Parte do estoque está sendo vendido com desconto na Amazon. A empresa decidiu aproveitar o estoque como aparas. Eis o que diz a editora:

Na reportagem, Oliveira [Diretor Financeiro da editora] argumentou: “Tem um problema que muitas pessoas desconhecem. Doações geram um transtorno contábil na empresa. Se faço uma doação de um livro, tenho que reconhecer o custo disso. Se eu faço a doação de um volume considerável de livros, eu gero um resultado financeiro negativo absurdo, fora da curva”. A falta de pessoal para cuidar dessas doações também foi citada pelo diretor financeiro, que disse ainda que não pode doar os volumes para os autores, mas que eles terão prioridade na compra, e que a Amazon não ficou com todo o estoque da casa, só com alguns dos títulos.

09 agosto 2015

Resolvendo a escassez num mercado sem preço: o caso da doação de sangue



Shortage is common in many markets, such as those for human organs or blood, but the problem is often difficult to solve through price adjustment, given safety and ethical concerns. In this paper, we investigate whether market designers can use non-price methods to address shortage. Specifically, we study two methods that are used to alleviate shortage in the market for human blood. The first method is informing existing donors of a current shortage via a mobile message and encouraging them to donate voluntarily. The second method is asking the patient’s family or friends to donate in a family replacement (FR) program at the time of shortage. We are interested in both the short-run and long-run effects of these methods on blood supply. Using 447,357 individual donation records across 8 years from a large Chinese blood bank, we show that both methods are effective in addressing blood shortage in the short run but have different implications for total blood supply in the long run. Specifically, we find that a shortage message leads to significantly more donations among existing donors within the first six months but has no effect afterwards. In comparison, a family replacement program has a small positive effect in encouraging existing donors (who donated before the FR) to donate more blood voluntarily after their FR donation, but discourages no-history donors (whose first donation is the FR) from donating in the long run. We compare the effect and efficiency of these methods and discuss their applications under different scenarios to alleviate shortage.



Fonte: Solving Shortage in a Priceless Market: Insights from Blood DonationTianshu Sun, Susan Feng Lu, and Ginger Zhe JinNBER Working Paper No. 21312July 2015

25 setembro 2014

Curso de Contabilidade Básica: Empresa e Política

Seriamos inocentes se acreditássemos que uma empresa, através de seus gestores, não tenta exercer influencia política. A defesa dos interesses ocorre de diversas formas em parte pela grande dependência que a economia brasileira tem do Estado. Em suma, as conexões políticas são importantes para o próprio desempenho das empresas.

Por este motivo, não é surpreendente saber que algumas empresas fazem doações milionárias para certos candidatos. Entre estas empresas, a JBS foi aquela que mais fez doações nas eleições de 2014 (pelo menos por enquanto). Nós iremos mostrar quais as razões que levaram a JBS a fazer estas doações.

Inicialmente é importante destacar que a JBS é uma empresa que atua no abate e processamento de carnes e produtos derivados. Ou seja, não é uma empresa que possua no governo seu principal cliente. Mas, o mercado de carnes é regulado pela Anvisa, que fiscaliza as condições deste abate e processamento. Além disto, o Ministério do Trabalho também pode ter um poder sobre a empresa, quando interfere nas condições de trabalho nas fazendas e abatedouros.

Um segundo aspecto relevante é que a JBS é uma empresa com uma receita de R$30 bilhões por trimestre. O fato de ser uma das maiores empresas faz com que qualquer valor doado seja relevante em termos absolutos, mas talvez não seja expressivo em termos relativos. Conforme publicado pelo jornal Valor Econômico em 23 de setembro de 2014, a empresa tinha desembolsado R$113 milhões para as eleições. Isto representava 35% do total de doações realizadas por grandes grupos econômicos. O jornal afirma que isto corresponde a 51% dos dividendos distribuídos, mas esta comparação não é muito justa com a empresa, já que o valor dos dividendos pagos depende do lucro e a política de retenção (ou não) deste lucro. De qualquer forma, os valores pagos nas eleições representam 0,4% da receita. Mas, por outro lado, R$113 milhões é 28% do imposto de renda do segundo trimestre do ano.

O ponto crucial é tentar entender a razão pelo volume de doação realizado pela Friboi. Afirmamos que não é a receita, já que o governo não é o seu principal cliente. Entretanto, uma grande parcela da receita é originária da exportação. Neste caso, o governo pode ser “bonzinho” para a empresa com uma política de incentivo à exportação.

Mas observando o balanço patrimonial da empresa, do final do segundo trimestre de 2014, encontramos um ponto interessante:

De um ativo de 71 bilhões de reais, a parcela de empréstimos e financiamentos corresponde a quase 50%. Parte deste ativo é proveniente dos bancos estatais.

Mais uma informação. O Tribunal de Contas da União solicitou ao BNDES, um banco do governo que financia empresas, a informar sobre os investimentos realizados no frigorífico. Na página da empresa encontra-se a seguinte informação:

Assim, 35% do capital são provenientes do governo. Será necessária mais explicação para o excessivo volume de doações. (Por sinal, proporcionalmente, das doações R$113 milhões, R$40 milhões são provenientes do próprio governo. Não seria o caso de proibir doações de empresas com participação expressiva do governo no capital?)