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21 junho 2025

Grandes civilizações e a contabilidade: os arábes

 


O sistema de numeração arábico se originou na Índia. O sistema moderno de números arábicos, incluindo o zero, começou a ser utilizado no mundo muçulmano a partir do século IX. Eles aparecem em manuscritos europeus datados de 976 e 1143. No Liber Abaci (1202), Leonardo de Pisa demonstrou a superioridade dos números arábicos ao apresentar registros nos quais os numerais romanos apareciam no texto, contrastando com os números arábicos organizados em colunas à direita.

Em apenas uma geração, os números arábicos passaram a ser amplamente utilizados pelos comerciantes italianos. A contabilidade por partidas dobradas surgiu não mais tarde do que no século XIII, mas os numerais romanos continuaram sendo utilizados nos registros contábeis quase sempre até o século XVI. Portanto, a ampla adoção dos números arábicos não foi uma condição prévia para o desenvolvimento da contabilidade por partidas dobradas.

No entanto, as características aditivas dos números arábicos proporcionaram uma vantagem para o formato bilateral das contas, no qual recebimentos e pagamentos eram colocados em duas colunas lado a lado. G.E.M. de Ste. Croix argumenta que essa separação em colunas pode ter dado origem à noção de débito e crédito, facilitando, assim, o surgimento da contabilidade por partidas dobradas.

Michael Chatfield no verbete de The History of Accounting 

Veja também a discussão sobre a importância dos números na série sobre Roma. Figura daqui 

Grandes Civilizações e a Contabilidade: Peru

Peru 


O cordão com nós pode ser o dispositivo contábil mais antigo do mundo. Lyle Jacobsen descreveu seu uso na pré-história do Havaí, nas Ilhas Marquesas e na China antiga, onde o uso de cordões com nós para registros aparentemente antecedeu o surgimento da linguagem escrita, por volta de 3300 a.C.

O uso mais bem documentado da numeração por cordões com nós ocorreu no Peru. O quipu foi utilizado pelos incas, a partir de aproximadamente 1200 d.C., como um dispositivo de contagem e registro. Consistia em um cordão de algodão ou lã, com comprimento que variava de alguns centímetros a mais de um metro, ao qual eram presos um ou mais cordões secundários com nós. As cores desses cordões muitas vezes indicavam os tipos de itens registrados, enquanto o tamanho de cada nó e sua distância em relação ao cordão principal representavam números específicos, baseados em um sistema decimal. Um único nó na extremidade inferior do cordão representava um; dois nós na mesma posição indicavam dois; um nó mais próximo do cordão principal representava dez; um nó ainda mais próximo indicava cem, e assim sucessivamente. Foram encontrados quipus com nós que registravam centenas de milhares de itens.

Os homens especializados na confecção e leitura dos quipus eram chamados de quipucamayocs. Eles acumulavam as funções de escribas, contadores, estatísticos e historiadores. Assim como os recenseadores modernos, eles contavam os habitantes de cada aldeia, registravam nascimentos e mortes e especificavam o número de homens disponíveis para o serviço militar. Também ajudavam na alocação de recursos dentro do império, registrando impostos devidos, receitas do governo, inventários dos armazéns e até as quantidades de matérias-primas distribuídas aos tecelões e os volumes de tecidos produzidos. Todas essas informações eram registradas nos quipus e enviadas, por mensageiros, à capital, Cuzco.

O Império Inca era um paradoxo: uma economia altamente centralizada e planejada que funcionava sem linguagem escrita ou moeda cunhada. O quipu e os quipucamayocs eram elementos centrais de sua administração.

Michael Chatfield para The History of Accounting

Já postamos sobre o assunto aqui e aqui. Um verbete bem extenso sobre os quipus pode ser encontrado aqui

Grandes civilizações e a Contabilidade: Roma

Roma (509 a.C. – 476 d.C.)

A cidade de Roma foi o centro da República Romana (509–27 a.C.) e do Império Romano (27 a.C.–476 d.C.). Após derrotar e destruir Cartago em 146 a.C., a República Romana passou a controlar o Mediterrâneo, abrangendo desde o Norte da África, Síria, Macedônia, Grécia até o Egito. Figuras notáveis desse período foram Mário, Sula, Pompeu, Cícero e Júlio César. O primeiro imperador foi César Augusto, em 27 a.C.; outros imperadores de destaque nos primeiros 200 anos foram Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio. Ao final do segundo século, o Império Romano se estendia pelas regiões do Reno, Danúbio, Ásia Menor, Síria, Palestina, Egito, África, Espanha, França e Grã-Bretanha. Havia 43 províncias a serem administradas, todas conectadas por um complexo sistema de estradas. Aquedutos forneciam água — muitos dos quais ainda existem hoje. O cristianismo tornou-se a religião oficial do império em 313, sob Constantino I. Em 395, o império foi dividido em duas partes: o Império Romano do Oriente, governado em Constantinopla, e o Império Romano do Ocidente, governado em Roma. Em 410, Roma foi saqueada, e em 476 o chefe germânico Odoacro depôs o último imperador do Império Romano do Ocidente. O Império Romano do Oriente continuou até 1453, quando Constantinopla caiu. Roma possuía uma língua altamente desenvolvida e versátil, o latim, e seus habitantes escreviam com escrita cursiva em papiro. Roma também contava com um excelente sistema jurídico e utilizava a moeda da Grécia como sua moeda internacional. A paz romana vigorou por muitos anos.


O comércio altamente desenvolvido de Roma foi descrito por Herbermann (1880). Os banqueiros eram considerados com grande respeito e mantinham correspondentes em várias partes do império. Formavam-se companhias para arrecadação das receitas públicas. O empréstimo de dinheiro a altas taxas de juros era bastante comum. Os banqueiros romanos estavam sob controle do Estado; a lei exigia que mantivessem livros contábeis para servirem como prova legal em tribunal, além de determinar que esses livros estivessem abertos à inspeção dos oficiais da cidade.

Littleton (1933) considerou que havia sete fatores necessários para a prática da escrituração contábil por partidas dobradas: (1) propriedade privada, (2) capital, (3) comércio, (4) crédito, (5) escrita, (6) dinheiro e (7) aritmética. Littleton, renomado historiador e teórico da contabilidade da Universidade de Illinois, acreditava que a complexidade da aritmética — agravada pelo uso dos numerais romanos — e a ausência da noção de capital produtivo tornavam improvável que a escrituração por partidas dobradas existisse em Roma. Os registros das famílias romanas eram pouco mais do que anotações de recebimentos e pagamentos.

Littleton escreveu que o equilíbrio e a dualidade precisariam ser adicionados ao elemento de propriedade comercial antes que a contabilidade por partidas dobradas pudesse ser implementada. Como o comércio era visto como indigno para um patrício romano — trazendo, inclusive, implicações negativas para seus direitos políticos como cidadão —, é provável que apenas escravos instruídos cuidassem dos negócios e dos registros, utilizando um sistema de contas baseado na lógica de “entrada e saída” (charge-discharge).

O desenvolvimento avançado do direito e do sistema bancário romano certamente teve um papel significativo na manutenção dos registros. Littleton acreditava que os bancos romanos, bem desenvolvidos, poderiam ter levado naturalmente a um sistema autossuficiente de lançamentos duplos em contas bilaterais. Contudo, é questionável se esse conhecimento sobreviveu no sistema bancário durante os longos Séculos Escuros (476–1000 d.C.), que antecederam a retomada do comércio nas cidades-estado italianas.

O fascínio pela contabilidade por partidas dobradas e pelos registros antigos também influenciou outros estudiosos da contabilidade, além de Littleton.

Kats (1929, 1930), que tinha a vantagem de ser fluente em diferentes idiomas, trabalhou com os escritos de Fabio Besta (em italiano), Rudolph Beigel (em alemão) e Raymond de Roover (em francês). Em um artigo de 1930, Kats escreveu que não encontrou valores monetários associados aos registros de mercadorias em Roma, mas que valores em dinheiro eram registrados para caixa, contas a receber e contas a pagar. Ele também destacou os seguintes registros de uma família romana abastada: adversaria (livro rascunho ou livro diário provisório); codex accepti et expensi (livro-caixa); codex rationum mortalium (um razão contendo contas pessoais); e codex rationum domesticarum (registros apenas de quantidades).

Em um artigo de 1929, Kats concluiu que a contabilidade por partidas dobradas surgiu devido à relação entre escravo e senhor na economia romana: “A contabilidade por partidas dobradas começou quando, pela primeira vez, os créditos do senhor e as obrigações do devedor foram balanceados entre si nos livros de um escravo romano.”

Peragallo (1938) destacou a continuidade da cultura romana durante toda a Idade Média, argumentando que, como a propriedade privada não desapareceu, o sistema contábil romano permaneceu. Peragallo acreditava que a contabilidade por partidas dobradas poderia ter estado presente de forma embrionária no sistema contábil romano.

Por outro lado, De Ste. Croix (1956) foi bastante enfático ao afirmar que os romanos não utilizavam partidas dobradas. Ele defendia que o sistema econômico romano não havia se desenvolvido a ponto de exigir esse tipo de contabilidade, além de considerar que os numerais romanos eram inadequados para esse fim, uma vez que não eram organizados em colunas. De Ste. Croix argumentava que a contabilidade na Antiguidade existia sobretudo para expor perdas causadas por fraudes ou ineficiências dos servos e outros agentes do proprietário. No entanto, ele relatou a anomalia de uma conta bilateral encontrada em Karanis, datada de 191–192 d.C., na qual lançamentos no formato atual de partidas dobradas parecem ter ocorrido.

De Ste. Croix também apresentou o exemplo do uso, por Columela — autor de um tratado agrícola de 12 livros, De Re Rustica, por volta de 60 d.C. —, de uma estimativa conservadora dos lucros provenientes do cultivo de vinhas. Além disso, escreveu que o famoso orador e advogado romano Cícero mencionou, em um julgamento, os registros domésticos de uma família rica. Marcus Porcius Cato (234–149 a.C.), em seu tratado sobre agricultura De Agri Cultura, recomendava que o proprietário rural revisasse os registros de caixa e os diversos inventários sempre que visitasse sua fazenda, além de conferir frequentemente as contas do escravo administrador, como também observado por De Ste. Croix.

Most (1979) questionou algumas das premissas de De Ste. Croix. Most considerava que o sistema econômico romano era altamente desenvolvido e argumentava que a ausência de colunas para os números não tornava impossível a prática da contabilidade por partidas dobradas. Ele também fez referência a uma obra alemã de B.G. Niebuhr, que estudou fragmentos da oração Pro Fonteio de Cícero, preservados na Biblioteca do Vaticano, e concluiu que esses documentos sugeriam a existência de partidas dobradas.

A controvérsia sobre as partidas dobradas não deve obscurecer o fato de que diferentes formas de documentação contábil, controles e informações foram componentes importantes da civilização romana. Manuais de agricultura, leis, registros de argumentos jurídicos e documentos governamentais evidenciam essa importância.

Richard Vangermeersch para The History of Accounting

O texto discute a existência ou não de partidas dobradas. Há outros elementos interessantes na história de Roma que possuem consequências contábeis, como os aspectos relacionados com as finanças públicas do império. 

20 junho 2025

Rir é o melhor remédio


 Fonte: aqui

Riscos ao adotar a postura ESG e DEI


Um artigo do Australian Financial Review discute como ESG (Ambiental, Social e Governança) e DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), antes vistos como pilares de responsabilidade corporativa, estão se tornando potenciais fontes de risco para os negócios. Nos Estados Unidos, essas práticas passaram a ser alvo de pressões políticas, ações judiciais e resistência cultural, fazendo com que muitas empresas repensem sua abordagem. 

O texto trata das repercussões na Austrália, onde conselhos e executivos começam a perceber que adotar ou expandir iniciativas de ESG e DEI pode gerar não apenas benefícios reputacionais, mas também exposição a riscos legais e críticas públicas. 

Como a pauta também foi adotada pela Fundação IFRS, e também pelo CFC/CPC, creio que pode também existir um risco aqui para as empresas brasileiras.  

Economia do casamento


Da revista The Economist (via aqui

 A mediana do dote pago pelas noivas em casamentos no campo dobrou em termos reais entre 2005 e 2020, segundo um estudo recente de Yifeng Wan, da Universidade Johns Hopkins. Os valores nas áreas urbanas também estão aumentando. Um dote de 380.000 yuans seria, de fato, bastante elevado na província de Guangdong, onde a mediana era de cerca de 42.000 yuans na última estimativa. Mas pareceria um pouco menos absurdo na vizinha Fujian, onde o valor típico é de 115.000 yuans.

Aqui um verbete na Wikipedia sobre o casamento na China Moderna

O mundo do faz de conta das normas das PMEs


A norma internacional de contabilidade para pequenas e médias empresas, elaborada pela Fundação IFRS, tem como premissa oferecer uma abordagem simplificada e mais adequada às características desse segmento. A iniciativa de consolidar, em um único documento, princípios contábeis ajustados à realidade das PMEs, considerando a relação custo-benefício, é, sem dúvida, meritória.

Entretanto, a tarefa de simplificar uma norma sem comprometer sua essência não é trivial. A terceira edição da norma, aprovada em fevereiro deste ano, levanta questionamentos relevantes. Por exemplo: quantas pequenas empresas, de fato, realizam consolidação de demonstrações financeiras? Arrisco dizer que esse percentual seria inferior a 1%. Isso me levou a refletir se minha percepção estaria desatualizada, especialmente ao observar que a nova versão dedica uma seção específica ao tema.

Da mesma forma, é pertinente questionar se a exigência do regime de competência, combinada com a adoção integral do modelo de reconhecimento de receita inspirado no IFRS 15 — com suas múltiplas etapas e detalhamentos —, se alinha às necessidades e capacidades operacionais das PMEs. Trata-se, sem dúvida, de um acréscimo significativo de complexidade.

Parece que as escolhas feitas acabam por atender mais aos interesses de consultores e de quem atua na interpretação e implantação das normas, do que propriamente às empresas e aos profissionais da contabilidade — ou, como prefere a Fundação IFRS, aos “preparadores”. Minha percepção de que essas mudanças são desfavoráveis aos contadores reside na expectativa de que muitas empresas simplesmente não irão adotar plenamente as exigências, sob a justificativa dos custos envolvidos, gerando um distanciamento entre a norma e a prática. Cria-se, assim, um ambiente em que se simula conformidade, sem que, de fato, se alcance a aplicação plena dos preceitos propostos.

Veja aqui um resumo da norma. Imagem: aqui, um mercador fazendo sua contabilidade, por Katsushika Hokusai.

19 junho 2025

Nova norma de reconhecimento da receita aumentou o preço no supermercado


Os reguladores muitas vezes elaboram normas sem considerar adequadamente suas consequências práticas. Um exemplo claro é a norma de reconhecimento da receita, desenvolvida em conjunto pelo FASB e pelo IASB — conhecida como IFRS 15 e traduzida para o português pelo CPC. Embora atenda aos objetivos técnicos daqueles que a aprovaram, seus efeitos podem ser bastante negativos para a sociedade como um todo.

Uma pesquisa recente ilustra bem esse impacto. Nos Estados Unidos, a norma foi incorporada ao padrão ASC 606. Alguns anos após sua adoção, um estudo envolvendo empresas do setor varejista revelou que os preços dos produtos nas prateleiras aumentaram, em média, 4,4%, efeito diretamente associado à mudança no reconhecimento da receita.

Na prática, a norma alterou o momento e a forma como as empresas reconhecem determinados itens. Antes, muitas organizações podiam reconhecer a receita no momento da entrega do produto ou da prestação do serviço. Com a nova regra, a receita só pode ser registrada quando todas as obrigações de desempenho previstas no contrato forem cumpridas — ou seja, quando o controle do bem ou serviço é efetivamente transferido ao cliente.

No caso dos varejistas analisados, a norma também impactou o tratamento de descontos, bonificações, programas de fidelidade e acordos com fornecedores. Incentivos que antes eram contabilizados como despesas futuras passaram a ser registrados como deduções na receita atual. Esse ajuste contábil reduziu artificialmente as margens apresentadas nos balanços, levando muitas empresas a reajustar os preços dos produtos para compensar a diferença.

Diante desse cenário, o que se esperaria seria uma discussão séria sobre a conveniência da norma, seus efeitos colaterais e, eventualmente, sua revisão ou até mesmo revogação, considerando o impacto sobre consumidores e a economia real. No entanto, resta a dúvida se os reguladores terão a coragem de reconhecer que erraram.

Incertezas e Demonstrações


A notícia:

O International Accounting Standards Board (Iasb) decidiu ontem, 17 de junho, avançar com sete exemplos ilustrativos que visam melhorar o relatório de incertezas nas demonstrações contábeis. Esses exemplos usam cenários relacionados ao clima para ilustrar princípios que se aplicam amplamente a todos os tipos de incertezas.

Em resposta ao feedback das partes interessadas, o Iasb desenvolveu esses exemplos para abordar preocupações sobre inconsistências entre as informações divulgadas nas demonstrações contábeis e em outros relatórios. Os exemplos evidenciam como as normas internacionais de relatório financeiro (IFRS, na sigla em inglês) se aplicam ao relatar incertezas nessas demonstrações.
 

Creio que seria mais adequado se os exemplos pudessem considerar situações que incluíssem incerteza política, novas regulamentações e outros aspectos que talvez fossem mais próximos da realidade da maioria das empresas. Mas a decisão parece muito muito voltada a reforçar o trabalho do ISSB. Pena. 

Pintura: Ken Currie Age of Uncertainty

Fair play financeiro no futebol brasileiro


Eis a notícia:

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) recebeu inscrições de 27 clubes interessados em integrar o grupo de trabalho que vai elaborar as bases do Fair Play financeiro no futebol brasileiro. Oito federações estatuais também têm interesse em participar. (...) A primeira reunião oficial do grupo será após o Mundial de Clubes, que tem a final em 13 de julho. Depois, serão 90 dias até a apresentação da proposta final do que a CBF chama por Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF).

(...) Além de clubes e federações, a portaria que lançou o grupo prevê a participação de consultores técnicos independentes, “com notório saber nas áreas de finanças, contabilidade, governança, direito desportivo ou administração esportiva, que atuarão de forma consultiva e voluntária”.

Mais do que criar um regulamento, é importante a sua aplicação.  

Sobre o perigo de ser editor da Wikipedia


Tomo para mim que a Wikipedia é a grande fonte de conhecimento do mundo moderno. Uso-a com muita frequência e encontro enorme inspiração em suas palavras, que me remetem à sabedoria das antigas enciclopédias Barsa e Mirador. No entanto, fiquei estarrecido ao descobrir que, desde 2012, cinco editores da Wikipedia foram presos — e um deles, executado — pelo “crime” de tentar contribuir com o conhecimento mundial.

Os países responsáveis por esses atos são: Arábia Saudita, com penas de 32 e 8 anos de prisão; Bielorrússia, com a prisão de dois editores — um deles condenado a dois anos; e Síria, onde, em 2015, um editor foi morto.

A verdade é, de fato, perigosa. 

18 junho 2025

V Congresso Glenif

 

O Glenif é o grupo de países da América Latina que apoia as iniciativas da Fundação IFRS. A programação está aqui. O encontro é pago, no valor de 40 (??) unidades monetárias. 

Progresso na adoção das normas

Eis a notícia 

O Brasil é uma das 17 jurisdições divulgadas na lista “perfil” da Fundação IFRS, por adotar as normas do International Sustainability Standards Board (ISSB). A publicação dos 17 perfis jurisdicionais ocorreu nesta quinta-feira (12) e representa uma etapa fundamental para esclarecer o progresso na obtenção de uma base global de divulgações de sustentabilidade para os mercados de capitais. O documento menciona a regulação do CFC para relatórios de sustentabilidade.


Mais adiante

Das 17 jurisdições analisadas, 14 estabeleceram a meta de “adotar integralmente” as normas do ISSB, duas estabeleceram a meta de “adotar os requisitos climáticos” das normas do ISSB e uma meta de “incorporar parcialmente” as normas do ISSB. 

Aqui eu fiquei curioso em saber qual grupo está o Brasil. Prosseguindo: 

Além do Brasil, as jurisdições analisadas incluem a Austrália, Bangladesh, Chile, Gana, Hong Kong SAR, Jordânia, Quênia, Malásia, México, Nigéria, Paquistão, Sri Lanka, Taipei Chinês, Tanzânia, Turquia e Zâmbia. 

Esse grupo de países representa cerca de 10% da economia mundial e da população.  É bem verdade que trata dos países que já completaram o processo e que existem alguns outros em situação de consulta. 

Data Center e a questão ambiental


Uma extensa investigação feita pelo site Business Insider usou dados de 1240 licenças ambientais de centros de dados nos Estados Unidos. Os dados incluem o consumo de água e energia e mostram o impacto ambiental desse negócio.

No que se refere ao consumo de energia, todos os centros irão consumir o equivalente a eletricidade usada na Flórida. O consumo de água também é substancial, mas o que preocupa é o fato de que os centros estão localizados em regiões onde existe escassez do insumo. Em alguns casos, a estimativa de uso da água equivale ao consumo de quase 50 mil pessoas. 

Há consequências também em termos de poluição pelo uso de energia poluente para manter os centros em funcionamento. Se os centros geram emprego, os mesmos recebem incentivos fiscais generosos. Em alguns casos, cada vaga gerada equivale a 2 milhões de dólares de incentivo fiscal. 

Dois problemas com a Meta


Duas notícias não boas para a empresa Meta (Instagram e Facebook). A primeira é que a empresa lançou, em abril, uma funcionalidade chamada Discover, onde suas conversas podem ser compartilhadas com o chatbot. Como algumas dessas conversas são sensíveis, pois inclui questões pessoais, e muitas vezes o usuário não tem consciência disso, o que gerou uma reação negativa de alguns usuários.

O outro problema é que o modelo LLaMA da Meta está usando trechos completos de obras que são protegidas por direitos autorais, como Harry Potter e 1984. Essa não é a primeira controvérsia, já que a Meta foi acusada de usar obras obtidas via torrent. A estimativa é que a multa pode chegar a 1 bilhão, sem considerar as indenizações por lucro. 

Qualidade do aço e o problema atual com a IA


Que a IA está poluindo a internet já é conhecido. Os dados gerados pela IA, e isso inclui textos, estão fundidos com informações que foram criadas pelo ser humano, de tal forma que não sabemos como lidar com isso. A cada nova IA treinada em dados que já contêm saídas de outras IAs, cria-se um ciclo em que as informações estão distorcidas. Isso leva ao que chamam de "colapso de modelo": modelos futuros aprendem menos dos humanos, menos da realidade e mais de conteúdo artificial de qualidade inferior.

Um artigo da Futurism traz uma analogia bem interessante com o aço. Antes dos anos cinquenta, o aço produzido estava livre de contaminação por radiação. Com os testes nucleares que ocorreram a partir dessa época, a radiação emitida ficou no ar. Na fabricação do aço, usa-se o ar atmosférico, o que significa dizer que o aço produzido depois dos anos cinquenta possui traços de isótopos radioativos, como o cobalto-60. Ou seja, não é um aço de boa qualidade e, por isso, não pode ser usado em equipamentos científicos ultrasensíveis. Assim, utiliza-se aço produzido antes da energia nuclear, como aquele encontrado em navios afundados ou em estruturas antigas.

A analogia ocorre com os dados usados pela IA. Os dados antes do GPT, ou seja, antes de 2022, são dados de alta qualidade. Tudo que foi produzido após 2022 pode estar contaminado, sendo dados de baixa qualidade.

17 junho 2025

Plan General de Contabilidad


Tanto Portugal quanto a Espanha possuem um Plano de Contas que tem validade nacional. Essa postagem foi motivada pela notícia de que o Plan General de Contabilidad (PGC), da Espanha, teria completado 50 anos. Na realidade, o plano tem um pouco mais.

Tudo começou com a criação da Comissão Central de Planificação Contábil em 1965. Naquele tempo, a Espanha ainda era governada pelo ditador Franco, e a medida resultou no Decreto 530, de 22 de fevereiro de 1973, quase três anos antes da morte dele.

O plano tinha um quadro de contas dividido em quatro partes. A primeira era a divisão das contas em dez grupos: 1 a 5, do balanço; 6 e 7, as contas de gestão; o grupo 8, os resultados; e o último grupo, o 9, servia à contabilidade interna. A segunda parte estabelecia os princípios de débito e crédito entre as contas. A terceira parte tratava das contas anuais, com o balanço e resultados adicionais. Os critérios de valoração estavam englobados na parte final. O plano foi aprovado incompleto, pois não tratava de assuntos como consolidação ou mecanização.

Um dos objetivos do plano era a comparabilidade. Mas havia também a finalidade de tributação e uso na contabilidade nacional. Se inicialmente o plano era voluntário, com o tempo a filosofia chegou às pequenas e médias empresas e a setores específicos.

Em 1990, já no governo monarquista, o plano tornou-se obrigatório e aderente às normas da Comunidade Europeia, por meio do Real Decreto 1643. Anos mais tarde, em 2007, foi adaptado para atender às normas internacionais IFRS/EU, pelo Real Decreto 1514.

Leia mais aqui, aqui e aqui

Mais que regulamentar, é preciso ensinar


Eis a notícia 

A IFRS Foundation lançou um conjunto de módulos práticos de e-learning sobre os novos padrões de sustentabilidade, S1 e S2, para ajudar as empresas na sua implementação.

Os módulos estão disponíveis no IFRS Sustainability Knowledge Hub e foram desenvolvidos para auxiliar as empresas a entender os dois padrões emitidos pelo International Sustainability Standards Board (ISSB): o IFRS S1 – Requisitos Gerais para Divulgação de Informações Financeiras Relacionadas à Sustentabilidade e o IFRS S2 – Divulgação de Informações Relacionadas ao Clima.

No passado, quando um regulador desejava trazer uma nova norma, bastava emitir o documento e esperar que as empresas a adotassem. Mas parece que há uma guerra entre as entidades, em que não basta uma norma ter sido bem elaborada, sendo necessário também acrescentar materiais instrucionais, como o da norma acima.

Veja que o material permite que o usuário responda a questões sobre o assunto e, ao final, obtenha um certificado de conclusão, que tem validade em processos de educação continuada.

Uma vez que a entidade depende de arrecadação para continuar seu trabalho de emissão de normas, o material apresentado é um bom chamariz, já que está disponível para quem possui uma conta.

Outra finalidade é incentivar a adoção da norma, conforme reconhece a vice-chair, Sue Lloyd. E esse tipo de norma, que está em seu estágio inicial, depende da adoção mais do que as normas contábeis tradicionais, como as IFRS. Para finalizar, o material não deixa de ser uma resposta para os usuários que acreditam que a norma é complexa.

Um bilionário que não paga nada de imposto de renda


Sobre o desconhecido bilionário Walter Werner Rydl que possui, segundo seu imposto de renda, cem bilhões de reais:

Ao analisar as declarações do imposto de renda de Rydl, a unidade da Receita Federal em Belém constatou que, até 2006, ele não informava a posse de nenhum grama de ouro. Apenas no ano seguinte declarou 823 kg, cujo valor estava em torno de 40 milhões de reais. A partir de então, ele passou a acrescentar quantidades superlativas de ouro nas suas declarações de renda.

Na época, Rydl estava preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, aguardando extradição por crimes cometidos na Áustria. Para a PF, isso reforça a suspeita de que foi na prisão que Rydl aprendeu a declarar qualquer quantia de ouro sem pagar um centavo de imposto, uma vez que a Receita só tributa renda ou ganho de capital – enquanto o ouro é um bem imobilizado, como um imóvel, e não gera imposto de renda.

Não é bem assim. Gera na "realização". Mas a história é bem curiosa. 

Valor justo para atletas? A Deloitte promete entregar a informação

Eis a notícia 


Uma grande decisão judicial da NCAA com os estudantes-atletas envolve um mecanismo para limitar os contratos de nome, imagem e semelhança (NIL) ao “valor de mercado justo”, algo que pode ser difícil de mensurar, mesmo para a maior empresa de contabilidade do mundo. O modelo da Deloitte irá estimar uma faixa aceitável para cada contrato, em vez de um valor específico. Ainda assim, será necessário traçar limites — possivelmente em zonas cinzentas — para determinar quais contratos de NIL configuram pagamento por desempenho (pay-for-play). “Eu acho que esse é um objetivo louvável. Não acho que seja viável”, afirmou o advogado especializado em propriedade intelectual e esportes Mike Ingersoll, do escritório Womble Bond Dickinson.

A fonte original é a Bloomberg. 

16 junho 2025

XI AGC










O destaque será, obviamente, Schipper. 
 

Meta e IA


Mark Zuckerberg está visivelmente incomodado com a incapacidade da Meta de competir frente a OpenAI e Anthropic na corrida da inteligência artificial, especialmente após o lançamento pouco impactante do LLaMA4 Behemoth. Essa situação levou Zuckerberg a assumir um "modo fundador", reposicionando equipes internas de pesquisa e exigindo resultados imediatos . Ele desmembrou a divisão GenAI, rebaixou a liderança anterior e antecipou uma dedicação intensa: dias, noites e fins de semana de trabalho, com metas voláteis determinadas por suas ansiedades .

Paralelamente, a Meta fez um movimento estratégico ousado ao adquirir cerca de 49% da Scale AI por aproximadamente US$ 14,3–15 bilhões, avaliando a companhia em cerca de US$ 29 bilhões. O objetivo central desse investimento parece ser o “acquihire” do jovem CEO e fundador Alexandr Wang (foto), que agora comandará a nova divisão de “superinteligência” da Meta, embora a Scale continue operando de forma independente. Aos 28 anos, Wang alcançou a marca de bilionário em 2021 e está prestes a liderar os esforços de IA na Meta.

E o jovem já estreou batendo alto: acusou a China de estar tramando uma operação internacional, que inclui roubo de dados e tecnologia. Um discurso que interessa de perto aos atuais governantes. 

Sinalização, mercado de trabalho e IA

 

Os dados dos Estados Unidos mostram que a contabilidade possui uma taxa de desemprego reduzida em relação a campos "novos" como engenharia da computação ou estudos ambientais. A taxa de subemprego também é baixa, quando comparamos com antropologia (mais de 50%) ou comunicação (idem). (Fonte: newsletter da Bloomberg)

Mas sabemos que a Inteligência Artificial ainda não está refletida nos dados de emprego e tudo pode mudar nos próximos anos. Ou não, já que há controvérsias sobre a capacidade dos modelos em fazer tarefas mais complexas. Eis um trecho:

Um novo artigo de pesquisadores da Apple jogou um balde de água fria no hype da inteligência artificial. “O estudo argumenta que os modelos de raciocínio avançado — celebrados por alguns como uma nova fronteira da forma como a IA ‘pensa’ — estão muito aquém das expectativas. Quando um problema se torna suficientemente complexo... os modelos sofrem um ‘colapso total de precisão’”, relata Dave Lee. 

E ontem, lendo O Incentivo Certo, de Uri Gneezy, encontrei isso:

Por que investir em um bom ensino é um sinal convincente? Porque é algo difícil de realizar. É necessário investir tempo, esforço e dedicação nesse objetivo de longo prazo. Esse investimento em instrução é menos custos para o candidato do tipo bom do que para o tipo ruim porque, por definição, o tipo bom é mais inteligente e está mais disposto a trabalhar duro. A instrução é menos desgastante e mais recompensadora para ele do que para o tipo ruim, que, provavelmente, a considera muito difícil ou demorada.  

Amigo da OPEP

O gráfico mostra o crescimento da produção de petróleo no Brasil nos últimos anos, destacando o marco da descoberta do pré-sal. Mantida a tendência, o país se tornará a segunda maior fonte de produção de petróleo fora da OPEP — que reúne alguns dos principais países produtores —, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, mas à frente da Guiana e do Canadá.

15 junho 2025

Grandes civilizações e contabilidade: Grécia


Grécia (750–31 a.C.)
A Grécia era uma coletânea de cidades-estado que se tornou uma nação quando foi unificada por Filipe da Macedônia em 338 a.C., e depois se transformou em um vasto império durante o breve reinado de seu filho, Alexandre, o Grande (336–323 a.C.). O império se dissolveu rapidamente após sua morte e, em 31 a.C., a Grécia já fazia parte do Império Romano. No entanto, embora o império de Alexandre, o Grande, tenha sido efêmero, a cultura grega desse período se mostrou extremamente duradoura, especialmente nas áreas da filosofia e da política. Os nomes de Homero, Pitágoras, Sólon, Sócrates, Hipócrates, Péricles, Platão, Aristóteles e Demóstenes permanecem vivos até hoje.

O movimento colonizador grego ocorreu entre 750 e 500 a.C. As diversas cidades-estado estabeleceram postos comerciais em toda a região do Mediterrâneo. O comércio local na Grécia era realizado, principalmente, por meio de trocas (escambo). Houve muitas guerras entre as cidades-estado de Esparta, Atenas e Tebas, com alianças variadas entre outras cidades. Do ponto de vista contábil e administrativo, o foco deve ser Atenas, com suas leis bem desenvolvidas, órgãos governamentais, sua academia e seu liceu. De fato, Aristóteles tornou-se tutor de Alexandre quando este tinha 13 anos.

Grande parte das evidências de práticas contábeis na Grécia desse período está relacionada à administração, tanto governamental quanto dos templos. Williard E. Stone, da Universidade da Flórida, escrevendo em 1969, afirmou que se preferia utilizar escravos como contadores, pois, ao contrário dos homens livres, eles podiam ser torturados, e acreditava-se que os testemunhos obtidos sob tortura eram mais confiáveis do que os juramentos dos homens livres. Péricles adotou o costume de exigir que os empreiteiros responsáveis por obras públicas reportassem receitas e despesas em tábuas entalhadas em pedra, fixadas nas paredes dos edifícios, como no Partenon. Isso estava de acordo com práticas semelhantes do Egito Antigo, onde inscrições desse tipo foram encontradas na Pirâmide de Quéops.

O conselho que governava a cidade-estado de Atenas possuía um elaborado sistema de registro e prestação de contas públicas. Aristóteles, em sua obra “Política”, discutiu o papel do auditor governamental, que recebia todas as contas de despesas e as submetia a auditoria, sendo essa uma função tão importante que tais oficiais não podiam exercer nenhuma outra atividade.

George J. Costouros (1978), da Universidade Estadual de San Jose, descreveu os escritos de Ésquines, orador e político ateniense do início do século IV a.C., que afirmou: “Nesta cidade (Atenas), tão antiga e grandiosa, nenhum homem que tenha exercido qualquer função pública está isento de auditoria.” O oficial, após apresentar suas contas e passar por uma auditoria bem-sucedida, recebia então uma “coroa” como reconhecimento. Aristóteles, na obra “Constituição de Atenas”, distingue três conselhos de contadores, cada um composto por dez membros: os Contadores do Conselho, os Contadores Administrativos, assistidos por dez avaliadores, e os Examinadores, assistidos por vinte avaliadores. As contas e seus respectivos responsáveis eram submetidos a audiências públicas, nas quais os valores efetivos eram comparados com os valores orçados, e os oficiais podiam ser acusados caso fossem encontradas discrepâncias.

Uma rica fonte histórica da contabilidade grega são os Papiros de Zenon, do século III a.C., encontrados na região de Fayum, no Egito Ptolemaico. Zenon, um grego, era o diretor executivo de Apolônio, ministro das finanças de Ptolomeu Filadelfo. Além de suas funções governamentais, Apolônio também realizava diversas atividades comerciais em benefício próprio. H.P. Hain, da Universidade de Melbourne, na Austrália, em 1966, descreveu o uso da contabilidade por centro de responsabilidade por Zenon, que mantinha registros escritos detalhados.

Nos papiros, há evidências de auditorias extensivas, indicadas por um traço inclinado ou um ponto grosso à frente de cada valor numérico. Entre os documentos constam resumos contábeis mensais, anuais e trienais. Em conjunto, esses papiros ilustram um sistema altamente desenvolvido de contabilidade centralizada, controles rigorosos e eficiência empresarial.

Richard Vangermeersch para The History of Accounting

É bom lembrar que o conceito de valor de uso e valor de troca já era conhecido pelos gregos.  Foto: aqui

Grandes civilizações e contabilidade: China

China
A China foi, em determinado momento, uma líder na área da contabilidade. A história da contabilidade na China abrange cerca de 10.000 anos, desde sua origem até o desenvolvimento de um estilo chinês de escrituração em partidas simples e partidas dobradas.

Por volta de 7.000 a.C., em Xian, já existia um sistema de cálculos relativamente complexo. Durante esse período primitivo, os contadores chineses gravavam registros contábeis em ossos e tábuas de madeira. Isso representava uma forma inicial de escrituração em partidas simples. Houve avanços na escrituração durante a Dinastia Shang (1650–1100 a.C.) e a Dinastia Zhou (1100–256 a.C.). Confúcio (551–479 a.C.) iniciou sua carreira como funcionário responsável pela contabilidade de armazéns.

O governo chinês adotou o método de “registro de recebimentos/pagamentos”, no qual a equação receitas – despesas = superávit era utilizada para balancear as contas. Esse processo era denominado sanzhufa (o método de “contabilidade de três colunas”). Durante a Dinastia Zhou, foi estabelecida uma organização financeira e contábil bastante completa. O grande tesoureiro (dafu) era o mais alto cargo no tesouro. O auditor do tesouro nacional era denominado zaifu. O contador-chefe (sikuai) era o mais alto oficial contábil, contando com três tesoureiros subordinados, responsáveis pelos registros de entradas, saídas e superávit da Corte Imperial.

Em consonância com o princípio financeiro e contábil de “planejar os gastos de acordo com as receitas”, a corte da Dinastia Zhou dava grande importância ao orçamento e aos relatórios contábeis. Todos os anos, a corte definia suas despesas orçamentárias com base nas receitas previstas, controlando os gastos para garantir o equilíbrio fiscal. Havia relatórios a cada 10 dias, mensais, anuais e um relatório final a cada período de três anos. Esse relatório final era submetido ao rei. O sistema era denominado shangji (grande cálculo). O rei de Zhou e o zaifu tomavam decisões sobre recompensas ou punições com base no relatório geral final (shouji). Esse processo de reporte, que se desenvolveu ao longo dos anos, provavelmente não tinha equivalente, na época, nos procedimentos de controle interno, orçamento e auditoria (Chatfield, 1974).

As Dinastias Qin (221–207 a.C.) e Han (207 a.C.–220 d.C.) marcaram a fase de desenvolvimento da sociedade feudal na China. Tornou-se necessário desenvolver um sistema contábil que abrangesse desde o governo central até os governos locais. A expansão do comércio nessas dinastias exigiu o desenvolvimento da contabilidade comercial. Métodos fundamentais para o cálculo de lucros e perdas no comércio, bem como métodos simples para o cálculo dos custos de produtos manufaturados, foram desenvolvidos. Por exemplo, na indústria de processamento de vinho, os custos de matérias-primas, combustível e mão de obra eram calculados separadamente e utilizados como base para a avaliação.

Durante a próspera Dinastia Tang (618–906 d.C.), tanto a contabilidade governamental quanto a comercial fizeram avanços notáveis. Foi criado um departamento de contabilidade como parte da administração nacional. Um departamento de auditoria independente, o Bibu, foi estabelecido e teve um papel relevante na gestão dos aspectos financeiros e contábeis da corte imperial. Os sistemas de controle interno foram ainda mais aperfeiçoados. Na Dinastia Tang, foi instituído um sistema de cruzamento de informações entre o departamento de contabilidade, a tesouraria, o tesouro nacional, o departamento de impostos, a auditoria e os órgãos reguladores econômicos.

Em vez do princípio de “planejar os gastos com base nas receitas”, o financista Yang Yan, da Dinastia Tang, implementou o princípio de “controlar os gastos com base nas receitas”, no qual todas as despesas eram primeiramente orçadas, e, em seguida, as receitas eram projetadas. Isso exigiu que a corte imperial desenvolvesse um orçamento geral. Na Dinastia Song (960–1279 d.C.), o departamento de contabilidade registrava e conferia todas as contas com base no orçamento equilibrado.

Dois tipos de equações contábeis eram amplamente utilizados: a fórmula do “balanço de quatro colunas” (saldo inicial + entradas = saídas + saldo final) e a fórmula da “diferença de quatro colunas” (entradas – saídas = saldo final – saldo inicial). O método das quatro colunas passou, então, a ser o núcleo da metodologia contábil chinesa.

No final da Dinastia Ming (1368–1644 d.C.) e início da Dinastia Qing (1644–1912 d.C.), começaram a surgir inovações na escrituração comercial, impulsionadas pela lenta emergência do capitalismo. Uma versão chinesa da contabilidade por partidas dobradas, chamada de conta Longmen, foi desenvolvida a partir do método das quatro colunas. A conta Longmen adotou uma abordagem dual para registrar ganhos e perdas, enquanto o método das quatro colunas se baseava no conceito de ativos – passivos = capital. Embora os princípios fossem semelhantes aos da contabilidade ocidental, a ausência de um desenvolvimento pleno do sistema econômico capitalista na China fez com que a contabilidade por partidas dobradas se desenvolvesse apenas parcialmente. Assim, foi necessário importar a contabilidade de partidas dobradas ocidental no início do século XX.

Em 1905, Cai Xiyong escreveu um manual de contabilidade que iniciou a disseminação da contabilidade por partidas dobradas no padrão ocidental na China. Em 1907, esse método já era utilizado por alguns bancos. Durante o período da República da China (1912–1949), contadores chineses como Pan Xulun, Xie Lin, Xu Yongzuo, Yong Jiayuan, An Shaoyun e Zhao Xiyu se dedicaram à introdução da contabilidade ocidental adaptada à realidade chinesa. Esses profissionais reformaram a contabilidade chinesa e contribuíram significativamente para a consolidação do campo contábil na China.

Após a fundação da República Popular da China em 1949, a contabilidade entrou em uma nova fase histórica, caracterizada por reformas organizacionais, legislativas, filosóficas e teóricas. Para enfrentar os desafios da globalização, a contabilidade desempenhará um papel ainda mais relevante na economia do século XXI.

Guo Daoyang - The History of Accounting


O verbete foi escrito nos anos 90 e a parte final mostra os desafios. Recentemente, a China foi o primeiro país a ativar, através de regulação, os dados. O crescimento da economia chinesa e o tamanho populacional do país despertam a atenção atual da contabilidade. Imagem: aqui

Grandes civilizações e contabilidade: Índia

Índia (1600 a.C. – 1856 d.C.) Por muitos séculos, o subcontinente que hoje compreende as áreas da atual Índia, Paquistão e Bangladesh esteve sob domínio provincial. O governo central era raro, embora, ocasionalmente, uma província forte dominasse sua própria região e outras áreas desse vasto e populoso território.

O primeiro império indiano (325–150 a.C.) foi governado pela dinastia Maurya. Um livro escrito nesse período, o Arthsastra, descrevia a economia política. A base financeira do sistema imperial era sustentada pela arrecadação de impostos sobre a terra e, em menor escala, pelo comércio. Parece ter existido um corpo significativo e bem estruturado de administradores, incluindo cargos de tesoureiro, responsável pela manutenção das contas, e de coletor-chefe, encarregado dos registros de arrecadação. O imperador enviava oficiais para inspeção a cada cinco anos, realizando auditorias adicionais e supervisionando a administração provincial. A aldeia era a unidade administrativa básica.

Esse modelo administrativo permaneceu ao longo dos anos sob outras dinastias, incluindo os Gupta no norte da Índia (320–540 d.C.), a Hegemonia Muçulmana (1200–1526 d.C.), a dinastia Bahmani (1347–1527 d.C.), o Império Vijayanagar (1336–1646 d.C.) e o Império Mogol (1526–1761 d.C.). O imposto sobre a terra manteve-se, de forma constante, como a principal fonte de receita. Por volta de meados do século XVIII, as influências europeias tornaram-se bastante fortes; no final do mesmo século, os britânicos passaram a dominar a região por meio da Companhia das Índias Orientais. O domínio britânico trouxe consigo registros empresariais no modelo ocidental. Em 1857, os britânicos assumiram o controle político completo da Índia.

Assim como no caso da Grécia e de Roma antigas, estudiosos da contabilidade examinaram fontes históricas na tentativa de identificar a presença de um sistema de partidas dobradas na Índia. Em um artigo de 1986, B.M. Lall Nigam, da Delhi School of Economics (Índia), procurou relacionar as referências contábeis presentes no Arthsastra e no Manu Samhita ao sistema de partidas dobradas, embora seus argumentos tenham sido contestados no ano seguinte em um artigo de Christopher W. Nobes, da University of Reading (Reino Unido). Em 1992, Michael E. Scorgie, da La Trobe University (Austrália), e Somendra Chandra Nandy, historiador de Calcutá (Índia), não conseguiram encontrar evidências documentais da existência do método das partidas dobradas, embora tenham realizado uma análise detalhada da contabilidade indiana no final do século XVIII. Independentemente da questão das partidas dobradas, a literatura indiana oferece evidências da importância da contabilidade e dos contadores na administração dos primeiros governos.



Richard Vangermeersch para The History of Accounting

O verbete não destaca o papel da criação dos números hindus (figura), que é a base da nossa numeração moderna. Há autores que enfatizam a relevância da adoção dos números nas cidades italianas como um dos requisitos para a adoção das partidas dobradas.  

Grandes civilizações e contabilidade: Egito

A contabilidade governamental na Babilônia e no Egito teve um desenvolvimento geralmente semelhante, embora a introdução do papiro como material de escrita tenha tornado os registros egípcios menos volumosos e permitido um uso mais amplo de documentos auxiliares. As contas egípcias mais antigas que sobreviveram datam de aproximadamente 2390 a.C. Assim como na Babilônia, a coesão nacional dependia da organização das finanças reais, nas quais os armazéns de cada distrito recebiam impostos pagos em espécie e encaminhavam os itens menos perecíveis para um tesouro central. Em um império mantido coeso por meio dos registros, os escribas foram descritos por A.H. Woolf como os “pivôs sobre os quais girava toda a engrenagem do tesouro e de outros departamentos”. Com extremo cuidado, os contadores vinculados a cada armazém registravam tudo o que era recebido e os detalhes de sua utilização. Nada saía do tesouro sem uma ordem escrita. Uma segurança adicional era garantida por um elaborado sistema de controle interno, que exigia que os registros de um oficial estivessem em concordância com os de outro. A precisão era altamente recomendada, pois as contas eram auditadas pelo superintendente do armazém, sendo que irregularidades graves podiam ser punidas até mesmo com mutilação ou morte.

A importância atribuída a esses registros contrasta, de forma curiosa, com sua falta de sofisticação. A escrituração egípcia parece ter se desenvolvido rapidamente e, depois, estagnado virtualmente por vários milhares de anos. Os registros de recebimento e desembolso do governo permaneceram, essencialmente, como listas em colunas, que não podem ser consideradas contas no sentido moderno de categorias de acumulação de dados. Argumenta-se que métodos mais avançados não eram necessários porque a economia egípcia mudou muito pouco após seu período inicial de desenvolvimento. O contraste entre a contabilidade antiga e a moderna pode ser expresso nos termos de um sistema econômico egípcio complexo, porém primitivo, que nunca evoluiu a ponto de tornar útil uma escrituração baseada em acumulação e somatório.

Do verbete de Michael Chatfield do livro The History of Accounting.  

Como muito documento da civilização sobreviveu, temos alguns aspectos curiosos sobre o Egito. Em uma postagem anterior, comentamos sobre as desculpas por faltar ao trabalho, em um documento encontrado no Egito antigo.  O mapa da postagem mostra como a população do atual Egito concentra em torno do Nilo. 

14 junho 2025

Crise global: observe o consumo de pizza próximo ao Pentágono


Um texto do El Economista aborda o curioso fenômeno chamado "Pizzómetro", uma ferramenta informal que se popularizou por prever possíveis crises globais a partir da movimentação nas pizzarias próximas ao Pentágono, nos Estados Unidos. A lógica é simples: quando ocorrem reuniões emergenciais ou operações militares secretas, os funcionários do Departamento de Defesa costumam trabalhar até tarde, o que gera um aumento significativo nos pedidos de pizza na região. Esse indicador surgiu ainda na Guerra Fria, quando os soviéticos, atentos a qualquer sinal da movimentação americana, passaram a observar o volume de entregas de pizza como possível sinal de crise. 

O método voltou a chamar atenção recentemente, no dia 12 de junho de 2025, quando picos incomuns no tráfego das pizzarias próximas ao Pentágono foram detectados horas antes do ataque de Israel ao Irã, acompanhado da ordem para evacuação de diplomatas americanos em países do Oriente Médio. Após o ataque, o volume de pedidos voltou ao normal, exceto em uma pizzaria, sugerindo que certas operações ainda estavam em andamento. O episódio demonstra como, em tempos de inteligência aberta (OSINT), até informações aparentemente banais, como o consumo de pizza, podem antecipar grandes movimentos geopolíticos. 

Grandes Civilizações e Contabilidade: Babilônia


Antes de iniciar, é importante distinguir Suméria, Mesopotâmia e Babilônia. A Suméria foi um reino que existiu anteriormente. A Mesopotâmia é uma região geográfica. Já a Babilônia foi a cidade central de uma civilização localizada na Mesopotâmia, atual Iraque. Era um centro econômico e cultural, com um impressionante desenvolvimento arquitetônico — o mais famoso deles, os Jardins Suspensos. Na prática, é comum tratar Suméria e Babilônia conjuntamente, como faz Chatfield no verbete sobre o assunto em The History of Accounting.

Falar da Babilônia é também falar de Hamurábi, rei da primeira metade do século XVIII a.C., e de Nabucodonosor (605–562 a.C.). Os vestígios da vida na cidade que sobreviveram ao tempo revelam uma intensa atividade econômica, com registros de empréstimos, operações comerciais e partilhas de herança. A cidade tem presença marcante na Bíblia: com a Torre de Babel, com Nabucodonosor e como símbolo do pecado, em uma conotação negativa.

Uma das principais influências da cidade é o Código de Hamurábi, um conjunto de leis provavelmente redigido pelo rei de mesmo nome, por volta de 1772 a.C. Fisicamente, trata-se de uma pedra, encontrada em 1901, com escrita cuneiforme e 282 leis (ou 281, já que a de número 13 foi omitida por superstição) distribuídas em cerca de 3.600 linhas. A mais conhecida é o princípio do talião (do latim talis, “tal” ou “igual”): olho por olho, dente por dente. O código traz diversas normas sobre o comércio, como aquelas relativas ao não cumprimento de contratos. Trata-se do primeiro corpo legal conhecido, e o fato de estar inscrito em pedra tem uma forte carga simbólica: a lei é imutável, nem mesmo o rei poderia alterá-la. 

O fato de os habitantes da Babilônia serem obcecados por registros contábeis, conforme destaca Michael Chatfield, é uma influência importante. Os códigos enfatizam essa prática. O Código de Hamurábi determinava que, ao vender uma mercadoria, o comerciante deveria entregar ao comprador um documento com os preços; se não o fizesse, o acordo poderia ser legalmente contestado. Assim, as transações comerciais eram registradas por escrito, com as assinaturas das partes e das testemunhas.

Grandes civilizações e Contabilidade: Suméria


A Suméria foi uma civilização que existiu no atual sul do Iraque, entre aproximadamente 3000 e 1000 anos antes de Cristo, sendo considerada uma das primeiras civilizações da história. O povo sumério vivia da agricultura, do comércio e das primeiras manufaturas, como tecelagem, curtume, metalurgia, alvenaria e cerâmica. Foi também na Suméria que surgiu a escrita cuneiforme.

O desenvolvimento da escrita é um indicativo de que já existia, também, uma forma de contabilidade. Nos primórdios da civilização suméria, a escrita consistia basicamente em desenhos; apenas posteriormente passou a representar sons e sílabas. Trata-se da mais antiga língua escrita conhecida da humanidade.

A principal cidade suméria era Ur, e nas grandes cidades havia um sistema de governo composto por reis, burocratas e sacerdotes. Os burocratas cuidavam dos interesses do rei, da administração do tesouro público, da arrecadação de impostos e de outros assuntos. Os comerciantes mantinham relações comerciais com diversos povos, inclusive do Mediterrâneo e do Vale do Indo.

As contribuições da Suméria foram significativas: desenvolveram o sistema sexagesimal, sistemas de medidas de capacidade, superfície e peso, a divisão do dia em 24 horas, além de produzirem um dos primeiros manuais de medicina e fórmulas químicas. Utilizavam substâncias como laxantes e purgantes, produziam salitre e fabricavam instrumentos como martelos, pregos, machados, adagas e, possivelmente, a própria roda. Também estudaram os astros, inventaram a cerveja e foram pioneiros na domesticação de plantas e animais.

Através dos textos que sobreviveram ao tempo, sabemos sobre a sociedade suméria e suas transações comerciais. Nos anos 1970 e 1980, a arqueóloga Denise Schmandt-Besserat descobriu que pequenas peças de argila eram utilizadas no comércio como unidades concretas de contagem, representando, portanto, a forma mais antiga conhecida de contabilidade. Um comerciante colocava, dentro de uma espécie de bolsa de argila, as representações dos bens negociados. Quando a argila secava, o conteúdo ficava lacrado e seguro. A cada transação, o negociante quebrava o artefato para acessar os registros — ou fazia isso sempre que precisava verificar o saldo.

Com o tempo, os sumérios passaram a registrar essas informações diretamente na superfície externa da bolsa de argila, evitando a necessidade de quebrá-la. Mais adiante, alguém percebeu que não era necessário utilizar as representações físicas dos bens; bastava fazer marcas na argila — surgindo, assim, os primeiros registros contábeis escritos, semelhantes a uma folha de papel.

Foi nessa civilização que surgiu Kushim, o nome de pessoa mais antigo de que se tem conhecimento — considerado o primeiro contador da história. Ele era responsável pelo registro da produção e armazenagem de cevada.

13 junho 2025

Novo chefe de contabilidade da SEC


A SEC nomeou hoje Kurt Hohl (foto) como novo Chief Accountant, com início oficial em 7 de julho de 2025. Hohl traz quase 40 anos de experiência em contabilidade e auditoria. Ele foi parceiro da Ernst & Young por 26 anos, chegando a vice-presidente global adjunto de garantia profissional, liderando mais de 1.400 profissionais responsáveis por qualidade, gestão de risco e conformidade.

Entre 1989 e 1997, Hohl atuou na própria SEC, chegando a Associate Chief Accountant na Divisão de Corporation Finance. Foi autor do manual Fundamental Reporting Manual, referência para práticas contábeis e regulatórias da agência. Após sair da SEC, fundou em 2023 a Corallium Advisors, oferecendo suporte a empresas em auditoria, conformidade, gestão de risco e ofertas públicas iniciais.

Fonte: aqui 

Siga Brasil e a transparência nas contas públicas

Siga Brasil é o nome do principal programa usado pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle, um órgão do Senado responsável por assessorar os parlamentares. Lançado em 2004, o Siga Brasil reúne informações sobre as receitas e despesas do Executivo, Legislativo e Judiciário federais. Graças às atualizações e ampliações ao longo dos últimos vinte anos, tornou-se fundamental para fiscalizar os gastos públicos e, mais recentemente, para monitorar as emendas parlamentares. “Hoje em dia, todos os especialistas em contas públicas, sem exceção, utilizam o Siga Brasil”, diz o economista Francisco Gil Castello Branco Neto, fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, ONG que monitora o Orçamento.

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