Postalis é um exemplo de como não gerir um fundo de pensão. Ontem, a CVM aplicou uma multa à BNY Mellon de 7 milhões de reais por prejuízos no fundo de pensão.
O relatório da Superintendência de Relações com Investidores Institucionais da CVM (SIN/CVM) mostra que o Postalis investiu R$ 72 milhões, por meio de uma estrutura de fundos exclusivos geridos pelo BNY, em debêntures de uma sociedade de propósito específico (RO Participações). Na operação, pagou mais de R$ 12 milhões em consultorias e custos de emissão, com expectativas de retorno abaixo do praticado no mercado e sem qualquer garantia. De acordo com a análise, parte da remuneração prometida era "desprovida de sustentabilidade econômica".
Renteria [o relator do caso na CVM] chamou atenção para o fato de que os acusados fabricaram documentos para ocultar os delitos e induzir em erro os órgãos fiscalizadores. Ele se referiu a uma análise de risco elaborada após o investimento ser realizado e que chegou a ser alterada, já que uma primeira versão chamava atenção para os riscos das debêntures.
25 julho 2018
24 julho 2018
Tornado a ciência acessível
Existem diversas maneiras de tornar a ciência acessível. Um delas é fazer com que os textos dos artigos sejam o mais simples possível, usando a menor quantidade de jargão. Outra forma é disponibilizar as pesquisas de maneira gratuita para o público em geral. Finalmente, a divulgação das pesquisas pode ser feita por obras de divulgação científica, como alguns livros e sites que tentam "traduzir" a pesquisa para o leitor comum.
Um movimento interessante foi realizado pela LSE Library que decidiu transformar alguns artigos em quadrinhos. Veja um exemplo abaixo:
Um movimento interessante foi realizado pela LSE Library que decidiu transformar alguns artigos em quadrinhos. Veja um exemplo abaixo:
Odiamos tomar decisões financeiras
Nossa pesquisa sugere que o culpado pode ser nossos estereótipos sobre questões de dinheiro. Descobrimos que as pessoas percebem decisões financeiras - mais do que decisões em muitos outros domínios igualmente complexos e importantes - como frias, sem emoção e extremamente analíticas - em outras palavras, altamente incompatíveis com sentimentos e emoções.
Isso pode não ser surpreendente, considerando como os gurus da mídia rotineiramente alertam as pessoas contra a possibilidade de sentimentos atrapalharem nossas finanças pessoais, e como a cultura popular frequentemente retrata Wall Street e outros profissionais financeiros como “peixes frios” que são moral e emocionalmente apáticos. (...)
Acho que muitas pessoas irão se identificar com o texto. No fundo, odiamos tomar decisões financeiras.
Isso pode não ser surpreendente, considerando como os gurus da mídia rotineiramente alertam as pessoas contra a possibilidade de sentimentos atrapalharem nossas finanças pessoais, e como a cultura popular frequentemente retrata Wall Street e outros profissionais financeiros como “peixes frios” que são moral e emocionalmente apáticos. (...)
Acho que muitas pessoas irão se identificar com o texto. No fundo, odiamos tomar decisões financeiras.
Veneno oculto
Um texto muito interessante mostra como no passado a nobreza se preocupava com a possibilidade do envenenamento. Entretanto, certas crenças eram muito mais perigosas:
Ironicamente, aqueles nas cortes reais apavorados com o veneno estavam se envenenando sem saber diariamente com seus cosméticos e medicamentos. As nobres usavam maquiagem branca feita de mercúrio, chumbo, vinagre e uma pitada de arsênico. Eles coloriram suas bochechas e lábios com vermelhão - cinábrio em pó - que continha mercúrio. Como toque final, aplicaram uma fina camada de pó facial de arsênico.
Além do uso destes produtos, a higiene não era algo observado: aplicava-se fezes nas feridas, as pessoas urinavam em locais públicos, entre outras práticas. Isto na Europa, onde moravam os "civilizados".
Ironicamente, aqueles nas cortes reais apavorados com o veneno estavam se envenenando sem saber diariamente com seus cosméticos e medicamentos. As nobres usavam maquiagem branca feita de mercúrio, chumbo, vinagre e uma pitada de arsênico. Eles coloriram suas bochechas e lábios com vermelhão - cinábrio em pó - que continha mercúrio. Como toque final, aplicaram uma fina camada de pó facial de arsênico.
Além do uso destes produtos, a higiene não era algo observado: aplicava-se fezes nas feridas, as pessoas urinavam em locais públicos, entre outras práticas. Isto na Europa, onde moravam os "civilizados".
Medindo o Markup
O Markup tem aumentado nos últimos anos (grifo nosso):
Em resposta, De Loecker e Eeckhout (2017, 2018) optaram por usar uma metodologia baseada em custos; a principal vantagem, além de não ter que fazer suposições sobre a demanda ou competição, reside na capacidade para extrair dados das demonstrações financeiras de empresas. Usando informações públicas de empresas com ações negociadas na bolsa, os autores estimam a evolução do mark-up ao longo do tempo e podem agregar os dados ao nível de uma economia.
Para os EUA, desde a década de 1980, as margens aumentaram constantemente até 2000 e, após a Grande Recessão de 2008, voltaram a subir para níveis de 1,6 em 2016. Este aumento significa que os preços são de 61% acima do custo marginal.
Em nível global, observamos a mesma coisa - um aumento sustentado de níveis próximos a 1,1 na década de 80 para níveis de 1,6 em 2016.
O mais interessante é a distribuição dessas marcações : a mediana permanece relativamente estável ao longo do tempo, mas não a média. O aumento é experimentada a partir do 75 em diante, com o percentil 90 mostrando o maior aumento: de 1,8 em 1980 para 2,8 em 2016. Em conclusão, a mudança na marcação média algumas empresas devem estar dentro de cada industria
Essa tendência é observada dentro de cada setor, ou seja, não é um único setor como a tecnologia poderia estar empurrando a média da economia. (...)
Em resposta, De Loecker e Eeckhout (2017, 2018) optaram por usar uma metodologia baseada em custos; a principal vantagem, além de não ter que fazer suposições sobre a demanda ou competição, reside na capacidade para extrair dados das demonstrações financeiras de empresas. Usando informações públicas de empresas com ações negociadas na bolsa, os autores estimam a evolução do mark-up ao longo do tempo e podem agregar os dados ao nível de uma economia.
Para os EUA, desde a década de 1980, as margens aumentaram constantemente até 2000 e, após a Grande Recessão de 2008, voltaram a subir para níveis de 1,6 em 2016. Este aumento significa que os preços são de 61% acima do custo marginal.
Em nível global, observamos a mesma coisa - um aumento sustentado de níveis próximos a 1,1 na década de 80 para níveis de 1,6 em 2016.
O mais interessante é a distribuição dessas marcações : a mediana permanece relativamente estável ao longo do tempo, mas não a média. O aumento é experimentada a partir do 75 em diante, com o percentil 90 mostrando o maior aumento: de 1,8 em 1980 para 2,8 em 2016. Em conclusão, a mudança na marcação média algumas empresas devem estar dentro de cada industria
Essa tendência é observada dentro de cada setor, ou seja, não é um único setor como a tecnologia poderia estar empurrando a média da economia. (...)
Crise no Mercado de Trabalho Contábil Persiste
Os dados do mercado formal de trabalho no Brasil revelam que o número de demissões ainda é superior ao de admissões. De janeiro de 2015 até junho de 2018 (42 meses), em somente cinco meses as admissões foram superiores as demissões. Em junho, foram admitidos 8.901 empregados e demitidos 9.502, representando um saldo de -602. O número acumulado desde janeiro de 2014 indica uma redução no número de postos de trabalhos de 40.282.
O gráfico abaixo mostra a evolução comparativa entre o setor contábil - composto por auditores e contadores, técnicos em contabilidade e escriturários - e a economia como um todo. Os gráfico mostra visualmente que a crise no mercado de trabalho contábil acompanhou o que estava ocorrendo na economia até meados do ano passado. A partir desta data, enquanto observava uma "recuperação" no mercado de trabalho com um todo, o setor contábil continuava com mais demissões que admissões.
É bem verdade que existem setores com pior desempenho. Um levantamento divulgado no Estado de S Paulo mostra que empregos vinculados a construção civil estão entre os que mais demitiram.
A tabela acima faz um resumo comparativo do que ocorreu. Um dado adicional do desempenho do mercado de trabalho de junho é que o saldo foi positivo entre aqueles com curso superior completo (+35) ou incompleto (+63), mas negativo para os trabalhadores com curso médio completo ou incompleto (-615 e -84, nesta ordem).
O gráfico abaixo mostra a evolução comparativa entre o setor contábil - composto por auditores e contadores, técnicos em contabilidade e escriturários - e a economia como um todo. Os gráfico mostra visualmente que a crise no mercado de trabalho contábil acompanhou o que estava ocorrendo na economia até meados do ano passado. A partir desta data, enquanto observava uma "recuperação" no mercado de trabalho com um todo, o setor contábil continuava com mais demissões que admissões.
É bem verdade que existem setores com pior desempenho. Um levantamento divulgado no Estado de S Paulo mostra que empregos vinculados a construção civil estão entre os que mais demitiram.
A tabela acima faz um resumo comparativo do que ocorreu. Um dado adicional do desempenho do mercado de trabalho de junho é que o saldo foi positivo entre aqueles com curso superior completo (+35) ou incompleto (+63), mas negativo para os trabalhadores com curso médio completo ou incompleto (-615 e -84, nesta ordem).
23 julho 2018
Dono da lua
Afinal, quem pode explorar o satélite, usufruindo os benefícios econômicos? Duas posições:
Países como os Estados Unidos e Luxemburgo (como porta de entrada para a União Européia) concordam que a Lua e asteroides são “bens comuns globais”, o que significa que cada país permite seus empreendedores privados (...) para ir lá e extrair o que podem, para tentar ganhar dinheiro com isso. É um pouco como a lei do alto mar, que não está sob o controle de um país individual, mas está completamente aberta a operações de pesca (...)
Por outro lado, países como a Rússia e um pouco menos explicitamente o Brasil e a Bélgica sustentam que a Lua e os asteroides pertencem à humanidade como um todo. E, portanto, os benefícios potenciais da exploração comercial devem, de alguma forma, advir para a humanidade como um todo (...)
O segundo caso impede que os benefícios sejam apropriados para um país específico. Assim, não seria ativo deste país.
Países como os Estados Unidos e Luxemburgo (como porta de entrada para a União Européia) concordam que a Lua e asteroides são “bens comuns globais”, o que significa que cada país permite seus empreendedores privados (...) para ir lá e extrair o que podem, para tentar ganhar dinheiro com isso. É um pouco como a lei do alto mar, que não está sob o controle de um país individual, mas está completamente aberta a operações de pesca (...)
Por outro lado, países como a Rússia e um pouco menos explicitamente o Brasil e a Bélgica sustentam que a Lua e os asteroides pertencem à humanidade como um todo. E, portanto, os benefícios potenciais da exploração comercial devem, de alguma forma, advir para a humanidade como um todo (...)
O segundo caso impede que os benefícios sejam apropriados para um país específico. Assim, não seria ativo deste país.
Felicidade
No momento que a Universidade de Brasília cria uma disciplina com o nome de Felicidade, uma pesquisa mostra os problemas nas pesquisas relacionadas com o tema.
As descobertas na literatura [sobre felicidade] são altamente dependentes das crenças (...) da felicidade na sociedade ou a função de bem-estar social que se escolhe adotar. Além disso, qualquer conclusão alcançada a partir dessas abordagens paramétricas se baseia no pressuposto de que todos os indivíduos relatam sua felicidade da mesma maneira.
The Sad Truth About Happiness Scales: Empirical Results. Timothy N. Bond e Kevin Lang.
O tema felicidade (fotografia) é bastante abstrato. Há um livro, Dinheiro Feliz, que procura relacionar o tema com finanças pessoais. Muito bom. Aqui um texto sobre sofrimento no futebol.
As descobertas na literatura [sobre felicidade] são altamente dependentes das crenças (...) da felicidade na sociedade ou a função de bem-estar social que se escolhe adotar. Além disso, qualquer conclusão alcançada a partir dessas abordagens paramétricas se baseia no pressuposto de que todos os indivíduos relatam sua felicidade da mesma maneira.
The Sad Truth About Happiness Scales: Empirical Results. Timothy N. Bond e Kevin Lang.
O tema felicidade (fotografia) é bastante abstrato. Há um livro, Dinheiro Feliz, que procura relacionar o tema com finanças pessoais. Muito bom. Aqui um texto sobre sofrimento no futebol.
Foco no Custo
A Ryanair é a maior empresa de aviação da Europa. Com receita de 7 bilhões de euros, obtida com mais de 400 Boeing 737-800. O que torna a empresa interessante é o foco no custo. Ou, como diz a Bloomberg, é a empresa que toda pessoa ama odiar, mas continua usando mesmo assim.
Se o foco é o custo, voar pela Ryanair significa assento não reclinável, sem bolso no banco, colete salva-vida no teto, limpeza rápida entre os voos, entre outras medidas. Mesmo com este foco, a margem operacional da empresa é bastante elevada (acima de 20%) e apresenta lucro (16% de margem líquida). Para conseguir isto, a empresa enfrenta a ira dos consumidores e dos empregados, usa publicidade polêmica (como uma declaração do seu executivo afirmando que a empresa estava pretendendo cobrar pelo uso do banheiro).
(Fotografia: cabine de um avião da empresa, mostrando propaganda no bagageiro)
Se o foco é o custo, voar pela Ryanair significa assento não reclinável, sem bolso no banco, colete salva-vida no teto, limpeza rápida entre os voos, entre outras medidas. Mesmo com este foco, a margem operacional da empresa é bastante elevada (acima de 20%) e apresenta lucro (16% de margem líquida). Para conseguir isto, a empresa enfrenta a ira dos consumidores e dos empregados, usa publicidade polêmica (como uma declaração do seu executivo afirmando que a empresa estava pretendendo cobrar pelo uso do banheiro).
(Fotografia: cabine de um avião da empresa, mostrando propaganda no bagageiro)
Lucro Perdido das Nações
Entre 1985 a 2018, a alíquota de imposto de renda mundial caiu de 49% para 24%. Recentemente, os Estados Unidos reduziram sua alíquota. Parece existir uma guerra tributária para atrair os investimentos das empresas.
As empresas multinacionais estão usando alguns países para fugir dos impostos que deveria arrecadar em outros locais. O problema da Apple, Irlanda e Comunidade Europeia diz respeito a isto. Um dado interessante mostra que a Google teve receita de 19 bilhões de dólares em Bermudas, onde a alíquota para empresa é de zero por cento.
Pelas nossas estimativas, cerca de 40% dos lucros das multinacionais foram artificialmente transferidos para paraísos fiscais em 2015. Essa evasão fiscal maciça - e a incapacidade de contê-la - estão, na verdade, levando cada vez mais países a desistir de tributar empresas multinacionais. O declínio da alíquota do imposto corporativo é o resultado de políticas falhas em países com impostos altos, não um subproduto necessário da globalização.
As empresas multinacionais estão usando alguns países para fugir dos impostos que deveria arrecadar em outros locais. O problema da Apple, Irlanda e Comunidade Europeia diz respeito a isto. Um dado interessante mostra que a Google teve receita de 19 bilhões de dólares em Bermudas, onde a alíquota para empresa é de zero por cento.
Pelas nossas estimativas, cerca de 40% dos lucros das multinacionais foram artificialmente transferidos para paraísos fiscais em 2015. Essa evasão fiscal maciça - e a incapacidade de contê-la - estão, na verdade, levando cada vez mais países a desistir de tributar empresas multinacionais. O declínio da alíquota do imposto corporativo é o resultado de políticas falhas em países com impostos altos, não um subproduto necessário da globalização.
22 julho 2018
Incentivos
As pessoas reagem aos incentivos. Esta talvez seja a lei mais importante da economia (e quem diz isto não é este blogueiro). Um exemplo interessante é citado por Tabarrock e ocorreu nos Estados Unidos.
Em 2017, a Califórnia teve um grande número de incêndios florestais. O governo resolveu contratar empresas para fazer a limpeza do terreno. O pagamento seria feito por tonelada de lixo removido. Este incentivo trouxe reação por parte das empresas contratadas. Uma forma de aumentar o faturamento era escavar lama molhada; em outros casos, as empresas misturaram metal; e em outros casos, a remoção do lixo foi muito maior do que o necessário, removendo a fundação das casas.
Para resolver o problema, um novo programa foi lançado para cobrir os buracos deixados.
Em 2017, a Califórnia teve um grande número de incêndios florestais. O governo resolveu contratar empresas para fazer a limpeza do terreno. O pagamento seria feito por tonelada de lixo removido. Este incentivo trouxe reação por parte das empresas contratadas. Uma forma de aumentar o faturamento era escavar lama molhada; em outros casos, as empresas misturaram metal; e em outros casos, a remoção do lixo foi muito maior do que o necessário, removendo a fundação das casas.
Para resolver o problema, um novo programa foi lançado para cobrir os buracos deixados.
21 julho 2018
História da Contabilidade: Criação do Erário
Em 1808, quando a Família Real chegou ao Brasil, o rei de Portugal decidiu criar o Erário Régio. No ato de criação adotou-se o método das partidas dobradas, conforme o texto abaixo:
Conforme o texto (fiz aqui uma junção da página 2 com a 3, para facilitar a leitura), o método das partidas dobradas deveria ser adotado, por ser seguido pelas "nações mais civilizadas" (isto chama-se efeito demonstração), pela facilidade de uso, clareza, menor possibilidade de erros e por evitar subterfúgios e fraudes.
Já sabemos que efetivamente as partidas dobradas foram adotadas no país um século depois. Para alegria dos fraudadores e prevaricadores. Que, por sinal, não desapareceram.
Conforme o texto (fiz aqui uma junção da página 2 com a 3, para facilitar a leitura), o método das partidas dobradas deveria ser adotado, por ser seguido pelas "nações mais civilizadas" (isto chama-se efeito demonstração), pela facilidade de uso, clareza, menor possibilidade de erros e por evitar subterfúgios e fraudes.
Já sabemos que efetivamente as partidas dobradas foram adotadas no país um século depois. Para alegria dos fraudadores e prevaricadores. Que, por sinal, não desapareceram.
Rir é o melhor remédio
Enquanto isto, na internet:
Sorte
Namorando nos tempos atuais
Esporte realmente radical
Política de Privacidade
Diferença entre uma tese e um parecer jurídico
Sorte
Namorando nos tempos atuais
Esporte realmente radical
Política de Privacidade
Diferença entre uma tese e um parecer jurídico
20 julho 2018
Saiu
A Editora ATLAS tem o prazer de comunicar a publicação da obra:
Silva / Rodrigues-Curso Prático de Contabilidade - Analítico e Didático / 2|2018 [4217994 / 978-85-970-1770-0]
Preço capa: R$ 168,00 / Quantidade de páginas: 600
Crime
Do mesmo modo, entendemos que a corrupção é adquirida pelo hábito de praticar atos ilícitos, pela pretensão de obter vantagem em tudo e saber que a punição, em grande parte dos casos, pode ser branda. Neste sentido, estudos apontam que, de certo modo, o crime compensa. Ao que parece, o fator decisivo na escolha pela prática do crime não é a probabilidade de que o criminoso não seja capturado, mas a severidade da punição que irá, ou não, receber.
Zumir Breda, presidente do CFC.
No dia 23 de agosto o programa de pós-graduação terá a defesa de doutorado de Mariana Bonfim. Sobre honestidade e influência do grupo. A questão da probabilidade está na raiz da teoria do economista Gary Becker. A questão do hábito não tem sido considerada, de forma forte, na teoria, ao contrário da citação. E afirmar que o crime compensa certamente é assustador, para um presidente do CFC.
Finalmente, a questão da severidade da punição é muito, muito questionável. Dan Ariely e cia possuem pesquisas interessantes na área que não podem ser esquecidas. Bonfim avança no sentido de considerar a influência do grupo.
Zumir Breda, presidente do CFC.
No dia 23 de agosto o programa de pós-graduação terá a defesa de doutorado de Mariana Bonfim. Sobre honestidade e influência do grupo. A questão da probabilidade está na raiz da teoria do economista Gary Becker. A questão do hábito não tem sido considerada, de forma forte, na teoria, ao contrário da citação. E afirmar que o crime compensa certamente é assustador, para um presidente do CFC.
Finalmente, a questão da severidade da punição é muito, muito questionável. Dan Ariely e cia possuem pesquisas interessantes na área que não podem ser esquecidas. Bonfim avança no sentido de considerar a influência do grupo.
Solução para as Big Four
Quando ocorreu a queda da Enron, os reguladores adotaram algumas medidas para evitar que outro desastre envolvendo a manipulação de dados contábeis ocorresse na mesma proporção. Junto com a Enron, encerrou-se as atividades da sua empresa de auditoria, que deveria cuidar para que as informações refletissem a realidade. Fundada no início do século XX, a Arthur Andersen era uma das maiores empresas de contabilidade do mundo, antes da sua falência.
A crise provocada pela Enron trouxe, como reação, a aprovação da Sarbox nos Estados Unidos. Alguns dos instrumentos criados naquele país foram copiados, em menor ou maior grau, por diversos países do mundo. Apesar da tentativa de consertar o negócio de auditoria, as mudanças ocorridas após a falência da Enron parecem não ter resolvido o problema. Nos últimos anos são diversos os casos de problemas com empresas que os auditores cometeram erros. Em um deles, quase um país declarou falência.
Recentemente, os problemas de uma grande empresa inglesa chamaram a atenção dos órgãos reguladores. Uma das sugestões era simplesmente quebrar o atual oligopólio exercido pelas grandes empresas de auditoria. O setor de auditoria contava, em 1989, com oito grandes empresas. Após 2002, com a falência da Enron e um movimento de fusão e aquisição do setor, sobraram quatro grandes, as Big Four: EY, KPMG, Deloitte e PwC. Juntas, estas empresas possuem uma receita total de 134 bilhões de dólares. Isto corresponde a receita de duas Petrobrás.
Pense em uma grande empresa? Provavelmente sua auditoria é feita por uma das quatro grandes empresas de auditoria. Na Inglaterra, 99 de 100 empresas que compõe o índice FTSE das maiores na bolsa tiveram seu relatório assinado por uma das quatro empresas.
Além dos problemas de qualidade, a existência de quatro grandes empresas de auditoria pode provocar algumas situações práticas constrangedoras. Recentemente o ex-primeiro-ministro da Malásia foi preso em razão de denúncias de desvio de dinheiro de um fundo de investimento daquele país. Durante anos, o fundo foi auditado em 2010 pela EY, pela KPMG entre 2010 e 2012 e pela Deloitte até 2016. Para ajudar na apuração dos problemas e diante da necessidade de ter o respaldo de uma empresa de auditoria de renome, ao atual governo da Malásia restou nomear a empresa que faltava: PwC.
Para tentar resolver os problemas do setor, usualmente são apresentadas cinco possíveis estratégias: restringir a atuação das empresas em consultoria, quebrar o monopólio, modificar o processo de auditoria, alterar a forma como as empresas são remuneradas ou expandir a atuação dos reguladores.
Consultoria - O fato da empresa de auditoria também fazer serviços de consultoria tem sido apontado como uma das razões para alguns dos problemas encontrados em trabalhos de baixa qualidade. Recentemente, uma filial da KPMG em Dubai auditou a Abraaj. O problema é que alguns executivos da Abraaj trabalharam na KPMG também e isto pode ter comprometido a independência do trabalho do auditor. Tem sido bastante comum que o interesse do auditor se voltar para outras tarefas e atitudes, como ocorreu em Dubai, que podem criar conflitos de interesses. Quando os Estados Unidos aprovaram a Sarbox em 2002, os auditores foram proibidos de fazerem alguns tipos de serviços a seus clientes; também exigiu-se que divulgasse o valor pagos aos auditores. Até então, os serviços de “não auditoria” representavam as maiores receitas das Big Four. Nos Estados Unidos o sucesso foi parcial: inicialmente as receitas diminuíram para 40%, mas em 2017 já estava em 70%. Agora as empresas prestam consultorias onde não auditam. Ou seja, as empresas encontraram maneiras de driblar as proibições.
Existem controvérsias se existe relação entre a qualidade da auditoria e o trabalho de consultoria. Algumas pesquisas parecem não serem conclusivas sobre esta relação. Recentemente, um editorial da Bloomberg sugeriu esperar um pouco mais para verificar se as medidas que foram tomadas no passado estão funcionando.
Alguns casos envolvendo as Big Four parecem indicar que a mistura dos negócios de consultoria com a atividade de auditoria pode não ser interessante. Seria realmente necessário uma investigação mais aprofundada sobre o assunto, para que nossas conclusões não fossem baseadas em somente em alguns casos, mas em uma evidência mais concreta. Mas o fato de não termos um consenso sobre o assunto pode não justificar uma atitude passiva, como defende a Bloomberg.
Quebrar o oligopólio - Após a falência da Carillon na Inglaterra, os políticos sugeriram quebrar o oligopólio das Big Four como uma solução para os problemas da auditoria. O exemplo evocado é da empresa Standard Oil, que foi considerada um monopólio pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1911.
O Financial Reporting Council, a entidade reguladora do Reino Unido, questionou a qualidade do trabalho recente da KPMG e considerou que o declínio da qualidade do trabalho era inaceitável. A resposta seria trazer mais concorrência para o setor, que pode incluir não somente a divisão das atuais Big Four, como a obrigação de redução do número de clientes, o que poderia fortalecer as empresas menores. A Bloomberg acredita que isto pode prejudicar a qualidade dos trabalhos realizados. A EY está se especializando no setor financeiro. Forçar a empresa a deixar alguns clientes pode reduzir os incentivos da EY em promover especialistas no setor. Trata-se de um fator chamado de economia de escala na contabilidade de custos. Para Bloomberg, a solução estaria na separação dos serviços de consultoria, ou seja, o item anterior deste texto.
A Deloitte chegou a afirmar que a tentativa de quebrar o oligopólio poderia ser um tiro no pé do Reino Unido. Para a Deloitte, isto poderia prejudicar a posição como centro financeiro global.
Processo de auditoria - Uma tentativa de corrigir do problema seria através da modificação do processo de auditoria. Esta tem sido uma tentativa de solução adotada recentemente e podemos citar a modificação do formato do relatório e o rodízio dos auditores como exemplos. Recentemente, um grupo de acionistas protestou contra a renovação do contrato da KPMG na General Electric. Além do fato da empresa não ter notado problemas contábeis em algumas unidades do conglomerado, os acionistas estavam incomodados com a presença centenária da Big Four na revisão das contas da empresa. Mesmo diante dos protestos, a GE manteve o contrato com a KPMG.
O rodízio foi uma das mudanças promovidas recentementes no mercado de auditoria. Em alguns países, o rodízio significa apenas alterar o técnico responsável pelo trabalho. Em outros, deve-se contratar outra empresa de auditoria ao término de um determinado prazo. Entretanto, esta medida enfrentou uma forte oposição, inclusive de entidades de classe, como é o caso do Conselho Federal de Contabilidade.
Recentemente, as empresas de passaram a adotar um novo parecer, agora com o nome mais pomposo de relatório. Neste relatório, o auditor deveria indicar os temas que trouxeram maior preocupação na análise das informações contábeis da empresa. Esta pode ser uma solução interessante, mas mais informação nem sempre significa melhor decisão. Além disto, o atual relatório aparenta ser muito mais complexo e chato de ser lido pelo usuário, induzindo a direcionar sua leitura para a linha mais relevante, que define se a informação expressa ou não a realidade.
Ainda é muito cedo para termos um estudo mais profundo sobre a influência destas medidas na qualidade do que está sendo realizado. Entretanto, a oposição forte ao rodízio por parte das Big Four pode ser um sinal positivo de que esta medida pode ajudar na qualidade do trabalho do auditor no longo prazo.
Pagamento - O trabalho do auditor é contratado e pago pela empresa que irá ser auditada. Não é um “desenho” que resolva alguns dos conflitos de interesse entre que está pagamento e quem está fazendo o serviço. Esta mudança seria radical e poderia contemplar a possibilidade da empresa ser contratada pela entidade que faz a fiscalização do mercado de capitais. Assim, o auditor estaria trabalhando para o regulador, não para a empresa auditada.
Outra solução, considerada como elegante pela The Economist, é forçar as empresas a fazerem um seguro contra fraude. A empresa seguradora ficaria com o ônus dos processos legais e seria responsável por fazer a inspeção da informação divulgada. Se uma Petrobras divulgasse informações falsas sobre seu desempenho, como ocorreu nos exercícios sociais recentes, a seguradora deveria efetuar o pagamento dos acionistas que foram enganados pela empresa.
Esta solução permitiria alinhar os objetivos da seguradora com dos acionistas (minoritários, principalmente), dos reguladores e outros interessados. A seguradora teria o interesse de fazer com que a informação divulgada refletisse fielmente a realidade. Atualmente, é muito comum que a Big Four escape de uma maior responsabilização, alegando não ser sua tarefa. A PwC não observou problemas na contabilidade do Colonial Bancgroup, pois seu auditor aparentemente não verificou “um único documento de empréstimo”; o auditor-chefe da PwC afirmou que auditorias não foram projetadas para detectar fraudes.
Regulador - Antes do escândalo da Enron, o setor de auditoria era autorregulado. Isto significa dizer que a ameaça de perda de reputação seria suficiente para colocar nos eixos as empresas. Com a criação do PCAOB nos Estados Unidos e entidades similares em outros países, o regulador ganhou mais força para punir os auditores ruins. Apesar da contabilidade ser um profissão com poucos charlatães, parece que a solução de empoderar o regulador é algo natural. Recentemente, o FRC do Reino Unido decidiu aumentar a fiscalização da KPMG em razão do seu fracasso na Carillion.
Uma forma de atuar tem sido aumentar o valor pecuniário das multas ou tornar a punição mais expressiva. Em um processo contra a Deloitte, uma multa de 25 mil dólares foi considerada insignificante. Mas agora, em um processo sobre a falência de Colonial Bank, no Alabama, a juíza Barbara Rothstein fixou uma indenização de 625 milhões de dólares, naquilo que foi considerado por Francine McKenna, do MarketWatch, como o maior julgamento dos Estados Unidos contra um auditor.
Atuar no bolso das Big Four tem um grande problema. Uma multa muito elevada pode colocar em risco a continuidade de uma destas entidades, tornando o mercado ainda mais concentrado. Jim Peterson, um adversário de longa data das Big Four, calculou um ponto de inflexão entre 4 e 6 bilhões de dólares em termos globais e entre 1 a 3 bilhões para as empresas nos EUA. Isto significa que a multa recentemente estipulada aproxima-se do ponto em que coloca em risco da sobrevivência do auditor.
Mas talvez empoderar o regulador não seja a solução. O “poderoso” PCAOB descobriu isto ao constatar que os auditores estavam alterando a documentação antes da inspeção. Mais grave ainda, recentemente se descobriu que ex-funcionários do regulador foram contratados pela KPMG, tendo repassado informações sobre a fiscalização da KPMG. Mais ainda, empregados da KPMG estariam recebendo bônus se seu trabalho não recebessem críticas por parte do PCAOB.
Existe solução possível? - Qualquer que seja a solução, é necessário reconhecer o grande poder que as Big Four possuem. A tal ponto, que a Deloitte criou um grupo para espionar seus concorrentes. Um artigo do mostra como estas empresas dominam não somente o mercado de auditoria, mas possuem presença nos governos, incluindo os reguladores. Seus ex-funcionários controlam os padrões internacionais (e nacionais) de contabilidade. Afinal, as regras promulgadas e a promoção da convergência são assuntos que lhe interessam. E são os maiores contribuintes para que o Iasb, a entidade que cuida das normas internacionais de contabilidade, possa trabalhar. Entre os serviços prestados pelas Big Four estão alguns dos produtos financeiros que provocaram a crise internacional bancária recente.
Não espanta saber que estas empresas promoveram um forte lobby contra o PCAOB, conforme denúncia feita pela Reuters.
A favor dos auditores é bom lembrar dois aspectos relevantes. Em primeiro lugar, é muito difícil mensurar a qualidade do trabalho do auditor (figura). Geralmente sabemos quando a auditoria assinou um relatório sem destaque e a empresa teve problemas, mas não conhecemos quantas vezes a auditoria conseguiu prevenir desastres. Em segundo, nos últimos anos os reguladores contábeis lançaram normas que exigem cada vez mais avaliações subjetivas dos contadores e auditores. Estas normas dependem, em muito, da honestidade da gestão da empresa, o que faz com que o trabalho do auditor seja cada vez mais incerto e difícil de ser feito. A volta a normas mais objetivas poderia ser uma possível solução, mas seria possível no atual ambiente econômico?
Talvez a solução não esteja em “uma” solução, mas em um grupo de soluções. Apesar das restrições a quebra do oligopólio, é inevitável pensar nisto. Ainda mais quando sabemos que existem bons profissionais fora do latifúndio das Big Four.
A crise provocada pela Enron trouxe, como reação, a aprovação da Sarbox nos Estados Unidos. Alguns dos instrumentos criados naquele país foram copiados, em menor ou maior grau, por diversos países do mundo. Apesar da tentativa de consertar o negócio de auditoria, as mudanças ocorridas após a falência da Enron parecem não ter resolvido o problema. Nos últimos anos são diversos os casos de problemas com empresas que os auditores cometeram erros. Em um deles, quase um país declarou falência.
Recentemente, os problemas de uma grande empresa inglesa chamaram a atenção dos órgãos reguladores. Uma das sugestões era simplesmente quebrar o atual oligopólio exercido pelas grandes empresas de auditoria. O setor de auditoria contava, em 1989, com oito grandes empresas. Após 2002, com a falência da Enron e um movimento de fusão e aquisição do setor, sobraram quatro grandes, as Big Four: EY, KPMG, Deloitte e PwC. Juntas, estas empresas possuem uma receita total de 134 bilhões de dólares. Isto corresponde a receita de duas Petrobrás.
Pense em uma grande empresa? Provavelmente sua auditoria é feita por uma das quatro grandes empresas de auditoria. Na Inglaterra, 99 de 100 empresas que compõe o índice FTSE das maiores na bolsa tiveram seu relatório assinado por uma das quatro empresas.
Além dos problemas de qualidade, a existência de quatro grandes empresas de auditoria pode provocar algumas situações práticas constrangedoras. Recentemente o ex-primeiro-ministro da Malásia foi preso em razão de denúncias de desvio de dinheiro de um fundo de investimento daquele país. Durante anos, o fundo foi auditado em 2010 pela EY, pela KPMG entre 2010 e 2012 e pela Deloitte até 2016. Para ajudar na apuração dos problemas e diante da necessidade de ter o respaldo de uma empresa de auditoria de renome, ao atual governo da Malásia restou nomear a empresa que faltava: PwC.
Para tentar resolver os problemas do setor, usualmente são apresentadas cinco possíveis estratégias: restringir a atuação das empresas em consultoria, quebrar o monopólio, modificar o processo de auditoria, alterar a forma como as empresas são remuneradas ou expandir a atuação dos reguladores.
Consultoria - O fato da empresa de auditoria também fazer serviços de consultoria tem sido apontado como uma das razões para alguns dos problemas encontrados em trabalhos de baixa qualidade. Recentemente, uma filial da KPMG em Dubai auditou a Abraaj. O problema é que alguns executivos da Abraaj trabalharam na KPMG também e isto pode ter comprometido a independência do trabalho do auditor. Tem sido bastante comum que o interesse do auditor se voltar para outras tarefas e atitudes, como ocorreu em Dubai, que podem criar conflitos de interesses. Quando os Estados Unidos aprovaram a Sarbox em 2002, os auditores foram proibidos de fazerem alguns tipos de serviços a seus clientes; também exigiu-se que divulgasse o valor pagos aos auditores. Até então, os serviços de “não auditoria” representavam as maiores receitas das Big Four. Nos Estados Unidos o sucesso foi parcial: inicialmente as receitas diminuíram para 40%, mas em 2017 já estava em 70%. Agora as empresas prestam consultorias onde não auditam. Ou seja, as empresas encontraram maneiras de driblar as proibições.
Existem controvérsias se existe relação entre a qualidade da auditoria e o trabalho de consultoria. Algumas pesquisas parecem não serem conclusivas sobre esta relação. Recentemente, um editorial da Bloomberg sugeriu esperar um pouco mais para verificar se as medidas que foram tomadas no passado estão funcionando.
Alguns casos envolvendo as Big Four parecem indicar que a mistura dos negócios de consultoria com a atividade de auditoria pode não ser interessante. Seria realmente necessário uma investigação mais aprofundada sobre o assunto, para que nossas conclusões não fossem baseadas em somente em alguns casos, mas em uma evidência mais concreta. Mas o fato de não termos um consenso sobre o assunto pode não justificar uma atitude passiva, como defende a Bloomberg.
Quebrar o oligopólio - Após a falência da Carillon na Inglaterra, os políticos sugeriram quebrar o oligopólio das Big Four como uma solução para os problemas da auditoria. O exemplo evocado é da empresa Standard Oil, que foi considerada um monopólio pela Suprema Corte dos Estados Unidos em 1911.
O Financial Reporting Council, a entidade reguladora do Reino Unido, questionou a qualidade do trabalho recente da KPMG e considerou que o declínio da qualidade do trabalho era inaceitável. A resposta seria trazer mais concorrência para o setor, que pode incluir não somente a divisão das atuais Big Four, como a obrigação de redução do número de clientes, o que poderia fortalecer as empresas menores. A Bloomberg acredita que isto pode prejudicar a qualidade dos trabalhos realizados. A EY está se especializando no setor financeiro. Forçar a empresa a deixar alguns clientes pode reduzir os incentivos da EY em promover especialistas no setor. Trata-se de um fator chamado de economia de escala na contabilidade de custos. Para Bloomberg, a solução estaria na separação dos serviços de consultoria, ou seja, o item anterior deste texto.
A Deloitte chegou a afirmar que a tentativa de quebrar o oligopólio poderia ser um tiro no pé do Reino Unido. Para a Deloitte, isto poderia prejudicar a posição como centro financeiro global.
Processo de auditoria - Uma tentativa de corrigir do problema seria através da modificação do processo de auditoria. Esta tem sido uma tentativa de solução adotada recentemente e podemos citar a modificação do formato do relatório e o rodízio dos auditores como exemplos. Recentemente, um grupo de acionistas protestou contra a renovação do contrato da KPMG na General Electric. Além do fato da empresa não ter notado problemas contábeis em algumas unidades do conglomerado, os acionistas estavam incomodados com a presença centenária da Big Four na revisão das contas da empresa. Mesmo diante dos protestos, a GE manteve o contrato com a KPMG.
O rodízio foi uma das mudanças promovidas recentementes no mercado de auditoria. Em alguns países, o rodízio significa apenas alterar o técnico responsável pelo trabalho. Em outros, deve-se contratar outra empresa de auditoria ao término de um determinado prazo. Entretanto, esta medida enfrentou uma forte oposição, inclusive de entidades de classe, como é o caso do Conselho Federal de Contabilidade.
Recentemente, as empresas de passaram a adotar um novo parecer, agora com o nome mais pomposo de relatório. Neste relatório, o auditor deveria indicar os temas que trouxeram maior preocupação na análise das informações contábeis da empresa. Esta pode ser uma solução interessante, mas mais informação nem sempre significa melhor decisão. Além disto, o atual relatório aparenta ser muito mais complexo e chato de ser lido pelo usuário, induzindo a direcionar sua leitura para a linha mais relevante, que define se a informação expressa ou não a realidade.
Ainda é muito cedo para termos um estudo mais profundo sobre a influência destas medidas na qualidade do que está sendo realizado. Entretanto, a oposição forte ao rodízio por parte das Big Four pode ser um sinal positivo de que esta medida pode ajudar na qualidade do trabalho do auditor no longo prazo.
Pagamento - O trabalho do auditor é contratado e pago pela empresa que irá ser auditada. Não é um “desenho” que resolva alguns dos conflitos de interesse entre que está pagamento e quem está fazendo o serviço. Esta mudança seria radical e poderia contemplar a possibilidade da empresa ser contratada pela entidade que faz a fiscalização do mercado de capitais. Assim, o auditor estaria trabalhando para o regulador, não para a empresa auditada.
Outra solução, considerada como elegante pela The Economist, é forçar as empresas a fazerem um seguro contra fraude. A empresa seguradora ficaria com o ônus dos processos legais e seria responsável por fazer a inspeção da informação divulgada. Se uma Petrobras divulgasse informações falsas sobre seu desempenho, como ocorreu nos exercícios sociais recentes, a seguradora deveria efetuar o pagamento dos acionistas que foram enganados pela empresa.
Esta solução permitiria alinhar os objetivos da seguradora com dos acionistas (minoritários, principalmente), dos reguladores e outros interessados. A seguradora teria o interesse de fazer com que a informação divulgada refletisse fielmente a realidade. Atualmente, é muito comum que a Big Four escape de uma maior responsabilização, alegando não ser sua tarefa. A PwC não observou problemas na contabilidade do Colonial Bancgroup, pois seu auditor aparentemente não verificou “um único documento de empréstimo”; o auditor-chefe da PwC afirmou que auditorias não foram projetadas para detectar fraudes.
Regulador - Antes do escândalo da Enron, o setor de auditoria era autorregulado. Isto significa dizer que a ameaça de perda de reputação seria suficiente para colocar nos eixos as empresas. Com a criação do PCAOB nos Estados Unidos e entidades similares em outros países, o regulador ganhou mais força para punir os auditores ruins. Apesar da contabilidade ser um profissão com poucos charlatães, parece que a solução de empoderar o regulador é algo natural. Recentemente, o FRC do Reino Unido decidiu aumentar a fiscalização da KPMG em razão do seu fracasso na Carillion.
Uma forma de atuar tem sido aumentar o valor pecuniário das multas ou tornar a punição mais expressiva. Em um processo contra a Deloitte, uma multa de 25 mil dólares foi considerada insignificante. Mas agora, em um processo sobre a falência de Colonial Bank, no Alabama, a juíza Barbara Rothstein fixou uma indenização de 625 milhões de dólares, naquilo que foi considerado por Francine McKenna, do MarketWatch, como o maior julgamento dos Estados Unidos contra um auditor.
Atuar no bolso das Big Four tem um grande problema. Uma multa muito elevada pode colocar em risco a continuidade de uma destas entidades, tornando o mercado ainda mais concentrado. Jim Peterson, um adversário de longa data das Big Four, calculou um ponto de inflexão entre 4 e 6 bilhões de dólares em termos globais e entre 1 a 3 bilhões para as empresas nos EUA. Isto significa que a multa recentemente estipulada aproxima-se do ponto em que coloca em risco da sobrevivência do auditor.
Mas talvez empoderar o regulador não seja a solução. O “poderoso” PCAOB descobriu isto ao constatar que os auditores estavam alterando a documentação antes da inspeção. Mais grave ainda, recentemente se descobriu que ex-funcionários do regulador foram contratados pela KPMG, tendo repassado informações sobre a fiscalização da KPMG. Mais ainda, empregados da KPMG estariam recebendo bônus se seu trabalho não recebessem críticas por parte do PCAOB.
Existe solução possível? - Qualquer que seja a solução, é necessário reconhecer o grande poder que as Big Four possuem. A tal ponto, que a Deloitte criou um grupo para espionar seus concorrentes. Um artigo do mostra como estas empresas dominam não somente o mercado de auditoria, mas possuem presença nos governos, incluindo os reguladores. Seus ex-funcionários controlam os padrões internacionais (e nacionais) de contabilidade. Afinal, as regras promulgadas e a promoção da convergência são assuntos que lhe interessam. E são os maiores contribuintes para que o Iasb, a entidade que cuida das normas internacionais de contabilidade, possa trabalhar. Entre os serviços prestados pelas Big Four estão alguns dos produtos financeiros que provocaram a crise internacional bancária recente.
Não espanta saber que estas empresas promoveram um forte lobby contra o PCAOB, conforme denúncia feita pela Reuters.
A favor dos auditores é bom lembrar dois aspectos relevantes. Em primeiro lugar, é muito difícil mensurar a qualidade do trabalho do auditor (figura). Geralmente sabemos quando a auditoria assinou um relatório sem destaque e a empresa teve problemas, mas não conhecemos quantas vezes a auditoria conseguiu prevenir desastres. Em segundo, nos últimos anos os reguladores contábeis lançaram normas que exigem cada vez mais avaliações subjetivas dos contadores e auditores. Estas normas dependem, em muito, da honestidade da gestão da empresa, o que faz com que o trabalho do auditor seja cada vez mais incerto e difícil de ser feito. A volta a normas mais objetivas poderia ser uma possível solução, mas seria possível no atual ambiente econômico?
Talvez a solução não esteja em “uma” solução, mas em um grupo de soluções. Apesar das restrições a quebra do oligopólio, é inevitável pensar nisto. Ainda mais quando sabemos que existem bons profissionais fora do latifúndio das Big Four.
19 julho 2018
Custo Perdido
Não devemos levar com consideração o custo perdido (foto). Mas na prática, isto se aplica a situações corriqueiras, que não estão necessariamente vinculadas as decisões financeiras. Assim, continuamos assistindo um filme chato no cinema, pois pagamos o ingresso e achamos loucura quando um estudante abandona um curso faltando um semestre para terminar, mesmo que ele tenha certeza que não gosta da profissão.
Olivola stumbled onto this line of inquiry during his doctoral dissertation research, which explored the quirky fact that people donate far more money for charitable causes when the person soliciting them is also taking on some kind of arduous challenge, like running a marathon or dunking a bucket of ice water on their head.
Uma pesquisa descobriu algo surpreendente: a falácia do custo perdido parece ser válida para os ratos. Mas que pessoas com autismo (ASD), o efeito é menor.
Olivola stumbled onto this line of inquiry during his doctoral dissertation research, which explored the quirky fact that people donate far more money for charitable causes when the person soliciting them is also taking on some kind of arduous challenge, like running a marathon or dunking a bucket of ice water on their head.
Uma pesquisa descobriu algo surpreendente: a falácia do custo perdido parece ser válida para os ratos. Mas que pessoas com autismo (ASD), o efeito é menor.
Previsão para o vencedor da Copa
Cinco grandes bancos fizeram projeção sobre o vencedor da Copa do Mundo. Dois escolheram a Espanha, um a Alemanha e outro o Brasil. O Nomura arriscou a França ou Espanha. Existem questões comportamentais neste palpite, mesmo que alguns modelos usassem aprendizado de máquina.As projeções do Lloyd´s e do Transfermarket. Mas seguramente ninguém esperava pela Croácia. Em março as apostas colocavam a França em terceiro lugar.
O importante destacar é que o país com maior chance, segundo os modelos, o percentual era abaixo de 20%. Ou seja, uma probabilidade muito reduzida.
Anteriormente mostramos que um torneio estilo "Copa" tem muito mais chance de chegar a um azarão como vencedor (ou finalista). Além disto, o futebol é o esporte com menor chance do favorito ganhar.
O importante destacar é que o país com maior chance, segundo os modelos, o percentual era abaixo de 20%. Ou seja, uma probabilidade muito reduzida.
Anteriormente mostramos que um torneio estilo "Copa" tem muito mais chance de chegar a um azarão como vencedor (ou finalista). Além disto, o futebol é o esporte com menor chance do favorito ganhar.
Férias para o Fisco
Alguém no Brasil pensou nisto? A entidade de classe portuguesa pensou:
A Ordem dos Contabilistas (OCC) quer que a máquina fiscal entre de férias quando os portugueses, ou a maioria deles, também está de férias, e, para isso, quer que o Governo suspenda prazos e obrigações declarativas. Durante determinado período, haverá, se a proposta for aceite, uma suspensão automática durante a qual os prazos de notificação se suspendem e não se entregam declarações, para garantir que os contribuintes e os contabilistas têm direito ao descanso sem correrem o risco de infração.
A Ordem dos Contabilistas (OCC) quer que a máquina fiscal entre de férias quando os portugueses, ou a maioria deles, também está de férias, e, para isso, quer que o Governo suspenda prazos e obrigações declarativas. Durante determinado período, haverá, se a proposta for aceite, uma suspensão automática durante a qual os prazos de notificação se suspendem e não se entregam declarações, para garantir que os contribuintes e os contabilistas têm direito ao descanso sem correrem o risco de infração.
Samsonite e o doutorado inexistente
A Samsonite é mundialmente conhecida como fabricante de malas. Fundada em 1910, o nome é originário do personagem bíblico Sansão (Samson, em inglês). A empresa familiar foi vendida em 1973, tendo passado por várias mudanças de controle. Recentemente, a empresa fez uma oferta pública de ações em Hong Kong.
Recentemente, a Samsonite foi abalada por dois escândalos. O primeiro, uma acusação de práticas contábeis duvidosas feita por um fundo de investimento. O segundo refere-se ao ex-principal executivo da empresa, que deixou o cargo depois de aparecerem denúncias de divulgar um currículo falso, que incluía um doutorado que não fez. Ramesh Tainwala (foto) era o principal executivo da empresa desde 2011. Em muitos documentos, era tratado como "Dr. Ramesh Tainwala", mas uma investigação, incluindo na instituição de ensino onde Tainwala teria obtido o título, mostrou que isto não era verdade.
Recentemente, a Samsonite foi abalada por dois escândalos. O primeiro, uma acusação de práticas contábeis duvidosas feita por um fundo de investimento. O segundo refere-se ao ex-principal executivo da empresa, que deixou o cargo depois de aparecerem denúncias de divulgar um currículo falso, que incluía um doutorado que não fez. Ramesh Tainwala (foto) era o principal executivo da empresa desde 2011. Em muitos documentos, era tratado como "Dr. Ramesh Tainwala", mas uma investigação, incluindo na instituição de ensino onde Tainwala teria obtido o título, mostrou que isto não era verdade.
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