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Mostrando postagens com marcador honestidade. Mostrar todas as postagens
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27 janeiro 2019

Uma pesquisa comportamental sob suspeita

Um dos mais famosos experimentos das finanças comportamentais está sob questionamento. Em 2008, Amir, Mazar e Ariely publicaram um estudo sobre resolução de matrizes. Foi dado a algumas pessoas, um conjunto de números e solicitado que respondessem quantos problemas eles resolveram. Os pesquisadores não controlaram se a informação era correta ou não. A pesquisa estava focada na honestidade das pessoas.

Os pesquisadores dividiram as pessoas em grupos. Para um grupo, solicitou que lessem os dez mandamentos. Para outro, uma listagem de livros que leram. O primeiro grupo indicaram um número de resoluções menor do que aqueles que fizeram a outra tarefa. Assim, a leitura dos dez mandamentos seria um “lembrete” mental para que as pessoas fossem honestas. Isto realmente era interessante e revolucionário sobre o assunto.

Este talvez seja o principal mote do livro de Ariely sobre desonestidade. Muitos anos depois e com várias pesquisas realizadas reproduzindo o tema, um grupo de pesquisadores reuniu estas pesquisas e ... não encontrou nada. Os resultados (figura abaixo) mostram que os efeitos da leitura dos dez mandamentos, se existirem, estão no sentido oposto.

Amir, Mazar e Ariely fizeram uma réplica as críticas recebidas. A réplica não convenceu a Jason Collins e a Andrew

20 julho 2018

Crime

Do mesmo modo, entendemos que a corrupção é adquirida pelo hábito de praticar atos ilícitos, pela pretensão de obter vantagem em tudo e saber que a punição, em grande parte dos casos, pode ser branda. Neste sentido, estudos apontam que, de certo modo, o crime compensa. Ao que parece, o fator decisivo na escolha pela prática do crime não é a probabilidade de que o criminoso não seja capturado, mas a severidade da punição que irá, ou não, receber.

Zumir Breda, presidente do CFC. 

No dia 23 de agosto o programa de pós-graduação terá a defesa de doutorado de Mariana Bonfim. Sobre honestidade e influência do grupo. A questão da probabilidade está na raiz da teoria do economista Gary Becker. A questão do hábito não tem sido considerada, de forma forte, na teoria, ao contrário da citação. E afirmar que o crime compensa certamente é assustador, para um presidente do CFC.

Finalmente, a questão da severidade da punição é muito, muito questionável. Dan Ariely e cia possuem pesquisas interessantes na área que não podem ser esquecidas. Bonfim avança no sentido de considerar a influência do grupo.

13 fevereiro 2015

Honestidade: Homem versus Mulher

A discussão sobre a honestidade nos últimos anos tem saído do campo da ética e com a utilização de base de dados com técnicas estatísticas algumas pesquisas criativas estão esclarecendo muito sobre este assunto. Duggan e Levitt em 2002 publicaram um artigo no principal periódico de economia do mundo onde mostraram que mesmo numa cultura considerada moralmente superior existe corrupção. Usando dados da luta de sumô estes pesquisadores mostraram que diversas lutas apresentaram resultados combinados. Este artigo foi extensamente discutido na série Freakonomics. O importante desta pesquisa foi mostrar que o problema com a falta de honestidade ocorre em todo o mundo, não somente nos países pobres. Assim, não acredite quando alguém diz que um comportamento desonesto não ocorre no Japão ou na Suécia.

Mais recentemente o assunto rendeu um tipo diferente de pesquisa, conduzida por Dan Ariely. Ariely mostrou que a honestidade e a sua falta dependem de uma série de circunstâncias, algumas delas que não podem ser explicadas por um modelo econômico de racionalidade. As pessoas são mais desonestas conforme a inexistência de “trancas” nas portas onde o delito ocorre. Numa experiência agora famosa, Ariely aplicou um teste para diversos alunos; para um grupo permitiu que cada individuo corrigisse sua prova, informasse a nota, recebesse um prêmio proporcional a nota, sem nenhum tipo de verificação, já que a prova era picotada antes da entrega da nota. A nota deste grupo era superior aos demais, indicando que existia desonestidade no comportamento. O interessante é que era uma “pequena” desonestidade.

Uma pesquisa recente seguiu a trilha de Duggan e Levitt usando agora dados do tênis. A grande vantagem desta pesquisa é que o tênis é um esporte praticado separadamente por homens e mulheres. Assim, o resultado dos dois grupos pode ser comparado para verificar quem é mais desonesto.

Jetter e Walker analisaram o circuito profissional de tênis em mais de 300 mil partidas. Os jogadores de tênis são classificados conforme o número de pontos conquistados no último ano. Os melhores, como Nadal, Williams ou Federer, conquistam muitos pontos pois participam e possuem bom resultados nos principais torneios. Existem quatro grandes torneios que além de distribuírem uma grande quantidade de pontos para quem participa e tem bom desempenho também remunera muito bem os jogadores. Um jogador de tênis pode ganhar mais de 30% do dinheiro anual num destes quatro torneios, denominados de Grande Slam.

Assim, jogar um Grande Slam é muito importante para um tenista profissional, seja por ganhar pontos e melhorar sua classificação no ranking dos melhores jogadores, seja pela parte financeira, já que ganham muito dinheiro. Em geral para jogar um destes torneios é necessário estar entre os 104 melhores torneios. Assim, antes de começar um Grande Slam os organizadores olham a classificação dos tenistas e chamam estes jogadores. Mas antes de cada um destes torneios ocorre um conjunto de torneios menores. E esta é uma excelente oportunidade para os jogadores que estão próximo da 104ª. posição de ganhar pontos e melhorar seu ranking. Como a distância entre o centésimo colocado e o centésimo vigésimo é pequena, um desempenho razoável nestes torneios pode ser suficiente para colocar o jogador num Grande Slam.

Jetter e Walker olharam o que ocorre nestas partidas antes dos torneios mais relevantes. Quando Belucci joga contra Nadal pelos pontos de cada jogador é possível estimar as chances de cada jogador. Mas a pesquisa mostrou que os torneios anteriores aos Grandes Slams isto não ocorre. Ou seja, existe um comportamento inadequado no tênis profissional. Mas isto só ocorre no tênis masculino. No tênis feminino, por alguma razão, não existe uma combinação para favorecer a jogadora que está buscando obter pontos para participar de um grande torneio.

Os autores também observaram que os sites de aposta, que corresponderia a opinião do mercado, não consegue antecipar a esta situação.

O trabalho faz a constatação que o gênero é uma variável importante na questão da honestidade. Mas não consegue explicar a razão. Afinal, as mulheres são mais honestas que os homens em qualquer situação? Haveriam outras variáveis que influenciam esta questão?

JETTER, Michael; WALKER, Jay. Good Girl, Bad Boy: Corrupt Behavior in Profissional Tennis. IZA DP 8824, jan. 2015.

16 maio 2013

A Honestidade e o Tempo da Recompensa

A honestidade está sendo estudada em diversas pesquisas criativas. Sabemos que as pessoas são levemente desonestas, em pequenas atitudes diárias: furar uma fila, não devolver uma caneta, pegar algumas pequenas coisas do quarto do hotel, entre outras atitudes. Além disto, as pesquisas já mostraram que a honestidade depende das circunstâncias.

Dois pesquisadores hebreus fizeram uma pesquisa interessante sobre este assunto com soldados do exercito de Israel. Ruffle e Tobol pediram para cada soldado jogasse um dado sem nenhuma testemunha. Maiores valores representariam maiores prêmios, sob a forma de liberação antecipada. Mas o experimento permitiria que o soldado pudesse mentir sobre o valor sorteado sem receber nenhuma punição.

Mas os cientistas podiam verificar se os soldados estavam mentindo ou não. Como a possibilidade de tirar cada um dos lados do dado é de 1/6 ou 16,7%, os resultados informados pelos soldados deveriam comportar-se como uma distribuição uniforme. Um detalhe importante é que todos os soldados receberiam o prêmio na quinta-feira, mas a pesquisa foi realizada em dias distintos da semana.

Um primeiro resultado que foi encontrado na pesquisa é que os números quatro, cinco ou seis, que implicavam numa recompensa maior, apareceram mais do que o esperado (ou 16,7% das vezes). Isto era um claro sinal de que alguns soldados foram desonestos ao informar o resultado do lançamento do dado. Outro aspecto curioso é que o número de cinco foi muito maior que o número de seis. Isto é um indicio que os soldados mentiram, mas evitaram mentir muito sobre o resultado.

O mais curioso foi o que os cientistas encontraram sobre a data de realização da pesquisa. Conforme dito anteriormente, a premiação acontecia na quinta-feira, mas a pesquisa ocorreu no domingo, na terça, quarta e no mesmo dia. A distribuição do resultado do lançamento do dado no domingo aproximou-se muito da distribuição uniforme, como seria esperado se todos fossem honestos. Na terça-feira, os soldados mentiram um pouco: o número que mais apareceu foi o quatro. Mas na quinta-feira a mentira mostrou uma grande concentração em todos os números mais altos.

Isto significa dizer que as pessoas tendem a ser mais desonesta quando o espaço de tempo entre o ato desonesto e a recompensa é menor. Se a desonestidade tiver uma recompensa dias depois, as pessoas serão mais honestas. Ou seja, as pessoas parecem descontar o valor da recompensa no tempo.

Leia mais em
RUFFLE, Bradley; TOBOL, Yossef. Honest on Mondays: Honesty and the Temporal Distance between Decisions and Payoffs. IZA DP No. 7312, março 2013.

10 maio 2013

07 outubro 2012

Cegueira conveniente ou desonestidade proposital?

Vocês já leram as postagens do professor César (aqui e aqui) e do Rodolfo (aqui) sobre o livro “A Mais Pura Verdade Sobre a Desonestidade”, mas ao devorar a introdução não pude me conter. Tive que ressaltar o início do livro por causa de um debate em uma das minhas aulas de governança.

Quando, em sala de aula, falávamos sobre fraude, surgiu a dúvida “filosófica” sobre a extensão do conhecimento das fraudes por empregados da Enron e do banco Panamericano. Não se trata de responsabilidade ou de inocência, mas do simples ato de saber. Conversamos um pouco sobre isso mas é difícil chegar a alguma conclusão.

O interessante é que já no início do livro, Dan Ariely fala sobre John Perry Barlow, um amigo que trabalhou como consultor para a Enron. Ariely comenta: “enquanto eu conversava com John estava interessado, especialmente, na descrição sobre sua própria cegueira conveniente”. Embora John fosse um consultor para a empresa em um momento em que a Enron estava perdendo o controle, ele não observou nada anormal. Muito pelo contrário. Como qualquer bastidor, John acreditou que a Enron era uma empresa líder e inovadora na nova economia.

A partir disso pondera-se até onde ocorreu (e ocorre) a cegueira conveniente. Se estivéssemos em uma dessas empresas, como reagiríamos? Até que ponto inventamos cenários para que as mentiras nos pareçam toleráveis e justificadas?
E bem no estilo “House” de ser, o livro de Dan Ariely defende que “todo mundo mente”. Você sabe quando está mentindo pros outros. Mas e pra você?

30 agosto 2012

Como reduzir a criminalidade

Quando pergunto às pessoas como poderíamos reduzir a criminalidade na sociedade, elas em geral sugerem colocar mais policiais nas ruas e aplicar punições mais severas para os infratores. Quando pergunto aos CEOs de empresas o que fariam para resolver o problema de furtos internos, fraudes, pedidos exagerados de reembolso de despesas e sabotagem (quando os empregados agem para prejudicar os empregadores sem obterem benefício concreto), normalmente sugerem uma supervisão mais rigorosa e políticas duras sem margem para tolerância. E quando os governos tentam diminuir a corrupção ou criar regulamentos para o comportamento mais honesto, muitas vezes promovem a transparência (também conhecida como "política à luz do dia") como forma de cura para os males da sociedade. Certamente, há poucas evidências de que qualquer uma dessas soluções funcione. 
Em contrapartida, os experimentos descritos aqui mostram que algo tão simples quanto lembrar padrões de moral no momento da tentação pode ser muito eficaz para a diminuição do comportamento desonesto e até evitá-lo completamente. (...) Se seu contador lhe pedisse para assinar um código de honra um pouco antes de remeter sua declaração de imposto ou se seu agente de seguros o fizesse jurar que está dizendo toda a verdade sobre aquela mobiliário danificado pela enchente, a evasão fiscal e a fraude nos seguros provavelmente seriam menos comuns.
Dan Ariely - A mais pura Verdade sobre a Desonestidade, p.45-46

11 julho 2012

Frase

O problema do Barclays não era que Bob Diamond é uma má pessoa - o fato de que ele é um fã Chelsea prova isso - mas sim que as pressões estruturais levou a desonestidade.

Fonte: Aqui

01 julho 2012

Desonestidade dos políticos


A desonestidade dos políticos - RENATO JANINE RIBEIRO
VALOR ECONÔMICO - 25/06

Tony Blair é alvo de três romances contra marqueteiros


No Brasil, quando falamos em desonestidade dos políticos, entendemos que eles são corruptos e roubam dinheiro público. No Reino Unido, entende-se que eles - ou ele, um modelo em especial, Tony Blair - mentem à sociedade. No Brasil, o descontentamento se expressa em postagens mal escritas e em artigos repetitivos nos jornais. Na Inglaterra, o protesto resultou em literatura - e da boa. Conheço três livros a respeito, dos quais dois foram transpostos para o cinema. São "O Fantasma", de Robert Harris, publicado em 2007 e depois filmado por Polanski (como "O Escritor Fantasma"), e "A Pesca do Salmão no Iêmen" (2006), de Paul Torday, que virou o filme que acaba de estrear em nosso país, com o impossível nome de "Amor impossível", dirigido por Lasse Hallström.

Falta ir para o cinema o melhor desses bons livros, "The Uncommon Reader", de Alan Bennett (2007). O autor imagina que a rainha Elizabeth começa a ler e isso muda sua vida, tornando-a mais crítica dos fatos e ao mesmo tempo, talvez, uma pessoa melhor. O título é um jogo de palavras. Na Inglaterra, "common" é o plebeu. Por isso, a Câmara dos Comuns é eleita pelos plebeus, os não nobres, a maioria esmagadora da sociedade. A rainha é a mais "uncommon" das pessoas, porque está no auge da nobreza - mas a rainha leitora também se torna uma pessoa incomum, porque começa a pensar por si mesma. Daí que, no final do livro, ela observe que seu décimo primeiro-ministro, o governante marqueteiro, tem auxiliares ignorantes e que se orgulham disso. Nenhum deles tem cultura. Todos somente se preocupam em marketing.

(...)Em "Amor impossível", só está interessado em imagens que rendam dividendos políticos. A história é a mais cômica das três: um rico xeique iemenita se dispõe a pagar a fortuna que for necessária para criar e pescar salmões no Iêmen - um país que não tem a água nem a temperatura adequadas para criar esses peixes típicos de lugares frios. O governo britânico, desejoso de mostrar uma cooperação bem sucedida com um país árabe, seja qual for, obriga um cientista a entrar nesse projeto absurdo. E a assessora de imprensa do premier não recua diante de nenhum expediente para conseguir notícias favoráveis à imagem do governo.

Agora, a questão que cabe é: por que os britânicos convertem seu descontentamento com um governo que acabou mal em boa literatura, e nós não? Nos Estados Unidos o ótimo Philip Roth faz algo parecido, com a crônica, bem em filigrana, dos anos neoconservadores em seu país. Isso aparece no fundo de seus livros, como quando ele menciona o processo movido contra Clinton devido a seu romance com uma estagiária. Mas ignoro uma produção literária ou mesmo artística em outros países que se compare ao modo como os britânicos transformam os anos de seu descontentamento em literatura.

Como ficamos nós? Do período de FHC, restaram as tiras poéticas de Luís Fernando Veríssimo, "As cobras", dizendo que o então presidente estava se descuidando do "social" (que despencava da árvore, caía num rio etc.). Da gestão Lula, nada. Um escritor notável, que é João Ubaldo Ribeiro, não perdeu ocasião de atacá-lo em sua coluna nos jornais, mas suas crônicas não se alçam ao nível de seus romances, não indo além do plano de algum comentador habitual. Por que não temos uma literatura que trate, com qualidade, da nossa política? Sei que não é fácil. Parece que nos acostumamos mais ao discurso semi-difamador, em vez de nos dispormos a um texto criativo. Curiosamente, os romances britânicos que mencionei são muito críticos. Condenam Blair sem piedade, mesmo que nunca mencionem seu nome. São ferozes com o marketing político que, aliás, hoje é uma prática quase unânime no mundo. Só que eles criticam bem. São sofisticados. Dá prazer lê-los. Ficarão, creio eu, nas estantes dos livros que vale a pena ter, mesmo daqui a décadas.

27 junho 2012

Honestidade

Dan [Ariely] [foto] também é professor de psicologia e economia comportamental na Universidade Duke. Nesta entrevista ele fala sobre porque as pessoas mentem em algumas situações, mas não em outras, porque os estudantes colam nas provas quando eles sabem que podem sofrer mais tarde na vida, e muito mais.

O que faz alguém mentir às vezes e dizer a verdade outras vezes?

Quando as pessoas enfrentam essa questão sobre por que as pessoas as vezes mentem e outras vezes não, a resposta comum tem a ver com algo sobre o estado interno sobre a pessoa. A pessoa está com fome, está cansado, está esgotado e há alguma verdade nisso. 

(...) Então, voltando à pergunta sobre por que as pessoas as vezes mentem e outras vezes não, é evidente que existem mudanças que acontecem dentro de uma pessoa ao longo do tempo, mas o que vemos é que um efeito ainda maior tem a ver com as circunstâncias ambientais que estão ao nosso redor . Então, muitas vezes pensamos sobre as pessoas como agente, então nós decidimos e agimos, e agimos de acordo com nossas preferências e que é uma espécie de execução de nosso próprio estado interno, mas a realidade é que muitas vezes as decisões que as pessoas fazem são mais bem descritas pelo ambiente em que eles são colocados. Quando colocamos as pessoas em alguns ambientes eles são capazes de enganar a um grau mais elevado e quando eles são colocados em um ambiente diferente, essa mesma pessoa com a mesma mentalidade acaba traindo a um grau muito menor.

Então, quais são as influências ambientais?

Uma delas tem a ver com o grau ao qual se pode justificar a nossa desonestidade e, em particular, a distância do ato desonesto do dinheiro. Assim, por exemplo, em um de nossos experimentos, descobrimos que a experiência básica parecia isso; as pessoas tinham uma folha de papel com 20 problemas de matemática simples que podem resolver todos eles se eles tivessem tempo suficiente, mas nós não damos as pessoas o tempo suficiente. Damos às pessoas apenas cinco minutos, nós damos uma folha de papel, dizemos "trabalhe tanto quanto você puder" e quando passam os cinco minutos dizemos “por favor pare e conte quantas perguntas corretas você obteve, lembre-se deste número; vá lá trás e rasgue a folha de papel. Depois volte e diga-nos quantas perguntas você resolveu corretamente e nós vamos pagá-lo um dólar por questão [correta]. O que as pessoas não sabem é que nós mexemos com o triturador e o triturador apenas fragmenta um pedaço da página, mas não a página completa e podemos entrar e descobrir quantas perguntas as pessoas realmente resolveram corretamente.

Então, o que encontramos? Descobrimos que em média as pessoas fizeram em torno de quatro problemas e afirmaram ter resolvido seis. (...) Mas, em outra condição, o que fazemos é pedir às pessoas para triturar o pedaço de papel e quando elas chegam até nós para não dizer "Mr. Experimentador, eu resolvi X problemas, dá-me X dólares", mas dizer "Mr. Experimentador, eu resolvi X problemas no X, dá-me X fichas". Agora, as pessoas olham em nossos olhos e mentem por peças de plástico e não por dinheiro e o que encontramos foi que as pessoas basicamente duplicaram a sua trapaça. O que isto significa é que quando temos um ambiente no qual as pessoas podem distanciar-se do ato de traição, eles não estão enganando por dinheiro, eles estão enganando por um pedaço de plástico, de repente, este ambiente pode facilitar a uma grau muito mais elevado. Existem muitas outras influências como este e o que isso significa é que precisamos pensar sobre o meio ambiente, precisamos pensar sobre a regulamentação, precisamos pensar sobre as regras, precisamos pensar sobre a ética profissional, porque essas coisas eventualmente ter muito mais a ver com a forma como as pessoas se comportam do que a personalidade individual.

Por que os alunos colar nas provas, quando irá trará efeito mais tarde em suas vidas?

Primeiro de tudo eu acho que os alunos, e a maioria das pessoas em geral, não pensam muito sobre o que vai acontecer na vida mais tarde; temos este problema geral de pensar no curto prazo e não pensar no longo prazo e isso é em toda parte: é sobre comer em excesso e exercício físico, digitar um texto enquanto dirigimos, não tomar os remédios no momento correto, ter relações sexuais desprotegidas; todos esses comportamentos são devido ao fato de não se pensar no longo prazo.

No âmbito racional, é claro as pessoas sempre pensam sobre o longo prazo e no quadro racional da fraude as pessoas pensam no longo prazo, mas, na realidade, descobrimos que as pessoas não pensam muito sobre o longo prazo. E isso significa, a propósito, que as regras e regulamentos e leis que dependem do longo prazo, que dependem de penas de prisão e a probabilidade de que algum dia alguém pode te pegar são muito menos eficaz do que pensamos, porque quando estamos criando regras e regulamentos que temos em mente um agente racional que pensa nos seres de longo prazo; e os seres humanos não são assim.

(...) Com base em sua pesquisa, o que motiva as pessoas a se comportar de forma desonesta?

O que basicamente se encontra é que as pessoas são uma boa combinação de incentivos econômicos e incentivos psicológicos. Nosso lado econômico de nós quer se beneficiar de fazer um rolo porque os benefícios nos engana a curto prazo. Agora, ele pode não funcionar para nós no longo prazo, mas porque não pensamos no longo prazo, vamos nos concentrar no curto prazo. Por outro lado, temos o lado da psicologia, que nos faz querer sentir que somos pessoas honestas e morais. Queremos ser capazes de olhar para nós mesmos no espelho e se sentir bem sobre nós mesmos. (...)

O que seu livro nos ensina sobre como devemos gerir as nossas carreiras?

Bem, é sobre a gestão da nossa carreira e da carreira de outras pessoas. Você pode especular que existem basicamente maçãs podres lá fora, que algumas pessoas são más e algumas pessoas são boas. A única coisa que você quer fazer é certificar-se você é uma maçã boa e não uma maçã podre e que a sua empresa não contrata maçãs podres e que você não tem maçãs podres como amigos. Mas, a realidade o que mostra a pesquisa é que todos nós temos a capacidade de tornar maçãs podres. Claro, existem alguns psicopatas lá fora, mas fora esses indivíduos, todos nós, basicamente, têm a capacidade de começar a portar mal e com o tempo aumentar nosso mau comportamento passo a passo até que nos tornemos muito podre. (...)




É como se, eu vou te dar um exemplo de um contador que eu falei que em algum momento, que foi o CFO de uma grande empresa e sua companhia estava fazendo dinheiro, mas um pouco abaixo da expectativa de Wall Street. O CEO veio e conversou com ele e disse: "oh, você sabe, nós estamos tão perto, estamos quase, você pode fazer os números um pouco melhor?" e sem pensar muito, sem pensar que eles estavam fazendo alguma coisa ruim, porque eles realmente estavam obtendo caixa, eles estavam ganhando dinheiro, eles estavam próximos, eles estavam quase lá, era apenas uma questão de como gerenciar as contas e pensar sobre isso. Claro, eles encontraram uma justificativa para isso, mas é claro que no próximo trimestre foi mais difícil de justificar, até as coisas se tornaram muito ruim. Ele acabou na cadeia. (...)

Adaptado daqui

Honestidade 2

Com respeito a questão da honestidade, discutida na entrevista de Ariely, participei como co-autor de uma pesquisa com profissionais e estudantes de contabilidade, através de um experimento, onde foi simulado um processo de contratação. [A pesquisa possui como co-autoria os professores Erivan Borges, da UFRN, e Eduardo Vieira, da UnB.] Eis um trecho relevante do artigo:

De modo geral, essas constatações evidenciam que para estudantes e profissionais de contabilidade, no contexto estudado, a decisão e o  ato moral sofrem influência direta dos incentivos financeiros, alterando-se a percepção das conseqüências do comportamento mais digno, mais elevado moralmente, uma vez que os indivíduos estariam dispostos, em níveis de intensidade calculados a partir indicador desenvolvido para o trabalho, a desobedecer regras e preceitos de natureza ética e fiscal, contrariando, de certa forma, o referencial utilizado. Estes achados também evidenciam três situações preocupantes: a) as atitudes profissionais têm impacto direto na sociedade, independentemente do nível de decisão tomada na sua atuação, além de refletir imagem, estereótipos negativos em relação  à classe e aos demais colegas, desobedecendo às exigências do código de ética da profissão; b) a maior representatividade dos indivíduos é de estudantes, o que presume a ausência de fundamento ético e social na formação desses indivíduos durante a realização do curso, seja pela ausência dos temas nas estruturas curriculares, seja pela falta de associação ou aprofundamento desses temas nas discussões de natureza técnica; e, c) o baixo nível de preparação técnica dos respondentes, pela eventual falta de entendimento das questões de varreduras propostas.   


O artigo completo está aqui

20 agosto 2009

Honestidade

Centenas de carteiras foram deixadas nas ruas de Edinburgo, cidade da Grã-Bretanha. Destas, 240 foram devolvidas. Mas existe um aspecto interessante. Quando os pesquisadores inseriram fotografias mostrando um bebê sorrindo, um cachorrinho bonitinho, uma família feliz ou um casal de velhos o resultado mudou.
Quando a carteira tinha um bebê era mais provável receber a carteira de volta (88%). O animal de estimação, a família e o casal de velhinhos tiveram retornos de 53%, 48% e 28%, nesta ordem. Uma carteira com um cartão de uma entidade de caridade e uma carteira sem nenhum objeto diferenciado tiveram uma taxa de retorno de 20% e 15%.

Fonte: aqui

14 julho 2009

Achado

Achado não é roubado!

Você é honesto? Vamos ver uma experiência realizada na Escócia sobre carteiras:

Foto de bebê aumenta chances de carteira ser devolvida, diz estudo
Um estudo na Escócia deixou 240 carteiras "perdidas" pelas ruas da capital, Edimburgo, para observar quantas delas seriam devolvidas aos seus "donos".
Várias das carteiras guardavam "informações pessoais" diferentes – entre outros, fotos de um bebê, cãozinho de estimação, um casal idoso, cartões comprovando doações recentes à caridade.

Ao todo, 42% das carteiras foram devolvidas, entre elas, principalmente (88%) as que continham a foto de um neném. Em segundo lugar nas mais devolvidas estavam as que guardavam a foto do animal de estimação.
De acordo com o psicólogo Richard Wiseman, que supervisionou o experimento, as fotos despertaram sentimentos de empatia com os donas das carteiras e fizeram com que as pessoas se sentissem compelidas a tentar devolve-las.

"O que não é surpreendente, do ponto de vista evolucionário" , afirmou Wiseman, da Universidade de Hertfordshire.

Menos de metade (48%) das carteiras que levavam um retrato de família foram devolvidas, enquanto só 28% das que guardavam a foto do casal idoso.

Em último lugar na lista das mais devolvidas ficaram as carteiras com cartões de doação a instituições beneficentes (20%) e as que não nenhuma informação pessoal além do endereço.

As carteiras - sem dinheiro - foram abandonadas aleatoriamente em Edimburgo, distantes cerca de 800 metros umas das outras, para evitar que a mesma pessoa encontrasse duas.

As fotos e outras informações foram inseridas em janelas de plástico transparente.
Os pesquisadores afirmam que ficaram "impressionados" com a quantidade de carteiras devolvidas.

BBC Brasil.

06 fevereiro 2008

SG, os Cartões de Crédito do Governo Lula e as Finanças Comportamentais

Os problemas de controle interno no Societe Generale foram analisados sob diversas formas. Uma forma interessante de ver o que ocorreu neste banco é através das finanças comportamentais. Um estudo realizado nos Estados Unidos com estudantes que deveriam resolver uma lista de questões de matemática, mostrou algo interessante sobre a questão ética da desonestidade e a presença do dinheiro (moeda). Para o grupo de controle (1/3 dos alunos) a média de resolução das questões foi de 3,5 questões (o tempo era muito curto para resolver todas as questões). No segundo grupo, onde os pesquisadores permitiram que os alunos fossem desonestos e receberiam em dinheiro por sua desonestidade, a média de respostas corretas foi de 6,2 questões. Esta diferença mostra que estes alunos desonestos eram capazes de fazer trapaças para ganhar mais. Ao terceiro grupo, os pesquisadores permitiram também a trapaça, mas o "prêmio" não era em dinheiro, mas um substituto. Neste grupo os alunos responderam 9,4 questões.

Ou seja, com dinheiro, o aumento na desonestidade foi significativo. Mas com um ganho através de itens não monetários o aumento foi ainda maior.

Isto poderia ajudar a explicar o comportamento de pessoas que geralmente não acham desonesto tomar uma caneta emprestada e esquecer de devolver, mas consideram reprováveis atitudes como pegar dinheiro emprestado e não devolver.

O funcionário do Societe Generale talvez se enquadre nesta situação. O ministro de Estado que paga suas contas com o cartão corporativo do governo talvez não ache isto reprovável.

Aqui esta discussão é mais detalhada. Mais: aqui .

Mas destaco um trecho relevante sobre as conclusões da pesquisa:

"quando lidamos com uma moeda mais abstrata nossa moralidade é menos capaz de proteger-nos contra a desonestidade (...)"


14 dezembro 2006

Teste de honestidade


Cem carteiras com 2,10 US$, mais um certificado com valor de face de US$50 (falso), documentos de identidade e outros itens foram deixados aleatoriamente em Belleville, Illinois, uma cidade de 40 mil habitantes. 74 carteiras foram devolvidas. Mulheres idosas brancas tinham mais chance de retornar a carteira.

Fonte: Liberal Order