- Gerald Hurst
Via: aqui.
Sobre débitos e créditos da vida real
A questão financeira é considerada um problema na discussão entre os casais dos Estados Unidos. Acredito que o mesmo seja verdadeiro também para o Brasil. É o segundo tópico de discussão, especialmente entre os casais mais jovens (ponto roxo). Há outros tópicos relacionados com finanças pessoais, como discussão sobre a carreira (especialmente entre os mais jovens).
Mas observe que o principal tópico: o tom de voz. Especialmente entre os mais experientes.
Mas é o princípio que mais importa aqui: os clientes bancários estão sendo obrigados a pagar uma taxa para acessar seu próprio dinheiro. E a solução promovida pelo banco que permitirá que os clientes evitem pagar essa taxa é fazer login no aplicativo bancário do BBVA e encomendar o dinheiro antes de visitar um caixa eletrônico. O aplicativo gera um código para a operação solicitada pelo cliente. Então ele ou ela vai ao caixa eletrônico, insere o código e sai o dinheiro.
O BBVA chama esse serviço de "Mobile Cash" e oferece aos clientes um meio de sacar dinheiro sem precisar usar a carteira; eles apenas usam seu telefone. O problema para o banco é que muitos de seus clientes no México parecem preferir continuar usando seu cartão de débito. Então o banco decidiu dar-lhes um empurrãozinho, cobrando-os por fazer as coisas da maneira antiga.(...)
Em 2019, o diretor administrativo e vice-presidente do BBVA México, Eduardo Osuna, disse uma das metas de longo prazo do banco era eliminar completamente o dinheiro. "Setenta e quatro da população [do México] são informais e esta é uma grande oportunidade para lhes emprestar dinheiro" Osuna disse durante uma reunião de executivos-chefes em 2019. "Devemos combater o uso de dinheiro" .
Uma das vantagens, segundo o Banco, seria relação entre corrupção e uso do dinheiro (cita um estudo, mas existe mesmo esta correlação?). O texto replica:
É sempre interessante ouvir executivos seniores do banco reclamarem de como o dinheiro está facilitando a evasão e a evasão fiscais, especialmente quando o banco em que trabalham está entre os 36 grandes credores europeus acusados pelo observatório fiscal da UE em Paris usando paraísos fiscais extensivamente para reduzir sua conta de impostos.(...)
Esse é um dos aspectos mais sombrios da guerra em andamento do setor financeiro por dinheiro. Ele está sendo travado sob a bandeira da "inclusão financeira", apesar do fato de que uma economia sem dinheiro seria tudo menos inclusiva. Aqueles que mais se beneficiam de uma economia sem dinheiro são as gerações mais jovens nas classes mais fechadas, que são amplamente alfabetizadas em computadores e já usam métodos de pagamento digital para a maioria, se não todas, de suas transações. A vida se tornará um pouco mais fácil para eles.
Por outro lado, aqueles mais dependentes do dinheiro - os pobres e os idosos - de repente acharão a vida muito mais difícil. Isso já está acontecendo na Espanha, onde estão os idosos, para quem é dinheiro ainda o uso preferido do pagamento, tem que viajar cada vez mais longe para continuar recebendo dinheiro. Quanto mais velho você fica, mais difícil é viajar, especialmente se você não pode mais dirigir um carro.
Foto: Majnun
Alguns dados são interessantes (via aqui). O custo de produção de um nota de R$200 é de R$0,32 por unidade; da nota de R$100 é de R$0,29. Assim, imprimir nota de R$200 significa um custo menor que a nota de R$100. Entretanto, o preço da nota é quase igual ao da moeda de R$1.
Existe um grave problema com a decisão do Banco Central em lançar esta cédula. O economista Kenneth Rogoff chamou a atenção que cédulas de alto valor são apreciadas pelos criminosos. Lembram do apartamento com malas de dinheiro? Cédulas de elevado valor são propícias para os criminosos, pois reduzem o número de malas que irão usar. Tanto é assim, que a diretora de administração do Banco Central apressou em afirmar que o anúncio “não significa retrocesso na estratégia de combate à lavagem de dinheiro”. Segundo ela, “nos fóruns internacionais contra a lavagem de dinheiro, não aparece a sugestão de retirar cédulas de alta denominação de circulação” [sic] [Ou seja, ela não conhece a experiência da Europa e da Índia ou está manipulando?] Assim que a notícia apareceu, três partidos entraram com ação no Supremo para impedir a circulação da nova cédula.
Há um interessado direto no lançamento: a Casa da Moeda. Sendo deficitária, a nova emissão poderia ajudar a reduzir seu déficit. Com a redução da emissão de passaportes - em razão da pandemia - a Casa da Moeda considera que a produção pode trazer receita.
Outro interessado, indireto, são as empresas concorrentes da cédula como meio de pagamento, como Cielo e PagSeguro. Em lugar de emitir uma cédula mais útil para população, com as notas de R$10 ou R$20, emitir uma cédula com elevado valor é tornar a moeda corrente um meio de pagamento pouco atrativo para população. Quem já tentou pagar alguma coisa com uma nota de R$100 sabe o que isto significa. Ademais, notas menores são usadas pela população mais pobre, excluídas do sistema financeiro. Assim, a decisão do Banco Central é contra os interesses desta parcela da população. Resumindo:
Agora com o lançamento da nota de R$200, podemos perceber ainda mais claramente que o aumento da participação das cédulas de alta denominação nos meios de pagamento brasileiro é um esforço consciente do BCB. Apesar dessa política superficialmente parecer ser benéfica por causa dos menores custos de produção, ela não passa pelo filtro de uma análise mais detalhada. Ela tem custos “escondidos” indiretos altíssimos, seja por uma menor conveniência para a população em ter que usar cédulas de alta denominação para transações de baixo valor e com pouca disponibilidade de troco, seja porque ela facilita as atividades informais e ilegais, o que pode implicar em custos altíssimos para a sociedade. (Christiano Arrigoni Coelho)
E a Contabilidade? - Veja que a discussão envolve custo de produção, controles internos, corrupção e outros temas.
The best explanation so far #PanamaPapers pic.twitter.com/p71mz3hpsB— ian bremmer (@ianbremmer) 6 de abril de 2016