Schmalenbach, Eugen (1873–1955) - Eugen Schmalenbach é considerado um dos estudiosos mais influentes no ensino, na pesquisa e na prática contábil na Alemanha e na Europa Continental. Seus antepassados eram agricultores da Vestfália; seu pai operava um pequeno negócio de fabricação de dobradiças e fechaduras, onde Schmalenbach trabalhou por quatro anos após concluir o ensino médio e um treinamento prático em engenharia.
Em 1898, iniciou seus estudos em economia empresarial na recém-fundada Handelshochschule (Escola Comercial) de Leipzig; formou-se entre a primeira turma de estudantes em 1900 e permaneceu como assistente pessoal do Professor Karl Buecher, que combinava interesses em economia, antropologia e história. Após concluir títulos acadêmicos avançados, Schmalenbach transferiu-se para a Handelshochschule de Colônia, onde foi nomeado professor titular em 1906. A Handelshochschule tornou-se a Universidade de Colônia em 1919 e, graças aos esforços de Schmalenbach, tornou-se uma das principais escolas de negócios da Alemanha.
Schmalenbach continuou lecionando até 1933, quando foi forçado a se aposentar precocemente por sua esposa ser judia. Permaneceu ativo em sua área por meio da escrita e da consultoria até o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, retomou seus famosos seminários, que conduziu quase até sua morte. Schmalenbach recebeu diversos doutorados honorários por suas contribuições à contabilidade e à teoria dos negócios, concedidos por universidades alemãs e estrangeiras, apesar de nunca ter lecionado no exterior.
Schmalenbach, integrante da primeira geração de professores universitários de administração na Alemanha, é considerado um dos pais fundadores da administração e da contabilidade acadêmicas. Suas principais contribuições foram nas áreas de: (1) contabilidade e mensuração do resultado (Bilanztheorie), com o desenvolvimento do conceito de contabilidade dinâmica; (2) plano de contas uniforme; e (3) contabilidade gerencial e formação de preços.
Schmalenbach era pragmático e acreditava firmemente que, em uma área aplicada, teorias sem impacto direto nas operações empresariais eram inúteis. Por isso, atuou como consultor e grande parte de seus escritos tratava de problemas práticos. Também contribuiu para os avanços nas teorias de organização, auditoria, finanças e marketing. Seguindo a tradição microeconômica alemã, Schmalenbach via a empresa como uma entidade que converte caixa em outros recursos para utilização econômica, retornando eventualmente esses recursos à forma de caixa. Seu balanço patrimonial, portanto, media os ativos em vários estágios intermediários dessa conversão, representando um registro de recursos ainda não consumidos ou, em suas palavras, diferentes classes de acréscimos ou antecipações. Alguns desses recursos eram essenciais para as operações (betriebsnotwendig), enquanto outros eram mantidos para fins especulativos.
Assim, a principal ênfase para mensuração de desempenho e resultado deveria ser colocada na demonstração de resultados, uma visão semelhante à de A.C. Littleton, nos Estados Unidos, e de outros contemporâneos. Sua visão “dinâmica” representava um rompimento drástico com a visão legalista predominante (chamada de “estática”) das demonstrações financeiras, que tratava os ativos apenas como registros de valores disponíveis. Antes dele, poucas tentativas haviam sido feitas para interpretar o significado econômico das demonstrações financeiras, e quase ninguém havia tentado justificar as regras de avaliação existentes. Por entender os valores do balanço como transitórios e a sua função como suporte para os dados da demonstração de resultados, ele rejeitou a reavaliação de ativos com base em valores de mercado e, com relutância, aceitou apenas a necessidade de demonstrativos suplementares indexados durante a hiperinflação da década de 1920.
A contribuição mais duradoura de Schmalenbach, com o maior impacto internacional, veio de seu plano de contas uniforme. Seu sistema consistia em 10 classes de contas: 0 = contas inativas, contendo ativos e passivos não circulantes;
1 = contas financeiras; 2 = contas de ajuste que separam dados financeiros e gerenciais; 3 = custos gerais; 4 = matérias-primas e salários; 5 = livre para uso da contabilidade interna; 6 = centros de custo de serviços; 7 = centros de custo de produção; 8 = produtos em processo e acabados; 9 = custo de venda, receitas de vendas, resultados mensais, anuais etc. O plano de contas uniforme sistematizava os registros contábeis com base no princípio de fluxo e buscava rastrear o consumo de recursos.
Schmalenbach considerava o custo como uma expressão contábil das quantidades de recursos consumidos, mensuradas em unidades monetárias apenas para fins de aditividade. Para realizar conjuntamente a coleta de dados convencionais da contabilidade financeira e a mensuração do consumo real de recursos — incluindo ativos que não são registrados (por exemplo, ativos doados) ou que não são adequadamente mensurados para fins de tomada de decisão (por exemplo, alterações de preços) — seu sistema permitia a utilização simultânea de diversos valores diferentes (necessários em razão de mudanças de preços, inflação, padrões de depreciação mais precisos, inclusão de juros para refletir com exatidão a utilização total do capital e não apenas o custo de endividamento), por meio do uso de itens de custo imputado (kalkulatorische Kosten) para fins gerenciais.
Para operacionalizar o sistema, ele introduziu contas de custo — isto é, contas de consumo de recursos — como um conjunto separado de contas na classe 2. Essas contas eram automaticamente eliminadas ao final de cada período nas contas de resumo da classe 9, mantendo, assim, as mensurações tradicionais de despesas dentro do ciclo da contabilidade financeira. As contas financeiras e gerenciais podiam ser operadas conjuntamente dentro do sistema tradicional (sistema monista) ou separadamente dele (sistema dualista ou sistema estatístico separado). Para aumentar o conteúdo informativo de seu sistema contábil, Schmalenbach fez distinções claras entre: (1) desembolsos e entradas de caixa (para mensuração do fluxo de caixa); (2) despesas e receitas (para mensuração tradicional do resultado); e (3) custos e resultados de desempenho (para mensurações gerenciais com ênfase na eficiência).
Cada tipo de mensuração pode ser realizado utilizando dados de diferentes classes de contas. Em 1939, durante a Segunda Guerra Mundial, esse plano uniforme de contas foi tornado obrigatório na Alemanha, com pequenas modificações (planos específicos para diferentes setores industriais, com reagrupamentos de classes de contas); porém, nenhum crédito foi dado a Schmalenbach. Posteriormente, o sistema foi imposto em todos os países ocupados; em alguns, permaneceu obrigatório com modificações mesmo após o fim da guerra. Um sistema modificado é atualmente utilizado pela maioria das empresas alemãs e suas subsidiárias no exterior. Embora tenham ocorrido mudanças ideológicas, a semelhança mais próxima com o plano original de contas pôde ser observada na antiga URSS e em países do Leste Europeu até o início dos anos 1990. Isso demonstra que o sistema de Schmalenbach é aplicável a diferentes sistemas econômicos. Além disso, também foi demonstrado que sistemas uniformes aceleraram substancialmente a informatização e a comunicação entre subsidiárias.
Nos anos seguintes, Schmalenbach concentrou-se no desenvolvimento de valores para a tomada de decisão com base na contabilidade, voltados a facilitar um comportamento gerencial orientado para o mercado e para a maximização do lucro, uma vez que diferentes valores (preços) podiam ser utilizados dentro de seu sistema contábil. Ele já havia mencionado — e posteriormente publicou, em 1947 e 1948 — suas sugestões sobre as condições sob as quais uma empresa deveria usar o custo total (de aquisição ou de reposição), o custo marginal ou direto (em casos de subutilização da capacidade), ou outros valores (chamados de valores-guia ótimos, mais tarde identificados como shadow prices) em situações de sobreutilização da capacidade, para melhorar sua rentabilidade.
Por meio desses esforços, ele criou as bases para um sistema de informações contábeis voltado à tomada de decisão — como exigido no ambiente competitivo atual. Ao reler Schmalenbach, sempre surpreende o quão modernas suas ideias ainda parecem, mesmo muitos anos após sua primeira publicação.
Hanns Martin Schoenfeld - The History of Accounting
Nós citamos Schmalenbach antes quando postamos sobre Schimdt, Limperg e Most.
Nenhum comentário:
Postar um comentário