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09 dezembro 2020

Educação Financeira


Assumimos que é importante expandir a educação financeira. Aplaudimos os esforços de entidades públicas, como a CVM, no sentido de levar o conhecimento de finanças para as pessoas. Mas esquecemos de perguntar se isto é válido. 

Se a educação financeira não trouxer resultado nas finanças pessoais das pessoas, o esforço de ensinar finanças pessoais pode ser um gasto inútil. Recentemente uma pesquisa mostrou que o conhecimento financeiro pode aumentar a desigualdade ao longo da vida, sendo relevante para pessoas mais velhas, mulheres e pessoas com menor renda. 

Eis o abstract:

We administered the FINRA Foundation’s National Financial Capability Study questionnaire to members of the RAND American Life Panel (ALP) in 2012 and 2018. Using this unique, longitudinal data set, we investigate the evolution of financial literacy over time and shed light on the causal effect of financial knowledge on financial outcomes. Over a six-year observation period, financial literacy appears to be rather stable, with a slight tendency to decline at older ages. Moreover and importantly, financial literacy has significant predictive power for future financial outcomes, even after controlling for baseline outcomes and a wide set of demographics and individual characteristics that influence financial decision making. This estimated relationship is significantly stronger for older individuals, for women, and for those with lower income than for their counterparts in the study. Altogether, our findings suggest that differences in the stock of financial knowledge may lead to increasing inequality over the life course.

Contabilidade? - No passado, finanças pessoais foi uma das maiores aplicações das partidas dobradas. A educação financeira pode atrair atenção para a importância da contabilidade. 

5 bons livros para um ano péssimo


Segundo Bill Gates, em tempos difíceis os leitores ávidos recorrem a diferentes tipos de leitura para enfrentar a vida. Este ano ele optou em alguns momentos por se aprofundar em injustiças, como aquelas que envolvem os protestos Back Lives Matter, enquanto em outros preferiu leituras mais leves. Como resultado, surgiu uma lista com a indicação de 5 livros para serem lidos em um ano difícil.

A nova segregação: racismo e encarceramento em massa, por Michelle Alexander. (E-book: R$43,11)
Como muitos brancos, Gates tentou aprofundar sua compreensão do racismo sistêmico nos últimos meses. O livro de Alexander oferece um olhar revelador sobre como o sistema de justiça criminal visa injustamente as comunidades de cor, especialmente as comunidades negras. É especialmente bom para explicar a história e os números por trás do encarceramento em massa. Segundo Gates, ele estava familiarizado com alguns dos dados, mas Alexander realmente ajuda a colocá-los em contexto. Ele terminou o livro mais persuadido do que nunca de que precisamos de uma abordagem mais justa para as sentenças e de mais investimento nas comunidades negras.


Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas, por David Epstein. (E-book: R$ 29,90)
Gates começou a seguir o trabalho de Epstein após assistir sua palestra em um TED talk em 2014 sobre desempenho nos esportes. No livro, Epstein argumenta que embora o mundo aparente demandar mais e mais especialização, o que realmente necessitamos são pessoas que começam de forma ampla e abraçam experiências e perspectivas diversas enquanto progridem. Gates acredita que as ideias deste livro explicam um pouco do sucesso da Microsoft, pois eles contrataram pessoas que tinham grande amplitude em seu campo e em todos os domínios. Se você já se sentiu um generalista sozinho em um mundo de especialistas, este livro é para você.



O Esplêndido e o Vil, por Erik Larson. (E-book: R$35,91)
Às vezes, os livros de história acabam parecendo mais relevantes do que seus autores poderiam ter imaginado. Esse é o caso com este relato brilhante dos anos 1940 e 1941, quando os cidadãos ingleses passavam quase todas as noites em abrigos improvisados enquanto a Alemanha jogava bombas massivas sobre eles. O medo e a ansiedade que sentiram - embora muito mais graves do que o que estamos experimentando com COVID-19 - soavam familiares. Larson dá uma ideia de como foi vivenciar esses ataques e faz um ótimo trabalho ao traçar o perfil de alguns dos líderes britânicos que os acompanharam durante a crise, incluindo Winston Churchill e seus conselheiros mais próximos. Seu escopo é muito estreito para ser o único livro que você vá ler sobre a Segunda Guerra Mundial, mas é uma grande adição à literatura focada nesse período trágico.


O Espião e o Traidor: A Maior História de Espionagem da Guerra Fria, por Bem Macintyre. (E-book: R$35,88)
Este relato de não ficção concentra-se em Oleg Gordievsky, um oficial da KGB que era um agente duplo dos britânicos, e Aldrich Ames, o vira-casaca americano que provavelmente o traiu. A recontagem de suas histórias por Macintyre não vem apenas de fontes ocidentais (incluindo o próprio Gordievsky), mas também da perspectiva russa. É tão emocionante quanto meus romances de espionagem favoritos.

Breath from Salt: A Deadly Genetic Disease, a New Era in Science, and the Patients and Families Who Changed Medicine Forever, por Bijal P. Trivedi. Sem edição em português.
Acompanho a luta contra a fibrose cística há duas décadas, desde que um ex-colega da Microsoft me ensinou sobre a doença e algumas pesquisas de ponta para tratá-la. Mas aprendi muito com esse relato, que me ajudou a entender muito mais sobre todas as pessoas envolvidas no desenvolvimento de medicamentos para tratar essa doença pulmonar horrível. Você encontra cientistas, advogados, cuidadores e muito mais. É um livro inspirador e uma prova do que é possível quando líderes apaixonados unem as pessoas em uma causa comum.

Rir é o melhor remédio

 

Antes e depois do café

08 dezembro 2020

Aramco: mercado x análise


Uma análise sobre a situação atual da Aramco mostra uma situação ruim:

Como resultado direto da decisão da MbS [princípe da Arábia Saudita] de prosseguir com mais uma guerra de preços do petróleo, ao mesmo tempo que a pandemia COVID-19 estava ganhando ritmo e destruindo a demanda por petróleo, as finanças da Aramco sofreram um golpe massivo. Para o primeiro semestre deste ano, a empresa viu uma queda de 50 por cento no lucro líquido e no início deste mês, relatou outra queda maciça nos lucros de 44,6 por cento no terceiro trimestre, caindo para SAR 44,21 bilhões (US $ 11,79 bilhões) de SAR79,84 bilhões no mesmo período do ano passado. (...)

Este enorme pagamento garantido de dividendos de US $ 18,75 bilhões por trimestre - US $ 75 bilhões por um ano inteiro - terá que ser pago por meio de cortes orçamentários além dos US $ 15 bilhões em gastos de capital anual da Aramco aludidos pelo CEO da Aramco, Amin Nasser, logo após o primeiro semestre, os números dos lucros foram revelados. Isso reduzirá o total de cerca de US $ 40 bilhões para cerca de US $ 25 bilhões. Relatórios posteriores indicam que mesmo esse valor de US $ 25 bilhões deverá ser reduzido em outros US $ 5 bilhões, levando o gasto total de capital neste ano de US $ 25 bilhões para US $ 20 bilhões.

(...) Para colocar isso de forma ainda mais clara: o lucro total da Aramco para o terceiro trimestre não pode nem mesmo cobrir os dividendos que ela deve para o mesmo trimestre, nem mesmo dois terços dele!

Ou seja, a Aramco está em dificuldades. Mas eis a cotação da empresa nos últimos meses:
Faz sentido? O mercado valorizou as ações da empresa ao longo de 2020. Parece que a análise acima não faz sentido. Mas duas possibilidades aqui. Primeiro, por enquanto a empresa ainda consegue pagar seus dividendos e os investidores talvez apostem que isto irá continuar. Quando surgir a possibilidade de não pagamento de dividendos, a empresa poderá sofrer uma grande redução no seu preço. A segunda possibilidade é que a análise está olhando somente o curto prazo. 

Melhores livros de negócios e economia em 2020, segundo a The Economist

 




Lista de livros do ano publicado pela The Economist: negócios e economia

No Filter. Por Sarah Frier – ainda não disponível em português 
Baseando-se na proximidade da autora de insiders no Instagram, esta é uma visão viva e reveladora de como o mundo passou a se ver através das lentes da plataforma. Sua história inclui vislumbres da estranheza do Vale do Silício e um relato da venda do Instagram para o Facebook - e suas consequências amargas.

A Regra é Não Ter Regras. Por Reed Hastings e Erin Meyer – R$ 16,73 (e-book)
Férias ilimitadas e nenhum limite formal de despesas soam como uma receita para o caos corporativo. Em um livro raro de um executivo-chefe que é tanto legível quanto esclarecedor, o chefe da Netflix - e seu coautor - explica como ele chegou a essas e outras regras radicais de gerenciamento e por que elas não são tão malucas quanto parecem.


The Price of Peace. Por Zachary Carter – ainda não disponível em português
Este retrato de John Maynard Keynes maravilhosamente escrito traça a evolução de seu pensamento sobre economia política. A obra reformula suas contribuições para a vida intelectual do século 20 de uma forma esclarecedora e mais fiel ao seu pensamento do que a maioria dos relatos prestados em sala de aula.


The Myth of Chinese Capitalism. Por Dexter Roberts – ainda não disponível em português
Uma visão nua e crua dos migrantes rurais que alimentaram o longo boom da China, mas continuam sendo cidadãos de segunda classe. O autor combina uma análise afiada com a história de uma família que ele acompanhou por duas décadas.


Fully Grown. Por Dietrich Vollrath – ainda não disponível em português
Um estudo abrangente e original da desaceleração do crescimento econômico nos Estados Unidos nas últimas décadas. O autor atribui isso ao esgotamento dos retornos da disseminação da educação e da entrada das mulheres no mercado de trabalho, e da mudança para os serviços à medida que as pessoas enriquecem. Essas tendências são bem-vindas, ele argumenta: a falta de frutas ao alcance da mão significa que você colheu todas com sucesso.


Open: The Story of Human Progress. Por Johan Norberg – ainda não disponível em português
O progresso depende da abertura, afirma este livro, mas isso cria uma reação, uma vez que as pessoas estão programadas para temer mudanças rápidas. O autor organiza a captura de exemplos de todos os continentes e épocas, terminando com uma nota otimista e oportuna. Nos últimos anos, assistimos ao surgimento de demagogos populistas que querem levantar pontes levadiças - mas esses líderes acabam perdendo o poder porque são péssimos em governar.

Impostos, Mentiras e Computador

Quando o ser humano interage com a máquina, de que forma seu comportamento se altera? Já sabemos que quando um elogio de um computador possui o mesmo efeito para o usuário, mesmo ele sabendo que é uma máquina que o está bajulando. Sabemos que a bajulação também funciona na contabilidade. 

No mundo em que muitas tarefas são executadas por softwares, saber se o comportamento das pessoas muda com este tipo de comunicação é importante. O preenchimento de uma declaração de imposto de renda, quando feita através de um programa computacional, traz o mesmo resultado, em relação ao imposto se for feito por um ser humano? Como a questão tributária é um campo fértil para a mentira, será que o contribuinte mente mais quando é uma máquina que faz seu imposto ou quando é um ser humano?

Esta última questão foi objeto de uma pesquisa, recentemente publicada em um jornal de ética. Eis o abstract (via aqui):

Individuals are increasingly switching from hiring tax professionals to prepare their tax returns to self-filing with tax software, yet there is little research about how interacting with tax software influences compliance decisions. Using an experiment, we examine the effect of preparation method, tax software versus tax professional, on willingness to lie. Results from a structural equation model based on data collected from 211 actual taxpayers confirm the hypotheses and show individuals are more willing to lie to tax software than a human tax professional. Our results also suggest this effect is jointly mediated by perceptions of social presence and the perceived detectability of the lie. Beyond the practical implications for tax enforcement, our findings broadly contribute to accounting and other literatures by examining the theoretical mechanisms that explain why individuals interact differently with computers versus humans. We also extend prior research on interactions between humans and computers by examining economically motivated lies.

Are Individuals More Willing to Lie to a Computer or a Human? Evidence from a Tax Compliance Setting - Ethan LaMothe & Donna Bobek - Journal of Business Ethics, November 2020, Pages 157-180

Experimentos sociais ou propaganda? - 2

Algumas propagandas parecem mais um experimento social. Este é o caso da Dove Real Beauty Sketches. Um desenhista da polícia faz um desenho de uma mulher (as cegas), segundo a descrição dela. Depois, uma pessoa fazia a descrição desta mesma mulher e era feito um novo desenho. A diferença dos dois desenhos era sempre desfavorável àquele que foi obtido pela descrição da própria mulher. As mulheres tinham um tendência a exagerar nas suas falhas.
   

Este vídeo já teve mais de 69 milhões de visualizações no Youtube e versões em diversas línguas, inclusive portuguesa. Origem: 2013.

Rir é o melhor remédio

 


07 dezembro 2020

Divulgação Financeira na Era da Inteligência Artificial

In How to Talk When a Machine Is Listening: Corporate Disclosure in the Age of AI the authors explore some of the implications of this trend. Rather than focusing on how investors and researchers apply machine learning to extract information, this study examines how companies adjust their language and reporting in order to achieve maximum impact with algorithms that are processing corporate disclosures.

To gauge the extent of a company’s expected machine readership, the researchers use a proxy: the number of machine downloads of the company’s filings from the US Securities and Exchange Commission’s electronic retrieval system. Mechanical downloads of corporate 10-K and 10-Q filings have increased exponentially, from 360,861 in 2003 to around 165 million in 2016. Machine downloads have become the dominant mode during this time — increasing from 39 percent of all downloads in 2003 to 78 percent in 2016.

The researchers find that companies expecting higher levels of machine readership prepare their disclosures in ways that are more readable by this audience. “Machine readability” is measured in terms of how easily the information can be processed and parsed, with a one standard deviation increase in expected machine downloads corresponding to a 0.24 standard deviation increase in machine readability. For example, a table in a disclosure document might receive a low readability score because its formatting makes it difficult for a machine to recognize it as a table. A table in a disclosure document would receive a high readability score if it made effective use of tagging so that a machine could easily identify and analyze the content.

Companies also go beyond machine readability and manage the sentiment and tone of their disclosures to induce algorithmic readers to draw favorable conclusions about the content. For example, companies avoid words that are listed as negative in the directions given to algorithms.

[...]

Both results demonstrate that company managers specifically consider machine readers, as well as humans, when preparing disclosures.

Machines have become an important part of the audience not just for written documents but also for earnings calls and other conversations with investors. Managers who know that their disclosure documents are being parsed by machines may also recognize that voice analyzers may be used to identify vocal patterns and emotions in their commentary. Using machine learning software trained on a sample of conference call audio from 2010 to 2016, the researchers show that the vocal tones of managers at companies with higher expected machine readership are measurably more positive and excited.

Faleceu Sarbanes

Paul Sarbanes, ex-senador por Maryland, faleceu, aos 87 anos. O legislador ficou conhecido por ter conduzido, juntamente com Oxley, uma norma para impedir que escândalos contábeis, com o da Enron, se tornasse padrão no mercado dos Estados Unidos.

Pandemia aumentou o preço dos cães

 

O preço de compra de cães de raça aumentou durante a pandemia. A figura acima mostra a relação no terceiro trimestre de 2020 em relação ao terceiro trimestre de 2019. Um Terrier aumentou 170%, o mesmo percentual da moeda Bitcoin. Isto também fez aumentar a receita de veterinários e de empresas de rações. Afinal um gato custa (dados da Inglaterra) entre 7.500 libras e 10 mil libras. Um cão tem um custo de 17 mil libras. 

Os benefícios devem ser destacados:

Uma pesquisa recente com 6.000 proprietários de animais de estimação no Reino Unido pela Universidade de York e pela Universidade de Lincoln descobriu que todos os animais de estimação - sejam coelhos, roedores ou mesmo répteis - aliviaram a sensação de solidão durante o primeiro bloqueio pandêmico na primavera. Cavalos, cães e gatos pareciam fornecer o maior conforto, mas o vínculo emocional sentido com pássaros e cobaias não ficava muito atrás.

Rir é o melhor remédio

 

Quem apareceu primeiro? É o grande dilema

06 dezembro 2020

Experimentos sociais ou propaganda - 1

Em muitas propagandas, o anunciante aproveita para fazer um especie de experimento social. Existem alguns exemplos interessantes. A cerveja Carlsberg encheu um cinema de "bad boys", pessoas com uma "aparência" feia, exceto dois lugares. Casais entravam no cinema e olhavam a plateia. Alguns saíram, ficaram incomodados com aquele ambiente. Outros, "corajosos", sentaram nos assentos disponíveis. Aparência importa?
Este filme já teve mais de 22 milhões de visualizações

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estudar o CPC

05 dezembro 2020

Privatização da CEB

Esta semana ocorreu a privatização da CEB-Distribuidora. Em 2017, publiquei, em co-autoria com Amanda Schmidt, um artigo com o seguinte resumo:

Esta pesquisa tem como propósito demonstrar como a ferramenta de avaliação de empresas, pelo método do fluxo de caixa descontado, pode ser utilizada com a finalidade de avaliar a qualidade dos gastos públicos realizados sob a forma de investimentos em empresas estatais. A pesquisa consistiu em um estudo de caso de uma empresa brasileira do setor de energia elétrica, a CEB Distribuição S.A., subsidiária integral de uma sociedade de economia mista. O valor da empresa foi calculado com base em premissas determinadas a partir da análise do desempenho histórico da entidade e projeções macroeconômicas obtidas de outras fontes. Ressalta-se que foram utilizadas somente informações disponíveis ao público. O valor obtido como resultado indica que a entidade analisada não está gerando o retorno financeiro desejável em vista dos recursos públicos nela investidos e permite inferir que o valor recuperável do investimento da controladora nessa empresa é menor do que o valor contábil reconhecido. Essa conclusão pode servir como guia de ação na área pública, pois demonstra a necessidade de melhoria da qualidade dos gastos públicos realizados na empresa analisada, situação que pode se estender a outras empresas estatais brasileiras. Desta forma, sugere-se que sejam realizadas pesquisas utilizando esta metodologia para analisar outras empresas estatais do país.

O valor obtido no leilão foi muito alto e isto pode ser explicado por dois fatores. Primeiro, a maldição do vencedor. Existindo disputa em um leilão, o lance vencedor geralmente significa um valor acima do razoável. O segundo fator é que a análise foi realizada tendo por premissa a história da CEB como empresa pública, com suas ineficiências. O vencedor do leilão está apostando que consegue "ganhos" de produtividade/gestão. 

Origem da palavra Office e a contabilidade


 

Da coluna de Sérgio Augusto, um detalhe curioso sobre a origem da palavra "office"

“O ser humano não foi criado para viver num cubículo, mirando uma tela de computador”, critica Sakal, com quem também aprendi que a palavra “office” deriva do italiano “uffizi” e é de origem florentina. Era na Galeria degli Uffizi que se fazia e guardava a contabilidade mercantil dos Médici, no século 16.

Sérgio Augusto comenta a capa da New Yorker, de Adrian Tomine. 

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04 dezembro 2020

Eleição e emprego público no Brasil


Uma pesquisa que pode interessar para aqueles da área pública:

In all modern bureaucracies, politicians retain some discretion in public employment decisions, which may lead to frictions in the selection process if political connections substitute for individual competence. Relying on detailed matched employer-employee data on the universe of public employees in Brazil over 1997–2014, and on a regression discontinuity design in close electoral races, we establish three main findings. First, political connections are a key and quantitatively large determinant of employment in public organizations, for both bureaucrats and frontline providers. Second, patronage is an important mechanism behind this result. Third, political considerations lead to the selection of less competent individuals. 

Citação

Colonnelli, Emanuele, Mounu Prem, and Edoardo Teso. 2020. "Patronage and Selection in Public Sector Organizations." American Economic Review, 110 (10): 3071-99. DOI: 10.1257/aer.20181491

Aqui um resumo didático do artigo. 

SEC faz pagamento milionário a denunciante


Um dos mecanismos mais eficientes (e baratos) para combater o crime é denúncia. Algumas agências governamentais no mundo pagam para as denúncias que, se forem verdadeiras e fundamentadas, ajudarem no combate a fraude, corrupção e outros. Entretanto, muitas vezes as entidades não usam esta arma para ajudar na sua tarefa de defender a sociedade ou uma organização. O caso mais recente foi a Wirecard, empresa alemã, onde um funcionário chegou a denunciar a fraude contábil antes que a mesma se tornasse notícia e provocasse o grave problema para a empresa. 

Sobre isto, a SEC, entidade que fiscaliza o mercado de capitais dos Estados Unidos, acaba de pagar 114 milhões de dólares para uma pessoa que fez uma denúncia e colaborou em um caso de fraude. Trata-se do maior prêmio já pago a um denunciante. A SEC não forneceu os detalhes, nem o nome da empresa envolvida. 

"Este hito atestigua el compromiso de la Comisión de recompensar a los denunciantes que brindan a la agencia información de alta calidad", dijo el presidente de la SEC, Jay Clayton, quien reiteró el compromiso de la institución para que aquellas personas cuyas denuncias ayuden a destapar nuevos fraudes "de la manera más rápida y eficiente posible".

"Las acciones del denunciante premiado fueron extraordinarias", agregó Jane Norberg, responsable de la Oficina de Denunciantes de la SEC, quien destacó que "después de informar internamente sobre su inquietudes, y a pesar de las dificultades personales y profesionales, el denunciante alertó a la SEC y a otra agencia acerca de las irregularidades y brindó asistencia sustancial y continua que resultó fundamental para el éxito de las acciones".

Rir é o melhor remédio

 

Comercial de site de namoro, onde o diabo conhece uma garota, 2020, e ocorre "match". Via aqui. Lançado dia 2, já tinha milhões de visualizações no YouTube. 

03 dezembro 2020

Sobre a questão da previsão

A recente eleição do presidente dos Estados Unidos trouxe uma discussão sobre as pesquisas eleitorais. A vitória de Biden parecia bem mais fácil nas pesquisas do que foi na prática. Na eleição passada, as pesquisas tinham apostado em Clinton, mas Trump venceu. 

Entre as discussões, um texto trouxe alguns considerações interessantes:

Uma previsão cuidadosamente construída é (muito provavelmente) melhor do que a alternativa. Ou, para citar uma frase de Bill James que Andrew usou, “A alternativa para boas estatísticas não é nenhuma estatística, são estatísticas ruins”.

O que aconteceria se não houvesse previsões profissionais de grupos como a equipe do Economist ou analistas profissionais como Nate Silver? (...) Ou talvez eles questionem ansiosamente amigos e vizinhos (na verdade, provavelmente há algumas informações valiosas lá , mas apenas se agregarmos as pessoas!), Ou extrapolem a partir da atenção dada aos candidatos na televisão pública, ou quantos sinais eles veem em pátios ou janelas próximos , ou examinar folhas de chá, observar entranhas de animais mortos, etc. 

Uma alternativa que já existe são os mercados de previsão. Mas é difícil argumentar que eles são mais precisos do que uma previsão cuidadosamente construída [isto é controverso]. (...)

Imagem aqui

Como um classificado revelou que a empresa não estava bem



Em fevereiro deste ano, antes da pandemia, nós postamos sobre a proposta da empresa Quibi. A empresa foi fundada em 2018 e tinha no comando Jeffrey Katzenberg (produtor de Aladin, Rei Leão e outros) e Meg Whitman (ex-CEO da HP). Seu objetivo era produzir filmes de curta duração, 10 minutos cada, com grandes estrelas de Hollywood (Spielberg, Zac Efron e outros). 

Parecia que tinha tudo para dar certo. Mas alguns meses depois do lançamento, a empresa fechou. Qual a razão? Problemas sérios de marketing e com o desenho do produto. Por exemplo, os filmes produzidos não podiam ser vistos nos computadores e TV, somente no celular. Havia a concorrência do YouTube, que é gratuito e possui um catalogo enorme. E gastos fora de controle: 6 milhões de dólares para Reese Whiterspoon narrar um programa de animais. Outro exemplo: uma série com Laurence Fishburne e Stephan James, custou US $ 15 milhões por 15 episódios de 10 minutos cada; um episódio de Stranger Things, da Netflix, custa no máximo 8 milhões, mas com 45 minutos de duração. 

Neste história recente, um caso bem "interessante". Os funcionários ficaram sabendo que a empresa não estava bem graças a um anúncio de classificados. (Veja como uma informação, aparentemente fora do contexto, pode ser reveladora)

Whitman, a CEO, mudou para Los Angeles depois de ter sido recrutada por Katzenberg. Logo após o lançamento do Quibi, Whitman discursou para sua equipe sobre uma reformulação do produto. Ao mesmo tempo, em agosto, Whitman colocou sua casa à venda. Mas o anúncio do fechamento da empresa só ocorreu em outubro. 

Contabilidade? - Lidamos com informação e esta pode surgir dos mais diferentes lugares. Ao anunciar, discretamente, a venda da sua casa, Whitman indicou que a empresa Quibi não tinha futuro. 

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

02 dezembro 2020

Coisas que aprendi remando


Há três anos resolvi praticar um esporte diferente: o remo. A pandemia afastou da atividade, mas sempre pensei em postar sobre as coisas que aprendi remando. 

1. Remo é fácil - Eu lembro que há muitos anos tive vontade de aprender tênis. Fui conversar com um professor e ele disse: em seis meses você estará trocando bola. Achei muito longo e complicado, apesar de ser, até certo ponto, verdadeiro. O remo é um esporte fácil de aprender e praticar. Um neófito conseguirá aprender os movimentos em menos de uma hora. Depois disto, é só entrar em um barco e aproveitar. 

2. Remo é um esporte para panturrilha e abdômen - Esta talvez seja a maior surpresa para aqueles que nunca fizeram este esporte. As pessoas pensam que um remador precisar ter braços fortes. Mas o local onde o remador senta no barco é móvel e isto faz com que os músculos mais exigidos sejam a batata da perna e o abdômen. 

3. Existem dois tipos de remadores - A melhor classificação de remador é aquela que separa os praticantes em dois grupos: aqueles que nunca viraram seu barco e os que já viraram. Basta um descuido ou um vento mais forte para você sair do primeiro grupo. No meu caso, aconteceu no dia que estava mudando para um barco mais leve e o tempo mudou. É bastante vergonhoso chegar todo molhado. 

4. Você pratica o esporte com o tênis desamarrado - Uma das regras de segurança é que você deve subir no barco com o tênis desamarrado. O remador tem os pés presos ao barco e caso "a canoa virar", o remador não fica preso ao barco. É uma medida de segurança. 

5. Quanto mais fino o barco, mais rápido e mais instável - Os iniciantes geralmente apreendem o equilíbrio com barcos mais largos. À medida que praticam a atividade, vão evoluindo para barcos mais estreitos. Estes barcos são rápidos, mas também são mais instáveis, exigindo maior equilíbrio. 

6. Você anda de ré - Remar é como andar de carro de marcha ré. Isto significa que você não está olhando para onde está indo, sendo necessário ter um certo senso de localização. Os iniciantes tendem a virar muito a cabeça, tentando ver se o barco está indo em linha reta. Por conta disto, eventualmente há acidentes como: tocar o barco na margem (ou em uma ilha), passar perto de outro barco, remar de forma sinuosa, etc. 

7. O remo pode ser praticado coletivamente - O normal é a prática do remo individual, mas existem possibilidades de praticar o esporte com mais pessoas. O mais divertido, na minha opinião, é a canoa havaiana, com 12 ou mais pessoas.

8. Não é um esporte caro - Em um clube de remo, você paga a mensalidade e pode usar os barcos. No clube que praticava, isto dava direito a usar o equipamento a qualquer hora do dia, entre seis da manhã até as seis da tarde, sem limite de horário. Não há um "exigência" de um roupa específica (pode ser interessante, mas não é fundamental). 

9. Remadores detestam usar coletes - Remadores são propensos ao risco. Não gostam de usar coletes - acham que atrapalham os movimentos. Eu sempre usei: mesmo sabendo nadar, o colete pode ser sua salvação em caso de passar mal durante a atividade. É interessante que, por diversas vezes, pessoas perguntavam se eu sabia nadar. Por estar usando meu colete.

10. Velocidade do vento - A velocidade do vento pode determinar a qualidade da pratica do remo. Quando a velocidade é baixa, a água fica calma e é bastante tranquilo remar. Se estiver ventando muito, a água fica turva, aumentando o risco do barco virar. Geralmente o serviço de meteorologia divulga esta informação. 

11. Saindo contra o vento - O ideal é sair para remar na direção contrária ao vento. É aplicação prática do ditado: "para baixo todo santo ajuda". Quando você estiver voltando, é bastante provável que o vento esteja favorável; você está mais cansado, o vento a favor vai ajudar. 

12. Remar é relaxante - Além da atividade física, o remo é bastante relaxante. Se você fizer a atividade em um lago, por exemplo, enquanto pratica o esporte, poderá contemplar a natureza. Quantas vezes estava remando e pensando em um dia escrever um texto sobre as coisas que aprendi remando...

(Foto: Célio Dias, atleta. Professor de remo do clube onde aprendi remo)

Podcast Ciência Aberta


O podcast Ciência Aberta foi um dos mais ouvidos no Spotify, categoria Science, este ano. É uma grande conquista da ideia da professora Dra. Ducineli Regis Botelho. Criado na metade do ano, em plena pandemia, o podcast tem uma estrutura bem interessante. Um ou dois alunos de graduação leem uma dissertação ou tese. A partir da leitura, elaboram questões para o aluno e seu orientador. Estas perguntas são respondidas como se fosse um bate papo. 

Como as questões são apresentadas pelos alunos, há uma curiosidade natural no diálogo que se estabelece entre entrevistadores, discente da pós-graduação e orientador. Alguns dos episódios duraram quase uma hora e meia; outros ficaram mais curtos. Talvez exista aí uma fase natural de consolidação do podcast. 

Até o Ciência Aberta, eu confesso que não tinha escutado nenhum podcast. Depois da iniciativa da Ducineli, isto pareceu ser algo natural; uma atividade que pode ser feita enquanto você caminha ou está lavando os pratos sujos. Você pode encontrar os episódios em diversos serviços de podcast. 

(Folder com a imagem da minha participação com a Mariana Bonfim)

30 novembro 2020

Reduzindo a zero a pegada de carbono do Brasil


Em um momento que se discute a questão ambiental, um artigo de opinião de David Fickling para Bloomberg destaca a posição brasileira. A tese central é que o Brasil estaria em uma posição excelente, entre as grandes economias, para ter uma "pegada de carbono" zero. Se isto fosse a vontade do governo. 

A possibilidade do Brasil zerar suas emissões "seria muito mais fácil do que a maioria". Para isto, o país conta com uma geração de energia principalmente de origem hidrelétrica: 64% da nossa energia é proveniente de barragens.  Energia eólica, solar e nuclear respondem por 21% do total. Os combustíveis fósseis são responsáveis por 15%. Esta matriz energética foi construída há muitos anos. 

O artigo é longo, mas vale uma leitura. Onde o país pode melhorar? Fickling lembra que nossas exportações agrícolas possuem problemas ambientais, mas que podem ser corrigidos com uma melhoria na produtividade. 

A carne bovina brasileira é uma das mais intensivas em carbono do planeta. Cada quilo de gado brasileiro criado em terras recém desmatadas adiciona até 726 quilos (1.600 libras) de emissões de carbono equivalente para a atmosfera, de acordo com um estudo de 2011 . Em partes mais estabelecidas do país, ele requer apenas cerca de 22 quilos de CO2, e fazendas em outros países exigem metade disso, com alguns números chegando a 3 quilos .

Ou seja, se o país corrigir a baixa produtividade da pecuária, isto pode reduzir o desmatamento e a emissão do metano proveniente do gado. 

Contabilidade - uma forma de "incentivar" o problema ambiental seria com o aumento da produtividade da pecuária. Nós temos algumas grandes empresas processadoras de proteína (como gostam de serem chamadas) na bolsa de valores. Obrigar a relatar as emissões de carbono pode ser um caminho para esta melhoria. 

Imagem: aqui



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Sarcasmo

29 novembro 2020

Licença Social para Funcionar


Um texto sobre a Shell traz um termo bem interessante:

“Licença social para funcionar” é uma das forças vitais das marcas. Supostamente [o termo foi] cunhado pelo CEO canadense de mineração James Cooney em 1997 após um desastre; o conceito é basicamente o quanto o público está disposto a abraçar (ou pelo menos tolerar) como uma indústria opera.

A gigante do petróleo [Shell] decidiu pesquisar seus 551.000 seguidores no Twitter sobre o que eles estavam dispostos a fazer para reduzir a poluição do carbono como parte de um estranho debate de energia. A estrutura da pesquisa girou em torno de escolhas pessoais, o que há muito é uma tática de desvio da indústria do petróleo para evitar o escrutínio de seu modelo operacional. (Curiosidade: a pegada de carbono pessoal foi uma ideia popularizada pela BP)

No caso da Shell, sua pesquisa fez florescer milhares de reações iradas. (...) este foi um sinal claro do desaparecimento da licença social da indústria do petróleo.

Aqui estão alguns fatos sobre a Shell. Os próprios cientistas da empresa alertaram sobre seu papel em impulsionar a crise climática que data pelo menos dos anos 1980 , e ainda assim ela avançou a todo vapor desempenhando esse papel. Suas ações desde 1988 são responsáveis ​​por 2% de todas as emissões globais. É a segunda maior fonte de emissões de propriedade de investidores no mundo naquela época, atrás apenas da Exxon. A Shell também é o sétimo maior contribuinte para a acidificação dos oceanos  desde 1880 . Esta é uma empresa que nunca mereceu a licença social para operar, mas à medida que os impactos da crise climática se tornam mais claros, ela se torna ainda mais restrita.

No seguimento de sua enquete condenada, a Shell tuitou: “Mudar o sistema de energia exige que todos façam sua parte. ... De nossa parte, dissemos na semana passada que a Shell remodelará seu portfólio de ativos e produtos para atender às necessidades de energia mais limpa de seus clientes nas próximas décadas ”.

Como você deve ter adivinhado, um relatório publicado no início deste ano pela Oil Change International descobriu que a Shell, juntamente com todas as grandes empresas de petróleo que propuseram um plano climático, está falhando. No caso da Shell, seus esforços foram considerados “grosseiramente insuficientes” em oito das 10 categorias incluídas na análise. (Era simplesmente “insuficiente” nas outras duas categorias.) As únicas empresas que estão fazendo menos são a Chevron e a Exxon.

28 novembro 2020

Rir é o melhor remédio

 




Rejeição de artigos


Em geral um periódico de boa qualidade tem uma taxa de rejeição de 90% ou mais. Um periódico de boa qualidade este número é menor, algo em torno de 75%. Assim, ter um artigo rejeitado é algo comum. Há histórias de pesquisas fundamentais que foram recusadas pelos periódicos; a teoria das opções é um exemplo.  

Alguns periódicos apresentam esta informação para ajudar o autor na escolha da submissão. Existem sites que também divulgam isto. Há aqui um problema: o que seria rejeição de um artigo? Quando um autor submete um artigo fora das normas do periódico, o texto pode ser devolvido para correções. Este caso entraria na estatística de rejeição? Alguns periódicos consideram que sim, outros só passam a contar a partir da análise do texto. 

Alguns estudos mostraram que a taxa de rejeição estaria em torno de 60% (vide aqui as referências). Mas que artigos submetidos por países como China, Índia e Brasil o nível de aceitação é menor. Por exemplo, artigos de países desenvolvidos tem uma taxa de rejeição média de 50%; já países com piores desempenho - que inclui o Brasil - a taxa de rejeição estaria entre 73% a 81%

Os periódicos abertos possuem uma taxa de rejeição menor. Mas estes periódicos são mais recentes e geralmente estão em áreas onde a aceitação é geralmente maior. 


27 novembro 2020

Resposta do Fasb à crise


Estamos deixando de olhar o que está ocorrendo com o Fasb. Desde 2010, quando o Brasil adotou as normas internacionais do Iasb, passamos a acompanhar de perto o que se passa na Fundação IFRS. (Acho que este blog é uma resistência: entendemos que o Fasb produz normas melhores que o Iasb e estas normas ainda são relevantes para algumas empresas brasileiras). 

Como o Fasb reagiu diante da crise de saúde mundial? Basicamente postergou a adoção de normas que já estavam aprovadas e divulgadas. Algumas destas normas foram elaboradas em conjunto com o Iasb; enquanto o Iasb correu para implantar, o Fasb foi mais lento (menos eficiente?) e em alguns casos não adotou a mesma norma do Iasb (caso do leasing). A primeira atitude do Fasb foi então postergar, ainda mais, a adoção destas normas. Eis um trecho do Accounting Today sobre a questão do Seguros: 

[O Fasb] está adiando a data de vigência de seu padrão de contabilidade de seguro de longa duração por um ano e tornando mais fácil sua adoção antecipada.

No mês passado, os membros do conselho votaram para adiar o padrão em resposta à pandemia de coronavírus. (...) O FASB tem adiado vários de seus padrões este ano em resposta à pandemia COVID-19, incluindo arrendamentos e perdas de crédito, bem como reconhecimento de receita para empresas de franquia. Em julho, propôs atrasar o padrão de seguro após a votação em junho para emitir a proposta

Enquanto isto, o Fasb continuou com a modificação da sua estrutura conceitual (com algumas alterações bem interessantes) (breve iremos postar sobre isto)

(Em tempo, o IPSASB também adiou as datas efetivas de normas para o setor público)

Frase



“Uncertainty is the engine of science, and a sign of knowledgeable humility.” 

(Incerteza é o motor da ciência e um sinal de humildade bem informada) David Spiegelhalter. (The Guardian via e-mail da Nature)

26 novembro 2020

Tesla

A empresa Tesla tem gerado um debate muito interessante. Os interessados em contabilidade deveriam acompanhar mais de perto este debate pelo menos por dois motivos. Primeiro, os números contábeis da empresa são ruins (inclui até acusação de manipulação/fraude contábil), não gerando lucro nem caixa com as atividades operacionais. Mesmo assim, a empresa tem um valor de mercado absurdamente elevado. Segundo, há uma discussão sobre o custo dos produtos fabricados pela empresa, em relação aos seus concorrentes. A seguir, alguns trechos de um artigo publicado por Wolf Richer:

Tesla é um fenômeno sobrenatural, liderada por um cara que anda sobre a água e não está fabricando e vendendo automóveis em uma indústria estagnada ou em declínio, mas está criando milagres com rodas em um universo sem limites. Portanto, entendo perfeitamente que é um sacrilégio mencionar Tesla ao mesmo tempo que a Ford e a General Motors. Mas aqui vamos nós, com sacrilégio e tudo, lado a lado, apenas os números, Tesla, Ford e GM.

A GM informou esta manhã que as receitas globais para o terceiro trimestre ficaram estáveis ​​em US $ 35,5 bilhões, em fortes ganhos de vendas por unidade na China e queda nas vendas por unidade nos EUA, mas com uma mudança para veículos mais caros nos EUA. A GM anunciou anteriormente que as entregas do terceiro trimestre na China, por meio de sua joint ventures, aumentaram 12%, para 771.400 veículos (outras montadoras também relataram grandes ganhos, ano a ano, no terceiro trimestre na China). Nos EUA, as entregas da GM no terceiro trimestre caíram 10% ano a ano, para 665.000 veículos, mais uma vez vendendo mais veículos na China do que nos EUA.

A comparação: Tesla, Ford e GM.

As receitas globais da GM e da Ford foram mais de quatro vezes as receitas globais da Tesla:


O lucro líquido atribuível aos acionistas ordinários no terceiro trimestre da GM foi 13 vezes o da Tesla; e o lucro líquido da Ford foi 42% maior do que o da Tesla:


O lucro por ação no terceiro trimestre da GM foi mais de 10 vezes o da Tesla. O LPA da Ford era menos da metade do Tesla:


Mas a capitalização de mercado da Tesla (preço das ações vezes o número de ações em circulação), apesar de ser uma empresa muito menor, é atualmente 13 vezes a capitalização de mercado da Ford e quase 8 vezes a capitalização de mercado da GM. E é quase 5 vezes sua capitalização de mercado combinada:


O que essa comparação de capitalização de mercado mostra não é que a Ford e a GM estão de alguma forma subvalorizadas por um fator de 100 ou qualquer outra coisa, mas que o preço das ações da Tesla está ridiculamente fora de proporção.

A Tesla tornou carros elétricos (EV) legais e forçou os fabricantes de automóveis antigos a levar os EVs a sério. E agora, depois de anos perdendo tempo, todos estão levando os EVs a sério.

(...) E esses fabricantes de automóveis antigos estão agora investindo muitos bilhões de dólares cada um para projetar e construir EVs. Eles moveram seus cérebros mais brilhantes para o segmento. Alguns desses EVs já estão no mercado, outros estão chegando no mercado.

A competição que a Tesla enfrenta está crescendo e se tornará enorme. Antes era apenas Tesla sozinha, e se você quisesse um EV, teria que ser um Tesla. Agora são todos, em todo o espectro, de carros compactos a picapes.

Nesse aspecto, Musk realizou um milagre: ele criou uma indústria inteira e forçou os gigantes a tirar suas bundas preguiçosas e se mexer. Ele os abalou. E agora eles estão se movendo.

(...) A Tesla agora está enfrentando todos os gigantes que despertou - além de todos os recém-chegados que agora estão lutando na China - o maior mercado de automóveis e EV do mundo - e em outros lugares.

Fabricar EVs é mais barato e simples do que fabricar veículos ICE (veículo de combustão interna) - com a bateria sendo a exceção. O trem de força ICE, os sistemas de combustível, os sistemas de refrigeração, os sistemas de lubrificação, os sistemas de exaustão, a transmissão, o controle de emissões e os sistemas de gerenciamento do motor, etc. são altamente complexos. E tudo isso é jogado fora e substituído por motores elétricos, uma bateria e os sistemas que os controlam e os gerenciam. Grande parte da frenagem é feita por motores elétricos, que geram eletricidade no processo que carrega a bateria, reduzindo não apenas o consumo de eletricidade, mas também a manutenção do freio. A bateria é o ponto crucial, mas essa tecnologia está avançando a passos largos e está sendo comoditizada.

A Tesla está perdendo seu status de pioneira e se tornando apenas mais um competidor em uma indústria dominada por gigantes. A Tesla criou uma marca fabulosa (“Tesla”) e, para pessoas que gostam de comprar marcas fabulosas, isso é uma atração. Mas para outros compradores de carros e caminhões, não é uma atração. O que eles querem é um veículo bem feito, confiável e versátil, apoiado por um serviço competente e de fácil acesso e disponibilidade de peças - que os gigantes vêm aprimorando há décadas.

Voltaremos breve ao assunto

25 novembro 2020

Capa do livro de Teoria da Contabilidade

 

A quarta edição já tem uma capa. Um desenho bem moderno e bonito. Saiu a capa preta das edições anteriores e entra este novo desenho.

Lembrando que a 4a edição traz profundas mudanças na estrutura e capítulos. Espero que todos gostem

Rir é o melhor remédio

 


24 novembro 2020

Treinamento do IPSAS


Um conjunto de textos para treinamento sobre as normas internacionais do setor público. São dez módulos em arquivo PDF com a seguinte estrutura:

1 - Introdução

2 - Ativo

3 - Passivo

4 - Receitas

5 - Despesas

6 - Instrumentos Financeiros

7 - Consolidação e Combinação

8 - Apresentação

9 - Primeira adoção do regime de competência

10 - Outros pronunciamentos

Abertura de capital da Corpel


A notícia não despertaria interesse se o Grupo Cortel não operasse cemitérios, crematórios e funerárias. O Grupo pediu aval para realizar uma oferta inicial de ações (IPO). Eles atuam em quatro estados do Brasil e possuem "10 cemitérios em seu portfólio, também atuando em diversos outros “produtos e serviços atrelados ao luto”, segundo o prospecto preliminar da operação.". 

Nos nove primeiros meses de 2020, o grupo teve receita líquida de R$ 75,9 milhões, ante R$ 55,4 milhões no mesmo período do ano anterior. O lucro líquido foi R$ 21,5 milhões, em comparação com R$ 9,1 milhões de reais na mesma etapa de 2019. 

A empresa planeja expandir suas operações com a aquisição de ativos “em regiões com baixo atendimento profissional de cemitérios e serviços funerários”, mas que possuam população acima de 500 mil habitantes e com PIB per capita acima da média do país. 

(...) Segundo a companhia, se por um lado a epidemia de Covid-19 tem limitado “o tempo do cerimonial fúnebre” para duas horas, podendo “afetar os serviços de maior valor agregado durante este período de isolamento social”, por outro “alguns empreendimentos, já apresentam aumento de demanda e consequentemente aumento em suas receitas”, afirmou a Cortel no prospecto. 

“A expectativa da companhia é que haja um aumento de demanda nos próximos meses em virtude das mortes por Covid-19”, acrescentou a companhia.

Unicórnio

 Unicórnio são empresas novas, com elevado valor. O gráfico mostra os unicórnios mais valiosos em 2020, com a presença de uma empresa brasileira:



Rir é o melhor remédio

 


23 novembro 2020

Contabilidade da Cannabis


A contabilidade pode ser aplicada a qualquer negócio: empresa comercial, uma indústria, o governo, um bordel, aos negócios particulares e em negócios esdrúxulos. Daniel Hood escreve um artigo sobre a dificuldade de ser contador de uma empresa de cannabis nos Estados Unidos. Já discutimos isto aqui, com o caso do Canadá.

A contabilidade para empresa de cannabis é um nicho de mercado interessante. Nos Estados Unidos, alguns estados liberaram a produção e comercialização - sob determinadas restrições - do produto. Durante a pandemia, tudo leva a crer que cresceu o consumo do produto. O consumo do produto parece que resistiu à recessão, embora o abastecimento do mercado ilegal parece ter se aproveitado mais. 

Entretanto, há alguns problemas. Hood lembra que o setor possui um grande problema no acesso aos canais bancários normais: as instituições financeiras estão sob regulamentação do governo federal, que ainda não "legalizou" o negócio. Assim, as transações são basicamente em moeda corrente. E isto traz alguns problemas: roubo, extravio, dificuldade de pagamento de folha e a própria contabilidade. 

Consultoria profissional sobre como administrar um negócio somente em dinheiro é, portanto, crítico para as empresas de cannabis

E auditoria. E uma legislação confusa, onde a ausência de leis federais cria uma série de problemas para as empresas. Em alguns estados, as leis são de responsabilidade dos municípios. E cada localidade tem suas regras. Os softwares específicos possuem bugs e não existe pessoal especializado. 

Pesquisa sobre Covid

 Toda madrugada de segunda, o NBER posta as pesquisas semanais. Algo em torno de 30 pesquisas de excelente nível estão disponibilizadas, antes de serem publicadas nos principais periódicos do mundo. Nesta segunda, chama à atenção (pelo título e resumo) as seguintes pesquisas:

The Value of a Cure: An Asset Pricing Perspective - Viral V. Acharya, Timothy Johnson, Suresh Sundaresan & Steven Zheng procuram determinar o valor da cura de uma vacina para combater o Covid. Usando o preço das ações e as notícias do avanço do estágio de vacinas, os autores fizeram um modelo para precificar os ativos e estimar os ganhos para a economia. Além do valor da cura, a vacina poderia resolver a incerteza decorrente da doença. 

Why Is All COVID-19 News Bad News? Bruce Sacerdote, Ranjan Sehgal & Molly Cook analisam se as notícias sobre o Covid-19, desde janeiro de 2020, são negativas ou positivas. Nos Estados Unidos, 91% das notícias são negativas, versus 54% de fontes fora dos EUA e 65% dos periódicos científicos. A negatividade da imprensa não reage com a mudança de novos casos ou tendências políticas. Parte do resultado é explicada pela preferência dos leitores dos EUA, que preferem notícias negativas: histórias de casos crescentes superam as histórias de casos decrescentes por um fator de 5,5. 

Revenge of the Experts: Will Covid-19 Renew or Diminish Public Trust in Science? - Barry Eichengreen, Cevat Giray Aksoy & Orkun Saka verificaram se epidemias anteriores afetaram a confiança na ciência e nos cientistas. Usando a “hipótese dos anos impressionáveis”, de que as atitudes são formadas de maneira duradoura durante as idades de 18 a 25, os pesquisadores descobriram que isto reduz a confiança nos cientistas e nos benefícios do seu trabalho. E isto é maior nas pessoas com pouco treinamento prévios em ciências. Isto pode afetar, por exemplo, a confiança nas vacinas.

Imagem: aqui

22 novembro 2020

Contabilidade e desenvolvimento econômico


 Os contadores podem dar uma contribuição significativa para a economia nos níveis local, nacional e global, de acordo com um novo relatório da Federação Internacional de Contadores.

Para o relatório , o IFAC se associou ao Center for Economics and Business Research (Cebr), uma consultoria econômica. Em cada medida revisada, a pesquisa encontrou um maior número de contadores correlacionados a um melhor desempenho econômico. Além disso, os contadores que são membros das organizações contábeis profissionais membros da IFAC se correlacionam com um desempenho ainda mais forte nos indicadores econômicos.

Fonte: aqui. Imagem daqui

Aqui no Brasil temos a pesquisa "Onde estão os profissionais contábeis no Brasil" mostrou que quanto maior o IDH, maior a presença de contadores. (vide aqui também)

21 novembro 2020

Estado da Califórnia multa a KPMG


Ainda com respeito ao escândalo da KPMG, que tentou melhorar a qualidade das suas auditorias através da "contratação" de funcionários do PCAOB, o estado da Califórnia multou a empresa de auditoria. 

O motivo foi o fato do estado ter licenciado CPAs. O procurador-geral do estado aplicaram uma multa disciplinar contra a empresa. Durante a investigação da SEC, a KPMG admitiu que muitos dos seus CPA trapacearam no exame de educação continuada interno, colando respostas e manipulando a pontuação do exame. 

Segundo o procurador-geral:

“As auditorias de empresas públicas são particularmente importantes porque fornecem supervisão das empresas nas quais os americanos dependem para investir seu dinheiro suado em pensões e outros fundos de aposentadoria. Quando empresas como a KPMG optam por trapacear em vez de melhorar as práticas da empresa, isso prejudica todo o sistema. Eles serão responsabilizados. ”

Além da multa, a KPMG será obrigada a dar educação continuada em ética. (Imagem aqui)