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Sobre débitos e créditos da vida real

Crise internacional freia a onda de IPOs na Bovespa
Patrícia Cançado e Ricardo Grinbaum
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro - 27/08/2007
Os recentes tremores no mercado financeiro trouxeram uma nova preocupação para as empresas e os bancos de investimentos brasileiros. Muitos deles foram pegos no contrapé, quando se preparavam para abrir capital e vender suas ações na Bolsa de Valores. Pelas contas de Alfried Plöger, da Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca), o número de estréias na Bolsa (IPOs, sigla em inglês para oferta inicial de ações) não vai mais chegar a 70, como se previa. Do início do ano até agora, já foram feitas 49 ofertas.
"Mesmo que se queira, dificilmente se conseguirá vender tantos papéis", diz Plöger. Ou, em outras palavras: "O gato subiu no telhado, nenhum banco aconselharia uma empresa a vender ações agora", diz o advogado Luiz Octavio Lopes, do escritório Mattos Filho. Para Lopes, a festa de dinheiro farto, que incentivou todo tipo de empresa a vender ações, perdeu o gás. "Está claro que é um novo mercado, os investidores provavelmente estarão mais seletivos e mais duros."
Ninguém sabe ao certo o quanto mudou o humor do mercado, mas, por via das dúvidas, as empresas estão pensando em planos alternativos. É o caso da rede de supermercados G. Barbosa, do Nordeste. Seu dono, o fundo de investimentos americano Acon, estudava duas alternativas para vender a empresa: uma oferta de ações na Bolsa ou uma negociação com alguma grande rede, como Pão de Açúcar, Wal-Mart ou Carrefour. Agora, a segunda opção ficou mais próxima.
"O IPO desacelerou.O que se questiona é se o momento é adequado para entrar na Bolsa", diz uma fonte ligada às negociações. O medo dos donos do G. Barbosa é não conseguir vender a empresa na Bolsa de Valores pelo que eles acham que ela vale, entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões.
A empresa de shopping centers Aliansce, que tem como um de seus principais sócios a Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, estava fazendo seu "road show" - apresentação a investidores - no dia em que as bolsas desabaram. A Aliansce cancelou os compromissos e pediu à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para interromper o processo. O pedido de abertura de capital foi suspenso por 60 dias. É tempo suficiente para avaliar se o mercado vai se recuperar ou não. Adiar ou cancelar um processo de abertura de capital tem seus custos - e eles podem ser ainda mais altos que se imagina. Antes da crise, havia dinheiro fácil para as empresas se prepararem para o IPO. Num ambiente feroz de competição, os bancos de investimentos vinham emprestando muito dinheiro para engordar as empresas e deixá-las mais atraentes na hora de vender ações. Esse tipo de operação é conhecida, em geral, como ponte para o IPO. Enquanto o mercado ia bem, o pagamento da dívida e das comissões dos bancos estava garantido porque era descontado do dinheiro levantado na venda de ações.
O risco dessa operação é que a ponte não leve a lugar nenhum, uma vez que não haja ambiente para abrir capital. Nesse caso, as empresas podem ter dificuldade para pagar os empréstimos e os bancos ficarem com um mico em suas carteiras. Empresas que já pegaram dinheiro emprestado para se preparar para um IPO podem ser levadas a mudar de estratégia.
No início do ano, o banco mineiro Bonsucesso e seus donos - a família Pentagna Guimarães - pegaram dois empréstimos, no valor de R$ 230 milhões, com o banco de investimentos UBS Pactual. O Bonsucesso estava às vésperas de abrir o capital quando a crise estourou. O IPO não saiu.
Segundo o Bonsucesso, o banco perdeu o prazo para a entrega de documentos à CVM. Agora, deverá fazer nova tentativa só no final de setembro ou início de outubro, "devido à crise de liquidez", diz o presidente do Bonsucesso, Paulo Henrique Pentagna Guimarães.
A questão agora é saber se os investidores terão o mesmo apetite que antes para comprar ações do Bonsucesso e, assim, dar os recursos necessários para pagar o UBS Pactual. O Bonsucesso não é o único caso. Um dos maiores bancos de investimentos do País emprestou mais de R$ 700 milhões em um ano para viabilizar aberturas de capital. Foi um sucesso. Por enquanto.
Volume de trabalho deve seguir em alta
Valor Econômico - 28/08/2007
Além da previsão de que os negócios com abertura de capital continuarão firmes tanto no segundo semestre deste ano, quanto no ano que vem, as auditorias estão animadas com a projeção de ganhos com os serviços de pré e pós-oferta pública. Deloitte, PricewaterhouseCoopers (PwC), Terco e BDO relataram que um número bem maior do que aquelas cerca de 50 empresas que lançaram ações na primeira metade deste ano tem procurado os serviços de auditoria e de consultoria para se estruturarem com objetivo de fazer uma oferta. Além disso, as empresas que já abriram capital continuarão a ter que publicar suas demonstrações financeiras. "Como a maioria delas entrou no Novo Mercado, elas têm outras demandas para cumprir, como a reconciliação em US-Gaap (padrão contábil americano) e com IFRS (padrão internacional), além do balanço trimestral auditado para a CVM", lembra Bruce Mescher, sócio da Deloitte.
Sobre as companhias que estão se preparando, Mescher afirmou que "a fila é grande" e que a demanda deve "continuar aquecida nos curto e médio prazos". Fábio Cajazeira, da PwC, recorda que a elaboração para a abertura de capital envolve vários serviços, como a preparação de sucessão familiar, o planejamento fiscal e o apoio para formação da estrutura de governança corporativa da companhia. Segundo Henrique Campos, da BDO Trevisan, o mercado de candidatas a abertura de capital é o que mais está crescendo. "O 'investment grade' está chegando e o caminho para a bolsa é irreversível. As empresas sabem que se ficarem paradas serão engolidas. Por isso estão se preparando para irem ao mercado", afirma.Mauro Terepins, presidente da Terco, diz que muitas delas querem ser auditadas para conseguir investimentos de fundos de participação e empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para Terepins, o mercado está cada vez mais dividido entre dois tipos de empresas. "Tem aquelas que são auditadas e aquelas não são e ficam fora do jogo", diz.
Ofertas esquentam mercado de auditoria
Valor Econômico - 28/08/2007
O movimento crescente de companhias em processo de abertura de capital, um filão explorado por bancos, escritórios de advocacia e consultorias, não deixou de fora as firmas de auditoria. Apesar de o "boom" provocado pela forte demanda de empresas interessadas em ir à bolsa confirmar a concentração do mercado nas mãos das chamadas "Big Four" - (...) ainda sobra trabalho para firmas menores. Todas estão de olho em honorários que variam, em média, de R$ 500 mil a R$ 1 milhão por operação, de acordo com a quantidade de horas trabalhadas por oferta.As quatro grandes auditaram os balanços de 47 das 55 empresas que fizeram ofertas de ações este ano no Brasil (incluindo operações de empresas já abertas).
Essa participação equivale a 85,45%, nível superior ao que essas firmas possuem em relação ao total de companhias já abertas no país, que estava em 56% no final de 2006, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A concentração é reflexo do domínio que as quatro grandes têm do mercado internacional. Na busca de recursos, principalmente entre investidores estrangeiros (que têm comprado de 60% a 70% das ações vendidas nessas operações), é natural que as empresas queiram uma "marca" de auditoria mais conhecida. No mercado, comenta-se que haveria também uma pressão dos bancos coordenadores dos lançamentos em favor das grandes.(...) Para Sérgio Bendoraytes, sócio da firma, a questão "não é de qualidade do trabalho, mas de 'placa internacional'". "Se [o banco] não tivesse mudado, não conseguiria fazer a oferta", afirma Bendoraytes. Ele conta ainda que, antes da abertura de capital, o fato de a auditoria não ser uma Big Four foi um dos fatores que impediram que o Cruzeiro do Sul fizesse uma emissão de 10 anos no mercado internacional. Nem mesmo a associação com a firma internacional Horwath lhe garante uma participação mais expressiva nesse mercado. "Eles não querem a sétima maior [referindo-se à posição da Horwath], tem que ser uma das quatro", diz. Segundo ele, insistir em atuar nesse mercado é querer dar "murro em ponta de faca". "Não crio expectativas de participar de ofertas públicas. Cada um tem que procurar o seu nicho, o que no nosso caso são os clientes de médio porte", afirma.
Enquanto as empresas brasileiras priorizam seus projetos de responsabilidade socioambiental com uma visão de geração de valor a partir desses investimentos, um outro processo, complementar, ganha força no mundo corporativo: a busca por modelos de contabilização dos investimentos sociais, classificados como ativos intangíveis, que possam demonstrar de maneira precisa o retorno da aplicação dos recursos nesses projetos.
As companhias querem saber qual o impacto real dos seus investimentos socioambientais. E, os investidores, uma maior certeza sobre o retorno que essas decisões trarão no futuro. Essa combinação de interesses resultou na busca por instrumentos contábeis que mensurem, de modo objetivo, o efeito dos investimentos sociais.
O principal avanço nesse sentido, até agora, foi a criação dos balanços sociais, amplamente utilizados pelas grandes corporações. Esse tipo de relatório, no entanto, ainda se mostra limitado, sobretudo pelo seu caráter unicamente descritivo.
"Esses balanços são muito úteis, mas hoje a contabilidade caminha para incluir os chamados ativos intangíveis no caixa da companhia. A idéia é que, cada vez mais, seja possível contabilizar, de forma precisa, os investimentos sociais de uma empresa", afirma o matemático Josenildo Santos, pós-doutor em contabilidade pela USP (Universidade de São Paulo).
O matemático já catalogou cerca de 30 modelos criados por diferentes organizações, que utilizam técnicas contábeis para mensurar impactos e retornos de projetos socioambientais nos balanços. Embora a evolução seja aparente, Santos crê que, em apenas cinco anos, a contabilidade, em sua forma mais tradicional, poderá ser utilizada como ferramenta de complementação dos balanços sociais e ambientais. "Há algumas tentativas, mas ainda é preciso investir muito em pesquisa para haver um avanço significativo", diz.
Ceticismo
O presidente do conselho curador da Fipecafi e professor da USP, Eliseu Martins, é mais cético em relação à contabilização objetiva das ações de responsabilidade corporativa. Ele, que já foi um dos maiores entusiastas do assunto no país, diz não perceber uma tendência nesse sentido. "Não vejo nenhuma das instituições que deveriam se encarregar de promover essas evoluções dos aspectos contábeis se preocupando com isso. A Europa, que sempre foi avançada nesse assunto, também mostra um arrefecimento das atividades", conta Martins.
Para o pesquisador, já é possível contabilizar de maneira razoável as questões ambientais de uma companhia. "É só tirar do ativo total quanto dele é destinado a equipamentos e instalações para evitar problemas ambientais. Também é possível mensurar passivos relacionados ao meio ambiente, despesas e compromissos futuros", explica.
No caso dos projetos sociais, também se pode mensurar parte das ações de uma empresa, como as despesas com projetos voltados para a sociedade. O problema é justamente o retorno que esses investimentos darão num determinado prazo. "Para isso, são necessários modelos específicos, mas não há nada muito promissor ainda em vista", avalia Martins.
Rápida ou lenta, a evolução da contabilidade para uso na responsabilidade corporativa é considerada um passo natural no processo de conscientização socioambiental das companhias. "As ações relacionadas à responsabilidade se refletem, ainda que indiretamente, nos aspectos financeiros de uma empresa. Portanto, é esperado que a contabilização desses ativos seja melhorada com o passar do tempo", afirma Beat Grueninger, presidente da consultoria BSD, especializada em responsabilidade corporativa.
A eleição do novo integrante da diretoria executiva do Banco do Brasil (BB), Luiz Alberto Maguito Vilela, gerou divergência no conselho de administração da instituição. O político goiano membro do diretório nacional do PMDB, partido da base aliada do governo, foi rejeitado pelos conselheiros representantes dos acionistas minoritários do banco. Mas a indicação teve maioria de votos, três contra dois.Bacharel em direito pela Faculdade de Anápolis, o ex-senador e ex-governador de Goiás foi indicado para assumir a vice-presidência de governo do BB, desmembramento da vice-presidência de agronegócios, criada na mesma reunião de conselho que o elegeu. Os representantes dos minoritários no conselho do BB também foram contra essa proposta. A reunião ocorreu em 13 de julho e a ata do encontro está disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).Os representantes dos minoritários do banco são indicados pela Previ, caixa de previdência dos funcionários do próprio BB. (...)
Um controller pode aspirar subir na carreira tornando-se CFO (Chief Financial Officer) de sua companhia. Mas para transformar esse desejo em realidade, provavelmente, terá um longo caminho a percorrer. Isso porque precisará adquirir habilidades bem diferentes das utilizadas em sua função, como saber negociar e gerenciar pessoas, por exemplo. Esta é uma das razões, pela qual boa parte desses profissionais não está conseguindo hoje galgar o tão sonhado posto em suas empresas. É o que aponta pesquisa realizada pela Korn/Ferry International, consultoria especializada na seleção para o alto escalão, que ouviu mais de 500 mil executivos, entre os quais 1,5 mil CFOs, das 500 maiores empresas do mundo. De acordo com o estudo, quando a companhia busca dentro de casa um novo CFO, o candidato número um é o controller, representando 33% do universo entrevistado.
"Mas se as empresas 'caçam' fora, apenas 4% dos executivos contratados para a função são controllers", afirma Jorge Maluf, sócio da Korn/Ferry. A grande maioria, 58%, já ocupa em outra empresa o cargo de diretor financeiro. Ou são presidentes de empresa, 17%.A principal causa desse fenômeno é a falta de visão de negócios e habilidade de liderança dos controllers, segundo aponta o levantamento.
Uma auditoria de técnicos do Ministério da Saúde traça um quadro preocupante do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, no Rio, um dos maiores do país. O documento indica problemas graves, que vão da distribuição de remédios não aprovados pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) até desvios de verbas destinadas ao custeio de atendimentos de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A investigação do Ministério da Saúde deverá ser ampliada pelo Ministério Público federal. (...)
A auditoria informa que o balancete registra o recebimento de R$198,5 mil em janeiro de 2006, mas os extratos bancários só apontam a existência de R$R$171,5 mil, uma diferença de quase R$30 mil. Nos dois meses seguintes, há uma inversão dos valores. Em fevereiro, o balancete não registra recebimento de verbas do SUS. Mas o extrato bancário indica a existência R$20,5 mil. Em março, o descompasso é mais gritante: são R$335,3 mil creditados na conta do hospital, dinheiro que não aparece no balancete.
(...) A direção geral do hospital não controla sequer a entrada de pacientes atendidos com base no SUS ou em nas clínicas particulares. “Não existe contrato ou qualquer outro documento entre a direção do hospital e as chefias de enfermarias definindo critérios e valores a serem pagos ao hospital pelos atendimentos a particulares realizados diretamente pelas clínicas”, destacam os auditores. O hospital também não divide com as clínicas particulares despesas básicas com energia, gás, lavanderia e telefone, entre outras. Ou seja, os custos destes serviços recaem sobre o hospital, financiado em parte pelo governo federal. (...)
A auditoria relata ainda a distribuição de insumos (luvas, agulhas, soro) para procedimentos em pacientes internados. Para os auditores, o exagero provoca desperdício e facilita o desvio de material. Os auditores descobriram que o hospital “recebe lotes de medicamentos em fase de experimentação e ainda não validados pelo Ministério da Saúde”.
Central de produções
O contador José Appel, que acompanhou o presidente do Senado, Renan Calheiros, no depoimento aos três relatores de seu processo no Conselho de Ética, não é um contador qualquer. É dono de escritório bastante conhecido em Brasília, especializado na prestação de serviços de documentação contábil. Appel entrou na história em junho, logo depois de o senador Calheiros ter dito que não possuía comprovantes dos pagamentos feitos à jornalista Mônica Veloso a título de pensão alimentícia da filha e de, no dia seguinte, seu advogado, Eduardo Ferrão, ter entregado um maço de extratos ao Senado para, segundo ele, comprovar as transações.