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09 agosto 2025

Perdemos Gileno Fernandes Marcelino


Recebi, esta noite, a notícia da partida do nosso Gileno. Conheci-o quando entrei na UnB, no meu concurso para professor do quadro; ele também havia sido aprovado, mas para o curso de Administração. Depois, nos reencontramos em uma dobradinha eleitoral: ele como candidato a diretor, eu como vice.

No cargo, criou a FACE — um sonho de unir os departamentos de Economia, Administração e Contabilidade. Foi seu primeiro diretor. Natural de Mossoró, ex-diretor da Enap, chegou a secretario-executivo do Dasp e, quando no lugar do titular, assinou a criação do décimo-terceiro salário para o funcionário público, e especialista em planejamento. Chegou a concorrer em uma tumultuada eleição para reitor pro tempore, ficando em segundo lugar em um pleito já previamente articulado.

Logo depois, aposentou-se. Mas continuou colaborando com o programa Multi e, mais tarde, com a pós-graduação em Contabilidade. Era perspicaz, sobretudo em seus trocadilhos.

Era uma pessoa gentil e, quando o assunto era contabilidade, não faltava seu trocadilho: “quanta habilidade”.

 

08 agosto 2025

Crença nos outros

 O resumo:

Nós estudamos como as pessoas acreditam que os outros atualizam suas crenças ao se depararem com novas evidências. Constatamos que, quando duas pessoas compartilham a mesma crença prévia, uma acredita que novas evidências não podem deslocar sistematicamente as crenças da outra em qualquer direção (propriedade de martingale). Quando as duas têm crenças prévias diferentes, as pessoas tendem a achar que qualquer informação aproxima os valores esperados das crenças posteriores dos outros de sua própria crença prévia, mas esse ajuste é menos sensível à qualidade da informação do que a teoria prevê. Identificamos a principal causa dessa insensibilidade e discutimos as implicações de nossas conclusões para jogos estratégicos com informação assimétrica, para o desenho de informações e, de forma mais ampla, para a compreensão da polarização social. 

PwC e IA

Segundo o Business Insider, a PwC está reformulando seu programa de treinamento para contadores recém-formados, preparando-os para atuar como gestores logo nos primeiros anos de carreira, enquanto a IA assume tarefas rotineiras como entrada de dados, auditoria básica e checagens de conformidade. 

Segundo Jenn Kosar, líder de AI Assurance da PwC, dentro de três anos os iniciantes tornar-se-ão revisores e supervisores das operações automatizadas — funções tradicionalmente ocupadas por gestores. A nova formação enfatiza habilidades fundamentais de auditoria, pensamento crítico, negociação e ceticismo profissional, que antes só eram abordadas mais adiante na carreira. A PwC também lançou um serviço chamado “assurance for AI” para garantir o uso ético e confiável da IA por seus clientes 

Regra da Vovó


O conceito da Regra da Vovó (Grandma’s Rule) é bastante útil para incentivar as pessoas e é amplamente aplicado no dia a dia. A lógica é simples: primeiro coma a salada, depois o doce. Ou seja, realize primeiro algo desagradável e deixe a recompensa para depois.

Tecnicamente, trata-se do Princípio de Premack, formulado pelo psicólogo David Premack. Segundo ele, comportamentos mais prováveis (ou preferidos) podem servir como reforço para comportamentos menos prováveis. Na contabilidade, por exemplo, se responder e-mails for uma tarefa desagradável, pode-se priorizá-la e, em seguida, passar para a análise de uma legislação — que funcionará como recompensa pela execução da tarefa inicial.

Para que o método funcione, é essencial que a “sobremesa” seja realmente mais desejada do que a “salada”. Quando essa preferência existe, os estudos de Premack indicam que uma atividade agradável pode, de fato, servir como incentivo para realizar uma tarefa menos atrativa.

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Degrange - Correções

Recebi um e-mail do pesquisador histórico Miguel Gonçalves, do ISCAC-Coimbra Business School. Ele faz uma série de correções sobre a vida de Edmond Degrange, conforme postagem aqui. Na postagem original, comentei da dificuldade de obtenção de informação sobre o autor francês (imagem abaixo)


Eis o e-mail:

Edmond Degrange, francês, natural de Bordéus,  morreu em 17 outubro de 1818 e nasceu em 1763. 

A 1.ª edição de 'LA TENUE DES LIVRES RENDUE FACILE' é de 1795 e não se consegue encontrar. A 2.ª edição é de 1798 e vinha assinada por Degrange (esta edição existe numa biblioteca de Bordéus). A 3.ª edição é de 1800 e vinha assinada por 'Un ancient négociant', apenas. Esta 3.º edição também não se consegue encontrar. Houve 30 edições, até 1920, desta obra.

Em 1798, na 2.º edição, ele adianta que era professor na Escola de Comércio de Bordéus. Casou em 1788. Era republicano, maçon e participou na Revolução Francesa de 1789. 

O seu filho, com o mesmo nome, nasceu em 1797. Faleceu em 1888

Em 1811 acusa, no Jornal de Comércio, o autor Rodrigues, também de Bordéus. Acusa-o de plágio, mas Rodrigues defende-se bem e manda o caso para o Conselho de Estado, dizendo que como falavam os dois da mesma época, da mesma matéria e com os mesmos termos, seria difícil não se repetirem. 

Estas informações foram retiradas de um capítulo do livro 'Les grands auteurs en comptabilité', editado por Bernard Colasse. O autor do capítulo sobre Edmond Degrange (pai) é Marc Nikitin.

Eis as correções. 

OpenAI

Uma semana de grandes notícias para a OpenAI — incluindo nosso furo sobre sua mais recente rodada de captação de recursos e a introdução de seus modelos de inteligência artificial de código aberto — terminou ontem com a revelação do GPT-5, o modelo de IA principal da empresa.

Tudo indica que a OpenAI, que pode em breve se tornar a startup privada mais valiosa do mundo, está alcançando um sucesso extraordinário. Mas até mesmo esses avanços ressaltam os enormes desafios que o gigante da IA enfrenta.

Ponto nº 1: GPT-5. A OpenAI afirma que o software, que dará suporte às versões gratuita e paga do ChatGPT, é melhor que seus antecessores em tarefas complexas, como programação, e transmite uma sensação “mais humana”. Esses avanços provavelmente consolidarão a liderança do ChatGPT entre os consumidores.

Mas a grande questão é se eles ajudarão a OpenAI a conquistar assinaturas corporativas pagas, um setor em que a empresa enfrenta forte concorrência da Anthropic e do Google — e no qual as companhias tendem a utilizar uma combinação de provedores de IA.

Ponto nº 2: novo software de código aberto. No início desta semana, a OpenAI anunciou dois modelos de IA disponíveis gratuitamente para uso público. Eles foram projetados para competir com ofertas de código aberto rivais da Meta e da chinesa DeepSeek.

Os novos modelos da OpenAI não são tão bons quanto o GPT-5. Mas o risco é que sejam bons o suficiente para muitas empresas utilizarem, dispensando assinaturas corporativas caras — mesmo enquanto a OpenAI espera que os usuários de alto desempenho continuem pagando pelo que há de mais avançado.

Ponto nº 3: valorização em disparada da OpenAI. A startup está em negociações com a empresa de capital de risco Thrive Capital e outros investidores para permitir que eles comprem ações de atuais e ex-funcionários da OpenAI, avaliando a empresa em cerca de US$ 500 bilhões, segundo o DealBook. (As negociações foram noticiadas anteriormente pela Bloomberg.)

Um gráfico de linha mostra a valorização em alta da OpenAI desde o início de 2023.


Isso representa um salto significativo em relação à avaliação de US$ 300 bilhões que a OpenAI negociou com a SoftBank e outros investidores no início deste ano. Mas a valorização em constante alta também aumenta a pressão sobre a OpenAI para reformular sua estrutura corporativa e se tornar uma empresa com fins lucrativos — um processo que requer a aprovação da Microsoft, um parceiro tecnológico-chave — já que isso abriria o caminho para, eventualmente, abrir seu capital.

Notícias relacionadas: a SoftBank admitiu que precisará de mais tempo para colocar em operação seu gigantesco projeto de data center Stargate, embora, segundo relatos, esteja comprando uma fábrica de veículos elétricos em Ohio como parte do empreendimento. A Tesla está dissolvendo a equipe do supercomputador Dojo, que vinha trabalhando em seus sistemas de veículos autônomos. E Elon Musk afirmou que o X passará a incluir anúncios nas respostas dadas por seu chatbot Grok.

(Fonte: New York Times, traduzido pelo GPT5) 

 

07 agosto 2025

Rir é o melhor remédio


 Conflito de interesse

GPT 5 chegou


A espera finalmente acabou. Hoje, agora, a OpenAI está lançando seu mais recente e avançado modelo de linguagem, o GPT-5, e tornando-o disponível através da interface do ChatGPT. De acordo com os líderes da OpenAI, o modelo traz poderes de raciocínio sem precedentes, eleva o conceito de "vibe coding" a um novo nível, está melhor do que nunca em tarefas de IA agente e vem com uma série de novos recursos de segurança. "É um passo significativo no caminho para a AGI", disse o CEO da OpenAI, Sam Altman, em uma coletiva de imprensa ontem, referindo-se ao objetivo da empresa de criar inteligência artificial geral.

O texto é daqui . Aqui também uma breve resenha positiva. Imagem aqui

Consumo excedente de IA


Nossa pesquisa, realizada com Felix Eggers, amplia a perspectiva e revela que os americanos já desfrutaram de cerca de 97 bilhões de dólares em "excedente do consumidor" provenientes de ferramentas de IA generativa apenas em 2024. O excedente do consumidor — a diferença entre o valor máximo que um consumidor está disposto a pagar por um bem ou serviço e seu preço real — é uma medida mais direta do bem-estar econômico do que o PIB. O excedente do consumidor de 97 bilhões de dólares da IA generativa supera os cerca de 7 bilhões de dólares em receita nos EUA registrados por OpenAI, Microsoft, Anthropic e Google com suas ofertas de IA generativa no ano passado. Isso não aparece no PIB porque a maior parte do benefício vai para os usuários, e não para as empresas.

(Via aqui) Imagem aqui. Isto faz lembrar o debate sobre o impacto do computador na produtividade, nos anos oitenta.

Informação, segundo Harari


De Pedro Demo:

Harari não consegue arquitetar uma teoria coerente minimamente da informação. Primeiro mistura conceitos (verdade, realidade, informação); segundo, expele a relação de poder para sempre ser surpreendido por ela, precisamente na ideia em si interessante da informação como nexo (é o título do livro – Nexus); terceiro, age como oráculo, típico argumento de autoridade, no contexto positivista rígido, ignorando que a realidade não cabe em nossos esquemas mentais. Toda abordagem é aproximativa, também uma prisão conceitual. Desinformação é forma de informação. Para negar isso, precisa propor que há só uma informação verdadeira, embora reconheça informação errônea honesta! Aquele Harari do Sapiens e Homo deus  parece ter evaporado ou desaprendido.  

Imagem aqui 

Modelos de IA e decisões morais

Eis o resumo


A medida que os modelos de linguagem grandes (LLMs) se tornam mais amplamente utilizados, as pessoas passaram a depender cada vez mais deles para tomar decisões morais ou aconselhar sobre elas. Alguns pesquisadores até propõem usar os LLMs como participantes em experimentos de psicologia. Portanto, é importante entender como os LLMs tomam decisões morais e como elas se comparam às humanas. Investigamos essas questões pedindo a uma variedade de LLMs para emular ou aconselhar sobre decisões de pessoas em dilemas morais realistas. No Estudo 1, comparamos as respostas dos LLMs às de uma amostra representativa dos EUA (N = 285) para 22 dilemas, incluindo tanto problemas de ação coletiva que colocavam o interesse próprio contra o bem maior quanto dilemas morais que confrontavam o raciocínio utilitário de custo-benefício com regras deontológicas. Em problemas de ação coletiva, os LLMs foram mais altruístas que os participantes. Em dilemas morais, os LLMs exibiram um viés de omissão mais forte que os participantes: normalmente endossaram a inação em vez da ação. No Estudo 2 (N = 474, pré-registrado), replicamos esse viés de omissão e documentamos um viés adicional: ao contrário dos humanos, a maioria dos LLMs tendia a responder "não" em dilemas morais, invertendo sua decisão/aconselhamento dependendo de como a pergunta era formulada. No Estudo 3 (N = 491, pré-registrado), replicamos esses vieses nos LLMs usando dilemas morais cotidianos adaptados de postagens em fóruns no Reddit. No Estudo 4, investigamos as fontes desses vieses comparando modelos com e sem ajuste fino, mostrando que eles provavelmente surgem do ajuste fino dos modelos para aplicativos de chatbot. Nossos resultados sugerem que a dependência irrestrita nas decisões morais e conselhos dos LLMs pode amplificar os vieses humanos e introduzir vieses potencialmente problemáticos.

Imagem aqui 

Rir é o melhor remédio

Godzilla. Muito adaptado daqui
 

Tamanho da Economia Paralela

 

A representação gráfica da Shadow Economy em diversos países do mundo. Quanto mais escura a cor, maior a representatividade dessa economia. No mundo, a média da economia paralela é de 11,8%, mas no Brasil atinge 21%. Em alguns países, como Serra Leoa, Níger e Nepal, a economia paralela representa metade do PIB.

No entanto, é importante lembrar que as estimativas envolvidas são difíceis e questionáveis.

Um negócio que atua na economia paralela geralmente não paga impostos, não respeita as regras trabalhistas e, frequentemente, não contrata profissionais registrados nos conselhos. Com o tempo, alguns desses negócios são legalizados — lembra da trilogia O Poderoso Chefão, especialmente o segundo filme?

 

Golpes: muda o foco, mas sempre haverá um trouxe que irá acreditar


Um texto traduzido e publicado na revista Piauí narra a investigação do jornalista espanhol Carlos Barragán sobre os chamados "Yahoo Boys" na Nigéria, indivíduos que aplicam golpes amorosos online, especialmente em plataformas como Facebook e aplicativos de namoro. Esses golpistas se passam por mulheres atraentes para seduzir vítimas, principalmente homens americanos, com promessas de romance e sexo. Após estabelecer uma conexão emocional, eles solicitam dinheiro para situações fictícias, como viagens ou emergências.  

A história destaca o caso de Natasha Bridges, um perfil falso criado por Richard, um nigeriano de 28 anos, que enganou diversas vítimas. A reportagem explora as motivações dos golpistas, incluindo a busca por status social e a pressão econômica, além de discutir a facilidade com que os golpistas se infiltram na vida de suas vítimas. A investigação revela a complexidade e a persistência desses crimes virtuais, que se tornaram um negócio lucrativo na Nigéria.

Parece que isso não tem nenhuma relação com a contabilidade. Mas imagine um funcionário de uma empresa, solitário, que começa a se apaixonar por uma pessoa como Natasha. Na ânsia de ajudar, ele acaba desviando recursos da entidade. 

IA, fraude


A inteligência artificial generativa tornou-se capaz de criar documentos falsos realistas o suficiente para enganar sistemas automatizados, ampliando oportunidades para fraudes e desafios para preveni-las.  

Essa capacidade surgiu após uma atualização no modelo de geração de imagens da OpenAI, que aumentou significativamente a qualidade das imagens geradas, incluindo documentos financeiros. Profissionais de combate à fraude já perceberam que não é só os documentos falsos em si, mas na facilidade e rapidez com que podem ser produzidos em larga escala, tornando a fraude mais acessível até para indivíduos com pouca motivação ou sofisticação técnica. 

Distorção deliberada da informação é razoável?

De Gelman:

se você pode antecipar que um gráfico será interpretado incorretamente, é uma boa ideia levar essa possibilidade em consideração no design.

É uma discussão importante e que interessa à contabilidade, pois remete à questão da representação fiel. No texto de Gelman, discute-se se faz sentido criar gráficos distorcidos, e isso inclui o famigerado gráfico de pizza e o gráfico 3D. Se sabemos que o usuário da informação não interpretará adequadamente os dados, devemos nos ater à representação fidedigna? Parece que não, mas aqui há um problema sério que o emissor da norma ignora propositalmente. Não temos como saber o comportamento do usuário. Podemos, no máximo, assumir uma eventual possibilidade. E como não sabemos, é bem mais cômodo continuar divulgando informações complexas e inacessíveis.

Sim, temos também que considerar a questão ética.  Imagem aqui

06 agosto 2025

CNPq abre chamada para bolsas de mestrado e doutorado – prazo até 17/09



O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) abriu o prazo para submissão de propostas de Instituições de Ensino Superior (IES) e Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICT) interessadas em receber bolsas de mestrado e doutorado vinculadas a Projetos Institucionais para Pesquisa na Pós-Graduação. 

A iniciativa busca fortalecer a pesquisa e a formação de recursos humanos qualificados, com foco nos seguintes objetivos: 

- Promover a capacitação de recursos humanos para a pesquisa científica, tecnológica e de inovação de grupos consolidados e emergentes; 

- Fomentar o desenvolvimento de pesquisas com foco na geração de inovação e impacto socioambiental, social, econômico e cultural, em nível local, regional e nacional; 

- Incentivar o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação nos temas estratégicos de pesquisa das IES/ICT. 

As propostas devem ser voltadas à pesquisa científica, tecnológica e de inovação, com caráter institucional. 

Cronograma: 
Data limite para envio das propostas: 17 de setembro de 2025 
Início previsto das bolsas: A partir de março de 2026

Link para a Chamada Pública CNPq nº 12/2025: aqui.

05 agosto 2025

Midia social, audiência e influenciador digital

O resumo 

No cenário dinâmico da economia digital, as plataformas de *social trading* estão passando por um rápido crescimento. Nosso estudo investiga o impacto das mudanças no tamanho do público social — medido pelo número de seguidores — sobre o desempenho e o comportamento dos traders. Utilizando dados de um experimento de campo randomizado, conduzido por uma empresa em uma importante plataforma de *social trading* de criptomoedas, revelamos resultados intrigantes. Traders que aumentam seu público tendem a negociar com mais frequência, usar alavancagem mais alta e, surpreendentemente, apresentar desempenho pior. Notavelmente, esses efeitos adversos são mais intensos entre os que antes tinham melhor desempenho, sugerindo uma ligação com excesso de confiança. Curiosamente, encontramos um efeito de “ponto de referência” associado ao tamanho do público: remover o número acumulado de seguidores não elimina as consequências negativas, que persistem. Além disso, observamos um efeito adicional quando o número de dígitos da contagem de seguidores diminui, reforçando a hipótese do público social como ponto de referência. Nosso estudo traz implicações relevantes para o design de plataformas de *social trading* e serve de alerta para que traders e gestores naveguem com cautela na relação entre dinâmica de público e decisões de negociação.

Gênero e Sapos


Achei bem interessante o texto e abaixo uma reprodução do mesmo:

Em uma situação familiar às fêmeas de muitas espécies, os chamados das rãs [no inglês female frogs' calls] fêmeas raramente são ouvidos e, por isso, raramente estudados. Uma equipe da Universidade de São Paulo realizou uma meta-análise sobre pesquisas existentes a respeito dos chamados de rãs. A comparação entre o número de estudos sobre chamados de machos e de fêmeas trouxe resultados surpreendentes.

Foram identificadas 132 ocorrências de chamados de fêmeas em 112 espécies — o que representa apenas 1,43% de todas as espécies conhecidas. Isso significa, segundo os pesquisadores, que pouco ou nada se sabe sobre os chamados de aproximadamente 98,6% das rãs fêmeas. Além disso, a maioria das descrições era anedótica, sugerindo que pouco foi aprendido mesmo nos casos estudados.
Os machos usam seus chamados para cortejar as fêmeas, o que lhes dá um claro incentivo evolutivo para serem o mais barulhentos possível. Assim, é necessário desenvolver técnicas específicas para registrar e estudar os chamados das fêmeas. Com mais de 8.000 espécies conhecidas e um número desconhecido por descobrir, não há como saber o que estamos deixando de conhecer.

Teoria da sinalização aplicada à biologia 

Efeito da IA na programação


Programadores da Amazon relatam que o uso obrigatório de IA transformou seu trabalho em algo mecânico e exaustivo. Relatos no New York Times indicam que os gestores passaram a exigir mais produtividade e prazos cada vez mais curtos, mesmo com equipes reduzidas, confiando na IA para gerar código. Os programadores afirmam que agora atuam mais como revisores de código produzido por algoritmos, o que demandaria verificações constantes e reduz a criatividade. A automação não simplifica o trabalho, mas cria pressão por mais entregas rápidas, prejudicando a qualidade e a autonomia profissional. Embora oficialmente o uso da IA seja “opcional”, na prática tornou-se obrigatório.

O impacto do Google Scholar

O Google Scholar surgiu de uma conversa entre Alex Verstak e Anurag Acharya, que na época trabalhavam no desenvolvimento do índice principal de busca da Google. O objetivo era “tornar os solucionadores de problemas do mundo 10% mais eficientes”, facilitando o acesso, de forma mais simples e precisa, ao conhecimento científico. Esse propósito se reflete no slogan publicitário do Google Scholar — “Nos ombros de gigantes” — inspirado em uma ideia atribuída a Bernardo de Chartres, citada por Isaac Newton, como homenagem aos estudiosos que, ao longo dos séculos, construíram a base para novos avanços intelectuais. Uma das fontes de textos indexados pelo Google Scholar é a coleção impressa da Universidade de Michigan.


Ao longo do tempo, diversas funcionalidades foram adicionadas. Em 2006, surgiu o recurso de importação de citações para gerenciadores bibliográficos como RefWorks, RefMan, EndNote e BibTeX. Em 2007, Acharya anunciou um programa para digitalizar e hospedar artigos de periódicos com acordo dos editores — iniciativa distinta do Google Books. Em 2012, foi lançada a criação de perfis de citações para acadêmicos e, em 2013, a biblioteca pessoal para salvar e organizar resultados. O recurso “métricas” passou a mostrar os principais periódicos e seu impacto. Até perfis póstumos foram incluídos, como os de Albert Einstein e Richard Feynman; por anos, o de Isaac Newton chegou a exibir que ele era “professor do MIT” com “e-mail verificado @mit.edu”.

 Da Wikipedia. É inegável que desde o lançamento, o Scholar democratizou o acesso ao conhecimento científico, tornando mais fácil encontrar artigos acadêmicos. Ao trazer à tona e indexar trabalhos antigos, aumentou significativamente as citações desses materiais. 

A facilidade de uso, as ferramentas existentes e a sua amplitude tornam o Scholar fundamental na pesquisa acadêmica. As críticas maiores dizem respeito ao fato do Scholar ter muita "sujeira".  

Rir é o melhor remédio


Leis pouco conhecidas dos clientes de contabilidade 

A Lei dos Clientes Desaparecidos: Quanto mais perto do prazo final de entrega, mais difícil é contatá-los. 

A Lei dos Milagres de Última Hora: Os clientes sempre vão “encontrar” um documento vital segundos depois de você enviar as contas. 

A Lei da Expansão da Caixa de Sapatos: Não importa quão pequena seja a caixa original, seu conteúdo vai se multiplicar sob escrutínio. 

A Lei do Livro Razão de Murphy: O cliente que insiste que seus registros estão impecáveis terá pelo menos um ano faltando. 

A Lei da Amnésia no Prazo do Imposto: Ninguém lembra de você ter dito quanto imposto teria de pagar — até receber uma cobrança de pagamento atrasado da Receita. 

A Lei da Retrospectiva Perfeita: Tudo o que deu errado nas contas é, aparentemente, culpa sua por não ser vidente. 

A Regra do Orçamento do Biscoito: O valor da hospitalidade do cliente é inversamente proporcional ao tamanho do honorário. 

A Lei do Pensamento Mágico: Alguns clientes acreditam que boletos de imposto encolhem se você encarar para eles por tempo suficiente. 

A Lei do PDF: Qualquer documento urgentemente necessário será enviado como foto de um PDF impresso, tirada de um ângulo estranho. 

A Lei da Inveja do Reembolso: Clientes que devem imposto sempre conhecem alguém que recebeu restituição e querem saber por que você não fez a mesma “mágica”. 

Fonte: aqui . Imagem aqui

04 agosto 2025

Qual emprego está salvo da IA?

Na nova coluna de Tim Harford sua resposta foi: jardineiro. É bem verdade que já existe máquinas que irriga, arranca erva daninha e faz outras tarefas de jardinagem. Mas há uma diferença entre emprego e tarefa: um emprego é composto de tarefas interligadas. 

O exemplo que Harford usa é da planilha. Essa ferramenta foi criada originalmente para ser uma ferramenta da contabilidade:

A planilha digital, lançada em 1979, passou a executar instantaneamente e com perfeição tarefas antes feitas por auxiliares de contabilidade. No entanto, a profissão contábil simplesmente evoluiu, passando a lidar com problemas mais estratégicos e criativos, como a modelagem de cenários e riscos. E quem não quer um contador criativo?

Ontem postamos sobre o aparecimento de micros no Brasil no início dos anos 80. E as propagandas eram voltadas para tarefas contábeis, como folha de pagamento. Mas a profissão continuou firme e forte. 

É importante destacar que isso não assegura que a profissão irá sobreviver, mas o passado traz esperança para nós.  (Imagem aqui)

Informações do ChatGPT disponíveis?


Isso parece muito estranho e questionável. Aparentemente conversa entre os usuários do ChatGPT e usuários apareceram em pesquisas realizadas no Google. O texto com a denúncia apareceu no Ars Technica (via aqui)

Apesar de não conter o nome das pessoas, há detalhes específicos das pessoas, incluindo relações, uso de remédios, entre outros. 

Livro de Machine Learning com citações duvidosas é retirado


A Springer Nature anunciou a retração do livro Mastering Machine Learning: From Basics to Advanced após investigação do Retraction Watch revelar que 25 das 46 referências não foram verificadas ou eram falsas, muitas inventadas — uma prática típica de modelos de linguagem artificial como o ChatGPT. 

Cerca de dois terços das citações examinadas não existiam ou apresentavam erros graves, e autores mencionados confirmaram que as supostas obras eram inexistentes. O autor do livro não esclareceu se utilizou IA na redação. A Springer Nature declarou que exige supervisão humana rigorosa para qualquer uso de IA além da edição básica, mas o autor não fez qualquer declaração sobre o uso de IA.

Mas não deixa de ser irônico as citações enganosas.  

International Climate News


Eis o resumo

Desenvolvemos novos índices de alta frequência que medem a atenção ao clima em uma ampla gama de economias desenvolvidas e emergentes. Ao analisar o conteúdo de mais de 23 milhões de tuítes publicados por jornais nacionais de destaque, constatamos que países que enfrentam choques climáticos mais severos na cobertura jornalística tendem a registrar tanto entrada de capital quanto valorização de sua moeda. Além disso, ações de empresas com alta emissão de carbono sofrem retornos negativos significativos e persistentes após um choque global de notícias climáticas, especialmente quando situadas em países altamente expostos. Um modelo de compartilhamento de riscos, no qual investidores precificam choques de notícias climáticas e negociam bens de consumo e investimento em mercados globais, oferece uma justificativa para esses resultados. 

No Brasil foi usado Estadão, Folha, ZH e O Globo. O site onde fica hospedado o índice está aqui. No site há a base de dados usada. O gráfico mostra o interesse crescente com a questão ambiental. 

03 agosto 2025

História da contabilidade: o computador e o datavírus

Esse era o nome originário de um problema que começava a aparecer: o vírus. Os efeitos nocivos dos vírus, algo novo nos anos 80, ocorriam na contabilidade:

Revista Manchete, ed 1906, p. 32, 1988
 

História da contabilidade: computador Hotbit

Se o computador Poly estava voltado para a empresa, o Hotbit tentava captar também o público doméstico, incluindo as finanças pessoais e o uso dos filhos nos estudos e nos jogos. 

Eis algumas das especificações técnicas: memória ROM 32K, RAM 64K, expansível até 512, com interface para cassete...

(Manchete, 1985, ed 1756, p 33) 

História da contabilidade: Computador Poly 105 DP

O anúncio prometia um microcomputador que ocupa o mínimo de espaço e soluciona ao máximo. Publicado na revista Manchete, em 1983, edição 1622, p. 43. Ou seja, há 42 anos.  

O computador "brasileiro" anunciava o seguinte:

Dos diários aos balanços, o POLY 105 DP faz tudo em contabilidade, emite folhas de pagamento, faturamento, fornece relatórios e informações com rapidez, executando também aplicações técnico científicas. (...) POLY 105 DP, uma grande conquista que abre novos espaços e perspectivas para sua empresa

A características da máquina: 64 KB memória RAM, drives de 5 1/4, terminal de vídeo/teclado. 

Desde os primórdios da automoção, a contabilidade lidou com máquinas que reduziriam o trabalho do profissional. Eis um exemplo disso.   

História da Contabilidade: O Show de Sinatra na Maracanã

Em janeiro de 1980, Frank Sinatra se apresentava para um Maracanã lotado, diante de mais de 150 mil pessoas. Até então, o cantor evitava visitar a América do Sul — segundo rumores, por conta de uma previsão feita por uma cigana, que teria vaticinado sua morte caso ele se apresentasse no continente. Na realidade, Sinatra faleceu dezoito anos depois, aos 83 anos.

Para trazê-lo ao Brasil, o empresário Roberto Medina desembolsou 32 milhões de cruzeiros somente de cachê do cantor — o equivalente a cerca de 800 mil dólares na época, ou aproximadamente 3,2 milhões de dólares em valores atualizados.

E qual a conexão com a contabilidade? É que o evento foi tão marcante que a revista Manchete (edição nº 1452, p. 22) chegou a publicar uma Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) com as contas do show de Sinatra no Maracanã.

(Clique na imagem para ver melhor)

História da contabilidade: duas demonstrações

 Duas demonstrações contábeis do início dos anos 1980. A primeira da casa de show Canecão e destaco a DRE:

O formato é interessante, no sentido de apresentar as contas de débito e de crédito. (Obtido no jornal A Luta Democrática, ed 8020, 12 de setembro, p. 5. Do mesmo jornal:  

O balanço é do exercício encerrado em 31 de dezembro de 1978. A edição do jornal foi de número 8015, p. 9, de 5 de setembro de 1980. Quase dois anos depois. A favor do contador/empresa: a Lei 6404 tinha acabado de entrar em vigor e havia muitas novidades. 

História da contabilidade: Um escritório de contabilidade em 1980

 

Do Jornal O Cartaz, de Três Rios (RJ), edição 479 p. 23

História da contabilidade: IHGB e a contabilidade

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é a mais antiga e tradicional entidade de fomento à pesquisa no Brasil. Foi fundado em 1838, há 187 anos, juntamente com o Arquivo Público do Império e a Academia Imperial de Belas Artes. Na sua criação, o IHGB tinha como foco os documentos relevantes da história do Brasil e o incentivo ao estudo histórico. Muitos dos seus primeiros membros eram nascidos em Portugal, formados em Coimbra e atuavam no governo imperial.

O IHGB está localizado no Rio de Janeiro. Um dos integrantes foi Dom Pedro II, que chegou a presidir sessões e contribuía com o orçamento do instituto. A revista do IHGB, editada desde 1839 com periodicidade trimestral, é uma rica fonte de dados. Em uma edição de 1983 (ed 338), encontrei o quadro de sócios efetivos na época da fundação da entidade. Veja que interessante:

Isso significa que 13% dos fundadores do IHGB eram formados em contabilidade — mais do que médicos, padres e militares, embora menos que os formados em direito.

História da contabilidade: vantagem de ser um curso rápido


Já comentei aqui que a contabilidade era uma forma de ascensão social. As pessoas escolhiam fazer o curso para melhorar de vida. Mas achei interessante um depoimento da atriz Zezé Motta. (Módulo Brasil Arquitetura, Edição 58, p. 32-34: 

Sempre digo que ser artista no Brasil é uma barra e ser artista negra é uma barra vezes alguma coisa. É uma barra pesada, isto falando mais em relação ao teatro porque em relação à música há uma abertura maior para o negro. É uma coisa menos condicionada. 

Vou contar um caso que me aconteceu assim que terminei o ginásio. Eu queria fazer teatro, Jader Brito, então meu professor, hoje meu amigo, me incentivava muito para o teatro e me deu uma bolsa para o curso de Maria Clara Machado. Meu pai, que era músico muito talentoso mas desiludido com a profissão, só me permitiria fazer teatro se eu continuasse os estudos. Resolvi fazer contabilidade porque era um curso rápido. Eu vivia correndo: trabalhava no laboratório Moura Brasil, estudava contabilidade à noite e fazia o curso da Clara três vezes por semana, à tarde. 

Além de contribuir para a ascensão social, a contabilidade tinha a vantagem de ser um curso rápido — como a própria Zezé comentou na entrevista.

(Por sinal, ela conta que uma vizinha perguntou por que ela não brincava mais com as meninas do prédio. Zezé explicou o que estava acontecendo, e a vizinha respondeu: “Mas eu não sabia que, pra fazer papel de empregada doméstica, precisava fazer curso de teatro”)

Conforme a Wikipedia, Zezé Motta é uma das maiores artistas do Brasil. Imagem do cartaz do filme Xica da Silva, com a atriz no papel principal.

02 agosto 2025

História da contabilidade: Ainda concurso público, agora em 1835

Em 1835 o Brasil teve o primeiro governo "presidencial" eleito. O regente Feijó tomava posse em outubro, depois de eleições para escolha do novo regente. 

No jornal A Voz do Beriberi, edição 11, p.1, a discussão sobre conhecimentos para obtenção de cargo público. 

Um ano depois, encontro no Diário de Pernambuco (edição 182, p. 4), o seguinte classificado:


 

História da contabilidade: Concurso público em 1865

Em 1865, o Brasil estava iniciando a Guerra contra o Paraguai, em conjunto com a Argentina e o Uruguai. O país era governado pela casa portuguesa de Bragança, na figura de Dom Pedro II. A economia era baseada na produção de café, açúcar, algodão e fumo, sustentada pelo trabalho escravo.

Desde 1852, a capital do Piauí havia sido transferida de Oeiras para um novo local, às margens do rio Parnaíba, sendo a cidade a primeira capital planejada do país, batizada em homenagem à imperatriz Teresa Cristina, esposa do imperador.

Treze anos depois, o presidente da província, Franklin Dória, abriu um concurso público para preencher o cargo de oficial da secretaria do governo. Os exames seriam realizados na presença do governante, no palácio, e incluíam, entre os conteúdos, a contabilidade.


Naquela época, não era comum realizar exames para selecionar candidatos, já que os cargos eram, em geral, preenchidos por indicação política. A exigência de conhecimento em contabilidade, assim como em gramática e caligrafia, pode ser justificada pelo fato de que essas disciplinas eram ensinadas no nível básico de ensino, conforme já postamos diversas vezes aqui. 

(Fonte: A Imprensa: periódico político, edição 7, p. 3, 1865) 

01 agosto 2025

PIX é motivo de investigação


O Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) abriu uma investigação formal sobre o Pix, sistema de pagamento instantâneo operado pelo Banco Central do Brasil. O governo americano alega que o sistema promove práticas comerciais desleais, dificultando o acesso de empresas dos EUA, como Apple Pay e Google Pay, ao mercado brasileiro. O Pix, lançado em 2020, se tornou dominante no Brasil — usado por cerca de 75% da população (cerca de 160 milhões de pessoas). Seu modelo público e gratuito representa forte concorrência às grandes empresas de tecnologia e ao setor bancário tradicional.

Especialistas apontam que a motivação da ação americana está ligada à pressão do mercado e preocupações geopolíticas, incluindo o controle de dados dos consumidores e alinhamento estratégico de Brasil com o bloco BRICS e a China. O governo brasileiro defendeu o Pix como um “bem público nacional” e rejeitou interferência externa.

Naturalmente se a pressão tiver êxito, isso pode representar uma aumento no custo das transações. Do lado macro, a questão também diz respeito a tensão geopolítica entre os EUA e o Brasil em meio ao protagonismo crescente da China no cenário brasileiro. O embate reflete uma disputa por influência global — Trump usando sanções econômicas como instrumento de pressão, e o Brasil reafirmando seu alinhamento com blocos que desafiam a ordem econômica liderada pelos EUA. 

Economistas são auditores ou arquitetos


Ricardo Hausmann questiona o estado atual da economia como disciplina, observando que muitos economistas se comportam mais como auditores — focados em hipóteses testáveis e evidência estatística — do que criadores de políticas visionárias. Ele argumenta que os desafios globais urgentes — como crescimento estagnado, mudança climática e desigualdade — demandam soluções inovadoras e pensamento ambicioso. 

O autor destaca a crise de identidade dentro da profissão: deve-se formar economistas pensando como arquitetos de política pública, criando estratégias criativas, ou como auditores que apenas validam programas existentes? Segundo Hausmann, a predominância de metodologias estreitas prejudica a capacidade da economia de enfrentar problemas do mundo real. É necessário resgatar uma visão mais ambiciosa e prática no ensino e na aplicação da disciplina para que ela volte a oferecer respostas transformadoras à sociedade.

Veja como a visão do auditor parece ser bem estreita. Mas não deixa de ser útil, embora Hausmann parece não pensar assim.  

Santo Contador?


Ignácio de Loyola, o santo espanhol, também militar e fundador da Companhia de Jesus é bastante conhecido. Mas quando jovem, Loyola foi também contador.

Fui confirmar isso na Wikipedia, em espanhol, onde aparece que quando jovem, ele foi mandado a Arévalo para viver na casa de Juan Velázquez de Cuéllar, contador-mor de Castela, a pedido deste. Havia laços familiares entre María de Velasco, esposa de Velázquez, e a mãe de Inácio. Velázquez, além de contador, foi membro do Conselho Real e executor testamentário dos Reis Católicos. 

Mas nada parece indicar que ele trabalhou com a profissão. 

Os artigos citados no primeiro link não estão disponíveis de forma acessível, o que impede uma verificação mais apurada.  

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

31 julho 2025

Uma fraqueza dos modelos de IA

Veja a imagem abaixo. Um problema de matemática, com a mesma formulação, mas o texto de baixo tem uma informação desnecessária, que está em vermelho. Quando o problema é submetido a um ser humano, ele simplesmente desconsidera a parte em vermelho.

Mas uma pesquisa (via aqui) mostrou que a inserção dessa frase no problema prejudica a resposta dada pela IA. Em língua inglesa isso chama CatAttack. 

O estudo descobriu que a inserção de "gatilhos adversariais independentes da pergunta" — trechos curtos e irrelevantes que, ao serem adicionados a problemas matemáticos, induzem sistematicamente os modelos a respostas incorretas — confunde os modelos. Alguns ficaram até 700% mais propensos ao erro quando expostos ao chamado CatAttack. 

Helsinki completou um ano sem uma morte no trânsito


É uma notícia surpreendente. A capital da Finlândia, que possui 640 mil habitantes, completou um ano sem nenhum acidente fatal no trânsito dentro dos limites da cidade, com o último ocorrido em julho de 2024 no bairro Kontula. Autoridades atribuem o feito à redução do limite de velocidade — mais da metade das ruas agora é limitada a 30 km/h — e a um desenho urbano mais inteligente, com infraestrutura ampliada para pedestres e ciclistas, monitoramento reforçado e transporte público eficiente. Apesar de ainda ocorrerem acidentes com feridos (277 no ano passado), o número é bem inferior aos quase mil registrados nos anos 80. A estratégia de segurança da cidade, válida até 2026, prioriza a segurança de crianças, jovens e usuários vulneráveis. 

A redução de acidentes em Helsinki impacta a contabilidade pública ao diminuir gastos com saúde, seguros e infraestrutura de emergência. Além disso, reflete investimentos eficientes em mobilidade urbana, que podem ser analisados como indicadores de desempenho e retorno social, fundamentais para a contabilidade governamental e avaliação de políticas públicas. 

IA está influenciando a forma como falamos


Eis o resumo:

Desde a invenção da escrita e da imprensa, passando pela televisão até as redes sociais, a história humana é marcada por grandes inovações em tecnologias de comunicação que transformaram profundamente a forma como as ideias se espalham e moldam a cultura. Recentemente, chatbots movidos por inteligência artificial generativa passaram a constituir um novo meio de comunicação, capaz de codificar padrões culturais em suas representações neurais e disseminá-los em conversas com centenas de milhões de pessoas. Compreender se esses padrões se transferem para a linguagem humana — e, em última instância, moldam a cultura — é uma questão fundamental.

Embora quantificar totalmente o impacto causal de um chatbot como o ChatGPT sobre a cultura humana seja extremamente desafiador, mudanças lexicográficas na comunicação falada podem oferecer um primeiro indicativo desse fenômeno amplo. Neste estudo, aplicamos técnicas econométricas de inferência causal a 740.249 horas de discursos humanos provenientes de 360.445 palestras acadêmicas no YouTube e 771.591 episódios de podcasts conversacionais de diversas áreas. Detectamos um aumento abrupto e mensurável no uso de palavras preferencialmente geradas pelo ChatGPT — como delve (aprofundar), comprehend (compreender), boast (gabar-se), swift (rápido) e meticulous (meticuloso) — após seu lançamento.

Esses achados sugerem um cenário no qual máquinas, inicialmente treinadas com dados humanos e posteriormente exibindo traços culturais próprios, podem, por sua vez, moldar a cultura humana de forma mensurável. Isso marca o início de um ciclo fechado de retroalimentação cultural, em que traços culturais circulam bidirecionalmente entre humanos e máquinas. Nossos resultados incentivam novas pesquisas sobre a evolução da cultura humano-máquina e levantam preocupações quanto à erosão da diversidade linguística e cultural, além dos riscos de manipulação em larga escala.

Foto: aqui

Pensei aqui que a IA talvez ensine os humanos a serem educados e calmos, mesmo diante de questões idiotas.  

Netflix possui algumas marcas registradas


Stephen Follows descobriu algo interessante: a Netflix tem registrado como dela marcas associadas a memes, eventos, restaurantes, design de produtos e até slogans populares. Um exemplo: Strong Black Lead (algo como liderança negra forte) é marca registrada da empresa. 

É como se a empresa registrasse o slogan. Mas a empresa de streaming foi mais além, conduzindo experimentos. Além de Strong Black Lead, a empresa é dona de Qwikster (sem tradução literal), What a Joke (Que piada), Netflix bites (Netflix morde), Queue (fila), entre outras.

O processo de registro deve ter seu custo, mas pela quantidade de termos que Follows encontrou, deve valer a pena para a empresa fazer o processo. Seria um ativo? 

30 julho 2025

Efeito do escândalo PCAOB na KPMG


Este artigo examina o escândalo de inspeção de auditoria de 2017 envolvendo o PCAOB e a KPMG — uma das poucas violações publicamente divulgadas do “tom vindo do topo” em uma firma do Big 4. Tendo como pano de fundo uma grave infração à ética profissional por parte de líderes da KPMG, estudamos como o escândalo afetou a KPMG e seus clientes. Utilizando uma abordagem de diferenças em diferenças, constatamos que a qualidade da auditoria na KPMG aumentou após o escândalo em comparação com as demais firmas do Big 4. Também verificamos que a KPMG conseguiu evitar a perda de clientes. Os clientes mais diretamente ligados ao escândalo apresentaram uma queda nas taxas de auditoria e de serviços não relacionados à auditoria. No geral, documentamos melhorias operacionais na KPMG em resposta ao escândalo, embora acompanhadas de possíveis sacrifícios na geração de receita.

Texto ainda não publicado . (Imagem aqui)

Para lembrar, a KPMG contratou funcionários do fiscalizador PCAOB, que levaram informações confidenciais para o novo emprego, que ajudou a KPMG a "melhorar" sua auditoria. O caso resultou em acusações civis e criminais e uma multa de 50 milhões de dólares. 

Efeito da IA na educação


Meta integrou bots de IA em aplicativos populares como WhatsApp e Instagram na Colômbia rural a partir de julho de 2024. Embora isso tenha ampliado o acesso à IA até nas áreas mais remotas, professores relatam que alunos passaram a depender dos bots para tarefas e redações inteiras, entregando trabalhos muito superiores ao nível real de aprendizagem.

O paradoxo é que, apesar da qualidade aparente das respostas, o desempenho em provas e exames caiu — professores veem dificuldades em avaliação de leitura, escrita e ciências, com muitos estudantes repetindo conteúdo sem analisá-lo.

Diante disso, educadores estão repensando métodos de avaliação: usam provas orais e manuscritas, detectores de texto gerado por IA, debates em sala e atividades que exigem análise crítica. Alguns professores eliminaram a lição de casa, exigindo que os alunos façam os exercícios presencialmente sob supervisão.

Agora uma situação particular: todo semestre peço trabalho escrito. Se no passado minha luta era contra o plágio, agora o problema é o uso de IA. Como o trabalho é bem específico, com uma limitação temporal e uso de base de dados escolhida, fica fácil perceber o uso de IA. Com casos engraçados, como o aparecimento de referências sem sentido e não encontradas nos periódicos. 

Sobre a dificuldade de medir custos e benefícios da IA


A cidade de Pittsburgh (Pensilvânia, Estados Unidos) implementou em 2012 um sistema de controle de tráfego com IA chamado Surtrac, os resultados foram imediatos: o tempo de espera nos cruzamentos caiu em 40% e as emissões de carbono foram reduzidas em 21%. Hoje, os semáforos foram integrados à plataforma e respondem dinamicamente às mudanças, em vez de seguirem cronogramas desatualizados.
 

O texto completo está aqui. Imagem aqui

Incerteza nas Demonstrações financeiras


Do CFC:

A Fundação IFRS publicou, nesta segunda-feira (28), exemplos quase finais [1] que demonstram como as empresas podem melhorar a divulgação de incertezas em suas demonstrações financeiras, usando exemplos relacionados ao clima como ilustrações práticas. Essa publicação tem objetivo de apoiar a aplicação oportuna e informada.

Embora os exemplos usem padrões de fatos relacionados ao clima, eles fornecem orientações que se aplicam amplamente a todos os tipos de incertezas [2]. Os exemplos demonstram como as empresas podem aplicar as Normas Contábeis IFRS para melhorar a divulgação de incertezas nas demonstrações financeiras.

continue lendo aqui . Os exemplos estão aqui. Imagem daqui

[1] Imagino que seja pelo fato de ser uma minuta ainda

[2]  Aqui um exemplo de economia de escopo. 

Café e a contabilidade


Com quase 30 mil postagens, já falamos de um bocado de coisa. Café é um dos temas recorrentes — talvez pelo prazer que a bebida provoca nos blogueiros. Mas, ao ler Sob efeito de plantas, de Michael Pollan, eis que surge uma vinculação direta entre a bebida e a contabilidade.

Todos devem saber que a contabilidade por partidas dobradas surgiu no final dos anos 1400. Evoluiu rapidamente e foi adotada pelos primeiros empreendimentos capitalistas na Inglaterra, Holanda, França e Itália. O café, por sua vez, foi amplamente adotado na Europa no século XVII. As primeiras cafeterias surgem por volta de 1650.

Em 1660, James Howell — citado por Pollan (embora a obra de onde foi extraída a citação não conste na bibliografia selecionada) — afirmava que a bebida provocava sobriedade. A citação de Howell é a seguinte (grifo no livro):

Já se descobriu que esta bebida de café causou maior sobriedade entre as Nações; pois, enquanto anteriormente os Aprendizes e Escriturários, entre outros, costumavam tomar seus goles matinais de Cerveja ou Vinho, que pela tontura que causam no Cérebro, tornam os homens bastante impróprios para os negócios, agora bancam os Bons companheiros com esta bebida estimulante e civilizada. (p. 150)

Aí está. O café melhorou a qualidade do trabalho do profissional contábil. Imagem, aqui