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03 junho 2025

Perigo da IA


A ilusão de conexão torna-se especialmente problemática através do que os pesquisadores chamam de “simplesflancia” – a tendência dos sistemas de IA de lisonjear e concordar com os usuários, independentemente do que é dito. A OpenAI teve recentemente que reverter uma atualização depois que os usuários descobriram que seu modelo era excessivamente lisonjeiro, priorizando a adequação sobre a precisão ou a honestidade. (...) Amizades são inerentemente exigentes e complicadas. Eles exigem reciprocidade, vulnerabilidade e desconforto ocasional. “Os seres humanos são imprevisíveis e dinâmicos”, disse Guingrich. Essa imprevisibilidade faz parte da magia e da insubstituíbilidade das relações humanas. (...) Companheiros de IA, otimizados para a satisfação do usuário, raramente fornecem o atrito construtivo que molda o caráter e aprofunda a sabedoria. Os usuários podem se acostumar com a natureza livre de conflitos e sob demanda do companheirismo de IA, enquanto o trabalho essencial das relações humanas – compromisso, escuta ativa, gerenciamento de desentendimentos – pode começar a parecer irracionalmente exigente. (...)

Fonte: aqui 

Intangíveis e a posição de uma Big Four


Uma das críticas à contabilidade atual é a dificuldade de reconhecer e mensurar os intangíveis. Baruch Lev, em diversos momentos, inclusive em The End of Accounting, critica fortemente os reguladores, que estão inertes diante do problema. Recentemente o Iasb tentou uma discussão e tudo parou na questão de amortizar ou não o ágio adquirido, questão esta que dividiu o comitê. Agora o Fasb está propondo uma discussão com os intangíveis, aceitando sugestões. 

Diante dessa oportunidade, a EY adotou a seguinte postura:

 Em nossa carta de comentários, não acreditamos que haja uma necessidade generalizada de revisar significativamente os atuais princípios contábeis dos EUA (US GAAP) relacionados a ativos intangíveis e recomendamos que o Conselho concentre seus recursos em outras áreas de aprimoramento da divulgação financeira. Caso o Conselho decida iniciar um projeto sobre intangíveis, acreditamos que melhorias pontuais e de escopo limitado seriam uma abordagem mais eficaz, incluindo o alinhamento das diretrizes de reconhecimento e mensuração para ativos de pesquisa e desenvolvimento em andamento adquiridos, a atualização dos exemplos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a consideração do feedback de preparadores e investidores antes de avançar com um projeto de divulgação sobre P&D.

Ou seja, não façam nada, pois tudo está bom. Estranho. 

02 junho 2025

Itau e o caso do executivo

O contador Eliseu Martins, renomado especialista em contabilidade e professor emérito da FEA-USP, firmou acordo com o Itaú para encerrar dois processos judiciais movidos pelo banco, informou o Valor Econômico. Ele pagará R$ 2,5 milhões, além dos R$ 1,5 milhão já devolvidos anteriormente, totalizando 4 milhões. A disputa envolve pareceres contábeis contratados mas não entregues e uma sociedade “de fato” com o ex-CFO do Itaú, Alexsandro Broedel, com quem Martins dividia os lucros na proporção de 60% a 40%. O Itaú acusa ambos de fraude, alegando que parte dos serviços pagos não foi efetivamente prestada e que houve transferências de recursos que beneficiaram Broedel.

No acordo, Martins reconhece a existência da sociedade informal com Broedel, mas nega conhecimento sobre quem autorizava os pagamentos dentro do banco e sustenta que seus filhos, sócios das empresas envolvidas, não participaram da gestão nem tinham conhecimento das operações. O banco, por sua vez, afirma que a confissão de Martins valida suas investigações internas e manterá as ações contra Broedel, exigindo o ressarcimento de R\$ 2,645 milhões restantes. Martins declarou que assinou o acordo como gesto de boa fé, reafirmando sua idoneidade e longa relação profissional com o banco, pautada na confiança e reconhecimento de sua expertise técnica. 

Teoria da escova de dentes


Um estudo recente de Farid Anvari et al identificou que 43 mil novas medidas foram publicadas na área da psicologia desde 1993. Desse total, metade nunca foi utilizada além do artigo que introduziu a medida. E talvez uma parcela ainda maior jamais tenha sido usada fora do "grupo" de pesquisa do criador da medida.

Este texto aqui apresenta uma teoria interessante: a da escova de dentes. Não utilizamos as medidas criadas por terceiros. Haveria uma barreira motivacional que reforça a necessidade prática de a pesquisa apresentar alguma novidade — que nem sempre será útil para a ciência.

Perdão presidencial


O presidente dos Estados Unidos parece gostar de maus pagadores. Por meio de um decreto, a Casa Branca perdoou as "estrelas" de reality show Todd e Julie Chrisley. Em 2022, o casal foi condenado por evasão fiscal e fraude bancária — crimes tipicamente associados a golpistas —, mas a presidência considerou que a pena aplicada foi injusta.

No programa Chrisley Knows Best, o casal exibia o estilo de vida luxuoso de sua família na Geórgia e no Tennessee. O reality foi exibido entre 2014 e 2023, chegando a alcançar 2 milhões de espectadores em sua oitava temporada. A avaliação do programa no IMDb é de 4,9, com a maioria das notas sendo 1 ou 10.

Quanto ao crime cometido, os Chrisleys enviaram documentos falsos para obter mais de 36 milhões de dólares em empréstimos pessoais. Por isso, Todd foi condenado a 12 anos de prisão e Julie, a 7 anos.

Prêmio Darwin

Da Wikipedia:  

Prêmios Darwin (do inglês Darwin Awards) são uma honraria irônica, atribuída àqueles que cometem erros tidos como estúpidos e que levam à própria morte ou esterilização e à subsequente incapacidade de legar a seus descendentes suas características, dessa forma "contribuindo" para a melhoria do pool genético da humanidade e para a diminuição da estupidez. O nome do prêmio deriva do biólogo e naturalista britânico Charles Darwin, que popularizou a Teoria da Evolução. Os Prêmios Darwin começaram a ser atribuídos em 1991, muito embora já houvesse casos que preencheriam seus critérios e requisitos anteriormente. O caso mais antigo remonta a 1874, quando o aluno de uma universidade fantasiou-se de vampiro para uma festa e, para fingir que havia sido caçado, tentou prender uma estaca de madeira na camisa e acabou atravessando-a no peito.  

Um brasileiro já venceu o prêmio em 2008: Adelir Antônio de Carli, um padre, que tentou usar balões para viajar. 

O vídeo acima mostra um homem tentando embarcar em um navio, na Austrália. Isso me faz lembrar de uma resposta que um ministro da Islândia deu para alguém que questionou o fato de um turista ter arriscado sua vida e ter morrido: acreditamos em Darwin.

01 junho 2025

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Manucci


Amatino Manucci (século XIII) foi um comerciante italiano baseado em Nîmes, na França, no final do século XIII, cujo trabalho inclui o mais antigo registro existente de contabilidade por partidas dobradas, embora ele não seja creditado como o inventor dessa técnica contábil.

Manucci mantinha os registros contábeis da Giovanni Farolfi & Company, uma sociedade mercantil com sede em Nîmes, França. Ele era sócio da filial de Salon, no sul da França. A escrita, inteiramente feita por Manucci, é cuidadosa, legível e em grande parte bem preservada. Sobrevivem registros financeiros de 1299–1300 que ele manteve para a filial da empresa em Salon, na Provença. Embora esses registros estejam incompletos, apresentam detalhes suficientes para serem identificados como contabilidade por partidas dobradas. Esses detalhes incluem o uso de débitos e créditos e a dualidade das entradas. Nada mais se sabe sobre Amatino Manucci além desse livro razão que ele manteve.
 

Fonte: Wikipedia

É interessante notar que a enciclopédia da história mundial da contabilidade não cita Manucci.  A grande influência aqui é Fenny Smith, The influence of Amatino Manucci and Luca Pacioli, in BSHM Bulletin: Journal of the British Society for the History of Mathematics, vol. 23, n. 3, 2008-10, pp. 143-156. 

O blog citou Manucci aqui e aqui

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Dicksee


Dicksee, Lawrence (1864–1932) - Lawrence Dicksee nasceu em Londres e cresceu em uma família de artistas com sucesso modesto. Em 1881, aos 17 anos, tornou-se assistente de contabilidade por meio de um contrato de aprendizagem, e, em 1886, qualificou-se por exame como membro do Institute of Chartered Accountants in England and Wales. Em seguida, abriu seu próprio escritório de contabilidade em Cardiff, onde também lecionava contabilidade nas escolas técnicas locais. Em 1902, foi nomeado professor titular de contabilidade na Universidade de Birmingham. No mesmo ano, passou a atuar como professor em tempo parcial na London School of Economics, onde continuou a lecionar até sua aposentadoria, em 1926.

Dicksee foi um dos escritores mais prolíficos de contabilidade de sua época, com uma impressionante variedade de interesses e conhecimentos. O mais conhecido de seus 17 livros foi Auditing (1892), que teve 19 edições no Reino Unido e serviu de modelo para o livro Auditing Theory and Practice (1912), de Robert H. Montgomery, nos Estados Unidos. Dicksee também foi o primeiro contador a escrever livros sobre goodwill e depreciação. Publicou obras especializadas sobre conversão de moeda estrangeira, contabilidade de leiloeiros, advogados, companhias de gás, hotéis, minas e garagens. Seu livro sobre organização empresarial e gestão de escritórios antecipou a revolução no processamento de informações em quase 50 anos.

Hoje, a reputação de Dicksee se baseia principalmente em seus escritos teóricos. Ao contrário da maioria de seus contemporâneos, ele explorava os problemas contábeis com base no que chamava de “princípios fundamentais”. Foi um dos primeiros a realizar esforços sistemáticos para formular uma base racional para avaliação de ativos e mensuração do resultado.

Antes de considerar as propostas de Dicksee, é necessário compreender a prática contábil de sua época. No final do século XIX, a maioria das empresas manufatureiras ainda utilizava o método da conta única ou método de inventário para avaliação de ativos, tratando os ativos fixos como mercadorias não vendidas. Os ativos eram avaliados ou reavaliados no final de cada exercício contábil, e para a maioria das empresas que usavam esse método, o lucro correspondia à variação do valor de todos os ativos, qualquer que fosse a causa. Não se fazia distinção entre despesas de capital e de receita, entre ativos circulantes e de longo prazo, ou entre aumentos inflacionários e lucro real.

As ferrovias inglesas e algumas empresas de utilidade pública eram legalmente obrigadas a usar o método da conta dupla. Os custos de aquisição de ativos de longa duração eram capitalizados e nunca depreciados. Como essas empresas precisavam manter seus ativos fixos de forma permanente, assumia-se que os valores dos ativos permaneciam constantes enquanto estivessem em boas condições de uso. Isso tornava natural capitalizar melhorias e acréscimos aos ativos, enquanto substituições e reparos eram lançados diretamente como despesas. Como o momento da substituição de ativos era uma decisão gerencial, a depreciação também o era. Quando registrada, a depreciação era vista não como despesa operacional, mas como uma retenção de receita para repor o valor do ativo perdido.

O principal alvo de Dicksee era o método da conta dupla, que ele criticava por não exigir depreciação e por assumir que o consumo de capital não superaria a taxa de reposição de ativos. Ele argumentava que o principal objetivo das empresas era sua continuidade, e que a avaliação dos ativos deveria refletir esse fato. Mesmo empresas que não registravam depreciação enfrentavam a inevitabilidade da reavaliação de ativos quando estes eram vendidos ou quando a empresa mudava de proprietário. Assim, não eram apenas os preços correntes dos ativos — valores de liquidação — que importavam, mas também os preços futuros.

Para antecipar esses valores o mais precisamente possível, Dicksee acreditava que os ativos precisavam ser avaliados como “entidade em funcionamento”, ou seja, “pelo valor que teriam nos livros se a depreciação adequada tivesse sido registrada” (Auditing, 5ª ed., 1902).

A suposição de Dicksee de vida útil indefinida para a empresa também descartava o uso de preços de liquidação nos balanços de empresas manufatureiras. Se uma empresa mantinha seus ativos fixos permanentemente, parecia ilógico determinar lucros por meio de avaliações anuais baseadas em valores de revenda. Como não havia intenção de vender esses ativos, as flutuações de seus preços de mercado não podiam ser consideradas ganhos ou perdas. Ativos de longo prazo deveriam ser avaliados pelo custo de aquisição menos a depreciação. A justificativa de Dicksee para ignorar variações de valor que não fossem causadas pelo “tempo e uso” era que não se pretendia realizar tais ativos. Eles haviam sido adquiridos para uso, e não para revenda com lucro.

No entanto, a lógica da continuidade operacional exigia que os ativos circulantes fossem avaliados pelo valor líquido realizável. Como eram comprados ou produzidos para venda, eram sensíveis a variações de valor, e qualquer queda nos preços, segundo Dicksee, deveria ser registrada como perda. Pela mesma lógica, valorização dos ativos deveria ser creditada como receita — mas Dicksee não foi tão ousado. Como antes da venda “sempre há dúvida se tal realização de fato ocorreu, é mais prudente postergar o reconhecimento do lucro presumido até que este tenha sido efetivamente realizado” (Advanced Accounting, 1903).

Na virada do século, essas ideias eram revolucionárias. O fato de hoje parecerem ortodoxas é evidência de sua aceitação generalizada. Dicksee, mais do que qualquer outro indivíduo, estabeleceu o princípio da continuidade como um conceito contábil significativo. Ao fazer isso, ajudou a mudar o foco da contabilidade de uma visão puramente histórica de avaliação — baseada em preços de liquidação e conservadorismo — para a visão de que os valores dos ativos dependem de eventos futuros. Isso, por sua vez, abriu caminho para a síntese de outros princípios contábeis — custo histórico, objetividade, competência e realização — em torno do conceito de entidade em continuidade.

Michael Chatfield - The History of Accounting

Dicksee foi o autor do verbete Accounting para a edição da Enciclopedia Britannica de 1911, uma das melhores edições já produzidas. A foto está na pesquisa da Dicksee Family

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Schmalenbach


Schmalenbach, Eugen (1873–1955) - Eugen Schmalenbach é considerado um dos estudiosos mais influentes no ensino, na pesquisa e na prática contábil na Alemanha e na Europa Continental. Seus antepassados eram agricultores da Vestfália; seu pai operava um pequeno negócio de fabricação de dobradiças e fechaduras, onde Schmalenbach trabalhou por quatro anos após concluir o ensino médio e um treinamento prático em engenharia.

Em 1898, iniciou seus estudos em economia empresarial na recém-fundada Handelshochschule (Escola Comercial) de Leipzig; formou-se entre a primeira turma de estudantes em 1900 e permaneceu como assistente pessoal do Professor Karl Buecher, que combinava interesses em economia, antropologia e história. Após concluir títulos acadêmicos avançados, Schmalenbach transferiu-se para a Handelshochschule de Colônia, onde foi nomeado professor titular em 1906. A Handelshochschule tornou-se a Universidade de Colônia em 1919 e, graças aos esforços de Schmalenbach, tornou-se uma das principais escolas de negócios da Alemanha.

Schmalenbach continuou lecionando até 1933, quando foi forçado a se aposentar precocemente por sua esposa ser judia. Permaneceu ativo em sua área por meio da escrita e da consultoria até o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, retomou seus famosos seminários, que conduziu quase até sua morte. Schmalenbach recebeu diversos doutorados honorários por suas contribuições à contabilidade e à teoria dos negócios, concedidos por universidades alemãs e estrangeiras, apesar de nunca ter lecionado no exterior.

Schmalenbach, integrante da primeira geração de professores universitários de administração na Alemanha, é considerado um dos pais fundadores da administração e da contabilidade acadêmicas. Suas principais contribuições foram nas áreas de: (1) contabilidade e mensuração do resultado (Bilanztheorie), com o desenvolvimento do conceito de contabilidade dinâmica; (2) plano de contas uniforme; e (3) contabilidade gerencial e formação de preços.

Schmalenbach era pragmático e acreditava firmemente que, em uma área aplicada, teorias sem impacto direto nas operações empresariais eram inúteis. Por isso, atuou como consultor e grande parte de seus escritos tratava de problemas práticos. Também contribuiu para os avanços nas teorias de organização, auditoria, finanças e marketing. Seguindo a tradição microeconômica alemã, Schmalenbach via a empresa como uma entidade que converte caixa em outros recursos para utilização econômica, retornando eventualmente esses recursos à forma de caixa. Seu balanço patrimonial, portanto, media os ativos em vários estágios intermediários dessa conversão, representando um registro de recursos ainda não consumidos ou, em suas palavras, diferentes classes de acréscimos ou antecipações. Alguns desses recursos eram essenciais para as operações (betriebsnotwendig), enquanto outros eram mantidos para fins especulativos.

Assim, a principal ênfase para mensuração de desempenho e resultado deveria ser colocada na demonstração de resultados, uma visão semelhante à de A.C. Littleton, nos Estados Unidos, e de outros contemporâneos. Sua visão “dinâmica” representava um rompimento drástico com a visão legalista predominante (chamada de “estática”) das demonstrações financeiras, que tratava os ativos apenas como registros de valores disponíveis. Antes dele, poucas tentativas haviam sido feitas para interpretar o significado econômico das demonstrações financeiras, e quase ninguém havia tentado justificar as regras de avaliação existentes. Por entender os valores do balanço como transitórios e a sua função como suporte para os dados da demonstração de resultados, ele rejeitou a reavaliação de ativos com base em valores de mercado e, com relutância, aceitou apenas a necessidade de demonstrativos suplementares indexados durante a hiperinflação da década de 1920.

A contribuição mais duradoura de Schmalenbach, com o maior impacto internacional, veio de seu plano de contas uniforme. Seu sistema consistia em 10 classes de contas: 0 = contas inativas, contendo ativos e passivos não circulantes;
1 = contas financeiras; 2 = contas de ajuste que separam dados financeiros e gerenciais; 3 = custos gerais; 4 = matérias-primas e salários; 5 = livre para uso da contabilidade interna; 6 = centros de custo de serviços; 7 = centros de custo de produção; 8 = produtos em processo e acabados; 9 = custo de venda, receitas de vendas, resultados mensais, anuais etc. O plano de contas uniforme sistematizava os registros contábeis com base no princípio de fluxo e buscava rastrear o consumo de recursos.

Schmalenbach considerava o custo como uma expressão contábil das quantidades de recursos consumidos, mensuradas em unidades monetárias apenas para fins de aditividade. Para realizar conjuntamente a coleta de dados convencionais da contabilidade financeira e a mensuração do consumo real de recursos — incluindo ativos que não são registrados (por exemplo, ativos doados) ou que não são adequadamente mensurados para fins de tomada de decisão (por exemplo, alterações de preços) — seu sistema permitia a utilização simultânea de diversos valores diferentes (necessários em razão de mudanças de preços, inflação, padrões de depreciação mais precisos, inclusão de juros para refletir com exatidão a utilização total do capital e não apenas o custo de endividamento), por meio do uso de itens de custo imputado (kalkulatorische Kosten) para fins gerenciais.
Para operacionalizar o sistema, ele introduziu contas de custo — isto é, contas de consumo de recursos — como um conjunto separado de contas na classe 2. Essas contas eram automaticamente eliminadas ao final de cada período nas contas de resumo da classe 9, mantendo, assim, as mensurações tradicionais de despesas dentro do ciclo da contabilidade financeira. As contas financeiras e gerenciais podiam ser operadas conjuntamente dentro do sistema tradicional (sistema monista) ou separadamente dele (sistema dualista ou sistema estatístico separado). Para aumentar o conteúdo informativo de seu sistema contábil, Schmalenbach fez distinções claras entre: (1) desembolsos e entradas de caixa (para mensuração do fluxo de caixa); (2) despesas e receitas (para mensuração tradicional do resultado); e (3) custos e resultados de desempenho (para mensurações gerenciais com ênfase na eficiência).

Cada tipo de mensuração pode ser realizado utilizando dados de diferentes classes de contas. Em 1939, durante a Segunda Guerra Mundial, esse plano uniforme de contas foi tornado obrigatório na Alemanha, com pequenas modificações (planos específicos para diferentes setores industriais, com reagrupamentos de classes de contas); porém, nenhum crédito foi dado a Schmalenbach. Posteriormente, o sistema foi imposto em todos os países ocupados; em alguns, permaneceu obrigatório com modificações mesmo após o fim da guerra. Um sistema modificado é atualmente utilizado pela maioria das empresas alemãs e suas subsidiárias no exterior. Embora tenham ocorrido mudanças ideológicas, a semelhança mais próxima com o plano original de contas pôde ser observada na antiga URSS e em países do Leste Europeu até o início dos anos 1990. Isso demonstra que o sistema de Schmalenbach é aplicável a diferentes sistemas econômicos. Além disso, também foi demonstrado que sistemas uniformes aceleraram substancialmente a informatização e a comunicação entre subsidiárias.

Nos anos seguintes, Schmalenbach concentrou-se no desenvolvimento de valores para a tomada de decisão com base na contabilidade, voltados a facilitar um comportamento gerencial orientado para o mercado e para a maximização do lucro, uma vez que diferentes valores (preços) podiam ser utilizados dentro de seu sistema contábil. Ele já havia mencionado — e posteriormente publicou, em 1947 e 1948 — suas sugestões sobre as condições sob as quais uma empresa deveria usar o custo total (de aquisição ou de reposição), o custo marginal ou direto (em casos de subutilização da capacidade), ou outros valores (chamados de valores-guia ótimos, mais tarde identificados como shadow prices) em situações de sobreutilização da capacidade, para melhorar sua rentabilidade.

Por meio desses esforços, ele criou as bases para um sistema de informações contábeis voltado à tomada de decisão — como exigido no ambiente competitivo atual. Ao reler Schmalenbach, sempre surpreende o quão modernas suas ideias ainda parecem, mesmo muitos anos após sua primeira publicação.

Hanns Martin Schoenfeld - The History of Accounting

Nós citamos Schmalenbach antes quando postamos sobre Schimdt, Limperg e Most.

Grandes nomes das história mundial da contabilidade: Kempten

Kempten, Valentin Mennher von (1521–1571) - Em 1550, Valentin Mennher von Kempten, um professor alemão de matemática, publicou Practique brifue pour cyfrer et tenir livres de compte, obra que enxertou os métodos italianos de escrituração contábil em partidas dobradas sobre um sistema mais antigo de contabilidade por mandato. Kempten utilizava os três livros contábeis tradicionais alemães: diário, livro de mercadorias e razão de dívidas. No entanto, seu livro de mercadorias possuía apenas colunas para as quantidades em estoque compradas e vendidas.

O agente-escriturário prestava contas de sua administração por meio de uma “conta do senhor”, que era creditada pelas quantias recebidas do mandante ou cobradas em seu nome, e debitada por compras, despesas e remessas. Ao final do período, o saldo de caixa e as obrigações restantes eram transferidos para essa conta do senhor. Kempten demonstrava lançamentos compostos, mas não realizava cálculos de lucro.

Na obra Practicque pour brievement apprendre à ciffrer et tenir livre de comptes (Antuérpia, 1565), Kempten descreveu um sistema de partidas dobradas mais completo, incluindo uma conta de lucros e perdas. O diário e o razão substituíram o sistema dos três livros; a conta de capital passou a ter maior importância do que a conta do senhor. Colunas monetárias substituíram as colunas de quantidades para o controle de estoques recebidos e vendidos. As compras de estoque eram registradas pelo custo de aquisição, que era ajustado para os valores de mercado vigentes toda vez que as contas eram encerradas.

Michael Chatfield

Além dos livros citados, Kempten escreveu mais sete outras obras listadas aqui. Teve uma tradução para o espanhol em 1564.

31 maio 2025

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Babbage

Babbage, Charles (1792–1871) - O matemático e cientista inglês Charles Babbage demonstrou a primeira calculadora mecânica prática do mundo, sua “máquina diferencial”, em 1822. Seu computador, ou “máquina analítica”, nunca foi construído durante sua vida, mas foi posteriormente montado e provado funcional. A máquina possuía todos os componentes essenciais de um computador moderno, incluindo um sistema de entrada por cartões perfurados, um sistema de cálculo binário e memória externa para armazenamento.

Assim como Adam Smith, Babbage era fascinado pelas economias que podiam ser alcançadas por meio da divisão do trabalho, e considerava que todas as civilizações avançadas haviam progredido ao racionalizar a produção dessa forma. Sua obra On the Economy of Machinery and Manufactures (1832) foi provavelmente o primeiro trabalho em inglês sobre a gestão científica de fábricas. Utilizando como exemplo a fabricação de alfinetes, Babbage dividiu a produção em sete etapas básicas, para cada uma das quais calculou o tempo e o custo de produção de uma libra de alfinetes, o custo de mão de obra por dia e “o preço de fabricar cada parte de um único alfinete, em milionésimos de penny”.

Embora não estivesse diretamente preocupado com a contabilidade de custos, Babbage enfatizava a necessidade de análise e controle de custos. Ele compreendia que o custo unitário de fabricação de um produto varia conforme o número de itens produzidos, e demonstrava o efeito dessas variações no custo total das máquinas. Babbage considerava o desgaste das máquinas um custo legítimo de produção e propôs que a depreciação fosse calculada e registrada.




Michael Chatfield - The History of Accounting

Confesso que não imaginei que Babbage poderia fazer parte da lista, mas ao ler o verbete fica claro que ele tinha um bom entendimento da contabilidade de custos.

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Barbarigo


 

Barbarigo, Andrea (†1449) - Andrea Barbarigo foi um comerciante veneziano de importação. Seus livros contábeis (1431–1449) fornecem o exemplo veneziano mais antigo conhecido de uma contabilidade de empreendimentos já madura. O tratado "Particularis de Computis et Scripturis" (1494), de Luca Pacioli, descreve um sistema contábil essencialmente igual ao de Barbarigo.

O diário e o razão são integrados. As contas do razão são referenciadas entre si, e ao lado de cada lançamento no diário há referências às páginas do razão onde esses lançamentos foram registrados. Os débitos e créditos são identificados pelas palavras "per" (para débito) e "a" (para crédito), respectivamente. Os valores monetários são colocados em uma coluna rudimentar à direita.

Barbarigo registrava em uma mesma conta de algodão todos os embarques feitos por um determinado agente, mesmo que estivessem distribuídos ao longo de vários anos. Para importações mais frequentes, como tecidos ingleses, ele abria uma nova conta para cada lote recebido e a mantinha aberta até que todo o lote fosse vendido.

Como seu negócio não era contínuo no sentido moderno — e diferentes viagens apresentavam diferentes chances de sucesso — ele determinava os lucros separadamente para cada empreitada, raramente tendo motivo para encerrar ou equilibrar seus livros. Preparou balancetes em 1431, 1435 e 1440, e depois deixou as contas em aberto até sua morte em 1449. Seu filho Nicolo manteve um livro razão de 1456 a 1482, mas fechou o balanço apenas uma vez, em 1482, quando o livro estava cheio.

Michael Chatfield - The History of Accounting

O retrato está em um Museu da Virginia. Há um estudo de 1944 sobre Barbarigo publicado pela John Hopkins Press e aqui uma critica. Uma extensa descrição de sua vida pode ser encontrada aqui, que crava 1399 como ano de nascimento. Há outro artigo aqui, com muitos detalhes contábeis.

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Dumarchey


Jean Dumarchey (1874-1946) foi um teórico francês da contabilidade, conhecido por sua abordagem científica e econômica da área. Ele defendia que a contabilidade era uma ciência social, que utilizava a matemática como instrumento e estava relacionada com outras ciências, como filosofia, economia e sociologia. Dumarchey argumentava que a contabilidade deve ser organizada cientificamente, considerando seu objetivo fundamental: o controle do valor econômico da empresa. Em 1913 lança o livro Teoria Positiva da Contabilidade, um dos três livros que foram traduzidos para o português. Ele fazia parte da escola Neocontista, segundo Lopes de Sá. Segundo Dumarchey, conta é toda classe de unidade valor, sendo o valor a pedra angular da contabilidade.
Ele entendia as partidas dobradas através da seguinte regra: quem recebe é debitado e quem entrega é creditado. Durante sua vida publicou artigos na Revista de Contabilidade e Comércio de Portugal, indicando que teve uma grande influência sobre a contabilidade portuguesa. No Brasil sua influência se dá através do Lopes de Sá. 

Não há uma fonte única que explore de forma adequada a vida e obra de Dumarchey. Para elaboração dessa postagem, consultei aqui, aqui e aqui

30 maio 2025

Tecnologia e a captura de carbono

Uma nova inovação em captura de carbono é uma boa notícia para o planeta — e para as Big Techs


Engenheiros do MIT anunciaram, na terça-feira, que desenvolveram membranas de nanofiltração para ajudar a resolver o gargalo que limita os métodos atuais de captura de carbono. Simplificando, os sistemas de captura e armazenamento de carbono (CCS) dependem de duas reações: uma que remove o CO2 diluído do ar e outra que libera o CO2 puro do sistema para ser armazenado. Quando os íons que alimentam essas reações se misturam, eles produzem água, o que torna o processo menos eficiente.

De acordo com o artigo, as novas membranas de filtração, que funcionariam separando esses íons, poderiam tornar os sistemas CCS seis vezes mais eficientes e reduzir os custos em até 30%. Embora a redução do CO2 atmosférico seja uma grande vantagem para o meio ambiente, ela também, paradoxalmente, beneficia as indústrias poluidoras que compram créditos de carbono para cumprir metas de sustentabilidade.

A captura de carbono está se tornando um grande negócio. Algumas das maiores (e mais poluentes) empresas do mundo passaram a depender de créditos de carbono para atingir suas metas de emissão líquida zero. Atualmente, essas compensações são, em sua maioria, soluções naturais, como projetos de reflorestamento, mas houve um aumento significativo no uso de sistemas de captura e armazenamento de carbono (CCS) recentemente.

No mês passado, a Agência Internacional de Energia (IEA) informou que, embora o primeiro trimestre de 2025 tenha registrado mais de 50 milhões de toneladas métricas de capacidade de captura e armazenamento de CO₂ em operação, a projeção é de um forte crescimento, alcançando cerca de 430 milhões de toneladas métricas até 2030.

Uma das principais forças por trás do crescimento acelerado dos projetos de CCS é a impressionante expansão das Big Techs. Segundo uma análise da Carbon Brief, empresas de tecnologia como Microsoft e Apple geralmente utilizam uma proporção maior de créditos de remoção de carbono em comparação com outros setores, como petróleo ou aviação, e a demanda só tem aumentado à medida que esses gigantes investem pesado em data centers de alto consumo energético para sustentar a inteligência artificial.

No seu relatório de perspectivas para os mercados globais de carbono em 2025, a Bloomberg destacou que o volume de contratos de créditos de remoção de carbono aumentou 74% no ano passado, previu que esse volume dobrará este ano e detalhou que, sozinha, a Microsoft comprou quase dois terços dos novos contratos no ano passado, o equivalente a cerca de 5,1 milhões de créditos de remoção de carbono.

Fonte: aqui

Mas será que o desenvolvimento tecnológico não inibirá as iniciativas ambientais que estão planejadas? 

Revisão automatizada faz sentido

Da newsletter da Zeppelini Publishers:


Frequentemente descrita como a “espinha dorsal” da ciência moderna, a revisão por pares tem como objetivo validar os achados científicos antes de sua publicação. No entanto, o crescimento exponencial da produção científica nas últimas décadas colocou esse modelo sob forte pressão. (...)

Diante desse cenário, ganha força o debate sobre o uso da inteligência artificial como alternativa para acelerar e qualificar o processo de revisão por pares. Mas até que ponto essa automação é possível, ética e eficaz? Qual é o potencial transformador da IA na revisão científica?

A promessa mais imediata da IA é a redução drástica do tempo necessário para triagens e revisões técnicas. Sistemas como o eLife’s SIFT, por exemplo, utilizam IA para verificar conformidade com critérios editoriais, destacando inconsistências e lacunas. Com isso, realizam uma pré-avaliação em menos de dez minutos, um processo que levaria horas para um editor humano.

Outro caso relevante é o da Frontiers Media, que utiliza algoritmos para detectar duplicações, erros estatísticos, citações inadequadas e conflitos de interesse. Em 2021, a empresa reportou que essa abordagem reduziu em até 40% o tempo médio entre submissão e publicação.

Ferramentas antiplágio como Turnitin, iThenticate já são amplamente utilizadas para identificar similaridades textuais, paráfrases indevidas e possíveis plágios. Além disso, sistemas como o StatReviewer avaliam automaticamente a correção de métodos estatísticos usados, apontando erros comuns em testes de hipóteses, regressões e amostragens.

A IA também pode contribuir para identificar fabricação de dados, uma prática difícil de detectar manualmente. O algoritmo ImageTwin, por exemplo, foi desenvolvido para identificar reutilização de imagens em artigos científicos, como figuras de microscopia ou Western blots, aumentando a confiabilidade de pesquisas visuais. (...)

Sistemas de IA são tão imparciais quanto os dados que os alimentam. Se os datasets usados para treinar algoritmos privilegiam publicações em inglês, de revistas ocidentais e de autores consagrados, há risco de perpetuar desigualdades regionais, linguísticas e institucionais. Uma pesquisa da Nature (2022) apontou que algoritmos de ranqueamento automático favoreceram 20% mais artigos de autores dos Estados Unidos e da Europa Ocidental em relação a autores de países em desenvolvimento.

Apesar dos avanços de modelos como o GPT-4 e o Claude, a IA ainda não compreende significado da mesma forma que humanos. Ela pode identificar erros formais, mas não avaliar originalidade, relevância teórica ou impacto social de uma pesquisa. Isso é especialmente crítico em ciências humanas, onde a subjetividade e o contexto são essenciais.

Decisões tomadas por IA devem ser explicáveis e auditáveis. No entanto, muitos sistemas operam como “caixas-pretas”, com critérios complexos e pouco transparentes. Isso levanta as seguintes perguntas: se um algoritmo rejeita um artigo com base em critérios automatizados, quem responde pelo erro? Como o autor pode apelar ou questionar essa decisão?

A ausência de regulamentação clara agrava o problema. Atualmente, não há consenso internacional sobre o papel permitido da IA na avaliação científica, embora iniciativas estejam surgindo, como as diretrizes do Committee on Publication Ethics (COPE). (...)

Dado o cenário, é prudente defender uma automação parcial e supervisionada da revisão por pares, focada nas tarefas mais repetitivas e suscetíveis a erros humanos. Isso inclui triagem técnica inicial (estrutura, metadados, formatos, referências); verificação estatística e de plágio; sugestão de revisores com base em aprendizado de máquina; e resumo automático do conteúdo para editores humanos.

Com isso, os revisores humanos podem se concentrar na análise crítica, teórica e ética do artigo, garantindo um equilíbrio entre agilidade e qualidade. Essa abordagem colaborativa já está sendo adotada em revistas como a PLOS One e IEEE Access, com resultados promissores. (...)

O futuro da revisão por pares deve ser tecnologicamente assistido, mas essencialmente humano. Inteligência artificial pode ser nossa aliada, desde que guiada por inteligência ética e científica. Afinal, a ciência não avança apenas com precisão: ela precisa também de discernimento. 

Parece que é inevitável a IA no processo e as questões levantadas são pertinentes. Imagem aqui

Ranking do nível de educação no mundo


Este gráfico, via Niccolo Conte da Visual Capitalist (via aqui), mostra os países com as populações mais educadas, medidos pelo número e por parte de adultos com idades entre 25 e 64 anos que têm um diploma de bacharel ou superior. Os dados são provenientes da CBRE Research, utilizando os últimos números disponíveis a partir de 2023.

Se observar bem, o Brasil aparece lá embaixo, com 21,5%, acima da Itália, Índia e China, mas bem abaixo dos 52,4% da Irlanda, o pais mais educado do mundo

Nome

Seja um bebê, uma empresa, um papa ou um produto, dar nomes às coisas é difícil.

Quando Mark Zuckerberg quis mudar o nome do Facebook para refletir melhor suas aspirações no metaverso, provavelmente uma equipe de marketing foi contratada por uma montanha de dinheiro para chegar a… Meta. A Aberdeen Asset Management, que administra mais de 670 bilhões de dólares, retirou as vogais de seu nome em 2021, tornando-se abrdn, por razões que só ela entende, antes de devolver as letras este ano. A Netflix foi duramente criticada por tentar usar Qwikster como nome do seu serviço de DVDs, a Radio Shack achou que se chamar The Shack traria de volta seus dias de glória, e a Pizza Hut já brincou com alguns nomes — todos odiados pelo público.

Algumas empresas simplesmente desistem e começam a usar nomes próprios comuns para suas marcas e produtos. Tem a Dave, uma empresa de seguros; Jasper, que ajuda a escrever textos de marketing; Claude, um chatbot de IA; e Alexa, a assistente robótica da Amazon — um produto que fez a popularidade do nome despencar após seu lançamento em 2015.




Então, depois que você finalmente tem um nome reconhecido por bilhões de pessoas ao redor do mundo, mudar isso da noite para o dia parece ser um experimento de altíssimo risco. Ainda assim, foi exatamente isso que Elon Musk fez em um domingo de julho de 2023, quando anunciou que faria um rebranding completo do Twitter — após ter gasto 44 bilhões de dólares na plataforma menos de um ano antes — para X.

Se os dados do Google servirem de referência, só agora as pessoas estão começando a lembrar do novo nome com mais frequência, já que nas últimas semanas as buscas por “x login” finalmente superaram as por “twitter login”.

Com base, então, nessa análise nada científica, parece que de 18 a 24 meses é, aproximadamente, o tempo necessário para reformular o nome de um produto na mente do público em geral. Mas, claro, esses são apenas os usuários que estão tentando acessar a plataforma via Google — para muitos outros, provavelmente, sempre será o Twitter... ou, pelo menos, “X, anteriormente conhecido como Twitter.”
 

Fonte: aqui

29 maio 2025

Tarifa de 100%: Trump Declara Guerra aos Filmes Estrangeiros

Ontem [4 de maio de 2025], Donald Trump anunciou um plano para impor uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos no exterior. Ele alegou que os incentivos fiscais internacionais estavam drenando produções americanas do território dos EUA e acusou outras nações de praticarem sabotagem econômica e propaganda cultural. Em sua postagem no Truth Social, ele escreveu:

“Queremos filmes feitos na América, de novo!”

A declaração acendeu o debate sobre um tema que a indústria raramente enfrentou de forma direta. Afinal, o que realmente significa um filme ser feito na América? Trata-se do local onde as câmeras gravam, de onde vem o dinheiro ou de quem controla a visão criativa? E quantos dos chamados filmes de Hollywood realmente passariam nesse teste, se fosse imposto?

A produção cinematográfica se tornou uma das indústrias mais globalizadas do mundo. Equipes, financiamento, efeitos visuais, pós-produção e até atores cruzam fronteiras com frequência. Muitos filmes americanos são gravados no Canadá, no Reino Unido ou na Austrália. E, embora a proposta de Trump pressuponha uma linha clara entre o que é estrangeiro e o que é doméstico, a realidade atual da indústria cinematográfica é muito mais difusa.

Vamos ver o que os dados podem revelar sobre onde esses filmes são realmente feitos — e quais fatores qualquer sistema de tarifas americano teria que enfrentar.

Quantos filmes são feitos na América?

A expressão “feito na América” parece simples, mas é difícil de definir para a maioria dos grandes filmes. Se usarmos o país de origem informado pelo IMDb, cerca de um terço dos filmes de longa-metragem produzidos globalmente desde o ano 2000 poderiam ser classificados como americanos.

Se você focar somente nos filmes feitos pelos grandes estúdios americanos, então o percentual aumenta para 4 em 5 (87% em 2024)

No entanto, não é tão simples quanto dizer “americano ou não”. Isso porque:

  • Os filmes normalmente têm múltiplos países de origem. Muitos filmes hoje são coproduções entre dois ou mais países. Isso permite acesso a múltiplos incentivos fiscais, fontes de financiamento e mercados de distribuição.

  • Não existe um sistema para rastrear isso. Não há um banco de dados universal ou um framework que defina ou verifique oficialmente a identidade nacional de um filme. O IMDb permite que os produtores informem os dados por conta própria, enquanto premiações, festivais e fundos nacionais aplicam seus próprios critérios. Esses sistemas frequentemente entram em conflito, levando a respostas diferentes dependendo de quem pergunta e por quê.

  • Uma cadeia de produção global. Os filmes são feitos por meio de uma cadeia de produção internacional. Assim como na indústria de manufatura, o cinema hoje depende de uma cadeia de suprimentos global, e não de um único ponto de origem.

  • As plataformas de streaming borram ainda mais as fronteiras. Streamings globais como Netflix e Amazon frequentemente encomendam filmes sem um país de origem claramente definido. Um projeto pode ser desenvolvido em Los Angeles, produzido por uma empresa britânica, filmado na Espanha e divulgado como “conteúdo internacional”.

  • Estúdios americanos financiam regularmente filmes não americanos. Estúdios de Hollywood frequentemente financiam, produzem ou distribuem filmes que não são de origem americana. Isso inclui dramas prestigiados voltados para a temporada de premiações, coproduções internacionais ou conteúdos em língua local voltados para mercados estrangeiros.

    Como determinar de onde é um filme?

    Qualquer tarifa exigiria que os filmes tivessem uma identidade nacional claramente definida. Atualmente, os Estados Unidos não possuem uma definição formal do que torna um filme americano. Não existe um processo de certificação, nenhum critério mínimo de conteúdo doméstico, nem uma agência única responsável por determinar o status nacional de um filme.

    O termo “nacionalidade” pode significar coisas diferentes, dependendo de quem pergunta e do que está em jogo. Festivais, premiações, agências de financiamento e o próprio público aplicam critérios distintos — e os resultados podem variar drasticamente (incluí alguns exemplos polêmicos no final deste artigo).

    Muitas pessoas inicialmente se perguntam em qual país ocorreu, de fato, a produção do filme. As locações de filmagem são, em teoria, fáceis de identificar. Ou um filme é gravado em um lugar, ou não é. Mas isso se complica quando as produções são divididas entre vários países ou utilizam equipes remotas.

    Quando analisei esse tema alguns anos atrás, descobri que um filme de maior bilheteria, em média, é filmado em 1,6 países.

    A análise de Stephen Follows (How many Hollywood movies are made outside America?) continua, mas o recado parece claro. A simplicidade de um político demagogo, que declara uma taxação, como é o caso, não condiz com a complexidade do mundo real.

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Fini e irmãos

Fini e irmãos - Entre os mais antigos registros de contabilidade por partidas dobradas que sobreviveram estão os dos irmãos Rinerio Fini de' Benzi. Os três irmãos Fini eram comerciantes florentinos que atuavam na França, especialmente como negociantes e agiotas nas feiras de Champagne. O livro contábil dos Fini (1296–1305) incluía a maioria dos elementos de um sistema completo de partidas dobradas. Cada lançamento no razão era referenciado ao seu respectivo débito ou crédito. O lucro ou prejuízo de cada transação era calculado e transferido para uma conta de compensação.

Além dos valores a receber e a pagar, já encontrados em livros razão florentinos anteriores, surgiram pela primeira vez contas nominais, como despesas com juros e com vestuário e calçados. No entanto, aparentemente não houve nenhuma tentativa de fechar ou equilibrar o livro razão dos Fini. As contas continuavam de ano a ano sem verificação aritmética, sem transferências dos saldos das contas nominais para o capital e sem cálculos globais de lucro.

Michael Chatfield - The History of Accounting

Não há muito sobre Fini além do fato de serem irmãos e comerciantes em Florença. 

Estrutura conceitual do COSO para Governança Corporativa: Draft divulgado


O Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO), em colaboração com a National Association of Corporate Directors (NACD), divulgou uma minuta para consulta pública do Corporate Governance Framework (CGF) e está convidando o público a enviar comentários a partir de 27 de maio de 2025.

Em maio de 2024, a PwC foi selecionada pelo COSO como autora principal para desenvolver um framework abrangente de governança corporativa, que fornece orientações baseadas em princípios para que as organizações estabeleçam e fortaleçam suas práticas de governança, começando pelo conselho de administração e se estendendo por toda a empresa.

O Corporate Governance Framework foi concebido para complementar e alinhar-se aos frameworks de Controle Interno (IC) e de Gestão de Riscos Corporativos (ERM) do COSO. Ele incorpora práticas líderes globais para ajudar as organizações a aprimorar a eficácia da governança, gerenciar riscos de forma proativa e criar valor a longo prazo.

Nessa página você pode clicar no link da minuta. 

Pesquisa sobre desonestidade: Gino sofre derrota


Anteriormente postamos sobre uma pesquisa que foi colocada em dúvida de manipulação nos dados. O curioso era que a pesquisa tratava de honestidade. A pesquisadora, Francesca Gino, diante da denúncia, resolveu processar sua instituição de ensino e o site Data Colada, que tinha feito a investigação. Também postamos sobre o assunto.

A notícia de agora é que a universidade de Harvard revogou a estabilidade da professora após uma investigação interna. Trata-se do primeiro caso de demissão de um professor com estabilidade de Harvard. E no caso de Gino é destaque pois a professora era um dos docentes mais bem pagos da universidade, tendo recebido 1 milhão de dólares em 2018 e 2019. 

Negando as acusações e processando a Universidade e o blog, Gino não trouxe muita simpatia. Um juiz já negou a alegação de difamação, mas o processo relacionado com o contrato de docente seguiu adiante.

Pandemia e mercado de trabalho contábil


A pesquisa buscou investigar como a pandemia de COVID-19 impactou a empregabilidade no setor contábil no Brasil, analisando a influência da crise na criação e preservação de empregos na contabilidade, os desafios enfrentados pelos profissionais e as mudanças na demanda por serviços contábeis. A metodologia baseou-se em uma abordagem quantitativa, utilizando dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), contemplando as séries histórica e atualizadas do banco de dados, além de variáveis macroeconômicas como PIB e IPCA. Para a análise dos dados, foi empregado o modelo estatístico de Diferenças em Diferenças (DiD), que permitiu avaliar de forma robusta os efeitos causais da pandemia sobre os saldos líquidos de emprego no setor. Os resultados destacaram que os profissionais da contabilidade sofreram impactos negativos mais acentuados que outros profissionais da área administrativa, apresentando saldos líquidos negativos de emprego. 

Um trabalho da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, de Mossoró-RN: IMPACTO DA PANDEMIA NA EMPREGABILIDADE DO MERCADO DE TRABALHO CONTÁBIL: UMA ANÁLISE DOS DADOS DO CAGED - Daniel Victor Oliveira da Silva, Alexsandro Gonçalves da Silva Prado

28 maio 2025

Europa obseervando influenciadores financeiros

A Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA), reguladora e supervisora dos mercados financeiros da UE, escreveu hoje para várias empresas de mídia social e plataforma (X, Meta, TikTok, Alphabet, Telegram, Snap, AmazonAmazon, Apple, Google e Reddit) incentivando-os a tomar medidas proativas para evitar a promoção de serviços financeiros não autorizados.

A crescente disseminação de golpes on-line direcionados a investidores de varejo representa um sério risco para os próprios investidores e para a sociedade, com atores fraudulentos explorando plataformas digitais para anunciar serviços financeiros ilegais. Estas actividades induzem frequentemente os consumidores a envolverem-se em empresas que não têm autorização adequada, resultando em perdas financeiras e na perda de confiança no setor financeiro.

Essa abordagem complementa a iniciativa da semana passada lançada pela Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários, destacando a natureza global de fazer danos on-line ligados à má conduta financeira.

Fonte: aqui

Roland Garros diz não à tecnologia

Um artigo do Wall Street Journal destaca que o Torneio de Roland-Garros, em 2025, permanece como o único Grand Slam a utilizar juízes de linha humanos, resistindo à tendência de adoção da tecnologia de marcação eletrônica implementada nos demais torneios principais. Enquanto o Australian Open, o US Open e Wimbledon já incorporaram sistemas automatizados, Roland-Garros mantém a tradição, argumentando que a natureza única das quadras de saibro favorece o julgamento humano.

A decisão de Roland-Garros gera debates entre os jogadores. Alguns, como Arthur Fils, expressam frustração com as imprecisões percebidas nas chamadas eletrônicas, especialmente no saibro. Outros, como Coco Gauff, apoiam a integração tecnológica, considerando-a um avanço. Ex-oficiais, como o árbitro de cadeira Jaume Campistol, também observam a perda da dinâmica humana e da construção de confiança quando os oficiais são removidos da quadra.

O papel dos correios no desenvolvimento local


É sempre interessante rever o passado, com base em novas informações e usando os métodos de pesquisa mais modernos. O resumo a seguir trata com impacto dos correios no desenvolvimento econômico: 

Este artigo analisa o impacto da expansão do Serviço Postal dos Estados Unidos no final do século XIX sobre a criação e o desempenho de empresas. Utilizando dados históricos recém-digitalizados sobre estabelecimentos comerciais, localizações de agências postais e redes rodoviárias na Califórnia, nosso estudo identifica uma relação positiva entre a expansão do Serviço Postal e o surgimento de novas empresas. Para lidar com preocupações de endogeneidade, utilizamos uma mudança inesperada na rede de rotas do Serviço Postal. Nossos resultados sugerem que o Serviço Postal desempenhou um papel significativo ao facilitar a entrada de novas empresas, atuando como um vetor de disseminação de conhecimento especializado, mais do que como um serviço financeiro ou infraestrutura de comunicação de massa. Além disso, revelamos que, embora o aumento da concorrência oriunda de novos entrantes geralmente exercesse pressão negativa sobre as empresas já estabelecidas, aquelas que dependiam de conhecimento especializado e de insumos tecnológicos públicos se beneficiaram significativamente do acesso local ao Serviço Postal. Em conjunto, nosso estudo destaca o papel fundamental desempenhado pelo Serviço Postal na difusão do conhecimento e no desenvolvimento econômico local, ao viabilizar o acesso a conhecimentos e tecnologias especializados provenientes de outras regiões. De forma geral, nossos resultados contribuem para uma compreensão mais ampla de como a infraestrutura de comunicação e disseminação de conhecimento pode impulsionar o empreendedorismo e o crescimento das empresas, trazendo importantes implicações para os debates contemporâneos sobre desenvolvimento de infraestrutura, seu potencial para estimular atividades empreendedoras, inovação e fortalecimento das comunidades econômicas locais.

GPT de graça para todos habitantes dos Emirados Árabes Unidos


Os Emirados Árabes Unidos firmaram uma parceria com a OpenAI para oferecer acesso gratuito ao ChatGPT Plus a todos os seus cidadãos e residentes, tornando-se o primeiro país a disponibilizar essa tecnologia amplamente. A iniciativa faz parte do projeto Stargate UAE, que inclui a construção de um centro de dados de inteligência artificial em Abu Dhabi, com o objetivo de impulsionar a inovação tecnológica e posicionar o país como líder global em IA.

Fonte: aqui

Sobre orientação acadêmica


Acabei de ler um texto da professora Araceli sobre orientação acadêmica, publicada na Revista Contabilidade Vista & Revista, I(v. 36, n. 1, p. 1-9, jan./abr., 2025). É impossível resumir o texto, mas há ideias valiosas. Muitas citações que a professora faz são relevantes e suas reflexões ajudam a quem está começando a tarefa de orientar um estudante. 

A lembrança do livro do Umberto Eco é fantástica.

Rir é o melhor remédio

Fonte: aqui