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10 maio 2025

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Ijiri

 


Yuji Ijiri (1935–2017) Talvez a maneira mais simples de identificar o alcance e a importância das contribuições de Yuji Ijiri seja observar que ele foi incluído no Hall da Fama da Contabilidade da Universidade Estadual de Ohio (1989) e é o único cidadão japonês a ter presidido a American Accounting Association, em 1983. Assim, ele recebeu reconhecimento por suas contribuições à contabilidade tanto por sua pesquisa quanto por sua atuação em prol da profissão. Esse reconhecimento é mundial e remonta à sua tese de doutorado de 1963, Management Goals and Accounting for Control, publicada em 1965 pela North Holland Press e, posteriormente, traduzida para o japonês, francês e espanhol.

As ideias de “planilha” contábil utilizadas nesse livro já haviam sido incorporadas em artigos coautorados por Ijiri na literatura de pesquisa operacional e ciência da computação, além da contabilidade. Essa contribuição recebeu o maior dos elogios: essas ideias são hoje tão amplamente utilizadas, em tantas formas diferentes, que suas origens nos escritos de Ijiri praticamente desapareceram da memória. O uso de planilhas e ideias relacionadas a representações matriciais são revisitados em Momentum Accounting and Triple Entry Bookkeeping: Exploring the Dynamic Structure of Accounting Measurements.

Yuji Ijiri nasceu em Kobe, Japão, em 1935, quando o país estava prestes a mergulhar na guerra total. Para escapar dos bombardeios aéreos, foi evacuado, ainda na quarta série, para o campo, onde passou o tempo aprendendo álgebra com um professor de matemática que também havia deixado a cidade. Aos 14 anos, seu pai, um homem pragmático, o colocou no comando da contabilidade da padaria e confeitaria da família. Frequentando aulas noturnas para se aprofundar no assunto, Ijiri rapidamente foi aprovado no exame nacional de qualificação — pré-requisito no Japão para prestar o CPA, a menos que se tenha um diploma universitário. Aos 21 anos — o mais jovem da história até então — ele obteve o certificado logo após se formar pela Universidade Ritsumeikan, em Quioto. Trabalhou inicialmente em um pequeno escritório de contabilidade e depois na Price Waterhouse & Company, em Tóquio.

Dois homens exerceram grande influência sobre o caráter e os pontos de vista de Ijiri: seu pai, Takejiro Ijiri, e seu professor, Taminosuke Nishimura (que mais tarde se tornaria seu sogro). Complementando a atitude pragmática do pai — “o que se pode fazer com isso que seja útil a alguém?” — estava a inclinação filosófica de seu professor, que baseava seu seminário de contabilidade na obra Sartor Resartus, de Thomas Carlyle (O Alfaiate Remendado) e, durante o curso, ensinou a Ijiri o uso da analogia como guia para a beleza e para a união elegante de campos aparentemente separados do conhecimento.

Aos 24 anos, Ijiri havia economizado 1.650 dólares, valor com o qual imigrou para os Estados Unidos. Concluiu rapidamente seu mestrado na Universidade de Minnesota, em 1960, e então ingressou na recém-criada Graduate School of Industrial Administration do Carnegie Tech (atualmente Carnegie Mellon). Lá, Ijiri envolveu-se no entusiasmo de um novo currículo amplo e analítico, que oferecia oportunidades incomuns para participação precoce em pesquisas, junto a professores como Herbert Simon — que viria a ganhar o Prêmio Nobel (em economia e econometria), o prêmio Turing (em inteligência artificial e ciência da computação), o Prêmio Nacional de Ciência dos EUA e o Prêmio da Associação Americana de Psicologia (por contribuições científicas em processos cognitivos) —, além de Richard Cyert e James March, que iniciavam sua clássica pesquisa em A Teoria Comportamental da Firma (1963). Também atuava ali W.W. Cooper, um líder das “abordagens quantitativas”, responsável por ensinar contabilidade, econometria e pesquisa operacional — e que persuadiu Ijiri a escrever sua tese na área de contabilidade.

Quando se aproximava da conclusão do doutorado, Ijiri finalmente recebeu a permissão do professor Nishimura para se casar com sua filha, Tomo, e retornar com ela aos Estados Unidos. Após obter o título de doutor em 1963, passou quatro anos na Universidade de Stanford, onde lecionou regularmente e, paralelamente, assistia a cursos de física, lógica matemática e filosofia.

Àquela altura, Ijiri já estava bem estabelecido como pesquisador, fazendo contribuições que ultrapassavam os limites da contabilidade e alcançavam áreas como economia (e econometria), estatística, pesquisa operacional, teoria das organizações, matemática, lógica e mais. Isso se intensificou a partir de 1967, quando ele retornou à Carnegie Mellon University, inicialmente como professor titular, depois, em 1975, como Professor Robert M. Trueblood de Contabilidade e Economia, e, desde 1987, como professor universitário Robert M. Trueblood — a mais alta honraria concedida pela universidade a um docente.

Aqueles que apreciaram o artigo do professor Henry Rand Hatfield de 1924, Uma Defesa Histórica da Escrituração, irão admirar a resposta de Ijiri publicada pela Carnegie Mellon University com o título The Accountant: Destined to be Free, em 18 de setembro de 1971.

As contribuições de Ijiri à contabilidade ultrapassam 100 artigos e 20 livros, incluindo a coedição da sexta edição do enciclopédico Kohler’s Dictionary for Accountants (Prentice-Hall, 1983). Ele foi homenageado tanto nos Estados Unidos quanto no exterior por sua obra, sendo o único vencedor por quatro vezes do prêmio Notable Contributions to the Accounting Literature, do American Institute of Certified Public Accountants (AICPA). Os prêmios foram concedidos pelos seguintes trabalhos:

1966: “Reliability and Objectivity of Accounting Measurement”, Accounting Review, julho de 1966, em coautoria com R.K. Jaedicke.

1967: The Foundations of Accounting Measurement: A Mathematical, Economic, and Behavioral Inquiry (Prentice-Hall, 1967).

1971: “A Model for Integrating Sampling Objectives in Auditing”, Journal of Accounting Research, primavera de 1971, em coautoria com Robert S. Kaplan.

1976: Theory of Accounting Measurement. Studies in Accounting Research, American Accounting Association, 1975.

Em sua quarta monografia publicada pela American Accounting Association, Momentum Accounting and Triple Entry Bookkeeping: Exploring the Dynamic Structure of Accounting Measurements, Ijiri escreveu: “Para conhecer o passado, é preciso primeiro conhecer o futuro”. Essa citação vem de um livro de xadrez do matemático Raymond Smullyan, mas talvez fosse melhor substituí-la por: “O passado torna-se ainda mais significativo quando se pode usá-lo para influenciar o futuro nas direções desejadas” — como na contabilidade de tripla entrada (momentum) de Ijiri.

Ijiri é um leitor ávido de Smullyan, filósofo e matemático que escreveu sobre ontologia e criatividade como segue:

Um dicionário define ontologia como a ciência do ser; o ramo da metafísica que investiga a natureza do ser e a essência das coisas... Assim, Willard Van Orman Quine \[o filósofo e lógico de Harvard] inicia seu famoso ensaio Sobre o que há com as palavras: “Uma coisa curiosa sobre o problema ontológico é sua simplicidade. Ele pode ser formulado em três monossílabos anglo-saxões: ‘O que há?’ Pode ser respondido, além disso, com uma só palavra — ‘Tudo’.”

Uma filosofia semelhante é expressa no encantador livro de Mandel, Chi Po and the Sorcerer: A Tale for Chinese Children (Chi Po e o Feiticeiro: Um Conto para Crianças Chinesas). Em uma cena, o menino Chi Po está tendo aulas de pintura com o feiticeiro Bu Fu. Em certo momento, Bu Fu diz: “Não, não! Você apenas pintou o que é! Qualquer um pode pintar o que é; o verdadeiro segredo é pintar o que não é!” Chi Po, bastante confuso, responde: “Mas o que existe que não é?”

Certamente, a resposta à pergunta do menino é: — “Aquilo que pode ser criado!” — e Ijiri fornece o exemplo. Como ele criou as ideias da contabilidade de tripla entrada? As conexões básicas entre balanços patrimoniais e demonstrações de resultados já haviam sido observadas por muitos desde que Luca Pacioli publicou seu livro sobre a escrituração de dupla entrada há cerca de 500 anos. Se “isso já existia”, por que ninguém antes dele havia percebido como estender esse princípio para também conectar demonstrações de resultados sucessivas? A resposta está na criatividade de Ijiri — sua capacidade de trazer à existência coisas que antes não estavam lá.

Como resultado, há agora um sistema integrado no qual balanços patrimoniais e suas variações, demonstrações de resultados e suas mudanças podem ser todos interligados por demonstrativos auxiliares, como fluxos de fundos e variações nos fluxos de fundos. Uma gama inteira de novas demonstrações contábeis — com novos usos contábeis associados — passou assim a ser visível — ou criada, se preferirmos —, e sua plena exploração depende apenas do avanço da computação e da experimentação necessárias para sua adoção e implementação bem-sucedida.

Ainda permanece em aberto a questão de por que foram necessários quase 500 anos para ir de Pacioli a Ijiri, apesar da atenção dedicada por tantas mentes brilhantes. A resposta está na profundidade com que Ijiri havia investigado anteriormente os fundamentos da contabilidade, o que o levou, por fim, à demonstração de que toda a contabilidade — inclusive suas extensões multidimensionais — pode ser derivada de três axiomas simples, que ele denomina como os axiomas do controle, das quantidades e das trocas.

Em uma conferência realizada em Siena, na Itália, celebrando os 500 anos da publicação do primeiro tratado de contabilidade por partidas dobradas de Pacioli, Ijiri apresentou um retrato atualizado de sua invenção da contabilidade de tripla entrada. Seu artigo, “The Beauty of Double Entry Bookkeeping and Its Impact on the Nature of Accounting Information” (A Beleza da Contabilidade por Partidas Dobradas e Seu Impacto na Natureza da Informação Contábil), foi publicado na edição de 1993 da revista Economic Notes. Aqueles que preferem uma abordagem didática podem consultar o texto computacional recente de Ijiri: The Evolution of Bookkeeping: From Single to Double to Triple Entry Systems – Interactive Courseware Written in Wing Z for the Macintosh in Color with Piano Accompaniment by T. W. McGuire (*A Evolução da Escrituração: Do Sistema de Entrada Simples ao de Entrada Dupla e Tripla – Curso Interativo Escrito em Wing Z para Macintosh em Cores com Acompanhamento de Piano por T. W. McGuire).

w.w. Cooper - The History of Accounting

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Cronhelm

Cronhelm, Frederic William [1787–1871] - Em Double Entry by Single (1818), o contador britânico Frederic William Cronhelm apresentou a primeira exposição completa da teoria do proprietário e a primeira descrição abrangente, em inglês, de um sistema de contabilidade de custos industriais.

Partindo da obra British-Indian Book-keeping (1800), de James Fulton, Cronhelm enfatizou a equivalência entre o capital total e suas partes constituintes. Ele argumentava que o propósito da contabilidade “é mostrar ao proprietário, em todos os momentos, o valor de seu capital total e de cada uma de suas partes”. Na abordagem algébrica de Cronhelm para a análise de transações, a conta de capital tornava-se um dispositivo matemático de equilíbrio, sendo, por inferência, um item de crédito oposto aos ativos. As transações afetavam a equação contábil por meio do aumento ou diminuição dos ativos, passivos ou do capital. Cronhelm concebia uma série de conversões de ativos ao longo do ciclo operacional da empresa, com a receita sendo incorporada à conta de capital como um aumento líquido na titularidade. As contas de despesas e receitas, incluindo lucro e prejuízo, foram criadas para evitar o inconveniente de registrar cada alteração de patrimônio diretamente na conta de capital. Cronhelm as tratava como ramificações do patrimônio do proprietário.

O francês Anselme Payen (1817) e Cronhelm (1818) publicaram as primeiras descrições abrangentes de sistemas de contabilidade industrial. Usando como exemplo um fabricante de tecido de lã, Cronhelm estruturou livros auxiliares para matérias-primas, produtos em processo e produtos acabados, com os custos de mão de obra subdivididos entre os processos de fiação, tecelagem e acabamento. Embora esses livros mostrassem apenas quantidades, e não valores monetários, os registros auxiliares de Cronhelm foram provavelmente os primeiros exemplos didáticos de inventários permanentes. A conta de matérias-primas era debitada pelas compras e creditada pela lã enviada ao processo. Uma conta de fabricação era debitada pelos quilos de lã em processamento e creditada pelas peças de tecido acabadas. A conta de produtos acabados era debitada pelos materiais finalizados e creditada pelos bens vendidos. Uma folha de controle de inventário extraía quantidades desses três livros de materiais e as convertia em valores monetários, sendo o trabalho em processo avaliado pela média no “estágio intermediário” de conclusão.

O sistema de Cronhelm permitia o cálculo dos estoques finais e do custo das mercadorias vendidas, mas não permitia a análise de custos por processo ou por lotes de produtos. A ausência de valores monetários nos livros auxiliares também implicava uma fraca coordenação entre os registros de manufatura e as contas de compras e vendas. No entanto, Cronhelm demonstrou como transferir custos entre contas contábeis, como acumular custos totais em contas de controle, como isolar os saldos dos inventários finais e como vincular os saldos da manufatura aos totais do livro razão. S. Paul Garner avaliou que Payen e Cronhelm “foram muito superiores a qualquer autor dos 50 anos seguintes”.

Michael Chatfield em The History of Accounting

Sobre ele, há um artigo na Abacus de 1985. 


Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Cambistas de Florença


As pistas que temos sobre a origem do método das partidas dobradas indicam que provavelmente ocorreu nas cidades italianos, nos anos 1200. Segundo Alan Sangster, a cidade de Florença pode ser o berço do método.

Naquele período, Florença era um dos centros comerciais mais relevantes da Europa. No meio de tudo, os cambistas, negociadores de moedas e intermediários financeiros, tiveram um papel fundamental no desenvolvimento das práticas contábeis. 

Esses profissionais operavam bancas nos mercados e nas ruas, realizando trocas de moedas estrangeiras e oferecendo serviços de depósito, empréstimo e compensação de valores. Como lidavam diariamente com múltiplas transações, moedas com diferentes taxas de câmbio e contratos complexos de crédito, os cambistas florentinos precisavam registrar com precisão cada operação para controlar seus negócios e prestar contas aos clientes. Essa necessidade levou à adoção e ao refinamento de métodos de escrituração contábil, especialmente os registros em partidas dobradas.

Se muitos pensam em Pacioli como pai da contabilidade é porque não sabemos especificamente o nome da pessoa que criou o método trezentos anos antes. Os registros históricos que sobreviveram ao tempo mostram que já existia registros de operações com débito e crédito, livros auxiliares, razão e outras práticas ainda usadas na contabilidade moderna. 

Apesar de não saber o nome do criador do método, reconhecemos aqui o papel dos cambistas de Florença. 

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Soranzo e irmãos

O sobrenome Soranzo é conhecido na história das cidades italianas. Nos dias atuais, há o Palazzo Soranzo em Veneza, uma construção admirada e histórica da cidade, construído a partir dos anos 1300. O mais famoso dos Soranzo foi Giovanni, nascido em Burano (1240) e falecido em Veneza (1328), que foi estadista. 


Para contabilidade, o Soranzo diz respeito a um empreendimento comercial, localizado em Veneza, quase cem anos após a morte de Giovanni. 

Donaldo Soranzo e Irmãos - Os registros mercantis venezianos mais antigos que sobreviveram estão contidos em dois livros-caixa de Donaldo Soranzo e Irmãos. O primeiro deles (1410–1417) é fragmentado, mas utilizava um sistema parcial de partidas dobradas. Um sistema de partidas dobradas mais completo foi usado no segundo livro-caixa (1406–1434), que foi compilado para ser utilizado como prova em um processo judicial envolvendo a divisão do patrimônio da família Soranzo.

Ambos os livros enfrentaram, de forma bastante malsucedida, o problema de coordenar as contas do escritório central com as dos empreendimentos no exterior. Os quatro irmãos Soranzo importavam algodão, sendo que um deles, na Síria, atuava como agente comissionado tanto para a sociedade quanto para outros mercadores venezianos. Para completar seu livro-caixa, os Soranzos precisavam combinar os registros venezianos com os mantidos na Síria. Mas o sócio no exterior não enviava relatórios regulares, e os parceiros em Veneza falharam em consolidar prontamente todos os registros. Havia livros demais de lançamentos originais. As contas da família Soranzo eram mantidas em muitos diários mal integrados; não havia uma base unificada para os lançamentos no livro-caixa.

No início do século XV, os diários eram geralmente apenas registros cronológicos de eventos específicos, como despesas, cobranças de aluguel e relatórios de agentes. Ainda não existia a noção de que o propósito do diário era servir como base para o livro-caixa.

Do verbete de Michael Chatfield para The History of Accounting


09 maio 2025

Sabedoria das multidões e a escolha do papa

Apostar em eleições papais pode ser mais antigo do que a própria Capela Sistina. O conclave desta semana traz uma novidade: é a primeira vez que os principais mercados de previsão online voltam sua atenção para o antigo processo de seleção do Vaticano.

E as apostas estão fluindo. O cardeal italiano Pietro Parolin desponta como o favorito absoluto para suceder o Papa Francisco, segundo os mercados de previsão Polymarket e Kalshi. Mesmo um relatório da semana passada indicando que o cardeal de 70 anos teria problemas de saúde — informação negada pelo Vaticano — pouco abalou sua liderança.

Agora sabemos que as apostas nos três candidatos do gráfico - em algum momento com mais de 70% das intenções - estiveram erradas. Há alguns motivos: 

Mas, embora os mercados de previsão tenham reivindicado sucesso ao prever corretamente a vitória do presidente Trump em novembro, escolher o próximo sucessor do trono de São Pedro provavelmente será um desafio bem mais difícil, dizem aos jornalistas Bernhard Warner e Michael de la Merced especialistas tanto dentro quanto fora do Vaticano — os chamados vaticanisti.

A sabedoria das multidões provavelmente tem um limite. Sites de apostas de alta tecnologia “nunca conseguirão ultrapassar a complexidade e a imprevisibilidade das decisões tomadas lá dentro”, afirmou Franca Giansoldati, especialista em Vaticano e colunista do Il Messaggero, um dos maiores jornais diários da Itália.

Rajiv Sethi, economista do Barnard College que estuda mercados de previsão, observou que, no caso da eleição presidencial, os apostadores podiam analisar uma ampla variedade de fontes de informação, como pesquisas públicas e debates televisionados. Já o conclave papal — famoso por ser conduzido a portas fechadas e composto por cerca de 133 cardeais eleitores sob juramento de sigilo — oferece muito menos pistas para os apostadores.

A escolha do novo papa aconteceu após três tentativas, o que indica uma convergência rápida. (O texto acima é do NY Times)

Considere que um pico nos contratos da Polymarket apostando que um novo papa seria escolhido em 2025 ocorreu após o anúncio da morte de Francisco, segundo Sethi. Se houve uso de informação privilegiada, alguém pode ter ganhado muito dinheiro. “Podemos descartar vazamentos de informação por parte dos cardeais”, disse Sethi.


Com ou sem fins lucrativos? Dilema da Open AI


A OpenAI, afinal, não se tornará uma empresa com fins lucrativos. Sob pressão de ex-funcionários e do homem mais rico do mundo, as operações comerciais da empresa serão reorganizadas como uma public benefit corporation (corporação de benefício público), uma estrutura legal que permite que executivos busquem lucros — mas não às custas de sua missão (neste caso, garantir que a OpenAI beneficie a humanidade).

A mudança ocorre após Elon Musk ter processado a OpenAI no ano passado para impedir sua conversão em empresa com fins lucrativos. Sam Altman descartou o processo como uma tentativa de "atrasar um concorrente", mas a pressão aumentou quando um grupo de ex-funcionários solicitou a intervenção dos procuradores-gerais da Califórnia e de Delaware. Quando a SoftBank fez um aporte de 30 bilhões de dólares na empresa este ano, vinculou um terço desse valor à transição bem-sucedida da OpenAI para uma estrutura com fins lucrativos.

Portanto, a mudança da OpenAI é mais um desvio lateral do que uma desistência completa: “'Viva a humanidade', você pode pensar”, escreve Parmy Olson, da Bloomberg, “mas estaria enganado”. A nova estrutura elimina os limites de lucro que os investidores atuais poderiam receber, mantendo vivo e forte o incentivo ao lucro. E a vida como uma B Corp, como são conhecidas, nem sempre é tranquila. Veja o caso da Ben & Jerry’s, que adotou esse modelo em 2012 e, desde então, enfrenta dilemas constantes entre missão e lucro.

Fonte: Semafor Newsletter

08 maio 2025

Falha no Exame de Suficiência

Um Conselho que representa mais de 500 mil profissionais no Brasil decidiu terceirizar a aplicação de seu exame mais relevante. A impressão que se tem é de que nenhum desses profissionais seria capaz de conduzir tal avaliação. Durante anos, a prova foi realizada por uma instituição reconhecida, mas, recentemente, o Conselho optou por transferir a responsabilidade de elaboração das questões, aplicação, correção e divulgação dos resultados para uma entidade sem tradição na área contábil. Era uma escolha arriscada — e o resultado foi desastroso.

Diversos relatos indicam que a prova do Exame de Suficiência foi absurdamente fácil. Ainda assim, houve um número expressivo de reprovações. Onde está o problema?

Para agravar a situação, a instituição responsável atribuiu a uma "falha operacional do sistema" a publicação, no Diário Oficial da União, de uma lista incorreta de aprovados. A justificativa sugere um erro técnico, mas, na prática, alguém deu o comando para que todos os inscritos fossem considerados aprovados — inclusive aqueles que sequer realizaram a prova. Não parece um simples erro de sistema.

Curiosamente, a nota de esclarecimento partiu da própria instituição que cometeu o equívoco. Mas não deveria o Conselho se manifestar oficialmente? Afinal, foi ele o responsável por escolher a entidade que conduziu o exame de forma tão negligente. A nota termina afirmando que a instituição lamenta o ocorrido e reafirma seu compromisso com a transparência, a seriedade e a correção do processo. São palavras vazias.

Como profissional registrado neste Conselho, espero uma posição oficial da entidade que me representa — não um comunicado genérico da executora do exame. Delegar tarefas não implica em abdicar da responsabilidade. E, neste caso, a responsabilidade é, sim, do Conselho.

Avaliação de prestação de contas de projetos financiados pelo CNPq, Finep e Embrapii

Pesquisadores são convidados a contribuir para aprimorar processos de fomento à pesquisa. Enquete do TCU e CGU busca identificar desafios e oportunidades na prestação de contas de projetos de PD&I: prazo vai até 10 de maio.

Via: @sbpcnet

Este questionário tem como objetivo coletar a percepção de pesquisadores acerca do processo de prestação de contas de recursos para financiar atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) , subsidiando auditoria em curso no Tribunal de Contas da União.

A auditoria tem como finalidade analisar o processo de prestação de contas dos instrumentos definidos pelo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, identificando os desafios, dificuldades e oportunidades presentes em sua implementação.

A realização desta enquete só foi possível graças à colaboração da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), cuja diretoria se empenhou diretamente em sua distribuição.

O questionário contém nove perguntas e pode ser respondido em cerca de 10 minutos. 

Ao responder, considere somente as experiências com prestações de contas nos últimos 3 anos para agências de fomento que efetivamente apoiaram seus projetos de PD&I.

Acesse o questionário: aqui.


Agradecemos de antemão sua colaboração!


Tribunal de Contas da União

Norma Climática do ISSB Já Precisa de Revisão


Algo parece estar errado, ainda que por meio de sinais sutis. Assim que o ISSB foi criado, aproveitou textos que estavam sendo discutidos por outras entidades — posteriormente incorporadas ao regulador — para publicar rapidamente suas normas. Há um ditado antigo que diz que a pressa é inimiga da perfeição, mas um grupo de profissionais preparados não deveria permitir problemas em normas, desde que exista, ao menos, um ambiente minimamente adequado para discussões sérias e aprofundadas.

Agora, o ISSB está propondo alterações na IFRS S2 – Divulgação Relacionada ao Clima. Segundo informado, o “objetivo é facilitar a aplicação das exigências relacionadas à divulgação de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)”. A motivação para a mudança seriam “desafios específicos enfrentados na aplicação da norma”. Além disso, busca-se “facilitar e manter a utilidade das informações fornecidas aos investidores para a tomada de decisões”.

Ou seja, a norma precisa de ajustes. É como um carro recém-lançado que já precisa de recall para troca de peças com defeito — peças que, em tese, haviam passado pelo controle de qualidade. O que se pode dizer, então, sobre esse controle? A pergunta é retórica. Mas eis as palavras da entidade:

“Propor essas emendas a uma norma relativamente nova não é uma decisão tomada de forma leviana. Consideramos cuidadosamente a necessidade de tais emendas e procuramos equilibrar as necessidades dos investidores, considerando a relação custo-benefício para os preparadores”, disse a vice-presidente do ISSB, Sue Lloyd.

O fato de se tratar da segunda norma emitida pelo ISSB — e em um contexto em que a pauta ambiental vem enfrentando retrocessos — é uma péssima notícia para a credibilidade do órgão.

Notícia via aqui

Tamanho do setor contábil na Austrália e reflexões sobre o Brasil


 A KPMG da Austrália sobre emprego no país, usando os anos de 2014 e 2024. A tabela acima foi retirada do estudo. A contabilidade não é uma profissão de rápido crescimento (somente 5,3% no período), mas continua sendo uma das mais comuns. Mas o número de profissionais, 442 mil, é impressionante, considerando uma população de 27 milhões de habitantes ou 1,6% da população, e um PIB de 1,7 bilhão - 1 profissional para cada 3,8 milhões de dólares de riqueza gerada. 

A título de comparação, considerando esses parâmetros, o Brasil deveria ter 3,4 milhões de profissionais. Os dados do CFC indicam que temos registrados 18% do total, mas há muitas pessoas que trabalham sem o registro - assim como muitos profissionais que pagam anuidade, mas não exercem a profissão. De qualquer forma, supondo um total de 1 milhão de profissionais, isso corresponde a 0,5% da população. E esse valor de 1 milhão de profissionais seria coerente com o tamanho da economia. (Os dados do PIB e população eu retirei da Wikipedia)

Ciência nos dias atuais


Ioannidis ficou conhecido pela crítica aos métodos científicos, especialmente na área de saúde. Seus artigos deveriam ser lidos com atenção, mesmo discordando de algumas opiniões. Em uma palestra em abril de 2025, o professor de Stanford destacou algumas questões interessantes, como a impacto de conflito de interesses, mídia, influenciadores e outros que distorcem as evidências científicas. 

O interesse financeiro também distorce os resultados, já que muitos estudos são patrocinados e tendem a apresentar resultados inflados em favor dos patrocinadores. Durante a pandemia, muitos especialistas assumiram posições sem uma base sólida em evidências, movidos pela visibilidade ou conexão política. Nesse sentido, Ioannidis destaca o papel do contraditório e a necessidade de não rotular opiniões divergentes como desinformação. 

Há um trecho da palestra que Ioannidis mostra uma preocupação com o uso de modelos de linguagem treinados em dados enviesados, o que pode perpetuar informações incorretas. É o famoso "entra lixo, sai lixo". 

A palestra pode ser encontrada aqui

Rir é o melhor remédio


 Fonte: aqui

07 maio 2025

Preço da saúde gratuita


Um artigo do blog Managerial Econ, intitulado “The price of 'free' healthcare is the wait” (“O preço da saúde 'gratuita' é a espera”), argumenta que, embora o sistema de saúde canadense seja tecnicamente gratuito, o verdadeiro custo é medido pelos tempos de espera. Isto parece ser válido também para o Brasil, correto? 

Mas lá temos os dados concretos. Em 2023, o tempo médio de espera até o tratamento atingiu 27,7 semanas - o mais longo já registrado e quase o triplo das 9,3 semanas relatadas em 1993. Veja que esse número é médio, não máximo. No Brasil eu conheço casos de tempo de espera de anos. 

Para os autores, os tempos de espera funcionam como um mecanismo de racionamento, determinando quem recebe atendimento. A minha surpresa é grande quando há a sugestão de permitir que pacientes vendam suas posições na fila, o que poderia reduzir a ineficiência do sistema. Aqui seria caso de imprensa e polícia. 

Mestrado Profissional em Controle da Administração Pública

O Instituto Serzedello Corrêa (ISC), no âmbito do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa, divulga a abertura de processo seletivo para o curso de Mestrado Profissional em Controle da Administração Pública, pós-graduação stricto sensu, promovido e certificado pelo ISC, nos termos da Portaria MEC nº 2.149, de 26 de dezembro de 2023; da Resolução-TCU nº 212, de 25 de junho de 2008; do Regulamento Geral do Programa de Pós-graduação do ISC, do Regulamento do Programa de Pesquisa do ISC, do Regulamento do Mestrado Profissional em Controle da Administração Pública, disponíveis no Portal do ISC/TCU, e deste edital. 

O curso tem duração de 24 meses e carga mínima de 32 créditos, totalizando 480 horas, assim distribuídas: 24 créditos de disciplinas (360 horas) e 8 créditos de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC (120h). Há ainda a previsão de até 8 créditos (120h) de Atividades Complementares. 

Quem pode participar: Profissionais que atuam na Administração Pública Direta ou Indireta, com diploma de nível superior reconhecido pelo MEC, de qualquer área de formação. 

Objetivo do curso: Desenvolver competências técnicas em servidores públicos, promovendo melhorias na eficiência, eficácia e efetividade da gestão pública, além de ações de fiscalização e controle. 

Início: Setembro de 2025 
Vagas: 20 
Modalidade: Presencial 

Mais informações: aqui.

Dica enviada pelo Allan e pela Izis, a quem agradecemos.

Pesquisa para promover "vacas mais limpas"

Valor do financiamento concedido pelo Bezos Earth Fund para ajudar pesquisadores a identificar e reproduzir gado de baixa emissão de metano. O novo programa vai examinar 100 mil vacas ao redor do mundo para medir a intensidade de metano liberado por seus arrotos e flatulências — dentro de um mesmo rebanho, algumas vacas podem emitir até 30% menos gases do que outras — e estabelecer programas de reprodução para expandir a população de vacas “mais limpas”. Reduzir as emissões de metano provenientes da pecuária é uma das formas mais rápidas de conter o aquecimento global no curto prazo, e embora diversos pesquisadores e empresas estejam desenvolvendo alimentos especiais e outras abordagens tecnológicas, o novo programa de Bezos pretende explorar ao máximo os benefícios do antigo método da seleção genética: iniciativas semelhantes já ganharam força no Reino Unido e na Nova Zelândia.

Fonte: Semafor newsletter

Rir é o melhor remédio

Receita antecipada?
 

06 maio 2025

Experiências de executivos com desastres naturais climáticos moldam suas preferências favoráveis as políticas climáticas

 Eis o resumo

Documentamos que experiências anteriores de diretores corporativos com desastres naturais climáticos anormalmente severos moldam suas preferências pró-sociais e influenciam as políticas climáticas das empresas. Utilizando dados detalhados sobre o histórico de carreira dos diretores e desastres naturais em nível de condado, identificamos Diretores com Experiências Anormais de Desastres (DADEs, na sigla em inglês). Os DADEs têm uma probabilidade significativamente maior de estarem afiliados a organizações sem fins lucrativos, o que é compatível com preferências pró-sociais elevadas. Importante destacar que empresas com maior número de DADEs em seus conselhos apresentam intensidades mais baixas de emissão de gases de efeito estufa dos escopos 1 e 2, além de serem mais propensas a implementar políticas relacionadas ao clima, como supervisão climática pelo conselho, metas de emissão e incentivos gerenciais para redução de emissões. Esses efeitos são impulsionados por DADEs influentes que atuam em comitês de governança, auditoria ou ESG, mas estão ausentes entre aqueles que participam de comitês de finanças, remuneração ou risco — o que sustenta um mecanismo baseado em preferências e não em avaliação de risco. Diretores independentes, e não a influência dos CEOs, desempenham um papel central. Os efeitos são mais fortes quando as experiências com desastres são acumuladas ao longo de históricos mais longos e em empresas grandes ou com altas emissões. Os resultados são menos pronunciados em desastres menores e não são impulsionados por tendências recentes de atenção às mudanças climáticas. Apesar do papel das preferências, empresas com mais DADEs não apresentam desempenho financeiro ou operacional pior. Utilizando mortes de diretores como choques exógenos plausíveis, fornecemos evidência causal. Nossos achados mostram que experiências vividas por diretores aumentam suas preferências pró-sociais, levando-os a influenciar a política climática corporativa.

Fraude e juízes

Estudamos se a exposição pessoal de juízes federais a fraudes financeiras afeta seu comportamento profissional, na forma de decisões em casos de colarinho branco. Seguindo a metodologia descrita em nosso relatório registrado, construímos uma nova medida de exposição à fraude financeira com base na participação direta de juízes em ações de empresas que cometeram fraudes. Utilizando essa medida, exploramos a distribuição aleatória de casos entre juízes para examinar se juízes expostos à fraude em uma empresa estão (1) menos propensos a decidir a favor de réus em casos de colarinho branco envolvendo outras empresas e (2) menos propensos a conceder pedidos favoráveis aos réus durante a fase pré-julgamento. Encontramos poucas evidências que sustentem (1) ou (2), concluindo que, salvo em fraudes muito graves, é improvável que a experiência pessoal de vitimização dos juízes afete seu comportamento profissional na aplicação de sentenças em casos relacionados. Nosso estudo amplia a compreensão sobre os efeitos colaterais da aplicação da lei contra fraudes financeiras e contribui para a literatura sobre como experiências pessoais dos juízes podem influenciar suas decisões judiciais.

Fonte: aqui

Fraude, como acontecem


O blog da perita Tracy Coenen, especializado em auditoria e perícia contábil, publicou hoje um texto bastante relevante sobre a fraude em demonstrações financeiras — considerada uma das formas mais onerosas e danosas de fraude corporativa. Ela chama a atenção para o fato de que esse tipo de fraude impacta diretamente a confiabilidade das informações financeiras, que são fundamentais tanto para usuários internos quanto externos da organização. 

Segundo o texto, os principais responsáveis por essas fraudes costumam ser gerentes de alto escalão ou os próprios proprietários da empresa. Eles utilizam sua posição privilegiada para manipular dados contábeis e ocultar irregularidades, o que dificulta ainda mais a detecção.

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Valor de Buffett


O investidor Warren Buffett e seu conglomerado Berkshire Hathaway enfrentaram um raro revés nesta segunda-feira (5) após o anúncio de que, aos 94 anos, ele deixará o cargo de CEO da empresa no fim deste ano — uma notícia que fez o preço das ações da Berkshire cair e reduziu o patrimônio líquido de Buffett.

As ações Classe A da Berkshire chegaram a cair 6%, passando de US$ 809 mil (R$ 4,57 milhões) para US$ 763 mil (R$ 4,31 milhões) no fim da manhã. Já as ações Classe B, conhecidas como “baby Berk”, também recuaram 6%, de US$ 540 (R$ 3.051) para US$ 510 (R$ 2.881), eliminando R$ 226 bilhões (US$ 40 bilhões) em valor de mercado. Elas fecharam o dia com queda superior a 5%.

Fonte: aqui

Um levantamento interessante sobre cinema

Stephen Follows fez um levantamento em 72 mil filmes sobre a frase I Love You. E alguns dos resultados são interessantes. O primeiro gráfico abaixo indica a resposta a frase ao longo do tempo. Nos filmes mais antigos, o grau de aceitação era menor. 

Nos filmes é mais provável que a frase seja dita no seu final. Parece um bom recurso para agradar o público mais romântico, que deseja ver um final feliz. 
Não é surpresa que o filme classificado como Romance tenha um percentual maior onde a frase é dita. Filmes com cowboys, de guerra, de história ou animação - geralmente de criança - o percentual é menor. 
Mas ao longo do tempo, os filmes apelam mais para a frase: 




05 maio 2025

Replicação na pesquisa brasileira em biomedicina

Em um esforço sem precedentes, uma coalizão de mais de 50 equipes de pesquisa revisou um grande conjunto de estudos biomédicos brasileiros — e conseguiu replicar menos da metade. Essa taxa é compatível com a encontrada em outras tentativas em larga escala de reproduzir resultados científicos. Mas o trabalho mais recente avaliou publicações “com base em métodos, e não na área de pesquisa, importância percebida ou número de citações”, afirma a pesquisadora de metaciência Mariana Boechat de Abreu, uma das coordenadoras do projeto. “Agora temos o material para começar a promover mudanças internas” a fim de melhorar o estado atual das coisas, diz de Abreu.

Fonte: aqui

Um exemplo a ser seguido em outras área. 

Padrões e Regularidade são relevantes para os seres humanos

 Para refletir:


Os cientistas descobriram que poderiam influenciar as escolhas das pessoas sem oferecer melhores recompensas – simplesmente oferecendo-lhes padrões. A pesquisa, publicada em Nature Comunications  por Haran Shani-Narkiss, Baruch Eitam e Oren Amsalem (2025), surgiram de uma competição internacional para influenciar as preferências humanas.

Os pesquisadores criaram um jogo online onde os participantes escolhiam repetidamente entre duas opções, cada uma oferecendo recompensas idênticas. A reviravolta? Uma opção entregava recompensas em um padrão previsível, enquanto a outra parecia aleatória. 

A estratégia vencedora levou os participantes a preferir a opção padronizada sobre a aleatória em uma proporção de 2:1, mesmo que essa preferência tenha se mostrado relativamente desvantajosa. "Isso revela algo fundamental sobre a natureza humana", explica Shani-Narkiss e colegas. "Somos atraídos por padrões e previsibilidade, mesmo quando eles não nos beneficiam materialmente."

Os pesquisadores admitem que ainda não têm certeza absoluta de quais aspectos específicos do padrão o tornaram tão atraente para as pessoas. Foi o ritmo das recompensas? Os intervalos crescentes entre recompensas que as pessoas poderiam prever? A satisfação de descobrir o padrão? Essas questões ainda precisam de mais pesquisas para entender exatamente o que torna nossos cérebros tão atraídos por padrões e estrutura.

Muitos não irão gostar, mas somos essencialmente conservadores (ou prudentes, na linguagem dos reguladores atuais)

Litígios climáticos internacionais


Duas ações judiciais importantes conectando a América do Sul à Europa apontam para o rápido crescimento internacional dos litígios climáticos e ambientais. Um tribunal alemão começou nesta semana a julgar um caso movido por um agricultor peruano [
Luciano Lliuya, foto] contra a gigante energética RWE, alegando que as emissões históricas de gases de efeito estufa da empresa, ao impulsionarem as mudanças climáticas, aceleraram o derretimento de geleiras que, por fim, passaram a representar um risco para sua casa. A RWE nega as acusações. O caso tem ramificações potencialmente enormes, ao vincular empresas individuais às mudanças climáticas em escala global, inclusive em países onde nunca atuaram — como é o caso da RWE no Peru.

E também foram concluídas as audiências em um caso em Londres sobre a responsabilidade da gigante global de mineração BHP em um desastre ocorrido em 2015 no Brasil, que matou 19 pessoas e destruiu vilarejos inteiros. O caso é incomum por estar sendo julgado por um tribunal britânico aplicando a legislação brasileira contra uma empresa listada no Reino Unido, com o escritório de advocacia das vítimas sendo financiado por um fundo de hedge de Connecticut. A BHP declarou estar comprometida com a reparação dos danos do desastre, mas argumenta que o processo em Londres duplica iniciativas que já estão em andamento no Brasil.

Fonte: Semafor, newsletter

Rir é o melhor remédio

 Sim, mas...







04 maio 2025

Retorno anual entre por Buffett

O ganho médio anual da empresa foi de 19,9%, versus 10,4% do mercado. Os números, aqui, não mentem


Fim da era Buffett


No sábado, o guru Buffett anunciou que está saindo da empresa Berkshire. O admirado investidor transformou uma tecelagem em uma empresa gigantesca e admirada. O peso da idade e a morte de um antigo companheiro de investimento pode ter influenciado na decisão. 

Mas eles disseram que ainda não está claro como o conglomerado de US$ 1,16 trilhão, que possui 189 negócios operacionais, US$ 264 bilhões em ações e US$ 348 bilhões em caixa, se sairá após a saída do homem tão ligado a ele. Buffett fez o anúncio ao final da assembleia anual da Berkshire, após horas respondendo a perguntas dos acionistas. Ele disse que o conselho de administração da Berkshire se reunirá no domingo para discutir a transição.

O comportamento das ações da empresa na abertura do mercado na segunda poderá indicar se existe ou não um prêmio no preço por conta da presença daquele que foi chamado de "mago". 

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Monteage

Stephen Monteage (1623-1687) foi um contador e auditor inglês que tentou popularizar a escrituração por partidas dobradas. Em Debtor and Creditor Made Easie (1675), ele afirmava que a maioria dos textos de contabilidade era escrita para “homens de grande capacidade” e, por isso, apresentou um sistema simplificado de partidas dobradas que omitia o diário e se baseava apenas em um livro de entradas (daybook) e no razão (ledger). Incluiu também um glossário de termos técnicos.


Monteage apresentou os argumentos clássicos a favor das partidas dobradas: o método é mais completo, organizado e acessível do que outros; a conta de lucros e perdas facilita a apuração de rendimentos; e, acima de tudo, um sistema de partidas dobradas registra automaticamente as variações no patrimônio. Ele então forneceu exemplos de contas para pessoas de diversas ocupações, incluindo um conjunto simples de contas domésticas para “as mulheres e donzelas de Londres”.

A obra de Monteage teve três edições e foi reimpressa em 1708. Segundo o Dictionary of National Biography, Stephen Monteage “contribuiu significativamente para a popularização do método de escrituração por partidas dobradas”.


Michael Chatfield

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Dafforne

Richard Dafforne, contador e professor de aritmética em Londres, viveu muitos anos em Amsterdã e escreveu um texto de contabilidade com o objetivo de introduzir os métodos contábeis holandeses na Inglaterra. The Merchants' Mirrour (1636) adotou o método de diálogo platônico de Simon Stevin, apresentando “250 questões raras com suas respostas”, mas omitiu práticas holandesas como diários especiais, livros auxiliares e lançamentos compostos. No entanto, a obra de Dafforne foi o primeiro texto em inglês a descrever um sistema completo de partidas dobradas e o primeiro a ter múltiplas edições. Após o trabalho de Dafforne e seus sucessores imediatos, torna-se difícil rastrear influências estrangeiras nos manuais de contabilidade ingleses. Embora muitas vezes atrasados em relação à prática, os tratados posteriores baseavam-se essencialmente na experiência inglesa.


Quase todos os textos de contabilidade escritos antes do século XIX consistiam basicamente em explicações sobre quais lançamentos no diário eram apropriados para determinadas transações. Como havia milhares de possíveis transações, a maioria dos autores recorria a listas de regras a serem memorizadas como base para a análise de transações. Dafforne apresentou 30 “regras de auxílio” destinadas a cobrir todos os tipos de transação. Ele colocou essas regras em forma de verso para fixá-las na memória dos estudantes.

As demonstrações financeiras iniciais eram elaboradas copiando-se as contas tal como apareciam no razão ou organizando os valores do balancete em relatórios em colunas. Dafforne ilustrou uma demonstração com seis colunas, na qual o par de colunas à esquerda mostrava um balancete de totais, o par do meio um balancete de saldos, e as duas colunas à direita um balanço patrimonial contendo os ativos e passivos remanescentes. Autores posteriores adicionaram colunas de lucros e perdas e incluíram os estoques finais para ajustar os valores iniciais, criando o que hoje se chama de worksheet (folha de trabalho). Com o tempo, essas demonstrações em colunas, pouco práticas, desapareceram dos manuais, sendo substituídas por balanços patrimoniais que mostravam apenas os valores finais, sem revelar sua origem.

Michael Chatfield, verbete The History of Accounting

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Zappa


Gino Zappa (1879–1960) foi um dos gigantes da contabilidade e da economia do século XX, tanto pela influência que exerceu no mundo científico quanto na profissão. O tema central da contabilidade empresarial, segundo Zappa, é a determinação do resultado (rendimento/lucro). Esse fenômeno básico constitui o alicerce de todas as explicações sobre o processo contábil e seus elementos, especialmente nas teorias contábeis sobre o balanço patrimonial e a demonstração de resultados.

Zappa reconheceu o aspecto dinâmico da contabilidade ao enfatizar o papel da demonstração de resultados. Assim, o balanço patrimonial torna-se um instrumento para a determinação do resultado. Essa teoria contábil, centrada na determinação do resultado, é uma teoria de quatro séries de contas, que, em conformidade com a prática atual, distingue duas séries de contas patrimoniais (ativos, de um lado; passivos e patrimônio líquido, de outro) e duas séries de contas de desempenho (despesas e receitas). A inclusão dessas diferentes séries de contas permite o reconhecimento de todas as transações e processos em diferentes tipos de entidades: o fluxo contínuo e a formação interna de bens e serviços, seu consumo subsequente e a produção final.

Zappa desenvolveu o aspecto dinâmico da contabilidade e da economia da empresa, predominante até hoje na Itália. As demonstrações de resultados esclarecem a correlação geral entre componentes positivos e negativos de renda atribuídos a um período específico. O balanço patrimonial mostra um sistema de valores (um fundo de valores), referente ao final desse período, para a determinação futura do resultado. Os componentes do resultado são determinados, basicamente, por trocas monetárias. Para expressar de forma compreensiva a magnitude desses componentes, eles devem ser considerados como valores de troca. Assim, o resultado é concebido como um conceito de valor. O resultado é, essencialmente, um fato de valor e, portanto, de distribuição, pois só é determinado nas trocas e para as trocas.

Zappa via o balanço patrimonial como um reflexo do futuro. Para ele, os valores dependem dos resultados futuros. Seu conceito de balanço patrimonial possui, simultaneamente, caráter de orçamento e avaliação — eventos futuros devem ser trazidos a valor presente. É mérito da escola contábil de Zappa ter reconhecido os efeitos das atividades futuras nos dois lados do balanço patrimonial, em uma época em que o balanço era normalmente interpretado apenas como reflexo de eventos passados.

Zappa foi o fundador da economia da empresa (economia d’azienda), uma teoria geral que considera a empresa como um todo complexo: composta por partes específicas, mas interligadas, e que busca investigar essa complexidade total. Ele expressou sua visão assim:

“... se se acredita que aquilo que é organicamente um todo pode ser dividido com segurança; se se acredita que a ainda maior variedade de fenômenos sob investigação exige um alto grau de especialização, então podemos aceitar a autonomia científica das três disciplinas: gestão, organização e sistema de informações. Contudo, não devemos esquecer os muitos laços, tanto evidentes quanto ocultos, que unem essas três disciplinas; uma ordem de conhecimento não pode ser desenvolvida — ou pior, legitimada — isolando-a do conhecimento que constitui seu substrato natural e complemento lógico.”

A seriedade, a originalidade e a concretude de seus pensamentos científicos — enraizados na experiência e em um poder incomum de observação dos fenômenos econômicos — deram origem a muitos discípulos que se destacaram nos estudos de contabilidade e de economia da empresa. Os estudos contábeis na Itália após Zappa tornaram-se praticamente idênticos aos da administração de empresas, e a metodologia passou a se orientar cada vez mais na direção dos eventos econômicos da empresa, uma direção que se espalhou amplamente. O verdadeiro objeto dos estudos contábeis é a economia da empresa — empresas de todos os tipos — expressa em termos de quantidades elaboradas principalmente por métodos contábeis e desenvolvidas na empresa em resposta às suas necessidades de informação e controle.

Giuseppe Galassi para The History of Accounting

03 maio 2025

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Stevin

Stevin, Simon (1548–1620) - Não é possível apresentar uma bibliografia completa das publicações de Simon Stevin, pois ele escreveu sobre uma variedade de temas. Stevin foi profundamente influenciado pelo Pai Fundador da Contabilidade, o renomado matemático e erudito Luca Pacioli. Assim como Pacioli, Stevin se interessava pela aplicação prática das ciências (especialmente da matemática): aritmética, geometria, perspectiva, ciência militar, navegação, arquitetura e música. Aqui, o foco está nas contribuições de Stevin para a contabilidade.

Simon Stevin nasceu em 1548 em Bruges, um importante porto comercial à época, e trabalhou, como Pacioli, para um rico mercador (em Antuérpia). Por isso, Stevin teve que aprender as práticas da escrituração contábil e da aritmética comercial. Essa experiência resultou em seu primeiro livro, publicado em 1582, Tafelen van Interest (Tabelas de Juros), no qual ele estabeleceu as regras de juros simples e compostos e, como auxílio, forneceu tabelas para o cálculo de descontos e anuidades (importantes para as letras de câmbio). Havia, por exemplo, 16 tabelas variando de 1% a 16% e cobrindo períodos de 1 a 30 anos, com três colunas: valor presente, juros compostos e anuidades.

A ideia de usar tabelas não era nova. Pacioli havia publicado algumas em sua Summa de Arithmetica (1494), intituladas "Tariffa". Na Itália, banqueiros já utilizavam essas tabelas há dois séculos, mas frequentemente as mantinham em segredo como ferramentas comerciais.

Assim como Pacioli, Stevin defendia que a língua nativa, e não o latim ou o grego, era a melhor ferramenta de comunicação. Essa posição, contudo, não teve muito sucesso e teve consequências negativas, pois limitou a circulação de seus livros e a reputação do autor.


Stevin foi um dos primeiros autores a compor um tratado sobre contabilidade governamental. Ele o fez na obra Vorstelicke Bouckhouding op de Italiaensche Wyse (Contabilidade Princípua à Maneira Italiana), de 1604 (segundo Flesher). Esse livro incluía quatro partes: Escrituração Comercial; Escrituração de Domínios; Escrituração de Despesas Reais; e Escrituração de Guerra e Outras Finanças Extraordinárias. A obra foi escrita para seu patrono e amigo, o Príncipe Maurício de Nassau. Stevin enfatizava que a aplicação da partida dobrada para municípios e governos era extremamente necessária, pois a supervisão nessas esferas era mais fraca do que nas empresas. Tesoureiros públicos frequentemente enriqueciam enquanto o governo empobrecia, devido à ausência de um sistema de controle robusto baseado na partida dobrada.

É provável que Stevin tenha tido impacto tanto na Suécia quanto nos Países Baixos. O governo sueco reorganizou seu sistema contábil e introduziu a partida dobrada na administração pública em 1623. O. Ten Have (1956), chefe do Departamento de Estatísticas Sociais e Econômicas do Bureau Central de Estatísticas dos Países Baixos, rastreou a influência de Stevin por meio do mercador holandês Abraham Cabeljau, que liderou os esforços suecos nessa reforma contábil.

As obras de Stevin foram reunidas em um volumoso conjunto de dois volumes intitulado Wisconstighe Ghedachtenissen (vol. 1 em 1608 e vol. 2 em 1605), que era uma coleção dos manuscritos das lições que Stevin ministrava ao Príncipe Maurício. O texto contábil de Stevin foi incluído nesse conjunto. É importante observar, do ponto de vista da educação contábil, que Stevin usava a forma de diálogo entre ele e o Príncipe Maurício para estabelecer uma fundamentação sistemática das práticas contábeis.

A base da escrituração, segundo Stevin, é o começo e o fim dos “direitos de propriedade”. Essa ideia é um tema atual, e há uma vasta literatura sobre “direitos de propriedade”, com ênfase nos direitos estabelecidos por contratos. Stevin foi um dos primeiros historiadores da contabilidade, tendo realizado investigações sobre a antiguidade da escrituração. A contabilidade por partidas dobradas, afirmou ele, tem muitas raízes no período romano (ou até mesmo grego). A importância da história da contabilidade para o desenvolvimento de uma teoria contábil sólida e realista, bem como para uma compreensão mais profunda do legado contábil por parte dos profissionais, foi recentemente reconhecida. A profissão contábil evoluiu ao longo de muitos séculos.

Stevin também reconheceu que a escrituração é, antes de tudo, uma forma de organizar informações financeiras, e sua compilação do balanço patrimonial (staet proef) é realizada para determinar matematicamente o lucro do ano. Stevin é considerado o inventor da demonstração de resultados. “Stevin desenvolveu a demonstração de resultados como uma prova da exatidão da variação no patrimônio líquido apresentada no balanço patrimonial” (Flesher).

Há também uma grande diferença entre Pacioli e Stevin. Enquanto Pacioli, por exemplo, iniciava o inventário com: “Em nome de Deus, 8 de novembro de 1493, Veneza”, Stevin omitia todas as referências religiosas no topo das páginas ou no início dos livros. Esse é, de fato, um ponto fundamental. Talvez essa seja uma das razões pelas quais, quando em 1645 foi proposta a construção de uma estátua para esse ilustre cidadão em sua cidade natal, Bruges, houve forte oposição por parte do clero local ao projeto (Flesher).

Frans Volmer - The History of Accounting

Grandes nomes da história da contabilidade: Manzoni

Manzoni, Domenico (Oderzo, séculoXVI) - O primeiro trabalho importante sobre a escrituração por partidas dobradas após Luca Pacioli foi Quaderno doppio col suo giornale secundo il costume di Venetia (1540), de Domenico Manzoni, um professor veneziano de aritmética e contabilidade. Manzoni é considerado um popularizador e ilustrador dos métodos contábeis descritos por Pacioli. Muitos de seus capítulos foram transcritos da obra Particularis de Computis et Scripturis (1494), de Pacioli. No entanto, enquanto o texto de Pacioli incluía apenas alguns lançamentos como exemplo, o de Manzoni continha 300 lançamentos no diário, numerados sequencialmente e associados a um índice no qual vários tipos de transações eram listados, agrupados em categorias e referenciados às contas do razão. A margem direita do diário de Manzoni incluía um título descritivo lateral para cada lançamento. Esse diário indexado e anotado oferecia aos contadores uma referência pronta para a análise de transações, caso algum evento empresarial se enquadrasse em um dos 300 exemplos de Manzoni.

Manzoni foi o primeiro a tentar formular regras gerais para a análise de transações, escrevendo que os quatro elementos mais importantes em uma transação são: quem dá, o que é dado, quem recebe e o que é recebido.


Outras inovações de Manzoni incluíram a subordinação do livro-caixa diário ao diário e ao razão, a descrição de livros de entrada especializados, a classificação de contas do razão, a introdução de referências de lançamentos do razão no diário e o lançamento de transferências de contas nominais para a conta de lucros e perdas. Diferente de Pacioli, Manzoni atribuiu valores monetários a todos os itens de inventário.

Manzoni determinou que o razão deveria ser fechado anualmente ou em intervalos regulares. Ele totalizava os débitos e créditos do razão e testava sua igualdade como prova da exatidão da escrituração. Ao encerrar o razão, Manzoni transferia os saldos de ativos, passivos e capital diretamente do livro antigo para o novo, sem preparar uma conta de balanço ou um balancete.

O livro de Manzoni teve sete edições. Ele influenciou diretamente textos posteriores do holandês Jan Ympyn (1543), do alemão Wolfgang Schweicker (1549) e do inglês John Carpenter (1632).

Michael Chatfield

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Kraayenhof

Jacob Kraayenhof (1899–1982) - Um auditor holandês com marcada influência sobre os relatórios financeiros modernos nos Países Baixos, Jacob Kraayenhof desempenhou um importante papel de ligação entre a profissão de auditoria, as administrações das empresas e o Legislativo holandês. Nessa posição, ele conseguiu transmitir as visões sobre contabilidade financeira mantidas pela profissão de auditoria àqueles que moldavam a prática contábil contemporânea e a regulação contábil holandesa. Ao transmitir essas visões, Kraayenhof deixou sua marca distinta nos conceitos que propagava.

A base de sua influência foi sua atuação prática como auditor. Diferente de alguns outros auditores holandeses proeminentes, Kraayenhof nunca ocupou cargo de pesquisa ou docência em universidades. Como resultado, seus escritos publicados são poucos e esparsos, não refletindo a importância que teve para a profissão. No entanto, uma compreensão adequada da história recente da contabilidade financeira holandesa é impossível sem o devido reconhecimento de seu papel.

Kraayenhof tornou-se sócio da firma de auditoria P. Klynveld em 1930. Após a aposentadoria do sócio fundador em 1939, Kraayenhof liderou o crescimento da Klynveld, Kraayenhof and Company (atualmente afiliada à KPMG), levando-a a uma posição dominante entre as firmas de auditoria holandesas. Entre os clientes da firma estavam grandes empresas multinacionais como a N.V. Philips Industries e a Royal Dutch Petroleum/Shell. Esse histórico profissional foi reconhecido tanto dentro da profissão contábil (com sua presidência no maior órgão contábil holandês, o Nederlandsch Instituut van Accountants – NIvA –, de 1944 a 1947) quanto pelo setor empresarial e pelo governo, que o viam como um conselheiro valioso em assuntos contábeis. Sua reputação internacional se baseava principalmente em seu trabalho profissional, mas também em algumas publicações em inglês e na presidência do Sétimo Congresso Internacional de Contadores, em 1957.

Durante a maior parte da vida ativa de Kraayenhof, a profissão organizada de auditoria nos Países Baixos, devido à sua rígida adesão ao princípio da imparcialidade, adotava uma postura muito reservada ao expressar suas opiniões sobre relatórios financeiros. Cabia aos auditores individuais, ao se depararem com demonstrações financeiras deficientes, persuadir seus clientes a adotar práticas mais adequadas.

Nesse contexto, coube às organizações de empregadores holandeses tomar a iniciativa no campo da contabilidade financeira. O fato de terem assumido essa iniciativa se baseou em uma consciência, desenvolvida desde a Segunda Guerra Mundial, da utilidade de relatórios financeiros informativos como ferramenta para criar boa vontade entre os investidores e para enfrentar a crescente pressão por maior responsabilidade social e controle, que surgiu durante a década de 1950. Em 1955 e 1962, as associações patronais holandesas publicaram dois folhetos influentes nos quais expunham suas visões sobre contabilidade financeira. Kraayenhof desempenhou um papel importante como redator em ambas as ocasiões. O fato de que posições surpreendentemente progressistas foram adotadas nesses relatórios — especialmente em relação à prática ainda disseminada de contabilidade por reservas ocultas — reflete, em grande parte, sua influência.

Kraayenhof pôde apresentar suas opiniões de forma ainda mais autoritária quando se envolveu em uma importante revisão da legislação societária holandesa na década de 1960. Como o processo de revisão se concentrou em questões sensíveis de controle corporativo e participação dos trabalhadores na gestão, os políticos envolvidos ficaram satisfeitos em deixar a questão, relativamente pouco controversa, dos relatórios financeiros, amplamente nas mãos de Kraayenhof. 

A lei resultante, aprovada em 1970, continha o núcleo da legislação holandesa sobre contabilidade financeira. As mudanças posteriores, feitas para refletir as diretrizes da Comunidade Europeia sobre direito societário, não alteraram de maneira significativa as principais cláusulas da lei original. Nessa legislação, Kraayenhof conseguiu orientar os relatórios financeiros holandeses firmemente com base no princípio anglo-americano de "substância sobre a forma", afastando-os da tradição continental de regras estritas e formais de divulgação e de apuração de resultado conforme os princípios fiscais. O pressuposto de Kraayenhof era de que a regulação deveria incentivar o progresso, e não impor uma uniformidade rígida e sufocante.

Além de conter uma cláusula geral com efeitos comparáveis à exigência britânica de "visão verdadeira e justa" (true and fair view), a lei, por sugestão de Kraayenhof, também determinava que a avaliação patrimonial e a apuração de resultado deveriam seguir "normas consideradas aceitáveis no clima social e econômico". Essa formulação foi originalmente concebida para combater, mais uma vez, a contabilidade por reservas ocultas, evitando, no entanto, a necessidade de regras detalhadas sobre avaliação que uma regulamentação completa do tema exigiria. No caso das reservas ocultas, estava claro, a partir da opinião profissional publicada, que essa prática já não podia mais ser considerada aceitável. Mas a natureza ampla da cláusula tornava a lei essencialmente aberta, e as exigências sobre muitos temas contábeis poderiam, em tese, ser alteradas para refletir mudanças na opinião especializada. Em anos posteriores, por exemplo, foi argumentado que a contabilidade com base em custos históricos já não era mais aceitável sem, ao menos, informações suplementares baseadas no custo corrente. No entanto, tais debates sobre "aceitabilidade" tendem a permanecer inconclusivos sem um mecanismo de arbitragem. Nos Países Baixos, essa arbitragem é, em última instância, fornecida por um tribunal de justiça. Para orientar o tribunal quanto às opiniões prevalentes no "clima econômico e social", Kraayenhof sugeriu — e viu implementada — a criação de uma comissão tripartite com representantes de auditores, empregadores e empregados, com a missão de especificar o que seria prática "aceitável". Essa instituição, única nos Países Baixos, vem emitindo pronunciamentos de caráter consultivo sobre contabilidade financeira desde 1971.

Kees Camfferman

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Cotrugli


Cotrugli, Benedetto (1416 - 1469)

A obra de Luca Pacioli foi o primeiro tratado impresso sobre a escrituração contábil em partidas dobradas. Em 1458, 36 anos antes do aparecimento da Summa de Arithmetica de Pacioli, Benedetto Cotrugli escreveu Della Mercatura et del Mercante Perfetto (Do Comércio e do Comerciante Perfeito), mas esta só foi publicada em 1573. Esse trabalho sobre métodos comerciais continha um breve capítulo descrevendo a escrituração em partidas dobradas. Assim como Pacioli, Cotrugli escreveu em italiano e utilizou os mesmos três livros contábeis. Embora seu sistema não incluísse uma conta de apuração de resultados, com os lançamentos de encerramento indo diretamente para o capital, ele recomendava a elaboração de um balancete de verificação. Pacioli havia lido esse manuscrito e chegou a atribuir a invenção da contabilidade por partidas dobradas a Cotrugli. No entanto, é duvidoso que Cotrugli tenha inventado qualquer parte do sistema que descreveu. Ele escreveu numa época em que as práticas comerciais eram mais sofisticadas do que os livros didáticos, e Cotrugli, Pacioli e seus sucessores imediatos apenas procuraram expor os mecanismos contábeis já desenvolvidos pelos mercadores.

— Michael Chatfield

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Alberti

Trata-se de uma família nobre de Florença, a família Alberti, com ascendência remontando ao século IX. Alberto, um de seus membros, provavelmente nasceu no final dos anos 1200 e faleceu em 1324. Casado com Ciaberonta, foi pai de vários filhos, entre eles Iacopo Alberti (nascido em Florença, possivelmente em 1327, e falecido em 7 de agosto de 1377). Alberto foi uma figura influente na cidade, tendo ocupado altos cargos na administração florentina e participado ativamente da política local.

Entre 1333 e 1346, ocorreu uma grave crise no mercado, que levou à falência de mais de 350 empresas. No entanto, a Casa Alberti não apenas sobreviveu como também ampliou seu prestígio e riqueza, tornando-se banqueira do Papa na corte de Avignon. Esse período marcou a fase de maior expansão da família Alberti.

A gestão dos negócios passou então para Niccolò di Jacopo degli Alberti, que se destacou como uma figura proeminente na vida florentina. Atuou como mecenas e diplomata — mediador da paz com Pisa e embaixador em Avignon, onde tentou convencer o Papa a retornar a Roma. Por suas numerosas boas ações, ganhou o apelido de "Pai dos Pobres".

Sobre a questão contábil, eis o que diz o verbete sobre Alberti em The History of Accounting:

Alberti del Giudice - Entre 1300 e 1345, as casas mercantis e bancárias mais poderosas de Florença eram os Bardi, os Peruzzi e os Acciaiuoli. Na década de 1340, todas as três faliram devido à excessiva concessão de crédito e à inadimplência de monarcas. A casa bancária Alberti del Giudice foi então escolhida para arrecadar as receitas papais e tornou-se importante até se dividir em várias firmas rivais por conta de disputas familiares. Assim como os registros dos Peruzzi, os documentos remanescentes dos Alberti contêm elementos da escrituração por partidas dobradas, mas não um sistema completo. Nem todas as transações são registradas duas vezes, não há indícios das contas de resumo de despesas ou receitas que permitiriam verificar a igualdade entre débitos e créditos, e os lucros eram calculados sem o fechamento dos livros. Os registros mais extensos dos Alberti estão no libro segreto, ou "livro secreto", contendo dados sobre o capital dos sócios de 1302 a 1339, juntamente com 12 demonstrações financeiras elaboradas em intervalos irregulares para apuração de resultados. Como em muitas companhias florentinas, passavam-se de um a cinco anos entre esses fechamentos, momento em que os livros eram encerrados, os ativos e passivos eram inventariados, e o contrato de parceria era renovado ou prorrogado


. Nesse ínterim, os sócios não podiam se retirar da firma nem novos sócios podiam ser admitidos.

— Michael Chatfield

Outras fontes: Aqui, aqui, aqui, aqui, aqui