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22 março 2017

Petrobras divulga resultado de 2016

Ontem a Petrobras divulgou os resultados do quarto trimestre de 2016 e do exercício social de 2016. Há boas e más notícias. São centenas de páginas: 705 se considerar o arquivo PDF do formulário de referência ou 243 páginas do relatório de administração mais as demonstrações contábeis.

Os principais pontos destacados pela imprensa e pela área de relações com investidores foram: fluxo de caixa livre positivo pelo sétimo semestre consecutivo, redução da receita em 12%, redução do endividamento que ainda está em níveis elevados, lucro líquido trimestral de 2,5 bilhões de reais e prejuízo líquido no ano de 14,8 bilhões, não pagamento de dividendos pelo terceiro ano consecutivo.

Vamos fazer alguns comentários genéricos sobre pontos mais interessantes deste resultado.

Lucro Operacional – O lucro operacional é aquele proveniente das operações da empresa. No Brasil muitas pessoas possuem o costume de excluir deste lucro as receitas financeiras, que conceitualmente deveria fazer parte do resultado gerado pelos ativos. Quando se considera sob esta ótica temos que o lucro operacional em 2016 foi 28 bilhões maior que no ano anterior. É um bom resultado, principalmente que ocorreu uma redução da receita de 39 bilhões e de 8,6 bilhões no lucro bruto. O grande destaque foi, sem dúvida nenhuma, a redução nas amortizações do impairment, que reduziram de 48 bilhões em 2015 para 20 bilhões em 2016. Dito de outra forma, a melhoria no lucro operacional ocorreu pela redução nesta despesa.

Por sinal, a soma nos três últimos anos, da perda no valor de recuperação de ativos foi de 113 bilhões. Como o total de ativos no final de 2013 era de 658 bilhões, o valor levado a resultado corresponde a 17% do ativo.

A figura a seguir faz um paralelo interessante da empresa:

Nesta figura consideramos o lucro operacional da forma como foi divulgado, somamos a receita financeira – para manter uma coerência teórica – e somamos a perda por impairment. Veja como fica interessante a informação: a exceção do ano de 2014, nos demais o resultado operacional da empresa tem sido bastante regular.

Um pouco desta regularidade também aparece na DFC, especificamente no caixa operacional. Em 2013 a empresa gerou 56,21 bilhões, aumentando para 62,241 e 86,407 nos dois anos seguintes. Em 2016 o caixa gerado nas atividades operacionais foi de 89,709 bilhões, bem acima do total apresentado acima (quase 150 bilhões).

Projeção dos Analistas – Na terça, o Valor Econômico publicou uma projeção de cinco empresas para a receita, o Ebitda e o Lucro do trimestre da empresa. A figura a seguir é uma reprodução destas estimativas, com o acréscimo do valor divulgado no dia de ontem e a previsão que mais se aproximou do valor efetivo.

De uma maneira geral, os analistas foram otismistas com a receita da empresa em quase 3 bilhões de reais, a exceção do Morgan Stanley que previu 69,1 bilhões versus 70,5 bilhões divulgados na DRE da empresa. O lucro médio previsto esteve um pouco acima do valor divulgado, mas como o lucro acumulado era substancialmente negativo isto não afetou o resultado.

Receitas Financeiras – Anteriormente consideramos as receitas financeiras para análise da rentabilidade da empresa. Vamos considerar agora como a empresa tem atuado nas suas aplicações financeiras. Em 2016 as receitas financeiras chegaram a 3,638 bilhões. Será que este número é positivo ou não.

Na tabela acima tomamos os títulos e valores mobiliários e as aplicações financeiras de curto prazo. Estes valores foram obtidos a partir da nota explicativa e corresponde ao balanço encerrado em 31 de dezembro de cada ano. Os valores são expressivos; a título de exemplo, somente em 31 de dezembro de 2016 a empresa tinha aplicado do seu ativo 70 bilhões de reais ou 9,6% do total. É o segundo maior grupo de ativo, atrás apenas do imobilizado. A tabela mostra que este valor aumentou de 44 bilhões para 98 bilhões no final de 2015 e sofreu um redução de 28 bilhões.

As receitas financeiras foram obtidas na Demonstração do Resultado da empresa. Este é um valor um pouco impreciso já que as notas explicativas mais confundem do que esclarecem.

Calculamos a rentabilidade de duas formas. A primeira, dividimos as receitas financeiras sobre o valor existente inicialmente no ativo. Esta forma deixa de considerar as novas aplicações realizadas durante o ano. O segundo cálculo da rentabilidade foi realizado dividindo as receitas pelo valor médio das aplicações. Os resultados foram diferentes, obviamente, favorecendo a empresa na primeira forma nos anos anteriores e na segunda expressão em 2016. Mas é perceptível que a rentabilidade destas aplicações está em queda.

Mas o pior é quando comparamos com inflação. Nos dois últimos anos, o resultado das aplicações financeiras da empresa sempre esteve abaixo da inflação oficial. Observe que a comparação é com a inflação e não com a rentabilidade da Selic (13,65% em 2016, 14,15% em 2015 e 11,15% em 2014 ). Ou seja, um resultado horroroso.

Reescrevendo a história – Obviamente que a empresa atrai a atenção pelos problemas de corrupção dos últimos anos. É interessante que a área responsável pelas demonstrações contábeis usa o espaço para reescrever a história. Por seis vezes a palavra “vítima” aparece nas informações contábeis:

apesar de a Petrobras ser vítima nesse processo e de, em nenhum momento, haver se beneficiado direta ou indiretamente dos ilícitos.

A Petrobras reforça, por fim, que está sendo oficialmente reconhecida pelas autoridades públicas como vítima nesse processo de apuração.

De qualquer forma, entendemos que fomos vítimas do sistema de corrupção desvendado pela Operação Lava Jato e buscamos demonstrar e comprovar essa posição, conforme já foi reconhecido pelo Judiciário brasileiro.

Somos oficialmente reconhecidos como vítima dos crimes apurados na “Operação Lava Jato” pelo Ministério Público Federal e pelo juiz competente para julgar os processos criminais relacionados ao caso.

A nossa posição de vítima foi reconhecida também em decisões do Supremo Tribunal Federal.

A Petrobras não é um dos alvos das investigações da “Operação Lava Jato” e é reconhecida formalmente pelas Autoridades Brasileiras como vítima do esquema de pagamentos indevidos

Isto é conhecido como vitimização. O problema mais grave é tentar reescrever a história. Veja o que diz o relatório da empresa:

O referido esquema envolvia um conjunto de empresas que, entre 2004 e abril de 2012, organizaram-se em cartel para obter contratos com a Petrobras

o referido esquema consistia em um conjunto de empresas que, entre 2004 e abril de 2012, se organizaram em cartel para obter contratos com a Petrobras

foi concluído, com base nos depoimentos, que o período de atuação do esquema de pagamentos indevidos foi de 2004 a abril de 2012.

incluindo também os aditivos aos contratos originalmente assinados entre 2004 e abril de 2012.

Há muitas controvérsias. É interessante notar que Graça Foster assumiu a empresa em fevereiro de 2012. Mas Nelson Cerveró permaneceu como diretor financeiro da BR até 2014. Precisa dizer mais alguma coisa?

Rir é o melhor remédio


21 março 2017

PwC do Brasil

A entidade de fiscalização dos auditores dos Estados Unidos, o PCAOB, anunciou uma punição a um ex-sócio da PwC do Brasil por problemas no trabalho realizado em 2010 e 2011 nas filiais da Sara Lee Co (leia-se Café Pilão e Café do Ponto). Wander Rodrigues Teles, que já não trabalha mais na PwC, foi o responsável pela auditoria na Sara Lee. A filial brasileira estava manipulando seu contas a receber. Já em 2012 a matriz reconhecia isto nos seus relatórios.

Teles não respondeu adequadamente aos problemas, segundo o PCAOB. Por isto foi multado em 10 mil dólares e proibido de ser sócio nos próximos dois anos.

Filme sobre a história do Real



Um filme sobre a história do Real. Parece uma boa história. (Dica de Fernanda, grato)

Curso de Contabilidade Básica: Demonstração do Fluxo ou dos Fluxos?

Quando os pais escolhem o nome do seu filho passarão os próximos meses (ou anos) insistindo que as pessoas usem o nome escolhido. Não é “Paulo”, mas “Paulo Henrique” ou não é “Guto”, mas “Augusto”.

O mesmo ocorre com a denominação contábil estabelecida pelos reguladores. Um dos enganos mais comuns é chamar a DFC de “demonstração do fluxo de caixa”. A norma que regula esta demonstração no Brasil, emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, recebe a numeração de CPC 03 – é isto mesmo, tem um zero à esquerda na numeração – e o nome de “Demonstração dos Fluxos de Caixa”. Observe que o nome estabelecido na norma está no plural. A razão é simples: a demonstração irá mostrar três fluxos, conforme detalhamos no livro Curso de Contabilidade Básica, no segundo capítulo do primeiro volume: das atividades operacionais, das atividades de financiamento e das atividades de investimento.

Por alguma razão, existem pessoas que mudam o nome para “demonstração do fluxo de caixa” (também é possível encontrar “demonstrativo de fluxo de caixa” ou simplesmente “fluxo de caixa”). É um bom hábito acostumar falar corretamente o nome da DFC. E quando uma grande empresa, com receita e ativos na casa dos bilhões, comete este engano? Não é tão raro assim. No dia 14 de março de 2017 a Metalúrgica Gerdau publicou um extrato das suas demonstrações no jornal. Observe na figura:
Obviamente está incorreto. Nas demonstrações completas disponibilizadas no endereço da empresa este erro não aparece, assim como nas demonstrações do grupo Gerdau.

20 março 2017

Gestão de Riscos e a Operação Carne Fraca

A operação da Polícia Federal Carne Fraca teve um profundo impacto nas duas principais empresas do setor de alimentos do Brasil. Na sexta as ações da JBS e BRF caíram 10,59% e 7,25%, nesta ordem. Em que pese as controvérsias da operação (vide aqui, por exemplo), o fato é que as empresas atingidas com a denúncia estão sofrendo uma perda de confiabilidade pela opinião pública.

Olhando as demonstrações contábeis de ambas empresas, na área relacionada com o risco, percebemos como a gestão parece estar restrita as questões de câmbio ou mudanças nos preços dos commodities. Nas duas empresas, os comentários sobre a gestão de risco são longos, mas voltados para estes dois aspectos somente.

Na JBS a nota explicativa 30 comenta sobre instrumentos financeiros e gestão de riscos. Afinal, se a empresa foi econômica em discutir os efeitos dos problemas legais que seus executivos estão enfrentando – recentemente os irmãos Batista, que comandam a empresa, tiveram que fazer um acordo bilionário para saírem da cadeia -, imagina uma discussão sobre um possível risco de mercado. São muitos números para discutir o risco de liquidez, de crédito e de câmbio. Na verdade, na nota 30 a empresa trata do risco de mercado, comentando o seguinte:

Em particular, as exposições a risco de mercado são constantemente monitoradas, especialmente os fatores de risco relacionados a variações cambiais, de taxa de juros e preços de commodities (…)

Na BRF é pior. O termo “risco de mercado” sequer é mencionado de forma isolada. Mas quem poderia prever os fatos relatados sobre a forma como estas empresas estavam operando?

Links

Imagem de satélite permite descobrir fraude no México

Robôs não são contadores

Pesquisa mundial do IFAC com Pequenas e Médias Empresas

Big Four e Rodízio na África do Sul

Onde as pessoas são mais felizes

Curso de Contabilidade Básica Como identificar o que influenciou o resultado de uma empresa

Quando uma empresa apresenta uma melhora ou um desempenho pior no seu resultado, a análise das demonstrações contábeis pode ajudar a identificar a razão deste fato. De uma maneira geral é possível identificar as causas de um resultado melhor ou pior a partir de uma análise comparativa. Vamos mostrar como isto pode ser feito para uma instituição financeira. O balanço e a demonstração de resultado de uma instituição financeira geralmente é um pouco diferente de uma empresa comercial ou industrial e usamos este exemplo para mostrar que a análise na sua essência se mantém.

Apresentamos, na figura a seguir, a demonstração do resultado do exercício (DRE) do Banco do Brasil.
O item (1) mostra que o resultado da entidade caiu de 14,4 bilhões para 8 bilhões ou seja, reduziu 6,4 bilhões. Mas o que provocou a piora deste desempenho? Observe no item (2) que o resultado bruto da intermediação financeira aumentou de 22 bilhões para 31,9 bilhões ou quase 10 bilhões a mais. E que o resultado operacional também aumentou, de 6,3 para 14,1 bilhões ou 7,8 bilhões a mais. Assim, a redução pode ser parcialmente explicada pelo resultado operacional, já que “outras receitas/despesas operacionais” aumentou, de 15,7 para 17,9 bilhões. Mas, mesmo assim, não pode ser uma explicação: afinal o lucro diminuiu e o resultado operacional aumentou.

Assim, a explicação pelo que reduziu o resultado está entre a linha “resultado operacional” e “lucro líquido”. Entre estas duas linhas, temos: resultado não operacional, imposto de renda e contribuição social e participações. A explicação para a redução do lucro deve estar numa destas três linhas, ou em duas delas ou em todas.

Vamos tentar fazer uma análise de cada uma dessas linhas que compõem a estrutura da DRE:

Resultado não operacional = este item era R$5,9 bilhões em 2015 e caiu para R$0,2 bilhão em 2016
Imposto de Renda = era positivo em 5,7 bilhões e ficou negativo em 3,6 bilhões
Participações = o valor somado em 2015 era de R$3,57 e caiu para 2,7 bilhões, o que não explica o desempenho.

Podemos perceber que, embora a DRE já nos tenha trazido informações relevantes sobre a alteração do resultado do Banco do Brasil, ela ainda não traz explicações muito precisas sobre a resposta à pergunta que propomos responder.

Assim, buscamos verificar se há informações adicionais apresentadas nas Notas Explicativas. Lá encontramos explicações adicionais sobre o que ocorreu no “resultado não operacional” e no “imposto de renda”. O resultado não operacional está melhor explicado numa nota explicativa, a de número 22. A seguir a reprodução desta nota explicativa:

O que se destaca na nota? A linha de ganhos de capital, para 2015, tem um valor de quase 6 bilhões. No ano seguinte o valor é de 210 milhões somente. Existe uma nota que explica esta discrepância: ganho da parceria estratégica com a Cielo.

O próximo valor a ser investigado é do imposto. Veja na primeira figura que a nota explicativa correspondente é a 24a. A seguir a reprodução da nota:

Novamente, é necessário que o usuário observe as grandes variações. Neste caso, uma variação de 9,3 bilhões, já que o imposto de renda era positivo (5,7 bilhões) e passou para um valor negativo (3,6 bilhões). Ao observar a nota explicativa pode-se perceber que ocorreu uma grande mudança na linha “diferenças temporais” do ativo fiscal diferido, de quase dez bilhões.

Assim, de maneira resumida, o resultado do Banco do Brasil foi decorrente de uma operação de ganho de capital com a Cielo e de diferenças temporais do ativo fiscal diferido, todas ocorridas em 2015.

Percebam que foi possível fazer toda essa análise e respondermos a pergunta inicial apenas comparando os valores dos dois exercícios sociais. Mas outras respostas podem ser retiradas das demonstrações contábeis, por meio da análise dos índices. Caso queira aprender um pouco mais sobre esse assunto, não deixe de estudar o capítulo 5 do Curso de Contabilidade Básica, volume 1. Lá você entenderá melhor como a DRE é apresentada e o significado de cada um dos componentes que vimos aqui e que compõe a estrutura dessa demonstração. Além disso, apresentamos dois indicadores de análise da DRE. Não deixe de conferir!!

Rir é o melhor remédio


19 março 2017

Links

Sobre a IN 1700 da Receita

Economia da divisão de um avião em "classes"

Sexo no espaço é algo sério e importante

Maneiras de aproveitar um computador antigo

Os executivos mais bem pagos (remuneração e desempenho)

Como melhor desempenho em qualquer coisa com a prática

Sobre livros e leituras para 2017

Eu já participei de vários grupos de leitura e geralmente há os interessantes desafios anuais.

Ano passado ensaiamos fazer um entre as blogueiras de contabilidade (ideia da Claudia Cruz, do Ideias Contábeis, com o nosso apoio e o de Polyana do Histórias Contábeis), mas talvez deveríamos ter criado uma lista própria ao invés de usar uma sugerida por um instagram geral sobre livros, que acabamos não seguindo. :/

Na minha experiência, a melhor lista é a “Leia Mais Difícil”, publicada anualmente pelo site Book Riot.

Parei de segui-la pela variável tempo-dinheiro. Conclui a última lista em 2015 (quando você termina, envia uma cópia para o site e ganha um cupom de descontos para a loja), mas por livros serem muito caros, e por eu ter entrado um outro desafio de ler mais de cem livros, gastei muito mais do que gostaria. Também, depois disso, outros projetos surgiram e não pude adotar a mesma estratégia.

Mas considero ter sido uma experiência prazerosa e por isso, para quem se interessar, segue a lista de 2017 mais ou menos traduzida:

1. Leia um livro sobre esportes
2. Leia uma obra de estreia
3. Leia um livro sobre livros
4. Leia um livro que se passa na América Central ou América do Sul, escrito por um autor da América Central ou América do Sul
5. Leia um livro escrito por um imigrante ou com uma narrativa centrada num imigrante
6. Leia um livro de quadrinhos para todas as idades
7. Leia um livro publicado entre 1900 e 1950
8. Leia uma memória de viagens
9. Leia um livro que você já leu antes
10. Leia um livro que se passa até 160 km de onde você está
11. Leia um livro que se passa a mais de 8.000 km de onde você mora.
12. Leia um livro sobre fantasia científica
13. Leia um livro não-ficção sobre tecnologia
14. Leia um livro sobre uma guerra
15. Leia um livro para jovens adultos ou literatura infanto-juvenil escrito por um autor que se identifique como LGBTQ+
16. Leia um livro que já foi banido ou frequentemente questionado em seu país
17. Leia um clássico por um autor não-branco
18. Leia um quadrinho de super-heróis com uma protagonista mulher
19. Lei um livro no qual um protagonista de cor segue uma jornada espiritual
20. Leia um livro de romance LGBTQ+
21. Leia um livro publicado por uma micro editora
22. Leia uma coleção de histórias escrita por uma mulher
23. Eia uma série de coleção de poesias sobre um tema que não o amor
24. Leia um livro no qual todos os personagens são pessoas não-brancas

O site lista alguns exemplos para cada item e há também sugestões no GoodReads.

Procrastinação

Rir é o melhor remédio

18 março 2017

Fato da Semana: Supremo e o ICMS

Fato: Impostos e a decisão do Supremo sobre ICMS

Data: Durante a semana


Contextualização - Durante a semana tivemos diversas normas e fatos relacionados com os impostos. Inicialmente, a Lei da Gorjeta, que regulamentou os 10% dados em bares e restaurantes. Depois a divulgação parcial da declaração do imposto de renda de Trump. A decisão do Supremo sobre o ICMS e a base de cálculo do PIS/Cofins ocorreu logo após. A vitória parcial de Neymar no Carf também foi notícia. E para finalizar a IN 1700 da Receita, na sexta-feira.

Destas cinco notícias, a de maior repercussão foi a decisão do Supremo sobre a base de cálculo do PIS/Cofins. Os valores envolvidos são enormes e podem ter uma grande repercussão para as empresas.

Relevância - Numa decisão como a do Supremo os números estimados não são confiáveis, mas certamente impressiona. E revela uma prática usual dos governos: tomo uma decisão questionável hoje, aumentando os tributos; as empresas irão questionar na justiça; muitos anos depois, o governo é derrotado, mas o problema é do governante futuro. Durante anos, tomei dinheiro das pessoas (físicas ou jurídicas) e a devolução será lenta.

Isto é um forma de financiamento que gera insegurança jurídica (com muitos reflexos nos investimentos) e aumenta os custos para a sociedade.

Notícia boa para contabilidade? Indiferente.

Desdobramentos - Quem pagou a mais levará tempo para receber.

Mas a semana só teve isto? Além das questões tributárias, na quinta o governo divulgou os números do mercado de trabalho. Se em janeiro ocorreu uma recuperação do mercado na área contábil, como divulgados inclusive como fato da semana, em fevereiro a melhoria do mercado de trabalho na economia não contaminou a contabilidade: mais demissões que admissões.

Rir é o melhor remédio

Sobre o teste de Turing, leia aqui

17 março 2017

Hoje é um novo tempo

A Globo Comunicação e Participações SA divulgou, hoje, no Valor Econômico, jornal de propriedade do grupo, as demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de dezembro de 2016. É possível notar uma redução no caixa, assim como no ativo, nas receitas, no lucro e uma geração negativa de caixa das operações.

Espeto de Pau – sendo dona do melhor e maior jornal econômico do País, o Valor Econômico, seria possível esperar uma grande qualidade na divulgação das informações. Mas o que tivemos acesso é uma página de jornal, com as demonstrações contábeis com os itens 1 e 2 das notas explicativas. Ao final da página, uma informação: “O parecer dos Auditores Ernst Young Auditores Independentes SS, datado de 10/03/17, foi emitido sem ressalvas e encontra-se à disposição dos acionistas junto com as demonstrações financeiras completas, na sede da Companhia.” Somente os acionistas que forem na sede é que terão acesso às informações completas.

Particularmente estava curioso com a posição da diretoria quanto ao cenário do país em 2016, mas o relatório da administração publicado só afirma que “em cumprimentos às disposições legais e estatutárias, apresentamos aos Senhores Acionistas as demonstrações financeiras e notas explicativas relativas aos exercícios sociais encerrados em 31 de dezembro de 2016 e 2015. Rio de Janeiro, 17 de março de 2017. A Diretoria.” (negrito do Relatório). É muito pouco para uma empresa de comunicação. Gostaria de ler também sobre a operação de compra do jornal Valor Econômico. É bem verdade que o grupo é uma empresa de capital fechado, mas é a curiosidade…

Conforme fui lendo as demonstrações, fiquei com a impressão de que o que foi publicado foram todas as demonstrações. Ou seja, a empresa não deixou de lado nenhuma informação adicional. Não é possível determinar o grau de certeza desta afirmação.

Notas Explicativas – a maior parte das notas explicativas reproduzem textos de conhecimento do usuário de uma demonstração contábil. A título de exemplo considere o item 2.3:

Investimento em Coligadas: coligadas são entidades sobre as quais a Globo tem influência significativa. Influência significativa é o poder de participara nas decisões sobre políticas operacionais da investida, não sendo, no entanto, controle ou controle em cojunto sobre essas políticas. Os investimentos em coligadas são contabilizados utilizando o método da equivalência patrimonial

Este trecho pode ser encontrado praticamente igual no CPC ou num material institucional do seu auditor, a EY, por exemplo.

A parte mais interessante diz respeito ao reconhecimento das receitas, na nota explicativa 2.6, e dos direitos de exibição e transmissão, na nota 2.9.

Balanço Patrimonial e DRE – Apesar da elevada liquidez (2,70 no final de 2016), do baixo endividamento (37% do ativo foi financiado pelo passivo ou 15% considerando somente os empréstimos de curto e longo prazo), a dívida líquida onerosa, resultado dos empréstimos menos caixa e equivalentes, aumentou em quase 1,4 bilhão de reais.

As receitas reduziram de 16 bilhões para 15.3 bilhões, o que corresponde a um giro menor que a unidade. Apesar da redução da receita, os custos aumentaram, de 9,2 bilhões para 10,1 bilhões, reduzindo o lucro bruto e o resultado operacional. Mas chama a atenção o volume de despesa financeira: 1,264 bilhão, para uma média de empréstimo de 3,238 bilhões (soma do curto e longo prazo, inicial e final, dividido por dois), o que projetaria um custo da dívida de 39%. Apesar da rentabilidade operacional da empresa ser elevada, este custo é excessivo para uma empresa do porte da Globo. Qual a razão? Não sabemos, pela falta de informação. E é um valor acima do retorno dos acionistas, de 15.3%.

Fluxos de Caixa – Uma empresa sobrevive no longo prazo somente se consegue gerar caixa com suas operações. Se no ano de 2015 a Globo teve um lucro líquido de 4.3 bilhões e uma geração de caixa de 4,3 bilhões, no ano de 2016 não somente o lucro reduziu substancialmente, para 2,6 bilhões, como também a geração de caixa foi ruim: negativo em 64,4 milhões. O principal responsável pelo desempenho foi a menor quantidade de dinheiro recebida, de maneira adiantada, dos clientes.

Para compensar o caixa das operações negativo, a empresa gerou caixa nas atividades de investimento, graças ao resgate de investimentos e a menor aquisição de imobilizado. Isto ajudou em quase 1 bilhão o fluxo de caixa. Como ocorreu um aumento no pagamento de dividendos, de 819 milhões para 2,5 bilhões, a variação no caixa foi de 2,2 bilhões.

IN da Receita

A Receita publicou hoje a IN 1700

Dispõe sobre a determinação e o pagamento do imposto sobre a renda e da contribuição social sobre o lucro líquido das pessoas jurídicas e disciplina o tratamento tributário da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins no que se refere às alterações introduzidas pela Lei nº 12.973, de 13 de maio de 2014.

São 317 artigos, incluindo anexos de inclusão/exclusão do lucro líquido e uma nova tabela de depreciação. 

Rir é o melhor remédio


16 março 2017

Emprego: boa notícia para economia, má notícia para o setor

Saiu hoje os dados de emprego formal do Caged, coletados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O governo comemorou o resultado, já que desde março de 2015 o número de demitidos superava o de admitidos. Ou seja, o mercado de trabalho não estava criando vagas para os trabalhadores. O número acumulado estava chegando perto de três milhões de vagas destruídas. Em fevereiro foram admitidos 1.250 mil empregados e demitidos 1.215 mil, o que dá um saldo positivo de 35,6 mil vagas criadas.

Apesar dos dados, é difícil dizer que existe uma reversão do comportamento ruim do mercado de trabalho. Em 2014 tivemos neste mês o melhor desempenho; mas em 2016, foi um dos piores meses do ano. Um ponto negativo se destaca nos dados divulgados: foi o pior mês para os trabalhadores antigos. Enquanto em janeiro de 2014 o tempo médio de serviço do empregado demitido era de 16, 02 meses, este número aumentou ao longo do tempo atingindo 23,84 meses em fevereiro de 2017. Isto é um indício de que as empresas começaram demitindo os empregados com menos tempo de casa e nos últimos meses estão mandando para rua os mais antigos.

Setor Contábil – Como comentamos anteriormente, em janeiro o saldo da movimentação no setor contábil foi positivo pela primeira vez desde outubro de 2015. Mas em fevereiro, foram demitidos 8702 empregados, um número 1.109 acima dos admitidos. O valor acumulado de destruição de vagas chegou bem perto dos 32 mil. A diferença salarial entre os admitidos e os demitidos chegou a quase 25%, um número bastante elevado. Já o tempo de emprego do empregado demitido reduziu um pouco em relação aos meses anteriores: 35,52 em fevereiro e 35,56 em janeiro. A diferença de idade entre quem entrou e quem saiu também reduziu em fevereiro.

A variação no emprego de fevereiro ocorreu principalmente entre as mulheres (-698), quem tinha ensino médio completo (-587) e contadores e auditores (-571). Mas o número foi negativo em todos os grupos.

Professores – O único grupo no setor contábil que não teve um resultado ruim em fevereiro foram dos professores, já que ocorreram mais contratações do que demissões. Mas como o mercado de trabalho deste grupo é muito sazonal, o blog prefere analisar os números acumulados em doze meses. Isto elimina a sazonalidade e permite uma análise mais adequada. Com isto, nos últimos doze meses mais professores foram demitidos do que contratados, a exemplo do que ocorreu no setor contábil e na economia. O tempo médio de emprego dos professores demitidos tem apresentado crescimento expressivo, atingindo em fevereiro de 2017 47,1 meses (versus 35,52 do setor contábil como um todo).

Enecon

Estão abertas as inscrições para submissão de trabalhos para o 13º ENECON (Encontro Nordestino de Contabilidade). Os trabalhos deverão ser submetidos e enviados até 30/04/2017 por meio eletrônico, por meio do endereço: www.enecon2017.crcrn.org.br. O evento acontecerá entre 2 e 4 de agosto de 2017, no Centro de Convenções de Natal. O evento é organizado pelo CRC/RN.

Saraiva

Os conselhos de administração e fiscal da rede Saraiva vão pedir aos auditores independentes da empresa, da Grant Thornton, que "analisem e confirmem" que as demonstrações financeiras de 2014, 2015 e 2016 estão de acordo com os princípios e práticas de contabilidade e refletem a posição patrimonial da companhia. A decisão foi tomada em reunião depois que o Valor informou, na terça-feira, que a gerência de acompanhamento de empresas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está analisando potenciais irregularidades "muito graves" na empresa. Entre 2014 e o segundo trimestre de 2016, a KPMG foi responsável pela auditoria dos balanços. A decisão da rede de analisar os números consta em comunicado ao mercado publicado ontem.

Fonte: Aqui

Segundo o Valor, de 7 de março,

Numa troca de e-mails, em 10 de abril de 2016, entre Ana Recart, diretora da GWI, e Saraiva Neto, o presidente esclarece uma dúvida sobre o lucro bruto da empresa verificado de janeiro a fevereiro daquele ano. O valor estava R$ 3,5 milhões menor do que o apurado inicialmente. "A razão disso é que escondemos esse valor em uma provisão, fazemos isso pois é uma antiga prática do varejo (...)"



Links

Cai o percentual de auditores aprovados sem ressalvas (assinantes)

Carl Douglas, da CCR, é reconduzido ao IFRS Interpretations Committee

A PwC sofreu uma grande perda de reputação no Oscars porque a cerimônia é altamente visível e o erro é simples de entender

Em Portugal será punido quem não leva o animal de estimação ao veterinário

Neymar e o Fisco

Neymar teve vitória expressiva no recurso do processo fiscal julgado pelo Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) nesta quarta-feira, em Brasília. A defesa estima que a decisão reduzirá entre 50% e 70% dos R$ 188,8 milhões (com as correções monetárias, o valor chega a R$ 200 milhões) entre impostos e multas cobrados ao jogador pela Receita Federal.

O atacante era acusado de irregularidades no pagamento de R$ 63,6 milhões de impostos entre 2011 e 2013. Em vez de quitar os tributos como pessoa física - a alíquota do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) é de 27,5% - Neymar usou as empresas da família e foi beneficiado pela alíquota de 15% a 25% do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ). Como a NR Sports, a NN Consultoria e a NN Administração cumpriram suas obrigações tributárias entre 2011 e 2013, foi aprovado que o atleta terá direito a compensação de crédito nos pontos reclassificados.


O caso ainda não foi encerrado, já que existe a possibilidade de recurso.

ICMS e base de cálculo

Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão nesta quarta-feira (15), decidiu que o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não integra a base de cálculo das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Ao finalizar o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 574706, com repercussão geral reconhecida, os ministros entenderam que o valor arrecadado a título de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte e, dessa forma, não pode integrar a base de cálculo dessas contribuições, que são destinadas ao financiamento da seguridade social.

Mais aqui

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15 março 2017

Imposto de Renda de Trump

Há mais de cinquenta anos, os candidatos à presidência dos Estados Unidos adotaram uma política de liberar seu imposto de renda. Apesar disto não ser obrigado por lei, o bom costume persistiu até a última eleição, quando o ganhador e bilionário Donald Trump recusou a divulgar seu imposto de renda.

A recusa levantou uma série de especulações sobre seus negócios, incluindo o não pagamento de impostos por algum tipo de dedução fiscal, e a existência de relações comerciais com a Rússia, fato que poderia gerar dúvidas sobre o apoio ou não daquele país ao candidato.

A rede de televisão MSNBC divulgou duas páginas da declaração de Trump, que obteve, segundo especulações, de um biógrafo do próprio presidente. Também se especula se o próprio político não teria feito esta liberação. De qualquer forma, os documentos mostram que Trump pagou 38 milhões de dólares de impostos em 2005 o que representa uma alíquota de 24%. Este montante é inferior a alíquota real, de 27.4% e só foi coletado graças a uma legislação denominada AMT. A AMT é uma lei que obriga os bilionários a fazer um pagamento mínimo, de forma a impedir que os ricos usem as brechas da lei para não efetuar pagamentos de impostos. Trump já defendeu sua extinção no passado.

As informações não são bombásticas. Pelo contrário, reduzem as críticas, mostrando que Trump paga impostos, ao contrário das especulações. Mas alguns detalhes, que poderia ser comprometedor, não foram revelados.

A Casa Branca reagiu de forma negativa a reportagem da empresa de televisão.

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14 março 2017

Demonstrações Contábeis publicadas

Ainda é bastante comum a publicação em jornal de grande circulação das demonstrações contábeis das empresas. Geralmente a empresa encaminha as informações para o jornal, que faz a composição gráfica das informações conforme o espaço comprado. Assim, a informação que estava numa folha de papel A4 é transferido para um folha de papel jornal. Neste processo, poderão existir falhas. Como seria o caso indicado aqui no blog da Natura (vide aqui). Apesar do erro ser do jornal que está publicando a informação, provavelmente a empresa deve ter sido chamada para aprovar o que estava sendo impresso.

Hoje o BNDES publicou seu balanço nos jornais, assim como disponibilizou na sua página. Num dos trechos do relatório apresentava a informação sobre “gestão de pessoas”. Eis a informação como consta da sua página

Agora observe como o mesmo trecho apareceu no jornal :


Perceberam a diferença? Foi culpa do estagiário...

Links

Conhecendo Max Martin, o maior hitmaker da música atual

O amor dos alemães ao dinheiro físico

Experimento: os mais ricos não são egoístas; ele simplesmente ganham mais dinheiro

Uma sátira às denuncias nas delegacias (vídeo em inglês)

Eleições podem prolongar o governo dos ditadores

Luxemburgo pode ser o grande ganhador da saída da Inglaterra da União Européia

Julgamento da MF Global e a PwC

Lei da Gorjeta

A Lei 13419, publicada hoje, altera a CLT e trata da gorjeta. A lei diz:

A gorjeta mencionada no § 3o não constitui receita própria dos empregadores, destina-se aos trabalhadores e será distribuída segundo critérios de custeio e de rateio definidos em convenção ou acordo coletivo de trabalho

Para as empresas:

I - para as empresas inscritas em regime de tributação federal diferenciado, lançá-la na respectiva nota de consumo, facultada a retenção de até 20% (vinte por cento) da arrecadação correspondente, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, para custear os encargos sociais, previdenciários e trabalhistas derivados da sua integração à remuneração dos empregados, devendo o valor remanescente ser revertido integralmente em favor do trabalhador;


II - para as empresas não inscritas em regime de tributação federal diferenciado, lançá-la na respectiva nota de consumo, facultada a retenção de até 33% (trinta e três por cento) da arrecadação correspondente, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho, para custear os encargos sociais, previdenciários e trabalhistas derivados da sua integração à remuneração dos empregados, devendo o valor remanescente ser
revertido integralmente em favor do trabalhador;

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13 março 2017

Título de um artigo

Alguns periódicos perguntam para os pareceristas se o título do artigo analisado representa o conteúdo do texto de maneira clara e precisa. Particularmente não gosto desta pergunta, pois entendo que o título pode ser muito representativo sem precisar ser burocrático. No passado, o finado Black escreveu um texto com o título "Noise". O texto foi publicado no Journal of Finance de 1986.

A patrulha sobre o título faz com que tenhamos que ler sobre "A relação entre o endividamento e a liquidez nas empresas de Brasília do setor calçadista: 2010 a 2014" ou algo do gênero.

O que tenho observado é que muitos pesquisadores optam pela criatividade no título. "Economista como encanador" de Esther Duflo ou "Quando Harry demitiu Sally". Thompson, em Hit Makers, discute sobre o bom título para um artigo não científico. E suas considerações podem ser extrapoladas para o título de uma pesquisa. O título "Quando Harry demitiu Sally" funciona bem para aqueles que conhecem cinema dos anos noventa, mas não para quem é mais novo. Que assistiu o filme pode se interessar pelo artigo ao ler o título. Melhor ainda é o "Economista como Encanador", de domínio mais amplo, ao mesmo tempo que instiga pela comparação pouco usual.

Quando escrevi a minha tese de doutorado não coloquei o termo "uma contribuição", já que achava desnecessário; afinal, a tese tem que dar uma contribuição. Mas um dos membros da banca sugeriu mudar o título, que foi acatado. Afinal estava numa posição inferior e não iria discutir o título do meu trabalho. Da mesma forma, se um parecerista sugerir um novo título para um artigo, irei acatar.

Mas certamente entre um artigo com o título de "a relação entre o endividamento e a liquidez nas empresas de Brasília do setor calçadista: 2010 a 2014" e "Quando Harry demitiu Sally" irei ler o seguinte.

Por sinal, o artigo When Harry Fired Sally é muito interessante. Mostra que as mulheres são punidas de forma mais pesada e frequente que os homens por comportamento de "má conduta": existe 20% a mais de chance de uma mulher perder seu emprego.

Links

A visão de 2030 do Iasb na Arábia Saudita

A placa que evita pichação no hospital (ao lado)

A matemática foi inventada ou descoberta?

Problemas do trabalhador muito qualificado

Persuasão e a defesa contra a arte das trevas

Paradoxo da Escolha

The Economist (via Estado de S Paulo), faz uma análise sobre a grande produção cultural decorrente da internet e seus problemas. Atenção para o conclusão:

(... )A questão é que essas tecnologias têm um efeito paradoxal: embora ampliem a gama de escolhas dos usuários, concentram sua atenção nas criações mais populares e nas maiores plataformas. Seja porque o entretenimento é uma atividade social, ou porque as pessoas não sabem o que fazer diante da profusão de opções que têm à disposição, o fato é que acabam recorrendo aos rankings e aos algoritmos de recomendações de plataformas como Netflix, YouTube e Spotify para se orientar e decidir qual será a próxima dose de conteúdo a ser consumida. Por causa disso, são justamente os títulos mais conhecidos que se destacam e acabam atraindo novos usuários.

Em outras palavras, as grandes marcas continuam a prosperar. Dos milhares de filmes lançados mundialmente no ano passado, as cinco maiores bilheterias foram de produções da Disney. Na outra ponta do espectro, a “cauda longa” das criações voltadas para pequenos nichos de consumo revela-se extremamente rarefeita. No ano passado, segundo a empresa de pesquisas de mercado Nielsen, os americanos adquiriram cópias digitais de 8,7 milhões de músicas, quase 5 milhões a mais do que em 2007. Mas o número de faixas cujas vendas superaram as cem cópias manteve-se inalterado: 350 mil. E o número de músicas que tiveram uma única venda aumentou de 1 milhão para 3,5 milhões. Os artistas desconhecidos continuam penando para chegar às paradas de sucesso.

Quem ganha e quem perde com isso? Os consumidores são os maiores beneficiários. (...) Do lado da produção, sairão ganhando as empresas que tiverem fôlego para continuar despejando recursos em produções “premium” – o domínio da Disney nas bilheterias, por exemplo, foi garantido com a compra da Marvel, da Lucasfilm e da Pixar –, ou que tenham plataformas com grande número de usuários, como Facebook e YouTube, ou, ainda, que sejam capazes de se encarregar tanto da distribuição, quanto da criação de conteúdo, como Amazon e Netflix pretendem fazer. Essa é a lógica por trás da oferta de US$ 109 bilhões que a AT&T fez pela Time Warner em outubro do ano passado, unindo a maior operadora de TV paga dos EUA a um de seus maiores estúdios de cinema e televisão.

O princípio remoto. Por outro lado, as perspectivas não parecem animadoras para as operadoras de TV a cabo, que são o modelo de negócio mais lucrativo da história do entretenimento nos EUA. A fórmula de seu sucesso, que consistia em acrescentar cada vez mais canais aos pacotes oferecidos aos consumidores, e, assim, elevar os preços das assinaturas, já não rende frutos. Atraídos por serviços mais baratos e flexíveis, oferecidos pela internet, os americanos começaram a cortar o cabo da TV a uma taxa superior a 1 milhão de domicílios por ano (os eventos esportivos com transmissão ao vivo são um dos últimos pilares que mantêm o sistema em pé).

O declínio da TV paga é um bom exemplo do paradoxo da escolha. É possível que as pessoas nunca tenham tido tantas coisas para assistir e escutar, mas há um limite para a quantidade de conteúdo que elas conseguem consumir. E as escolhas que os consumidores fazem acabarão por concentrar o poder nas mãos de gigantes como Disney, Netflix e Facebook. Em vez de democratizar o entretenimento, a internet deve fortalecer uma oligarquia.


O texto não cita, mas a leitura de A Cauda Longa, de Chris Anderson, é bastante apropriada.

11 março 2017

Fato da Seman: Boas notícias no Emprego

Fato: Boas notícias no emprego

Data: 6 março

Contextualização
O governo federal é informado mensalmente os funcionários admitidos e demitidos pelas empresas. Geralmente na terceira semana do mês subsequente, a informação é divulgada, permitindo o acompanhamento do mercado de trabalho. Usando esta informação, o blog Contabilidade Financeira faz um trabalho de compilação dos dados para o setor contábil, verificando a evolução do número de contratados e o número de demitidos.

Desde que começamos a compilar e divulgar este dados, o número tem sido, de uma forma geral, ruim. Ou seja, geralmente o saldo entre admissões e demissões é negativo. Conforme mostramos na semana, a crise na economia também possui reflexo na contabilidade, atingindo homens e mulheres, jovens e idosos, experientes ou não, com curso superior ou somente ensino médio e assim por diante.

A informação de janeiro somente foi divulgada em março, provavelmente por conta dos feriados de fevereiro. E pela primeira vez, desde outubro de 2015, ocorreram mais contratações que demissões. Em termos acumulados, desde janeiro de 2014 foram demitidos mais de trinta mil funcionários a mais do que foram contratados.

Relevância
Ainda é cedo para dizer que existe uma reversão. Afinal, geralmente janeiro é um mês onde esta relação é positiva. Mas os números coletados permite ter uma esperança de que atingimos o fundo do poço em dezembro de 2016.

A análise que fizemos também não mostra que o problema seja estrutural; ou seja, que a automoção esteja matando as vagas no setor. Pelo menos por enquanto.

Notícia boa para contabilidade?
Sim. Outro fato importante é que na economia como um todo não ocorreu esta recuperação.

Desdobramentos
No mês passado dizemos aqui que o saldo de janeiro continuaria negativo. Erramos. Quanto a movimentação de fevereiro, que deve sair em breve, acreditamos que haverá uma tendência ao padrão dos últimos meses voltar.

Mas a semana só teve isto?
A notícia que a CVM determinou que a Petrobras deve refazer suas demonstrações foi o outro fato importante da semana. É bem verdade que da entidade demorou anos que fazer esta exigência, mas antes tarde do que nunca.

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10 março 2017

Machado de Assis era contador

Além de escrever contos, romances, peças teatrais, poemas e crônicas, o escritor carioca Machado de Assis tinha habilidade com os números. Uma pesquisa de cinco anos descobriu que ele dividia o dom com as palavras entre a profissão de contador, que lhe rendeu o cargo de responsável pelas contas do Ministério de Obras e Viação em 1873, o agora Ministério dos Transportes.

A descoberta partiu de uma curiosidade da professora Isabel Cristina Sartorelli. Isabel é doutora em contabilidade e professora adjunta do curso de graduação em administração da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus Sorocaba (SP). O trabalho foi concluído em 2016, publicado no fim do ano.

Fonte: aqui

[...]

O Machado de Assis da literatura brasileira, todos conhecem. Mas e o contador, o contabilista? Essa outra profissão de Joaquim Maria Machado de Assis foi confirmada por estudos do professor Eliseu Martins, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fearp) da USP, em parceria com sua colega Isabel Cristina Sartorelli, do Centro de Ciências e Tecnologias para a Sustentabilidade da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), em Sorocaba, SP.

Os pesquisadores se debruçaram sobre a vida profissional de Machado de Assis e conseguiram provar sua atuação como funcionário público no Ministério de Viação e Obras a partir de 1889. Nesse ano, Machado tinha apenas 33 anos e, por questões financeiras, decidiu entrar para a vida pública, reconhecendo que seu papel como burocrata seria seu principal meio de sobrevivência. Durante todo o restante de sua vida – ele morreu aos 69 anos -, trabalhou nessa repartição, ocupando várias posições. Chegou até ao cargo de diretor-geral de contabilidade.

O professor Martins conta que o interesse pelo estudo da vida profissional, extraliterária, do escritor veio com a percepção de que alguns de seus contos tinham uma visão mais próxima de questões econômicas e financeiras. “O livro Memorial de Aires, por exemplo, é considerado por biógrafos como autobiográfico. O personagem Aguiar, cuja profissão é de guarda-livros, seria autorretrato de Machado, que também exerceu essa função em 1902 no Ministério de Viação e Obras. Um guarda-livros executa as mesmas tarefas que um contador.”

Outro fato que os estimulou no estudo veio das discordâncias entre os biógrafos quanto à possível carreira de contador. Na busca por comprovações, os professores decidiram analisar os documentos encontrados sobre o cargo público.

Para os professores, uma releitura mais detalhada das biografias do autor pode definir a questão da profissão de Machado, mas a certeza é que “a contribuição para a área de contabilidade é de cunho histórico, pois localizamos o grande Machado de Assis como colega de profissão, o que pode ter impacto grande entre os profissionais da área contábil”, declara Martins.

A pesquisa pode ser encontrada na íntegra neste link.

Fonte: aqui

Efeito Robô

As cinco profissões que serão tomadas pelos robôs: cargos de gerenciamento em nível intermediário; vendedores de commodities; jornalistas, autores e escritores de relatórios; contadores e médicos.

Eis o que diz a reportagem:

Data processing probably created more jobs than it eliminated, but machine learning -- based accountants and bookkeepers will be so much better than their human counterparts, you're going to want to use the machines. Robo-accounting is in its infancy, but it's awesome at dealing with accounts payable and receivable, inventory control, auditing and several other accounting functions that humans used to be needed to do. Big Four auditing is in for a big shake-up, very soon.

As profissões que correm menos riscos: professor de pré-escola e escola primária; atleta profissional; político; juíz e profissional de saúde mental. (dica daqui).

É interessante que estava fazendo uma palestra para os calouros de contábeis e o tema era mercado de trabalho. Falei diversos tópicos e encerrei a palestra com a questão da inteligência artificial. Minha visão era otimista. Continua?

Redução ao valor recuperável

Ao analisar as demonstrações contábeis da Ambev, publicadas no Valor Econômico de 2 de março, deparei com a seguinte informação (item 12 das notas explicativas)

Para América Latina Sul e Canadá não houve necessidade de aplicar o teste de impairment


Pode inferir que não foi feito o teste nas estas unidades, apesar do CPC 01 indicar a necessidade de realização do mesmo anualmente ou que a empresa efetuou o teste e não foi necessário a amortização de valores?

Mandei o texto acima para o RI da Ambev. Recebi a seguinte resposta:

Conforme detalhado na DPF, a metodologia utilizada pela Companhia está de acordo com o IAS 36 / CPC 01 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos, no qual as abordagens de valor justo líquido de despesas de venda e valor em uso são levados em consideração. Isso consiste na aplicação de um fluxo de caixa descontado baseado em modelos de avaliação de aquisição para as principais unidades de negócio e para as unidades de negócio que apresentam elevado capital investido nos múltiplos do lucro antes do resultado financeiro, imposto sobre a renda e despesas com depreciação e amortização (“EBITDA”). A relação entre o capital investido e o EBITDA é utilizada como base na seleção das unidades geradoras de caixa a serem testadas.

Para a América Latina Sul e Canadá não houve necessidade de aplicar o teste de impairment, uma vez que essa relação não atingiu um determinado intervalo.


Num primeiro momento parecia que a empresa não tinha feito o teste de impairment. Mas ao analisar a relação entre Ebitda e capital investido, isto poderia ser considerado uma "proxy" do valor em uso. E consequentemente, foi realizado um teste. Mas o segundo parágrafo é incisivo: "não houve necessidade de aplicar o teste".

O CPC 01 no item 10 tem a seguinte redação:

testar, no mínimo anualmente, a redução ao valor recuperável de um ativo intangível com vida útil indefinida ou de um ativo intangível ainda não disponível para uso, comparando o seu valor contábil com seu valor recuperável.

e logo a seguir:

testar, anualmente, o ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) em combinação de negócios, de acordo com os itens 80 a 99.

No item 11:

Isso posto, este Pronunciamento Técnico requer que a entidade proceda ao teste por desvalorização, no mínimo anualmente, de ativo intangível que ainda não esteja disponível para uso.

Realmente o CPC 01 abre a possibilidade de não proceder o teste nas seguintes situações:

(a) se o ativo intangível não gerar entradas de caixa decorrentes do uso contínuo, que são, em grande parte, independentes daquelas decorrentes de outros ativos ou de grupo de ativos, sendo o ativo, portanto, testado para fins de valor recuperável como parte de unidade geradora de caixa à qual pertence, e os ativos e passivos que compõem essa unidade não tiverem sofrido alteração significativa desde o cálculo mais recente do valor recuperável;
(b) o cálculo mais recente do valor recuperável tiver resultado em valor que excede o valor contábil do ativo com uma margem substancial; e
(c) baseado em análise de eventos que ocorreram e em circunstâncias que mudaram desde o cálculo mais recente do valor recuperável, for remota a probabilidade de que a determinação do valor recuperável corrente seja menor do que o valor contábil do ativo.

Reconhecimento

A Portaria 326, de 9 de março de 2017, publicada no Diário Oficial da União de hoje, "Reconhece programas de pós-graduação stricto sensu recomendados pelo Conselho Técnico-Científico - CTC da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES na 156a Reunião, realizada no período de 8 a 12 de dezembro de 2014".

Os cursos reconhecidos na nossa área são:

Mestrado em Contabilidade da UFRN
Mestrado da Unioeste
Mestrado em Controladoria da UFRPE
Mestrado/Doutorado da UFPB/JP
Mestrado/Doutorado da UnB

09 março 2017

Desemprego: análise comparativa

Este blog tem realizado mensalmente uma análise do mercado de trabalho no setor contábil. Usando dados do mercado formal de emprego, disponibilizado pelo Ministério do Trabalho, fazemos uma compilação dos dados de contadores e auditores, técnicos em contabilidade e escriturários, além de uma análise específica dos professores.

O trabalho tem mostrado uma crise profunda no mercado de trabalho do profissional, com um grande número de vagas sendo reduzida. Outros aspectos também estão presentes neste levantamento. A nossa análise é temporal e coletados dados desde janeiro de 2014. Esta postagem procura comparar o comportamento do setor contábil com a economia como um todo. A comparação será sempre feita com os dados gerais, do qual o setor contábil representa uma parcela menor que 1% do total. Fizemos a comparação de três variáveis mais relevantes: a destruição de vagas no mercado formal com a crise econômica, a diferença salarial entre o admitido e o demitido e o tempo médio de emprego do trabalhador demitido.

Saldo do Emprego – A relação entre o número de funcionários admitidos nas empresas e o número de demitidos apresenta um excelente índice sobre o mercado de trabalho. Quando a relação numérica é positiva isto significa que estão sendo criados novas vagas; sendo negativo, existe um processo de destruição de vagas, seja por conta de uma crise econômica ou por outros motivos, como a automação de postos de trabalho. Numa economia com taxa de crescimento populacional positiva espera-se que o saldo do emprego seja positivo, já que é necessário criar novos postos de trabalho para as pessoas que estão entrando no mercado de trabalho.

O que temos observado no setor contábil é uma grande destruição de vagas. Em outras palavras, o saldo do emprego tem sido negativo, em especial nos últimos meses. De janeiro de 2014 até o último mês este saldo indica um valor negativo acima de 30 mil negativos, sendo este o número de vagas destruídas no setor. Isto contradiz os otimistas que gostam de afirmar que não existe crise de emprego na contabilidade ou que sempre haverá emprego para o profissional.
O gráfico a seguir faz um comparativo entre o setor contábil e a economia como um todo. Para fazer este gráfico tivemos um problema: a diferença entre as unidades. Enquanto no setor contábil estamos falando de milhares de empregos, na economia são milhões. Para possibilitar a comparação, dividimos os valores do geral por cem e os valores ficaram, pelo menos visualmente, bastante aproximados.

O que interessa observar no gráfico é se o comportamento do saldo do emprego no setor contábil tem sido aproximadamente o mesmo da economia. Caso a destruição de vagas no setor contábil seja mais drástica, podemos ter aqui outros aspectos explicando a crise de emprego, como a automação do trabalho, que é um problema estrutural.

A figura mostra que o comportamento do mercado de trabalho do setor contábil tem sido aproximadamente o mesmo da economia como um todo. O saldo do emprego tornou-se, de forma acumulada, negativo a partir de 2015. Inicialmente o comportamento foi aproximadamente o mesmo; posteriormente, o setor contábil teve uma grande piora neste índice e posteriormente ocorreu o inverso. De qualquer forma, a correlação existente entre os dois grupos é de 0,98, um valor muito elevado.

Entretanto, o fato de usarmos os valores acumulados termina por disfarçar as diferenças. Por exemplo, em janeiro a economia teve um saldo negativo de 41 mil vagas, enquanto o setor contábil teve um saldo positivo, pela primeira vez desde outubro de 2015, de 1.017. Quando se calcula a regressão com os dados mensais (e não acumulados desde janeiro de 2014), a correlação cai para 0,45. De qualquer forma, podemos dizer que de uma maneira geral o comportamento do mercado de trabalho do profissional contábil tem seguido o desempenho da economia.

Diferença salarial entre Admitido e Demitido – O salário médio do profissional demitido tem sido mais elevado que o novo empregado. Em situação de crise, com o mercado de trabalho com uma grande oferta de trabalhadores, as empresas se aproveitam para cortar custos. Para calcular isto, dividimos o salário médio do demitido pelo salário médio do novo contratado e subtraímos a unidade. Expressamos os valores em percentuais.

No setor contábil, a diferença percentual média de salário tem sido de 18%, mas já chegou a 28%. Esta diferença também existe na economia como um todo: o salário do demitido é maior que o novo contratado.

Entretanto, a diferença percentual entre os salários tem sido menor: 12%, com um valor máximo de 20% em dezembro de 2016. A correlação desta diferença, ao longo do tempo, foi de 0,39.

Existem várias possíveis razões para explicar o fato da diferença ser maior no setor contábil. Primeiro lugar, talvez os níveis mínimos de remuneração determinados na economia sejam mais relevantes do que aqueles praticados na contabilidade. Uma convenção coletiva de um porteiro determina sua remuneração e o valor praticado no mercado talvez não seja tão distinto do montante da convenção coletiva. Assim, as possibilidades de economia são maiores num escritório de contabilidade do que num condomínio. Segundo lugar, e como iremos perceber mais adiante, o tempo médio do empregado demitido no setor contábil é maior que no geral. Assim, este empregado deve ter incorporado a sua remuneração algumas gratificações, que não serão pagas para o recém contratado. Terceiro, talvez a concorrência no setor contábil seja mais acirrada do que imaginamos. Um pequeno escritório pode aproveitar este momento para demitir o funcionário com maior custo e contratar outro por um valor menor; reduzindo custo, poderá manter o custo dos serviços a um nível mais compatível que as empresas podem pagar. Quarto, pode estar existindo uma substituição de cargos. Talvez esteja existindo uma demissão de profissionais mais caros (contadores, por exemplo) e sendo contratados auxiliares, que irão exercer a mesma função do demitido.




De qualquer forma calculamos o salário médio do demitido no setor contábil e comparamos com esta informação para a economia. Em média, o salário do demitido na contabilidade é de quase 60% maior que da economia como um todo, refletindo o fato de ser um emprego com uma remuneração adequada. Mas esta diferença já foi de 70% no final de 2014 e chegou a 47% em janeiro último.

Tempo Médio de Emprego – O tempo médio de emprego reflete quantos meses o empregado que foi demitido estava no emprego. Profissionais com elevada rotatividade possuem um tempo médio reduzido. A medida que a crise persiste, profissionais mais antigos também são demitidos. Em média o tempo de emprego dos demitidos no setor contábil tem sido de 32 meses, mas existe uma tendência de aumento ao longo do tempo. (O coeficiente angular entre este índice e o tempo é de 0,28, indicando que a cada mês o tempo médio de emprego cresce 0,28)

A correlação entre as variáveis é de 0,51 e o tempo de emprego da economia tem sido menor que no setor contábil: média de quase 20 meses. (além disto, o coeficiente angular é de 0,20, indicando uma taxa de crescimento menor que no setor contábil)

Assim, de uma maneira geral, o tempo médio de emprego do demitido do setor contábil é maior que da economia. Na nossa área, os demitidos são funcionários com maior tempo de casa, que deveriam ter mais estabilidade. E que ao longo do tempo já receberam mais promoções – com impacto no salário.

Conclusão – De uma forma geral, o comportamento do mercado de trabalho do setor contábil está coerente com o que tem ocorrido na economia. As diferenças parecem muito mais resultantes das características do emprego, que conduzem a um salário maior que a média e um tempo de emprego mais elevado.