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03 fevereiro 2019

História da Contabilidade: Contabilidade e Literatura - Parte 2

A seguir dois trechos de Vão Gogo, escrito e publicado no O Cruzeiro, na década de 50:

Isto é Matemática !

Somando, multiplicando, dividindo e subtraindo o essencial das coisas, apresentamos aqui mais um tópico dessa difícil contabilidade que é viver hoje em dia.

Soma

Mãe de família em desespero + monstro de crueldade = Novela de rádio

Vira-lata + Carrocinha = Sabão Português

Circulo + Círculo + Círculo + Círculo = Círculo Vicioso

Subtração

Homem - Cabelo = "A esperança é a última que morre"

Morador de Copacabana - Cadilaque = Complexo

Mulher linda - roupa = nú artístico

Mulher feia - roupa = imoralidade

Multiplicação

Dedos x 50 = Tímido namorando

Imbecilidade x 100 = Tímido namorando

"Daqui a pouco terei coragem de beijá-la" x 100 = Tímido namorando

Divisão

Milk Shake : 2 = Paixão Juvenil

Uísque : 2 = Paixão Adulta

Bálsamo anti-reumático : 2 = paixão senil

(O Cruzeiro, p. 78, 1951, ed 42)

Em um longo artigo, ele comenta sobre as proezas dos comerciais (propagandas). Em um trecho específico, talvez sob a influencia da página que o Instituo Universal Brasileiro publicava na mesma revista, ele afirma:

"Nesse mundo que confesso um tanto frívolo, já que as mulheres correm atrás do homem apenas porque ele passou a usar uma nova água-de-colônia depois de barbear, nem tudo é frivolidade. Pois o Russo e o Francês podem ser apreendidos ´perfeita e rapidamente (em seis meses) e contabilidade é uma coisa que você começa a estudar hoje e sai perito amanhã"

(Pasárgada, O Cruzeiro, ed 30, 1955). 

Vão Gogo não quer dizer que a contabilidade é fácil de aprender, mas que as propagandas fazem parecer que sim.




História da Contabilidade: Contabilidade e Literatura Parte 1

A contabilidade tem uma longa relação com a literatura. Pode parecer estranho que os "números frios" da contabilidade possam revelar algo de útil para um escrito. Mas é verdade.

Já comentamos aqui sobre Bartleby, o Escrevente. É bastante conhecido que Fernando Pessoa foi editor de um periódico de contabilidade.

No Brasil tivemos que Artur Azevedo foi promovido a Diretor-Geral de Contabilidade, duas semanas antes de sua morte (Fonte: O Cruzeiro, 22 de setembro de 1956, p. 44). Mais ainda, o grande Machado de Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos, ocupava, nas palavras de Thiago de Mello, o cargo de Diretor-Geral da Contabilidade, "alto cargo a que chegou, após sucessivas promoções (o texto de Thiago de Mello também foi publicado na revista O Cruzeiro, 4 outubro de 1958, edição 51. A citação é da p. 83)

Na próxima postagem, vamos fazer uma homenagem a esta relação através de Vão Gogo. Na verdade, Vão Gogo era nada mais, nada menos que um dos maiores escritores de todos os tempos, Millor Fernandes.

02 dezembro 2013

Estrela e Contabilista

Numa crônica sobre o escritor alemão Arno Schmidt (imagem), Otto Maria Carpeaux, crítico literário, tem um comentário "interessante" sobre a contabilidade:

Ele [Arno Schmidt] mesmo diz, em uma das frases inesquecíveis que de vez em quando lhe escapam: "Noite. Escuridão. É difícil saber se aquela luz no horizonte remoto é a janela iluminada de um contabilista ou uma estrela que se levanta". Responderíamos que também em escritórios de contabilidade podem levantar-se estrela. A estrela de Arno Schmidt também se levantou num ambiente medíocre e cinzento. (Estado de S Paulo, 17 de outubro de 1959, p. 42, ed. 25910, Leviatã, grifo do blog)

Carpeaux talvez esqueça que o grande Machado de Assis trabalhou com contabilidade (na época não existia, rigorosamente, a profissão de contabilista). 

09 março 2013

Literatura Brasileira Contemporânea


Começando mais uma semana especial, que dessa vez é sobre literatura, aí está o nosso infográfico do mês. Ele foi baseado em pesquisas feitas pela Regina Dalcastagnè (UnB), que dedicou seus últimos 15 anos a estudar os modelos sociais construídos e validados pela literatura brasileira contemporânea.
Os pdfs das pesquisas podem ser vistos aquiaqui e aqui.

Fonte: aqui

11 janeiro 2013

Livros de verão e literatura de verdade


Há poucos meses atrás, na Feira do Livro de Guadalajara, vi uma cena que, de algum modo, diz muito sobre a literatura e a solidão, essas irmãs siamesas.
A Feira estava cheia de gente, mas não necessariamente de leitores. Ao visitar o estande de uma editora, vi um escritor de língua espanhola, sentado diante de uma mesinha, à espera de leitores. Ele tinha um ar desolado e conversava com uma mulher. Quando eu passava perto dos dois, ele perguntou à mulher onde estavam os leitores. Ela sorriu e apontou para uma fila de leitores excitados, que queriam comprar a edição espanhola de Cinquenta Tons de Cinza, o best-seller do momento.
É improvável que os leitores dessas historinhas de sexo e violência - ou sexo com violência - leiam romances de Conrad, de Dostoievski ou de Graciliano Ramos. Quantos se aventuram a ler Coração das Trevas, Crime e Castigo ou Infância? Para a maioria dos leitores, um livro de ficção é puro entretenimento, algo que não convida a pensar nas relações humanas, no jogo social e político, na passagem do tempo e nas contradições e misérias do nosso tempo, muito menos na linguagem, na forma que forja a narrativa. Talvez por isso o poeta espanhol Juan Ramón Jiménez tenha afirmado que a poesia é a arte da imensa minoria. Isso serve para a literatura e para todas as artes. Os poucos, mas felizardos espectadores da peça O Idiota, dirigida por Cibele Forjaz, sabem disso.
Flaubert costumava lamentar a época em que viveu: a crença entusiasmada e cega no progresso e na ciência, as batalhas fratricidas na França, a carnificina das guerras imperialistas, e a idiotice e bestialidade humanas, que ele explorou com ironia em sua obra. Em uma carta de sua vasta correspondência, escreveu que o ser humano não podia devorar o universo. Referia-se ao consumismo crescente na segunda metade do século 19.
O que o "Ermitão de Croisset" diria dos dias de hoje, quando a propaganda insidiosa na tevê não poupa nem as crianças e tudo gira em torno da vida de celebridades, de uma fulana famosa que teve um bebê, de sicrano que se separou de beltrana ou traiu uma fulaninha? Qual o interesse em saber que a princesa da Inglaterra está grávida?
Essas baboseiras são ainda mais graves num país como o Brasil, cuja modernidade manca ou incompleta exclui milhões de jovens de uma formação educacional consistente.
No começo da década de 1990, quando eu passava uma temporada em Saint-Nazaire, um jovem operário entrou no meu apartamento para consertar o vazamento de uma tubulação. Quando passou pela sala, viu um romance em cima da mesa e exclamou:
Ah, Stendhal. Li vários livros dele, e o que mais aprecio é esse mesmo: A Cartuxa de Parma.
E onde você os leu? Quando?
Aqui mesmo, ele disse. Na escola secundária.
Era uma das escolas públicas daquela pequena cidade no oeste da França.
Nicolas Sarkozy e outros presidentes conservadores tentaram prejudicar o ensino de literatura e ciências humanas na escola pública francesa, mas nenhum deles teve pleno êxito. Aprender a ler e a pensar criticamente é um dos preceitos de uma sociedade democrática, e esse mandamento republicano ainda vigora na França. O que os prefeitos e secretários de Educação dos quase 5.700 municípios brasileiros dizem a esse respeito?
A precariedade da educação pública é um dos problemas estruturais da América Latina. Até mesmo a Argentina, que já foi uma exceção honrosa, começa a padecer desse mal.
Comecei essa crônica evocando a solidão de um escritor em Guadalajara. Melhor assim: a solidão está na origem do romance moderno, é um de seus pilares constitutivos e faz parte do trabalho da imaginação do escritor e do leitor.
O tempo se encarrega de apagar todos os cinquenta tons de cinza, e ainda arrasta para o esquecimento os crepúsculos, cabanas e toda essa xaropada que finge ser literatura. Enquanto isso, Coração das Trevas, publicada há mais de um século, é uma das novelas mais lidas por leitores de língua inglesa.

24 outubro 2012

Moby Dick

Acima, o contrato original para publicação do livro Moby Dick. Herman Meville, o autor, receberia 50% dos lucros. Ou seja, depois da editora deduzir as despesas das receitas geradas. A possibilidade de manipulação destas despesas fez com que os contratos atuais para publicação de livros sejam feitos sobre as receitas.

Graciliano Ramos

[...]A versatilidade e o engajamento politico de Graciliano fizeram do autor alagoano "um dos escritores mais singulares da literatura brasileira", nas palavras de Moraes. O biografo cita as glorias e os tormentos que seu personagem conheceu. Foi um romancista aclamado pela critica, mas tambem, por outro lado, preso politico de um regime repressivo e, no ultimo decenio de vida, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) durante a Guerra Fria, "sempre obrigado a ter varios empregos para sobreviver". Um desses empregos foi no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo Vargas, justamente o regime que Graciliano criticou e o encarcerou.

Moraes ressalta, tambem, a figura do autor de "Vidas Secas" e "Angustia" como pessoa publica. Ele foi prefeito da cidade de Palmeira dos Indios, onde residiu de 1910 a 1930 (com um breve intervalo no Rio em 1914-1915). Ao renunciar a prefeitura, mudou-se para Maceio,
onde se tornou diretor da Imprensa Oficial de Alagoas, depois diretor da Instrucao Publica do Estado. Ja no Rio, em 1939, foi nomeado inspetor federal de ensino secundario da entao capital do pais. As experiencias justificam que seu biografo se refira a Graciliano Ramos como "um dos mais eloquentes exemplos da corda-bamba em que caminha um intelectual critico no Brasil". E acrescenta: ainda hoje. O retrato de Graciliano e o de um criador "dividido entre o binomio criacao-reflexao e a necessidade de buscar alternativas para se sustentar
financeiramente".


A breve experiencia de Graciliano a frente do Poder Executivo de um municipio brasileiro, como prefeito de Palmeira dos Indios, deixou como legado dois relatorios de prestacao de contas que, hoje, sao lembrados sobretudo por seu valor literario e o tom corrosivo, caracteristico de Graciliano. Sobre o antigo contrato de eletricidade do municipio, escreve o prefeito: "A prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar de ser o negocio referente a claridade, julgo que assinaram aquilo as escuras. E um bluff. Pagamos ate a luz que a lua nos da".


Moraes caracteriza Graciliano como "um prefeito revolucionario", que pos fim a corrupcao na gestao municipal, controlou as financas, fez obras em bairros pobres, abriu estradas e recuperou escolas. Quando teve de multar o proprio pai, Sebastiao Ramos, porque sua loja descumpriu normas municipais, Graciliano afirmou: "Prefeito nao tem pai, a lei vale para todos". Segundo Moraes, foi a repercussao dos relatorios de Graciliano, primeiro em Maceio e, em seguida, no Rio, que lhe rendeu convites para publicar na entao capital federal os romances "Caetes" (1933) e "Sao Bernardo" (1934).


[...]A par do olhar agucado sobre a realidade da vida humana, Graciliano foi um escritor que privilegiou a concisao e a clareza; conta-se dele que se revoltou quando um redator da revista que editava utilizou o termo "outrossim". Nas palavras do proprio escritor: "Odeio gorduras desnecessarias e derramamentos insuportaveis". Moraes conta que Heloisa Ramos, mulher de Graciliano, comentou a forma obsessiva como cortava o texto de "Vidas Secas", considerada sua obra-prima: "Voce esta cortando tanto que esse livro vai acabar saindo em branco!"

Fonte: Lembranças de Graciliano Ramos - Diego Vianna Valor Econômico - 19/10/2012

12 janeiro 2012

Finanças das finanças, tudo são finanças

"Finanças das finanças, tudo são finanças", diz Machado de Assis (1839-1908), em uma crônica de 1892. A frase tem aquela qualidade esquiva típica do autor. Parece exaltar a importância dos temas financeiros, mas também carrega uma insinuação de censura moral. "Vaidade das vaidades, tudo são vaidades", diz o Eclesiastes – a paráfrase bíblica de Machado trocou o pecado capital pelos pecados do capital. Essa ironia no trato de bolhas financeiras e desvalorizações monetárias dá o tom de A Economia em Machado de Assis (Jorge Zahar; 272 páginas; 44 reais), coletânea organizada pelo economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. O admirador de Machado terá o prazer de observar a história econômica da virada do Império para a República através do pincenê do autor de Dom Casmurro.

Franco selecionou 39 crônicas (duas delas em forma de versos), que vão de 1883 a 1900. Foi um período economicamente conturbado. Imperava o caos monetário, com vários bancos autorizados a emitir cédulas ou títulos da dívida pública. Entre o fim do Império e o início da República, houve uma explosão de euforia especulativa na Bolsa do Rio de Janeiro, o chamado Encilhamento. Não passou de uma ilusória "bolha", que estourou em 1891, quando Rui Barbosa era ministro da Fazenda(...)

O subtítulo da coletânea é muito apropriado: "O olhar oblíquo do acionista". Machado demonstra um curioso interesse pelas assembléias de acionistas – e critica o desinteresse destes em participar da administração de seus fundos. Várias crônicas repetem a máxima de que o acionista "se importa mais com os dividendos do que com os divisores" (administradores). Nas esclarecedoras introduções e notas às crônicas, Gustavo Franco lembra que o vilão machadiano não é exatamente o acionista que se conhece hoje. A partir de uma sugestão do jurista e historiador Raymundo Faoro, Franco lembra que o termo mais apropriado talvez fosse não "acionista", mas "rentista" – o proprietário ocioso que vive de rendas, como o protagonista de Memórias Póstumas de Brás Cubas. O investimento em ações ao tempo de Machado obedecia a uma lógica estranha: graças à oferta de crédito (e ao mais irresponsável dos fiadores: o governo), garantiam-se dividendos sobre lucros fictícios. Era um investimento sem risco. "Embora aparentado, este não é o capitalismo de nossos dias", observa o organizador da coletânea.

(...) A crítica de Machado ao "acionista" é mais difícil de definir. Seria ele um liberal "moderno" a atacar a irracionalidade de um sistema que era capitalista só pela metade? Ou um empedernido conservador, avesso às inovações do capital financeiro? Machado foge às posições claras. Prefere a postura olímpica de quem se aborrece com temas comezinhos como o déficit público. Essa atitude sobranceira talvez tenha cobrado seu preço: o testamento do escritor, reproduzido no capítulo final de A Economia em Machado de Assis, revela que ele aplicou grande parte de seu patrimônio em apólices de um empréstimo internacional tomado pelo Brasil em 1895. Escritor malicioso, investidor ingênuo: o governo nunca resgataria o valor real dessas apólices.


Fonte: aqui