
Fonte: Aqui
Sobre débitos e créditos da vida real
Resposta do Anterior: a) empresa de auditoria, a quinta maior do mundo; b) Public Company Accounting Oversight Board, entidade criada pela Sarbox para fiscalizar as auditorias c) Accounting Standards Board (ASB), regulador contábil da Inglaterra mas também dos EUA
Petrobras diz que ganho líquido foi de R$ 1,1 bi e não R$ 3,9 bi
Valor Econômico - 14/5/2009
A decisão de alterar o regime contábil da Petrobras foi antecedida de consulta a especialistas, mas partiu da diretoria da estatal, sem passar pelo crivo do conselho de administração [1], disse ontem o diretor de Relações com Investidores da companhia, Almir Barbassa, que se reuniu com analistas e investidores, em São Paulo. "É um assunto interno, de gestão" [2], resumiu.
Apesar das divergências envolvendo a Petrobras e a Receita sobre a mudança na contabilização do imposto de renda da estatal, ela não está sendo fiscalizada pelo órgão e nem recebeu qualquer reclamação formal, informou o diretor. A avaliação de Barbassa é que a manifestação da Receita na segunda-feira "não fez juízo de valor quanto à Petrobras". [3]
Em nota distribuída ontem à noite, a Petrobras esclareceu que o valor líquido de compensações da empresa em virtude da mudança da "forma de apuração de impostos sobre a variação cambial (regime de caixa) não é de R$ 4 bilhões, como erroneamente informado, e sim de R$ 1,14 bilhão".
A confusão foi provocada por informações divulgadas pela própria estatal [4]. Na terça-feira, o Valor perguntou à empresa, em lista de questões encaminhadas por e-mail, qual era o valor líquido das compensações feitas pela companhia relativas à mudança do regime cambial. Em resposta, a área de Relações com Investidores encaminhou uma tabela (publicada na edição de ontem do Valor), e que informava os valores mensais compensados desde dezembro e que totalizaram R$ 3,94 bilhões, sem fazer distinção entre valores brutos e líquidos.
Barbassa repetiu os argumentos da nota na reunião ontem em São Paulo. Entre dezembro e março, a Petrobras utilizou um total de R$ 3,94 bilhões em créditos tributários. Destes R$ 3,94 bilhões, R$ 1,8 bilhão refere-se a créditos que a Petrobras recebeu pelo pagamento de juros sobre o capital próprio (forma de remuneração paga aos acionistas) e não é um ganho relacionado à mudança contábil. Subtraindo-se o R$ 1,8 bi, sobram R$ 2,1 bilhões, que correspondem a tributos pagos antecipadamente, gerando os créditos depois compensados.
"Deste valor deve ser subtraída a importância suplementar de R$ 1 bilhão de Imposto de Renda (IRPJ)e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), pago em janeiro de 2009, em função da opção pelo regime de caixa", detalhou a empresa, na nota. Portanto, de acordo com a empresa, o benefício líquido gerado pela mudança nos critérios de contabilização da variação cambial foi de R$ 1,1 bilhão.
A estatal se respaldou na medida provisória 2.158/2001 para alterar o critério de contabilização de seus débitos e créditos atrelados a variações cambiais, mudança que reduziu o valor dos impostos devidos pela estatal, explicou Barbassa. "Na MP 2.158, o governo expressou o seu desejo, que era evitar que as empresas pagassem impostos gerados por ganhos com as variações cambiais que ocorrem na economia. A MP visava defender as empresas contra impostos sobre ganhos fictícios [5], já que o câmbio sobe hoje e cai amanhã", explicou o executivo. "Nós (Petrobras) apenas seguimos a intenção do governo", disse Barbassa. Ele se referia à exposição de motivos do governo quando enviou a MP para o Congresso, que afirmava que a finalidade da medida era desonerar empresas da situação onde pudesse haver ganho ou perda fruto de variações cambiais que gerem receita fictícia.
A Petrobras decidiu mudar a fórmula de cálculo de sua declaração, passando do regime de competência que vinha adotando para o regime de caixa em 2008 porque, segundo Barbassa, reflete melhor a situação atual da empresa [6], que tem muitos valores a receber e a pagar em moeda estrangeira. Mas a Declaração de Renda da Pessoa Jurídica (DIPJ) - que é a definitiva - pode ser entregue até 30 de junho do ano seguinte. A de 2008, portanto, ainda não foi entregue.
A estatal sempre declara em bases anuais, apesar da possibilidade de que o informe seja feito trimestralmente. A discussão em torno dos créditos que segundo a Receita não poderiam ser objeto de uma troca de regime declaratório no meio do exercício acontece sobre uma DIPJ ainda não entregue.
A Petrobras paga imposto mensalmente com base no que o diretor financeiro diz ser "a melhor estimativa", mas o consolidado é entregue apenas uma vez. Pela regra, tanto as empresas que pagam em base trimestral quanto anual precisam recolher impostos mensalmente. Como a Petrobras é a maior contribuinte do país, a variação nos pagamentos de impostos pela Petrobras foi notada pela Receita, que questionou a estatal. O diretor disse que isso é normal, dado o impacto da companhia sobre a economia e que o BC também questiona quando são realizadas operacionais cambiais de grande porte.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao qual estão subordinados o Tesouro Nacional e a Receita , integra o conselho de administração da Petrobras, que se reuniu na segunda-feira, depois que o assunto já estava nos jornais. Mas a reunião aconteceu de forma "tranquila", como explicou Barbassa, evitando falar em nome do ministro sobre a reação dele ao tema.

Receita investiga aumento de R$ 3,7 bi em compensações
Valor Econômico - 13/5/2009
A Receita Federal está investigando o salto de R$ 3,7 bilhões acima do normal ocorrido no valor das compensações de tributos apresentadas pelas empresas no primeiro trimestre deste ano. De acordo com um alto assessor da secretária Lina Vieira, a principal suspeita sobre esse comportamento "atípico" é a de que, com a crise econômica mundial, a falta de crédito no mercado financeiro empurrou as pessoas jurídicas a "ganharem tempo" declarando direito a essas compensações. A vantagem dessa estratégia é que, mesmo se tiverem de corrigir suas declarações, pagarão a variação da taxa básica Selic mais juros simples, cenário mais brando que o dos juros compostos cobrados pelos bancos. Esse aumento de compensações está diretamente relacionado à polêmica mudança na contabilidade da Petrobras.
Para a Receita, a Petrobras está errada na sua argumentação. Os auditores garantem que a companhia realizou recolhimentos durante nove meses de 2008 no regime de competência e no último trimestre mudou para o regime de caixa. Segundo eles, a legislação proíbe essa mudança e essa interpretação estaria sendo "pacífica" nos âmbitos administrativo e judicial. Tributaristas ouvidos pelo Valor, contudo, desconhecem que esse ponto específico já tenha sido objeto de ação judicial.
Ontem, em Cubatão (SP), o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, comentou o problema a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Explicou que, na análise jurídica da empresa, o que houve foi mera opção autorizada pela legislação em função das variações cambiais e tributárias. A postura, segundo Gabrielli, é permitida por uma MP desde 2001. "A cada ano, as empresas têm essa opção porque a situação cambial de 2008 não é mesma dos anos anteriores. Não houve prejuízo. Se há ressarcimento de crédito é do que foi pago a mais, não há redução de imposto, é ressarcimento de crédito pago a mais", afirmou.
De acordo com nota técnica divulgada pela assessoria da Receita Federal a legislação (parágrafo segundo do artigo 30 da MP 2158-35/2001) prevê que, caso o contribuinte tenha iniciado o ano-calendário escolhendo um dos dois regimes (caixa ou competência), essa opção deve ser mantida para todo o ano. Portanto, é proibida a alteração de critério no decorrer do ano-calendário.
Na Receita, o clima é de "preocupação" com o crescimento das compensações, o que deve levar à criação de um grupo de trabalho para analisar esse impacto. Prevalece a opinião segundo a qual o atual sistema, meramente declaratório, dificulta o planejamento e as previsões de arrecadação. O objetivo é buscar um modelo intermediário. Pelas normas anteriores, as empresas também tinham direito às compensações mas dependiam de autorização oficial para usá-las.
Com a perspectiva de queda da Selic, hoje 10,25% ao ano, a estratégia das compensações ficou ainda mais atraente. Na Receita, também é considerada importante uma informação levantada pela Fiesp. A entidade apurou que, no universo dos executivos de empresas com dificuldades para obter crédito, 52% afirmaram que sua primeira reação seria deixar de pagar tributos. Outro fator que preocupa os auditores fiscais é o impacto psicológico da iminência de um novo e amplo parcelamento de dívidas tributárias. O Congresso já aprovou amplo programa de refinanciamento, em quinze anos, na conversão em lei da Medida Provisória (MP) 449, o que, segundo a equipe técnica da Receita, reduz sensivelmente o pagamento espontâneo de impostos e contribuições.
Entre as cem maiores compensações apresentadas no primeiro trimestre, não há padrão ou setor predominante, o que indica um quadro pulverizado e típico da crise econômica. O único caso que chamou a atenção da fiscalização da Receita é o da Petrobras.
Para governo, Petrobras usou de esperteza
O Globo - 13/5/2009 - 21
Cúpula do Planalto avalia que artifício tributário e briga com Fisco foram mau exemplo
Gerson Camarotti, Gustavo Paul, Mônica Tavares, Adauri Antunes Barbosa e Lino Rodrigues
BRASÍLIA, CUBATÃO e PAULÍNIA (SP). A cúpula do governo, em conversas reservadas, classificou ontem a manobra tributária da Petrobras de esperteza e avisou que não perdoa o mau exemplo que a maior estatal do país deu ao setor produtivo, com o pedido de compensações bilionárias de tributos. Considerou ainda muito ruim a disputa entre a Receita Federal e uma empresa cujo acionista majoritário é a União — ainda mais pelo fato de o artifício visar a tirar recursos dos cofres públicos.
Apesar de descartada qualquer mudança na diretoria da Petrobras, a avaliação no governo é que houve inabilidade política do presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, que concentra a ira do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gabrielli é criticado ainda pelo espalhafato público de assunto considerado duvidoso pelo governo e que depois foi contestado pela área técnica da Fazenda. A avaliação é que o executivo e sua equipe não deveriam ter contestado e feito do episódio uma queda de braço.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, sem entrar no mérito da discussão sobre a Petrobras estar ou não errada, deixou clara a orientação do governo, em audiência na Câmara dos Deputados:
— Se for verdade, a Petrobras terá de ser penalizada, multada, fazer recolhimento aos cofres públicos, pagando as multas módicas que a Receita costuma cobrar — disse, com ironia.
Segundo auxiliares diretos, Lula quer evitar que o tema ganhe destaque no debate nacional, pois fragilizaria a estatal. Há ainda desconforto com a Receita. A avaliação é que houve quebra do sigilo fiscal da Petrobras nesse episódio.
Lula, sobre o artifício contábil: ‘Presidente da Petrobras pode explicar a vocês’
Apesar da confusão da Petrobras, a percepção é que é hora de o governo contornar a situação, incluindo o apetite da oposição. Nesse sentido, o líder do PT, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), participou ontem de uma reunião com a bancada de senadores do PSDB para tentar evitar a instalação da CPI da Petrobras. Argumentou que o artifício fiscal é um debate de política pública.
— A Petrobras deve responder com transparência e consertar o que está errado. E se tiver que pagar à Receita, paga depois. Tem conflito entre a Receita e a Petrobras. Mas por que criminalizar esse debate e transformá-lo numa agenda negativa? A CPI vai gerar instabilidade e fragiliza a empresa — disse Mercadante.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) deve protocolar hoje na mesa do Senado o pedido de criação da CPI para investigar a Petrobras. Ontem, ele já havia recolhido a assinatura de 32 parlamentares, cinco a mais do que os 27 necessários. Entre os que assinaram o requerimento estão pelo menos quatro peemedebistas: Pedro Simon (RS), Jarbas Vasconcelos (PE), Mão Santa (PI) e Geraldo Mesquita (AC).
A oposição apresentou dois requerimentos para que os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Fazenda, Guido Mantega, deem informações à Câmara em 30 dias. No Senado, Flexa Ribeiro (PSDB-PA) apresentou um requerimento de audiência pública, aprovado pela maioria da Comissão de Assuntos Econômicos.
Após visitar as obras da termelétrica Euzébio Rocha na refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão (SP), Lula não quis falar sobre a contabilidade da empresa e pediu a Gabrielli — que o acompanhava — que falasse sobre o assunto com os jornalistas:
— Eu não participo da contabilidade da Petrobras, ou seja, isso é um problema que depois o presidente da Petrobras pode explicar para vocês.
Gabrielli garantiu novamente que a Petrobras agiu dentro da lei e completou:
— Não houve prejuízo (aos cofres públicos). Se há ressarcimento de crédito, paga mais. Então, não há redução de imposto, é só ressarcimento de crédito pago a mais.
Sem fazer referência à manobra da Petrobras, Lobão, que participou da inauguração da unidade de propeno da Replan, em Paulínia (SP), defendeu a estatal:
— A Petrobras é um bem, não um mal. É nosso dever, portanto, preservar uma empresa nacional desse porte — afirmou o ministro, após o discurso de Gabrielli, que não abordou o assunto.
Lula afirmou ainda que não há qualquer discussão dentro do governo sobre redução do preço da gasolina.
Oposição quer CPI para investigar contas da Petrobras
13/5/2009 - Folha de São Paulo
Objetivo é apurar alteração contábil que permitiu redução de US$ 4 bi no pagamento de impostos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PSDB deve protocolar hoje o pedido de instalação de uma CPI para investigar a Petrobras. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que já reuniu 32 assinaturas, cinco a mais do que o mínimo necessário para a instalação da comissão.
"Não podemos pecar por omissão, isso poderia significar cumplicidade", afirmou Dias.
Um dos objetivos será investigar as alterações contábeis que permitiram à empresa reduzir em R$ 4 bilhões o pagamento de impostos. A oposição, no entanto, quer discutir eventuais usos políticos de verbas da estatal, como os patrocínios.
A Receita Federal está apurando se o recolhimento de tributos em 2008 está dentro da legalidade. A estatal petrolífera alterou no meio do ano passado seu regime de tributação, o que fez com que acumulasse um crédito tributário que foi usado no primeiro trimestre de 2009 para abater impostos da empresa.
A ameaça de CPI fez o governo se movimentar. O líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), busca um entendimento com a oposição. Em almoço com os senadores do partido, Mercadante argumentou que o cenário de crise internacional, com dificuldades para obter financiamentos, fez com que a Petrobras usasse uma brecha legal para reduzir o impacto da desvalorização cambial sobre o seu resultado.
"É importante que o Senado cobre explicações e busque informações. Mas isso não deveria levar à CPI da Petrobras. Neste momento, os países estão fortalecendo suas empresas, não o contrário", afirmou o senador petista.
A CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aprovou ontem a realização de uma audiência pública com o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e com a secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para discutir as compensações tributárias.
Em meio à disputa, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) saiu em defesa da Petrobras ontem e afirmou que a estatal é "o orgulho nacional" e que não deve ser acusada "daquilo de que não tem culpa".
"A Petrobras é um bem, não um mal. É dever nosso preservar uma empresa nacional desse porte, desta magnitude, dessa envergadura, para que ela sirva aos melhores interesses nacionais. E não podemos desacreditá-la, criticá-la, acusá-la daquilo que não tem culpa", disse o ministro em discurso ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Gabrielli em Paulínia (117 km a noroeste de São Paulo).
Lula, por sua vez, evitou se envolver na polêmica entre a Petrobras e a Receita Federal.
"Não participo da contabilidade da Petrobras. Isso é um problema que depois o presidente da Petrobras pode explicar", disse Lula sobre o assunto.
Colaboraram SÍLVIA FREIRE , da Agência Folha, em Paulínia, e AGNALDO BRITO , enviado especial a Cubatão.
Estatal rechaça irregularidades em contabilidade
Folha de São Paulo - 12/5/2009
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, negou que a empresa tenha usado manobra contábil para pagar menos imposto. Disse que a estatal trocou, no meio do ano, de regime tributário, o que gerou um crédito junto à Receita de cerca de R$ 2,14 bilhões. E que, em dezembro, obteve mais crédito no valor de R$ 1,83 bilhão. No primeiro trimestre deste ano, a estatal usou esse crédito para quitar tributos, inclusive a Cide (imposto dos combustíveis), no valor de R$ 1 bilhão.
Gabrielli defendeu que a mudança foi feita dentro da lei, no prazo estipulado pela Receita, e se queixou que a Petrobras é alvo de ataques da oposição. "É como a Geni. Gosta-se muito de bater na Petrobras."
A Petrobras é responsável pelo pagamento de 95% da Cide, arrecadada pela Receita e repassada aos Estados. Esses repasses caíram 90% no primeiro trimestre. Como noticiou o Painel no domingo, alguns Estados creditam a queda na Cide a acerto de compensação tributária entre governo e Petrobras.
Gabrielli defendeu o repasse da Cide aos Estados mesmo quando ela é paga com crédito tributário, não com dinheiro.
Gabrielli confirmou a mudança no regime tributário, atribuída à crise, mas negou mudanças contábeis. Mesmo tendo concluído a mudança no último trimestre do ano, aplicou a regra de forma retroativa a todo o ano passado, gerando o crédito.
Receita investiga crédito tributário da Petrobras
Folha de São Paulo - 12/5/2009
LEANDRA PERES - VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Receita Federal fiscaliza, desde o início do ano, o pagamento de impostos pela Petrobras. A Folha apurou que o trabalho, ainda não concluído, pretende verificar se os créditos acumulados pela estatal ao longo do ano passado, e agora usados para abater impostos, seguem a legislação.
Em nota ontem à noite, a Receita diz que, uma vez que o contribuinte tenha começado o ano recolhendo impostos por um critério, não pode mudá-lo ao longo do ano. Embora não cite a estatal, a nota foi divulgada após pedido de explicação sobre sua mudança contábil. "Essa opção deve ser observada para todo o ano, não sendo permitida a alteração de critério no decorrer do ano-calendário", diz a nota oficial. Já a Petrobras afirma ter feito sua opção no meio do ano, com impacto no último trimestre.
A estatal defende a medida adotada, alegando ter feito a mudança no prazo previsto ao entregar o DIPJ (Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica), em meados do ano passado. Em janeiro, a estatal passou a recolher menos tributos alegando que compensou pagamentos devidos com recolhimentos feitos a mais em 2008.
Essas operações suscitaram a investigação da Receita. A Petrobras disse ontem que não há fiscais nos seus prédios, mas que pode ter havido pedido de informações do fisco no início do ano sobre as mudanças nos impostos. Na época, diz a Petrobras, a Receita já havia levantado a possibilidade de a estatal ter cometido erros na contabilidade, o que ela nega.
Ontem, a Petrobras confirmou informação de que havia alterado em 2008 a metodologia de recolhimento de impostos, o que permitiu gerar créditos agora compensados. A origem dos créditos está na variação cambial. Só nos dois últimos trimestres de 2008, ela teve ganho extra de R$ 7 bilhões porque a alta do dólar valorizou seus ativos. Com isso, a estatal ganha com a alta do dólar. Mas esse efeito é puramente contábil. O ganho não vai imediatamente ao caixa.
Desse modo, a companhia, que antes optava pelo regime de competência, tinha de recolher tributos sobre esse lucro extraordinário gerado pelo câmbio no mesmo trimestre em que ele foi auferido.
Ao optar por mudar o regime de competência pelo de caixa, a estatal só passou a pagar os tributos quando o lucro gerado pela variação cambial for absorvido pelo caixa -o que demora e nem sempre resulta na retenção total dos ganhos.
Para o advogado Ivan Tauil, a legalidade da decisão da Petrobras de alterar o regime -válida a partir do último trimestre de 2008-, retroagi-lo e recalcular os tributos dos três trimestres anteriores depende de quando a estatal fez a opção tributária. Para ser válida, teria de ser anunciada no primeiro dia útil de 2008. Isso, diz, mesmo que pudesse demorar para adaptar seus sistemas à alteração e ter sido obrigada mesmo a recalcular o imposto devido. Nessa hipótese, diz, a Petrobras "não cometeu ilegalidade". Mas o procedimento estaria errado, para ele, se a empresa optou pela mudança fora do prazo.
Outro tributarista, que não quis se identificar, diz que a estatal, mesmo que tenha feito a opção no prazo, só validaria a mudança a partir do momento em que iniciasse pagamentos do tributo pelo novo regime.
Colaborou PEDRO SOARES, da Sucursal do Rio
Manobra da Petrobrás é ilegal, diz Receita
Sérgio Gobetti
O Estado de São Paulo - 12/5/2009
A Secretaria da Receita Federal do Brasil contestou ontem a versão do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, para justificar o não-pagamento de mais de R$ 4 bilhões de impostos entre o fim de 2008 e março de 2009. Em nota divulgada após as 19 horas, a Receita disse não haver base legal para o que a Petrobrás fez em 2008, alterando no meio do ano o regime de tributação utilizado no cálculo dos tributos.
“De acordo com o parágrafo 2º do art. 30, MP 2158-35/2001, caso o contribuinte tenha iniciado o ano-calendário escolhendo um dos dois regimes (caixa ou competência), essa opção deve ser observada para todo o ano, não sendo permitida a alteração de critério no decorrer do ano-calendário”, diz o texto divulgado pelo órgão federal.
O pronunciamento oficial da Receita abriu uma crise na cúpula do governo, mas o Palácio do Planalto tentava ontem pôr panos quentes na confusão, dizendo tratar-se de uma mera divergência técnica entre a Receita e a Petrobrás. Na prática, porém, o episódio expõe um caso grave de descontrole do governo sobre sua maior empresa estatal e, segundo fontes do Ministério da Fazenda, poderá até produzir mudanças no comando da empresa.
A confusão foi originada no ano passado, quando a Petrobrás decidiu mudar a forma de cálculo do IR do regime de competência para o de caixa. Nas empresas, o Imposto de Renda incide sobre o lucro, e o tamanho do lucro depende se as receitas e custos são registrados no momento em que as transações são formalmente contabilizadas (competência) ou quando entram e saem dos cofres da empresa (caixa).
No ano passado, por causa da grande desvalorização do real, a contabilidade da Petrobrás registrou inicialmente um elevado ganho com essa variação cambial sobre os ativos da empresa no exterior. Mas esse ganho não se expressou em entradas de recursos no caixa da empresa. Por isso, ao mudar o regime de tributação, a Petrobrás encontrou um crédito bilionário de R$ 2,1 bilhões que teria pago a mais. Mais tarde, detectou outro crédito de R$ 1,9 bilhão referente à possibilidade de deduzir os juros sobre o capital próprio de seu lucro. “Temos tranquilidade do ponto de vista da legalidade da medida. Se há compensação de crédito, é porque pagamos a mais”, disse ontem pela manhã o presidente da estatal, antes da nota da Receita.
Segundo Gabrielli, a opção pelo novo regime de tributação foi feita no fim do primeiro semestre, quando a empresa apresentou a Declaração de Imposto de Pessoa Jurídica (DIPJ), mas só foi colocada em prática no quarto trimestre do ano, depois de serem adotados os procedimentos de ajuste.
Para a Receita, a mudança de opção só valeria para 2009 e não poderia ser aplicada retroativamente ao início de 2008, como fez a Petrobrás. Várias outras empresas brasileiras com ativo no exterior fizeram o mesmo no ano passado e, por isso, estão todas na mira da Receita.
Além da polêmica jurídica, o episódio também criou uma crise com Estados e municípios, pois a Petrobrás compensou o IR pago a mais como crédito no pagamento da contribuição sobre combustíveis (Cide), partilhada com governadores e prefeitos. Em três meses, os repasses da Cide caíram de R$ 273 milhões para R$ 28 milhões.
Para piorar, Gabrielli sugeriu ontem que o Tesouro não poderia ter reduzido as transferências a Estados e municípios em razão de a empresa ter pago 90% do que devia de Cide no primeiro trimestre (R$ 1 bilhão) com créditos de outros impostos. “Isso não muda o direito do Estado receber a Cide”, disse o presidente da Petrobrás.
"A Petrobras vem a público desmentir categoricamente insinuações de "manobras" ou "artifícios" contábeis para redução de tributos, segundo notícias veiculadas pelo Jornal "O Globo", dos dias 10 e 11 de maio de 2009.
A Petrobras sempre observou as normas legais, atendendo ao seu compromisso com a transparência e o respeito à sociedade brasileira. Em pesquisa recente, divulgada pelo Reputation Institute (RI), com sede em Nova York, foi considerada a quarta empresa mais respeitada do mundo.
A Petrobras responde por um volume substancial de tributos e participações governamentais recolhidos - do total da receita, a Petrobras contribui com parcela superior a 20% em 17 Estados, sob a forma de ICMS e participações governamentais. Em 2008, a Petrobras recolheu cerca de R$ 94 bilhões a título de tributos e participações governamentais em todo o País.
MUDANÇA DO REGIME DE TRIBUTAÇÃO DA VARIAÇÃO CAMBIAL
De acordo com a legislação tributária em vigor (Medida Provisória nº 2.158-35/2001 e Instrução Normativa 345/2003 da Receita Federal do Brasil), para fins de PIS/COFINS, Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro, existem duas formas de tributação da variação cambial, que é a oscilação entre os valores da moeda nacional e a estrangeira, relativa a operações comerciais e financeiras, a saber: (i) regime de caixa (padrão) e (ii) regime de competência (opcional). Essa mesma legislação autoriza ao contribuinte optar por um regime ou por outro, desde que o faça para todo um exercício.
O objetivo dessa norma é amenizar o impacto tributário decorrente da variação da moeda nacional em situações de crises internacionais e, por conseguinte, na apuração e pagamento de tributos federais, já que tais variações podem resultar na tributação de receitas que não representem ganho efetivo.
Neste sentido, em estrita conformidade com a legislação tributária, a Petrobras, que até então vinha tributando as receitas de variação cambial pelo regime de competência, optou por utilizar o regime de caixa para o exercício de 2008. Frise-se que essa opção fiscal em nada altera a sua contabilidade. Portanto, não há porque se falar em "manobras" ou "artifícios" contábeis.
Ainda com relação à sistemática de apuração do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro, vale esclarecer que a Petrobras sempre adotou o regime de tributação anual, efetuando recolhimentos baseados em balancetes mensais, fazendo o ajuste anual na entrega da Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (DIPJ), ao contrário das empresas que o fazem trimestralmente.
Desta forma, ainda que por razões sistêmicas a mudança de critério tenha sido operacionalizada no segundo semestre de 2008, a mesma vale para todo o exercício em razão da opção pela apuração anual. Assim, não há divisões por trimestres como erroneamente mencionado nas notícias publicadas, mas uma única apuração no ano, ou seja, em 31/12.
Essa opção é formalizada, anualmente, no momento em que a Petrobras entrega a DIPJ. Para o exercício de 2008, essa entrega ocorrerá apenas em 30 de junho de 2009.
COMPENSAÇÕES EFETUADAS
Em dezembro de 2008 a Petrobras possuía créditos a compensar da ordem de R$ 3,97 bilhões, que correspondiam a R$ 2,14 bilhões de saldo de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro, relativos à variação cambial, pagos a maior ao longo do ano e R$ 1,83 bilhão referente a créditos de juros sobre o capital próprio, que foi utilizado da seguinte forma, nos meses de dezembro/2008 a março/2009:
REDUÇÃO NO VALOR RECOLHIDO A TÍTULO DE CIDE
A apuração do montante devido a título de CIDE é feita com base nos volumes dos produtos comercializados (gasolina, diesel, etc.) multiplicados por alíquotas fixadas pelo Governo que independem do valor de comercialização desses produtos. Assim, a opção da Petrobras pelo regime de caixa para a tributação da variação cambial, não teve qualquer reflexo no montante de CIDE devida. O que houve foi uma modificação na forma de pagamento da CIDE, que em vez de ser paga em dinheiro, foi quitada com os créditos tributários oriundos dos pagamentos a maior de IRPJ e CSLL. Assim sendo, pode-se afirmar, sem qualquer receio, que os Estados não devem sofrer redução em suas receitas provenientes da CIDE em função da opção da Petrobras, já que permanece a obrigação constitucional da U nião de repassar os recursos aos Estados, com base nos valores devidos, ou seja, independentemente da forma de quitação.
A queda de arrecadação relativamente a este tributo ao longo do ano de 2008 se deve exclusivamente ao fato de ter havido redução de alíquotas na gasolina (R$ 0,28/litro para R$ 0,18/litro) e no diesel (R$ 0,07/litro para R$ 0,03/litro).
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL NO CAMPO DE MARLIM
Relativamente a este assunto, a Petrobras esclarece que a questão encontra-se em discussão perante o Tribunal Regional Federal da 2ª Região. O litígio se resume à controvérsia acerca de critérios para dedutibilidade de despesas, decorrente da interpretação da legislação federal que regula a matéria. A Companhia jamais se negará a pagar aquilo que vier a ser apurado como devido, mas, como assegurado a qualquer outra empresa estabelecida no País, recorrerá ao Judiciário para fazer valer o seu legítimo direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa."
O mercado cai três vezes mais rápido que ele sobe. Um estudo acadêmico em finanças comportamentais, concluiu que as perdas têm três vezes o efeito emocional de um ganho.
Where brokers dare, we should tread carefully
Marcus Padley - The Age 2/5/2009
Entre 2002 a 2004 milhões de venezuelanos assinaram petições para votar a remoção de Hugo Chavez do seu posto. Assinaturas não eram anônimas e durante a campanha do plebiscito partidários Chavez ameaçaram que eles iriam retaliar. Chavez foi forçado a convocar a eleição e infelizmente venceu. Depois das eleições, a lista dos assinantes foi distribuída para as agencias do governo num banco de dados. O banco de dados incluía nomes e endereços de todos os eleitores e se eles assinaram a petição anti-chavez. Tecnologia permitiu que os partidários de Chavez tivessem a informação necessária para retaliação.
Tecnologia também agiu no outro sentido, entretanto, e num verdadeiramente inesquecível texto, Hsieh, Miguel, Ortega e Rodriguez cruzaram informação da base de dados com outra base de salários, empregos e renda. O que os autores encontraram é chocante, embora não surpreendente. Antes do plebiscito, os assinantes e não assinantes pareciam iguais. Depois da eleição, o emprego e salários dos assinantes caiu consideravelmente, cerca de 10% abaixo dos salários dos não assinantes. Evidencia da pesquisa conduzida pelos autores é consistente com a retaliação pelos apoiadores de Chavez, especialmente na forma de perda de emprego no setor público.
Os dois especialistas veem com muita desconfiança o "teste de estresse" feito pelo governo americano para verificar como os bancos resistiriam a uma piora do cenário econômico.
Esse teste foi feito nos 19 maiores bancos do país.
Os resultados foram divulgados na última sexta-feira. As instituições financeiras estudadas precisarão levantar quase US$ 75 bilhões no mercado, mas nenhuma delas corre risco de insolvência. Eichengreen e Rajan dizem que o teste não foi suficientemente rígido. E que o buraco financeiro dos bancos deve ser ainda maior. "O resultado do teste forneceu respostas às perguntas formuladas. Mas a questão central é: foram feitas as perguntas corretas?"
Segundo Rajan, é muito arriscado definir parâmetros para "testes de estresse". Isso porque, se os critérios forem exageradamente flexíveis e se mais ativos podres surgirem na contabilidade dos bancos, um novo ciclo de instabilidade poderá atingir os mercados.
Para Eichengreen, a capitalização do sistema financeiro foi incompleta. "Houve uma melhora desde a quebra do Lehman Brothers. Não existe mais insolvência generalizada nem risco de nacionalização. Mas os bancos não estão adequadamente capitalizados."
Retomada será pífia, dizem economistas
Folha de São Paulo - 10/5/2009
Hacia una convergencia en los mercados de América latina
Fernando Baer y María Luisa Streb, economistas del CEF
El Cronista Comercial - 11/5/2009 - 016
Muchos países latinoamericanos siguieron un proceso de apertura y modernización de sus servicios financieros semejante al de los países desarrollados; adoptando estándares internacionales en materia de regulación y supervisión, y removiendo restricciones a la operatoria de intermediarios. Si bien hubo un impacto positivo de las reformas sobre el desarrollo de los mercados financieros, persisten impedimentos a la integración financiera en la región. Durante el período 2007-2008 el Centro para la Estabilidad Financiera (CEF) ha analizado dichos impedimentos en Argentina, Brasil, Chile y Perú, dadas por las asimetrías normativas en las áreas de:
=> Movilidad de capitales: controles directos e indirectos y normas prudenciales, han sido variantes de medidas usadas para disminuir la volatilidad de los flujos de capitales, la presión sobre el tipo de cambio y/o la transmisión de shocks externos. Chile y Perú son los países mas liberalizados de la muestra. Tender un puente para pasar gradualmente del uso de controles a los flujos de capitales a normas prudenciales y efectiva supervisión a fin de dar una respuesta a los riesgos asociados a flujos de capitales y permitir la gradual liberalización de los mercados de capitales, es un desafío pendiente.
=> Convergencia a los principios de regulación de IOSCO (International Organization of Securities Commissions): el análisis comparativo de la regulación muestra patrones diversos ya que existen principios en los que los países presentan mayores similitudes y otros en los que difieren notablemente. Se recomienda mejorar la independencia presupuestaria del Regulador en Argentina y Perú, clarificar cuestiones relativas al intercambio de información entre reguladores domésticos y extranjeros en Chile y Perú y revisar los requerimientos de elegibilidad y divulgación de información de Instrumentos de Inversión Colectiva en todos los países.
=> Convergencia de estándares nacionales de contabilidad y auditoría con relación a los estándares internacionales: a excepción de Perú, el resto de los países de la muestra no utilizan los estándares contables y de auditoría internacionales para la elaboración de sus estados financieros. Por tanto, el proceso de convergencia requiere, en el corto plazo, concentrar esfuerzos sobre la adopción armoniosa de dichos estándares por parte de las empresas con oferta pública. En el largo plazo se debería fomentar la generalización del proceso a empresas sin oferta pública.
=> Tratamiento impositivo a la intermediación financiera: subsisten muchas asimetrías. Chile es el único país de la muestra donde el tratamiento impositivo a la intermediación financiera se aproxima a las mejores prácticas. Por ejemplo, los intereses sobre depósitos tributan impuestos a las ganancias, el impuesto a las corporaciones es un crédito sobre los impuestos a los dividendos a nivel de personas físicas, los títulos privados reciben el mismo tratamiento impositivo que los títulos públicos, entre otros. Por otro lado, los acuerdos de doble tributación entre los países incorporan distorsiones adicionales.
Hasta el momento, los esfuerzos de integración regional de los mercados han priorizado la integración en los mercados de bienes y servicios reales relegando el debate sobre integración en los mercados de servicios financieros. Consideramos que el esfuerzo del CEF en esta última línea contribuiría a fomentar la agenda sobre integración en dichos servicios. En el contexto actual de crisis y reestructuración de la arquitectura financiera global, se propone convocar al debate en un Seminario Regional el 13 de mayo en el CEF.
Grandes auditorias começam a provar do seu próprio remédio
Valor Econômico - 11/5/2009
A Deloitte, uma das quatro grandes firmas de contabilidade do mundo, contratou na semana passada a Nexia Villas Rodil, uma firma de pequeno porte de São Paulo, para fazer a auditoria de seu balanço de 2008. Será a primeira vez que essas empresas passarão pelo mesmo processo no qual são especializadas, a auditoria de balanços financeiros.
A exigência veio na nova lei contábil, de 2008, que obriga "sociedades de grande porte" a elaborar demonstrações financeiras, que devem ser checadas por um auditor registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
Beneficiadas pela nova legislação, que trouxe para o seu mercado mais companhias de capital fechado, as chamadas "big four" - Deloitte, KPMG, PwC e Ernst & Young - tiveram que lidar com um efeito colateral: elas também se encaixam nos parâmetros de ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual acima de R$ 300 milhões.
A Deloitte é a primeira das grandes a definir seu auditor. As outras três, ouvidas pelo Valor, afirmaram que ainda estão em processo de escolha.
Além da questão da qualidade, Alcides Hellmeister Filho, presidente do conselho da Deloitte, diz que a grande preocupação foi com a "questão mercadológica". "Não poderíamos deixar que um concorrente direto tivesse acesso a nossas estratégias, estruturas e áreas de foco", diz.
O mesmo vale para seu principal rival no mundo, a PricewaterhouseCoopers. "Estamos olhando propostas", diz Henrique Luz, sócio da PwC. Ele afirma, no entanto, que o vencedor seguramente não será uma das grandes. "Vamos procurar uma empresa que não seja uma concorrente tão direta."
As quatro grandes travam uma competição acirrada, não só pela auditoria de balanços de companhias abertas, mas também por serviços de consultoria variados, como tributários e de reestruturação. Juntas, elas auditam quase 60% das companhias com ações em bolsa no Brasil. BDO Trevisan e Terco Grant Thornton, respectivamente quinta e sexta no ranking elaborado da CVM, têm 16%. O restante é o mercado que sobra para as outras 341 firmas de auditoria registradas na autarquia. A Nexia Villas Rodil, por exemplo, não tinha nenhuma empresa aberta na sua carteira no fim de setembro, último dado disponível.
Trazer um concorrente para dentro de casa não é uma decisão fácil. As firmas chegaram a olhar possíveis brechas na lei para evitar a saia justa. "Nosso entendimento é que não estamos obrigados a fazer as demonstrações financeiras", diz Luiz Frazão, presidente da Ernst & Young. "Mas decidimos fazer mesmo assim."
O que poderia excluir as auditorias, segundo ele, é uma frase que define sociedade de grande porte. Além dos limites de ativo e receita bruta, a lei diz que tem que haver "controle comum". Em geral, as firmas de auditorias são compostas por empresas separadas, com vários sócios. Por isso, não haveria um controlador.
Frazão admite que essa interpretação é formal e poderia ser contestada na Justiça . "Hoje a essência econômica já é um fator decisivo em muitos julgamentos", afirma.
Na essência, as quatro podem ser entendidas como uma entidade única, abrigadas sob um guarda-chuva global. Sem contar que pareceria um contra-senso que os auditores, um símbolo da prestação de contas, se recusassem a colocar seus números a prova.
A KPMG também andou avaliando o assunto, mas ainda não bateu o martelo. Por sua estrutura societária, segundo Charles Krieck, líder da área de auditoria, a firma escapa da exigência. "No entanto, considerando a importância que damos a esse tipo de transparência, estamos analisando a possibilidade de ter uma auditoria", diz Krieck.
Mas todo essa movimentação não quer dizer que os números secretos das "big four" serão revelados nos próximos meses. Como a obrigatoriedade de divulgação foi extirpada da versão final do texto da 11.638, vai depender de cada empresa manter vivo o espírito da lei, que era trazer à luz dados de entidades que, pelo seu peso na economia, deveriam prestar contas à sociedade.
"Nossa ideia é divulgar", afirma Hellmeister, da Deloitte. "Mas os nossos concorrentes têm que fazer o mesmo", completa. Se depender da E&Y, a questão já está resolvida: "Não pensamos em divulgar". É provável que o assunto fique só entre auditores.
(…) "O Comptroller and Auditor General of India (CAG) planeja mudar da contabilidade baseada no caixa para a competência no governo dentro de cinco anos. No regime de competência as demnstrações financeiras apresentam, de forma mais apropriada, o desempenho financeiro e a posição do governo”(...)
Não existe uma resposta certa ou errada para a questão de como lucros devem ser distribuídos ao longo do tempo. Os fundadores da profissão contábil acreditavam que só deveriam contar os pássaros na mão. Eles reconheciam caixa somente quando é recebido ou, pelo menos legalmente comprometidos a serem pagos. Consideravam uma visão prudente do passivo futuro. Os lucros eles registravam ao final da atividade que deu origem a eles.
Contadores modernos, no entanto, foram ensinados a teoria de finanças moderna em que os mercados são eficientes. Eles tratam a incerteza, assumindo que o mercado já sabe e avaliou todas as informações pertinentes. Eles também foram ensinados nas habilidades de agradar os clientes. Esses contadores marcam ativos e passivos ao mercado. Rigorosamente aplicadas, contabilidade com marcação a mercado significa que você deve constantemente re-estimar o lucro potencial de uma atividade ao longo da sua vida. Têm-se direito ao crédito com a previsão de lucro numa atividade tão logo que você começa a participar na mesma.
(…)
Em teoria, este tratamento é justificável, mas a possibilidade de abuso é óbvia.
Múltis americanas com sede nas Cayman estão na mira de Obama
6 / 5 / 2009 - Gazeta Mercantil
(...) A Seagate é apenas uma das empresas que podem ser afetadas pela proposta feita anteontem pelo presidente dos EUA, Barack Obama, de captar cerca de US$ 190 bilhões a US$ 210 bilhões na próxima década, proscrevendo técnicas usadas pelas empresas norte-americanas no exterior na evasão do pagamento de impostos. A alíquota de impostos de pessoas jurídicas nos EUA é de 35%, mas a Seagate pagou efetivamente 5% de impostos no ano fiscal encerrado em junho de 2008, segundo dados compilados pela Bloomberg.
(...) Um prédio comercial de cinco andares na rua South Church, nas Ilhas Cayman, é o endereço oficial de 18,8 mil corporações. Esse prédio, de nome Ugland House, consta dos documentos apresentados à SEC como a sede da Seagate.
Cerca da metade dessas empresas das Cayman tinham endereços de faturamento nos Estados Unidos, segundo um estudo feito pelo GAO em 2008.
Obama se referiu à Ugland House. "Durante a campanha, eu falei sobre o escândalo de um prédio nas Ilhas Cayman que tinha mais de 12,7 mil empresas que afirmam que o prédio é a sua sede", disse Obama. "Como já disse antes, ou este é o maior prédio do mundo ou a maior fraude tributária. Creio que o povo norte-americano sabe qual dos dois é a verdade: o tipo de fraude tributária com o qual precisamos acabar."
(...)
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(David Evans/Bloomberg News)
Fim do vestibular único não virou grande notícia
30 Abril 2009 - Gazeta Mercantil
Há intenção, deliberadamente anunciada, de centralizar nas mãos da União todo o processo educacional brasileiro. É uma escolha do poder, mais do que uma mudança dos tempos. Nenhum sistema educacional, de economia industrializada, vai nessa direção. O Brasil já trilhou esse caminho de centralizar expectativas de ensino por muitos anos e começou a mudar de rota desde a primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional, de 1961. Na verdade, apesar de tudo, até o regime militar foi devagar nessa história de extrema centralização do ensino. A reforma da LDB de 1995 consagrou princípios de descentralização, o primeiro deles o da municipalização do ensino fundamental. A autonomia universitária, expressa garantia constitucional, também preserva o direito das identidades regionais aparecerem no processo educacional.
O Ministério da Educação (MEC), agora, resolveu enveredar por outro caminho, o da centralização total. Sem limites. Com a reforma no vestibular, construiu-se a pretensão de deixar o ensino médio todo igual, no País inteiro, sem dissensões sociais, nem diferenças curriculares. De repente, a toque de caixa, a mídia foi alimentada de versões de que o mundo ficaria inteiramente feliz se e quando o Brasil tivesse um exame único nacional, tudo para vigorar já, em outubro, para as matrículas do próximo ano letivo. (...)
(...) Especulação é a pesquisa que se faz em busca da melhor alternativa econômica, e a decisão seguinte mera consequência. Especulação é o cerne da atividade econômica. Trata-se de necessidade de indivíduos, empresas e Estados. Em quaisquer negócios visa o crescimento de patrimônios ou, no mínimo, sua proteção. De fato, todo agente econômico é um especulador.
Apesar de ser instituição natural, a especulação traz o estigma da vilania. Trata-se de pecado original que lhe aplicou a cultura ocidental, impregnada dos princípios cristãos. Para fugir ao sinal infamante, os mercados batizaram novo personagem: o investidor, tipo distinto que, também segundo Houaiss, surgiu em nossa língua na década de 1950. Suas decisões seriam fundamentadas, as operações sérias e o timing jamais imediatista. Foi a fórmula para transformar especulação em atividade que, hoje, dir-se-ia politicamente correta. É comum ouvir de governantes que investidores são bem vindos e especuladores indesejáveis. (...)
Como resultado, cada um das três demonstrações – balanço patrimonial, demonstração do resultado e demonstração dos fluxos de caixa – serão divididas em duas grandes seções: negócios e financiamento.
A seção de financiamento irá incluir todas as atividades de obtenção de recursos para os negócios da empresa. Para instituições não financeiras, isto inclui primariamente caixa, empréstimos bancários, títulos e outros items que representam o esforço de obter capital.
Na seção de negócios – que poderá ser subdividida em operacional e investimento – terá o foco no que a empresa produz de produtos e serviços. A categoria operacional irá incluir a receita e despesa gerada pela atividade principal e a categoria de investimento irá incluir atividades que geram retorno, mas que não são o foco.
Muitos, particularmente os bancos, comentam que o Fasb e o Iasb necessitam esclarecer mais as atividades de operações e investimento. “Eles estão usando a mesma terminologia que nós usamos no FAS 95 para fluxos de caixa, afirmou John Hepp, partner da Grant Thornton a CFO. Mas elas tem um significado completamente diferente.
CVM permite, novamente, balanços sem comparação
Valor Econômico - 8/5/2009
Os resultados trimestrais de 2009 já precisam, obrigatoriamente, ser apresentados pelas novas regras contábeis, mas o dado comparativo, ou seja, o do trimestre correspondente do ano passado não precisará ser ajustado aos novos padrões. Isso desde que as notas explicativas detalhem os efeitos que ocorreriam no resultado e patrimônio se as novas regras já estivessem sendo adotadas.
A possibilidade de que os ajustes não sejam feitos foi aberta ontem pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para a autarquia, embora a apresentação do comparativo ajustado à nova contabilidade seja o ideal e o mais recomendado, podem ser apresentados os dados trimestrais de 2008 no padrão anterior, desde que com as devidas notas explicativas.
O gerente de normas contábeis da CVM, José Carlos Bezerra, afirmou que a autarquia vinha recebendo muitas consultas com relação ao assunto, não só de companhias como também de auditores, por isso resolveu se manifestar. Entretanto, a maioria das companhias que já divulgou o balanço do primeiro trimestre ajustou os números.
A falta do ajuste dificulta a análise das demonstrações financeiras, já que a comparação fica prejudicada. O leitor dos balanços terá que buscar informação nas notas explicativas para não comparar dados contabilizados de acordo com regras diferentes.
Bezerra lembra que o prazo de entrega das demonstrações do primeiro trimestre vai até o próximo dia 15. Ou seja, muitas empresas ainda vão entregar os dados. "Buscamos esclarecer essas dúvidas e o Ibracon também está divulgando um comunicado técnico sobre o tema", disse.
O ofício divulgado ontem pela CVM alerta, porém, que está admitindo essa possibilidade no dado comparativo em caráter pontual e que, no próximo ano, os ajustes relativos aos trimestres de 2009, que serão usados para comparação com 2010, serão obrigatórios.
O processo de convergência dos padrões contábeis brasileiros com as normas internacionais foi iniciado oficialmente com a Lei 11.638, assinada no fim de 2007, mas que exigia uma série de regulamentações complementares. Assim, a CVM e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) tiveram de correr para emitir uma série de pronunciamentos para balizar a aplicação das regras.
Novas normas foram editadas no ano passado e as companhias tiveram de adotá-las no balanço fechado do ano de 2008, porém os trimestres do ano passado ainda foram divulgados com base nos padrões antigos, gerando o problema comparativo com os períodos deste ano. Mais regras estão sendo emitidas neste ano e serão adotadas a partir de 2010.
Na visão do gerente da CVM, devido ao processo muito atribulado, as companhias podem ter precisado de tempo num primeiro momento para compreender as novidades. "Mas aos poucos as coisas vão entrando nos eixos e sendo assimiladas", disse Bezerra, justificando porque ainda está havendo alguma flexibilidade neste momento, mas lembrando que isso já não será mais necessário no próximo ano.
E ele [Paulo Conte Vasconcelos, da ProxyCon] ressalta outro empecilho além da mera ausência de uma cultura de mensuração: "diversas empresas têm um controlador definido e que faz parte do próprio conselho de administração. Imagine fazer uma avaliação e chegar à conclusão de que o controlador não está agregando nada como conselheiro."
Os conselheiros profissionais estão atuando em menos empresas [em outros países]. Nas regiões pesquisadas, os conselhos tem em média dez membros. Em 1973, quando a Korn/Ferry fez o estudo pela primeira vez, um quinto dos conselhos de administração tinha entre 16 e 25 membros. "No Brasil, temos notado muitos profissionais participando de um número demasiado de conselhos. Neste caso, a qualidade pode deixar a desejar", afirma Amorim [Paulo Amorim, da Korn/Ferry].
Outra mudança detectada foi a redução do total de encontros, enquanto o tempo de dedicação aos conselhos tem crescido. Hoje, as companhias norte-americanas realizam em média oito reuniões de conselho anuais. Há 20 anos, pelo menos um quarto fazia um encontro por mês. Ao mesmo tempo, na América do Norte os conselheiros gastam 16 horas por mês com suas atribuições (para cada uma das companhias em que atuam). Há vinte anos, esse tempo era de aproximadamente 9,5 horas mensais.
(...) Por exemplo, na literatura acadêmica, alguns estudos apontam que a proteção cambial tende a ser mais eficiente no curto prazo, quando a volatilidade da taxa real de câmbio é maior, enquanto que, no longo prazo, na medida em que a taxa real reverte à média, os custos desta proteção tendem a suplantar os benefícios. Outros estudos já relacionam uma estratégia de risco cambial à volatilidade do portfólio e sugerem maior ou menor exposição justamente naquelas moedas que covariam negativamente com alguns ativos do portfólio.
A falta de consenso sobre uma estratégia de risco cambial é particularmente insatisfatória no momento atual, quando o dólar perde participação no cenário global. A boa notícia é que os mesmos dados que ilustram esta menor representatividade do dólar, também sugerem uma nova direção. Afinal, na medida em que o Dólar deixa de ser a única moeda de denominação para o padrão de gastos de um investidor, ele também deixaria de ser a única moeda de denominação para seu portfólio internacional. Neste sentido, a similaridade entre "proteção cambial" e "proteção do consumo" - que no passado foi mascarada pela existência do dólar como moeda de referência - agora se torna aparente.
(...) O exemplo acima delineia alguns princípios para uma estratégia de risco cambial, na ausência de uma única moeda de denominação: (I) a solução de mínimo risco é aquela em que a alocação de moedas do portfólio replica o padrão de gastos do investidor - como ilustrado pelos dados do portfólio e PIBs mundiais; (II) desvios da solução de mínimo risco ocorrem na medida em que existe a possibilidade de retornos adicionais - também medidos com relação a este padrão de gastos - para determinadas moedas. Neste sentido, dada a conjuntura atual, e a alocação de 34% do portfólio global em dólares para uma proporção de apenas 23% com gastos denominados nesta moeda, não estaria o mundo tomando um risco alto demais com relação ao seu padrão de consumo?
Paulo Tenani - Hora é de reavaliar as estratégias de hedge cambial – 24/4/2009 - Valor Econômico
A InBev emergiu como um peso pesado há cinco anos, a partir da fusão da brasileira AmBev com a belga Interbrew SA, produtora da marca Stella Artois. Apesar de a base ser em Leuven, na Bélgica, a cultura dos sócios brasileiros acabou por predominar. Essa abordagem enfatiza o acompanhamento atento dos custos e um sistema de pagamento de incentivos que pode ser lucrativo se as vendas e as metas de lucro forem atingidas.
A InBev evita escritórios luxuosos e automóveis para executivos, e grupos de executivos compartilham uma única secretária. A empresa usa orçamento base zero — em que todas as despesas têm de ser justificadas a cada ano, e não apenas os aumentos de despesas. A empresa afirma ter economizado 250.000 euros (US$ 325.000) ao mandar os funcionários do Reino Unidos usarem impressões em preto e branco e nos dois lados da folha de papel, e usou esse dinheiro para contratar mais vendedores.