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14 maio 2020

Bola de Cristal dos Grandes Bancos Brasileiros - 1


No início de janeiro, o mundo ficou sabendo de um vírus surgido na China. Em fevereiro este vírus chegou em outros países e no dia 12 de março a Organização Mundial de Saúde anunciou que o mundo estava diante de uma pandemia. Nesta data (e nos dias anteriores e posteriores), o mercado teve um grande baque; sabia-se que a influência sobre a economia seria expressiva.

Já se passaram dois meses desde que os efeitos do Covid-19 tornaram-se mais palpáveis. Quem tinha planos para os próximos meses sabia que a vida seria diferente. Se no início do ano dediquei algumas horas planejando minhas férias de julho, minha preocupação agora era saber se o vírus seria capaz de afetar minha viagem (sim, vai afetar), se o meu destino teria alguma restrição ao turismo (sim, tem e terá), se a empresa aérea manteria os voos (isto ainda não está claro), entre outras coisas.

Em postagem anterior criticamos pesadamente a Eletrobras por divulgar um planejamento estratégico sem levar em consideração o Covid-19. Pensar em planejamento e projeção em tempos da pandemia parecia um loucura. Manter um processo de planejamento que foi finalizado antes da crise de saúde era muito pior. Coisa de estatal?

A Eletrobras não está sozinha. No início do ano algumas empresas divulgam algumas das projeções de desempenho para o ano. Isto pode abranger medidas físicas ou algumas das principais medidas financeiras. Qual deveria ser a reação natural de uma empresa diante deste quadro? Fazer como a Azul, que já no dia 12 divulgou que suas projeções já não eram válidas. Ou a BRF, que no dia 3 de março já estava atualizando sua bola de cristal. Ou como a Triunfo Participações, que afirmava uma semana depois da queda das bolsas que seria difícil precisar os efeitos sobre suas atividades. Até mesmo, quem sabe, como Iguatemi, que duas semanas depois cancelava as projeções.

Qualquer empresa que divulgou projeções deveria ou cancelá-las ou revisá-las. É impressionante que algumas não o fizeram.

No início de maio, algumas empresas ainda estavam dizendo ao mercado que as projeções, realizadas no final de 2019 ou início de 2020, deveriam ser desconsideradas. Dois meses depois. O mais interessante é que entre estas empresas estavam o Itau, o Banco do Brasil e o Bradesco. Ou seja, as três maiores instituições financeiras brasileiras. Destas instituições, espera-se que estejam atentas ao cenário econômico e possuam agilidade diante de uma crise. Dois meses depois estas instituições mostraram sua agilidade.

13 abril 2020

Projeções

Ao mesmo tempo que divulgava um fato relevante dizendo que não iria divulgar projeções, a Gol Linhas Aéreas divulgou outro fato relevante com a seguinte frase:

A pandemia de Covid-19 começou a afetar as operações da Gol em meados de março de 2020 e, portanto teve efeito limitado no desempenho do primeiro trimestre.

Pode ser que a bola de cristal da empresa seja boa, mas meados de março significa 1/6 do trimestre. Acho que os efeitos serão significativos.

01 agosto 2017

Projeção de variáveis na Embraer

Na divulgação dos resultados da Embraer, a empresa fez projeções de sete variáveis de desempenho da empresa: entregas de aeronaves, receita, margem Ebit, margem Ebitda, gastos com pesquisa e desenvolvimento, ativo menos máquinas e fluxo de caixa livre. Além disto, a Embraer não adotou uma atitude comum de quem faz projeções: apresentou os dados passados projetados e fez uma comparação com o valor realizado. Isto permite uma análise da “bola de cristal” da empresa entre 2012 a 2016.

Das seis variáveis (o fluxo de caixa livre é uma projeção mais recente e por isto não estamos considerando aqui), duas a empresa acertou no intervalo de projeção: receita e entregas. Nas dez projeções realizadas, acertou o intervalo de nove: só errou a receita de 2016.

Em três variáveis, o erro foi muito superior ao acerto. No valor de gasto com pesquisa e desenvolvimento, a projeção da empresa foi maior do que o realizado nos anos de 2012 a 2015; em 2016, o valor projetado ficou abaixo do efetivo. Em todos os casos, a empresa justifica que isto não afetou ou não afetará o desempenho futuro. O valor de ativo menos máquinas, nas cinco tentativas, acertou em 2012, superestimou 2013 e subestimou nos anos seguintes. E a margem EBIT foi superestimada em 2012 e 2013, subestimada em 2014 e 2015 e conseguiram calibrar a projeção em 2016. Finalmente, a margem Ebitda teve, no período, três erros e dois acertos.

Arrisco uma possível explicação para este resultado: é muito mais fácil fazer a projeção da receita e das entregas do que das demais variáveis. A projeção da margem Ebit depende da projeção de cada uma das despesas operacionais, além das receitas. Como nem sempre os erros se anulam, um aumento inesperado numa despesa de pessoal pode afetar a projeção do Ebit.

De qualquer forma, eis o placar da bola de crista da Embraer: erros igual a 57% das projeções.

28 julho 2014

Curso de Contabilidade Básica: Previsto e Realizado

Em geral estudamos em contabilidade que o método das partidas dobradas serve para mensurar eventos que já ocorreram. Mas nada impede que as informações contábeis sejam usadas para projetar o futuro de uma entidade. Na verdade é sempre salutar que uma empresa possa fazer projeções de seu desempenho futuro para comparar com aquilo que foi realizado. Este processo de projeção deve ser considerado com muita cautela pela dificuldade que envolve esta atividade. Se na nossa vida pessoal muitas vezes não conseguimos prever o que irá ocorrer no dia seguinte, imagine o leitor uma empresa, que deve fazer projeção sobre seus ativos, passivos, receitas e despesas no futuro.

Além disto, a projeção pode induzir as pessoas. Se desejo passar uma imagem vigorosa da atual gestão, posso ser mais otimista nos valores projetados. Caso pretenda alcançar facilmente as metas, a projeção será mais pessimista.

Vejamos o caso da São Paulo Turismo SA, a empresa controlada pela prefeitura da cidade de São Paulo, responsável pelo Anhembi Parque, Sambódromo, SP Fashion Week, GP de Fórmula 1, Virada Cultural entre outros eventos. Esta empresa assinou um termo de compromisso de desempenho institucional, onde estavam previstas diversas metas, incluindo uma referente a receita operacional líquida, conforme a figura abaixo:


Na figura destacamos os dois valores referentes às projeções. Para 2013 a empresa estava prevendo uma receita de 212 milhões de reais. Isto corresponde a um aumento de 3% sobre o valor de 2012. Para 2014 o crescimento seria de 10% sobre 2013, o que parece razoável tendo em vista a realização de parte da Copa do Mundo em São Paulo.

A parte interessante desta história é verificar se a empresa atingiu a meta prevista. A seguir a Demonstração do Resultado da empresa de 2013 e 2012.
O valor da receita foi de 181 milhões, ou 86% da meta prevista. O que aconteceu? É interessante notar que a própria empresa divulga, nas suas demonstrações, que a arrecadação do turismo na cidade cresceu, mas não apresenta nenhuma justificativa para este desempenho. Sabemos que ocorreu uma mudança na administração da cidade e que provavelmente a empresa aumentou a necessidade de adiantamento por parte de clientes (aumento substancial na conta de adiantamento de clientes). Talvez sejam possíveis explicações.

Isto torna o caso da SP Turismo interessante: nem sempre as demonstrações contábeis irão fornecer respostas diretas para assuntos relevantes. Será necessário mais investigação e uma certa dose de inferência (e sorte) por parte do usuário.


11 setembro 2013

Previsão e projeção

Em geral utilizo os termos como sinônimos. Entretanto, Nate Silver, em O Sinal e O Ruído, na página 159, faz uma distinção entre eles:

Previsão = é uma declaração definitiva e específica sobre quando e como haverá um evento
Projeção = é uma declaração probabilística sobre um evento

Assim, a contabilidade geralmente faz previsão.

10 setembro 2013

O Sinal e o Ruído

O livro O Sinal e o Ruido foi escrito por Natan Silver e recentemente traduzido para língua portuguesa pela Intrinseca. Silver ficou conhecido por ter acertado a previsão do resultado das eleições dos Estados Unidos nos cinquenta estados. Depois disto, aumentou o interesse pela forma como Silver consegue fazer boas previsões.

Com 13 capítulos, a obra possui uma leitura muito agradável. Os temas estão bem divididos e o assunto é apresentado com muitos exemplos. Silver dedica a discutir a questão da previsão em diferentes áreas, como meteorologia, terremotos, mercado acionário, pôquer, política, baseball, saúde, apostas, xadrez, aquecimento global e terrorismo. Particularmente, por não entender muito de baseball, achei este capítulo enfadonho, assim como os últimos. Mas isto não impede de recomendar esta obra para quem deseja refletir sobre o assunto.

Mas este é um blog de contabilidade e aparentemente o assunto não nos interessa, certo? Errado. Cada vez mais a contabilidade depende da previsão nas informações. Veja o caso do teste de recuperabilidade, que exige a projeção do fluxo de caixa dos ativos. Ou quem sabe a estimativa dos passivos trabalhistas de uma entidade. Ou a possibilidade de reversão de uma série de prejuízos, utilizando um imposto diferido. São três exemplos de como estudar a questão da projeção é relevante. E o livro é uma boa reflexão sobre o assunto.


As suas 460 páginas passam rápido (na verdade, mais de 500 com as notas). A forma como Silver explica overfitting é fantástica e considero o ponto alto do livro. Com o subtítulo “Por que tantas previsões falham e outras não”, Silver consegue expor os principais problemas que enfrentam aqueles que desejam ter uma bola de cristal na sua mesa. O conhecimento de Silver inclui métodos quantitativos, mas também uma grande dose de bom senso. Afinal, na projeção o que importa é acertar. 

P.S. O autor da resenha adquiriu a obra com seus recursos.

Parceiros do blog:
Amazon Brasil
Americanas
Submarino

10 julho 2013

Erros de previsão

Com incertezas se acumulando no cenário macroeconômico — incluindo as flutuações do câmbio e as pressões das manifestações populares —, os especialistas têm cada vez mais dificuldade de acertar previsões sobre indicadores, como os resultados da produção industrial e a expansão do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de produtos e serviços produzidos).

Na última divulgação da produção industrial, na semana passada, nenhum dos 30 principais bancos listados pela Bloomberg acertou a queda de 2%. As previsões apontavam retração de 1,1%. No mês anterior, as projeções indicavam alta de 1%, mas o resultado foi de 1,9%.

No Banco Central, o fato de o IBC-Br, prévia da instituição para o PIB, ficar bem próximo do resultado oficial costumava ser exaltado e era estampado em documentos, como o relatório de inflação. Agora, com as divergências, o BC frisa que usa metodologia diferente da aplicada pelo IBGE, que afere o PIB oficial.

Especialistas afirmam que o cenário está mais complexo e isto eleva a volatilidade dos dados. (...)


O Globo - Com dólar, incentivos e manifestações, especialistas erram previsões econômicas

04 setembro 2012

Viés de projeção

No processo de projeção é comum imaginar que o futuro será semelhante ao presente. Denominamos este fator de viés de projeção. Um trabalho de Busse, Pope, Papa e Silva-Risso (via aqui) constata a presença deste viés no mercado de casa e de carro.

Usando informações de mais de quarenta milhões de transações de compra de automóveis e quatro milhões de dados de negociação de imóveis, os autores verificaram o efeito do clima nas decisões de compra. Os resultados são muito interessantes pois mostram que as pessoas são influenciadas pelo que está ocorrendo no momento da transação.

Se uma transação de compra de um imóvel ocorre no verão, o valor de uma casa com piscina ou com ar condicionado central é maior do que as negociações ocorridas no inverno. As pessoas quando estão negociando um imóvel no verão passam a dar mais valor para os bens que podem suavizar a influencia da temperatura elevada. O mesmo ocorre com os automóveis conversíveis, que são mais valorizados no verão.

Segundo os autores, os resultados mostram que o viés de projeção pode afetar outras decisões, como casar ou arrumar um emprego.

27 janeiro 2012

Mudança Histórica: FED adota sistema de metas de inflação

O banco central norte-americano está adotando uma postura que já é padrão para bancos centrais: estabelecer metas inflacionárias.

(Reuters) - The Federal Reserve took the historic step on Wednesday of setting an inflation target, a victory for Chairman Ben Bernanke that brings the Fed in line with many of the world's other major central banks.

The U.S. central bank, in its first ever "longer-run goals and policy strategy" statement, said an inflation rate of 2 percent best aligned with its congressionally mandated goals of price stability and full employment

Leia mais aqui.

14 janeiro 2012

Projeção 2

Ainda sobre projeção, o gráfico mostra a mesma questão para o SP500, o índice do mercado financeiro dos Estados Unidos. A série histórica é interessante (desde 1953), onde a projeção está na linha pontilhada e o valor real na linha contínua. É fácil de notar que o mundo real é muito mais instável do que o mundo das projeções. Os analistas tendem a achar que o risco do mercado é menor do que irá ocorrer.

Fonte da Imagem: Aqui

Projeção 1

O gráfico apresenta as projeções do Lucro por Ação de empresas dos Estados Unidos, de 1985 a 2008. Observe que as projeções realizadas por avaliadores são otimistas no início. Em alguns anos, a decepção com as projeções foi significativa, como ocorreu em 2008 (a última linha do gráfico), onde o valor projetado foi muito superior ao valor real. Poderíamos imaginar que isto ocorreu em razão da crise financeira. Mas se observarmos atentamente veremos que isto não foi uma exceção: pelo contrário, é uma regra.

O que poderia explicar isto? Talvez o viés do excesso de otimismo dos analistas?

Fonte da Figura: The Four Cornerstones of Corporate Finance, Tim Koller, Richard Dobbs e Bill Huyett, Wiley, 2011.

30 dezembro 2011

Previsões para o Ibovespa em 2012

Ontem, o Ibovespa estava em 57.510 pontos. Veja as projeções feitas no início deste ano para o Ibovespa em 2011, à época, o índice estava com 69.300 pontos:

Veja as projeção feitas para 2012:


Como diria Winston Churchill:

"A arte da previsão consiste em antecipar o que acontecerá e depois explicar o porque não aconteceu."

13 janeiro 2010

Previsão do Fluxo de Caixa

Mas não conte com os analistas para dizer onde o fluxo de caixa está indo. Acontece que que as previsões de Wall Street do fluxo de caixa não são muito precisas. Isso está de acordo com um novo estudo da Accounting Review, uma prestigiada publicação da American Accounting Association

“O erro de previsão média é mais que o dobro nas previsões de fluxo de caixa do que nas previsões para o lucro” disse Dan Givoly, um professor de contabilidade da Penn State e co-autor do estudo.

As conclusões são baseada na revisão de mais de 15 mil previsões de fluxo de caixa e lucro entre 1993 e 2005.

(...) A despeito disto, as previsões de fluxo de caixa tem tornado muito popular. Em 1993, Wall Street produziu previsões de fluxo de caixa de somente 2,5% das empresas que acompanhavam seus lucros. Em 2005, mais de 57% das empresas que receberam projeções de lucros tinham também projeções de fluxo de caixa.

Cash Flow Has Won Admirers, But Forecasting It A Challenge Earnings views err less than ones for cash flow; working capital swings - NORM ALSTER - INVESTOR'S BUSINESS DAILY – 7/1/2010

09 outubro 2009

Previsibilidade do mercado

O mercado de ações tem sido alvo de muitas pesquisas que visam identificar a presença de algum grau de previsibilidade nas séries de retornos. Dentro deste contexto desenvolveu-se a Hipótese do Caminho Aleatório. Sua aceitação ou rejeição traz implicâncias quanto a possibilidade de se conseguir prever, de alguma maneira, com base em retornos passados, os retornos futuros, tirando proveito disso para auferir rendimentos extraordinários. (...) Os resultados demonstraram uma aceitação da hipótese do caminho aleatório na maioria dos testes efetuados, o que traz implicações no sentido de que os índices analisados [SP 500 e Ibovespa] não possuem previsibilidade, apesar de terem algum tipo de tendência, de acordo com o significado dos processos estocásticos não estacionários (onde o caminho aleatório encaixa-se).

TESTES DE QUOCIENTE DE VARIÂNCIAS DO CAMINHO ALEATÓRIO NO IBOVESPA E NO S&P 500
Ana Ester Farias; Paulo Sergio Ceretta & Robson Machado da Rosa (UFSC)

08 outubro 2009

Jogos Olímpicos e Previsão do Mercado

A decisão de escolher o Rio de Janeiro para sede dos Jogos de 2016 pegou de surpresa os apostadores: o favorito era Chicago, a primeira cidade eliminada na escolha final.

Isto coloca em questionamento a utilização do mercado como preditor de eventos futuros. O uso do mercado tem sido defendido por alguns especialistas.

Um justificativa do erro da técnica é que o IOC, que escolhe a cidade sede, é um grupo aristocrático com baixa informação. Não seria possível obter informações agregadas confiáveis, necessárias a aplicação da técnica.

É questionável, já que o mecanismo é usado para prever a escolha dos vencedores do Oscar.

25 agosto 2009

Passado e Futuro

Palavra do Gestor: Com que precisão os analistas do mercado brasileiro conseguem prever o futuro?
Aquiles Mosca

Imagine dois grupos de estudantes de pós-graduação. O primeiro grupo é informado que um de seus professores irá para a Europa durante um ano para um período sabático. A esse primeiro grupo de estudantes é pedido para que escrevam o que imaginam que o professor fará durante o ano que está por vir. Um segundo grupo de estudantes recebe a informação de que o mesmo professor já fez um ano sabático na Europa e a esses alunos pede-se para que descrevam o que imaginam que o professor fez durante aquele período.

À primeira vista, não esperamos que haja uma diferença grande entre os relatos dos grupos, por se tratar de grupos representativos e realizando praticamente a mesma tarefa. No entanto, as diferenças verificadas nos relatos dos dois grupos foram relevantes. Os relatos de um passado imaginário foram muito mais detalhados e ricos quando comparados às tentativas de descrever o futuro. Estas últimas, sempre vagas e genéricas. Tal estudo, conduzido pela psicóloga canadense Janet Bavelas, e outros experimentos demonstram que temos mais facilidade de imaginar o que alguém fez em oposição ao que alguém fará. Ou seja, há uma nítida assimetria entre nossa habilidade de explicar o passado e nossa capacidade de prever o futuro. [1]

Uma vez que um evento tenha ocorrido, mesmo que seja algo extremamente raro, nós humanos temos facilidade de encontrar uma explicação plausível. Atentados terroristas como o de 11 de setembro de 2001 e grandes catástrofes aéreas são exemplos típicos, cujas sequências de eventos tornam-se bem conhecidas ao logo do tempo a ponto de serem facilmente assimiladas e até mesmo consideradas como previsíveis a posteriori. No entanto, mesmo na véspera, ninguém é capaz de prevê-los ou de evitá-los.

A teoria financeira comportamental denomina essa facilidade de explicar o passado de "viés retrospectivo" (do inglês, hindsight bias). A mídia financeira está repleta de especialistas sempre disponíveis para explicar os movimentos dos mercados no ano, mês ou na semana passada. Peça então para preverem o futuro e a explicação torna-se vaga e genérica, tal como no estudo acima. Qualquer pessoa consegue encaixar o passado em uma sequência de eventos perfeitamente racionais e intuitivos. Agora, prever o futuro é outra história.

Quão preciso é o mercado brasileiro na tentativa de prever o caminho que as principais variáveis econômicas e financeiras vão percorrer no futuro? Semanalmente, o Banco Central publica tais projeções no boletim Focus. Será que este conjunto de analistas consegue antecipar com alguma precisão e antecedência de 12 meses o PIB, a inflação, juros nominais e reais e o câmbio? Uma rápida olhada na diferença entre as previsões feitas 12 meses atrás e os valores efetivamente observados para essas variáveis revelam erros significativos, entre 40% e 12%. Além disso, para duas dessas variáveis, juros nominais e reais, a média das expectativas dos especialistas foi incapaz sequer de prever a direção em que elas iriam se deslocar. Há um ano, previam aumento dessas variáveis, quando na verdade vimos recuo significativo de ambas. A mesma tendência foi observada para os "Top 5", em princípio os mais precisos em suas previsões, ainda que com um desvio menor. [2]

Muitos dirão que nesse período o mundo foi assolado pela crise financeira e que isso torna as previsões menos precisas. No entanto, para outros períodos no qual predominou maior normalidade (como entre 2003 e 2007), ou seja, sem uma crise tão grave, a margem de erro das previsões também revelou-se grande. No frigir dos ovos, o que mexe com o mercado é exatamente o inesperado! Tudo que é previsível e aguardado não altera as cotações. Já está em grande medida embutido nas expectativas das variáveis econômicas e nos preços dos ativos. A oportunidade de ganhos está em antecipar o que os demais ainda não veem, em fazer isso mais rápido e de maneira mais eficiente que os demais e em traduzir isso em posicionamentos nos ativos certos, na "ponta" certa (comprado ou vendido) antes que os demais o façam. Nesse aspecto, o boletim Focus do Banco Central atua mais como uma fotografia do sentimento reinante na economia em determinado momento do que como uma fonte confiável de previsões desses indicadores ou mesmo da tendência que deverão assumir no futuro.

Durante o planejamento de voo da missão Apollo 11 para a lua, a NASA definiu como margem aceitável de erro nas primeiras estimativas e cálculos em 1961 o nível de 1%, que foi então reduzido para 0,5%, 0,2% e, finalmente 0,05% em 1969, ano do famoso primeiro vôo à lua. [3] Se a NASA precisasse contar com a precisão das previsões do boletim Focus, o voo da Apollo 11 provavelmente não teria alcançado a altura de um balão de festa junina...

Valor Econômico


[1] Talvez por isto os contadores não gostam de fazer previsão do futuro. Mas a questão não é tão simples assim. O processo de previsão está continuamente em ajuste.
[2] Isto vale uma pesquisa mais científica para testar esta hipótese. O resultado depende do desvio-padrão da amostra. Consequentemente, a afirmação do texto pode não ser verdadeira.
[3] O nível aceitável de erro depende de vários fatores, inclusive do que estamos medindo. Esperar um nível pequeno em ciências humanas é algo difícil exatamente pela complexidade do ser humano. A comparação não é válida.

14 agosto 2009

Previsão na Crise

Crise torna mais difícil fazer previsões
Carl Bialik, The Wall Street Journal
Adivinhar o futuro ficou muito mais difícil nos últimos tempos.

Previsões para quase tudo, do preço da gasolina a gastos com publicidade, desmoronaram no ano passado diante do choque econômico causado pela recessão. A onda de opacidade nas bolas de cristal ressalta uma realidade inconveniente sobre o negócio de prever o futuro: quanto mais importante é o cenário, mais difícil antevê-lo.

"Assim que você colocar a previsão no papel, algo inesperado vai acontecer", diz Tancred Lidderdale, economista sênior da Administração de Informações sobre Energia, órgão do governo americano. "A melhor perspectiva de quem prevê algo é que as boas notícias imprevistas compensarão as más notícias imprevistas."

Essa estratégia não deu muito certo no ano passado para Lidderdale e outros profissionais do ramo de previsões. Em dezembro de 2007, a agência dizia que o petróleo referencial dos EUA oscilaria entre US$ 75 e US$ 85 por barril em 2008. Em vez disso, a commodity passou de US$ 130 no meio do ano e caiu para US$ 41 em dezembro.

Na mesma época, uma previsão importante da indústria hoteleira dizia que a taxa de ocupação dos hotéis no quarto trimestre do ano passado ficaria praticamente inalterada em relação ao mesmo período de um ano antes. A ocupação acabou caindo 8%.

E a Veronis Suhler Stevenson, firma que faz previsões sobre a receita publicitária bastante acompanhadas, tomou a medida sem precedentes de revisar sua estimativa no meio do ano, depois que a previsão de expansão anual de 2,4% que havia divulgado se mostrara totalmente errônea; no fim das contas a receita caiu 2,9%.

Os autores dessas previsões, que publicaram autocríticas, se destacam em relação aos colegas do ramo não por causa dos grandes erros, mas pelas tentativas de acompanhar o próprio histórico de precisão. Muitas previsões de receita não são ponderadas pelo reconhecimento do desempenho de previsões anteriores. "Há uma escassez generalizada de pensamento quantitativo entre os profissionais que estabelecem e avaliam essas previsões", diz Len Tashman, editor da revista setorial "Foresight".

Entre os que realmente acompanham o desempenho de suas previsões, fica claro que o desempenho geralmente não é melhor do que o de um simples algoritmo. Eles também têm que enfrentar uma dose dupla de incerteza, a primeira proveniente de sua própria incerteza em relação ao setor em que trabalham, e a segunda oriunda dos possíveis erros nos cálculos de outras previsões das quais dependem para tecer suas próprias conclusões - especialmente em relação a tendências econômicas mais amplas.

Às vezes a previsão nem mesmo trata do futuro, dizem alguns pesquisadores. O verdadeiro objetivo de algumas previsões, diz Kesten Green, que estuda essa área na Universidade Monash, em Melbourne, Austrália, às vezes é apavorar a equipe de vendas ou alarmar o suficiente a opinião pública para motivar alguma ação. [1]

Alguns autores entendem que a exatidão das previsões é algo relativo e que depende do método usado. [2] Jack Corgel, professor de ativos imobiliários da Universidade Cornell, de Ithaca, nos EUA, e consultor sênior da PKF Hospitality Research, avaliou o histórico da PKF em prever indicadores do setor hoteleiro em 2005. Ele usou a variação entre as previsões da firma e os números oficiais. Corgel diz que a empresa acertou entre 98% e 99,9% das várias previsões que fez sobre o mercado hoteleiro americano.

Alcançar essas metas é fácil, especialmente diante da metodologia empregada para identificar os acertos. Basicamente, Corgel disse que se as previsões errarem em 1%, significa que elas acertam 99% das vezes. Não há nenhum problema em adotar esse sistema; mas suponha que a receita do setor hoteleiro por quarto se alterne de US$ 100 a US$ 102 ao longo dos anos, e que as previsões indiquem receita média de US$ 101. Assim, a estimativa sempre terá um índice de acerto de ao menos 99%, mas nunca informará aos donos de hotéis quando os números caem ou sobem.

Um padrão melhor, dizem os responsáveis pelas previsões, seria comparar os dados com alternativas confiáveis, como um padrão contínuo de expansão. Se o padrão corrobora seus dados, então você está no caminho certo.

Corgel diz que o setor hoteleiro prefere o seu tipo de avaliação, que não envolve testes como esse. Ele acrescenta que planeja realizar uma nova avaliação das previsões mais recentes. "Toda vez que começamos a seguir esse padrão, acontece alguma coisa", diz ele, citando a recessão como o choque imprevisto mais recente. "Se pudéssemos prever os choques, seríamos um bando de gênios", disse Corgel.

A recessão também colaborou para o tropeço do governo americano na hora de prever o cenário de curto prazo da cotação do petróleo. Agora a agência decidiu que divulgar suas incertezas é "um projeto da maior prioridade", diz Lidderdale. A partir do mês que vem algumas previsões vão contar com probabilidades, para que os traders de commodities saibam qual é possibilidade de a previsão errar feio - isso se admitirmos que os autores sabem prever qual é a probabilidade de que suas próprias estimativas vão errar o alvo.

A Administração Federal da Aviação Civil dos EUA errou várias vezes nos últimos dez anos quando tentou prever com dez ou mais anos de antecedência qual seria a demanda por viagens aéreas, previsão importante para que aeroportos e fabricantes de aviões se preparem para o futuro. Nan Shellabarger, diretora do departamento de política e planejamento da agência, aponta os atentados de 11 de setembro de 2001 e a atual recessão como choques que não foram possíveis de prever.



Grifo meu.
[1] Este é um aspecto da previsao que geralmente passa desapercebido.
[2] Isto é muito dificil de ser comprovado.