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08 fevereiro 2022

O que usamos para mensurar?


No passado tínhamos um jargão: custo como base de valor. Entre a consistência de medir todos os elementos do patrimônio por um único método e escolher o melhor método para cada caso, a contabilidade indicava o primeiro caso. 

A adoção das normas internacionais de contabilidade muda esta filosofia. Agora o que importa é escolher a "melhor" medida em cada situação. É bem verdade que o termo melhor pode ter várias interpretações; para as normas, corresponde a melhor representação de cada situação. Mas já discutimos aqui que nem sempre isto deveria significar a representação fiel. 

A tabela acima é o resultado preliminar de uma pesquisa realizada por Acilon Souza, para sua tese de Doutorado. Mostra as quatro possibilidade de mensuração, para as companhias abertas, ao longo de 2014 a 2019. Apesar de custo não ser mais a base de valor, ainda é a forma de mensuração mais usada: quase 3/4 dos casos. O valor justo está presente em 17% dos casos e o restante divide entre valor presente e MEP. 

Lucro da Apple é de 100 bi no ano

 



Como a pandemia fez bem para a Apple. O gráfico mostra que o lucro da empresa explodiu, sendo 35 bilhões no último trimestre. 

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Os piores do ano no Framboesa

Custo de logística da Amazon dispara

Ronaldo, jogador de futebol de Portugal, possui 400 milhões no Instagram

06 fevereiro 2022

Aramco pode emitir mais ações


A Arábia Saudita retomou os planos de listar mais ações da Aramco, a petroleira mais valiosa do mundo, segundo pessoas familiarizadas com a estratégia. O governo quer vender até US$ 50 bilhões em papéis da empresa, o que representa cerca de 2,5% de participação na estatal.

(...) A listagem de ações seria, de longe, a maior da história do mercado de capitais e poderia ser difícil de ser realizada. A empresa estabeleceu o recorde anterior de maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do mundo em 2019, quando levantou US$ 29,4 bilhões na Tadawul, ou bolsa de valores saudita.

(...) A listagem de 2019 foi uma versão reduzida das ambições originais da empresa, que planejava vender 5% da empresa por até US$ 100 bilhões, inclusive em uma grande bolsa internacional. Mas os investidores internacionais desconfiaram das questões de governança e do preço das ações, que avaliaram a empresa em US$ 1,7 trilhão. O IPO apenas doméstico acabou listando 1,5% da petroleira.

Via aqui

Anteriormente, a Arábia Saudita teve problemas em lançar as ações no exterior por conta do preço do petróleo e da questão política - leia-se o assassinato de Jamal Khashoggi. Os planos originais incluíam uma grande bolsa internacional. Mas o governo teve que contentar com uma IPO doméstica, onde as compras de ações ocorreram por pressão do governo.

O momento político mudou: a pressão sobre o governo já não existe mais. Além disto, há sinais de uma crise energética em um futuro próximo; alguns dizem que esta crise é decorrência das questões ambientais. A crise da Rússia e Ucrânia pode ajudar. 

Em termos de lucro, a Aramco é muito lucrativa; sua estrutura é relativamente enxuta e o custo de produção é muito baixo, o que faz com que o ponto de equilíbrio seja muito interessante. 

Leia mais aqui

Rir é o melhor remédio

 

Imposto explicado neste vídeo

05 fevereiro 2022

História da Contabilidade: Academia de Comércio do Piaui, em 1944


Em 1944, no jornal Gazeta, edição 1474 (e outras edições), a Academia do Comércio do Piauí publicava um Aviso para Matrícula, com os seguintes dizeres:

Os diretores da Academia de Comercio do Piauí (1), avisam aos interessados que, de hoje a 14 de março próximo estarão abertas neste estabelecimento as matriculas (2) para o CURSO COMERCIAL BASICO (Antigo Propedêutico), para o CURSO DE CONTADOR (3) (2a. e 3a. séries) e para os CURSOS TÉCNICOS DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE.

Para a matrícula nos dois últimos cursos deverá o candidato apresentar os seguintes documentos:

a) certificado de conclusão do antigo curso propedêutico; certificado de conclusão do curso ginasial, diploma do curso normal, ou, ainda, certificado de conclusão do 1o. ciclo do curso normal (inciso II do artigo 21 da nova lei organica do ensino comercial);

b) atestado de sanidade (4), de que conste não sofrer o candidato de moléstica infeto-contagiosa, inclusive do aparelho visual;

c) atestado de vacinação ou revacinação (5) recente. (...)

Algumas poucas observações:

(1) Academia de comércio - este termo tornou-se popular a partir da chegada da família Real. Correspondia a mesma academia aberta por Pombal em Portugal, que no Brasil foram abertas em várias cidades a partir de 1808. Sem dúvida, tornou-se parâmetro para o ensino comercial no país

(2) Vejam a divisão dos cursos. Recentemente publicamos um esclarecimento sobre a estrutura de curso existente no Brasil.

(3) A terminologia Contador não significa curso superior aqui, obviamente. 

(4) o termo "sanidade" não possui relação com doença mental

(5) o atestado de vacina era uma exigência. 

História da Contabilidade: venham verificar o que eu fiz


 Anúncio de 1941, na cidade de Vitória, Pernambuco. O Escritório de Contabilidade pede aos clientes para "virem verificar os seus trabalhos no fim de cada mês". O jornal é O Vitoriense.

Rir é o melhor remédio


 Fiscalização do imposto de renda

04 fevereiro 2022

Facebook e o fracasso da sua criptomoeda


Há alguns meses, o Facebook anunciou com grande alarde a criação de uma moeda. Em parceria com algumas empresas com nome na área financeira, como Paypal e Visa, a empresa que possui uma grande participação nas redes sociais, parecia ser uma ameaça para os bancos tradicionais e os próprios bancos centrais.

Se o surgimento da moeda foi notícia, quase não se fala do seu fracasso. Um artigo do The Washington Post , de autoria de Elizabeth Dwoskin e Gerrit De Vynck, deixa claro que os problemas da moeda estão relacionados com conflitos internos e questões regulatórias:

Diem foi efetivamente condenado desde o início, disseram pessoas familiarizadas com o tema. Foi anunciado em 2019, com grande alarde, sob o nome de Libra. Os governos estrangeiros, os membros do legislativo e reguladores expressaram medos sobre o projeto de imediato, dizendo que o Facebook não estava preparado para resolver as preocupações com lavaem de dinheiro, proteção ao consumidor e outros riscos financeiros em potencial.

É bom lembrar que meses antes a empresa tinha sido um grande fracasso em controlar a manipulação da rede durante as eleições e existiam denúncias de venda de informações dos usuários para a Cambrigde Analitys. Afinal, como confiar um tema tão sensível à uma empresa com tão baixa credibilidade? Agora temos o seguinte:

Dois anos depois, após uma mudança de nome para Diem e uma revisão do projeto, para que fosse atrelado ao dólar dos Estados Unidos, criando mais estabilidade, [o projeto] enfrentou uma resistência maior dos reguladores, que disseram que a empresa agia de maneira arrogante. 

Alguns chegam a dizer que a reputação e confiança condenaram o projeto desde o início. Diversos episódios fortaleceram esta análise, como o ataque ao Capitólio e monitoramento da rede em diversos países. 

Foto: Kate Winegeart

Sobrepeso e corrupção

The more overweight the government, the more corrupt the country, according to a new study of 15 post-Soviet states. The study’s author, Pavlo Blavatskyy of Montpellier Business School in France, used an algorithm to analyse photographs of almost 300 cabinet ministers and estimate their body-mass index (BMI), a measure of obesity.

O estudo já não é tão recente, mas a conclusão é inusitada. Via The Economist

O uso inexplicável de uma tecnologia


Como o uso da tecnologia pode ter uma razão inexplicável. Eis um caso: 

Em 2018, a equipe do Facebook tinha um quebra-cabeça nas mãos. Os usuários cambojanos representavam quase 50% de todo o tráfego global da função de voz do Messenger, mas ninguém na empresa sabia o porquê, de acordo com documentos divulgados pela denunciante Frances Haugen.

Um funcionário sugeriu a realização de uma pesquisa, de acordo com documentos internos visualizados por Resto do mundo Tinha a ver com baixos níveis de alfabetização. eles se perguntaram? Em 2020, um estudo do Facebook tentou perguntar aos usuários em países com alto uso de áudio, mas só conseguiu encontrar um único entrevistado do Camboja, mostraram os mesmos documentos. O mistério, ao que parecia, permaneceu sem solução.

Surpreendentemente, a resposta tem menos a ver com o Facebook e mais com a complexidade da linguagem Khmer, e com a maneira como os usuários se adaptam a uma tecnologia que nunca foi projetada com eles em mente.

No Camboja, todos, desde motoristas de tuk-tuk até Primeiro Ministro Hun Sen prefere enviar notas de voz em vez de mensagens. O estudo do Facebook revelou que não eram apenas os cambojanos que favorecem as mensagens de voz - embora em nenhum outro lugar fosse mais popular. No estudo, que incluiu 30 usuários da República Dominicana, Senegal, Benin, Costa do Marfim e o único cambojano, 87% dos entrevistados disseram que usavam ferramentas de voz para enviar notas em um idioma diferente daquele definido em seus aplicativos. Isso aconteceu no WhatsApp - a plataforma mais popular entre os entrevistados - junto com o Messenger e o Telegram.

No caso do Camboja, nunca houve uma maneira fácil de digitar Khmer. Enquanto Khmer Unicode foi padronizado bastante cedo, entre 2006 e 2008, o próprio teclado ficou para trás. Os desenvolvedores do primeiro teclado de computador Khmer tiveram que acomodar os 74 caracteres do idioma, o máximo de qualquer script do mundo.

Fonte: aqui

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 Emprego informal e seguro imperfeito no Brasil

Onde a criptomoeda é mais usada? (mapa acima)

Computação quântica tem futuro? - parece que não e isto pode estar retirando dinheiro de outras pesquisas

Financiando ciência via Vale do Silício

Rir é o melhor remédio


 Quando você cita o blog

03 fevereiro 2022

Crime precisa ter um bom contador?


Usando dados da máfia italiana, a resposta é SIM. Eis o abstract: 

We investigate if organized crime groups (OCG) are able to hire good accountants. We use data about criminal records to identify Italian accountants with connections to OCG. While the work accountants do for the OCG ecosystem is not observable, we can determine if OCG hire “good” accountants by assessing the overall quality of their work as external monitors of legal businesses. We find that firms serviced by accountants with OCG connections have higher quality audited financial statements compared to a control group of firms serviced by accountants with no OCG connections. The findings provide evidence OCG are able to hire good accountants, despite the downside risk of OCG associations. Results are robust to controls for self-selection, for other determinants of auditor expertise, direct connections of directors and shareholders to OCG, and corporate governance mechanisms that might influence auditor choice and audit quality.

O paper pode ser acessado aqui, via aqui. Foto: Rezaei

Um exemplo de decisão empresarial ruim


As livrarias estão lotadas de obras descrevendo decisões sábias das empresas. Mas poucas obras analisam os erros. A vida empresarial é feita de muitos erros e poucos acertos. Mas os empresários de sucesso divulgam os "grandes" acertos, que muitas vezes é muito mais sorte do que uma decisão pensada e planejada. 

Gosto muito do exemplo a seguir, da Yahoo, se bem que são várias decisões ruins. Vejamos

1998 - a Yahoo recusa comprar o Google por US$1 milhão

2002 - a Yahoo oferece comprar o Google por 3 bilhões, mas o Google queria 5 bilhões. A Yahoo recusou a oferta

2006 - Yahoo quer comprar o Facebook por 1,1 bilhão, mas seu CEO baixou a oferta para 800 milhões e o Facebook recusou

2008 - A Microsoft ofereceu comprar a Yahoo por 44,6 bilhões, mas a empresa recusou

2016 - A Verizon comprou a Yahoo por 4,6 bilhões. 

Da mesma empresa, comprou Tumblr por 1,1 bilhão e vendeu por 3 milhões, seis anos depois.

Links

 

Quase todos os sites estão presos em um sistema de capitalismo de vigilância, no qual roubam dados ou dependem de tecnologia que rouba dados." - sobre as razões dos principais meios de comunicação não lutarem pela regulamentação da publicidade de vigilância

Com inflação oficial de 36%, o presidente da Turquia demitiu a pessoa responsável pelo cálculo da inflação

Quem é Joe Rogan, que causou um grande problema com suas opiniões (ou fake news) para o Spotify



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 Estudando contabilidade 

02 fevereiro 2022

IPSASB propõe mudanças na EC do Setor Público


A entidade que emite normas para o setor público, o IPSASB, está propondo diversas alterações na Estrutura Conceitual. Parte das mudanças reflete as alterações ocorridas em 2018 na Estrutura do Iasb, na qual as normas do setor público são inspiradas. 

A proposta ainda está na fase da minuta, mas podemos destacar aqui quatro alterações relevantes.  

Prudência - O antigo termo conservadorismo sempre foi marcado por polêmica e a mudança de nome, para prudência, não eliminou os problemas. Há uma acusação que o excesso de prudência pode descaracterizar a mensuração contábil e impedir a representação fiel. Se a presença da prudência traz problemas, a ausência pode ser muito pior. Os políticos perceberam isto durante a crise de 2008 e pressionaram para que o termo estivesse presente na estrutura conceitual. Além disto, incorporar a prudência na Estrutura é reconhecer algo que já fazemos na prática: o teste de recuperabilidade e o custo ou mercado são situações práticas onde a prudência domina. 

As cabeças pensantes do Iasb e do Fasb apostaram na neutralidade. Mas em 2018, o termo retorna na EC do Iasb de uma forma torta e confusa. Sem retirar a representação fiel e a neutralidade, o Iasb disse que seria possível a convivência com a prudência. O IPSASB resolveu bater na mesma tecla e repetiu a dose na proposta: a neutralidade é suportada pelo exercício da prudência e isto significa o exercício da cautela quando fazer julgamentos em condições de incerteza - ou seja, sempre. 

Nesta situação, a prudência não seria subestimar as receitas e ativos, nem subestimar as despesas e passivos. Mas como fazer esta mágica não é explicado. Talvez o Iasb quisesse dizer: seja conservador, ma non tropo. Na proposta, os argumentos se repetem nos itens 3.14 e 3.15. Mas mais adiante, no item BC3,16 e 17, o IPSASB reconhece que a não inclusão da prudência nas características qualitativas da informação é problemática. 

Materialidade - Assim como o conservadorismo perdeu terreno para a representação fiel, a materialidade também cedeu espaço para relevância. Mas uma vez que o próprio Iasb está revendo o termo em termos da preparação das demonstrações e no âmbito dos erros e estimativas, através da emenda ao IAS 1 e IAS8, o IPSASB resolveu acrescentar algumas mudanças neste sentido. Mais ainda, o IPSASB considerou que o termo obscuring information é importante para o setor público. 

A própria entidade entende que em lugar de ser uma restrição, a materialidade é um aspecto qualitativo. Mas de forma incoerente, manteve a materialidade como subitem de restrição. 

Ativo - os chamados elementos são essenciais para a contabilidade. A definição de ativo, para o setor público, seria de "um recurso controlado presentemente pela entidade, como um resultado de eventos passado". A definição proposta não inclui nenhum termo que possa lembrar "fluxo esperado". E assim como o Iasb, mantém os três elementos: recurso (recurso econômico no caso do Iasb), controle e eventos passados. Há outras pequenas diferenças, como o fato do Iasb usar "past events" - no plural - e o IPSAB usa o termo no singular. 

Passivo - o termo passivo agora enfatiza a transferência de recursos como resultado de eventos passados. As diferenças entre a definição do Iasb e do IPSASB são similares as listadas anteriormente, para o ativo. Diante da mudança da definição, há uma mudança no texto sobre os critérios relacionados com o termo. 

Fortalecendo o ISSB


Em meados do ano passado, a Fundação IFRS anunciou que estava interessada em criar uma entidade que pudesse trabalhar, de forma exclusiva, com a questão da sustentabilidade. A oficialização desta entidade aconteceu durante o encontro ocorrido em novembro, na Escócia, quando foi anunciada a criação da ISSB. 

Um dos pontos sobre o processo de criação é que a nova entidade parecia ser mais uma, dentre as dezenas existentes, que trabalham com a regulação de evidenciação na área ambiental, social e de governança. Assim, um dos desafios era a legitimação da entidade e, por consequência, do seu trabalho. A nova entidade conseguiu resolver em parte este problema: duas entidades prometeram se juntar ao trabalho da ISSB. A primeira entidade é a Value Reporting Foundation, cuja associação está marcada para meados de 2022. A segunda entidade é a Climate Disclosures Statements Board (CDSB), menos conhecida, mas que oficializou o matrimônio com a ISSB agora. Uma das vantagens para o ISSB é que a entidade pode usar o trabalho já realizado pelo CDSB e VRF, enquanto não produz suas próprias normas. Previsto para começar a funcionar na metade do ano, a produção de normas para áreas tão complexas pode demorar um pouco. 

Somente no final do ano é que o Chairman foi escolhido. Em janeiro, a vice também foi anunciada e neste mês, fevereiro, começam as entrevistas para preencher as cadeiras que faltam. 

Foto: Sandy Millar

Climate Disclosure Standards Board (CDSB)

Fundos ESG e a manipulação da ingenuidade do investidor

Investir em fundos que sejam sustentáveis, com empresas de elevada governança e cuidado com os recursos humanos, passou a ser a nova moda do mercado. Segundo Lance Roberts, The Epoch Times (via aqui) o assunto ESG em Wall Street virou sinônimo de roubo de investidores ingênuos. Se em 2008 os fundos ESG correspondiam a zero por cento do total de fundos, hoje o valor investido é superior a 16 trilhões. Significa que Wall Street mudou? Provavelmente não, pois parece não passar de um modismo, segundo os dados de Roberts.

Na tabela, lado esquerdo, um fundo com "ESG" no nome e sua carteira. No lado direito, um fundo normal. O primeiro cobra uma taxa de 0,25% e o segundo 0,09%, mas a composição é praticamente a mesma. Muitos dos fundos sequer inclui o risco de desmatamento na análise. Outro dado, o BNP Paribas é o principal financiador de combustível fóssil, mas possui "investimentos sustentáveis" para seus clientes. Finalmente, um último dado: dos 253 fundos que mudaram seu foco para ESG, em 2020, nos Estados Unidos, 87% foram simplesmente renomeados, incluindo palavras como "sustentável" ou "verde" no nome, sem mudar sua carteira.