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18 dezembro 2025

Natal, presentes e mulheres

Eis o novo texto de Tim Harford

A primeira frase de Little Women, de Louisa May Alcott, é “O Natal não será Natal sem presentes”, enquanto o conto The Good Fairy, de Harriet Beecher Stowe, publicado em 1850, trata de presentes de Natal e, mais especificamente, de mulheres tentando ajudar umas às outras a descobrir como lidar da melhor forma com a tarefa de escolhê-los. É, portanto, um sinal da lentidão de raciocínio deste colunista que, após 20 anos escrevendo sobre a economia do Natal, ele só agora tenha percebido a conexão entre presentes de Natal e mulheres.

O estudo clássico sobre esse tema foi publicado no Journal of Consumer Research em 1990, por Eileen Fischer e Stephen J. Arnold. Fischer e Arnold entrevistaram quase 300 pessoas sobre suas atitudes e comportamentos em relação à troca de presentes nessa época do ano. Muitos homens se recusaram a responder, sugerindo que não sabiam nada sobre o assunto e que os pesquisadores deveriam entrevistar suas esposas.

Os homens que aceitaram responder às perguntas eram presumivelmente mais progressistas do que aqueles que se recusaram, mas, ainda assim, os resultados foram contundentes: as mulheres compravam presentes para um número maior de pessoas (mais da metade a mais) e começavam as compras mais cedo. Elas também demonstravam maior cuidado, dedicando mais tempo por pessoa, gastando menos dinheiro e, ao que tudo indica, oferecendo menos presentes que precisavam ser devolvidos ou trocados. Comprar, escolher e embrulhar presentes de Natal era amplamente considerado um trabalho feminino.

(Um estudo posterior, publicado no Journal of Consumer Marketing por Michel Laroche e colaboradores, também concluiu que as mulheres começavam a comprar presentes de Natal muito mais cedo no ano, eram mais diligentes na busca de informações sobre os produtos disponíveis e concluíam a tarefa mais rapidamente.)

Os homens, por sua vez, tendiam a comprar presentes que proporcionavam prazer tanto a eles próprios quanto aos demais. Qualquer mulher cujo namorado ou marido já lhe tenha presenteado, com a melhor das intenções, uma lingerie elaborada porém pouco prática certamente reconhecerá a situação; esses “autopresentes” também incluem brinquedos para as crianças que o pai acha que será divertido usar.

Para os homens, os presentes de Natal são ou um problema de outra pessoa, ou algo frívolo e divertido. Muitas mulheres talvez não os vejam exatamente dessa forma.

Em 1984, o sociólogo Theodore Caplow publicou um estudo etnográfico sobre os rituais de Natal em Muncie, Indiana. Caplow descreveu um conjunto complexo de regras não escritas, às quais a maioria dos lares aderiam, embora ninguém jamais as tivesse visto claramente formuladas. Várias dessas regras diziam respeito ao papel das mulheres: “As mulheres eram muito mais ativas como doadoras de presentes do que os homens e faziam praticamente todo o trabalho de embrulhá-los”; e outra constatação impactante: “Embora as mulheres casadas fossem em grande parte responsáveis pela compra dos presentes de Natal, elas não favoreciam seus próprios parentes em detrimento dos parentes de seus maridos.”

Em outras palavras, muitas esposas eram responsáveis por comprar presentes não apenas para seus próprios pais, irmãos, sobrinhos e sobrinhas, mas também para os parentes de seus maridos. Caplow acrescentou que 57% das mulheres eram as únicas responsáveis por embrulhar os presentes, contra apenas 16% dos homens. Em um estudo ligeiramente anterior, Caplow também concluiu que as mulheres eram responsáveis, sozinhas ou em conjunto com outra pessoa, por 84% de todos os presentes. Suspeita-se que a maioria dos presentes “conjuntos” de casais casados fosse, na prática, organizada pelas esposas; mas, mesmo excluindo os presentes conjuntos, as mulheres foram responsáveis por mais do que o dobro de presentes em comparação aos homens.

Até que ponto devemos levar a sério estudos sobre papéis de gênero que têm décadas de idade? Afinal, como descreve Corinne Low em seu novo livro Femonomics, muita coisa mudou nas últimas décadas. Em 2015, mulheres norte-americanas entre 25 e 45 anos trabalhavam, em média, cerca de 10 horas semanais a mais em empregos remunerados do que em 1975, e cerca de 10 horas semanais a menos em tarefas domésticas. Não deveríamos esperar que essas antigas atitudes em relação à organização do Natal simplesmente desaparecessem?


Talvez não. Low observa que as mulheres também dedicam seis horas semanais a mais aos cuidados com os filhos. (A participação dos homens no cuidado infantil aumentou, mas menos e a partir de um patamar muito inferior.) E as contribuições para o trabalho doméstico permanecem teimosamente desvinculadas de incentivos econômicos: “Um homem que ganha apenas 20% da renda familiar faz aproximadamente a mesma quantidade de trabalho doméstico que um homem que ganha 80%!”, escreve Low.

m todo caso, argumenta o economista Bernd Stauss em um capítulo de livro publicado em 2023, intitulado “Gifts and Gender: Santa Claus is a Woman”, há algo particularmente resistente nos papéis de gênero no Natal. Stauss revisa a literatura e conclui que as mulheres ainda parecem ser as responsáveis por comprar os presentes conjuntos e embrulhar todos os presentes. Por quê? Talvez porque muitos presentes, especialmente aqueles comprados por mulheres, estejam ligados à manutenção das relações com a família extensa (ou, como dizem os sociólogos, ao kin keeping). Ao longo do ano, são frequentemente as mulheres que fazem as ligações telefônicas e organizam as visitas familiares; no Natal, isso se estende à escrita dos cartões de Natal e à coordenação da agenda de visitas e recepções — e, naturalmente, ao gerenciamento dos presentes.

Como observa Caplow, as regras não escritas que regem esses presentes são surpreendentemente complexas. Os presentes devem corresponder ao valor (também não escrito) da relação. Um genro ou uma nora deve receber um presente de valor equivalente ao do parente consanguíneo com quem se casou; seria extremamente constrangedor dar um presente mais valioso a uma sobrinha do que a uma filha, ou oferecer presentes muito diferentes a dois filhos; os pais podem dar dinheiro aos filhos, mas nunca o contrário, mesmo quando todos já são adultos. Essas regras constituem um verdadeiro campo minado social, e detonações acidentais não são incomuns. De frívolo e divertido, isso não tem nada.

Isso não significa negar que algumas pessoas apreciem todo esse processo. (Apesar dos meus alertas anuais contra a troca de presentes excessiva e desperdiçadora no Natal, confesso que tenho certa afeição pela tarefa.) O ponto, porém, é que escolher e embrulhar presentes de Natal é um trabalho que parece opcional para os homens, enquanto para as mulheres as pressões sociais tornam essa tarefa praticamente obrigatória.

As mulheres que se ressentem dessa responsabilidade desigual dispõem de algumas táticas de “terra arrasada”, incluindo a recusa direta ou, no caminho escolhido por Corinne Low, divorciar-se do marido e casar-se com uma mulher. Se isso parecer radical demais, sempre existe a alternativa de uma conversa franca acompanhada de uma lista de tarefas “dele e dela”.

Ou simplesmente sorrir e suportar. Fischer e Arnold entrevistaram várias mulheres que “descreveram suas compras em termos que indicavam que, em suas mentes, tratava-se de um trabalho real, que precisava ser realizado de forma eficiente e eficaz”.

Um Natal eficiente e eficaz! Isso soa como uma tarefa para um economista — e para minha próxima coluna.

11 agosto 2013

Rir é o melhor remédio


Darryl (pai): Me pergunto se isto é uma ferrari?
Hammie: Não. ë um porta clipes de argila para o seu escritório. Fiz na escola.
Pai: E isso são chaves para a ferrari?
Zoe: Não, é uma carteira de fita adesiva da loja de 1,99.
Pai: Com certeza isto é uma ferrari!
Zoe e Hammie: É uma gravata que tivemos que comprar porque o Wren mastigou a ponta dela na loja!
Zoe: E isto também não é uma ferrari.
Hammie: É uma foto nossa para colocar na sua carteira.
Zoe, Hammie e Wren: FELIZ DIA DOS PAIS!

Wanda (mãe): Quer que eu troque essas coisas por uma ferrari?
Pai: Sem chance!

Baby Blues por Rick Kirkman & Jerry Scott

15 dezembro 2011

Presentes e Renda Per Capita

O gráfico a seguir foi publicado na The Economist (via aqui). Apresenta a relação entre renda per capita (eixo x) e volume de gasto com presente de natal (eixo y).


A relação é forte, mas é interessante observar os casos fora do padrão normal (os “outliers”). Observe a Holanda (Netherlands, no gráfico), que possui elevada renda per capita, mas seus habitantes gastam pouco com os presentes. No outro extremo, a Irlanda se destaca. Países latinos (Portugal, Espanha e Itália) parecem que são mais consumistas. Estes quatro países citados anteriormente fazem parte dos PIGGS, países europeus com dificuldades financeiras.

18 fevereiro 2009

A racionalidade dos presentes

Alguns trabalhos já analisaram os presentes sob a ótica da racionalidade econômica (aqui e aqui e aqui, por exemplo). A conclusão destes trabalhos, para os economistas clássicos, é que dar presentes não é racional. Na realidade, o ato de presentear introduz, na economia, ineficiência. O mais adequado seria dar o dinheiro para quem desejamos agradar e esta pessoa decidiria aquilo que gostaria de comprar.

Em certo sentido, a instituição da vale presente por algumas lojas resolve um pouco este problema, desde que o objeto necessário esteja no estoque da empresa.
Entretanto, apesar da posição da teoria, as pessoas continuam usando o ato de presentear em diversas ocasiões: aniversário, casamento, natal, dia das mães e dias dos namorados.

Suponha, por exemplo, um presente para a namorada. E se em lugar de comprar um vestido ou uma jóia o namorado desse o valor corresponde, digamos R$200, em dinheiro?
Isto provavelmente seria classificado com um gesto não romântico. Mas existem algumas razões para que o ato de presentear seja “racional”. Em primeiro lugar, presentear representa uma sinalização por parte do namorado. É como se ele pudesse dizer: “eu posso oferecer mais para você”. É um gesto remoto aos tempos da caverna, mas que ainda é válido nos dias de hoje.

Segundo, certos presentes podem ser considerados, cinicamente, um investimento. Considere a escolha entre o convite para o jantar num restaurante caro ou, como alternativa, o dinheiro que seria consumido na refeição. Mas sair representa mais do que o consumo de um serviço. Existe também o tempo gasto e isto pode ser considerado como um custo de oportunidade: em lugar de assistir a um futebol na televisão, o jantar romântico.

Terceiro, existe uma norma não escrita que se deve presentear nestes dias. Por isto as pessoas usualmente o fazem. Caso você rejeite esta norma social, isto pode comunicar que você também seria capaz de rejeita outras normas sociais.
Finalmente, ser uma pessoa “racional”, sob a ótica econômica, é comunicar ao parceiro que você observa a relação sob uma ótica utilitarista e interesseira. Para a outra pessoa, isto significa comunicar que você deixaria a relação quando não seria mais interessante.

Esta é mais uma situação onde a análise dos modelos de racionalidade da economia não funciona.

Para ver mais, aqui, aqui e aqui.

30 maio 2008

Motivação: Caixa ou Presente?

Uma empresa resolve conceder um bônus para seus empregados e está diante de duas alternativas: valor em dinheiro ou uma viagem com todas as despesas pagas. Considere que ambos os casos possuem um mesmo custo. Qual a melhor alternativa? (Esta é uma variação do problema de um supermercado que irá distribuir brindes aos seus clientes: dinheiro ou um bem material, como um automóvel).

A alternativa mais racional seria o dinheiro, pois esse possui uma liquidez maior. Além disso, talvez a viagem não seja um presente útil para um funcionário que não goste de viajar.

Ariely (em Motivating Employees With Cash or Gifts?, 25/5/2008) considera que o bem físico é a estratégia mais eficiente para a empresa, em razão do aumento da felicidade, da alegria e da lealdade do empregado. Na realidade, Ariely “suspeita” que essa seja a melhor opção. Para Ariely, essa mesma situação pode ser aplicada entre $15 mil em dinheiro ou um programa de saúde. Apesar de “presentes e benefícios a empregados ser, a primeira vista, uma maneira estranha e ineficiente de alocar dinheiro”, cria, em longo prazo, sentimento e reciprocidade que aumenta a dependência em relação ao doador