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26 janeiro 2025

Autoridades brasileiras punem empresas por espionagem


Uma investigação da Polícia Federal de 2017 descobriu que pelo menos 30 empresas brasileiras compraram dados estratégicos de concorrentes, a um custo estimado entre 650 e 3 mil reais por relatório. Esses dados faziam parte do sistema da Receita Federal e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Entre as empresas que compraram os dados estão a Portobello (faturamento de R$ 2,2 bilhões), a Dufrio, a Vicunha (R$ 2,5 bilhões) e a Noja Power.

Com esses dados, as empresas sabiam o que os concorrentes estavam fazendo em termos de importação e exportação e, assim, tinham acesso a informações estratégicas.

Algumas empresas admitiram conduta irregular e firmaram acordos com as autoridades. Por meio desses acordos, as empresas confessam que cometeram irregularidades, encerram o processo de maneira mais rápida e evitam pagamentos muito maiores no futuro. Uma das empresas que firmaram o acordo, a Dufrio, pagou uma multa de 2 milhões de reais, mas corria o risco de pagar 412 milhões de reais, o que corresponde a 20% do faturamento. Tudo leva a crer que, em muitos casos, a aquisição de dados sigilosos foi realizada com o conhecimento dos presidentes das empresas.

Os dados foram vazados por servidores públicos, e o número de empresas que compraram as informações pode ultrapassar 150.

Uma questão contábil interessante é quando a empresa deve reconhecer o passivo. Tecnicamente, no momento em que ocorreu a operação da Polícia Federal em 2017, poderia haver a possibilidade de uma obrigação futura. Entretanto, talvez a contabilidade da entidade ainda não tivesse conhecimento do nível de envolvimento da empresa ou não possuísse informações suficientes sobre se a descoberta da Polícia Federal poderia gerar uma consistente obrigação futura.

Com o passar do tempo, o maior conhecimento das consequências da operação poderia levar a uma visão mais clara das chances de condenação e do passivo. Para a Dufrio, por exemplo, o valor esperado seria calculado pela chance de condenação multiplicada por 412 milhões. Qualquer chance maior que 0,5% (ou 2 milhões sobre 412 milhões) já seria suficiente para tornar interessante a aceitação do acordo. 

01 abril 2022

Copa do Mundo e previsões

Terminado o sorteio dos grupos da Copa, as casas de apostas já lançaram as fichas e já temos os “favoritos”. Eis uma coleta de alguns dados.

Wsn – o favorito seria o Brasil, com odds de 550, seguido da França (600), Inglaterra (700), Espanha (800), Alemanha (900) e Argentina (1100). Mas está desatualizado, pois coloca a Itália, que não está classificada.

Sporting News faz uma previsão de final entre Espanha e Inglaterra, com a Espanha campeã. O Brasil perderia a quarta para a campeã, a Espanha.

Goal – aponta a França como favorita, com 7/1 de favoritismo. O Brasil teria uma relação de 11/2. Alemanha e Espanha, com 8/1 também seriam favoritas. A Argentina, com 10/1, assim como a Bélgica e Inglaterra, seriam as surpresas.

NBC - usa também as apostas para cravar Brasil (500), França (600), Inglaterra (650), Espanha (800), Alemanha e Argentina (1000)

90 soccer - considera a França favorita, com 5/1. Brasil, 6/1, Inglaterra 8/1, Espanha 10/1 poderia concorrer. Mas a previsão está desatualizada, pois vê a Itália como concorrente.

Challonge – este destoa dos demais. A final será entre Brasil e Dinamarca, com vitória do Brasil. Alemanha e Inglaterra disputariam o terceiro lugar.

O FiveThirtyEight ainda não lançou suas previsões.

24 junho 2018

Ator falido

A revista Rolling Stones informa que o ator Johnny Deep está falido (ou quase). O ator, conhecido pelo papel de Jack Sparrow, teve ter, ao longo de sua carreira, arrecadado 650 milhões de dólares. E achou um culpado na figura dos antigos empresários, que por sua vez estão processando o ator.

Os problemas do ator incluem uso de drogas e péssimos hábitos de consumo, que inclui um pagamento de 5 milhões de dólares para que as cinzas de Hunter S. Thompson saísse de um canhão.

(via aqui)

31 julho 2014

Lista: Salários globais

Miguel Falabella (ator, cineasta, diretor e escritor): R$ 650 mil mensais

Fernanda Montenegro: R$ 380 mil por mês. O salário dela é um dos poucos que não sofre alteração nenhuma, mesmo quando está fora do ar. Isso por conta de sua imagem ser reconhecida internacionalmente

Regina Duarte: Seu último trabalho foi em 'O Astro', mas ela segue recebendo mensalmente seu alto salário, estimado em R$ 120 mil. Isso porque ela é do time de atores que a Globo paga salários mesmo quando não está no ar.

Adriana Esteves (time fixo): R$ 85 mil mensais.

Débora Falabella (time fixo): R$ 80 mil por mês.

Quem disse que ex-BBB não se dá bem? Pois é, Grazi Massafera não faturou o grande prêmio do reality, mas virou uma das principais atrizes da nova geração da Globo e tem o salário estimado em R$ 65 mil.

Lília Cabral já é velha conhecida do público e umas das atrizes do primeiro escalão da Globo. Na emissora carioca ela recebe, estima-se, R$ 50 mil de salário, sem publicidade inclusa.

Mas para chegar ao topo é preciso ralar !!!). Estima-se que um ator iniciante de 'Malhação' R$ 1.500 por mês.

O crescimento é gradual e visível no salário. Daniel Marques, de 'Lado a Lado', é um coadjuvante com maior participação do que os atores que fazem 'Malhação' e, estima-se, recebe R$ 5 mil por mês

E tem também aqueles que começaram há pouco tempo mas que já possuem grandes papéis. Caso de Nanda Costa, a Morena de 'Salve Jorge', que fatura por mês um valor estimado entre R$ 80 e R$ 100 mil enquanto a novela estiver no ar.

Fonte: Aqui

30 maio 2014

Argentina paga

O governo da presidente Cristina Kirchner anunciou nesta quinta-feira que fechou um acordo com o Clube de Paris para encerrar o calote pendente desde o dia 23 de dezembro de 2001.Naquela ocasião, o então presidente provisório Adolfo Rodríguez Saá - que ficou apenas uma semana no poder - decretou a suspensão dos pagamentos da dívida pública.

Durante os últimos 13 anos, o governo argentino não pagou a dívida com o Clube de Paris, que originalmente era de US$ 6,5 bilhões. Segundo anunciou o governo Kirchner, o acordo com o Clube de Paris implica no pagamento do capital inicial de US$ 6,5 bilhões mais os juros acumulados.

A Argentina terá que pagar à entidade financeira que reúne um grupo de países credores um total de US$ 9,7 bilhões. O primeiro pagamento será realizado de forma desdobrada, em duas partes.

A Argentina terá que pagar à entidade financeira que reúne um grupo de países credores um total de US$ 9,7 bilhões. O primeiro pagamento será realizado de forma desdobrada, em duas partes.

O primeiro desembolso ocorrerá de forma imediata, no valor de US$ 650 milhões, enquanto que a outra parte será em maio do ano que vem, no valor de US$ 500 milhões, na reta final do governo de Cristina Kirchner.

No entanto, o resto dos pagamentos, isto é, os outros US$ 8,6 bilhões, ficará a cargo do próximo presidente da Argentina, que será eleito em outubro do ano que vem.


Fonte: Aqui

Eis um exercício interessante: qual a taxa de juros do calote?

05 junho 2013

Contabilidade Pública: nova carreira para contador


A Secretaria do Tesouro Nacional aparece como parte interessada na MP


Está em gestação no Ministério do Planejamento uma proposta de medida provisória que garantirá aumento salarial de até mais de 200% a 4.755 servidores efetivos hoje espalhados por 162 órgãos do Executivo. A transposição de cargos beneficiará os analistas e técnicos, com formação ou especialidade em contabilidade, que, na prática, integrarão uma nova carreira vinculada à Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

Com salários hoje entre R$ 3,7 mil iniciais e R$10 mil finais, esses analistas (contadores), de nível superior, ganhariam de R$ 12,5 mil a R$ 17,6 mil, respectivamente, em julho de 2014, conforme a proposta, se for considerado recebimento de 80% de uma das gratificações. Já a remuneração dos técnicos em contabilidade, de nível médio, saltaria do patamar de R$ 2,7 mil e R$ 6 mil para R$ 6,6 mil e R$ 8,9 mil. Essas remunerações, conforme a minuta da MP, são para julho de 2014. Em 2015 e 2016, haveria mais aumentos, entre 23% e 34%. O custo anual do reajuste é estimado em R$ 200 milhões em 2014, chegando em R$ R$ 650 milhões em 2015.

O objetivo dessa medida é que eles ganhem como os servidores de finanças e controle do Tesouro, que é considerada carreira de Estado, a elite do funcionalismo, que hoje recebem de R$ 13,6 mil a R$ 19,4 mil (analistas) e de R$ 5,1 mil a R$ 8,8 mil (técnicos). Porém, pelo que consta no texto, as remunerações dos funcionários beneficiados pela proposta, serão ainda maiores.

De acordo com a MP, sobre os valores maiores das remunerações em 2014, 2015 e 2016, incidirão ainda os percentuais concedidos a título de revisão geral e anual a todos os funcionários públicos federais. Os servidores promovidos teriam direito ainda à Gratificação de Qualificação, por terem curso de pós-graduação, mestrado ou doutorado, que pode chegar a R$ 800 (técnico) e R$ 2.100 (analista).





A explicação para a transposição de cargos dos 4.755 servidores é a necessidade de fortalecer o setor de contabilidade do governo federal, com a implantação de um sistema de administração de custos, por determinação do Tribunal de Contas da União, em processos julgados em 2006 e 2012. O tribunal apontava falhas na contabilidade e falta de pessoal qualificado para gerir o orçamento da União, que tem gerado distorções na consolidação do Balanço Geral da União (BGU).


Há erros de todo tipo: no preenchimento de informações bancárias e de classificação nos documentos de entrada do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), falta de reavaliação e depreciação de bens móveis e imóveis, entre outros.
O texto da MP chegou ao Planejamento vindo da Secretaria do Tesouro Nacional. Porém, o Ministério da Fazenda e a cúpula da STN negaram, num primeiro momento, que tenham encaminhado formalmente qualquer proposta de medida provisória à pasta da ministra Miriam Belchior. 

Confrontada com o texto enviado à Secretaria de Gestão Pública do Planejamento pelo subsecretário de Contabilidade Pública da STN, Gilvan da Silva Dantas, a Fazenda reafirmou que nega o envio "oficial" da minuta de MP pela pasta ou pela Secretaria do Tesouro Nacional. Mas admite o encaminhamento "pela subsecretaria de contabilidade de uma proposta de mudança das carreiras de contabilidade formulada pelos contadores em seus vários fóruns de discussão".

O órgão está se referindo ao lobby forte que tem sido feito pelo Conselho Regional de Contabilidade do Distrito Federal (CRC-DF), que conseguiu incluir na minuta da MP a exigência de que todos esses servidores que receberão a superpromoção tenham registro na entidade e estejam em dia com a anuidade.

Na consulta disponível no portal do Planejamento, de Controle de Processo de Documento, consta como interessado a Secretaria do Tesouro Nacional. No relatório da Prestação de Contas do exercício de 2012, ao responder às recomendações do TCU, a Presidência da República registra que, "em 3 de janeiro de 2013, a Secretaria do Tesouro Nacional protocolou no Ministério do Planejamento uma proposta de medida provisória para fortalecimento dos órgãos setoriais do Sistema de Contabilidade e do Sistema de Custos do Poder Executivo federal".

Apesar de a STN aparecer nos registros do governo como autora da proposta da MP, a Fazenda informou ao Correio que ela "não tem o apoio técnico do Tesouro Nacional" e transferiu a responsabilidade para o Planejamento, o qual cabe analisá-la. A Secretaria de Gestão Pública, primeiramente, respondeu que "não cogita, no momento, a criação de carreiras ou estruturas remuneratórias especiais e que reajustes dos contadores estão contemplados no acordo que abrange os anos de 2013, 2014 e 2015". Ela refere-se ao aumento médio de 15,8% negociado pelo governo em 2012. Questionada novamente sobre o andamento da MP, respondeu que a proposta está "em análise, visando possíveis alternativas".

Opção
Conforme a minuta da MP, muitos dos profissionais estão lotados em outras unidades ou centro de custos dos órgãos que não as setoriais contábeis. É o caso dos analistas e técnicos do Seguro Social, especialidade em contabilidade, vinculados ao Ministério da Previdência. Há também desses servidores no Plano Geral do Poder Executivo (PGPE) e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dito). O ingresso na nova carreira será feita mediante termo de opção.

A proposta prevê que os servidores titulares de outros cargos que não previam a especialidade contabilidade, mas que atuam nessa área de contas dos respectivos ministérios há pelo menos três anos, recebam também a Gratificação de Desempenho de Atividades do Sistema de Contabilidade e de Custos (Gasc) e a Gratificação de Qualificação. Desde que tenham formação em contabilidade e registro ativo e regular no Conselho Regional de Contabilidade.

Os servidores contabilistas beneficiados pela MP e dirigentes do conselho têm feito peregrinações pelos gabinetes de ministros e de parlamentares pedindo apoio para que a MP seja aprovada o mais rápido. Eles esperavam que isso se concretizasse ainda no primeiro semestre.

Fonte: aqui

18 maio 2013

Celebridades

As Celebridades mais ricas:

1 - George Lucas - US$ 7,3 bilhões
2 - Julia Louis-Dreyfus - US$ 3 bilhões
3 - Oprah Winfrey - US$ 2,8 bilhões
4 - J.K. Rowling - US$ 1 bilhão
5 - Larry David - US$ 800 milhões
6 - Madonna - US$ 650 milhões
7 - Bono - US$ 600 milhões
8 - P. Diddy - US$ 580 milhões
9 - Howard Stern - US$ 500 milhões
10 - Gloria Estefan - US$ 500 milhões
11 - Dolly Parton - US$ 450 milhões
12 - Mel Gibson - US$ 425 milhões
13 - Tyler Perry - US$ 400 milhões
14 - Celine Dion - US$ 400 milhões
15 - Clint Eastwood - US$ 375 milhões

Fonte: Aqui

01 fevereiro 2013

OMC

Uma corrida de táxi de US$ 600, uma conta mensal de celular de US$ 20 mil, mais de US$ 1,5 milhão em xerox e até o uso de cartões de crédito para bens pessoais. Os fatos podem fazer lembrar uma administração pública num país com problemas nos controles de gastos. Mas, na realidade, trata-se de algumas das anomalias nas contas da Organização Mundial do Comércio.

Questionada por muitos diante da incapacidade política de concluir a Rodada Doha, a OMC vive também sérios desafios internos de administração. Hoje, os nove candidatos para dirigir a OMC começam sua sabatina na entidade em Genebra. Cada um deles, incluindo o brasileiro Roberto Azevedo, apresentará aos 158 países as ideias do que pretendem fazer se forem eleitos em maio e responderão a perguntas de diferentes delegações.

Diante de um impasse de 12 anos na Rodada Doha, disputas que se acumulam nos tribunais e ameaçada de se tornar irrelevante, a OMC vive a pior crise em seus quase 20 anos de existência. Cada um dos candidatos tentará mostrar que é o mais preparado e que tem as melhores ideias para salvar a entidade dessa marginalização cada vez maior. Mas se o debate estará centrado no papel político da organização no mundo, o novo diretor terá de tomar medidas para também resgatar a credibilidade interna da administração e adotar um controle de gastos.

Um informe de auditores sobre a situação das contas da OMC obtido pelo Estado serve de espelho dos desafios. Em suas conclusões, os auditores alertaram que "mecanismos internos para monitorar gastos precisam ser fortalecidos". O informe , restrito, é de 2012 e trata das contas de 2011.

Em 2012, o orçamento da OMC foi de 196 milhões de francos suíços. Dois terços desse dinheiro foram usados para pagar o salário de pouco mais de 600 pessoas, além de aposentadorias. Há ainda uma série de benefícios. A OMC, por exemplo, paga pelo estudo dos filhos de seus funcionários, incluindo universidade. Em 2011, mais de US$ 2 milhões foram gastos, envolvendo 117 funcionários.

Outro gasto importante da OMC é com o sistema de disputas comerciais. Em 2010, foram US$ 23 milhões e os auditores insistem que as contas desse departamento precisam ser mais transparentes. O informe cita como orçamento inicial para cópias e reproduções US$ 30 mil, quando na realidade o total chegou a US$ 1,5 milhão. Só com traduções de suas disputas, a OMC gastou mais US$ 4 milhões.

Transporte e comunicação. Um dos pontos que chamou a atenção foi o gasto com transporte dos diretores. Em 2008, a secretaria da entidade foi obrigada a pagar 113 mil horas extras a motoristas por trabalharem além do horário no contrato. Diante do custo da operação, governos pediram que a direção da OMC passasse a usar táxi fora do expediente. O número de horas extras caiu, mas há cerca de um ano, uma funcionária gastou US$ 600 em apenas uma corrida. Ao chegar na divisão que controla os gastos, os responsáveis pediram explicações. Os auditores teriam ficado satisfeitos com as justificativas.

Outro problema indicado pelos auditores foi o gasto com telefones. Em 2011, mais de US$ 650 mil foram gastos em comunicação. Outro caso recente que causou polêmica foi o surgimento de uma conta de US$ 20 mil de um celular. Para os auditores, as contas de telefonia precisam aparecer no balanço da OMC, algo que não estava sendo feito.

Um outro alvo de recomendação dos auditores foi a questão do uso de cartões de crédito. No total, 14 cartões foram fornecidos a diretores. Mas os auditores constataram que não havia uma lista dos nomes dessas pessoas com seus contatos atualizados. O informe ainda cita um dos diretores que gastou mais de US$ 11 mil antes de deixar a entidade.

O diretor-geral da OMC, o francês Pascal Lamy, também ordenou que suas contas fossem avaliadas. Para isso, foi contratado Didier Migaud, o presidente do Tribunal de Contas da França. Em outro documento, de novembro de 2012, ele chancela as contas da OMC.

Auditoria vê irregularidades nas contas da OMC - JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Estado de S.Paulo

26 janeiro 2013

Apple 2

No mês passado,saíram reportagens que diziam que a Apple está trabalhando em um iPhone menor e mais barato. Mas os últimos números de venda não dão a entender que a Apple precise criá-lo.

O iPhone teve 47,8 milhões de unidades vendidas, ante 37 milhões do ano anterior
-aumento de 29%.

Analistas prestaram atenção em um detalhe sobre o iPhone: o preço médio global. A teoria diz que, se tal valor pendesse para baixo, indicaria que os iPhones mais velhos estivessem vendendo mais que o iPhone 5.

Isso indicaria que a Apple teria o dever de vender um iPhone mais barato, direcionado à renda mais baixa.

Mas o preço médio de venda do iPhone, no último trimestre, foi de US$ 641
(R$ 1.300).

Isso sugere que o iPhone 5, que custa desbloqueado US$ 650 nos EUA, foi responsável pela ampla maioria das vendas de iPhones.

Tero Kuittinen, analista do mercado de dispositivos móveis, diz que o iPhone 5 não pode ter sido responsável por menos de 70% das vendas de smartphones da Apple no último trimestre, baseando-se no preço médio de venda.

"Isso quer dizer que o iPhone barato não é necessariamente uma necessidade", disse Kuittinen.

BRIAN X. CHEN - DO "NEW YORK TIMES"

21 agosto 2012

Crise de 1982


A mãe de todas as crises do Brasil
Autor(es): Por Claudia Safatle De Brasília
Valor Econômico - 10/08/2012

Sexta feira, 13 de agosto de 1982. Na tarde seca de Brasília, o chefe do departamento de operações das reservas internacionais do Banco Central (BC), Carlos Eduardo de Freitas, recebeu um telex de uma agência internacional com a notícia de que o governo do México acabava de decretar a moratória da dívida externa. Com o papel na mão, ele subiu às pressas para a sala do diretor da área internacional do BC, José Carlos Madeira Serrano, abriu a porta e soltou um palavrão: "F...!" O diretor leu o telex e disparou: "PQP! Tenho que avisar o Galvêas!"

A dramaticidade do evento justificava o vocabulário: há 30 anos, o Brasil quebrou. Começou ali a longa e terrível crise da dívida, a "década perdida", o fim do modelo de crescimento vigoroso do país, sustentado no endividamento externo e na substituição de importações. A mãe de todas as crises que o Brasil veio a viver depois. Algo só comparável à agonia dos países da zona do euro hoje.

A moratória mexicana, precedida da Guerra das Malvinas (disputa entre a Argentina e a Inglaterra pelas ilhas Malvinas), contaminou todos os países endividados. O governo brasileiro, no entanto, acreditou que ainda seria possível evitar o desastre. O ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, seguiu em setembro para a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Toronto, no Canadá, confiante em que o Fundo decidiria criar uma linha de financiamento emergencial que estava em discussão, de US$ 25 bilhões, e que poderia chegar a US$ 100 bilhões, para socorrer os países afetados pelo endividamento.

A reunião de Toronto foi um fiasco. Nem o FMI nem os bancos privados nem os governos avançaram na construção de saída alguma.

Galvêas só ficou sabendo naquela reunião que o Brasil "era a bola da vez", que quebraria. "Não tínhamos ideia da repercussão da moratória do México. A Polônia já estava em moratória, a Argentina também. Estávamos sentindo os problemas, mas não tínhamos a extensão do prejuízo. Foi quando o Edmond Safra [o banqueiro, morto em 1999] me falou: "Galvêas, você vai levar um tranco pra valer. Se previna, porque os bancos não vão mais lhe dar dinheiro" ".

O clima havia mudado radicalmente. O Brasil não seria mais aquele país que crescia a taxas de "milagre" econômico. O diretor do BC, Serrano, após a reunião de Toronto, comentou com Freitas: "Há um ou dois ano éramos cortejados. Agora somos evitados. A gente chega numa rodinha, num coquetel, e a rodinha se desfaz".

Galvêas saiu à procura dos banqueiros, mas não conseguiu sequer saber se eles estavam no Canadá. Cancelou viagem que faria à Suécia e pegou a mala para Nova York. Lá também ficou a ver navios. Não obteve sucesso na busca dos dirigentes dos principais bancos credores e retornou a Brasília.

A crise, que começou em agosto e evoluiu para o "Setembro Negro" - em referência à desastrosa reunião do FMI/Banco Mundial de Toronto - levou à bancarrota os países da América Latina, do Norte da África e do Leste Europeu. Ou seja, todos que se aproveitaram da enorme liquidez dos petrodólares (gerada pelo aumento de preços do petróleo em 1973) para tomar empréstimos a juros baixos, porém flutuantes, no mercado financeiro internacional e financiar o desenvolvimento.

Só então Galveas relatou o tamanho da encrenca ao presidente da República, general João Batista Figueiredo. Hoje, aos 90 anos, ele rememora a reação do último presidente da era militar: "PQP! E o filho da p... do Geisel me botou aqui por seis anos!" Antes, o ex-ministro explicou: "O Figueiredo gostava de falar palavrões".

O prenúncio do colapso vinha de antes, de 1979, quando houve uma nova rodada de aumento de preços do petróleo - a cotação média do barril/FOB saiu de US$ 12,44 para US$ 34,43 entre 1978 e 1981 - e um salto nos juros internacionais, que subiram de uma média anual de 7,5% em 1977 para 20,18% em 1980.

O baque no balanço de pagamentos do país foi brutal. Os gastos com as importações de petróleo mais do que duplicaram, de US$ 4,1 bilhões em 1978 para US$ 10,6 bilhões em 1981. A conta de juros saiu de US$ 3,3 bilhões em 1978 para US$ 10,3 bilhões em 1981. O déficit em transações correntes subiu de US$ 11,4 bilhões em 1981 para US$ 16,3 bilhões em 1982, equivalentes a 6% do PIB. E a dívida externa brasileira, quase toda contratada a taxas de juros flutuantes, passou de US$ 43,5 bilhões em 1978 para US$ 61,4 bilhões em 1981, US$ 70,2 bilhões em 1982 e US$ 81,3 bilhões em 1983.

Isso ocorreu justamente quando estavam a meio caminho grandes investimentos, financiados com empréstimos internacionais. O governo do general Ernesto Geisel havia optado pelo crescimento com endividamento externo, para enfrentar a primeira onda de choques do petróleo, em 1973. Aquela foi uma decisão polêmica, cuja fatura caiu no colo de Figueiredo, ao mesmo tempo em que ele cumpria o cronograma da abertura democrática que entregaria a Presidência da República a um civil.

A mega-hidrelétrica de Itaipu estava em construção com financiamento externo. O general Costa Cavalcanti, diretor-geral da usina, fazia e refazia os cálculos: com juros que para aquele financiamento já superavam 24% ao ano, ela ficava inviável.

"Ficou muito pesado, realmente", comentou Galvêas. "Teve ano em que pagamos em petróleo e juros mais do que o total das exportações. Não sobrava um tostão para mais nada."

Ao mesmo tempo, a inflação galopava: havia sido de 110,2% em 1980, de 95,2% em 1981 e 99,7% em 1982. Em 1980, o então ministro do Planejamento, Delfim Netto, prefixou a correção monetária e cambial em 50%, numa tentativa malsucedida de administrar as expectativas inflacionárias.

Informado da falência do país, Figueiredo convocou uma reunião do gabinete, a pedido do ministro da Fazenda. Foram chamados os ministros militares e os da área econômica. O presidente tomou uma decisão política. Era preciso recorrer ao FMI para que este avalizasse, com um acordo, a renegociação da dívida com os bancos credores privados. Mas isso só seria anunciado depois das eleições de novembro de 1982, as primeiras diretas para governadores e para o Congresso no regime militar. Recorrer ao FMI era visto como algo danoso demais para a soberania do país.

Galvêas relembra: "Nessa reunião, eu disse: "Estamos muito mal. Estamos quebrados e não temos saída. Temos que desvalorizar o câmbio e suspender os pagamentos"". Para não fazer a mera suspensão dos pagamentos do serviço da dívida, o governo tentou montar uma operação de crédito com Tony Gebauer, do J. P. Morgan, e com Bill Rhodes, do Citibank, mas muitos bancos não desembolsaram os recursos.

Ainda na reunião do gabinete, Galvêas prosseguiu explicando: "Vamos ter que raspar tudo que tivermos. Precisamos importar petróleo, precisamos pagar os diplomatas, tem dívida, tem os juros. Vou negociar com o FMI e com os bancos, mas vamos ter que raspar tudo e até vender ouro".

Após essa comunicação, durante uma audiência para despachos com Galvêas, Figueiredo desabafou: "Largaram os Quatro Ccavaleiros do Apocalipse em cima do meu governo! Eu não mereço isso! Só falta uma praga de gafanhotos!" Galvêas respondeu: "Calma, presidente, a gente vai dar um jeito". O ex-ministro recorda que saiu do Palácio do Planalto, entrou no carro para voltar ao Ministério da Fazenda. "Perguntei ao Maurício, que era meu chofer, se ele tinha um jornal para eu ler. Ele era de Mato Grosso e me deu um jornal de Cuiabá, cuja manchete era algo assim: "Nuvens de gafanhotos da Bolívia invadem o Mato Grosso". Eu disse: "Maurício, vamos voltar ao palácio". Galvêas retornou à sala de Figueiredo e falou: "Presidente, não falta mais nada. O senhor queria uma praga de gafanhotos e ela está aqui". Figueiredo riu.

O pesadelo de Figueiredo começou em 1979, quando o presidente do Federal Reserve, Paul Volcker, deixou a reunião do FMI em Belgrado (ex-Iugoslávia), voltou para os Estados Unidos e deu uma pancada na taxa de juros para conter a inflação americana. Alí o governo viu que a situação do Brasil era periclitante.

Tão logo assumiu, em março de 1979, Figueiredo foi alertado pelo ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen, de que o país estava à beira da bancarrota; poderia entrar em colapso cambial a qualquer momento. Bastava os bancos internacionais travarem o crédito. Simonsen teria apresentado um duro plano de ajuste a Figueiredo, que não o aprovou, levando o ministro a se demitir.

Delfim Netto conta que, quando foi convidado a deixar a pasta da Agricultura e assumir o comando da economia, em agosto de 1979, em substituição a Simonsen, disse ao presidente da República: "O senhor sabe que o Brasil está quebrado, não é?". Figueiredo teria dito, segundo seu relato: "É, sei. O Geisel fez o pinto botar um ovo de avestruz. Agora vai lá e costura".

Ainda nesse mesmo ano, os bancos credores provocaram um sobressalto no governo ao frear os empréstimos externos ao país. Galvêas teve que negociar um empréstimo-jumbo de US$ 1,2 bilhão durante a reunião do FMI, destinado ao Proálcool. No fim de 1979, o governo fez uma maxidesvalorização do cruzeiro (a moeda da época) de 30%. Desacompanhada de uma política monetária restritiva, essa depreciação se perdeu.

No início de 1980, havia sinais de que a Polônia quebraria, assim como outros países do Leste Europeu. "Eu era chefe de gabinete da diretoria da área externa do Banco Central e conseguimos travar todo o dinheiro novo de financiamento a exportações para a Polônia, que quebraria em 1981", conta Freitas. Ficaram as "polonetas", que só foram quitadas anos depois.

Vivia-se aos solavancos. O mercado financeiro internacional se retraiu, secando os créditos para o Brasil. No Banco Central, pedalava-se uma bicicleta todos os dias e o dia todo. Se a Petrobras tinha uma linha de crédito externo, o BC pegava emprestado. Se havia moeda estrangeira no Banco do Brasil (BB) ou no Eurobras, era lá que Freitas passava o chapéu. "Usamos as linhas de financiamentos da Petrobras, do BB, mas ainda havia alguma captação."

Responsável pelos pagamentos externos e vendo as dificuldades que se avizinhavam, no fim de 1980, Freitas preparou uma nota técnica para a diretoria do BC sobre como atravessar o ano de 1981. "Aí comecei a ser objeto de gozação. Abria a porta do gabinete do Serrano e era enxotado: "Lá vem o urubu", ele dizia."

"Em abril de 1981, a coisa já estava muito ruim. Fiquei em cima do Serrano para que ele fizesse uma linha direta minha com o Eduardo de Castro Neiva, vice-presidente da área externa do BB. Se eu ficasse sem um tostão o BB tinha caixa lá fora. Naquela época, não havia celular, bip nem fax. Era telex. Mostrávamos que o mundo ia acabar, mas o Serrano não me dava bola. Na antevéspera de embarcar para a Europa, ele falou com o Neiva e tudo mais, mas acabou entrando dinheiro."

Em julho de 1981 o país teve o primeiro "AVC". As reservas em moeda estrangeira simplesmente acabaram. Não havia mais dinheiro para dar cobertura cambial. "Fui para a sala do Serrano com minha adjunta, a Ledir de Paula Reis. Ao ouvir que estávamos a zero e percebendo que não tinha me dado ouvidos, ele me deu uma bronca monumental. Dessa vez eu perdi o controle. Ele pediu para a Ledir sair. Eu disse: "Estou te falando há um ano e agora você vem me dizer "ninguém me avisa nada!" Ele era temperamental, mas extremamente bondoso."

Até o início da Guerra das Malvinas, em maio de 1982, o país continuou captando recursos no mercado internacional, mas essas captações eram menores do que os recursos necessários para rolar a dívida.

"Eu manobrava as reservas cambias. Aplicava parte das reservas no Banco do Brasil. Pegava as linhas de crédito que o BB captava no exterior, depositava nele mesmo e girava o dinheiro com velocidade. Como era o conceito de reserva bruta, ela aumentava. Não podíamos deixar transparecer ao mundo que estávamos quebrados. Mas eu não podia sacar tudo do Banco do Brasil. Ele não aguentaria, não fecharia a compensação", contou Freitas.

O Banco do Brasil, no entanto, também começou a ter problemas com o início da guerra. "Aí fizemos um sistema de caixa único com o BB: o que é meu é seu e o que é seu é meu. Se eu tinha dinheiro, passava pra ele. Se ele tinha, passava pra mim. Todo dia eu fechava meu caixa junto com o Antonio Machado de Macedo, que era diretor das agências externas do BB. Eu ficava discutindo com o Macedo, queria o dinheiro dele. Ele dizia que não tinha, que ia quebrar."

Entre junho e julho de 1982, houve uma corrida para os depósitos interbancários dos bancos brasileiros no exterior - sobretudo, os oficiais Banco do Brasil e Banespa. Os bancos brasileiros captavam no mercado externo com prazo de 180 dias e emprestavam para o Brasil a 8 anos. Era uma forma de a instituição estrangeira emprestar para o Brasil, mas constando como sendo risco Estados Unidos.

Nesse momento, já no início do segundo semestre, o governo brasileiro tentou, sem muito sucesso, montar uma operação de financiamento com os principais bancos credores - J.P. Morgan, Citibank. Chemical Bank, Bank of America, Bankers Trust, com o inglês Lloyds Bank.

Amigo de Jesuz Herzog, ministro das Finanças do México, com quem estudou nos anos 1950, Galvêas mantinha estreito contato com ele. "Eu falava com o Herzog todos os dias e ele me dizia: "Vocês se preparem aí, que nós estamos em grandes dificuldades. Falei com o Bill Rodhes e ele recomendou: "Não façam moratória de jeito nenhum, vamos arranjar um jeito, entra no Fundo Monetário" ". Quando decidiu pela moratória, porém, Herzog não avisou Galvêas.

O FMI acompanhava de perto toda essa situação. No início de julho, quando uma missão técnica do Fundo preparava sua vinda ao Brasil, o vice-diretor gerente do FMI, William Dale, num "briefing paper", salientou que o prognóstico para o Brasil começava a ficar "sinistro". Mas, para tudo o que se fosse fazer, era preciso esperar as eleições de novembro.

A ordem do governo para o Banco Central era não demonstrar fragilidade. Os funcionários da casa saiam pelo mundo para descontar papéis e trazer moeda estrangeira. Numa dessas viagens, o chefe do departamento jurídico do BC, Diógenes Setti Sobreira, foi para Chicago para, junto ao First Chicago, descontar um título da Cacex (Carteira de Comércio Exterior do BB). Não conseguiu.

Telefonou para o chefe do departamento de operações de reservas internacionais, que contava com aquele dinheiro para fazer pagamentos, e contou que não havia conseguido. "Eu disse: "Sobreira, você tem que fazer"", contou Freitas. Ele retrucou: "Carlos, agora só se eu assaltar o banco". Eram papéis que não faziam sucesso algum. Por exemplo, um financiamento à exportação da Embraer para a América Central, para a África. "Naquela época, tinhamos que mostrar que aquele negócio que nós produzíamos voava", lembrou Freitas.

À mingua e a espera das eleições, o governo contava com dinheiro de empréstimos-ponte dos bancos, que não vinham. O Lloyds Bank - o maior credor fora dos Estados Unidos - dizia às autoridades americanas que ajudaria, mas só quando o Brasil tivesse um acordo com o FMI. O Citibank - o maior credor do país - ameaçava pular fora, retirar todos os seus recursos do Brasil.

Anthony Solomon, presidente do Federal Reserve de Nova York, chamou os principais banqueiros para uma reunião em seu apartamento na Park Avenue, em Manhattan. Lá estavam Paul Volcker, presidente do Fed, Lewis Preston e Tony Gebauer, do Morgan Guaranty, Walter Wriston e William Rhodes, do Citi, Beryl Sprinkel, do Tesouro, e Jacques de Larosière, diretor-gerente do FMI. Segundo documento do FMI, o governo americano começou a agir porque temia que uma ação precipitada e caótica dos bancos privados desencadeasse uma crise sistêmica. Os banqueiros foram aconselhados a participar de um "advisory committee", para tentar estabilizar os fluxos de recursos para o Brasil.

Passadas as eleições - em que a oposição teve um desempenho espetacular - o governo anunciou oficialmente que negociaria um acordo com o FMI. Ao mesmo tempo, buscava um empréstimo de curto prazo com os bancos privados credores, de US$ 2,4 bilhões. Os banqueiros ainda estavam relutantes.

Em outubro e novembro daquele ano, o Tesouro americano fez, secretamente, um adiantamento de US$ 1,25 bilhão ao Brasil. Em dezembro, foram mais US$ 250 milhões. O governo americano tomou a frente e também convenceu o Banco de Compensações Internacionais (BIS) a comparecer com US$ 1,2 bilhão, a título de empréstimo-ponte, até que se concluísse as negociações com o FMI e este liberasse o empréstimo. Em 12 de dezembro, o Banco do Brasil em Nova York não conseguiu fechar a compensação. Faltaram US$ 50 milhões. Foi uma correria, para juntar os dólares rateados entre o Citibank, o Morgan e o Bankers Trust.

"Me lembro que, um dia, liguei para o Orlando Galvão, que era o chefe da área financeira da Petrobras, e comecei com a conversa de "cash flow" ", relatou Freitas. "Disse a ele que essa época do ano era a pior para mim, por que não sei o quê... E ele falou: "Carlos Eduardo, para. A pior fase pra você é o ano todo". Essa frase ficou na minha cabeça."

A negociação de um acordo com o FMI (uma "extended fund facility") era a premissa que abriria as portas para um pacote de socorro financeiro de cerca de US$ 12,7 bilhões, em 1983.

No dia 6 de janeiro daquele ano, Galvêas e Carlos Geraldo Langoni, presidente do Banco Central, assinaram a carta de intenção em que se requeria, formalmente, o apoio do FMI a um programa de ajustes. Para o governo brasileiro, a principal meta era aumentar o superávit comercial de menos de US$ 1 bilhão em 1982 para US$ 6 bilhões em 1983. O FMI queria o compromisso do governo de reduzir a inflação de 100% em 1982 para 70% em 1983 e para 40% em 1984; a redução do déficit público de 14% do PIB em 1982 para 8% do PIB em 83; corte dos subsídios; aumento da taxa de juros e desindexação dos salários para controlar a inflação.

O centro das preocupações do governo era o balanço de pagamentos. A inflação, em 1982, medida pelo IGP-DI, fechou em 99,7%. Com o sistema de indexação geral, o FMI não via como combater a inflação e insistia no corte do regime de correção para os salários. Diante da pressão, o governo editou, em meados de 1983, o decreto 2.045, limitando a indexação salarial a 80% da inflação.

Para acompanhar o debate da política salarial no Congresso, o FMI quis enviar um representante que moraria em Brasília. O governo não aceitou a ideia, por que daria mais munição à oposição, já vitoriosa nas eleições de 1982.

Era preciso desvalorizar o cruzeiro novamente, para equilibrar as contas do balanço de pagamentos, mas foi uma peleja arrancar a maxidesvalorização de 30% do presidente Figueiredo. Galvêas disse: "O Figueiredo não queria fazer a desvalorização, porque ia aumentar o preço do trigo. O Delfim defendia só 10%, que era o máximo que o Figueiredo aceitava. Pedi ao Delfim para termos um encontro no Rio, durante a semana, e chamei o Serrano. Tínhamos que fazer alguma coisa. A reunião foi no gabinete do Delfim. Ele me disse que já tinha falado com o Figueiredo e que ele não aceitava a maxidesvalorização de 30%. Eu insisti que tinha que ser 30%, que só 10% não daria um choque pra valer".

Em 1979, quando Paul Volcker elevou os juros para conter a inflação, já se sabia no governo que a situação do Brasil era periclitante

No sábado, Galvêas teve um encontro com o presidente, na Granja do Torto, em Brasília, e argumentou: "Presidente, não tem saída". Figueiredo reagiu:

- Você e o Delfim só fazem coisas pra arrasar com o meu governo!

-Nós vamos juntos, presidente. Vamos juntos, respondeu o ministro.

Segundo Galvêas, Figueiredo acabou concordando: "Você e o Delfim decidem".

Em fevereiro de 1983, houve a desvalorização de 30% do cruzeiro. "Você vai ver pelas estatísticas como é desesperador reduzir as importações à metade, de US$ 22 bi para US$ 10 bi. É um negócio trágico", comentou o ex-ministro da Fazenda.

O acordo com o FMI já estava assinado quando foi decretada a maxidesvalorização. O Fundo não foi informado da decisão e o acordo, recém-celebrado, já não valia nada. O ex-ministro do Planejamento, Delfim Netto, explicou ao Valor: "Eu não avisaria sobre o que faríamos com o câmbio porque o Fundo avisaria os outros. Eles são especuladores. Compram papéis".

Em 1983, a inflação chegou a 211%, fazendo descarrilar as demais metas acertadas com o FMI. Foram muitas idas e vindas para renegociar o acordo firmado em fevereiro. Com os bancos, as conversas prosseguiam.

"Assinamos o acordo com o FMI e com os bancos credores, envolvendo apenas as amortizações da dívida externa vincenda em 1983. Esse acordo não resolvia nada, porque não tinha dinheiro novo", comentou Freitas.

Exatamente quando as autoridades da área econômica do governo estavam em Washington, para assinar formalmente a carta de intenção com o Fundo, em fevereiro de 1983, as reservas cambiais secaram e o BC teve que atrasar os pagamentos externos. Eram pagamentos de importação e de linhas de crédito. Não havia mais crédito para ninguém. Nem para o BB nem para o Banespa em Nova York.

Era preciso organizar uma fila de pagamentos externos. À medida que fossem entrando recursos, o BC faria os desembolsos para os credores internacionais. Foi feita, então, a centralização do câmbio, instituída pela resolução 851, de 29 de junho de 1983. As dívidas que as empresas privadas tinham no exterior foram "estatizadas". Elas pagavam ao BC e este só fazia as remessas aos credores se tivesse moeda estrangeira. "Estávamos em uma moratória branca", admitiu Galvêas

Os bancos credores criaram o "liaison committee" (comitê de ligação), que faria o elo com os 650 bancos credores do país. Esse comitê marcou um encontro em Londres para discutir a crise brasileira. Era preciso que uma autoridade do governo comparecesse. Delfim Netto não poderia ir. Galvêas também não iria. Langoni, presidente do BC, não podia comparecer, nem o diretor Serrano.

"Fomos eu, o Alberto Furuguem, chefe do departamento econômico do BC, Hélio Rebello, também do BC, e um diretor da Cacex. Passamos em Nova York para fazer um ensaio geral da exposição ao Citibank e ao Morgan. Éramos o terceiro time", contou Freitas.

Na sala de convenções do Hotel Dorchester, em Londres, Freitas apresentou uma projeção realista do balanço de pagamentos e mostrou a premente necessidade de dinheiro novo. Aquela missão ganhou uma crônica divertida de Carlos Eduardo Novaes, com o título "Os Irmãos Máxis", que Freitas guarda até hoje.

"Me lembro que um banqueiro me disse: "Olha, o que o senhor nos disse hoje não é agradável de se ouvir. Mas é melhor termos a dimensão clara do problema, que faça sentido, para não acharmos que é muito pior" ".

Faltava, porém, uma organização melhor dos bancos credores. Como estava, o processo não evoluia. O presidente do Banco Central da Inglaterra, Gordon Richardson, sugeriu que Bill Rhodes, do Citibank e velho conhecido do governo brasileiro, coordenasse um novo grupo, o "advisory committe" (comitê assessor) que assumiria as rédeas das negociações com o Brasil até o fim. No dia 15 de junho de 1983, esse comitê fez sua primeira reunião em Nova York.

O presidente Figueiredo: "Largaram os Quatro Cavaleiros do Apocalipse em cima do meu governo! Eu não mereço isso!", bradou, quando Galvêas lhe disse que era preciso "raspar tudo e até vender ouro"

Enquanto isso, Delfim Netto foi a Paris conversar com De Larosière. Disse ao diretor-gerente do FMI que, além dos recursos do Fundo, o Brasil precisava de mais US$ 9 bilhões para fechar as contas do balanço de pagamentos naquele ano. De Larosière falou com Bill Rhodes, que avisou: os bancos privados não chegariam a um aporte nem próximo daquele valor.

No fim de 1982, o Fed teve que entrar pesado para o BB não quebrar. O Citi e o Morgan passaram a gerenciar uma rede de segurança para que nenhum banco brasileiro quebrasse na compensação. Na hora da dificuldade, o Fed persuadia os bancos a aportarem recursos. "Paul Volcker tinha no bolso do paletó o fluxo de caixa do Brasil", registrou Freitas. O presidente do Fed acompanhou cada passo e manobrou com habilidade para evitar problemas maiores para os bancos americanos.

Como o dinheiro que entrava no país não era suficiente para o governo pagar seus compromissos no exterior, Galvêas foi a Nova York para uma conversa com os bancos. "Fizemos a rede de segurança. Dez bancos americanos entraram, cada um, com US$ 40 milhões, renováveis todos os dias. Era com isso que fechávamos a câmara de compensação do Banco do Brasil em Nova York."

Naquele ano, o Brasil obteve cerca de US$ 3,7 bilhões em empréstimos-ponte, sendo US$ 2 bilhões dos bancos comerciais e o restante de fontes oficiais.

Em dezembro de 1982, o governo brasileiro pediu aos bancos comerciais o comprometimento com o programa de financiamento do Brasil para o exercício seguinte. Era uma estratégia de adesão voluntária, que abarcava quatro projetos. O projeto 1 envolvia novos empréstimos em moeda, no valor de US$ 4,4 bilhões; o projeto 2, amortização da dívida externa, em 1983, no valor de US$ 4,3 bilhões; o projeto 3 correspondia a linhas de crédito comercial de curto prazo; e o projeto 4, a linhas de crédito interbancário. Nesses dois últimos, que somavam US$ 10,4 bilhões e US$ 6 bilhões, respectivamente, não houve acordo formal. Foram adesões por telex.

Numa avaliação equivocada de que aquela era uma crise de liquidez, imaginou-se que essa seria a solução decisiva para vencê-la. Como o país não cumpriu as metas do acordo com o FMI logo no início de 1983, não recebeu os desembolsos no prazo esperado. Essa foi a fase I do programa de financiamento. Viriam várias outras.

Um dia, Wriston, presidente do Citi, disse que os bancos não continuariam com aquela rede de segurança, que estava ficando um negócio longo demais, o Brasil não encontrava uma solução, e determinou a Rhodes que a suspendesse. Galvêas estava em Nova York. "Saí feito um desesperado atrás do Wriston. Fui atrás da secretária dele, o Rhodes também foi procurá-lo e descobrimos que ele estaria num coquetel às 17 horas, em Long Island. Conseguimos o telefone do local, ele atendeu e eu disse: "Wriston, nós estamos no meio do processo. Se interrompê-lo, você será responsabilizado. Você é apenas um dos dez bancos e não pode sair". Depois de muito apelo, ele respondeu: "Fale com o Bill Rhodes. Se ele concordar, tudo bem". Estávamos no gabinete do BB, o Rhodes ao meu lado. Eu olhei pra ele e disse: "Olha aí, ele disse que, se você concordar, continua". Veja a que ponto chegou! Eu estava desesperado! E a situação só piorava!", completou o ministro.

O empréstimo de US$ 1,2 bilhão que o BIS fez ao Brasil em fins de 1982 vencia no primeiro semestre de 1983 e deveria ser pago com uma parte do empréstimo do FMI.

Freitas estava em Paris, tentando descontar alguns títulos do Finex (Fundo de Financiamento à Exportação), quando recebeu uma ligação de Langoni, que disse: "Aproveita que você está aí, vá até a Basileia e avisa ao BIS que não temos como pagar". Freitas telefonou para sua contraparte no BIS e falou que gostaria de fazer uma visita. "Ele organizou um almoço com um dos diretores do BIS. Eu comecei com a minha velha conversa de "cash flow", veja bem... na verdade..., as exportações neste mês foram uma frustração". A reação do diretor foi péssima. Disse que o país era irresponsável, inconsequente. Eu, diplomaticamente, fiz cara de paisagem. Depois, pagamos direitinho", relatou Freitas.

As conversas com o FMI prosseguiram e chegou-se a um novo acordo em setembro de 1983. A recessão se instalou no país e a inflação só crescia. Em agosto, numa das reuniões com a missão técnica do Fundo, os economistas brasileiros defenderam a adoção do déficit operacional em lugar do déficit nominal das contas consolidadas do setor público. A inflação era alta demais e não cairia abruptamente num curto espaço de tempo. No conceito operacional, os efeitos da inflação sobre as contas públicas seriam subtraídos.

No dia 1º de setembro, Langoni deixou o BC e foi substituído por Afonso Celso Pastore. No dia 6, a Igreja Católica, em São Paulo, convocou uma grande manifestação popular "contra a exploração" do FMI. O terremoto econômico aumentava o fosso entre a sociedade e o regime de 1964. Mas não comprometeu o curso da abertura política.

Acordos com o FMI para ajustes da economia levaram à transferência para o exterior de cerca de 15% do PIB, de 1983 a 1985

Pastore retornava de uma viagem a seis países para conversar com os bancos credores do Brasil quando o Congresso derrubou o decreto 2.045, que desindexava parcialmente os salários. Essa era uma peça-chave dos entendimentos com o FMI. Em 20 de outubro, o presidente Figueiredo enviou uma versão mais moderada da medida e Pastore voltou a Washington para renegociar as metas do programa com o Fundo. De Larosière aceitou a nova versão da desindexação salarial, mas pediu mais aperto monetário e mais medidas de restrição fiscal.

O governo fez uma contraoferta: se comprometeria com um superávit operacional de 0,3% do PIB para 1984. Metodologia e meta de déficit operacional foram aceitas pelo Fundo. Em 22 de novembro, a carta de intenção revisada é aprovada pela direção do FMI. No dia 23, o Clube de Paris - onde se renegociam as dívidas de governo a governo - reescalonou US$ 2,7 bilhões em dívidas brasileiras e estava fechado o pacote de US$ 6,5 bilhões dos bancos privados, depois de muito esforço. Foi detida a hemorragia.

O governo Figueiredo não poupou cartas de intenção e pedidos de "waiver" ao FMI. Na verdade, todos sabiam que os critérios de performance arrancados do governo brasileiro pelo FMI eram impossíveis de ser cumpridos. O fundo sabia, o governo americano sabia e o brasileiro, também. Mas era importante manter os sucessivos acordos. Com eles, os bancos estrangeiros teriam uma fundamentação legal para não provisionar aquelas dívidas.

Hoje, Delfim Netto diz que tirou um ensinamento desse processo: "Você tem que levar as coisas até a beirada do abismo. No fim sai um acordo razoável".

O custo desse ajuste para o país foi cavalar. De 1983 a 1985, o Brasil transferiu em recursos reais para o exterior cerca de 15% do PIB. Foram 2,7% do PIB em 1983, 6,24% em 84 e 5,54% em 85. A taxa de câmbio desvalorizada foi crucial para virar as contas externas. Na balança comercial, que em 1982 teve um superávit de US$ 780 milhões, em 1983 o saldo subiu para US$ 6,47 bilhões e em 1984 dobrou para US$ 13,09 bilhões.

O déficit em transações correntes que atingiu US$ 16,27 bilhões em 1982, praticamente zerou: caiu para US$ 94,9 milhões em 1984. As reservas cambiais voltaram para US$ 12 bilhões.

"Fizemos das tripas coração", respirou aliviado o ex-ministro da Fazenda, ao fim da conversa com o Valor, no seu gabinete na Confederação Nacional do Comércio, no Rio, onde ainda trabalha.

No governo Figueiredo, o Brasil ficou mais pobre. O divórcio entre o setor privado e a tecnocracia se aprofundou. Os movimentos de massa, que haviam emergido no governo Geisel, saíram às ruas. E tudo isso convergiu para a campanha das "Diretas Já" em 1984.

Em 25 de janeiro de 1984, na Praça da Sé, em São Paulo, um milhão de pessoas reuniram-se num comício exigindo eleições diretas para a Presidência da República, previstas na proposta de emenda constitucional Dante de Oliveira. Em votação no Congresso, em 25 de abril, a emenda foi rejeitada.

Tancredo Neves foi eleito presidente da República em 15 de janeiro de 1985, pelo colégio eleitoral. As contas externas do país estavam mais equilibradas e a economia voltava a crescer. Após a retração de 2,93% em 1983, o PIB cresceu 5,4% em 1984 e 7,85% em 1985. A inflação, porém, alcançava 220% em 12 meses.

"Ninguém passou o governo para o Tancredo. Quem passou o governo para o Tancredo fui eu, na casa do Dornelles (Francisco Dornelles, sobrinho do presidente eleito e ministro da Fazenda do novo governo) em Brasília", disse Galvêas. "Nós nos reunimos e eu passei tudo que tínhamos, os contratos, o acordo com o Fundo Monetário. Ele queria me dar uma carta, dizendo que cumpriria todos os acordos que nós fizéssemos com o FMI, com os bancos privados. Disse que seria importante ele indicar um ministro para fazer essa negociação. De Larosière estava em Estocolmo e receberia essa pessoa. Ele apontou: "Vai o Dornelles". Aí vi que o Dornelles seria o ministro da Fazenda."

Para evitar o assédio da imprensa, Dornelles preferiu esperar o diretor- gerente do FMI retornar a Paris. "Tenho uma filha lá e vou visitá-la", explicou.

Galvêas com Tancredo: "Quem passou o governo para o Tancredo fui eu. Nós nos reunimos e eu passei tudo que tínhamos, os contratos, o acordo com o FMI", diz o ex-ministro

Dornelles conversou com De Larosière, assegurou que o governo daria sequência aos acordos, pediu que ele mantivesse o programa com o Brasil e os quatro projetos com os bancos privados, dos quais era o fiador. Era compromisso do novo governo. "Vou pensar", respondeu De Larosière. Pouco depois, ele suspendeu os entendimentos e disse que tinha que aguardar o novo governo - atitude que irritou os bancos privados, o governo que saía e o que assumiria.

"Ele resolveu aguardar o Tancredo e o Tancredo não veio nunca", comentou Galvêas.

Passaram-se muitos anos até o país conseguir reestruturar a dívida externa e voltar ao mercado financeiro internacional. A morte de Tancredo Neves e a posse do vice-presidente José Sarney levaram o Brasil a outro rumo. O Plano Cruzado desembocou na moratória unilateral da dívida, em fevereiro de 1987.

Carlos Eduardo de Freitas era diretor da área externa do Banco Central durante a gestão de Dilson Funaro no Ministério da Fazenda. "A moratória tornou-se imperativa, porque não havia vontade política de fazer sacrifício interno para poder pagar a dívida externa", disse Freitas.

Depois de Dornelles e Funaro, o governo Sarney teve mais dois ministros da Fazenda: Luiz Carlos Bresser Pereira e Maílson da Nóbrega, que conseguiu firmar um contrato "stand-by" com o FMI por 19 meses, e teve que fazer uma moratória "não declarada" da dívida em julho de 1989.

No fim de um governo que produziu o Plano Cruzado, o Plano Bresser, o Plano Verão e a moratória, a inflação, medida pelo IGP-DI, acumulava variação de 1.783%, jogando o déficit nominal consolidado do setor público para 83,1% do PIB. Foram tempos caóticos.

A Constituição de 1988, por outro lado, tinha como principal direção o resgate da dívida social que o país acumulava ao longo de sua história.

Em março de 1989, o governo americano apresentou uma proposta que apontava a saída para a crise da dívida. O secretário do Tesouro, Nicholas Brady, colocou na mesa a securitização da dívida, numa operação que envolveria o desconto de cerca de 30% no valor dos débitos.

Doze anos após a moratória mexicana, o governo brasileiro conseguiu assinar, em abril de 1994, o acordo de renegociação da dívida com os bancos credores, com desconto e prazo de pagamento de 30 anos. Desta vez, sem acordo com o FMI, que não quis dar suporte ao Plano Real. O longo período de agonia foi uma solução para o provisionamento dos bancos credores. Em 1995, depois de longa ausência, o Brasil voltou ao mercado financeiro internacional para captar recursos.

Uma sequência de crises internacionais - novamente o México, em 1994, a Ásia em 1997, a Rússia em 1998, além da Argentina, produziu forte redução dos créditos externos ao país, que teve que bater às portas do FMI, mais uma vez, em outubro de 1998. Com as negociações concluídas, o Brasil recebeu em novembro o maior plano de socorro então elaborado pela instituição: US$ 41,5 bilhões.

Em agosto de 2002, diante das incertezas decorrentes das eleições presidenciais no Brasil, o governo de Fernando Henrique Cardoso, de comum acordo com os candidatos à sua sucessão, solicitou o cancelamento do acordo em vigência, que terminaria em dezembro, e negociou um novo "stand-by", de 15 meses de duração, deixando US$ 30 bilhões à disposição do novo presidente. Luiz Inácio Lula da Silva assume e, no fim do acordo então em curso, negocia um outro entendimento com o FMI, a título de precaução.

Foram sete acordos com o FMI, entre o último governo militar e Lula. Em 28 de março de 2005, Lula anunciou que não renovaria o acordo com o FMI e em dezembro pagou antecipadamente a dívida de US$ 15,5 bilhões com a instituição. Em janeiro de 2008, o Brasil passou a ser credor líquido externo, com reservas cambiais superiores à dívida externa.

O Brasil, hoje, é outro país. Não sofre as vulnerabilidades daquele tempo. Mas, desde então, não conseguiu encontrar o caminho do crescimento sustentado que, atualmente, esbarra na baixa expansão da oferta.

Figueiredo deixou a Presidência em março de 1985, pedindo ao povo que o esquecesse. Com o naufrágio da economia, a democratização do país foi seu passaporte para a história.

08 agosto 2012

Privatizem a Petrobrás

A Petrobras possui controle estatal, mas tem capital misto, com milhares de investidores brasileiros e estrangeiros. O uso político da estatal tem custado cada vez mais a esses investidores, cujos interesses são ignorados pelo governo. O prejuízo divulgado na sexta é mais uma prova disso.

O governo mantém o preço dos combustíveis defasado para segurar a inflação, afetando negativamente o lucro da empresa. Além disso, ele demanda grande participação de fornecedores nacionais nos bilionários investimentos da estatal, o que custa mais e atrasa o cronograma. É o uso da empresa para a política industrial de governo, que já arrecada bilhões em royalties e impostos.

Infelizmente, quando o assunto é Petrobras o debate fica tomado pela emoção, sem espaço para argumentos racionais. A esquerda estatizante e a direita nacionalista se unem ideologicamente, alimentadas por muitos interesses obscuros em jogo, e repetem em uníssono que o setor é "estratégico". A Embraer, a Telebrás e a Vale também eram "estratégicas".

Ora, justamente por ser estratégico o setor deveria ser retirado da gestão politizada, ineficiente e corrupta do governo. A exploração do petróleo começou pela iniciativa privada nos Estados Unidos. Desde a primeira prospecção de Edwin Drake em 1859, na Pensilvânia, o setor viu um crescimento incrível com base na competição de várias empresas privadas. O Canadá também conta com dezenas de empresas privadas atuando no setor.

Por outro lado, países como Venezuela, México, Irã, Arábia Saudita, Nigéria e Rússia possuem estatais controlando a exploração de petróleo. Ninguém ousaria dizer que isto fez bem para seus respectivos povos, vítimas de regimes autoritários.

O brasileiro paga uma das gasolinas mais caras do mundo, o país ainda precisa importar derivados de petróleo após décadas de sonho com a autossuficiência, a estatal é palco de diversos escândalos de corrupção, mas muitos ainda repetem, inflando o peito, que "o petróleo é nosso!" Nosso de quem, cara-pálida?

O crescimento da produção de óleo e gás da Petrobras desde que o PT assumiu o governo foi medíocre: somente 2,4% ao ano. Trata-se de um resultado lamentável após tantos bilhões investidos, inclusive com financiamento do BNDES.

A Petrobras, que tinha R$ 26,7 bilhões de dívida líquida em 2007, terminou o primeiro semestre de 2012 devendo mais de R$ 130 bilhões. O endividamento sobe em ritmo acelerado por conta de seu gigantesco programa de investimentos, mas nem os investidores nem os consumidores se beneficiam disso.

A rentabilidade da Petrobras é uma das menores do setor. Seu retorno sobre patrimônio líquido não chega a 10%, metade da média de seus pares internacionais. Os investidores acusam o golpe, e as ações da Petrobras apresentam um dos piores desempenhos no mundo.

Desde 2009, suas ações caíram 5%, enquanto o Ibovespa subiu mais de 40%, e a Vale, mais de 50%. É o governo destruindo o valor da poupança de milhares de pessoas, incluindo todos que utilizaram o FGTS como instrumento para apostar na empresa.

Por que não há maior revolta? Por que não há mobilização pela privatização da Petrossauro, como a chamava Roberto Campos? Parte da resposta é o fator ideológico já citado. Outra parte diz respeito à enorme quantidade de grupos de interesse que mamam nas tetas da estatal.

Seus 80 mil funcionários custaram para a empresa mais de R$ 18 bilhões em 2011, ou quase R$ 20 mil mensais por empregado. Claro que muitos merecem o que ganham, mas como negar o uso da estatal como cabide de emprego para os "amigos do rei"?

Fornecedores nacionais ineficientes ou corruptos também agradecem, pois não precisam competir abertamente no livre mercado. O caminho até a estatal muitas vezes é outro, como comprova o caso do Silvinho "Land Rover", o ex-secretário do PT que ganhou um carro importado de uma empresa fornecedora da estatal.

Artistas e cineastas engajados da "esquerda caviar" também aplaudem a estatal, que destinou mais de R$ 650 milhões para patrocínios culturais de 2008 a 2011. Isso sem falar de blogueiros "chapa-branca", que recebem gordas verbas da estatal. A lista é longa.

Os políticos, então, nem se fala. Quem esqueceu Severino Cavalcanti negociando à luz do dia, em nome da "governabilidade", aquela diretoria que "fura poço"? O ex-presidente Lula era outro que adorava usar a Petrobras para seus fins políticos em parceria com Hugo Chávez.

Só há uma maneira eficaz de acabar com esta pouca vergonha que tem custado tão caro aos investidores da empresa: sua privatização!


Privatizem a Petrobras! - 7 de Agosto de 2012 - O Globo - Rodrigo Constantino

28 maio 2011

Final da Champions League

Além do título da Liga dos Campeões, o vencedor do duelo entre Barcelona e Manchester United, no dia 28 de maio, no estádio de Wembley, terá uma compensação financeira de € 126 milhões (R$ 332,5 milhões) pelo título, de acordo com um estudo econômico feito por uma empresa de cartões de crédito, publicado no jornal espanhol "Marca" e no diário inglês "Daily Mail". O perdedor será recompensado com € 73 milhões (R$ 166,5 milhões) e a cidade-sede, Londres, obterá cerca de € 52 milhões (R$ 137,3 milhões). O impacto econômico total da final chegará a € 369 milhões (R$ 974,5 milhões).

Ainda segundo o relatório, isso se deve a uma combinação da gratificação pela vitória no torneio, mais o incremento ao patrimônio dos clubes e os direitos de imagem e televisão correspondentes. O diretor do Centro Internacional de Economia Desportiva, da Universidade de Coventry, e autor do estudo, comentou os valores.

- Barça e Manchester é a final sonhada em termos de quantidade de seguidores. Ambos os times vão lucrar, juntos, € 200 milhões (R$ 528,2 milhões) pela final, o que converte o jogo no mais lucrativo da história dos clubes europeus.

No setor turístico, cerca de € 18 milhões (R$ 47,5 milhões) serão gerados para a cidade do time que se sagrar campeão. Na América do Sul, a decisão despertará um grande interesse, gerando um impacto de cerca de € 100 milhões (R$ 264,1 milhões).

- Se levar em conta que há 12 jogados desse continente entre os clubes finalistas e que aproximadamente 40% da América do Sul tem raízes espanholas, o interesse neste continente baterá recordes, somado ao tamanho da população e da força das economias como o Brasil - concluiu.

Sete mil libras (R$ 18 mil) por minuto e 120 libras (R$ 316) por segundo. No total, 650 mil libras (R$ 1712). É isso o que cada jogador do Barcelona vai receber se derrotar o Manchester United na decisão da Liga dos Campeões da Europa, neste sábado, em Wembley. As informações são do diário "The Sun", da Inglaterra. A premiação é parecida com a de 2009, quando os jogadores tiveram 15,5 milhões de libras (R$ 40,8 milhões) para dividirem entre si.


Fonte: Globo Esporte

04 janeiro 2011

Dívida no futebol argentino

Os cinco maiores clubes de futebol da Argentina, River Plate, Boca juniors, Independiente, Racing Club e San Lorenzo, somam passivos de 650 milhões de pesos (162,5 milhões de dólares), no fechamento de seus respectivos balanços 2009-2010, segundo um relatório publicado nesta segunda-feira pela imprensa.

O clube com a situação mais complicada é o River Plate, cujo último balanço registrou um déficit de quase 80 milhões de pesos (20 milhões de dólares), marcando um recorde no futebol argentino, com um passivo de 216,8 milhões de pesos (54,2 milhões de dólares), dos quais 190 milhões devem ser cancelados em 12 meses.

Segundo um informe do jornal Tiempo Argentino, atrás do clube "milionário" aparece o Independiente, com 144 milhões de pesos (36 milhões de dólares) de passivo, dos quais 85 milhões vencem no fim de 2011.

Depois, segue seu arquirrival Racing Club, que acumula um passivo de 105 milhões de pesos (26 milhões de dólares) após registrar um déficit de quase 10 milhões (2,5 milhões de dólares) no último exercício.

No entanto, segundo o balanço, o popular Boca Juniors baixou neste ano seu passivo de 134 para 97,6 milhões de pesos devido a um balanço positivo graças à transferência de jogadores, mas estes dados são rejeitados pela oposição, que garante que ainda precisam ser computados gastos de salários e derrotas em julgamentos trabalhistas.

O presidente do San Lorenzo, Carlos Abdo, recebeu o clube com um déficit de 10,2 milhões de pesos e um passivo de 96 milhões de pesos.

Os balanços registraram as rendas provenientes da estatização da transmissão das partidas de primeira divisão, pela qual Boca e River embolsaram 30 milhões de euros (7,5 milhões de dólares), respectivamente, e os outros três "grandes" levaram 23 milhões cada um.


Cinco maiores clubes da Argentina somam US$ 162,5 milhões de passivo - Por AFP

06 dezembro 2010

Crime e Contabilidade I

(...) A tomada das favelas pela polícia carioca é a parte mais visível do combate ao tráfico, mas a ação mais complexa contra o crime organizado é realizada por oito matemáticos, estatísticos e contadores em um pequeno escritório na sede da Polícia Civil do Estado.

Em funcionamento desde janeiro no oitavo andar do prédio, o Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro (Lab-LD) envolve pesquisas nos cartórios de imóveis, nas juntas comerciais e conta com a colaboracão de técnicos de órgãos do governo, como a Receita Federal.

É um trabalho minucioso, de formiguinha, mas que abre uma senda para a política mais efetiva ao tráfico: a asfixia financeira de um setor que movimenta mais de R$ 650 milhões por ano, apenas no Rio.

A estratégia de seguir o dinheiro (“follow the money”, como dizem os americanos) ganhou força em nível mundial depois dos atentados às Torres Gêmeas. Desde 2001, uma série de organizações internacionais passou a adotar recomendações especiais contra a lavagem de dinheiro, que está ligada umbilicalmente ao terrorismo.

O expediente de cruzamento de dados financeiros vem sendo utilizado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro desde o início do ano, graças a uma parceria com a Secretaria Nacional de Justiça.

Foi a análise de extratos bancários e gravações telefônicas que resultou na prisão recente das mulheres de seis grandes traficantes, entre elas as esposas de Polegar da Mangueira e Marcinho VP, efetuadas na semana passada.

Viviane Sampaio da Silva e Márcia Nepomuceno declaravam rendas mensais de R$ 3 mil a R$ 5 mil, mas tinham registrados em seus nomes imóveis de R$ 600 mil, dirigiam carros importados de R$ 100 mil e pagavam faturas de cartão de crédito de até R$ 10 mil por mês.

A identificação dos parentes e amigos que assumem bens para encobrir bandidos é consequência do modelo que o Ministério da Justiça vem implantando desde 2006 nas investigações criminais do país.

Os organogramas, hipóteses e tabelas provenientes do trabalho dos especialistas transformam investigações que levariam dois ou três anos em apurações de dois meses.

No maior caso investigado pelo Lab-LD do Rio de Janeiro, os técnicos identificaram movimentações de pelo menos R$ 2 bilhões nos últimos cinco anos feitas por meio de três pessoas jurídicas de dentro e fora do estado.

É através das notas frias de empresas legais que os traficantes conseguem mascarar com mais segurança a lavagem do dinheiro. Para o chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnowski, essa atenção às finanças finalmente fecha o ciclo de ataque aos traficantes.

“Começamos a tirá-los da zona de conforto. Não adianta só recolher a arma da favela; eles não podem ter dinheiro para comprá-las de novo”, disse à DINHEIRO ao voltar de mais um incursão ao Alemão na quarta-feira 1.

“Nosso objetivo é dizimar a facção criminosa. Se depois das ações ainda houver droga, será igual a qualquer lugar do mundo, e não algo que chegue a afrontar o Estado de Direito a ponto de criar um território que o governo não controla”, completou.

Os técnicos da polícia fluminense já têm resultados expressivos a apresentar. A cópia de uma agenda ajudou a identificar em agosto uma quadrilha de traficantes de drogas que agia nas comunidades de Manguinhos, Mandela e Jacaré.

As 1.847 anotações feitas pelos traficantes entre maio de 2009 e janeiro de 2010 revelaram a movimentação de R$ 16,8 milhões e contribuíram para a expedição de 35 mandados de prisão.

“Estamos fazendo um trabalho de marketing interno para o uso do laboratório com o pessoal das delegacias, mas é bom ver que os policiais já estão se preocupando em recolher extratos e cadernos de contabilidade”, diz a delegada Patrícia Alemany, coordenadora do laboratório do Rio de Janeiro.

Um trabalho de incentivo semelhante ao do Rio vem sendo realizado em nível nacional pela Secretaria Nacional de Justiça. Por enquanto funcionam apenas três laboratórios – os das polícias civis de Rio de Janeiro e São Paulo e o mais antigo deles, sob a alçada da própria SNJ, no Distrito Federal –, mas existem outros sete estados interessados.

“O mais importante é a mudança de cultura. A batalha campal que acontece no Rio é fundamental, mas mexe na ponta do iceberg; precisamos mexer no iceberg todo”, diz Pedro Abramovay, secretário nacional de Justiça.

A movimentação do Ministério da Justiça contra a lavagem de dinheiro não deixa de ser uma resposta às duras críticas feita ao Brasil no início do ano pelo o Gafi, órgão que monitora políticas contra lavagem de dinheiro e terrorismo no mundo.

A instituição diagnosticou que o País não pune o crime de lavagem de dinheiro, devido a falhas de órgãos de controle como CVM e Susep e a limitações do Judiciário no combate a traficantes e políticos corruptos.

Só em 2009, o Coaf recebeu 1,8 milhão de denúncias de possíveis irregularidades, mas seus 45 técnicos não conseguiram analisar nem 1% do que receberam. O maior problema, contudo, está na legislação brasileira, que permite uma infinidade de recursos e dificulta o confisco definitivo dos bens adquiridos no processo de lavagem.

“Os laboratórios conseguem identificar e bloquear os bens num primeiro momento, mas o próprio código de processo penal e a Lei 9613 não permitem celeridade aos processos”, analisa o consultor Alexandre Botelho, especialista em Prevenção aos Crimes de Lavagem de Dinheiro e Financiamento do Terrorismo da AML Consulting.

O Projeto de Lei 3443 pretende solucionar alguns desses problemas, mas tramita no Congresso Nacional desde 2008. De todo modo, o uso da inteligência policial no combate ao crime já começa a render bons resultados.


O cerco às finanças do tráfico - Por Rodolfo Borges - Isto é Dinheiro 687 -

08 abril 2009

Sadia e Derivativos

Sadia fechou operação bilionária cinco dias antes do início da crise
7/4/2009 - Valor Econômico

O maior dos contratos de risco com derivativos da Sadia foi fechado cinco dias antes da quebra do banco americano Lehman Brothers, fato detonador da crise financeira global em suas atuais proporções. Trata-se de uma operação de US$ 1,4 bilhão fechada com o Barclays em 10 de setembro.

Daí a duração dos compromissos financeiros da empresa até setembro deste ano, com a concentração dos vencimentos no terceiro trimestre. As operações, em geral, têm vigência de 12 meses.

A informação consta do relatório da BDO Trevisan elaborado para apurar as responsabilidades dos administradores no episódio dos derivativos, que levaram a companhia a fechar 2008 com um prejuízo líquido de R$ 2,5 bilhões.

O relatório apontou que de janeiro a setembro, período avaliado, a Sadia fez 133 operações de derivativos, todos na modalidade mais arriscada, em que o compromisso se duplica em caso de perdas - mas não em situações de ganho. Desse total, 28, incluindo o maior dos contratos, teriam sido fechados sem que as políticas de risco da empresa tivessem sido observadas e sem o conhecimento do conselho de administração.

"Não foram encontrados indícios de que o conselho tenha sido consultado ou informado", afirmou Marcio Pepe, sócio-diretor da área financeira da BDO Trevisan, durante a apresentação das conclusões do relatório em assembleia de acionistas realizada ontem.

As operações realizadas na modalidade de maior risco somaram US$ 2,7 bilhões em setembro. Pela política de risco, o ex-diretor da empresa Adriano Ferreira, que os controladores da Sadia decidiram processar, tinha alçada para operações de até US$ 200 milhões e gerentes abaixo dele, de até US$ 100 milhões e US$ 50 milhões, conforme o cargo.

Durante as investigações da auditoria, Ferreira afirmou à BDO Trevisan que as reuniões prévias para definir as políticas financeiras não tinham registro em ata. A informação está numa entrevista realizada com o ex-executivo e anexada ao relatório.

Na apresentação das conclusões do relatório à assembleia de acionistas, Pepe afirmou que "falhas de estrutura [permitiram] que a diretoria financeira contratasse as operações". Além disso, os problemas na estrutura da gestão também se devem ao fato de o conselho de administração não ter acesso a um acompanhamento periódico a respeito das operações de risco.

Nas conclusões apresentadas aos acionistas, Pepe relatou que no começo de julho Ferreira já havia sido informado que a soma das operações ultrapassava os limites de risco sugeridos pela empresa, de três meses de exportação.

No entanto, na entrevista de Ferreira anexada ao trecho do relatório disponível na assembleia, ele afirmou à auditoria que a política de risco era de, no mínimo, três meses de vendas internacionais e, no máximo, 7,5 meses - mas de maneira que a estimativa de prejuízo fosse limitada a pouco mais de R$ 650 milhões, de acordo com sistemas de mensuração de riscos.

Os problemas com a exposição das operações tornaram-se evidentes no começo de setembro. A Sadia comunicou os prejuízos ao mercado, pela primeira vez, em 25 de setembro, após o fechamento da bolsa. Somente naquele mês, as "chamadas de margem" - garantia depositada pela empresa nos bancos para perdas esperadas - somaram mais de R$ 460 milhões.

Ao fim de setembro, o balanço da Sadia mostrava que, das perdas totais de R$ 2,6 bilhões com derivativos, pouco mais de R$ 700 milhões já tiveram efeito no caixa em 2008 e outros R$ 1,9 bilhão terão neste ano, concentrados no primeiro e no terceiro trimestres, ou seja, serão efetivamente pagos. O lançamento desse valor já no balanço de 2008 se deve à necessidade de marcação a mercado dos contratos.

A investigação realizada pela BDO Trevisan foi liderada por Marcio Pepe, com uma equipe de 12 pessoas. O levantamento dos dados ocorreu nos primeiros 70 dias após a contratação dos serviços, no começo de novembro passado, No total, os trabalhos acumularam um total de oito mil horas.

O documento, porém, foi criticado durante a assembleia de acionistas. Pepe explicou que o o objetivo dos trabalhos era o levantamento dos fatos e não "embasar propositura" de ações contra executivos.

Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho de administração da companhia desde que os problemas vieram à tona, afirmou que a Sadia está avaliando modificações em sua estrutura de gestão para corrigir falhas nos processos internos, conforme sugestão da auditoria. "Tudo indica que haverá mudanças", disse Furlan ao Valor depois da assembleia. Ele acredita que também a composição do conselho de administração sofrerá alterações, na assembleia geral ordinária, marcada para o fim deste mês.

A repórter adquiriu 11 ações ordinárias da Sadia, no valor de aproximadamente R$ 60, o mínimo vendido na corretora, para ter acesso à assembleia da companhia e poder reportar aos leitores a auditoria feita na empresa, cujo conteúdo é aberto apenas aos acionistas presentes na reunião em Concórdia, interior de Santa Catarina. A repórter se absteve de votar.


Dois comentários: (a) problemas sérios de controle na empresa, que permitiu que a operação fosse realizada; (b) o acesso a assembleia pela reporter mostra a dificuldade de obter informações nas empresas abertas

02 abril 2008

Avaliação de um Clube


No passado orientei uma dissertação de mestrado (aqui link) sobre avaliação de um clube de futebol. Agora, neste blog , o processo de avaliação do Chicago Cubs, um time de beisebol. Esta equipe não vence a world series faz cem anos e tem um desempenho nos últimos trinta anos sofrível. Entretanto, o Chicago Cubs é um time que possui um bom nome. Mas quanto seria o seu valor? Apesar do método usado pelo blog ser questionável, a seguir um resumo:

Método Baseado nas Receitas (Múltiplo)

O Cubs possui receitas de 200 milhões de dólares (vendas de ingressos, propagandas e outros). Geralmente o múltiplo para o setor de esportes é de duas a três vezes a receita. Considerando um múltiplo de 2,5 tem-se um valor de 500 milhões de dólares.

Prêmio pelo Desempenho

Imaginando que uma equipe possa ter seu valor baseado nos resultados, pesquisas mostram que um time pode aumentar de 20 a 30% o seu valor como prêmio pelos resultados. O valor seria então de 500 milhões mais 100 milhões de dólares = 600 milhões

Intangíveis

Ser proprietário de um clube pode agregar um intangível importante para seu proprietário. Segundo uma estimativa otimista, isto adicionaria de 17 a 35% no preço. Mas uma estimativa mais conservadora consideraria 1% de acréscimo, ou $6 milhões.

Racionalidade

Apesar da estimativa de 606 milhões, esportes não lida com o 100% racional. Assim, um preço possível seria acima deste valor. O blog arrisca então 650 milhões. Ou mais.

23 agosto 2007

Custo Operacional

Quando compramos certos produtos, como uma casa ou um carro, nós consideramos geralmente somente o preço de compra, esquecendo do custo operacional. Manutenção, reparos e melhorias podem ser significativos em certas situações. E geralmente descobrimos isto após a compra.

Este erro também tem sido cometido por empresas, quando adquirem uma máquina ou equipamento. E por milionários, como mostra o WSJ Blog (aqui). Segundo este blog, o custo operacional de um barco é cerca de 10% do valor da aquisição. Então, um iate de 150 pés que custa 24 milhões de dólares terá um custo operacional de cerca de 2,5 milhões por ano.

Para mansões, o cálculo é mais complicado pois depende das suas características e do número de empregados. De acordo com uma revista de milionários, para manter uma mansão de 3 mil a 5 mil pés quadrados, que a revista chama de "pequena", o custo é de 100 mil dólares por ano. Já uma mansão média (entre 5 mil a 10 mil pés quadrados), o custo é maior: 650 mil dólares. Uma grande mansão pode ter um custo de 1,5 milhão por ano.

Um sortudo que ganha na loteria esportiva comete um erro em comprar uma mansão. O custo operacional anual pode acabar com a riqueza.

Em termos contábeis, é como uma empresa que investe seu capital (patrimônio líquido) num ativo (mansão), mas sem condição de gerar receita e lucro. A médio e longo prazo será necessário desfazer do ativo.

01 maio 2007

A morte do Aral

O Mar de Aral é um mar interior da Ásia, situado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão ao sul.

Em 1960, ele cobria 68 000 km², sendo o 4º maior lago do mundo. Em 2000, sua superfície já estava dividida por dois. A separação entre o Pequeno mar ao norte e o Grande mar ao sul data de 1989. A evolução atual prediz o desaparecimento total do segundo por volta de 2025.

Abaixo, a foto do Aral em 1983.




A diminuição do volume de água no Mar de Aral é considerado um dos maiores desastres ambientais e humanos da história.

Recebendo água de dois rios, o Amu Dária e o Sir Dária, o Mar de Aral vem secando progressivamente há quarenta anos. As nascentes dos dois rios é nas altas montanhas que fazem parte do sistema do Himalaia e que distanciam cerca de 1.000 km da foz. Durante toda esta extensão, sucessivas drenagens feitas pelo governo soviético nas repúblicas da Ásia Central a partir de 1920 fizeram com que o fluxo dos rios no mar diminuisse consideravelmente (90% de vazão no rio Sir Dária). As drenagens feitas com propósitos de irrigação de culturas de algodão no Uzbequistão, e arroz no Cazaquistão, em pleno deserto. Os fluxos acumulados em anos normais dos dois rios passaram de 60 km³; na década de 1950 a 38,5 km³; em 1970, 10 km³; em 1975 e 1,3 km³; em 1986. (...)

Atualmente, o nível do Mar de Aral baixou de 22 m desde 1960 e ele perdeu 60% da sua superfície. Seu volume passou de 1100 km³ a 650 km³ de 1960 a 1990. O litoral recuou mais de 80 km. Em 1990 mais de 90% das terras úmidas ao redor da região secaram.


Abaixo, a foto do Aral em 2003



Fonte do Texto: Wikipedia

12 dezembro 2006

Tata X CSN

Segundo os jornais de hoje informam, a CSN cobriu a oferta da Tata pela Corus.

"Apenas um dia depois da nova proposta do grupo indiano, empresa brasileira eleva oferta para US$ 9,6 bilhões" (Estado de S. Paulo, CSN cobre oferta da Tata pela Corus, Agnaldo Brito)

"A CSN anunciou ontem uma nova proposta de 515 pence (centavos de libra) por ação da Corus, o que dá à empresa um valor total de US$ 9,6 bilhões (R$ 20,5 bilhões). A oferta revisada da Tata, anunciada no domingo, era de 500 pence por ação, ou US$ 9,2 bilhões.

A primeira oferta da Tata, pela Corus, anunciada no final de outubro, era de 455 pence por ação. A CSN entrou na briga no meio de novembro, anunciando que faria uma proposta de 475 pence por ação. Mas antes que oficializasse a proposta, a Tata deu um novo lance, no domingo. Ontem, a CSN voltou à disputa com uma oferta oficial contando, segundo a empresa, com o apoio de bancos internacionais.

O diretor-financeiro da CSN, Otávio Lascano, disse em teleconferência com analistas que, para garantir o negócio, a companhia já assegurou uma linha de financiamento de US$ 8 bilhões com os bancos Barclays, Goldman Sachs e ING.

Além disso, a empresa firmou uma linha de crédito de cerca de US$ 2,5 bilhões com o UBS e o Citibank. Em adição, a Corus teria US$ 650 milhões para fazer frente às necessidades de capital de giro.

(...) A compra do grupo anglo-holandês, 8º maior do mundo, significaria um enorme salto tanto para a Tata, 52ª maior siderúrgica do mundo, quanto para a CSN, 49ª do ranking: ambas passariam a ocupar o 5º posto na lista das maiores produtoras de aço. Ontem, as ações da Corus subiram 5% por causa do leilão entre as duas empresas.

A disputa acirrada pela Corus, apesar de o mercado não considerar a empresa um ativo de primeira linha, segue a lógica da corrida por fusões e aquisições na siderurgia mundial. As siderúrgicas buscam ganhar escala principalmente para aumentar seu poder de pressão para negociar o preço do minério, cujo mercado está nas mãos de poucas mineradoras.

(...) A CSN, apesar de enfrentar a desconfiança do mercado (as ações da empresa caíram ontem 2,32%), tenta mostrar os ganhos que terá com o negócio. As sinergias somariam US$ 750 milhões até 2009. Deste valor, US$ 450 milhões viriam da elevação do fluxo de caixa da Corus quando a empresa receber minério-de-ferro da Mina Casa de Pedra, da CSN.

Isso permitiria, segundo o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, 'destravar' os ativos de minério-de-ferro e elevar a produção para 50 milhões de toneladas por ano. A outra parte dos ganhos (US$ 300 milhões) viria das economias de uma operação global.

A ponderação mais ouvida entre analistas sobre a elevação do preço pela Corus é a de que essa disputa pode 'destruir valor', ou anular esses ganhos que a CSN imagina obter depois de fechar o negócio. 'Há um limite para estas ofertas, não sei se a CSN chegou nele, mas há um limite', diz Pitchon. O Banco Merrill Lynch distribuiu avaliação de que o limite da siderúrgica brasileira seria de US$ 9,9 bilhões.

Rodrigo Ferraz, analista de siderurgia da Brascan Corretora, diz que os ganhos obtidos pela CSN não se resumem aos US$ 750 milhões. O controle da Corus dará à CSN acesso ao mercado europeu e norte-americano, algo que o Brasil só tem acesso parcialmente. A CSN poderá, no médio e longo prazo, segundo ele, criar novas usinas de chapas no Brasil e mandar para laminação nas plantas da Europa."



Na Folha de hoje (Financiamento da compra é complexo, PETER MARSH, do "FINANCIAL TIMES") informa:

"Tanto para a Tata Steel quanto para a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), descobrir a maneira correta de obter financiamento para suas propostas de adquirir a Corus foi um processo complicado.

O grupo indiano e o brasileiro estão tentando adquirir uma empresa que produz três vezes mais aço do que eles, e era necessário descobrir um mecanismo que permitisse financiar pouco mais de US$ 10 bilhões.

A oferta inicial de US$ 10 bilhões que a Tata Steel apresentou pela Corus praticamente naufragou devido à complexidade do pacote de empréstimos proposto, de acordo com uma pessoa envolvida na transação. O maior problema era criar um conjunto de empréstimos levando em conta a complexa mistura de passivos das usinas da Corus na Holanda e no Reino Unido.

O banco de investimento Credit Suisse foi convocado para especificar um mecanismo que permitisse obter um empréstimo de 3,3 bilhões de libras, que formou a base da proposta da Tata Steel. A dívida seria registrada como parte da contabilidade da Tata Steel e seu ressarcimento seria coberto pelo fluxo de caixa futuro.

O Deutsche Bank e o ABN Amro também forneceram parte do dinheiro envolvido no empréstimo de 3,3 bilhões de libras. Outros 2,2 bilhões de libras foram investidos pelo grupo industrial Tata, principal acionista da Tata Steel. O mesmo pacote básico de financiamento estava em jogo na nova oferta da Tata Steel, no valor de 5,5 bilhões de libras, anunciada no domingo.

A nova oferta da CSN, no valor de 5,7 bilhões de libras, emprega alguns dos mesmos mecanismos que o pacote de financiamento desenvolvido pelo Credit Suisse, a fim de ressarcir parte das dívidas contraídas pela CSN por meio do fluxo de caixa futuro do grupo. A maior parte do dinheiro foi obtida em forma de empréstimo por três bancos -Barclays, ING e Goldman Sachs-, enquanto outra parcela dos recursos viria de um pacote de empréstimos separado no valor de 1,6 bilhão de libras, com dinheiro fornecido pelo Citigroup e pelo UBS.

Tradução de PAULO MIGLIACCI