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05 maio 2020

Assembleia digital

A figura acima, do Valor Econômico (Assembleia virtual reduz custos e atrai acionistas, Raquel Brandão e Juliana Shcincariol, 30 de abril de 2020, B1), mostra a adoção desta modalidade por parte das empresas brasileiras. Parte da justificativa é a redução de custos:

uma vez que não é preciso deslocar auditores e advogados para a sede da empresa e tampouco é necessária a locação de salas em casos de reuniões de maior quórum. 

(Além de reduzir o gasto com o cafezinho e o lanchinho). O texto cita o aumento na participação. Obviamente isto é controverso, já que o caso citado é de cinco acionistas de uma empresa, que solicitaram a senha de acesso.

Já tínhamos feito o levantamento anteriormente neste blog. Mas discutimos também que a assembleia virtual corre o risco de ser menos democrática. Temos que concordar que este novo formato pode mudar a forma das assembleias no futuro. Mas não é bom exagerar nas vantagens com base em um caso somente. Pesquisa. Dados.

26 abril 2020

Assembleias

Mais de trinta assembleias de acionistas já foram convocadas desde que a CVM regularizou a possibilidade do evento ser também digital. Eis um panorama interessante.

As seguintes empresas (total de 16) fizeram a convocação de forma exclusivamente digital:
Light - Anima - Usiminas - Paranapanema - Log-In - International Meal - Brasil Brokers - Sinqia - Alupar - Sabesp - Vale - Tupy - TLSA - Alpargatas - Arezzo - Vivara - Telebras

As empresas (12 até agora) a seguir estão chamando a assembleia de forma híbrida:

BRF - Emae - Banco da Amazonia - Bombril - Guararapes - Ideias Net - Coteminas - Santanense - Hering - Bahema - Ser - Copasa

Quanto ao sistema de comunicação, 13 empresas não indicaram, na convocação, o sistema que será usado ou indicaram que irão usar um sistema próprio ou um sistema a ser disponibilizado (BRF - EMAE - Bombril - Telebras - Guararapes - Brasil Brokers - Springs - Coteminas - Santanense - Bahema - Tupy - TLSA - Copasa - Springs). A demais indicaram o sistema, com uma predominância pelo Zoom (Light - Anima Holding - Paranapanema - Log-in - International Meal - Ideias Net - Alpargatas - Sabesp - Arezzo ou seja 9 empresas). Mas também foram citados Teams (4 empresas ou Usiminas - Banco da Amazonia - Mitre - Hering), Webex (Sinqia - Alupar - Vale), Webecast (Vivara) e Net Globe (Ser Educacional).

O leitor poderá notar que das nove empresas que irão usar o Zoom, oito fizeram a opção pela assembleia exclusivamente digital.

24 abril 2020

Assembleias menos democráticas?

A necessidade de restringir a interação entre os acionistas pode fazer com que as assembleias sejam menos democráticas, alerta a Reuters. Os exemplos apresentados são dos Estados Unidos, mas servem de alerta para outros países.

Na reunião do Citi deste ano somente as perguntas por escrito foram consideradas. Isto, naturalmente, impede uma interação maior entre investidor e empresa. Ativistas, que participavam de reuniões para defender suas causas, também ficaram desanimados pela falta de tempo e espaço para as perguntas. Um ativista ambiental teve sua pergunta de 350 perguntas resumida para 60 palavras durante uma reunião com uma instituição bancária.

Tanto o Bank of America quanto o Citi afirmaram que responderam todas as perguntas, embora tenham resumido algumas para economizar tempo. O BNY Mellon recebeu as perguntas antes e não respondeu logo. Nenhum banco grande aceitou perguntas por telefone ou uma comunicação mais direta com executivos.

Alguns ativistas estão pensando em "encontrar outros fóruns para abordar as questões em que eles não vão gostar".

23 abril 2020

Assembleias digitais: Zoom prevalece

Depois que a CVM regularizou a assembleia digital, diversas empresas soltaram o edital convocando seus encontros com os acionistas.

Muitas assembleias foram canceladas em razão da pandemia. Isto ocorreu em março e início de abril. Com a atuação da CVM, além da MP 931, muitas empresas começaram a fazer a convocação. Junto a esta chamada, a empresa divulga alguns procedimentos para a participação. A seguir, a relação das empresas que já convocaram a assembleia e a plataforma que será usada.

Zoom - Light - Anima Holding - Paranapanema - Log-in - International Meal

Microsoft Teams - Usiminas - Banco da Amazonia

Não especificaram - BRF - EMAE - Bombril - Telebras.

13 abril 2020

Covid e a Assembleia

Em meio aos problemas de saúde e a velocidade dos acontecimentos, um fato interessante ocorreu com a CCX Carvão da Colômbia, uma empresa em processo de liquidação. No final de março, a empresa divulgou a seguinte informação:


A CCX CARVÃO DA COLÔMBIA S.A. – EM LIQUIDAÇÃO (“CCX” “Companhia”), em atendimento ao artigo 157, parágrafo 4º, da Lei nº 6.404/76, na forma da Instrução da Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”) nº 358/02, informa aos seus acionistas e ao mercado em geral que:

1. Diante da quarentena decretada no estado do Rio de Janeiro (cf. Decreto nº 47.006 de 27 de março de 2020), onde se encontra a sede da Companhia, e conforme as recomendações emitidas pelo Ministério da Saúde (cf. Protocolo de Manejo Clínico para o Novo Coronavírus e Recomendações do Ministério da Saúde e da Anvisa para a Operação Regresso), e conforme autoriza o artigo 1º da Medida Provisória nº 931, de 30 de março de 2020, a Companhia decidiu adiar a realização da Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária de 2020 (“AGOE de 2020”), que inicialmente ocorreria em 30 de abril de 2020, para o dia 1º de junho de 2020.

(..) 3. Em linha com tal posicionamento, e considerando que Assembleias Gerais são eventos essencialmente caracterizados pela aglomeração de pessoas, a Companhia concluiu por adiar a AGOE de 2020 para 1º de junho de 2020. A Companhia destaca, ainda, que o principal objetivo da referida medida é proteger e resguardar seus acionistas neste momento tão sensível.


4. Some-se a isto o fato de que a circulação interestadual e intermunicipal de pessoas tem se tornado cada vez mais difícil, tendo em vista a imposição de restrições de deslocamento e também de redução da disponibilidade de meios de transporte. Desse modo, a alteração da data da AGOE de 2020 é a medida mais adequada para garantir aos acionistas a possibilidade de comparecer à AGOE de 2020 e exercer plenamente seus direitos.


Até aqui tudo bem. A empresa fez o que muitas outras também fizeram: mudar a data da assembleia. Mas chama atenção o próximo item:

5. Nesse sentido, a Companhia orienta os seus acionistas e o mercado em geral a desconsiderarem o Edital de Convocação publicado hoje no jornal Monitor Mercantil e no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, que convocava a AGOE para o dia 30 de abril de 2020.

Resumindo: a empresa publicou um edital de convocação para uma assembleia no dia 30 de março e no mesmo dia desmarcou a assembleia. Muito rápido.

06 abril 2014

Assembleias evasivas

Há muito os pesquisadores descobriram que uma empresa evidencia muito além do que se encontra nas demonstrações contábeis. As informações podem estar até nas próprias demonstrações, nas suas entrelinhas. Por exemplo, a doutora Fernanda Rodrigues descobriu que os relatórios de administração das empresas brasileiras com problemas costumam tratar da economia, evitando comentar sobre o seu próprio desempenho.

Mas a evidenciação pode também ocorrer na forma como o executivo pronuncia o seu discurso na assembleia anual ou dá uma declaração. Para aqueles que gostam de uma série, num dos primeiros episódios de Lie to Me, Cal Lightman, um especialista em mentiras, vê um executivo dando uma declaração para televisão. Ao perceber que estava mentido, Lightman manda vender suas ações da empresa do executivo. Este tipo de evidenciação, que ocorre “sem querer”, é a evidenciação Ops. As pesquisas sobre a evidenciação Ops geralmente são muito criativas. Elas procuram descobrir sinais de algo de errado está ocorrendo com uma empresa.

Recentemente dois pesquisadores usaram a localização e o horário das assembleias dos acionistas para verificar se isto estaria dizendo alguma coisa sobre o desempenho da empresa. Em geral as empresas costumam fazer suas assembleias próximas a sua sede. Mas existem casos onde o local é muito distante. Li e Yermack, os dois pesquisadores, descobriram que quando a assembleia muda para um local distante da sede, as empresas tendem anunciar resultados ruins. Analisando mais de 10 mil assembleias anuais, entre 2006 a 2010, os resultados encontrados foram significativos.

A pesquisa também se ateve a atitudes que algumas empresas têm em tentar desencorajar a participação. Isto acontece nas mais diferentes empresas – a Wal-Mart, por exemplo, limitou o tempo total para perguntas em 15 minutos das 4 horas na sua assembleia de 2013 – e as estratégias também são diferentes. A pesquisa descobriu que a participação das assembleias cai quando ocorre em horário pouco usual.

Assim, quando sua empresa marcar uma assembleia para um hotel longe da sede e num horário pouco convencional desconfie. É uma evidenciação ops.


Leia mais; LI, Yuanzhi; YERMACK, David. Evasie Shareholder Meetins. NBER, Working Paper 19991, março de 2014

23 janeiro 2013

Eletrobras

A Eletrobras realizou uma de suas assembleias mais polêmicas no mês passado. No dia 3 de dezembro, os acionistas foram convocados para decidir se a companhia deveria aceitar a proposta do governo federal de renovar os contratos de concessão, nos moldes propostos pela MP 579. Além da peleja que se tornou pública, devido aos prejuízos que decorrerão da mudança nos termos dos contratos, uma outra disputa aconteceu nos bastidores. Duas das mais influentes consultorias de voto emitiram relatórios sobre a assembleia com recomendações totalmente distintas.

A Institutional Shareholder Services (ISS) recomendou que os investidores acompanhassem a proposta da administração da Eletrobras. Aconselhou aos seus clientes rejeitar a eleição de um conselheiro de administração indicado pelos minoritários e aprovar a renovação dos contratos de concessão. Em relatório, a consultoria reconheceu que "os termos da renovação apresentados pelo governo são claramente desvantajosos para a empresa, evidenciando o risco de se investir em empresas controladas pelo Estado, onde o interesse público prevalece sobre o interesse dos acionistas". Mas acabou concluindo que acompanhar a administração seria a alternativa menos pior para os acionistas. O governo não mudaria de ideia, argumentou, até porque a maior parte das companhias aceitaria os termos propostos, e os riscos de enfrentar uma nova licitação seriam maiores do que os de renovar o contrato.

A recomendação da ISS, no entanto, não fez a cabeça dos investidores. No balanço final da assembleia, apenas a própria União, o BNDES e a BNDESPar votaram a favor da renovação — além de alguns fundos estrangeiros que, sem orientação específica de voto, seguem a proposta da administração. [...]

Na direção contrária foi a Glass Lewis, que emitiu relatório apoiando o pleito dos minoritários. Além de ressaltar o quanto as renovações serão prejudiciais aos resultados da Eletrobras, a consultoria assinalou o conflito de interesses presente no conselho de administração da elétrica, composto de membros do governo federal.

Embora vencidos, os minoritários ainda não desistiram da briga. Até o fechamento desta edição, um grupo de acionistas se preparava para recorrer ao Poder Judiciário e pedir a anulação da assembleia. Em sua defesa, eles pretendem ressaltar o fato de que, no último aumento de capital da companhia, no começo de 2011, cada nova ação ordinária foi emitida por R$ 22,61, enquanto as preferenciais saíram por R$ 27,01. Ao fazer a emissão, afirmam, o governo teria sinalizado uma expectativa de valor para a companhia que, pouco menos de dois anos depois, não existiria mais. No dia 19 de dezembro, as ações ordinárias fecharam a R$ 6,45; e as PNB, a R$ 10,01.


Fonte: Aqui

23 dezembro 2009

Encerrando o ano

Assembleias de última hora
Por Fernando Torres, de São Paulo
Valor Econômico - 23/12/2009

Para boa parte das pessoas, o ano de 2009 já está praticamente encerrado, com as preocupações se resumindo a como serão Natal e Ano Novo. Mas no mundo societário o fim de ano será bastante agitado. Considerando os seis encontros que ocorreram nos últimos dois dias e também aqueles que já estão agendados, serão 38 assembleias gerais extraordinárias (AGEs) nas duas últimas semanas do ano. Dessas, dez estão agendadas para o dia 30 de dezembro e outras quatro para o último dia do ano. Nas duas últimas semanas de 2008, houve 25 reuniões.

A lista de empresas com assembleia marcada para 31 de dezembro inclui JBS, Andrade Gutierrez Concessões, Cemig e Diagnósticos da América (Dasa).

O tema predominante dos encontros deste ano, presente em 23 deles, são reestruturações societárias envolvendo incorporações de empresas. Conforme matéria publicada pelo Valor em 19 de novembro, as companhias estão acelerando processos de incorporações neste fim de ano.

As motivações da correria são diversas e variam caso a caso. Mas ao menos quatro empresas confirmaram que questões fiscais, como o temor sobre mudanças tributárias para 2010, justificam o esforço de realizar as assembleias ainda este ano, ainda que em uma data que prejudica o comparecimento de minoritários. Outro problema que as empresas tentam evitar tem a ver com novas regras contábeis sobre combinações de negócios, que são bem mais complexas e passam a ser obrigatórias em 2010.

A JBS ilustra bem o interesse das empresas em concluir as transações ainda em 2009. No dia 14 de dezembro, a companhia divulgou fato relevante dizendo que a incorporação societária da Bertin ocorreria em uma assembleia a ser marcada para janeiro de 2010. Um dia depois, a companhia enviou novo comunicado antecipando o encontro para o dia 31 de dezembro, porque "entende que é de interesse seu e dos acionistas realizar a incorporação e as mudanças na governança ainda neste ano".

Uma fonte da empresa, que não quis se identificar, disse que a incerteza sobre mudanças fiscais teria motivado a decisão. Já por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa negou a informação e disse que a mudança de data se deveu à orientação dos assessores legais de fechar toda a operação "dentro do mesmo exercício contábil", já que teriam feito cálculos dos prazos e visto que isso era possível.

A maior preocupação é que haja mudança na regulamentação sobre o ágio, seja em relação à forma de cálculo, seja sobre a amortização fiscal. A nova lei contábil, do fim de 2008, acabou com a amortização no balanço societário das empresas, embora tenha sido garantido o procedimento para fins fiscais. Entretanto, o Regime Tributário de Transição (RTT) instituído pela Receita Federal acaba em 2010, e o temor é que a neutralidade fiscal não seja renovada integralmente.

Quando uma empresa faz uma aquisição, o ágio pago pode ser deduzido da base de cálculo do Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). E o entendimento é que possíveis mudanças só valeriam a partir de 2010. Se a transação for efetivada neste ano, portanto, o benefício fiscal estaria garantido.

Apesar do receio de muitos, especialistas dizem que essa correria de fim de ano pode ser em vão. "Minha opinião pessoal é que não precisava disso. Já passou a época em que se traziam novidades tributárias na última semana do ano. Esse governo trouxe mais previsibilidade nessa área e espero que essa estabilidade de regras seja mantida", afirma Luiz Frazão, presidente da Ernst & Young no Brasil.

Segundo ele, o hábito de se editar regras no apagar das luzes do ano causa receio nos investidores e tem efeito negativo nas decisões de investimento de longo prazo.

Outro que também acha que a preocupação das empresas pode ser indevida é Fabio Maranesi, consultor da BM&A Consultoria Tributária. "Em 2008 teve a mesma correria. Um monte de gente acelerou e no fim não mudou nada", diz.

Assim como Frazão, Maranesi critica a possibilidade de mudança na regra de amortização do ágio. "Eu particularmente acho que seria péssimo para o Brasil neste momento. A única consequência será desestimular a economia", afirma.

Ainda nessa linha, o consultor da BM&A diz que todos os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm lucro líquido contábil diferente do tributário. "E ninguém reclama que norma fiscal tem de seguir o mesmo padrão da norma contábil. A gente tem de olhar mais como as coisas funcionam no resto do mundo."

É importante destacar que algumas operações de incorporação não geram ágio, em especial quando a incorporada é uma subsidiária integral. Este é o caso da Tegma, que vai incorporar a Nortev, empresa do segmento de transporte de veículos comprada há pouco mais de um ano. Segundo o presidente da Tegma, Gennaro Oddone, o que motiva a operação é a redução de custos administrativos, para que as sinergias previstas na aquisição se concretizem. "Não faz sentido ter estrutura duplicada, duas contabilidades, dois processos financeiros e fiscais", explica.

A Hypermarcas, por sua vez, disse que tem costume de incorporar no fim do exercício as empresas que adquiriu no ano, como havia feito em 2008. A Cemig informou que não comenta a reestruturação da Rio Minas Energia (RME).

16 fevereiro 2009

Assembleias da Lei 11638

Assembleias à vista
13/2/2009 - Valor Econômico

A agenda da temporada de assembleias gerais deste ano será ainda mais desafiadora para os acionistas. A concentração da publicação dos balanços de 2008 no mês de março, limite do prazo legal, por conta dos trabalhos com a adaptação à nova lei contábil provocará uma concentração maior dos encontros. Os resultados completos precisam estar à disposição 30 dias antes do encontro, conforme determina a Lei das Sociedades por Ações, já que sua aprovação é tema da reunião. Sem isso, o encontro não pode acontecer.

Para contrabalançar esse cenário de agenda previsivelmente agitada, os investidores contam com uma melhora no ambiente de realização das assembleias. Diversos movimentos convergem ao objetivo principal de estimular e facilitar a participação dos investidores nesses encontros.

Sem eles, o ano seria um marco em confusão, já que a legislação societária obriga a realização dessas reuniões na sede social da empresa - não interessa se é na Zona Franca de Manaus, a milhares de quilômetros do centro financeiro do país - e com a presença física para que o voto tenha validade. Ou seja, se o acionista não vai, um procurador precisa ir para votar por ele.

Hoje, mais de cem companhias abertas - aproximadamente 25% do mercado brasileiro - possuem apenas ações ordinárias (com direito a voto), ampliando a necessidade da participação dos acionistas, inclusive minoritários, na aprovação dos assuntos. Pouco menos de um terço dessas não tem a figura de um controlador clássico, com 51% das ações, o que amplia os poderes dos demais.

Com esses dados, fica fácil entender o crescimento do empenho das companhias em melhorar as informações a respeito da pauta dos encontros, produzindo manuais com os assuntos detalhados, propostas justificadas e ainda com o modelo da procuração de voto já pronto.

Até 2007, praticamente só a Lojas Renner oferecia esse material para distribuir aos acionistas, mas em 2008 a prática ganhou adesões. Itaú e sua holding Itaúsa, Perdigão, ALL Logística, Embraer, CPFL e Paranapanema estão entre as que fizeram manuais para participação dos acionistas nas assembleias gerais do ano passado.

A expectativa é que pelo menos as companhias que no ano passado já apresentaram manuais mais robustos continuem a fazer isso neste ano. Embora a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já tenha sinalizado claramente que vai tornar esse procedimento obrigatório, com uma instrução que deve ser emitida em 2009, ainda é uma incógnita se muitas empresas vão aderir ao movimento.

Além das companhias, diversos agentes de mercado trabalharam com a meta de simplificar o exercício dos votos. Uma das principais mudanças é a desburocratização do processo.

A CVM emitiu um parecer, em meados do ano passado, esclarecendo que diversas burocracias solicitadas para o voto por procuração não são obrigatórias e, portanto, absolutamente dispensáveis. Ficou claro que não é necessário reconhecimento de firma em procurações, nem a consularização de documentos, quando se trata de voto de acionista estrangeiro.

A liberação dos acionistas desse compromisso não precisa ser prevista em estatuto, basta que a companhia informe publicamente, assim todos seguirão o mesmo procedimento.

Será a primeira temporada de assembleias com o entendimento da CVM vigente. Junto com ele, tornou-se possível o uso de procuração eletrônica com assinatura digital - dispensando a movimentação física do investidor.

Há mais avanços ainda garantidos pelo uso da tecnologia a favor dos encontros de acionistas. A BM&FBovespa inaugura já para essa temporada um sistema que facilita a obtenção pelo acionista de seu certificado de propriedade de ações - necessário para garantir quantos votos possui. Antes, a obtenção desse documento, além do deslocamento físico, demandava uma espera de aproximadamente 15 dias durante o auge da agenda de assembleias.

Agora, o certificado pode ser solicitado à corretora, que emite um comprovante digital em minutos. A adoção desse sistema atende pedido da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec). "Olhamos a temporada passada e pensamos em coisas simples que poderiam evoluir e melhora a vida do acionista", disse Edison Garcia, superintendente da associação.

Tecnologia, aliás, é a palavra de ordem quando o assunto é facilidade para os acionistas. Com o posicionamento da CVM, emitido após consulta feita pela empresa especializada em serviços de relações com investidores MZ Consult, a companhia lançou sua plataforma Assembleias Online.

Como o próprio nome já diz, a empresa que contratar esse serviço permitirá que o acionista consiga, de posse de uma assinatura digital certificada, acessar o manual do encontro e emitir seu voto num único ambiente. Há serviços opcionais que poderão ou não estar disponíveis, como transmissão on-line da reunião e ainda um blog para os investidores discutirem os temas do encontro, antes de sua realização. A facilidade inclui a contratação dos serviços de procuração, eliminando essa preocupação do acionista.

Na esteira do lançamento, já aparece a concorrência, ampliando a oferta da ferramenta. A empresa de serviços financeiros Firb também colocou na praça produto semelhante. "Mais do que facilitar a vida ao evitar a necessidade presencial, representa a possibilidade de o acionista votar quando quiser, até às dez horas da noite, de sua casa, se quiser", disse Arleu Anhalt, presidente da empresa.

Rodolfo Zabisky, fundador da MZ Consult, embora otimista com o Assembleias Online, acredita que este não será o grande ano de adoção. Espera que entre 15 e 20 empresas adotem sua plataforma. Por enquanto, apenas Bematech e Totvs tomaram essa decisão.

O presidente da Bematech, Marcel Malczewski, disse que o motivo da adoção da tecnologia é "bem simples": quer ampliar o quórum de suas assembleias. O grupo de acionistas fundadores, mais os investidores que entraram antes da abertura de capital e o BNDES possuem 51% das ações. Na reunião anual do ano passado, os investidores presentem somaram 57%, o que significa que apenas os minoritários de mercado que participaram contribuíram apenas com 6% nessa fatia.

No caso da Totvs, segundo José Rogério Luiz, ainda não está certo que a plataforma estará disponível para a assembleia geral deste ano. A decisão de usar o sistema já esta tomada, mas algumas dúvidas sobre as formalidades da adesão não garantem que tudo estará pronto a tempo. "Como temos capital pulverizado, o sistema vai ajudar a conseguir mais votos."

Para Rodrigo Figueiredo Nascimento, advogado do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga, o sistema de assembleias on-line é muito interessante, mas serão necessários alguns anos para que seja amplamente utilizado no país. "Nossa história é de assembleias muito formais e presas ao papel. Vai demorar um tempo para que essa cultura mude."

O teste do voto eletrônico é aguardado no mercado. Pedro Rudge, sócio da gestora de recursos Leblon Equities, diz que está ansioso para ver quais e como as companhias vão se organizar nesse sentido. "Se der certo, o voto eletrônico pode representar uma grande revolução." Já Renato Chaves, ex-diretor da Previ que desenhou o manual de assembleias do fundo de pensão, é mais cético com relação a essa estreia. "Neste primeiro ano não acredito que vamos ver muitas empresas adotando, até agora pelo menos a movimentação não parece forte."

Um palpite dos habitués de assembleias é o de que os quóruns e o ativismo vão aumentar nessa safra. Surtindo o efeito desejado do aumento de informações disponíveis e das facilidades criadas. Vale lembrar que a Associação dos Bancos de Investimento (Anbid) tornou obrigatório, em seu código de autorregulação, que os fundos de ações tenham políticas de voto estabelecidas, o que estimula sua participação nos encontros.

Um dos motivos dessa expectativa é o fato de que muitas empresas não entregaram a performance prevista ou apresentaram problemas inesperados, como elevada exposição cambial.

"A participação deve aumentar, embora os estrangeiros talvez não participem tanto por estarem ocupados com as preocupações relacionadas à crise", avalia Pedro Rudge. "A assembleia é o melhor momento para encontrar todos os administradores, colocar opiniões e pedir explicações sobre controles de risco e alguns problemas que surgiram em meio a crise", completa Rudge.

Chaves também acredita que vai aumentar o ativismo, ou seja, diversos investidores e grupos se comunicando para fazer pleitos ou votações conjuntas. "Tenho visto uma comunicação maior entre os investidores", diz ele.

Outra tendência que os especialistas vislumbram é o aumento de pedidos de instalação de conselhos fiscais por parte de acionistas minoritários. (Colaborou Silvia Fregoni)