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29 dezembro 2025

Nacionalismo e Plataformas neutras


De Cory Doctorwow

No livro Underground Empire (2023), os cientistas políticos Henry Farrell e Abraham Newman descrevem como o mundo moderno depende de sistemas baseados nos Estados Unidos, que outras nações tratavam como plataformas neutras, e como isso está entrando em colapso.

Pense nos cabos de fibra óptica do mundo: durante grande parte da história da internet, era um fato que a maioria dos cabos transoceânicos terminaria nas costas dos EUA. As empresas de telecomunicações americanas pagavam para interconectar essas extremidades de fibra — até mesmo entre costas opostas dos EUA — com links extremamente confiáveis e de alta velocidade.

Isso fazia sentido: puxar fibra por um oceano é caro e difícil. Em vez de executar cabos entre cada nação, os países poderiam conectar-se aos EUA e, em um salto único, conectar-se a qualquer outro lugar.

Isso funciona, desde que você confie que os EUA sirvam como um intermediário honesto para o tráfego global de internet. Em 2013, no entanto, os vazamentos de Snowden revelaram que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) estava espionando praticamente todo mundo no mundo.

Desde então, o mundo passou por um boom de novos cabos transoceânicos, a maioria deles ligações ponto­ a­ ponto entre dois países. Apesar das vantagens logísticas de um modelo “hub and spoke”, não existe mais uma nação em quem se possa confiar como ponto central único para o tráfego mundial de informação.

Conectar cada país a todos os outros é caro. Nosso planeta tem 205 países soberanos, e ligar cada um dos outros exigiria 20.910 ligações. Na teoria da complexidade, isso é um problema de “ordem N²” — cada novo país adiciona um número que quadruplica as conexões necessárias.

Na segunda parte, o autor amplia o argumento para além dos cabos, mostrando que o mesmo problema estrutural afeta o dólar, a computação em nuvem e as plataformas digitais. Serviços essenciais — armazenamento de dados, processamento, software corporativo — estão concentrados em empresas sediadas nos Estados Unidos, que operam como infraestruturas “neutras” apenas enquanto há confiança política.

O problema que o autor observa na tecnologia parece não existir na contabilidade. É bem verdade que durante muitos anos a contabilidade mundial olhava de perto as normas do Fasb, o responsável pela emissão de normas nos Estados Unidos. As inovações do Fasb eram observadas, estudadas e implementadas em outros sistemas contábeis. Mas a criação das normas internacionais e seu fortalecimento, com a adoção por parte da Europa, tenta resolver o problema da ordem N2 regulatória, através de um padrão único. 

As normas internacionais permitem escalabilidade e comparabilidade, retirando a dependência de um país hegemônico.  Talvez a contabilidade seja um exemplo contrário ao descrito pelo autor. Desde que consiga, realmente, implantar um conjunto de normas supranacionais. 

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