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03 outubro 2008

SEC e Auditorias

Presidente da SEC reúne-se hoje com chefes de auditoria
Valor Econômico - 3/10/2008

O presidente da Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado de capitais americano que vem sendo pressionado por bancos e legisladores para que afrouxe as normas contábeis tidas como responsáveis pelo agravamento da crise financeira, vai reunir-se com os presidentes das maiores firmas de auditoria. Duas pessoas a par do assunto disseram ontem que executivos da PricewaterhouseCoopers (PwC), KPMG, Deloitte & Touche e Ernst & Young vão reunir-se hoje com Christopher Cox. A discussão será concentrada numa exigência, apoiada pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, dos bancos reverem suas posições a cada trimestre e reportarem perdas se os valores caírem. A regra contábil do valor justo tornou-se um impasse enquanto o congresso americano avalia um plano de socorro de US$ 700 bilhões para as instituições financeiras americanas.

Uma carta enviada a Cox em 30 de setembro e assinada por 65 legisladores pede que ele suspenda a exigência "imediatamente", alegando que ela desencadeou remarcações para baixo que não refletem o valor dos ativos em estão nos balanços. "Em períodos de turbulência no mercado, as instituições financeiras são forçadas a reduzir o valor de ativos de longo prazo não negociados abaixo de seus verdadeiros valores econômicos", afirma a carta, assinada por 58 legisladores republicanos e sete democratas. As regras estão "enfraquecendo a capacidade dos bancos de fazer empréstimos aos consumidores e empresas", segundo a carta. O colapso do mercado hipotecário "subprime" levou a perdas e baixas contábeis de mais de US$ 587 bilhões para as instituições financeiras, segundo dados compilados pela Bloomberg. O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, está tentando conseguir junto ao congresso autoridade para aliviar a crise, comprando títulos lastreados em hipotecas e outros ativos problemáticos dos bancos. O senado americano aprovou ontem um plano de resgate que exigirá que a SEC analise se a regra contábil do valor justo desencadeou as falências bancárias. A medida por pouco não suspendeu as regras, reiterando que as autoridades reguladoras têm poder para fazer isso. A câmara dos representantes poderá votar a medida hoje. Os legisladores estão "tentando cobrir seus flancos sem destruir o sistema financeiro", disse ontem William Black, professor associado de economia e legislação da Universidade do Missouri em Kansas City, que apóia o uso da contabilidade do valor justo. "Eles estão tendo que adoçar algumas bocas para ampliar a coalizão e aprovar a lei." Bernanke disse no mês passado que conceder uma moratória à regra do valor justo tiraria do mercado a confiança de que as companhias estão confessando francamente suas dívidas. As firmas de contabilidade têm argumentos parecidos. Suspender as regras "vai apenas confundir o cenário econômico para os investidores e autoridades reguladoras, e poderá até mesmo plantar as sementes da próxima crise", diz Dennis Nally, presidente da PwC em uma carta que foi enviada na quarta-feira a todos os congressistas. A grande preocupação do setor de contabilidade "tem de ser a exposição ao litígio" , afirma Adam Pritchard, um ex-advogado da SEC que atualmente é professor da Faculdade de Direito da Universidade de Michigan em Ann Arbor. "Quando eles aprovarem as avaliações a preços que não os de mercado, nos casos em que eles estiverem errados, os contadores serão processados porque seus clientes vão quebrar", disse ele. " Porta-vozes da PwC, KPMG, Ernst & Young e Deloitte não quiseram comentar ontem a reunião com Cox. Os presidentes da Grant Thornton, BDO Seidman, Crowe Horwath e McGladrey & Pullen também participarão do encontro. "A SEC continua reunindo-se com outras autoridades reguladoras, emissores, auditores e investidores para discutir o valor justo diante das condições atuais do mercado", disse na quarta-feira John Nester, porta-voz da SEC, que no entanto não quis fazer mais comentários. A contabilidade do valor justo exige que as companhias determinem o quando valem seus ativos com base no valor que elas poderiam vendê-los no mercado aberto. A SEC emitiu "esclarecimentos" em 30 de setembro que conclamam bancos e auditores a usar estimativas, como os fluxos de caixa projetado, para determinar o valor dos ativos quando a negociação no mercado ficar muito difícil. A SEC agiu depois que a American Bankers Association, uma associação de classe de Washington, manteve encontros com funcionários da SEC e fez lobby junto à agência para que ela dê mais flexibilidade às instituições financeiras na maneira como elas avaliam seus ativos. Gayle Hansen, um auditor da Erhardt Keefe Steiner and Hottman, de Denver, diz que a diretriz da SEC não estimula os contadores a esconder as baixas contábeis dos bancos porque o setor ainda carrega cicatrizes dos escândalos da Enron e da WorldCom, no começo da década. Investidores e legisladores "bateram muito nas firmas de contabilidade depois da Enron", diz Hansen. "Eles não querem se ver nessa posição novamente."

Links

1) IFRS 03 – Concentrações de atividades empresariais (ainda não regulamentado pelo cpc)

2) Um gráfico fantástico lembra a cronologia da crise

3) Finanças Pessoais: Quanto dinheiro necessitamos para viver?

4) A revista Life está de volta

5) Para comparar salários

Crise e Contabilidade

O número de textos sobre a contabilidade e a crise financeira é enorme. A seguir, um breve resumo de alguns destes textos:

Em termos contábeis, a crise financeira colocou a discussão do valor justo no foco das atenções. Em Pressure mounts for easing of fair value accounting standards, Jennifer Hughes, Ben Hall in Paris e Joanna Chung (1 October 2008 - Financial Times - USA Ed2 – 17) lembram que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, falou da possibilidade da Europa em flexibilizar as normas contábeis. David Cameron, lider da oposição conservadora da Inglaterra disse que as regras tornaram a crise pior. Robert Rubin, ex-secretário do tesouro dos Estados Unidos e atualmente do Citigroup diz que a contabilidade a valor justo piora os problemas do sistema financeiro e que não serve bem ao sistema.

Em outro texto, Sarkozy seeks more flexibility on accounting rules , Jennifer Hughes e Ben Hall (1 October 2008, Financial Times, London Ed1, 06) lembra que a posição de Sarkozy aparece depois da ajuda da França em evitar os problemas da Dexia, uma instituição belga-francesa. A França detém a liderança da comunidade européia até o final do ano. O texto cita Sam diPiazza, da PwC, empresa de auditoria, que afirmou que “os políticos estão acreditando numa resposta simples aqui e ela não existe”.

A posição de Sarkozy é detalhada em Sarkozy seeks EU-wide accounting rule change
(Ben Hall e Nikki Tait Brussels - 1 October 2008 - Financial Times - Asia Ed1 - 04)

Justin Fox, da revista Time (aqui também) , destaca que a marcação a mercado tem suas raízes na revolução da eficiência do mercado na teoria de finanças na década de 1960. Acredita-se que os preços do mercado refletem a realidade econômica. Este pensamento é prevalecente na academia.

Em Clarification of accounting rule sparks debate ; At issue: Write-downs of asset values, Matt Krantz (do jornal popular USA Today - 1 October 2008 – FINAL - B.2) lembra que o valor justo representa o foco da crise financeira atual.

Anatole Kaletsky, 'Punish greedy bankers' is not a rescue plan (The Times, 1 October 2008 – 26) faz um apanhado interessante sobre a questão do resgate dos bancos em dificuldades. Ele lembra que o valor justo funciona bem em situações de bonança, mas com o mercado em crise, com elevada volatilidade, a marcação a mercado pode contribuir para o aumento dos problemas.

Williamson e Scannell, num texto para o Wall Street Journal , afirmam que críticos da proposta de mudança das regras contábeis lembram que as alterações são ilusórias e podem atrasar a resolução dos problemas que genuinamente causaram a crise. A vitória dos opositores a regra culminou com um “esclarecimento” da SEC e do FAsb quanto a questão contábil. Em situações onde o mercado não existe ou quando o ativo só será vendido em liquidação torna-se difícil aplicar o FAS 157

Jennifer Hughes em Fighting fit for fair value fray (1 October 2008 - Financial Times - London Ed1 – 22) faz um resumo da experiência profissional de Sir David Tweedie, o chairman do Iasb, considerado por um jornal como “o mais odiado contador da Inglaterra”.

A mesma Hughes, num texto opinativo denominado Mark to market (1 October 2008 - Financial Times - London Ed1 – 20) afirma que “argumentar que este sistema é responsável pela crise de falencias nos bancos é absurda”. Mas Hughes reconhece que talvez o valor justo possa ter exacerbado o problema.

A The Economist, em Fair Cop (aqui) lembra que a situação do valor justo é mais complexa na Europa e em outros territórios governados pelo Iasb. A SEC responde ao Congresso dos Estados Unidos. Mas e os países que adotam o Iasb? A revista lembra a posição de Sarkozy, de defende a proposta de suspender o valor justo. Seria o capítulo final do valor justo? A revista acredita que não e cita o exemplo da Wachovia, instituição financeira dos Estados Unidos, cujos problemas dos empréstimos são refletidos mesmos quando avaliados ao custo histórico.

Em Loosening of “Mark-to-Market” Accounting Rules Debated, o Riskmetrics lembra que o Center for Audit Quality, o Council of Institutional Investors e o CFA Institute—que representa os auditors, os investidores institucionais e os analistas financeiros – dizem contrários a alteração das regras. “Suspender o valor justo durante estes tempos de mudanças economicas pode retirar dos investidores informações críticas necessárias. Investidores tem o direito de conhecer o valor corrente de um investimento (…)”

Este texto do Seeking Alpha (SFAS 157: Accounting Rules Do Not Affect Cash Flows) lembra que contabilidade não afeta o fluxo de caixa. Ou seja, a questão do SFAS 157 talvez não seja relevante como se parece.

O Iasb, em IASB staff position on SEC-FASB clarification on fair value accounting (2 de outubro de 2008) não considera que a “clarification” promovida pela SEC/FASB não presenta uma emenda ao SFAS 157, mas um guia para situações de mercados inativos. O Iasb considerou isto consistente com o IAS 39.

David Leonhardt, em The Battle Over Mark-to-Market, confronta a posição de Bob McTeer, ex-presidente do Fed de Dallas, que defendeu a suspensao da marcação a mercado, e Barry Ritholz, do Big Picture.

O mesmo Leonhardt, em Some Mark-to-Market for Your Morning, faz um rápido apanhado de posições favoráveis e contrárias.

Marie Leone, da publicação CFO (Coming Very Soon: Fair Value Illustrated
e aqui , 1/10/2008) destaca a mudança do SFAS 157 para ativos ilíquidos. Neste texto, um membro do FASB afirma que a alteração não poderia enfatizar demais que os objetivos da norma foram alterados.

A questão da alteração do SFAS 157 está bastante detalhada em Strange Bedfellows: Fair Value and the Bailout Plan (aqui o mesmo texto) de David Katz e Tim Reason, da CFO. O texto não acrescenta muito ao que já foi dito sobre a alteração.

Mas é interessante notar que a página de notícias da AICPA e IFRS não apresenta atualização desde 26 de setembro de 2008. Falta de notícias ou medo de comprometer sobre o assunto? Vide a figura abaixo.

Impacto da Crise

Crise varre meio trilhão da Bolsa em 2008
Toni Sciarretta
FolhaNews - 2/10/2008

A crise nos mercados já levou R$ 513 bilhões em valor de mercado das empresas brasileiras na Bolsa em 2008, segundo estudo da consultoria Economática. Só a Vale e a Petrobras encolheram R$ 85 bilhões cada uma na Bolsa neste ano.

O estudo mostra ainda que o setor financeiro, que está no epicentro da crise global, perdeu R$ 95,8 bilhões em valor de mercado. Na pesquisa, a Economática avaliou os valores das ações de 326 empresas abertas.

Considerado um "retrato momentâneo do preço" de uma empresa caso fosse vendida, o valor de mercado resulta basicamente de duas forças que têm a ver com a expectativa de lucros futuros e com o quanto alguém está disposto a pagar por ela. Segundo Fernando Exel, presidente da Economática, a crise deu um golpe nesses dois vetores: diminui a expectativa de lucros e reduziu o dinheiro disponível do investidor. "O lucro das empresas vai cair porque espera-se um desaquecimento geral. E esse futuro mais magro aparece nas ações."

Para Armando Castelar, economista da Gávea Investimentos, a crise de crédito retirou um "combustível importante" para mover os preços na economia. A isso, afirmou Castelar, somou-se uma incerteza sobre o que de fato vai acontecer com a economia, o que aumenta uma espécie de "taxa de desconto" em que os lucros futuros das empresas são trazidos hoje a valor presente. "Com maior incerteza, a taxa de desconto desse lucro futuro também aumentou. As ações estão refletindo essas duas coisas: perspectivas negativas de lucro e a incerteza que significa descontar mais desse futuro", disse.

Para Álvaro Bandeira, presidente nacional da Apimec (Associação dos Analistas), as empresas brasileiras valem menos na Bolsa porque a conjuntura mudou para pior desde o ano passado. "Perdeu mesmo. Não estamos discutindo se esse é o valor real da companhia ou não. Esse é o valor que o mercado paga hoje. A gente pode discutir se a Petrobras vale mesmo R$ 344 bilhões, que o mercado está precificando, ou se tem um valor econômico que pode ser o dobro. Empiricamente, só com as novas reservas provadas [de petróleo] neste ano, a empresa vale mais. O mercado perde parâmetros nesses momentos."

Professor de contabilidade da Fipecafi, Alexandre Assaf Neto afirma que a crise provocou um "descolamento" ainda maior entre os valores econômicos -que representa o quanto a empresa gera de riqueza- e o de mercado das empresas.

Assaf lembra que esse descolamento sempre foi maior no Brasil porque a maioria das empresas não têm suas ações completamente pulverizadas, como nos EUA. Essa distorção faz o mercado embutir um desconto pelo prêmio de controle, que é a capacidade de o acionista interferir na gestão estratégica da empresa. Como exemplo, cita o caso da GM, que tem 94% de suas ações no mercado, e os papéis são muito negociados. "Quando o capital é mais diluído e o volume de negociação das ações é maior, esses valores tendem a se aproximar", disse.

Ricardo Martins, analista da Planner, não vê com alarde a perda de valor na Bolsa e lembra que, em 2007, os coordenadores dos IPOs [aberturas de capital] exploraram condições opostas de mercado para vender as ações pelo maior valor possível. "O mercado aceitou sem critério preços irreais. Hoje, a história é diferente."

Finanças Comportamentais é premiada no Ignobil

Lista completa:

Nutrição
Massimiliano Zampini da Universidade de Trento, Itália, e Charles Spence da Universidade Oxford, Reino Unido, por modificar eletronicamente o ruído de uma batata frita a fim de fazer com que a pessoa que a mastiga pensar que ela é mais crocante e fresca do que realmente é.

Paz
O Comitê Federal Suíço de Ética para Biotecnologia Não-Humana e os cidadãos suíços, por adotar o princípio legal de que plantas têm dignidade.

Arqueologia
Astolfo G. Mello Araujo e José Carlos Marcelino,da Universidade de São Paulo, por medir como o curso da história, ou pelo menos o conteúdo da escavação de um sítio arqueológico, pode ser remexido pelas ações de um tatu vivo.

Biologia
Marie-Christine Cadiergues, Christel Joubert e Michel Franc da Escola Veterinária de Toulouse, França, por descobrir que as pulgas que vivem em um cão podem saltar mais alto que as que moram em um gato.

Medicina
Dan Ariely, da Universidade Duke, EUA, por demonstrar que remédios inúteis caros funcionam melhor que remédios inúteis baratos.


Ciências Cognitivas
Toshiyuki Nakagaki, da Universidade de Hokkaido, Hiroyasu Yamada, Ryo Kobayashi da Universidade de Hiroshima, Atsushi Tero, Akio Ishiguro da Universidade de Tohoku, and Ágotá Tóth da Universidade de Szeged, na Hungria, por descobrir que gosma pode resolver quebra-cabeças.

Economia
Geoffrey Miller, Joshua Tybur e Brent Jordan da Universidade do Novo México (EUA) por descobrir que o ciclo de ovulação de uma stripper afeta a gorjeta que recebe.

Física
Dorian Raymer da Iniciativa Observatórios Oceânicos da Scripps, e Douglas Smith, da Universidade da Califórnia, San Diego, por provar matematicamente que montes de barbantes, cabelo ou qualquer outra coisa acabarão, inevitavelmente, emaranhados em nós.

Química
Sharee A. Umpierre da Universidade de Porto Rico, Joseph A. Hill dos Centros de Fertilidade de da Nova Inglaterra, Deborah J. Anderson da Escola de Medicina de Boston e da Faculdade de Medicina de Harvard, por descobrir que a Coca-Cola é um espermicida eficiente; e para Chuang-Ye Hong da Universidade Médica de Taipé, C.C. Shieh, P. Wu, e B.N. Chiang (todos de Tawian) por descobrir que, na verdade, não é.

Literatura
David Sims da Escola de Administração de Negócios Cass, Inglaterra, por ter redigido o estudo You Bastard: A Narrative Exploration of the Experience of Indignation within Organizations (Seu Filho da Mãe: Uma Exploração Narrativa da Indignação Dentro das Organizações).

Brasil ganha o Ignobel: Estudo sobre tatus e sítios arqueológicos

Elo entre tatu e arqueologia dá IgNobel ao Brasil

Prêmio antecede Nobel e é concedido a estudos, como o de dupla paulista, ?que 1.º fazem rir e, depois, pensar?

Carlos Orsi

Um estudo sobre os danos provocados por tatus a sítios arqueológicos rendeu aos brasileiros Astolfo Mello Araujo e José Carlos Marcelino um prêmio IgNobel, uma paródia do Nobel concedida anualmente pela revista americana Annals of Improbable Research (Anais da Pesquisa Improvável) a trabalhos científicos "que primeiro fazem rir e, depois, pensar". "Creio que se trata do primeiro IgNobel do Brasil (o prêmio está na 18ª edição)", disse Marc Abrahams, editor da Annals e mestre-de-cerimônias da festa de premiação, realizada na noite de ontem na cidade de Cambridge, nos Estados Unidos. "Toda a nação vai sair às ruas em desfiles e festas por causa disso, certo?"

Abrahams provavelmente vai se decepcionar com a reação do povo brasileiro, mas Araujo, ao menos, gostaria de estar presente para receber o prêmio. "Pelo que me falaram é muito divertido. Você pode até mesmo dar uma curta palestra sobre o seu trabalho no MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), o que, convenhamos, não é pouca coisa", afirma. "Infelizmente, já gastei todo o meu financiamento acadêmico deste ano indo para a Espanha e a Irlanda."

Em nota encaminhada à organização do IgNobel, os dois autores agradecem: "Já que não existe um Nobel para arqueologia, o IgNobel sempre é bem-vindo!", dizem.

Publicado em março de 2003 pela revista especializada Geoarchaeology, o estudo dos brasileiros foi realizado com tatus no Zoológico de São Paulo, quando Araujo era funcionário da Prefeitura. Lá, foi criado um falso sítio arqueológico. "Qualquer arqueólogo minimamente observador percebe, ao longo de sua carreira, que tatus são um problema real", diz Araujo. "Eu percebi isso ao trabalhar em várias partes do Brasil. Lembro-me especialmente de ter visto belos e grandes fragmentos de cerâmica indígena serem ejetados de um buraco de tatu, quando trabalhei no Xingu."

Entre outras coisas, os animais podem misturar artefatos, carregando peças de um nível do sítio para outro. "Não há números a respeito e, na verdade, nosso trabalho é único, por incrível que pareça", diz o arqueólogo, que atualmente trabalha em escavações em Minas e dá aulas na Universidade de São Paulo (USP). "Nenhum arqueólogo tinha se debruçado sobre o tema."

Araujo diz ter recebido a notícia de que ganhara um IgNobel com tranqüilidade: "O Marc Abrahams, que é o coordenador do prêmio, entrou em contato. Parecem ser pessoas bem legais. Sondam primeiro para ver se o laureado não vai se ofender. O processo é todo bem amigável." Ele não espera um impacto do IgNobel em sua carreira. "O prêmio foi uma coisa divertida. Achei uma pena não poder ter ido à festa, mas realmente não muda nada. Se ainda eles premiassem com dinheiro, como o Nobel", lamenta.

Previsão para o Nobel de Economia

A THONSOM Reuters fez uma pesquisa para saber quais os favoritos ao Nobel de Economia deste ano. Esperava o nome de Paul Krugman (pelos acertos em suas previsões) mas a preferência é a seguinte:
Em Econometria, Lars Hansen (Chicago), Sargent (NY University) e C. Sims (Princeton)
Em economia pública, Martin Feldstein, da Harvard.
Em direito de propriedade e teoria da firma, A. Alchian e Demsetz (Califórnia)
Outros citados em anos anteriores e que estariam no páreo:
ROBERT J. BARRO; EUGENE F. FAMA; KENNETH R. FRENCH; PAUL MICHEAL ROMER; RICHARD H. THALER; JAGDISH N. BHAGWATI; AVINASH K. DIXIT ; PAUL KRUGMAN; DALE W. JORGENSON; OLIVER D. HART; BENGT R. HOLMSTROM; OLIVER E. WILLIAMSON; ELHANAN HELPMAN; GENE M. GROSSMAN; JEAN TIROLE; ROBERT B. WILSON e PAUL R. MILGROM

Fonte: Aqui

Percepção da corrupção


O gráfico mostra a percepção de corrupção em diversos países do mundo. Países pequenos e ricos são menos corruptos, sendo a Transparência Internacional. O índice melhorou para Geórgia, Nigéria, Coréia do Sul e Turquia. Mas o Brasil continua na 80ª. posição.

Fonte: aqui

Previsão pelo Mercado

Atualmente o assunto de previsão através de mercado tem sido de meu interesse. Em Manipulation in Political Prediction Markets, JUSTIN WOLFERS comenta a notícia de que o mercado de previsão tem sido manipulado no que diz respeito a projeção do próximo presidente dos Estados Unidos. Mesmo com a manipulação, o uso do mercado, como instrumento de previsão, tem apresentado resultados surpreendentes, conforme Wolfers.

Gráfico Fantastico

O gráfico a seguir parece gráfico de torneio de tênis (clique na figura para visualizar melhor), onde os jogadores são eliminados a cada disputa, até sobrar os dois jogadores que irão fazer a final. Entretanto, em lugar de jogadores o gráfico mostra instituições financeiras que foram compradas por outras. Quem sobrará?


Fonte: Aqui

Pechincha

Um comentário do blog BigPicture (Quote of the Day: Fair Value Accounting, 1/10/2008) lembra a equação contábil para a compra do Wachovia pelo Citigroup: o valor foi de 2,16 bilhões de dólares mais dívidas. Este total é muito barato para uma entidade que possuía um valor contábil de 75,1 bilhões (aqui, ativo menos passivo). Ou seja, foi uma pechincha.

P.S. Quando foi postada, esta notícia indicava que o Citigroup iria comprar o Wachovia, o que terminou não ocorrendo. Mas vale o exemplo.

02 outubro 2008

Rir é o melhor remédio

Professor da USP quer Timão bi da B
Por ARIOVALDO DOS SANTOS

Bem, tive uma idéia maluca de promover o Timão.

A coisa é simples, mas pode ter diversos e bons desdobramentos e isso deverá contar com a cumplicidade de outros corintianos.

A idéia: a diretoria convoca a imprensa e informa que tem uma notícia bomba.

Muitos imaginarão a contratação do Cristiano Ronaldo, do Ronaldinho, Kaká ou a construção de um estádio na Praça da Sé.

Não, a diretoria informa que o Corinthians abdicará de participar da série "A" no próximo ano. (anuncia isso quando estiver matematicamente classificado).

Conseqüências possíveis e imagináveis (somente algumas delas):

· Haverá uma grande grita dos times grandes por perda de arrecadação

· Haverá apoio dos times pequenos por ganho de arrecadação

· O Timão poderá ser o único time do PLANETA a se consagrar "BICAMPEÃO" da série "B" (em dois anos consecutivos).

Óbvio nenhum time até hoje fez esse tipo de loucura

· Os contratos com a TV poderão ser reformulados

· A torcida deverá ser consultada e trabalhada para defender esse projeto

· A divulgação dessa decisão (ou plano) deverá ser feita com estardalhaço na imprensa nacional e internacional

· Mesmo que seja divulgado apenas como plano de consulta à torcida ou a própria CBF a exposição do Timão já será bastante grande.

Ariovaldo dos Santos, além de corintiano, é professor-doutor da Faculdade de Economia e Administração da USP, com mestrado, doutorado e livre docência em Controladoria e Contabilidade.

Fonte: Aqui

Acharam o culpado

Suspensão do "valor justo" pela SEC é retrocesso, diz sócio da KPMG
Valor + News - 1/10/2008

SÃO PAULO - A possível suspensão das regras de marcação a mercado do valor dos ativos nos balanços de empresas e bancos pela Securities and Exchange Commission (SEC) é duramente criticada por Ricardo Anhesini, sócio-líder de Financial Services da KPMG no Brasil. A autorização para a suspensão da obrigação está prevista no artigo (seção) 132 do pacote de resgate ao sistema financeiro que deve ser votado ainda nesta semana no Congresso dos EUA, conforme havia divulgado o Valor Online na segunda-feira.

"Seria um retrocesso acabar com a informação do 'fair value' (valor justo). Acho que isso, muito francamente, é uma simplificação do problema", afirma Anhesini, que faz uma defesa veemente do princípio contábil. "Eu acredito em contabilidade por valor justo. É o jeito mais preciso e transparente para o investidor saber as informações sobre o banco, a seguradora, o fundo ou qualquer outra entidade", diz.

Mas, antes mesmo desta aprovação no Congresso, a SEC já baixou ontem uma série de orientações sobre o cumprimento das regras de 'fair value', em que de alguma forma flexibiliza o modo atual de se cumprir o pronunciamento 157 emitido pelo Financial Accounting Standards Board (Fasb - comitê de padrões contábeis dos EUA). A SEC disse ainda que até o fim desta semana deve apresentar, em conjunto com o Fasb, novas interpretações sobre a norma.

Entre as orientações fornecidas ontem, a SEC diz que a expectativa de fluxo de caixa poderá ser usada para determinar o preço de um ativo, quando não existir "um mercado ativo" para aquele título mobiliário. Isso valerá inclusive quando corretores estiverem dispostos a dar preço para os ativos, mas quando não houver liquidez suficiente no mercado. A contabilização do valor pelo fluxo de caixa esperado poderá substituir também o valor de um negócio realmente realizado no mercado com os mesmo papéis, se a transação for considerada "desordenada", ou ocorrer em um mercado inativo, ou com um spread muito grande entre o preço de compra e venda, em um ambiente com poucos compradores.

A contabilidade dos ativos pelo valor justo tem sido apontada por alguns analistas como um fator de agravamento da crise financeira, já que haveria uma antecipação dos prejuízos. Na visão de Anhesini, da KPMG, no entanto, "não se pode colocar nem um pedaço razoável" da culpa pelas perdas bilionárias dos bancos no modelo contábil. "Os prejuízos são originários dos produtos primários, com grau de risco alto, cujos fluxos de caixa não se materializaram. Poderia acontecer com qualquer produto", afirma, lembrando que, na raiz do problema, está a queda no preço dos imóveis dos EUA, que são a garantia de última instância desses papéis.

De acordo com o sócio da KPMG no Brasil, o que se deve fazer é aumentar a transparência e a clareza sobre os critérios usados para a obtenção do valor justo apresentado no balanço. Para ele, manter a informação do 'fair value' deve contribuir, inclusive, para que se reduza a quantidade de títulos estruturados em circulação. "Converso com alguns diretores financeiros de bancos e a impressão que eu tenho é de que esse mundo dos ativos estruturados tende a diminuir substancialmente, se não deixar de existir", afirma. Ele avalia que a existência de um estoque grande de papéis como esses nos balanços de bancos poderá acabar criando uma resistência do investidor em relação àquela organização.

Neste caso, esses papéis acabariam migrando para veículos específicos para ativos estruturados ou para hedge funds.

(Fernando Torres | Valor Online)

Sustentabilidade

Lei 11.638/07 e a sustentabilidade
Roberto Gonzalez
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro -2/10/2008

A contabilidade tem algo a ver com a sustentabilidade? Sim, tem. Afinal, não só todo e qualquer numerário transacionado pela companhia deve ser retratado na contabilidade, como também várias questões atreladas a gestão, incluindo nota explicativa sobre passivos contingentes, onde é corriqueiro tratar da política adotada pela empresa em relação às questões trabalhistas, fiscais e civis e, em alguns casos, ambientais. Lembrando que é unânime que as questões relacionadas com o tratamento dos profissionais no ambiente de trabalho e com o meio ambiente são vinculadas com a responsabilidade social e sustentabilidade, bem como as questões econômico-financeiras.

Os movimentos que anseiam que a temática da responsabilidade social e sustentabilidade empresarial não fiquem apenas na seara da questão social e ambiental, deveriam refletir, com muita seriedade, a vinculação desses temas nas demonstrações contábeis (DCs), já que o “econômico-financeiro” passa por elas. Então, por que não ter o mesmo tratamento do “socioambiental”? Afinal, as DCs são balizadores para tomadas de decisão, seja interno como na assembléia geral, no conselho de administração, no conselho fiscal e na diretória executiva. Ou seja, tudo que está presente nas DCs, de uma forma ou de outra, também está na agenda da estrutura de poder das companhias; e, do lado externo, pelos analistas de crédito e investimento, entre outros públicos.

Quando foi efetivado o Índice de Sustentabilidade Empresarial, ampliou-se o debate da relevância das DCs demonstrarem a presença da sustentabilidade nas companhias, inclusive com ampliação de questionamentos pela comunidade financeira sobre alguns indicadores.

E também que debatesse esta questão internacionalmente e verificasse a migração do Brasil para a harmonização com o padrão contábil IFRS (International Financial Reporting Standard), visto que as notas explicativas ampliarão seu escopo nas DCs e tem recomendações claras em relação a contabilização, por exemplo, dos benefícios aos profissionais da companhia e dos ativos intangíveis. Isso deixa um recado forte: o de refletir o mais fielmente possível a realidade da gestão da companhia, o que não ocorre há muito tempo, devido a novas realidades mercadológicas, implementação de novas técnicas de gestão e, principalmente, a demora do debate da definição de novos procedimentos contábeis para uma nova realidade. Podemos citar como exemplo da demora, os ativos intangíveis que já foram primordiais no nascimento e desenvolvimento de empresas como Microsoft, há mais de 30 anos, e somente recentemente foi tratado com a devida seriedade na seara contábil.

Se a sustentabilidade empresarial está presente na gestão da companhia, uma das formas pragmáticas de demonstrá-la é nas DCs. O momento é neste período de transição para o IFRS, onde controllers, auditores e outros profissionais da área contábil estão em forte estudo da nova realidade.

Dentro desse debate, é altamente salutar e bem-vinda a Lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007, que contribuiu para o fortalecimento da expressão da sustentabilidade nas DCs com a exigibilidade para que todas as companhias S/A listadas publiquem a DVA (Demonstração do Valor Adicionado).

Há um certo tempo já é um consenso nos grupos que militam na responsabilidade social a relevância da DVA, tanto que ela está presente na DBSI (Demonstração do Balanço Social Ibase), nas diretrizes do GRI (Global Reporting Initiative), e mais recentemente no manual de elaboração do relatório de responsabilidade social do setor de energia elétrica, por exigência do órgão regulador, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Portanto, passos estão sendo dados. Agora, é batalhar para que o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) estude e faça uma audiência pública sobre a demonstração de informações de natureza socioambiental. Iniciar o debate pela NBC T 15 (Norma Brasileira de Contabilidade – Técnica), que trata justamente sobre esta questão, será mais um caminho para que a sustentabilidade esteja na contabilidade e para que as companhias possam comprovar, de forma pragmática, a gestão focada na sustentabilidade.

No Brasil

CVM quer mais transparência nos dados das companhias
Ana Paula Ribeiro
O Estado de São Paulo -2/10/2008

A presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana, disse ontem que a autarquia vai regulamentar a norma que prevê maior detalhamento da utilização de instrumentos financeiros pelas companhias abertas. Para que isso aconteça, a autarquia espera a manifestação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

De acordo com a presidente, esse formato de divulgação das operações feitas pelas empresas dará aos investidores maior clareza sobre a situação financeira das companhias abertas. No entanto, ela ponderou que o maior volume de informação não evitará mudanças de cenários financeiros nas empresas.

As mudanças de regras na divulgação de instrumentos estão previstas na convergência para o padrão internacional de contabilidade (IFRS, na sigla em inglês). Esse tema será discutido em duas partes, e a primeira deve entrar em audiência pública, segundo informação de Haroldo Levy Neto, vice-coordenador de relações institucionais do CPC(...)

A presidente da CVM não quis comentar os questionamentos da autarquia em relação às empresas que fizeram operações no mercado de derivativos e apresentaram grande exposição a riscos, como ocorreu com a Sadia e a Aracruz.

Sobre alterações na instrução 202 da CVM, que trata das informações que as empresas devem atualizar na autarquia, Maria Helena disse que essa operação entrará em audiência pública em, no máximo, um mês. Segundo ela, o objetivo é deixar os registros das companhias mais próximos das informações dos prospectos de IPOs no lançamento das ações.

FAS 157

SEC facilita norma para que bancos declarem suas perdas no balanço
2/10/2008 - Gazeta Mercantil

2 de Outubro de 2008 - Sob pressão dos bancos e dos legisladores, a Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários americana) emitiu a interpretação de uma norma de contabilidade que pode facilitar para os bancos relatar perdas menores, ou talvez mesmo lucros, quando anunciarem os resultados do terceiro trimestre, encerrado na terça-feira passada.

A iniciativa mereceu elogios da Associação Americana de Banqueiros, que havia reclamado com a SEC de que os auditores estavam forçando os bancos a avaliar os ativos a preços irrealisticamente baixos de "queima de vendas", em vez de pelos valores mais altos que os bancos acreditam que os ativos devem valer num mercado ordenado.

Alguns congressistas pressionaram para ordenar a suspensão da regra do valor justo, conhecida como Demonstrativo de Normas de Contabilidade Financeira (SFAS) 157, como parte do projeto de lei de resgate que a Câmara dos Representantes derrotou na segunda-feira, que pode ser ressuscitado nesta semana. O projeto de lei chegou perto disso, mas requeria um estudo da regra e autorizava a SEC a suspendê-la.

No entanto, o elogio imediato dos banqueiros pode reduzir a pressão para retirar a regra e facilitar para alguns legisladores a mudança de seus votos.

A instrução foi emitida conjuntamente pelo contador-chefe da SEC e pela equipe da Junta de Normas de Contabilidade Financeira. Embora a regra tenha sido criticada por muitos bancos, outros têm argumentado que o problema foi causado pela compra de ativos arriscados por parte dos bancos.

Num relatório lançado previamente neste ano, Dane Mott e Sarah Deans, analistas do JP Morgan, argumentaram que "culpar a contabilidade de valor justo pela crise de crédito é como uma pessoa ir ao médico para obter um diagnóstico e culpá-lo por dizer que está doente".

Na terça-feira, eles disseram que não havia "nenhuma novidade" na instrução da SEC mas, para alguns outros analistas, a interpretação pode ser importante. Há muito as empresas são solicitadas a marcar muitos ativos financeiros pelo seu valor justo, mas a norma 157 esclarecia como deveria ser medido, informando que os valores de mercado devem ser usados se estiverem disponíveis.

Muitos títulos lastreados por hipotecas perderam valor, forçando as instituições financeiras a fazerem vastas baixas contábeis desses títulos. Os banqueiros defendem que os preços de mercado vigentes estão bem abaixo dos preços que deveriam ter os títulos, e dizem que eles não devem ser forçados a anexar baixas contábeis que certamente serão revertidas mais tarde.

A regra tinha exceções, informando que "as vendas difíceis" têm de ser usadas como base para o relatório, mas não estava claro com que liberdade isso pode ser interpretado. Alguns auditores argumentaram que mais de uma ou duas vendas a um nível ofereciam um preço de mercado verdadeiro, e assim devem ser usadas para avaliar esse e outros títulos similares.

"Cresce o número de nossos membros que nas últimas semanas levantaram dúvidas de que uma série de escritórios de contabilidade estavam interpretando de modo equivocado a SFAS 157, de uma forma que requeria marcar os ativos para valores de queima de vendas", disse Edward L. Yingling, presidente da Associação Americana de Bancos, enquanto elogiava a SEC pela interpretação. "Essa orientação ajudará os auditores a precificar com mais exatidão os ativos que são difíceis de avaliar pelas presentes condições de mercado."

Pela regra 157, há uma hierarquia de técnicas de avaliação. A primeira é quando há um mercado ativo para um título, que sempre deve ser usado. Se não houver esse mercado, o nível dois se baseia nos preços de títulos similares. Só quando esses não estiverem disponíveis é que se deve usar o nível três, que depende do modelo de valor da empresa na ausência de um preço de mercado utilizável.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Floyd Norris/ The New York Times)

O guru

Para tentar compreender o colapso financeiro atual, os parlamentares americanos estão recorrendo a um veterano de crises bancárias: William Isaac, ex-presidente da Corporação Garantidora de Depósitos Federais (FDIC, na sigla em inglês) nos anos 80, responsável pelo resgate do Continental Illinois National Bank and Trust, nos anos 90. Segundo o “Wall Street Journal”, ele foi contrário à proposta de um pacote de resgate do sistema financeiro e defendeu algumas idéias para combater a crise, durante a maratona de reuniões do Capitólio, no domingo passado.

Isaac propôs, por exemplo, reviver o programa do FDIC dos anos 80, que socorreu as associações de poupança e crédito (agências captadoras de poupança para concessão de empréstimos), emitindo promissórias para sustentar seu capital e permitir que voltassem a emprestar.

Segundo o “Journal”, muitos parlamentares que votaram contra o pacote na segunda-feira creditaram sua posição às visões de Isaac, que hoje trabalha em uma consultoria, e alguns até estão preparando projetos de lei incorporando suas sugestões. Mas ele também tem críticos, sobretudo entre advogados de direitos dos consumidores, que temem flexibilização das regras de contabilidade.

O guru dos parlamentares - O Globo -2/10/2008 - 32


Coincidência ou não, Isaac apareceu aqui ontem, nesta postagem.

Efeitos da crise

A crise nos mercados já levou R$ 513 bilhões em valor de mercado das empresas brasileiras na Bolsa em 2008, segundo estudo da consultoria Economática. Só a Vale e a Petrobras encolheram R$ 85 bilhões cada uma na Bolsa neste ano.

O estudo mostra ainda que o setor financeiro, que está no epicentro da crise global, perdeu R$ 95,8 bilhões em valor de mercado. Na pesquisa, a Economática avaliou os valores das ações de 326 empresas abertas.

Considerado um "retrato momentâneo do preço" de uma empresa caso fosse vendida, o valor de mercado resulta basicamente de duas forças que têm a ver com a expectativa de lucros futuros e com o quanto alguém está disposto a pagar por ela. Segundo Fernando Exel, presidente da Economática, a crise deu um golpe nesses dois vetores: diminui a expectativa de lucros e reduziu o dinheiro disponível do investidor. "O lucro das empresas vai cair porque espera-se um desaquecimento geral. E esse futuro mais magro aparece nas ações."

Para Armando Castelar, economista da Gávea Investimentos, a crise de crédito retirou um "combustível importante" para mover os preços na economia. A isso, afirmou Castelar, somou-se uma incerteza sobre o que de fato vai acontecer com a economia, o que aumenta uma espécie de "taxa de desconto" em que os lucros futuros das empresas são trazidos hoje a valor presente. "Com maior incerteza, a taxa de desconto desse lucro futuro também aumentou. As ações estão refletindo essas duas coisas: perspectivas negativas de lucro e a incerteza que significa descontar mais desse futuro", disse.

(...) Professor de contabilidade da Fipecafi, Alexandre Assaf Neto afirma que a crise provocou um "descolamento" ainda maior entre os valores econômicos -que representa o quanto a empresa gera de riqueza- e o de mercado das empresas.

Assaf lembra que esse descolamento sempre foi maior no Brasil porque a maioria das empresas não têm suas ações completamente pulverizadas, como nos EUA. Essa distorção faz o mercado embutir um desconto pelo prêmio de controle, que é a capacidade de o acionista interferir na gestão estratégica da empresa. Como exemplo, cita o caso da GM, que tem 94% de suas ações no mercado, e os papéis são muito negociados. "Quando o capital é mais diluído e o volume de negociação das ações é maior, esses valores tendem a se aproximar", disse. (...)


Crise varre meio trilhão da Bolsa em 2008 - Folha de São Paulo - 2/10/08 - TONI SCIARRETTA


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01 outubro 2008

Rir é o melhor remédio

Livros de Auditoria

Amilton Paulino Silva fez uma pesquisa interessante (A Percepção dos Profissionais de Auditoria quanto ao Ensino de Auditoria Contábil nos Cursos de Graduação em Ciências Contábeis do Brasil), comparando o profissional de auditoria e o professor da disciplina. Entre os aspectos pesquisados por Amilton destaco questões como semestre que a disciplina deve ser ministrada, pré-requisitos, carga horária, conteúdo, titulação dos docentes e experiência profissional necessária. Amilton mostra que existem divergências importantes entre o professor e o profissional, indicando que as instituições de ensino não conseguem ter a mesma percepção do profissional da área.

Do trabalho de Amilton retirei as informações que constam das duas figuras a seguir. Na primeira, os respondentes indicaram os livros usados como bibliografia na disciplina. O resultado mostra Attie, Marcelo Cavalcante Almeida e Franco/Marra nas três primeiras posições, sendo que Almeida é mais adotado como básica.



A outra figura mostra a bibliografia recomendada. Novamente os três autores se destacam, com uma inversão na primeira posição.

Guru Financeiro

Com ajuda de leituras passadas (e deste link) resolvi dar uma de Guru financeiro e apresento os dez conselhos para agir em tempos de crise.


Investimento em Tempos de Crise

1. Simplifique – em tempos de crise é mais difícil seguir uma carteira com muitos investimentos. A questão da “diversificação reduzindo risco”, máxima da área de finanças, vale pouco nesse período pois existe o risco sistêmico.

2. Desligue a Globo News e esqueça o jornal do dia – nesta situação, tentar acompanhar o mercado pode induzir a decisão errada e de curto prazo. Esqueça o frenesi do mercado e concentre na estratégia de longo prazo. Neste momento, muitas vezes o que importa não é mais ganhar e sim reduzir a perda. Caminhe, pratique esporte, leia um livro.

3. Mas não deixe de certificar que seu dinheiro está seguro. O dinheiro em conta corrente deve estar numa instituição sem risco de quebra. Isto não é problema hoje no Brasil, mas se a crise aumentar pode atingir algumas instituições financeiras.

4. Reduza despesa – momentos de crise não são momentos de gastos. A redução de despesa pode permitir a criação de uma reserva financeira necessária para o futuro. Seja crítico nos gastos e evite cair nas armadilhas do consumo. Podemos dizer que a alternativa seria “economize mais”.

5. Tenha consciência que o risco faz parte do jogo – se você aplicou na bolsa (ou num fundo de ação) e agora está perdendo é necessário saber que isto fazia parte do jogo. Aqui vale a frase do jogador de futebol: um dia a gente ganha, outro dia a gente perde.

6. A decisão de assumir o risco faz parte do passado – esqueça que você usou um dinheiro para comprar um apartamento num fundo de ação. Isto faz parte do passado e é conhecido como custo perdido. Sua tarefa agora não é lamentar a decisão errada que fez.

7. Mas aproveite para aprender – aplicar em investimentos de risco implica em risco.

8. Aproveite para retirar a emoção da sua decisão. Se a ação que você investiu caiu, não tome a decisão de “manter” enquanto o preço atingir novamente o patamar que você comprou. Em alguns casos, o melhor é vender mesmo com perda. Muitas vezes manter uma ação que você comprou por $10 até o momento que o seu preço ultrapasse novamente a $10 é um parâmetro errôneo. Se for o caso, modifique radicalmente a sua carteira.

9. Postergue sua aposentadoria – Momentos de instabilidades reduzem a riqueza dos investidores. Para manter um padrão de vida na aposentadoria é necessário retardar esta decisão. Caso contrário, ou você gastará rapidamente o que poupou ou perderá o padrão de vida que sonhava na aposentadoria.

10. Pense em outras coisas além do dinheiro – A felicidade também pode ser encontrada em pequenos prazeres da vida. Remoer o dinheiro perdido não ajuda em nada.

Links

1. IAS 41 – Agricultura (ainda não regulamentado pelo cpc)

2. Iasb convoca reunião para discutir a crise

3. IFRS 01 – Adoção das normas pela primeira vez (ainda não regulamentado pelo cpc) - Isenções aqui e aqui

4. IASB lança um rascunho para altera a IFRS sobre operações descontinuadas

5. Arte, vinho e carros são investimentos? Não

6. O maior número-primo

7. Uma solução para tragédias dos comuns na pesca do Alasca

8. Dez pessoas mais odiadas no futebol

9. FAS 157 segundo Norris

10. SEC esclarece o FAS 157 (vários links interessantes)

11. IFRS 02 – Pagamento com base em ações(ainda não regulamentado pelo cpc)

As mudanças no FAS 157

Sobre as mudanças no FAS 157, aqui o comunicado oficial da SEC.

O número de links sobre este assunto é grande e postei algumas reações abaixo no blog. Amanhã posto mais sobre a alteração.

E o fluxo de caixa?

David Merkel, no seu blog Aleph, lembra que a contabilidade não afeta fluxo de caixa. Neste sentido, a pressão para que a contabilidade alterasse as regras do FAS 157 (que resultou na alteração. Vide abaixo, no blog) e a crítica sobre o papel das normas contábeis pode ser contraposto a esta visão de isenção no fluxo de caixa.

Não faria sentido a crítica a contabilidade pois ela não mudaria as entradas e saídas de caixa da entidade. A Contabilidade é o meio de separar o resultado econômico em períodos de tempos. Ela não afeta o fluxo de caixa, mas tenta alocar o lucro econômico proporcionalmente.

Entretanto, Merkel não considera o papel da contabilidade sobre a reação dos agentes econômicos.

A Verdade em Wall Street

Levitt E Turner, em How to Restore Trust in Wall Street, The Wall Street Journal, 26/9/2008, p. A17, discutem a reação a contabilidade diante da crise. E defendem o uso do valor justo na contabilidade.

“Pedir para suspender a contabilidade a valor justo é pedir suspender o julgamento do Mercado. Esses grupos de negociantes reclamam que a contabilidade a valor justo distorceu os balanços e contribuiu significativamente para volatilidade do Mercado.”


Clique aqui para ler o texto.

Polêmica

Um artigo para o Washington Post escrito por William Isaac despertou a ira de alguns leitores. Uma das cartas foi Walter Schuetze, que citamos no livro de Teoria da Contabilidade (p.126, quando se discute o conceito de Ativo). Walter não concorda com a proposta de Isaac:

Mr. Isaac would have the SEC suspend the application of the FASB's mark-to-market accounting rules and require that "true economic value," based on a discounted cash flow analysis, be used instead. Mr. Isaac does not define "true economic value," but it is safe to assume that it would be a greater amount than market price, resulting in lesser amounts of loss recognition than under the FASB's methodology. I disagree with Isaac's proposal.
Bank regulators have a different aim and purpose than security regulators such as the SEC. Bank regulators have wide latitude to determine how banks determine capital for bank regulatory purposes. The SEC, on the other hand, requires that registrant-issuers use generally accepted accounting principles (GAAP).
GAAP is aimed at providing investors with neutral, verifiable and relevant information. Market prices of assets are neutral in that all issuers use market prices to determine asset values. Market prices are objectively determinable by reference to facts. And market prices are relevant when it comes to making investment decisions. Prices of assets as determined or allowed by a banking regulator, if those prices differ materially from market prices, have none of those characteristics; those prices are not useful or relevant for making investment decisions.
I urge the SEC not to accept Mr. Isaac's proposal. Investors would not be well served.
Walter P. Schuetze
Boerne, Texas
Mr. Schuetze was a member of the FASB in the 1970s and chief accountant at the SEC in the 1990s.


São dois artigos de Isaac. Aqui o primeiro, de 19 de setembro.

Aqui, o segundo artigo.

Qual o custo da ajuda?

A proposta de ajusta o Tesouro dos Estados Unidos pretendia dar para instituições financeiras foi anunciada em 700 bilhões de dólares. Sabemos que a ajuda foi recusada pelo Congresso, mas é interessante notar que mesmo quando foi realizado o anúncio da ajuda permanecia a dúvida do seu custo real. Se o tesouro comprasse os títulos por um preço próximo ao de valor de mercado, a venda futura poderia representar um resultado positivo (não um custo líquido de 700 bilhões). Entretanto, parecia existir uma intenção de adquirir por um preço acima do valor de mercado atual e mais próximo ao valor de face (e estes foi um dos motivos para que o pacote fosse derrotado). Neste caso o resultado positivo poderia não ocorrer. Mais sobre este assunto, aqui

Este assunto também foi objeto de texto do jornal Valor Econômico

Preço de compra dos ativos cria expectativa
26/9/2008 - Valor Econômico

A grande dúvida que pesava ontem sobre a proposta de um socorro financeiro de US$ 700 bilhões ao sistema bancário dos Estados Unidos é fundamental. Vai funcionar? A administração Bush diz que seu plano de comprar das instituições financeiras ativos atrelados a hipotecas, é a única maneira de fazer o crédito voltar a fluir no mercado. Sem ele, segue o argumento, os bancos não poderão emprestar e as empresas não poderão tomar emprestado para cobrir as folhas de pagamento, formar e manter estoques, construir novas fábricas ou contratar novos funcionários. A proposta original foi elaborada para diminuir as pressões sobre as instituições financeiras, removendo ativos podres relacionados a hipotecas de seus balanços. Esses ativos perderam valor junto com a queda do setor imobiliário, abrindo rombos nos balanços das instituições financeiras e criando um clima global de desconfiança que está minando a capacidade dos bancos de levantar capital.

(...) Muitas instituições financeiras estão mantendo ativos em seus livros a preços irreais, em parte para evitar as baixas contábeis que as normas de contabilidade exigem quando ativos ficam debilitados. Como o mercado está congelado para esses ativos, as companhias vêm conseguindo evitar a marcação dos valores reais desses ativos na contabilidade. Um dos fatores mais importantes na avaliação do plano de resgate tem sido um dos menos claros nas negociações até agora: Qual o preço que o Tesouro e os contribuintes acabarão pagando? Alguns dos maiores bancos americanos passaram os últimos dias removendo de seus balanços os títulos que eles gostariam de vender para o governo e a que preços. Sem saber os preços que o Tesouro vai se propor pagar, os bancos não podem decidir com que agressividade vão se desfazer dos ativos problemáticos.

Contabilidade Societária

CMN aprova normas para nova contabilidade societária
30/9/2008
Valor Econômico

O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou três votos no sentido da convergência das instituições financeiras para as novas normas de contabilidade societária previstas na Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Segundo a consultora do Departamento de Normas do Banco Central (BC), Sílvia Marques de Brito e Silva, está preservada a neutralidade tributária das mudanças que entram em vigor em janeiro de 2009. Os três votos ontem aprovados regulam os conceitos de ativos imobilizados e diferidos, a questão da equivalência patrimonial das coligadas e as operações de incorporação, fusão e cisão. De acordo com o chefe adjunto do Departamento de Normas do Sistema Financeiro do BC, Sérgio Odilon dos Anjos, o objetivo da convergência é muito anterior à crise dos bancos nos Estados Unidos. Ele afirmou que a meta é dar maiores transparência e comparabilidade e melhor alocação de capitais. O CMN restringiu o que pode ser registrado como ativo diferido.

Nos novos lançamentos, só poderão ter essa classificação as despesas pré-operacionais e os gastos de reestruturação. Os valores atualmente registrados nessa conta não precisam ser reclassificados. Segundo o Banco Central, também foi alterado, para o sistema financeiro, o conceito de empresa coligada para avaliação do investimento pelo método da equivalência patrimonial. Passa a ser coligada a empresa que tiver 20% ou mais do capital votante de outra ou tiver influência significativa em sua administração. Outra mudança aprovada pelo Conselho Monetário Nacional obriga o registro pelo valor de mercado dos ativos e passivos de entidades envolvidas em operações de incorporação, fusão ou aquisição. Atualmente, o valor contábil ainda pode ser usado. Sílvia Marques Silva explicou que a nova norma manda reavaliar cada ativo dando nome e discriminando o que é, no momento, atribuído ao ágio. Na avaliação da consultora do BC, ainda falta disciplinar cerca de 15% das normas relativas à convergência para o novo regime da Lei 11.638. Esse processo considera duas etapas. Na primeira delas, o objetivo é adaptar a regulação do CMN para o sistema financeiro nacional. Na segunda, a meta é alinhar, até 1º de janeiro de 2010, o conjunto das regras aos padrões internacionais para que, no fim daquele ano, as publicações já estejam adequadas.

Fas 157

SEC relaxa regra de marcação de títulos podres
Patrícia Campos Mello, WASHINGTON
1/10/2008
O Estado de São Paulo

A Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários do Estados Unidos) relaxou as regras de “marcação a mercado” dos títulos lastreados em hipotecas, difíceis de avaliar ou com pouca liquidez. Os bancos normalmente são obrigados a pôr em seus balanços o valor de mercado. Como é praticamente impossível negociar esses papéis, as instituições são obrigadas a registrar os títulos por 20%, 30% de seu valor de face. Assim, os ativos dos bancos ficam valendo muito menos e as instituições ficam vulneráveis.

A SEC enviou nota aos bancos orientando que eles não registrem esses títulos por seu preço de “saldão”. “Quando não existe um mercado ativo para um papel, o uso de estimativas da administração, que incorporam expectativas de fluxo de caixa futuro, é aceitável.”

A SEC deu a entender que o valor desses títulos em mercados em crise não é o justo, e portanto não precisa constar dos balanços. Os modelos internos dos bancos podem ser usados para determinar o valor dos papéis quando não houver liquidez. Os bancos já usavam esses modelos para determinar o valor de títulos menos líquidos.

A determinação da SEC vai deter o processo de remarcação para baixo dos valores desses títulos - agora, os bancos podem se basear mais em seus modelos internos, e não no mercado em crise, que está pagando pouquíssimo por esses papéis, isso quando há compradores. A medida pode ser um alívio para o sistema financeiro, abarrotado desses papéis.

A campanha do candidato republicano divulgou uma nota comemorando a flexibilização das regras de marcação a mercado. “John McCain está satisfeito que a SEC finalmente decidiu permitir métodos alternativos de contabilidade, além da marcação a mercado de títulos, quando não existe mercado ativo. Essas regras de contabilidade estavam exacerbando o aperto de crédito.”

30 setembro 2008

Rir é o melhor remédio


A diferença entre republicano e democrata com respeito ao déficit. Os republicanos defendem a responsabilidade fiscal (mas na prática a teoria é outra). Fonte, aqui.

Balanço Social


O Ibase lança livro inédito com análise de mais de mil balanços sociais publicados entre 1997 e 2005. A publicação traz panorama de investimentos empresariais em meio ambiente, ações sociais e no público interno.


Alexandre Alcantara. Clique aqui para ler mais

Marcação a mercado

A regra da marcação a mercado (e o FAS 157) estão em discussão. Para ler sobre o assunto, clique aqui, aqui e aqui.

O que já foi postado sobre este assunto no blog está aqui.

Congresso não aprova o pacote de ajuda a Wall Street

Surpresa de setembro
Floyd Norris*
O Estado de São Paulo - 30/9/2008

O congresso dos Estados Unidos não aprovou o plano de resgate dos bancos, para a surpresa de todos. Está demonstrado o valor da disciplina partidária. Esse pacote tinha o apoio de John McCain (republicano) e Barack Obama (democrata), os candidatos à Presidência que, juntos, contam com o apoio de praticamente todos os membros do Congresso.

Mas uma maioria de congressistas votou com Bob Barr, o libertário que afirmou que “precisamos fazer com que Wall Street sofra as conseqüências das suas irresponsáveis decisões de investimento”, e com Ralph Nader, o candidato independente que descreveu o pacote como “um resgate para os vigaristas de Wall Street”.

Imaginei que as lideranças no congresso fossem capazes de garantir que um número suficiente de membros de ambos os partidos tapassem seus narizes e votassem a favor do pacote para obter uma pequena margem e conseguir a aprovação. Mas o que temos aqui é uma rejeição do que Nader chama de “os dois candidatos das corporações”.

O resultado da votação foi divulgado pouco depois de eu ter publicado o texto anterior, chamado de “Surpresa de Outubro’. [vide abaixo neste blog] Vamos torcer para que a indústria bancária sobreviva até lá.

A indústria bancária está em apuros com ou sem pacote de resgate. Seus esforços para alterar as regras de contabilidade para ocultar os problemas são tristes e estarrecedores. O pacote rejeitado teria autorizado a SEC (Comissão de Valores Mobiliários local) a suspender a regra de reajuste a preço de mercado, que obriga os bancos a admitir o quanto apostaram e perderam. A SEC já cedeu à pressão política e proibiu a venda de ações a descoberto no mercado financeiro e, portanto, é possível que cedesse igualmente à pressão dos contadores.

“A verdade é a primeira baixa”, antiga frase que descreve o jornalismo de guerra, parece se aplicar também ao jornalismo econômico em tempos de crise financeira. Os economistas dizem que os mercados onde a venda a descoberto é proibida têm menor probabilidade de apresentar eficiência e maior probabilidade de apresentar distorções sob a forma de preços excessivmente altos.

Assim, apresentamos aos investidores empresas cujo preço foi provavelmente superestimado e provavelmente estão se esforçando para esconder o baixo valor atual dos seus ativos. Por algum motivo, poucos querem comprá-las.

Ontem, no programa Esta Semana, da rede ABC, Newt Gingrich argumentou em favor da suspensão da regra contábil de reajuste dos preços no nível do mercado, afirmando que os preços do mercado estão agora baixos demais e não condizentes com a realidade. Para comprovar essa tese, ele destacou que tanto o secretário do Tesouro quanto o presidente do Fed (banco central americano) acham que os preços estão mais baixos do que deveriam.

Eles afirmam isso argumentando que o governo pode pagar por ativos problemáticos preços acima do valor de mercado e no fim lucrar com eles. Quando você imaginou que veria uma das principais figuras conservadoras dizer que as autoridades do governo poderiam avaliar valores com maior competência do que o próprio mercado?

Na ausência do resgate rejeitado, o governo está tratando com os bancos frágeis, um a um, propondo aquisições (enterros seria um termo mais apropriado) quando possível. Tanto no negócio do Washington Mutual quanto no do Wachovia, os depositantes estão passando bem, enquanto os acionistas sofrem. Isso desencoraja uma corrida dos depositantes aos bancos, o que é bom, mas encoraja o que chamaremos de “corrida ao mercado de ações” por parte dos acionistas de qualquer banco que possa estar no mesmo barco que essas instituições financeiras problemáticas.

(Se o seu banco alguma vez se gabou dos seus empréstimos hipotecários, é melhor tomar cuidado.) Ainda acho que o congresso vai salvar alguma coisa do pacote - supostamente ao elaborar mudanças que agradem a um número suficiente de discordantes -, mas com o início do feriado judaico, esta noite, pode demorar até que isso ocorra.

O risco de um grande resgate era que isso fizesse os investidores pensarem que os bancos estavam numa enrascada ainda maior do que aparentavam. Henry M. Paulson Jr., o secretário do Tesouro, tentou estruturar esse resgate sob a forma de uma aquisição de ativos, de modo que os bancos, recebendo o dinheiro, não ficassem manchados por fazê-lo.

Mas a decisão de forçar estes bancos a entregar parte de sua participação patrimonial pode ter acabado com essa jogada e as mudanças a serem feitas agora no pacote podem muito bem torná-lo mais punitivo. Isto pode ser bom em termos de justiça, mas ruim em se tratando de conter a crise.

Parece que esta será uma semana muito interessante nos mercados, que não iam muito bem das pernas antes da “Surpresa de setembro”.

*Floyd Norris escreve para o ‘The New York Times’


Para ler sobre este assunto, clique aqui e aqui

The Beatles



Documentos secretos do Governo britânico, agora desclassificados, mostram que diplomatas e polícias fizeram inúmeros relatórios secretos, durante oito anos, sobre os Beatles, anunciou o investigador Mari J. Cereghino.

Tudo começou durante a viagem aos Estados Unidos dos Fab Four, em Fevereiro de 1964, e de uma festa na Embaixada britânica, no fim da qual os Beatles se queixaram da segurança.

Um artigo no "Daily Express" revelava, então, que uma fã tinha conseguido cortar uma madeixa de cabelo a Ringo Star. O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico quis saber o que se passou concretamente e pediu um relatório à sua Embaixada de Washington.

A partir dessa altura, passou a existir uma vigilância quase constante de todos os passos da banda. Onde quer que se encontrassem, de Londres a Tóquio, os relatórios de diplomatas ou da Polícia descreviam todos os passos dos elementos do grupo.

Mais tarde, os principais alvos das autoridades passaram a ser John Lennon e Yoko Ono. A 18 de Outubro de 1968, são ambos presos no seu apartamento por posse de estupefacientes (canábis(.

Dois anos mais tarde, um outro relatório informava sobre uma exposição de litografias, concebidas por Lennon, que retratavam o casal em várias posições sexuais. Oito das 14 litografias são apreendidas pela Polícia e a exposição encerrada. Contudo, as autoridades britânicas também se interessavam pelas finanças dos membros do grupo, mantendo uma contabilidade actualizada de quanto, de quem e de quê cada um deles recebia dinheiro.

Curiosamente, faz também parte do espólio agora revelado o documento que marca o fim da banda. Trata-se do processo, que chegou ao Supremo Tribunal, instruído por Paul McCartney contra os seus três ex-companheiros, depois da dissolução do grupo, em finais de 1970.

John Lennon resolveu viver nos EUA, mas aí passou a ser vigiado de perto pelo FBI porque esta entidade desconfiava dos conhecimentos sociais de Lennon.


Governo inglês vigiava passos dos Beatles
Jornal de Notícias - 30/9/2008 - 07 - Grifo meu.

Custo da IFRS

O CEO da British Petroleum anunciou que sua empresa gastou o equivalente a 100 milhões de dólares para o primeiro ano de IFRS, com gastos adicionais esperados para o segundo e o terceiro anos. Extrapolando (...) as corporações dos EUA devem gastar aproximadamente US$ 20 bilhões de dólares, no total, para converter [a contabilidade] para as normas IFRS. Felizmente para os meus amigos do Big Four, a quase totalidade deste dinheiro vai para os seus bolsos. Que inesperados para eles!. E não sequer abordamos o fato científico que as empresas com contabilidade pelo IFRS, em vez do US GAAP, possuem maiores custos de capital e os investidores menores taxas de retorno.

Keep All Eyes on the Bouncing Ball of IFRS - David Albrecht - 29/9/2008

O papel da contabilidade na crise

É claro que o antigo sistema falhou - caso contrário não iria precisar do socorro -, mas o diagnóstico do que aconteceu pode ser importante para decidir quais as mudanças são necessárias.

Neste momento, os liberais acusam a desregulamentação, que começou sob Ronald Reagan, e sistema financeiro ficou fora de controle, e os conservadores estão apontando para as intervenções no mercado pelos liberais - nomeadamente os esforços para garantir empréstimos hipotecários para os pobres e das minorias - como sendo a causa da bagunça.

Os conservadores também estão apontando para as regras contábeis (...)

A regra contábil que exige dos bancos marcar os seus bens a seu valor de mercado tem sido amplamente acusada de produzir perdas que assusta os investidores. Newt Gingrich, o ex-porta-voz da Câmara, disse domingo no programa ABC This Week "que entre metade a 70 por cento do problema" foi causado pela regra, e alguns legisladores republicanos têm pressionado para suspender a lei.

Mas se alguém quiser olhar as regras contabilísticas como causa, seria mais produtivo analisar as regras que permitiram a crise crescer sem ser notada, não a regra que finalmente trouxe a verdade à opinião pública. (...)

Em qualquer caso, é tarde demais para abandonar a contabilidade da marcação a mercado.


After the Deal, the Focus Will Shift to Regulation - Floyd Norris, 29/09/2008 - The New York Times - Late Edition - Final - 1


Acredito que esta seja uma resposta adequada ao texto de Michael Hudson (O resgate de todos os resgates, via Notícias Contábeis) que fala em:

Esses bilhões de dólares foram sacrificados para manter vivo um sonho: as ficções contábeis postas sobre o papel por empresas que ingressaram em um mundo irreal fundado em uma contabilidade falsa que praticamente todo o mundo financeiro sabia ser enganosa.


Mas reforçando o argumento de Norris apresentado acima, Binyamin Appelbaum, David Cho e Neil Irwin, em Broad Authority, Lots of Money And Uncertainty, The Washington Post, FINAL, p. A01) lembram que independente da regra contábil de marcação a mercado, o problema era que os bancos não tinham mais dinheiro pois fizeram péssimos empréstimos.

Desabafo

Año tras año, lo mismo. El interventor del Ayuntamiento de Valencia repite en cada auditoría interna de las cuentas municipales sus reparos como un mantra: se comprometen gastos sin presupuesto; se guardan facturas en los cajones hasta el ejercicio siguiente; no se controla la desviación del coste de las obras; y se adjudica el grueso de la inversión a dedo a las contratas y concesionarias, entre otros malabarismos para que al final de año cuadren las cuentas y la deuda no supere los límites legales.

Las cuentas siguen oscuras - 29/9/2008 - El País - Nacional - V (Comunidad Valenciana), p. 6

29 setembro 2008

Rir é o melhor remédio

Toda segunda-feira a New Yorker disponibiliza oito cartoons diversos, sendo o oitavo para o leitor completar a piada. Esta semana parece que o tema era um só: a crise financeira.



"Eu penso que eles esperam um bailout"



"Um banqueiro, eh? Como é que você ganha a vida?"





"Não sobre o colchão, onde guardaremos nosso dinheiro"



"Querida, nós estamos sem casa"

28 setembro 2008

Caixa negativo: exemplo

A Varig, que permanece em recuperação judicial sob o nome de Flex, inicia o mês que vem com um caixa negativo de R$ 2,7 milhões, o que na teoria poderia significar sua falência. O resultado permanecerá no vermelho até julho de 2009, quando o caixa da empresa deverá estar com saldo negativo de R$ 28,6 milhões.

As projeções constam do último relatório sobre a recuperação judicial entregue no final de agosto, com dados de julho. A Flex não se pronuncia sobre o assunto.

De acordo com fontes do setor, porém, a Flex deverá ganhar uma sobrevida até dezembro, pois deve receber receitas extras de renegociações de apólices de seguros e de serviços prestados a outras empresas, por exemplo.

No relatório, a Flex informa que ainda tenta negociar uma dívida de R$ 814,5 milhões referentes a créditos de Imposto sobre Cirulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não repassados por diversos Estados brasileiros, além de cerca de R$ 48 milhões da VarigLog.


Varig tem caixa negativo de R$ 2,7 milhões - O Estado de São Paulo - 27/9/2008

Em pequenas e médias empresas o caixa pode eventualmente ser negativo. Mas numa empresa de maior porte isto é raro.

27 setembro 2008

Capas



Duas das melhores capas do ano de 2008. Na esquerda, Gisele. Na direita, o ex-prefeito Eliot. Mais, aqui.

Participação nos lucros


A figura, retirada de um estudo sobre remuneração de executivos, mostra um modelo para prever a participação nos lucros dos executivos do setor financeiro. O modelo erra nos últimos anos (o real, as barras, versus o previsto, a linha), indicando que esta remuneração está acima do histórico.

Fonte: Aqui

26 setembro 2008

Rir é o melhor remédio

Duas fotos interessantes. A primeira, um móvel original:



A segunda, o desejo que a língua inglesa tenha caracteres interessantes:

Tamanho da letra

Contratos terão que ter letra de fonte tamanho 12

Mudança na lei entra em vigor a partir desta terça-feira (23). Objetivo é tornar a leitura mais fácil para os consumidores.
A edição do Diário Oficial desta terça-feira (23) traz publicada uma lei que obriga os fornecedores de produtos e serviços a redigir contratos com letras de tamanho 12, no mínimo. O objetivo da medida é facilitar a leitura e entendimento dos contratos fornecidos pelas empresas aos clientes.
No entanto, a nova lei especifica somente o tamanho, não determinando que tipo de letra o fornecedor deve usar no contrato.
O projeto, aprovado em junho pelo Congresso, é de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS) e modifica o Código do Direito do Consumidor, que, apesar de já exigir que os caracteres fossem redigidos de forma legível, não estipulava um padrão mínimo de medida tipográfica a ser observado. A lei foi assinada pelo presidente em exercício, José Alencar, nesta segunda-feira (22).
Com a publicação, os consumidores podem exigir a apresentação dos contratos com letras com corpo 12 já a partir desta terça.
Fonte: Diário do Comércio - 24/09/2008

A edição do Diário Oficial desta terça-feira (23) traz publicada uma lei que obriga os fornecedores de produtos e serviços a redigir contratos com letras de tamanho 12, no mínimo. O objetivo da medida é facilitar a leitura e entendimento dos contratos fornecidos pelas empresas aos clientes.
No entanto, a nova lei especifica somente o tamanho, não determinando que tipo de letra o fornecedor deve usar no contrato.
O projeto, aprovado em junho pelo Congresso, é de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS) e modifica o Código do Direito do Consumidor, que, apesar de já exigir que os caracteres fossem redigidos de forma legível, não estipulava um padrão mínimo de medida tipográfica a ser observado. A lei foi assinada pelo presidente em exercício, José Alencar, nesta segunda-feira (22).
Com a publicação, os consumidores podem exigir a apresentação dos contratos com letras com corpo 12 já a partir desta terça.

Fonte: Diário do Comércio - 24/09/2008


Enviado por Marcos César, grato

Sobre o valor justo

"Contabilidade não cria realidade, ela reflete isso. (...) "Na crítica [a contabilidade a valor justo] há um elemento de “não gostamos de resposta”.

"Se você usa as valorizações do mercado isto por natureza cria volatilidade porque os mercados são voláteis. Mas está apenas refletindo que a volatilidade."


Fonte: Jennifer Hughes, Fair value concept prompts cries of foul, 18 /09/ 2008, Financial Times
Surveys IAC1, p. 01.


Texto completo aqui

A culpa é da Contabilidade

Os executivos de Wall Street e os lobistas dizem que sabem o que ajudou a empurrar as maiores instituições financeiras do país para o precipício nos últimos meses. O culpado, dizem, é a contabilidade.

Os bancos (...) esperam persuadir legisladores e reguladores de valores mobiliários em suspender temporariamente ou reverter uma medida contábil que entrou em vigor no ano passado quando a crise de crédito surgiu.

A causa está uma disposição que obriga as empresas a divulgarem mais informações sobre o valor das seus ativos, incluindo o quanto eles poderiam obter no mercado. A norma contabil, conhecida como valor justo ou marcação a mercado, tem sido citada como um fator contribuinte nas quebras de American International Group, Freddie Mac e Lehman Brothers.

Há apenas um problema, de acordo com os reguladores e analistas contábeis: A norma não impõe novas regras para as empresas, mas apenas mostra as apostas vagabundas de hipotecas, tornando-a um bode expiatório conveniente (...).


Carrie Johnson, Wall St. Points to Disclosure As Issue; Accounting Rule Cited in Turmoil, Washington Post Staff Writer, 23/9/2008, D01


Aqui o texto completo

India, IFRS e Tecnologia

Um artigo do jornal The Hindu (Impact of IFRS convergence on tech companies, 25/9/2008, 9, Jamil Khatri) destaca a influencia da adoção do IFRS nas empresas de tecnologia da Índia. Este país deverá adotar no dia 1o. de abril de 2011 as normas do Iasb. Para os interessados nesta discussão, aqui o texto completo do artigo.

25 setembro 2008

Rir é o melhor remédio


Fonte: New Yorker

Links

1. Cultura de Guerra nas Estrelas

2. Calculadora do Google era na conta

3. Capas de revistas em 2008

4. Regra fiscal e lei 11638

5. FBI investiga o escândalo na AIG, Lehman Brothers Fannie Mae e Freddie Mac

6. Contabilidade e Corinthians

7. Superávit ambiental

8. Ex-administrador da Siemens admite suborno ao sindicato

Contabilidade do Tráfico

Contabilidade do tráfico apreendida pela polícia tem ainda propinas a policiais
Ana Cláudia Costa - Globo - 25/9/2008

O faturamento de uma única boca-de-fumo na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, impressionou policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA). Em agendas e folhas de papel com a movimentação do tráfico apreendidas numa casa na semana passada, durante uma operação na área, agentes descobriram que um ponto de venda de drogas chegou a arrecadar R$29,5 mil por dia, em dezembro do ano passado. Em janeiro, o movimento caiu: foram R$15 mil por dia.

Da contabilidade também consta o pagamento de propinas a policiais, o chamado “arrego”. Em dezembro de 2007, traficantes de uma boca-de-fumo da Nova Brasília deram R$2 mil de “arrego de Natal”. No mês seguinte, o valor caiu para R$1,4 mil.

Todo o material apreendido está sendo analisado pelo delegado titular da DRFA, Ronaldo Oliveira:

— A movimentação financeira de apenas uma boca-de-fumo é muito grande. Se a gente levar em conta que o Complexo do Alemão tem 17 favelas e em cada uma delas há mais de dez bocas-de-fumo, dá para ter uma noção da alta rentabilidade do tráfico na região. Mas, com tantas bocas, não dá para dizer quanto os traficantes arrecadam mensalmente.

Visitante levou R$1.510a presos em Gericinó

Bem organizadas e detalhadas, as agendas mostram quanto diariamente o “gerente” de um ponto de venda de drogas gasta e devolve ao chefe do tráfico. Na relação diária de despesas, há pagamentos destinados a presos no Complexo Penitenciário de Gericinó e a advogados de detentos. A lista apresenta ainda gastos com cestas básicas, remédios, manutenção e conserto de armas, além de aquisição de armamento pesado e munição.

Somente em julho do ano passado, o “gerente” mandou, por intermédio de uma pessoa que foi fazer uma visita em Gericinó, R$1.510 a cúmplices cumprindo pena no local. Detido em junho do ano passado, o traficante Marcelo Soares de Medeiros, o Marcelo PQD, perdeu um pouco de prestígio na quadrilha. Enquanto comparsas seus presos no complexo penitenciário recebem R$200 por semana, ele ganha R$50. Segundo o delegado titular da DRFA, isso acontece porque PQD, ao ser capturado, perdeu muitas armas, dando grande prejuízo ao bando.

Para despistar a polícia, traficantes adotam um código para se referir às drogas. “Ronaldo” quer dizer pedra de crack; “Maradona”, cocaína; “Super-Homem”, a mesma droga, mais pura; e “moreno”, maconha.

Munição permite a bando sustentar longos tiroteios

Nas anotações, há detalhes sobre a distribuição do armamento. Somente numa boca-de-fumo, traficantes estavam armados com duas metralhadoras .30, 14 pistolas, dois mosquetões, dois fuzis FAL calibre 762, outro G3, um AR-15 e duas escopetas calibre 12. Todas as armas, segundo o delegado Ronaldo de Oliveira, são entregues aos bandidos com munição suficiente para sustentar uma troca de tiros durante um dia inteiro.