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10 dezembro 2016

Fato da Semana: Deloitte do Brasil é multada

Fato: Deloitte do Brasil é punida pelo PCAOB

Data: 5 dezembro de 2016

Histórico

2011 = A Deloitte faz auditoria do balanço da Gol. A empresa tinha encontrado alguns problemas, mas mesmo assim deu um parecer limpo.
2012 = O PCAOB faz uma fiscalização de rotina, analisando o trabalho dos auditores. Funcionários da Deloitte do Brasil começam a alterar muitos documentos para ocultar os problemas encontrados. Um deles, que buscava uma progressão dentro da empresa, tinha interesse em não deixar transparecer os problemas.
2016 = PCAOB divulga o resultado, incluindo uma multa pesada para a Deloitte do Brasil, recorde da história da entidade de fiscalização. Consta também a proibição de tomar novos clientes.

Relevância: Trata-se da maior multa já aplicada pelo PCAOB por problemas com um trabalho de auditoria. A punição ocorreu após diversos funcionários terem prestado juramento falso, com alteração de documentos sobre um trabalho realizado no passado e tentativa de obstrução de investigação. A empresa foi condenada não somente pelo que não fez (parecer limpo, quando deveria ser com ressalva), como pelo que fez. O recorde é algo bem triste e mostra como a notícia é relevante.

Notícia boa para contabilidade? São contadores brasileiros, com registros nos conselhos de classe e que ainda estão no mercado.

Desdobramentos - A empresa pagou para encerrar o caso. Reconheceu o mérito da questão. Mas os profissionais serão punidos? Neste tópico tentamos imaginar o que irá ocorrer e não existem razões para acreditar que registros serão cassados, demissões ocorreram e investigações serão conduzidas.

Mas a semana só teve isto? Sim.

Rir é o melhor remédio



Feliz aniversário, irmão! :*

07 dezembro 2016

Política e Convergência

Recentemente o Reino Unido decidiu sair da União Europeia e os EUA escolheram Trump. Segundo o presidente do Iasb, Hans Hoogervorst, estas decisões políticas não tiveram efeito sobre as normas contábeis internacionais, declarou ao Journal of Accountancy.

"É claro que é muito cedo para dizer, mas por enquanto não vemos consequências imediatas" 

Apesar disto, reconheceu que no longo prazo os acontecimentos políticos podem ter efeito. Mesmo assim, as empresas multinacionais continuariam negociando e os investidores aplicando seus recursos em todo o mundo.

"Enquanto o Reino Unido decidiu deixar a UE, não decidiu deixar o mundo"

O presidente do Iasb disse que o relacionamento com o Fasb é cordial. E que acredita que Trump tem outras preocupações mais relevantes que as normas contábeis.

Links

Análise psicológica do match Carlsen e Karjakin

Quem mais vendeu discos em 2016 morreu há 225 anos

KPMG: Relatório da inspeção da fiscalização da KPMG em 2015

O que seria do mundo sem carne

CVM começa a julgar Eike e Petrobras

Dar presente é eficiente

Rir é o melhor remédio

06 dezembro 2016

Frase

"Esta é a má conduta mais séria que descobrimos. É encobrimento em cima de encobrimento em cima de encobrimento" (Claudius Modesti, diretor de Fiscalização do PCAOB, sobre a Deloitte do Brasil e o balanço da Gol, segundo Valor Econômico)

Nacionalismo contábil

O Wall Street Journal (via aqui) informou que o chefe de contabilidade da SEC afirmou que as normas contábeis dos Estados Unidos (leia-se Fasb) serão adotadas pelo país no futuro previsível.

Links

GM (Jogadores de xadrez ) por pessoas

Cristiano Ronaldo e o paraíso fiscal: 60 milhões de euros não declarados

O que cada país tem de melhor (mapa. Brasil = açúcar)

Nomes de meninos e meninas mais populares em 2016

Rir é o melhor remédio

Fonte: Aqui

05 dezembro 2016

Dois gráficos

Dois gráficos da Gol:

O primeiro, a cotação da ação caiu 3,65% no dia de hoje. O segundo, a linha do resultado líquido de 2002 até o terceiro trimestre de 2016. Destaque para os anos de 2010. centro da polêmica entre a Deloitte, que auditava, e o PCAOB, que puniu a auditoria brasileira com multa recorde.

Links

15 anos depois, Enron ainda importa (é uma das palavras mais citadas no verbete Accounting)

Mais evidenciação sobre risco de sustentabilidade, mas ainda não como queremos

Clima e eficiência do mercado

A competição nas eleições e a corrupção: nem muita, nem pouca competição

XKCD: Crítica a significância estatística (ao lado, clique para ler)

Deloitte do Brasil é punida pelo PCAOB

O PCAOB, responsável pela supervisão dos auditores dos Estados Unidos, puniu a Deloitte do Brasil com uma multa de 8 milhões de dólares. Trata-se da maior multa aplicada pelo PCAOB, informou o Valor Econômico. A empresa de auditoria foi condenada por problemas de qualidade no seu trabalho e por não ter cooperado com as investigações. Também foram multados 12 ex-sócios e outros funcionários. O PCAOB, através do diretor da divisão de investigação, afirmou que se trata de um dos "mais sérios erros de conduta" descobertos pela entidade.

O problema ocorre com um parecer com afirmações falsas sobre o balanço da Gol:

antes de ele iniciar sua fiscalização sobre o caso, em 2012, a Deloitte ordenou que um de seus funcionários alterasse os documentos da auditoria do balanço de 2010 para ocultar as deficiências encontradas


Os documentos falsos foram apresentados para os inspetores do PCAOB. Alguns funcionários da empresa de auditoria deram informações falsas sob juramento. O nome dos punidos pode ser encontrados aqui.

CRC na Política

O Conselho Regional de Contabilidade divulgou um comunicado político assinado pelo seu presidente através do Facebook (dica de Alexandre Alcantara, grato). Podemos até concordar com a opinião do presidente, mas não será a posição expressa no comunicado exagerada? A afirmação de que o "congresso nacional não pode mais ser aceito como representante do povo brasileiro" é uma opinião que pode dar ensejo a diversas interpretações. Concluir com um "não dá mais para aceitar (...)" pode induzir sugestões inadequadas a uma democracia. Abranger "os deputados federais" é negar que as decisões do legislativo são majoritárias, com direito a divergências. (Além disto, no parágrafo seguinte o presidente inclui todo o "Congresso Nacional"; somente para lembrar, o congresso é composto dos deputados e dos senadores, indicando um erro básico da legislação brasileira).

Barato

O acordo de leniência fechado pela Odebrecht na última quarta-feira saiu barato. A empresa pagará uma multa anual média pouco abaixo de US$ 300 milhões durante os próximos 23 anos. Quem conhece a Odebrecht por dentro estima que todo ano o célebre Departamento de Operações Estruturadas gastava US$ 500 milhões com aquilo que chamara de "despesas gerais indiretas", ou DGI - o codinome interno para propinas. (Gurovitz, Estado de S Paulo, 4 de dezembro de 2016, p. A15)

Rir é o melhor remédio


04 dezembro 2016

História da Contabilidade: O surgimento de alguns conceitos (1860)

Uma das surpresas agradáveis da pesquisa histórica é descobrir um termo ou uma expressão ou um conceito que usamos corriqueiramente nos dias de hoje. É bem verdade que nunca saberemos com precisão a data precisa, mas o fato de imaginar que nossos antepassados distantes já conheciam aquelas palavras é interessante. Nesta postagem de hoje irei comentar algumas expressões que encontrei ao pesquisar os jornais dos anos 60 do século XIX. Ou seja, há mais de cento e cinquenta anos ou há mais de cinco gerações.

Há tempos a “falta de sentimento” tem sido associada a contabilidade. O trabalhador contábil, geralmente acostumado a lidar com números diariamente, é um insensível sem coração. As informações preparadas pela contabilidade devem ser neutras, afirmam os reguladores. Esta noção de “falta de sentimento” parece que não é dos dias atuais. Em 1868, num discurso em Diamantina, reproduzido no jornal O Jequitinhonha (1), um político afirmava que a “câmara não é machina de contabilidade, cuja funcção se limita a linhar cifra sobre cifra, algarismo sobre algarismo”.

Um outro termo aparece dois anos depois quando um leitor do jornal Sentinella da Liberdade (2) escreve uma carta para tratar de um serviço de irrigação e os recursos do governo para o mesmo. Parece que a verba para o serviço estava comprometida e o serviço, na visão do texto, não poderia ser adiado. Para resolver o problema da falta de recursos o texto sugeria: “como vereador commissario da contabilidade indico as verbas – abertura e alargamento de ruas, pontes e pontelhões – das quaes se póde fazer o extorno da quantia de 20,000$ sufficiente para o andamento do serviço (...)”. Certamente não foi a primeira vez que a palavra estorno foi empregada na língua portuguesa. Mas é interessante saber que o orçamento público brasileiro transferia recursos de uma rubrica para outra há mais de 150 anos.

Ainda sobre as finanças públicas, em 1864 o Visconde de Itaborai estava fazendo um discurso sobre as finanças do império. Afirmava o Visconde que era impossível saber com segurança o “saldo ou déficit” do tesouro e isto tinha que acabar. E que o Tesouro deveria limitar-se a “escripturar com clareza a receita e a despeza” (3). No que foi interrompido por Silveira da Mota que afirmou: “é artificio de contabilidade”. A fama ruim da contabilidade pública não é de hoje. A dificuldade de entendimento remota do Império.

Outra passagem interessante que encontrei foi na Revista Espirita. Como o nome diz, tratava-se de uma publicação sobre o espiritismo. Em 1860 a revista transcreveu uma sessão ocorrida em 10 de fevereiro daquele ano onde Allan Kardec falava sobre uma doação que lhe foi feita: “Esta soma formará o primeiro fundo de uma Caixa Especial, que nada terá em comum com os meus negócios pessoais, e que será o objeto de uma contabilidade distinta sob o nome de Caixa do Espiritismo”(4). Observe que Kardec comentava sobre o princípio da entidade, separando a doação recebida dos seus pertences pessoais. Como sabemos, a noção de entidade tornou-se mais assentada na contabilidade anos depois. Nove anos depois, ao comentar sobre a Livraria Espírita, as lições de Kardec parece que foram absorvidas: “É administrada por um gerente, simples mandatário, e todos os lucros constatados pelo balanço anual serão por êle lançados na Caixa Geral do Espiritismo” (5).

Para encerrar esta postagem com chave de ouro uma citação de 1875, do Vida Fluminense, sobre uma regra da contabilidade: a regra da pior contabilidade. Fantástico:

Se um ativo contabilizado por doze milhões de patacões, por pior que seja, dá para pagar mil e tantos contos. É preciso dizer que regra estamos falando?

(1) O Jequitinhonha, 13 de dezembro de 1868, ano VIII, n. 18, p. 2
(2) Sentinella da Liberdade, 9 de janeiro de 1870, ano II, n. 2, p. 4
(3) A Situação, 15 de dezembro de 1864, ano II, n. 76, p. 2.
(4) Revista Espirita, março de 1860, ano 3, n. 3, p. 7.
(5) Revista Espirita, abril de 1869, ano XII, n. 4, p. 2.
(6) A Vida Fluminense, 1875, ano VIII, n 390, p. 2.