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24 outubro 2025

Sarkozy irá cumprir pena de cinco anos por corrupção e tráfico de influência


Ainda sobre políticos e justiça: Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França, tornou-se o primeiro ex-chefe de Estado do país a ser preso desde a Segunda Guerra Mundial. A decisão decorre de condenações por corrupção e tráfico de influência, após acusações de que tentou obter informações sigilosas de um juiz em troca de favores. O caso é considerado histórico e marca um momento de forte impacto político e jurídico na França, levantando debates sobre integridade das instituições e responsabilidade de ex-líderes. A prisão de Sarkozy simboliza um endurecimento da Justiça francesa em relação a figuras políticas de alto escalão. 

Bom lembrar que processos de corrupção geralmente envolvem fluxos de recursos ocultos, uso inadequado de fundos e tentativa de mascarar transações em documentos oficiais. A contabilidade, e suas técnicas, pode rastrear operações, garantir transparência e identificar inconsistências que servem de prova em tais processos. 

Quando a "justiça" lenta pode ser uma vantagem


Eis um caso onde uma justiça lenta pode ser "interessante":

O presidente Donald Trump entrou com uma ação contra o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, exigindo o pagamento de 230 milhões de dólares como ressarcimento. Ele alega que as investigações e processos movidos contra ele foram motivados por razões políticas e causaram danos substanciais à sua imagem e negócios. O pedido aconteceu em meio à sua campanha para retornar à presidência. 

E ele venceu a eleição e nomeou seus ex-advogados como funcionários, que agora tem o poder de liberar o pagamento. Se você acredita que exista um problema ético aqui, uma justiça lenta pode ser interessante para o bem das finanças públicas. 

Fonte da notícia: NYT, Trump exige que o Departamento de Justiça lhe pague US$230 milhões. Publicado O Estado de S Paulo, 22 de outubro de 2025. Imagem aqui

Padrão contábil para o terceiro setor


Já tínhamos publicado sobre o desenvolvimento de um conjunto de padrões contábeis para entidades do terceiro setor. A International Non-Profit Reporting Foundation (INPRF) acaba de divulgar o primeiro padrão abrangente de relatórios financeiros para organizações sem fins lucrativos em todo o mundo, denominado International Non-Profit Accounting Standard (INPAS).

Baseado na norma para Pequenas e Médias Empresas da Fundação IFRS, o novo padrão pretende atender às organizações sem fins lucrativos, incluindo regras sobre reconhecimento de doações, fundos restritos, subvenções e outros tópicos. É importante destacar que, atualmente, a Fundação IFRS não cobre assuntos relacionados a entidades do terceiro setor.

No Brasil, há muito tempo o Conselho Federal de Contabilidade assumiu a função de tratar desse tema. Talvez fosse interessante, neste momento, que o CFC ajustasse seus documentos a essa norma internacional, ajudando a dar legitimidade ao esforço de criação do INPAS.

Anteriormente postamos aqui e aqui

23 outubro 2025

Uma nova medida para contabilizar as emissões de CO2


Um consórcio global liderado por BlackRock (GIP), Santander e ExxonMobil anunciou a criação da iniciativa Carbon Measures, voltada a estabelecer um novo modelo de contabilidade de emissões de CO₂. O objetivo é elaborar um padrão que acabe com a dupla contabilização das emissões e permita calcular a intensidade de carbono por produto (como aço, cimento ou combustíveis) ao longo de cadeias de suprimentos. Segundo o grupo, o sistema atual — baseado no Greenhouse Gas Protocol — facilita que múltiplas empresas reivindiquem redução da mesma tonelada de CO₂. 

Você pode encontrar mais detalhes da iniciativa aqui e aqui 

22 outubro 2025

Nomes dos novos contadores

A partir da relação dos nomes dos aprovados no Exame de Suficiência, solicitei ao GPT que elaborasse a relação dos primeiros nomes mais populares. Eis o resultado:


Parabéns para as Anas, Marias, Gabrieis e muitos outros. Nessa relação há 4 "César" e 9 "Isabel".

Blockchain e smarts contrats para ajudar a reduzir a corrupção na Bolívia


O novo governo da Bolívia já anunciou que irá adotar a tecnologia blockchain, juntamente com os smart contracts, para combater a corrupção. A ideia é que as licitações e compras governamentais sejam registradas em blockchain, usando contratos inteligentes que executam automaticamente as regras acordadas. Isso reduziria a possibilidade de interferências, manipulações ou decisões arbitrárias. Em uma licitação pública, cada etapa ficaria registrada de forma pública e imutável na rede, permitindo maior controle.

A medida parece promissora na capacidade de ajudar no combate à corrupção, dada a transparência, a rastreabilidade, a redução de intermediários e a possibilidade de fiscalização por qualquer cidadão. Mas, se realmente funciona, por que não foi adotada em larga escala em outros países?

Há experiências em andamento, mas os casos de sucesso indicam que a eficácia da medida depende de vários fatores. Em primeiro lugar, há o custo de implementação e a necessidade de infraestrutura, incluindo profissionais capazes de utilizar a tecnologia. Em segundo lugar, os exemplos positivos surgem em sociedades onde já existe uma cultura de digitalização e de processos confiáveis. Em terceiro lugar, a corrupção pode ocorrer antes mesmo da informação entrar no sistema. É verdade que o uso de blockchain pode reduzir o volume da corrupção, mas, se houver problemas já na fase de licitação, o contrato decorrente continuará comprometido. Em quarto lugar, aqueles que se beneficiam da corrupção tendem a resistir ao processo, o que pode incluir a criação de entraves burocráticos, a má vontade em aprovar recursos para o projeto, entre outras barreiras.

Túnel no Estreito de Bering

Não foi proposital, mas novamente voltamos com uma postagem sobre comércio internacional. Anteriormente, falamos de uma nova rota da China para a Europa e, antes, do caso do Canal de Suez. Agora, encontro uma proposta de construção de um túnel sob o Estreito de Bering, aquele que separa a América — mais especificamente o Alasca — da Ásia, isto é, da Rússia. Há até um verbete na wikipedia.


Há diversos aspectos que apontam para a inviabilidade do projeto, desde o elevado custo até as condições geográficas e a baixa viabilidade econômica. É difícil imaginar um grande volume de cargas e pessoas circulando entre o Alasca e a Rússia.

E, como em todo projeto polêmico, a questão do custo é um jogo de números. Há previsões que variam entre 35 bilhões e 250 bilhões de dólares, segundo informações de um site dedicado ao projeto. As estimativas deveriam incluir não somente o túnel, mas também as ferrovias e a infraestrutura associada. Com essa inclusão, provavelmente trata-se de um projeto acima de cem bilhões de dólares. Mas haveria carga a transportar que compensasse o investimento? Provavelmente não.

Liberdade de expressão e IA no mundo

Eis o resumo:

A inteligência artificial (IA) generativa transformou a forma como as pessoas acessam informações e produzem conteúdo, levando-nos a questionar se os atuais marcos regulatórios ainda são adequados. Menos de três anos após o lançamento do ChatGPT, centenas de milhões de usuários já dependem de modelos da OpenAI e de outras empresas para aprender, se entreter e trabalhar. Em meio a tensões políticas e reações públicas, surgiram debates acalorados sobre que tipos de conteúdo gerado por IA devem ser considerados aceitáveis. A capacidade da IA generativa tanto de ampliar quanto de restringir a expressão a torna central para o futuro das sociedades democráticas.

Isso levanta questões urgentes: as leis nacionais e as práticas corporativas que regulam a IA protegem a liberdade de expressão ou a limitam? Nosso relatório — “Isso Viola Minhas Políticas”: Leis de IA, Chatbots e o Futuro da Expressão — aborda essa questão ao avaliar legislações e políticas públicas em seis jurisdições (Estados Unidos, União Europeia, China, Índia, Brasil e República da Coreia) e as práticas corporativas de oito grandes empresas de IA (Alibaba, Anthropic, DeepSeek, Google, Meta, Mistral AI, OpenAI e xAI). Em conjunto, esses sistemas públicos e privados de governança definem as condições sob as quais a IA generativa molda a liberdade de expressão e o acesso à informação em escala global.

Este relatório representa um passo em direção a repensar como a governança da IA influencia a liberdade de expressão, tomando como referência o direito internacional dos direitos humanos. Em vez de aceitar regras vagas ou sistemas opacos como inevitáveis, legisladores e desenvolvedores podem adotar padrões claros de necessidade, proporcionalidade e transparência. Dessa forma, tanto a legislação quanto as práticas corporativas podem contribuir para que a IA generativa proteja o pluralismo e a autonomia dos usuários, ao mesmo tempo em que reforça as bases democráticas da liberdade de expressão e do acesso à informação.


 Eis o relato do Brasil:

O Brasil ficou em terceiro lugar, com um desempenho robusto. O arcabouço jurídico e institucional do país é marcado por fortes proteções constitucionais à liberdade de expressão, embora casos recentes revelem uma tendência a uma regulação mais intervencionista em resposta a danos online (reais ou percebidos). As perspectivas futuras dependem em grande parte de um novo projeto de lei sobre IA atualmente em discussão. Embora o projeto incorpore a liberdade de expressão e o pluralismo como princípios orientadores, também tem sido criticado por suas definições vagas e pelos potenciais efeitos inibidores sobre a liberdade de expressão. 

Rir é o melhor remédio


 Do Estado de S. Paulo de outubro de 2025. 

21 outubro 2025

O Nobel de Economia foi justo?

O controverso Nobel do ano passado parece que tem companhia. Isso se depender do ponto de vista do estatístico Gelman. Analisando os dados do artigo de 2005, denominado Competition and Innovation: An Inverted-U Relationship, de dois dos autores que recentemente receberam o Nobel em Economia de 2025, a conclusão não é boa. 


O texto original afirma existir uma relação entre concorrência de mercado e inovação, onde deveria ter um U invertido entre intensidade competitiva e inovação, sugerindo que até certo ponto a concorrência estimula a inovação.

Há várias questões metodológicas, como o uso de regressão de Poisson sobre dados que não são estritamente contagens. Na pesquisa original há 354 observações de 17 setores, entre 1973 e 1994. 

Eis o texto final de Gelman: 

Vendo por esse lado, toda a minha análise estatística com as transformações, as curvas quadráticas e a função de articulação foi uma perda de tempo, já que estou apenas fazendo uma análise sofisticada de dados ruins (ou, pelo menos, irrelevantes). Mas… resumir a informação estatística ainda tem valor em si. Minha análise levou apenas algumas horas, uma fração do tempo que os autores devem ter gasto preparando, analisando e interpretando seus dados. Acho importante, ao fazer análise estatística, dar o nosso melhor, neste caso levando em conta todas essas fontes de variação e incerteza.

Ou, colocando de outra forma, sim, teria sido aceitável descartar completamente os resultados publicados, dado os problemas com os dados. Mas alguns desses problemas só se tornaram aparentes depois que fiz aqueles gráficos mostrando as séries temporais de cada setor. Nesse ponto, todo o ajuste pode até ter sido uma perda de tempo — mas só pensei em fazer os gráficos porque estava tentando entender a adequação que parecia estranha.

IA afetando o mercado de trabalho: cartas de apresentação

Como a IA está influenciando o mercado de trabalho, mas não da forma como você está pensando:

Nós estudamos como a inteligência artificial generativa afeta o sinal transmitido no mercado de trabalho, analisando a introdução de uma ferramenta de redação de cartas de apresentação com IA na plataforma Freelancer.com. Nossos dados acompanham tanto o acesso à ferramenta quanto o uso em nível de candidatura. As estimativas de diferença-em-diferenças mostram que o acesso à ferramenta de IA aumentou o alinhamento textual entre cartas de apresentação e anúncios de vagas — o que chamamos de personalização da carta de apresentação — e elevou as chances de retorno das empresas. Trabalhadores com habilidades de escrita mais fracas antes da IA apresentaram maiores melhorias nas cartas, indicando que a IA funciona como substituto das próprias competências desses trabalhadores. Embora apenas uma minoria das candidaturas tenha usado a ferramenta, a correlação geral entre personalização da carta e retornos caiu em 51%, o que implica que as cartas de apresentação se tornaram sinais menos informativos da habilidade do trabalhador na era da IA. Os empregadores, por sua vez, passaram a se apoiar em sinais alternativos, como avaliações anteriores dos trabalhadores, que se tornaram mais preditivas para a contratação. Por fim, dentro do grupo tratado, observou-se que maior tempo gasto editando os rascunhos produzidos pela IA esteve associado a um maior sucesso em contratações. 

50 Cent ou melhor 109 Cent

Curtis James Jackson III é mais conhecido pelo nome artístico de 50 Cent. É um rapper, compositor, ator, diretor e empresário. O seu álbum Get Rich or Die Tryin' vendeu 13 milhões de cópias no mundo. Conforme a Wikipedia, o nome faz referência a um assaltante do Brooklyn, também conhecido como "50 Cent". O músico escolheu o nome "porque ele diz tudo que eu quero dizer. Eu sou o mesmo tipo de pessoa que 50 Cent foi." 

Mas achei interessante o gráfico abaixo, mostrando a evolução de 50 Cent ao longo do tempo:


O ano de 1995 foi quando ele escolheu seu nome artístico. Se em 1995 ele valia 50 Cent, agora, em 2025, ele vale 109 Cent, se fosse corrigido pela inflação. Ou, de outra maneira, aquele 50 Cent de 1995 teria um poder de compra hoje de 23 centavos. 

Uma nova rota da China para Europa

Há uma relação entre essa postagem e a anterior, sobre o Canal de Suez. Mas na anterior, falamos sobre o impacto da redução do trânsito de navios pelo Canal sobre as finanças públicas do governo do Egito. A principal razão é a questão da segurança dos navios.

Em busca de alternativas, a China está inaugurando uma nova rota marítima, usando o Ártico. Isso permite reduzir o tempo de viagem de um navio de carga, de 30 dias para 18 dias. E traz o ganho da segurança da rota, que não há guerras nem piratas. 

O trajeto é realizado pela empresa Haijie Shipping, partindo de Ningbo-Zhoushan, cruzando o Estreito de Bering, seguindo a costa norte da Rússia até portos como Hamburgo, Roterdã e Gdansk.

A seguir um mapa simplificado da nova rota (de preto) e a anterior (de vermelho):


 

Quando Segurança Vira Receita: O Caso do Canal de Suez


Eis aqui um exemplo de como o gasto em segurança pode ter efeitos diretos sobre as finanças públicas — e estamos falando especificamente das receitas. Normalmente associamos esse tipo de gasto apenas à despesa, uma saída de caixa que reduz os recursos disponíveis para outras atividades. Entretanto, a segurança pública pode também se revelar uma importante fonte de receita.

O Canal de Suez foi criado para encurtar a rota comercial entre países, servindo como um atalho para navios que iam da Europa para a Ásia e vice-versa. Sua construção foi épica e trouxe enormes benefícios ao comércio mundial. A alternativa disponível até hoje é contornar o continente africano, o que implica uma viagem mais longa e custosa.

Cada navio que cruza o canal paga uma taxa pelo seu uso. Essa cobrança se tornou uma relevante fonte de recursos — no passado para a empresa responsável pela obra e, nas últimas décadas, para o governo do Egito. Contudo, tensões regionais recentes aumentaram os riscos de utilizar o canal. A guerra em Gaza e os problemas no Golfo de Adem, incluindo ataques de piratas e terroristas, reduziram substancialmente a quantidade de navios que o atravessam. Segundo autoridades egípcias, antes, em média, 72 navios de grande porte passavam pelo canal diariamente; hoje esse número caiu para cerca de um terço, entre 25 e 30.

A menor movimentação implica queda na arrecadação das taxas de passagem, afetando diretamente as receitas do governo egípcio. Estima-se que as perdas tenham alcançado nove bilhões de dólares em apenas um ano devido à insegurança no Mar Vermelho. É claro que o aumento de custos também atinge o consumidor final dos produtos transportados, mas, para este, há alternativas possíveis. Já para o governo do Egito, a redução do tráfego no canal representa uma perda praticamente insubstituível.

Celular na escola

 


As pesquisas do NBER são, usualmente, de boa qualidade. Eis um novo estudo:

As proibições do uso de celulares nas escolas tornaram-se uma política popular nos últimos anos nos Estados Unidos, mas ainda se sabe muito pouco sobre seus efeitos nos resultados dos alunos. Neste estudo, buscamos preencher essa lacuna examinando os efeitos causais das proibições sobre as notas em testes, suspensões e faltas dos estudantes, utilizando dados detalhados em nível individual da Flórida e uma estratégia de pesquisa quase experimental baseada nas diferenças no uso de celulares antes da proibição, conforme medido pelos dados da Advan em nível de escola. Vários achados importantes surgem. Primeiro, mostramos que a aplicação das proibições ao uso de celulares nas escolas levou a um aumento significativo nas suspensões de alunos no curto prazo, especialmente entre estudantes negros, mas as ações disciplinares começaram a diminuir após o primeiro ano, sugerindo potencialmente um novo estado de equilíbrio após um período inicial de adaptação. Segundo, constatamos melhorias significativas nas notas dos alunos no segundo ano da proibição, depois desse período de ajuste inicial. Terceiro, os resultados sugerem que as proibições de celulares nas escolas reduzem significativamente as faltas injustificadas dos alunos, um efeito que pode explicar grande parte dos ganhos nas notas. Os efeitos das proibições de celulares são mais pronunciados no ensino fundamental II e no ensino médio, onde a posse de smartphones pelos estudantes é mais comum.

The Impact of Cellphone Bans in Schools on Student Outcomes: Evidence from Florida -- by David N. Figlio, Umut Özek . Imagem aqui

 

20 outubro 2025

AICPA quer que a Contabilidade seja STEM


Em muitos países, ser considerado parte da ciência STEM (abreviação de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) confere um status especial. Muitos acreditam que um país avança em termos de desenvolvimento ao privilegiar esse ramo do conhecimento. Eis o que diz a Wikipedia:

“Representa um amplo e interligado conjunto de campos que são cruciais para a inovação e o avanço tecnológico. Essas disciplinas são frequentemente agrupadas porque compartilham uma ênfase comum no pensamento crítico, na resolução de problemas e nas habilidades analíticas.”

Voltemos agora à contabilidade. Sempre houve o cuidado de afirmar que ela não é uma ciência exata. Apesar de parte de sua trajetória estar vinculada à matemática, trata-se de uma ciência social aplicada.

Pois agora a entidade que reúne os profissionais certificados dos Estados Unidos está pressionando para que essa “ciência social aplicada” seja reconhecida como parte dos programas de Educação em STEM pelo governo norte-americano. A partir de uma pesquisa conduzida pela AICPA, constatou-se que mais pessoas estariam inclinadas a cursar contabilidade se houvesse o selo STEM.

Isso faz sentido para você?  

19 outubro 2025

Quando o Remédio é Pior que a Doença: Reflexões sobre DPAs, Passivos e o Caso Arthur Andersen


Muitas vezes, quando uma empresa comete alguma irregularidade, a consequência é a criação de um passivo. Um desastre ambiental, uma falha em um produto não corrigida a tempo ou a conduta inadequada de um funcionário não coibida são exemplos dessas situações. Em vários casos, o valor do passivo pode ser tão elevado que compromete a continuidade da empresa.

Nessas circunstâncias, é importante que o governo avalie se realmente compensa punir a empresa. A punição pode, de fato, ter um efeito pedagógico, inibindo que outras companhias repitam a mesma conduta. No entanto, as consequências podem ser tão severas que acabam gerando efeitos indesejados a longo prazo.

Na contabilidade, um caso bastante conhecido é o da empresa de auditoria Arthur Andersen. No final dos anos 1990, a companhia cometeu diversos erros, incluindo a assinatura de balanços de empresas em situação questionável. Quando os órgãos de fiscalização passaram a investigar mais de perto, a direção da Arthur Andersen ordenou a destruição de provas, chegando a picotar papéis e jogá-los pela janela. Como resultado, a empresa foi obrigada a encerrar suas atividades. Porém, olhando para o mercado de auditoria, percebe-se que quatro grandes empresas são poucas para atender à demanda global. Assim, a punição “exemplar” acabou sendo prejudicial para o setor em todo o mundo.

Se a redução de cinco para quatro grandes empresas de auditoria já trouxe dificuldades, é fácil imaginar os impactos que teria a falência de mais uma delas, mesmo diante de abusos graves, como trapacear em exames de ética profissional, revelar segredos do governo para obter vantagens competitivas, contratar ex-fiscais públicos ou prestar serviços de baixa qualidade. Por mais grave que seja a infração, o fechamento de uma Big Four poderia ser um remédio pior do que a doença.

Foi para lidar com esse tipo de dilema que alguns países criaram instrumentos como o acordo de acusação diferida (DPA, na sigla em inglês) e o acordo de não acusação (NPA). Em vez de simplesmente punir o acusado, o promotor concorda em suavizar a pena em troca do cumprimento de determinadas condições. Se a empresa cometeu fraude, por exemplo, pode ser obrigada a pagar multas, implementar reformas internas ou cooperar com investigações. Vale destacar que tais instrumentos existem em países com sistemas de justiça consolidados, como o Canadá.

Recentemente, o programa Last Week Tonight, apresentado por John Oliver, na temporada 12, episódio 19, em agosto de 2025, trouxe diversos exemplos do uso do DPA. O programa alertou para os excessos, citando o caso da Boeing, que firmou um acordo após o acidente com o avião 737 MAX em 2021. O problema apontado foi que a empresa não estaria cumprindo as obrigações assumidas, levantando a possibilidade de novos acordos. Outras companhias também já se beneficiaram desse tipo de instrumento, como o JP Morgan (fraude), a SAP (suborno) e a General Motors (defeito de fabricação).

Do ponto de vista contábil, acordos como esse afetam diretamente a mensuração do passivo, geralmente reduzindo seu valor. Em outros países, a redução da punição pode ocorrer durante o processo judicial. Isso pode, aparentemente, estimular a corrupção, mas, na prática, gera desafios contábeis. Um exemplo: se a empresa já havia registrado um passivo superestimado antes do acordo, a assinatura pode gerar um ganho extraordinário no resultado. Outro cenário: se a companhia espera firmar um acordo e isso não acontece, pode parecer que ocorreu mais um erro — o de não reconhecer ou mensurar adequadamente o passivo.

No Brasil, embora não exista um instrumento idêntico ao DPA, há mecanismos jurídicos semelhantes. O acordo de leniência, firmado por órgãos públicos como a CGU e o Cade, busca estimular a cooperação empresarial. A colaboração premiada, voltada para pessoas físicas, também permite reduzir punições em troca de informações relevantes. Já o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) procura resolver questões de interesse público, como disputas trabalhistas ou ambientais.

Em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre a empresa Camargo Corrêa, o economista Cláudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B, destacou que a desorganização do setor de engenharia nacional não foi consequência direta da Operação Lava Jato. Segundo ele:

“É incorreto dizer isso. O fato é que a nossa legislação dificulta a separação entre o controlador/acionista e a companhia em questão. O certo era o acionista ser afastado e a empresa continuar operando com todos os seus ativos.”

Frischtak sugeriu que as ações da empresa fossem colocadas em uma escrow account (conta intermediária, mantida por agente de custódia) para indenizar os danos. Ele ressaltou que a lei deveria permitir essa separação, de modo a não penalizar a companhia em si, que poderia continuar operando. O problema reputacional, afirma, é fruto da conduta do controlador e de alguns gestores:

“Todos teriam de ser afastados, e deveria ser definida uma nova estrutura de gestão e governança. Isso teria evitado a desintegração do setor que vimos.”

18 outubro 2025

1800: Virada Mundial e Atraso Brasileiro


O início do século XIX marca um ponto de inflexão fundamental na história econômica e social. Como destaca Morong, autores como Robert Fogel, Francis Fukuyama e Deirdre McCloskey identificam nesse período a ruptura com a estagnação malthusiana e a consolidação de novas formas de organização política e econômica. Foi nesse momento que a Revolução Industrial começou a transformar a produção, garantindo uma abundância inédita, e que uma nova dignidade atribuída à inovação e à classe empreendedora impulsionou o crescimento econômico moderno.

No Brasil, entretanto, é lamentável constatar que nesse mesmo período mantivemos a opção pela monarquia, o que impediu uma evolução substancial da economia nacional. A corte foi sustentada à custa da riqueza extraída das províncias, como demonstra Jorge Caldeira em História da Riqueza no Brasil. Foi uma escolha que comprometeu nosso desenvolvimento. Uma postagem recente sobre a contabilidade desse momento pode ser encontrada no blog aqui.

Caricatura aqui 

Tributação e a contribuição da pesquisa contábil

Em tempos de reforma tributária, o texto a seguir pode servir de base para pesquisas futuras:

A tributação é uma ferramenta central da política econômica, com os governos utilizando cada vez mais a política fiscal tanto para estimular o crescimento econômico local quanto para regular empresas multinacionais. Revisamos a literatura empírica que estuda o efeito das políticas tributárias sobre o investimento, o emprego e outros resultados reais das empresas. Com base na teoria neoclássica dos impostos corporativos e do investimento em ativos tangíveis, propomos uma estrutura organizadora para nossa revisão que abrange o amplo conjunto de políticas tributárias e respostas empresariais examinadas na pesquisa contábil. Essa estrutura destaca quatro dimensões nas quais os estudiosos da contabilidade contribuem para a literatura: (i) documentar o papel dos incentivos de reporte financeiro como fator moderador das respostas reais das empresas; (ii) estudar as respostas de reporte em comparação às respostas reais; (iii) quantificar os efeitos reais das regulações sobre divulgação fiscal; e (iv) aprimorar a mensuração da condição tributária das empresas e das variáveis substitutas de investimento e emprego. Identificamos questões em aberto para pesquisas futuras e sugerimos novos contextos internacionais, federais e locais que possam ajudar a revelar os mecanismos subjacentes que impulsionam os fenômenos econômicos observados. Especificamente, incentivamos os pesquisadores a distinguir melhor entre as respostas reportadas e reais das empresas às mudanças tributárias e a aprimorar a mensuração desses resultados, especialmente em contextos relacionados à tributação ambiental ou em cenários nos quais a evasão fiscal e os resultados reais estejam estreitamente ligados.

Rir é o melhor remédio

Um empregado de um escritório resolveu escrever uma mensagem de Whatsapp para seu chefe, tentando conseguir, sutilmente, um aumento. A mensagem era a seguinte: 

Caro Bo$$

Na vida, todo$ nó$ preci$amo$ de alguma$ coisa$ com mai$ de$e$pero.

Acho que o $enhor deve$ compreender a$ necessidade$ de nó$ empregado$ que te$temo$ dado tanto $uporte, inclu$ive com muito $uor e $erviço para a firma.

Tenho certeza que o $enhor vai adivinhar o que quero dizer e re$ponder em breve.

Algumas horas depois, ele recebeu uma mensagem no seu celular: 

Caro,

Eu sei que você tem trabalhado bastante.

Mas NÃO é segredo que a firma NÃO anda tão bem ultimamente.

Você deve ter percebido que NÃO houve melhora nas finanças, e NÃO seria honesto prometer aumentos agora.

Os jornais dizem que a economia NÃO está estável e que NÃO se sabe se vem outra crise por aí.

Depois das eleições, talvez as coisas NÃO melhorem de imediato.

Por enquanto, NÃO tenho mais nada a acrescentar.

Acho que você já entendeu o que quero dizer.

Atenciosamente,

Adaptado daqui

17 outubro 2025

Veículo Elétrico e a depreciação


Quando surge uma nova tecnologia, a contabilidade precisa de algumas informações básicas para reconhecer e mensurar. De tempos em tempos, algo novo acontece no mundo das empresas e a contabilidade se vê diante do desafio de atribuir um valor a um ativo ou passivo. Mesmo situações já conhecidas podem desafiar o profissional em razão de um novo fato, como uma evolução tecnológica. Veja o caso do automóvel. Apesar de ser uma tecnologia com mais de um século de existência e de todo o conhecimento acumulado, o processo de mensuração pode se tornar um desafio quando surge alguma novidade no setor.

Esse foi o caso da popularização de um tipo diferente de automóvel, o veículo elétrico, ou EV na sigla em língua inglesa. Como o sucesso desse produto é muito recente, o valor contábil é determinado, a princípio, pelo preço de compra. Mas como depreciar o veículo elétrico? Essa é uma questão difícil de responder, pois a tecnologia é nova e boa parte do valor do ativo decorre da bateria. E ainda sabemos pouco sobre a vida útil da bateria de um veículo elétrico.

Algumas pistas, no entanto, começam a aparecer. Uma empresa indiana, a BluSmart, faliu e viu sua frota de veículos elétricos, adquiridos por 12 mil dólares, ir ao mercado por 3 mil dólares. É verdade que esse valor foi influenciado pela descontinuidade da empresa, mas outros exemplos parecem indicar que o problema realmente existe. Nos Estados Unidos, modelos da Tesla (gráfico) perderam 42% do valor em dois anos, enquanto veículos a combustão comparáveis apresentaram uma redução de apenas 20%. Uma tendência semelhante começa a surgir também no Reino Unido. 

Uma consequência disso é que empresas que possuem grandes frotas de veículos precisarão reconhecer a depreciação dos elétricos não pelas taxas usuais dos veículos a combustão, mas por um percentual maior. Caso contrário, o efeito aparecerá no momento da venda ou na realização de um teste de recuperabilidade decente – usei esse termo de propósito, pois não acredito que as empresas realizem esse procedimento de forma adequada.

Os efeitos já estão se manifestando na prática. Houve o caso reportado da Hertz, com um prejuízo de 2,9 bilhões de dólares em 2024, parte dele decorrente de seus EVs. A desconfiança aumenta quando se noticia que a BYD está realizando o seu maior recall, envolvendo mais de 115 mil veículos, devido a falhas no design e na instalação da bateria.

Um apanhado das notícias sugere que a taxa de depreciação de um EV deve girar em torno de 25% ao ano para representar com maior fidelidade a realidade. Quem sabe o desenvolvimento futuro permita trabalhar com uma percentagem menor nos próximos anos.

16 outubro 2025

IA não isenta de responsabilidade: o caso Deloitte na Austrália


O fato de alguém utilizar uma IA para elaborar uma pesquisa ou um trabalho não significa que os erros cometidos pelos algoritmos sejam automaticamente desculpados. Afinal, trata-se de falhas da própria pessoa que recorreu à IA sem realizar a necessária análise crítica.

Um exemplo recente demonstra bem isso: a tarefa pode até ser delegada a uma IA, mas a responsabilidade nunca é. Esse é um princípio antigo da administração que não deve ser esquecido. No ano passado, o governo australiano contratou a Deloitte para elaborar um estudo na área do mercado de trabalho. Vale lembrar que, anteriormente, o mesmo governo já havia enfrentado problemas com outra das chamadas big four, contratada para atuar na área tributária e que usava informações obtidas em seus serviços para ajudar clientes a reduzir o pagamento de impostos.

Menos de um ano depois, a Deloitte entregou o relatório, que foi disponibilizado publicamente pelo Department of Employment and Workplace Relations (DEWR). Um mês mais tarde, um pesquisador identificou problemas graves: citações de trabalhos acadêmicos inexistentes, referências falsas e até decisões judiciais que jamais ocorreram.

No início deste mês, uma nova versão do relatório foi publicada. Mas o estrago já estava feito. Afinal, a Deloitte havia recebido cerca de 290 mil dólares pelo serviço. Para conter o impacto em sua reputação, a empresa anunciou que restituiria parte do valor recebido. A Deloitte admitiu ter utilizado um modelo de IA, mas afirmou que as correções não alteram o conteúdo substancial do documento, nem suas conclusões e recomendações.

O episódio ganhou ampla repercussão na imprensa, com destaque para a cobertura do Australian Financial Review (AFR).

 

Bolsas de Produtividade do CNPq: inscrições abertas

Nesta semana (13/10) o CNPq abriu as inscrições para a "Chamada CNPq Nº 23/2025 Bolsas de Produtividade", com o objetivo de incentivar a produção científica, tecnológica e de informação.

As inscrições vão até 20/01/2026.

Leia mais: aqui

15 outubro 2025

Ainda blogando (e sonhando) depois de trinta mil

Queridos amigos e leitores, esta nova publicação vem com um entusiasmo especial: em quase vinte anos de blog, chegamos à postagem 30.000. Não tem como alcançar este número sem voltar ao passado e revisitar a estrada.

Ao pensar neste marco, algumas postagens se destacam.  Dois milhões”, sobre o marco de dois milhões de acessos, conta um pouco do início do blog, em 2006, e quando dois alunos entusiasmadíssimos,  o Pedro e a Isabel, foram convidados a participar. Quando a Isabel recebeu o convite, pulou de alegria, literalmente. Ela sentiu que fazer parte de uma equipe com pessoas tão inteligentes e criativas seria um ponto marcante em sua trajetória. O Pedro precisou se afastar para focar outras questões, mas a memória e o lugar permanecem.

A continuação daquela postagem é a intitulada “Fazer (e continuar) um blog é um ato de amor”, quando chegamos a três milhões de acessos. Algumas vezes acontecem coisas em nossas vidas e não sabemos se serão ou não grandiosas. Eu sempre senti que o blog seria importante pra mim, mas nunca imaginei que esses débitos e créditos da vida real seriam a ocupação mais estável, o interesse mais genuíno.

Na postagem “blogs acadêmicos morreram?” o professor César, ao falar sobre a motivação para blogar, destaca uma citação: “um [blog é] cérebro externo que dá sua “direção e recompensa de pastoreio de conhecimento”, permitindo que ele arquive as coisas que despertam sua curiosidade enquanto vagueia pela Internet.” E acrescenta que estar aqui ajuda a aperfeiçoar possíveis explicações em sala de aula, além de ser parte do processo de publicar e pesquisar, já que muitas ideias surgem exatamente quando se escreve. (Leia também: Por que os professores de contabilidade não blogam?)

Quanto à Isabel, escrever sempre foi o seu jeito de entender o mundo e por aqui ela aprendeu a transferir isso para outras partes da vida, em um mundo cheio de referências, ideias e variedade. Foi por aqui que ela se organizou e deixou grande parte do mestrado. E espera também, em breve, fazer uma simbiose com o doutorado. Porém os amigos que fizemos por aqui são, sem dúvida, a parte mais doce da recompensa.

Aqui é possível descobrir lados curiosos da contabilidade, que a vida profissional cotidiana não chega nem perto. Aqui também é possível aprender a olhar reportagens com um senso crítico diferente, acompanhando os textos com referências, provocações, críticas e observações. Aqui percebemos que dá pra misturar bem jornalismo e contabilidade. E entendemos que dá pra gostar de normas e de narrativas ao mesmo tempo. Foi seguindo dicas do blog que alguns se aventuraram por Mr. Robot, Breaking Bad, Malcolm Gladwell, Daniel Kahneman e tantas outras vozes que nos moldaram. Tanta coisa aconteceu por causa do blog...

Escrever é uma atividade tão viva, que começamos este texto com o propósito de refletir novamente sobre o porquê de blogar, mas a emoção nos levou por veredas imprevisíveis e chegamos aqui. Esse é, inclusive, um dos motivos de gostarmos tanto de ler o que é aqui publicado: os nossos “eus líricos”, perceber quando as nossas personalidades pulam das páginas. Como leitores, sentimos que blogs nos trazem o privilégio de espiar dentro da cabeça de mentes que admiramos.

Li em algum lugar, provavelmente aqui, que um blog é uma conversa que nunca termina. Enquanto houver algo que nos intrigue, uma história, uma dúvida, uma curiosidade, uma vontade de ensinar, continuaremos parando os nossos dias por outras 30 mil vezes para aparecer por aqui. E se você está por aqui lendo, é porque de alguma forma essa conversa é sua também.

E chegamos ao dia de hoje com a necessidade de reforçar o vínculo com o leitor. No tempo de IA, quando ficou muito prático fazer uma pergunta para o app no celular e obter uma resposta, ainda insistimos em entregar um conteúdo diverso, com comentários pessoais, e ligações do que ocorre no mundo com os débitos e créditos. Ainda queremos fazer planos e sonhos, como já fizemos nesses dezenove anos de postagens, que incluíam ter uma maior participação no Instagram, convidar outros amigos para ajudar na postagem, fazer um livro de piadas de contabilidade, um canal no youtube, repostagens do Rir é o Melhor Remédio no Instagram, entre outros tantos. Sim, não fizemos nada disso, mas sonhos não envelhecem. O fato de estarmos aqui, na trigésima milésima postagem, é prova que queremos mais.

Não procure uma razão racional para isso. O que gastamos de tempo e dinheiro – o blog tem despesa de hospedagem e outras – compensa, pois cada postagem contribui para que possamos atender a um apelo, que uma vez li em um livro, de caminhar na beleza.

Aqui estamos, escrevendo esta trigésima milésima postagem, a quatro mãos. E estaremos, quem sabe, escrevendo muitas outras.

Agradecemos imensamente a companhia.

Contabilidade Ambiental e os Desafios do BECCS nas Estratégias Corporativas


A pressão sobre as empresas em relação à questão ambiental nos últimos anos tem trazido desafios interessantes para a contabilidade, especialmente no que diz respeito às demonstrações financeiras.

Muitas organizações precisam justificar que não são “inimigas” do meio ambiente. Politicamente, isso as coloca em uma posição menos vulnerável diante de reguladores e investidores. No caso das empresas de tecnologia, com pesados investimentos em computação e energia, o dilema é evidente: possuem produtos desejados pelo público, mas precisam demonstrar que sua atividade não causa danos ambientais.

Uma estratégia encontrada tem sido o uso da técnica conhecida como BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) para compensar emissões. Nesse modelo, o saldo climático se torna mais favorável, já que as companhias “adquirem” desempenho ambiental positivo. Funciona assim: diversas indústrias, como fábricas de celulose e usinas de biomassa, geram resíduos ricos em carbono que, ao invés de serem queimados, podem passar por sistemas de captura que impedem a liberação de CO₂ na atmosfera.

Assim, os investimentos das empresas de tecnologia nesses projetos aparecem como ações ambientais positivas: ajudam a reduzir emissões por meio dessa decisão.

No entanto, alguns desses resíduos já possuem usos alternativos e a captura pode estimular práticas nocivas, como o corte excessivo de florestas. Embora o BECCS possa oferecer benefícios climáticos, também levanta questões sérias sobre incentivos perversos, a integridade das alegações corporativas e os impactos ambientais associados ao aumento da demanda por biomassa — aspectos que muitas vezes não se refletem na contabilidade ambiental.

14 outubro 2025

Uma gafe histórica usando planilha

Para quem é fã de uma planilha, eis uma história interessante (via newsletter AFR)

Uma pequena mudança de ritmo nesta semana com um olhar para um erro real do Microsoft Excel, o famoso #REF!, que continua a assombrar a cantora Kelly Rowland.

O erro em questão é a cena do videoclipe Dilemma, de 2002, em que Rowland aparece “mandando mensagem” para o rapper Nelly usando o Excel. Fãs atentos de planilhas nunca deixaram de se fixar nessa gafe.

Rowland, que leva tudo com muito bom humor, disse à revista Elle em um novo post no Instagram: “Eu não sei de quem foi a brilhante ideia de mandar mensagem no Microsoft Excel, mas isso me persegue em todos os lugares para onde vou.”

A cantora contou que recebeu o celular-cenário momentos antes da filmagem e simplesmente seguiu com a cena. “Me entregaram o aparelho. Ele estava com o [Excel], e então, no vídeo, disseram ‘ah, precisamos de uma tomada com isso’ e eu pensei ‘acho que é assim mesmo’.”

Esse momento se tornou uma peça duradoura da história das planilhas. “E aqui estamos, 25 anos depois. [As pessoas me perguntam] ‘por que você estava mandando mensagem para ele?’ Cara, eu não sei. Eu não sei. Me perguntam isso literalmente toda semana.”

 A fotografia a seguir mostra a cena:

Eis o que consta do verbete da Wikipedia:

Em um momento do videoclipe, Rowland é vista tentando mandar uma mensagem para Nelly em um aplicativo de planilhas[a] usando seu Nokia 9210 Communicator. Nelly defendeu o uso do aplicativo em uma entrevista ao talk show australiano The Project, em novembro de 2016, explicando que ele era utilizado na época, apesar de ter se tornado obsoleto depois. Em entrevistas posteriores, Rowland admitiu não saber o que era o Microsoft Excel, o que gerou uma resposta da conta oficial do aplicativo no Twitter.

Metade dos textos produzidos hoje foram escritos por IA


A pesquisa Graphite com 65 mil URLs publicadas entre 2020 e 2025 para estimar a proporção de artigos gerados por IA versus artigos escritos por humanos concluiu que, atualmente, cerca de metade foi escrita por IA. É verdade que muitos textos resultaram de uma colaboração entre humanos e máquinas, mas acredito que seja muito próximo da realidade. 

Este próprio texto é um exemplo do processo: encontrei a citação na newsletter da Bloomberg, fui para o link, pedi ao GPT para fazer um resumo de que não gostei. Solicitei que a IA indicasse o trecho exato — que, de fato, não existia no link indicado. Só depois, sem ajuda da IA, localizei o trecho correto e o reproduzo aqui:

The percentage of AI-generated articles in this data set briefly surpassed human-written articles in November 2024, but the two have stayed roughly equal since. 

Depois de pronto, pedi à IA para fazer uma revisão ortográfica e gramatical. E fica a pergunta: a postagem foi feita por uma IA ou por um ser humano ou algo híbrido?

Progressividade de imposto de renda em diferentes países

O artigo é um estudo sobre a progressividade tributária, onde o Brasil participa da base de dados. O GPT fez um resumo do resultado:

  • Baixa progressividade efetiva: Embora o sistema estatutário brasileiro de imposto de renda tenha sido desenhado para ser progressivo, os resultados mostram que, na prática, a tributação efetiva é quase plana. Isso significa que, proporcionalmente, famílias em diferentes faixas de renda acabam pagando taxas médias semelhantes

    Alíquotas médias reduzidas: Os dados de alíquota média efetiva no Brasil permanecem baixos em comparação internacional. Em ondas analisadas, a taxa média foi de cerca de 5,26% em 1985, subindo gradualmente até 9,03% em 2010, valores bem abaixo da média de países europeus e mesmo de outras economias da América Latina

    Desconexão entre sistema legal e prática tributária: O contraste entre o sistema estatutário progressivo e a baixa progressividade efetiva indica problemas de execução, possivelmente ligados à base estreita do IRPF no Brasil e à dependência de tributos indiretos.

    Em resumo, o estudo mostra que o Brasil aparece como um caso em que a tributação formalmente progressiva não se traduz em progressividade efetiva, e as taxas médias efetivas permanecem baixas. Isso ajuda a explicar porque o sistema tributário brasileiro tem eficácia limitada em redistribuir renda. 


Ainda Mokyr

Encontrei essa passagem no Marginal Revolution

Ainda assim, a mensagem central deste livro não é inequivocamente otimista. A história nos oferece relativamente poucos exemplos de sociedades que foram tecnologicamente progressistas. Nosso mundo é excepcional, embora não único, nesse aspecto. Em geral, as forças que se opõem ao progresso tecnológico têm sido mais fortes do que aquelas que buscam mudanças. O estudo do progresso tecnológico é, portanto, um estudo do excepcionalismo, de casos em que, como resultado de circunstâncias raras, a tendência normal das sociedades a deslizar em direção à estase e ao equilíbrio foi rompida. A prosperidade sem precedentes de que goza hoje uma parcela significativa da humanidade decorre de fatores acidentais em grau maior do que se supõe. Além disso, o progresso tecnológico é como uma planta frágil e vulnerável, cuja nutrição depende não apenas do ambiente e do clima apropriados, mas cuja vida é quase sempre curta. Ele é altamente sensível ao ambiente social e econômico e pode ser facilmente interrompido por mudanças externas relativamente pequenas.

13 outubro 2025

A Contabilidade na revolução industrial, segundo Mokyr


Um dos temas mais interessantes na história da firma é a evolução das práticas contábeis. A escrituração por partidas dobradas vinha sendo praticada por mercadores desde a Idade Média. As práticas contábeis em uso às vésperas da Revolução Industrial tinham evoluído na gestão de propriedades rurais (estate management), bem como no comércio ultramarino e nas correspondentes operações de crédito, e no sistema de “putting-out” (manufatura domiciliar). A maioria dos procedimentos contábeis eram dispositivos de registro comercial e não se prestavam facilmente a avaliações da lucratividade global de uma empresa industrial, muito menos de suas partes constituintes. No tipo de negócio típico da Grã-Bretanha por volta de 1760, a maior parte da atividade econômica ainda era realizada em empresas administradas por seu proprietário, cujo padrão de vida era regulado mais pelo fluxo de caixa do que pelo lucro em si. As sociedades (parcerias), a forma mais popular de negócios maiores, muitas vezes tinham fórmulas simples para a retirada de dinheiro e mercadorias, embora, quando a sociedade era dissolvida ou ampliada, mais informações precisassem ser extraídas dos livros.

As fábricas da Revolução Industrial, contudo, introduziram muitos novos problemas contábeis com os quais ninguém tinha muita experiência. As plantas precisavam se preocupar com capital indireto (overhead), depreciação de equipamentos, controle de estoques e as receitas e custos de diferentes divisões. A contabilidade do capital era especialmente deficiente, e a ampla variedade de práticas indica a incerteza da época quanto aos procedimentos corretos. Além disso — e talvez mais danoso —, os métodos contábeis da época tornavam quase impossível a um empresário ou gerente avaliar a lucratividade líquida de uma inovação. Na firma, de resto bem administrada, de Boulton e Watt, ninguém tinha ideia de quais departamentos davam lucro ou prejuízo, e na siderúrgica escocesa Carron um gerente estimou um lucro de £10.500 quando, na verdade, havia um prejuízo de £10.000. Na década de 1770, Josiah Wedgwood reformou os procedimentos contábeis de sua empresa, aplicando técnicas de custeio que computavam “toda a despesa de fazer vasos o mais precisamente possível desde os materiais brutos” — embora seja improvável que sua técnica de contabilidade de custos tenha se difundido rapidamente por todo o setor manufatureiro. A superprodução e outros erros de julgamento ocorriam tão frequentemente que um historiador econômico ponderado suspira que eles “mal deixam de diminuir quaisquer estimativas do tino comercial dos empresários do algodão” (Payne, 1978, p. 189). Em certo sentido, esse juízo parece um pouco severo: os problemas gerenciais das novas fábricas eram um subproduto do surgimento do sistema fabril, concebido sobretudo para lidar com problemas tecnológicos e informacionais. No lado da engenharia, os primeiros gestores podiam contar com especialistas técnicos; para as questões de gestão, estavam geralmente por conta própria. Empresas vizinhas do mesmo setor, que observavam de perto umas às outras em busca de avanços técnicos, podiam estar separadas por décadas em termos de práticas contábeis. A imensa maioria das firmas esperava que seus escriturários e contadores pagassem seus trabalhadores e fornecedores e cobrassem de seus clientes, evitassem desfalques e mantivessem o controle de estoques. Não se esperava, porém, que fornecessem um quadro completo da lucratividade das várias atividades da empresa, nem teriam sido capazes de fazê-lo caso lhes fosse solicitado.

Factories and Firms in an Age of Technological Progress - JOEL MOKYR - The Enlightened Economy 

 

12 outubro 2025

Candidatos usam IA para manipular os sistemas de contratação


Com o uso crescente da inteligência artificial no recrutamento — cerca de 90% dos empregadores já utilizam softwares para filtrar currículos — candidatos começaram a embutir comandos ocultos em seus currículos para manipular os sistemas. Esses “prompts escondidos” orientam a IA a classificá-los como altamente qualificados, em uma estratégia que se popularizou no TikTok e no Reddit. Algumas empresas, como Greenhouse e ManpowerGroup, já identificam milhares de currículos com truques desse tipo, enquanto recrutadores rejeitam candidatos quando descobrem a fraude. Apesar dos riscos, há relatos de pessoas que conseguiram mais entrevistas após usar tais artifícios, expondo o embate entre humanos e máquinas no mercado de trabalho.

Mollick, no livro Cointeligência, conta que na sua página da sua universidade, com o seu currículo, ele inseriu comandos para que a IA fosse simpática ao seu trabalho. 

Nobel da Paz e o mercado de previsões

Nos últimos dias acompanhei o anúncio do Prêmio Nobel. Além do site oficial, também observei a dinâmica dos favoritos pelo Polymarket. É verdade que a plataforma trabalhou apenas com apostas para dois prêmios: o da Paz e o de Literatura. No segundo caso, listava Mircea Cărtărescu, Adonis, Can Xue, Murakami e László Krasznahorkai. O mais cotado não chegava a 20% das apostas, que variavam bastante ao longo do tempo. No fim, venceu o húngaro László.


Também acompanhei os favoritos ao Nobel da Paz. Durante muitos dias, o grande favorito — que chegou a mais de 30% das apostas — era uma organização que atuava no Sudão. Despontavam ainda Yulia Navalnaya, russa e opositora de Putin, Donald Trump, Médicos Sem Fronteiras e outros nomes. A vencedora, María Corina Machado, aparecia com apenas 3,75%, mas poucas horas antes do anúncio muitas apostas foram feitas em seu nome e o percentual subiu para 73%.

O aumento nas apostas imediatamente antes do anúncio sugere fortemente que houve um vazamento do resultado. O Comitê do Prêmio afirmou que irá investigar.

Sim, o favorito para vencer o brasileirão desse ano é o Palmeiras (55%). E a Espanha para ganhar a Copa do Mundo (18%, somente).  

(A fonte do vazamento é o jornal O Estado de S. Paulo, 11 de outubro de 2025)

IA ajudando em tarefas chatas: cancelamento de assinaturas


Uma das coisas mais chatas do mundo moderno agora pode ser feita pela Inteligência Artificial: cancelar assinaturas de serviços online. Quem já passou por essa experiência sabe como é difícil encontrar o local correto para realizar o cancelamento e, depois de enfrentar inúmeras etapas, conquistar a vitória de não pagar mais por serviços que não utiliza.

Recentemente, cancelei meu número de telefone e adquiri um novo número de uma pequena startup, atraído pela promessa de um atendimento descomplicado. No entanto, até hoje recebo cobranças da antiga operadora, informando que, por não ter atingido o limite de consumo, estou isento da conta do número anterior.

Agora, com o modo Agente do ChatGPT Plus, é possível inserir o comando “cancelar minha assinatura”, juntamente com nome e senha do serviço. O chat opera sozinho e, em poucos minutos, o cancelamento é realizado, garante Fowler.

Vale lembrar que algumas assinaturas não podem ser canceladas dessa forma. Isso ocorre porque empresas que já possuem tecnologia própria de IA podem estruturar seus sites para dificultar o cancelamento automático pelos usuários.

10 outubro 2025

IA e o sistema financeiro


As principais autoridades financeiras do mundo, por meio do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), divulgaram um relatório sobre a Inteligência Artificial e o sistema financeiro. Não é o primeiro documento sobre o tema, mas o fato de, apenas um ano após o relatório de 2024 sobre as Implicações da Inteligência Artificial para a Estabilidade Financeira, o assunto voltar à pauta pode ser um sinal de que ainda gera preocupação.

O novo relatório aponta que o monitoramento do uso da IA e de suas implicações no mercado financeiro permanece em estágio inicial. Nesse contexto, as instituições financeiras dependem de terceiros para desenvolver e implementar aplicações de IA. Observa-se também que há um número muito reduzido de soluções em IA generativa, o que envolve não apenas software, mas também hardware, como a infraestrutura de nuvem. Essa concentração, segundo o FSB, pode criar vulnerabilidades.

Esse é um ponto de atenção que deveria constar, inclusive, dos relatórios de auditoria, destacando o risco potencial associado ao uso de IA no sistema financeiro.

Imagem aqui 

O Twitter e a indenização


Quando Elon Musk adquiriu o Twitter em 2022, promoveu uma ampla demissão de funcionários. Parte deles contestou os termos de desligamento e ingressou na Justiça.

No início deste mês, foi anunciado um acordo entre a empresa e alguns ex-executivos, incluindo o ex-CEO, que põe fim a um dos processos judiciais mediante o pagamento de indenizações milionárias.

Originalmente, Musk havia acertado a compra do Twitter por 44 bilhões de dólares. Entretanto, diante da queda do valor das ações antes da conclusão do negócio, tentou desistir da operação. A empresa, porém, acionou a Justiça e conseguiu obrigá-lo a manter o contrato pelo preço inicial.

Além desse caso, ainda tramitam outras ações contra a companhia, inclusive relacionadas diretamente à aquisição.

Do ponto de vista contábil, esses episódios evidenciam a relevância dos contratos, das provisões e do reconhecimento de contingências. Questões como indenizações trabalhistas, benefícios rescisórios e disputas judiciais afetam diretamente a mensuração de passivos,

Papel da imigração na construção da ciência

Da newsletter da Nature 

 Dos 202 laureados que receberam prêmios Nobel em física, química e medicina neste século, cerca de 30% nasceram em um país diferente daquele em que foram premiados. Os Estados Unidos foram os que mais se beneficiaram desse movimento: por exemplo, um dos vencedores de química deste ano, Omar Yaghi — o primeiro laureado jordaniano em ciência — mudou-se para os EUA ainda adolescente. “A mobilidade beneficia a todos. Cada recém-chegado traz ideias frescas, novas técnicas e diferentes formas de olhar para problemas antigos”, afirma o vencedor do Nobel de física, Andre Geim, nascido na Rússia e atualmente baseado no Reino Unido. “Os países que acolhem essa mistura se mantêm afiados.”

Isso também ocorre/ocorreu na contabilidade. Há grandes nomes da nossa área que nasceram em um lugar e produziram muita ciência em outro país. Eis alguns deles: Dicksinson, Ijiri e Mattessich. 

08 outubro 2025

Estádio, passivo, reconhecimento e outros temas contábeis para o mesmo evento


No início do milênio, a torcida e os dirigentes do Corinthians estavam incomodados com o fato de o clube disputar seus jogos principalmente no Pacaembu. Sendo um estádio do município, e alguns dos adversários do clube tendo seu estádio, parecia que incomodava. Afinal, o Corinthians tinha a maior torcida da maior cidade do Brasil e não tinha um local próprio onde pudesse realizar suas partidas.

Entre 2007 e 2009, começam as discussões para a construção de um estádio próprio. O assunto foi impulsionado pelo fato de o presidente da época ser um confesso torcedor do clube. Além disso, existia a perspectiva da Copa do Mundo. Juntando tudo isso — uma grande torcida, mais o apoio político, mais o orgulho do dirigente —, em 2010 há o anúncio da construção do estádio próprio. A construção começa no ano seguinte, sob a responsabilidade da construtora Odebrecht. É feito um acordo que envolvia o clube, a construtora e o governo, por meio da Caixa Econômica Federal e do BNDES. Assim, havia dinheiro e motivação política. O estádio fica pronto em 2014, sendo usado na Copa do Mundo, deixando um custo de quase 1 bilhão de reais, tudo sob a forma de financiamento. Na estrutura de financiamento da obra, existia a previsão de que a dívida seria paga com receita de bilheteria e uso da arena. Como a receita ficou abaixo do previsto, foi insuficiente para cobrir as parcelas da dívida.

Em 2019, diante da clara impossibilidade de pagar o estádio com a geração de receita, o Conselho Deliberativo do Corinthians cria uma comissão para avaliar os custos da obra. A comissão aponta R$ 1,03 bilhão em dívidas com a Odebrecht. O clube contesta a legitimidade de parte da dívida e busca alternativas. Para os representantes do clube, não parecia razoável nem correto que a construtora mantivesse em seu balanço os créditos nesse valor, já que não havia perspectiva de quitação — a única fonte de recursos eram as receitas da arena, muito abaixo do esperado. Na Odebrecht, pela prudência contábil, não havia certeza do recebimento e, por esse motivo, não registrava passivo no Corinthians.

Mesmo um acordo de venda do nome, com validade de vinte anos, não foi suficiente para mudar a viabilidade do estádio. Há uma negociação, entre 2021 e 2022, com a Caixa.

Uma campanha de arrecadação entre a torcida conseguiu levantar, inicialmente, um valor razoável, mas ainda bem distante da dívida com o banco federal. Mesmo com a volta ao poder do presidente torcedor, que agora parece menos interessado nas coisas do futebol, a dívida permanece. O estádio é um ativo do clube e seu principal patrimônio. Mas o passivo é grande, e a desorganização administrativa do clube, com denúncias, não ajuda. Regularmente, surge a possibilidade de suspender os pagamentos para pressionar uma renegociação com termos mais favoráveis.

O caso mostra uma situação interessante sobre ativar ou não um determinado recurso econômico - no caso do time de futebol. E também sobre o reconhecimento, por parte do financiador, da dívida e como, ao eventualmente não lançar no balanço, o fato pode dar margem para um eventual calote da parte do time.  

Rir é o melhor remédio

 

Economia de tempo

07 outubro 2025

O que os humanos querem?

Lendo Robin Hanson, What do Humans Want?, o mundo terá que escolher objetivos para atribuir aos governos. Esses objetivo devem ser explícitos e mensuráveis, mas provavelmente não seria o PIB ou inflação. Hanson pesquisou entre as pessoas e encontrou cinco metas bastante diferentes que foram colocadas no topo: liberdade, felicidade, saúde, significado e vitalidade. Mas não respeito e prazer.

(Aqui uma pequena observação: há uma discussão sobre o foco de Hanson no novo livro de Nate Silver, No Limite, e o seu racionalismo)

O interessante é como a mensuração dos governos, por parte da contabilidade, estão afastados dessas metas. E não vejo nenhum movimento nesse sentido. Talvez o foco de Hanson esteja muito fora da realidade. Ou então, os reguladores estão simplesmente ignorando o que as pessoas querem.