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09 setembro 2025

Governo com fins lucrativos


O que parece mais óbvio é que a maioria das pessoas detesta fortemente a ideia de um governo com fins lucrativos. Elas na verdade preferem muito mais autocratas que servem substancialmente a fins pessoais! Mesmo que a maioria das pessoas não faça questão de comprar sua comida, roupas ou carros de tais fontes. Minha melhor hipótese para isso é a mesma razão pela qual temos outras organizações sem fins lucrativos: o governo parece sagrado, enquanto o dinheiro é profano. Assim, para muitos, até autocratas parecem mais apropriados como “sacerdotes” desse tipo de sagrado do que executivos guiados pelo lucro.

Se for assim, isso sugere que o dinheiro sagrado pode ser a chave para a reforma da governança. Se conseguirmos que as pessoas aceitem organizações sagradas financiadas e movidas por incentivos de “dinheiro sagrado” em outras áreas, talvez possamos fazê-las aceitar governos administrados com fins de lucro sagrado também. E então talvez consigamos governos muito mais eficientes.

Fonte: aqui 

Um governo onde a fonte de receita é baseada em um produto aproxima-se muito da ideia de um governo com fins lucrativos. A Aramco, na Arábia Saudita, ou até mesmo as capitanias hereditárias no Brasil do passado remoto, poderiam ser enquadradas aqui. 

Rir é o melhor remédio

 

Ok, é terça. Mas não muda o humor. 

Sobre o excesso de confiança

O Excesso de confiança parece uma característica do ser humano. Mesmo quando existem informações precisas, ainda persiste. Um estudo com jogadores de xadrez mostrou esse aspecto:  

 


A autoconfiança excessiva é considerada um viés cognitivo fundamental, mas geralmente é estudada em ambientes nos quais as pessoas não dispõem de informações precisas sobre suas habilidades. Conduzimos um experimento de pesquisa pré-registrado, seguido de uma replicação, para investigar se a autoconfiança excessiva persiste entre jogadores de xadrez de torneio, que recebem feedback objetivo, preciso e público sobre seu nível de habilidade. Nossa amostra combinada incluiu 3.388 jogadores ranqueados, com idades entre 5 e 88 anos, provenientes de 22 países e com uma média de 18,8 anos de experiência em torneios. Em média, os participantes afirmaram que sua habilidade era 89 pontos Elo superior ao que suas classificações observadas indicavam — esperando superar um oponente de mesmo rating por quase 2 a 1. Um ano depois, apenas 11,3% dos jogadores autoconfiantes alcançaram o rating que haviam declarado. Os jogadores de menor classificação superestimaram mais suas habilidades, enquanto os de topo estavam bem calibrados. Padrões consistentes com excesso de confiança surgiram em todos os subgrupos sociodemográficos analisados. Concluímos que a autoconfiança excessiva persiste no xadrez de torneio, um ambiente informacional do mundo real que deveria ser inóspito a ela.

Na contabilidade, o excesso de confiança pode ser fatal para as situações onde há exigência de julgamento. Com uma contabilidade que usa cada vez mais o julgamento para suas decisões, o excesso de confiança deve ser estudo a fundo, para evitar queda na credibilidade profissional.  

(Foto: série Gambito da Rainha) 

Prática da DFC na Austrália


Eis o resumo executivo:

Em resposta ao feedback recebido na Terceira Consulta da Agenda do International Accounting Standards Board (IASB), realizada em 2022, o IASB iniciou um projeto sobre a demonstração dos fluxos de caixa para explorar possíveis melhorias no IAS 7 – Demonstração dos Fluxos de Caixa.

Este relatório de pesquisa apresenta resultados de uma análise dos relatórios anuais das 50 maiores entidades listadas na Bolsa de Valores da Austrália (ASX top 50), em 2023. Os achados foram os seguintes:

a) Métodos de reporte de fluxos de caixa operacionais: 72% das entidades apresentaram a demonstração de fluxos de caixa pelo método direto e a reconciliação do lucro com o fluxo de caixa operacional líquido (método indireto) nas notas explicativas. Os 28% restantes utilizaram apenas o método indireto na demonstração.

b) Caixa e equivalentes de caixa: 40% das entidades não forneceram informações desagregadas sobre os valores de caixa e equivalentes. Além disso, 62% e 2% definiram maturidade de curto prazo como três meses e 12 meses, respectivamente, enquanto 36% não divulgaram ou definiram o limite de curto prazo.

c) Classificação: Observou-se inconsistência na classificação de itens de fluxo de caixa, especialmente em recebimentos e pagamentos de juros e dividendos. Entre as entidades que divulgaram dividendos pagos, quase 98% os classificaram em atividades de financiamento. Houve grande variação na classificação de juros pagos, juros recebidos e dividendos recebidos.

d) Divulgações voluntárias incentivadas: A maioria das entidades divulgou informações sobre linhas de crédito não utilizadas. Contudo, informações voluntárias sobre fluxos de caixa destinados a aumentar e manter a capacidade operacional, bem como fluxos de caixa segmentados, foram menos comuns.

e) Fluxo de Caixa Livre (FCF): 52% das entidades divulgaram FCF, refletindo sua importância nos relatórios anuais. Entretanto, a forma de determinação e a localização da divulgação no relatório anual variaram.

Esses achados fornecem evidências adicionais de que há diversidade na prática sobre como as demonstrações de fluxo de caixa e informações relacionadas são apresentadas e divulgadas. Eles reforçam a necessidade de revisões no IAS 7 para melhorar a consistência e a utilidade das informações de fluxo de caixa, atendendo melhor às necessidades dos usuários.

Nepal e a relevância das mídias sociais


O Nepal foi sacudido por protestos liderados por jovens. Tudo começou quando o governo decidiu bloquear 26 plataformas de mídias sociais — incluindo Facebook, X e YouTube. Antes disso, o governo tinha decidido impor algumas regras burocráticas para o funcionamento das mídias, como o registro compulsório com o Ministério das Comunicações. 

A falta de acesso trouxe um grande número de pessoas para ruas. E os protestos começaram a ficar mais violentos, com conflitos com a polícia e registro de mortes e feridos. O Parlamento foi invadido e queimado, edifícios do governo foram atacados, indicando uma crise. Como consequência, o governo revogou a proibição e o primeiro-ministro, responsável pela medida, renunciou.  

IA, Educação e Dívida Cognitiva

 O artigo do ZeroHedge discute como a inteligência artificial está transformando profundamente a educação, levantando debates sobre seus benefícios e riscos. Desde 2022, ferramentas como o ChatGPT passaram a integrar o cotidiano dos estudantes, que muitas vezes as utilizam não como apoio ao aprendizado, mas como uma forma de evitar o esforço cognitivo tradicional. Isso gera um dilema: de um lado, a IA pode personalizar a experiência de estudo e facilitar a produção de conhecimento; de outro, pode se tornar um atalho que compromete o desenvolvimento intelectual. Um estudo conduzido pelo MIT ilustra esse ponto ao analisar a escrita de redações em três grupos — com IA, com buscadores tradicionais e sem auxílio tecnológico. Os resultados mostraram que os participantes que recorreram ao ChatGPT apresentaram menor engajamento cerebral e desempenho inferior quando tiveram de escrever sem apoio, sugerindo a criação de uma “dívida cognitiva”. Assim, a IA redefine a educação, mas também desafia sua essência.


A chegada da IA na educação trouxe uma grande mudança de hábito. Existem várias questões que poderiam ser discutidas, como a desonestidade, mas é inegável que também não devemos esquecere dos grandes ganhos. Mas como a IA pode ajudar ou atrapalhar. Muitos pesquisadores estão trabalhando agora neste assunto e a cada momento novas pesquisas surgem. 

Um novo estudo do MIT (via aqui) sugere um aspecto de dívida cognitiva e declínio na qualidade da escrita. Ou seja, as conclusões são negativas. Por mais de quatro meses, os pesquisadores estudaram 54 adultos, divididos em três grupos. O primeiro, usou o GPT; o segundo, como ferramenta de pesquisa; e o terceiro, somente para melhorar suas habilidades. A equipe monitorou a atividade cerebral e analisou os textos. O grupo de dependia mais da IA mostrou menor engajamento cerebral e mais dificuldade de lembrar o seu próprio texto. E quando solicitado a escrever um texto sem ajuda, mostraram um desempenho ruim. 

O estudo foi realizado com um grupo pequeno e provavelmente não será definitivo. Isto faz lembrar as primeiras pesquisas que analisaram o efeito dos quadrinhos sobre os jovens, condenando como leitura. Ou, conforme aqui, as calculadoras. 

O verdadeiro desafio é que as instituições não atualizaram seus padrões ou sequer sabem como fazê-lo. Os professores ainda atribuem as mesmas tarefas e esperam os mesmos resultados de cinco anos atrás, ignorando o fato de que agora existe uma nova e poderosa ferramenta.

É essencial que as gerações atuais e futuras saibam pensar de forma crítica e criativa e resolver problemas. No entanto, a IA redefine o que isso significa. Escrever redações à mão já não é a única maneira de demonstrar pensamento crítico, assim como fazer contas de divisão longa não prova automaticamente habilidades numéricas.

08 setembro 2025

Kakeibo ou método de finanças pessoais


O Kakeibo é um sistema de finanças pessoais criado em 1904 por Motoko Hani (foto), uma das vozes feministas do Japão daquela época. Concebido como uma “contabilidade doméstica”, o método permite controlar gastos e economizar sem custo, sendo resgatado atualmente por aplicativos que digitalizam o modelo original.

A proposta consiste em registrar todos os gastos — mesmo os mais pequenos — com constância e precisão. No início de cada mês, anotam-se os rendimentos e despesas fixas (aluguel, luz, hipoteca etc.), para depois categorizar as despesas variáveis (alimentação, lazer, vestuário, moradia), com data e tipo especificados. Isso oferece uma visão completa das finanças e ajuda a identificar gastos supérfluos, favorecendo o acúmulo de poupança.

Hani criou o Kakeibo em um contexto de empoderamento feminino: ela defendia que mulheres, cuja autonomia financeira era limitada, conquistassem poder por meio do controle econômico — sugerindo economizar até 15% dos rendimentos.

Origens da tributação e da sonegação

Foram os egípcios que criaram o primeiro sistema tributário conhecido por volta de 3000 a.C. Nos primórdios, o imposto era coletivo, sendo calculado pela água do Rio Nilo. Se o volume de água fosse acima ou abaixo do normal, pagava-se menos imposto. Com a alfabetização e o aumento dos escribas, a tributação passou a ser individual. Isso ocorreu no Novo Reino. 


Junto com a arrecadação, o Egito conheceu também a evasão fiscal e a corrupção.  Mas na maior parte da sua história, o imposto era sobre bens, o que incluia a arrecadação de grãos, tecidos, gado e outras mercadorias. Os tributos eram ajustados de acordo com a produtividade da terra e o tamanho da colheita.

Escribas e nomarcas frequentemente cooperavam para subnotificar valores ao Estado e ficar com o excedente, ou cobravam dos camponeses mais do que o devido. Ao mesmo tempo, os contribuintes inventavam formas criativas de evitar o pagamento. Balanças usadas para pesar grãos, por exemplo, podiam ser facilmente manipuladas.

“As pessoas escondiam pedras no grão para atingir o peso tributado de seus campos”, diz Wilkinson. “O problema tornou-se tão comum que foram emitidos éditos reais ordenando que não se trapaceasse o sistema.”

Por volta do século XIII a.C., o faraó Horemheb, da 18ª dinastia, emitiu um decreto determinando que tanto a extorsão quanto a evasão de impostos poderiam ser punidas com a remoção do nariz e o exílio. Essa declaração reafirmava o dever da população de pagar ao faraó e ao reino, já que tudo no Estado era entendido como pertencente ao soberano.

A ocupação estrangeira trouxe a moeda metálica a partir da metade do primeiro milênio antes de Cristo. E isto facilitou muito o processo de cobrança pela praticidade.  

Era também comum o governante isentar os templos e outras camadas da população quando precisava obter o apoio político.  A famosa pedra de roseta (foto), que ajudou a decifrar os hieróglifos, era um texto que falava da isenção fiscal aos templos. 

leia mais sobre a importância do Egito na história da contabilidade aqui

Saúde, desemprego e poluição


Primeiro, vamos detalhar a pesquisa, conduzida pelos economistas Amy Finkelstein, Matthew Notowidigdo, Frank Schilbach e Jonathan Zhang. Eles analisaram o impacto da Grande Recessão de 2007-2009 nas taxas de mortalidade em diferentes regiões dos EUA, algumas das quais sofreram aumentos mais acentuados no desemprego. Descobriram uma correlação impressionante: quando a taxa de desemprego sobe um ponto percentual em uma das 741 regiões metropolitanas ou “zonas de deslocamento” dos EUA, a taxa de mortalidade naquela área cai 0,5%. Esse benefício persiste por pelo menos uma década e se distribui uniformemente entre as faixas etárias, embora, em termos absolutos, os idosos — por estarem mais sujeitos à morte — tenham usufruído do maior benefício. (...)


O ar fica mais limpo em áreas onde a economia desacelera. Os pesquisadores estimam que esse ar mais limpo explica mais de um terço da redução da mortalidade. Isso pode surpreender, porque não estamos acostumados a considerar a poluição atmosférica como um problema em países ricos — o clichê é que cidades em industrialização na Ásia estão cobertas de smog, mas que, para América e Europa, o único poluente preocupante seria o gás de efeito estufa dióxido de carbono.

Fonte: aqui

Resultado dos Correios


Os Correios registraram um prejuízo recorde de R$ 4,37 bilhões no primeiro semestre de 2025, quase o triplo do resultado negativo do mesmo período de 2024. Apenas no segundo trimestre, o déficit foi de R$ 2,64 bilhões, quase cinco vezes maior que o de um ano antes. A queda de receita líquida, de R$ 9,28 bilhões para R$ 8,18 bilhões, somada ao aumento expressivo de despesas administrativas (de R$ 1,2 bi para R$ 3,4 bi) e financeiras (de R$ 3 mi para R$ 673 mi), agravou a situação. A estatal atribuiu a crise, em parte, à retração do segmento internacional, afetado por novas regras sobre importados, como a chamada “taxa das blusinhas”, além da maior concorrência no setor. Para reverter o quadro, a empresa lançou um plano de contingência com foco na diversificação de serviços, corte de custos e expansão no e-commerce, incluindo um marketplace próprio. Também obteve autorização para uma linha de crédito de R$ 4 bilhões junto ao NDB, banco dos Brics. O governo pressiona por medidas como o Plano de Desligamento Voluntário, que deve gerar economia anual de R$ 1 bilhão.

A falha na responsabilização em países em desenvolvimento


O resumo: 

Este capítulo examina por que as democracias no mundo em desenvolvimento frequentemente apresentam baixo desempenho na oferta de uma governança eficaz. Argumentamos que essas deficiências decorrem de fragilidades nos mecanismos de accountability, que deixam os governos vulneráveis à corrupção, ao clientelismo e à captura por elites. Nosso arcabouço distingue três canais de accountability: vertical (o controle dos cidadãos sobre os políticos), horizontal (os freios e contrapesos entre as instituições estatais) e diagonal (a supervisão pela mídia e pela sociedade civil). Sintetizamos a literatura teórica e empírica recente para avaliar como cada canal opera, em quais condições tem sucesso e por que frequentemente falha. Uma constatação central é que as instituições de accountability raramente fracassam sozinhas; em vez disso, são ativamente minadas por atores políticos que buscam preservar rendas e consolidar poder. Essa dinâmica enfraquece a competição eleitoral, erode a independência judicial e restringe a liberdade da mídia, produzindo um ciclo mutuamente reforçador de accountability fraca. Além disso, sustentamos que reformas sustentáveis não podem ser alcançadas fortalecendo apenas um canal isoladamente. Como a accountability vertical, horizontal e diagonal são interdependentes, uma reforma eficaz exige o fortalecimento simultâneo dos três. Concluímos discutindo as implicações dessa perspectiva para pesquisas futuras, incluindo o papel das novas tecnologias, da polarização política e da seleção de candidatos na reconfiguração da accountability em democracias em desenvolvimento.

Há vários exemplos citados no texto do Brasil. Afinal um dos autores é da PUC Rio.  

UKEB irá avaliar o impacto de uma norma contábil

O UKEB (UK Endorsement Board) está adotando um critério para avaliar o impacto da adoção de uma norma contábil. Isto parece ser inédito e muito bom para evitar que um país, no caso o Reino Unido, adote uma norma ruim. 

O UKEB está pensando em avaliar os efeitos na alocação de capital. O documento do Board contém os critérios, o que inclui, por exemplo, um acompanhamento do efeito sobre o modelo de Gordon. Se uma norma reduzir o custo do capital, podemos inferior, a princípio, que é uma boa norma. 

Mas o próprio documento é realista quanto o alcance da medida, já que é muito difícil de isolar o efeito de uma norma: 

A falta de inferência causal na literatura é atribuída a:

a) Falta de um grupo de controle: os pesquisadores enfrentam dificuldades em identificar um “grupo de controle”, ou seja, um grupo comparável de empresas que não aplicaram/aplicam as IFRS. Isso ocorre porque a adoção das Normas Contábeis IFRS geralmente exige a aplicação por todas as empresas listadas em uma determinada jurisdição ao mesmo tempo, o que torna praticamente impossível identificar um grupo de controle de empresas com informações públicas disponíveis e características semelhantes.

b) Fatores de confusão: fatores de confusão dificultam o isolamento do efeito das IFRS:
i. em nível macro, isso se deve muitas vezes a regulações financeiras introduzidas ao mesmo tempo que as IFRS. Por exemplo, no momento da adoção em 2005, muitas jurisdições iniciaram reformas relacionadas ao mercado de capitais para apoiar a adoção das IFRS. As estimativas de estudos sobre a adoção das IFRS em 2005 provavelmente capturam também o efeito dessas reformas concomitantes; e
ii. em nível micro, os desenhos de pesquisa normalmente não isolam o efeito dos requisitos contábeis do desempenho econômico subjacente de uma empresa e da aplicação que a própria empresa faz dos referidos requisitos. 

c) Dificuldades em identificar o período correto de tratamento: a identificação de um período apropriado de tratamento nem sempre é simples. É plausível, por exemplo, que os mercados financeiros antecipem mudanças nas normas contábeis e precifiquem essas mudanças antes que uma nova norma entre em vigor. Portanto, a magnitude ou até mesmo o sinal do coeficiente associado a uma variável do período pós-adoção pode não capturar totalmente o efeito das IFRS.

d) Desenho de pesquisa: alguns artigos utilizam desenhos de pesquisa que não produzem estimativas causais. Por exemplo, alguns estudos baseiam-se em modelos simples de regressão por Mínimos Quadrados Ordinários (OLS), que não são adequados para estabelecer causalidade.

e) Viés sistemático em direção às grandes empresas: a maioria dos estudos foca no impacto das IFRS no custo de capital das grandes empresas. Empresas menores são frequentemente excluídas dessas análises, já que bases de dados comerciais geralmente têm cobertura muito mais limitada dessas companhias, o que gera viés sistemático nos resultados. Por exemplo, se empresas maiores experimentarem um benefício marginal mais elevado com as Normas Contábeis IFRS, as conclusões podem superestimar de forma incorreta os efeitos da adoção dessas normas.

Um grande avanço. Mas fica a pergunta: se chegarem a conclusão que a norma aumenta o custo do capital, o regulador deixará de endossá-la?  

07 setembro 2025

Consumo e dívida

 O Brasil iniciou um grande programa de expansão do crédito por meio de bancos estatais em 2011. O programa teve como principal alvo os trabalhadores do setor público, oferecendo empréstimos consignados. Usando dados administrativos em nível individual, constatamos que o programa levou a um aumento de 15 pontos percentuais na razão dívida/renda inicial para os servidores públicos. Desenvolvemos um novo método para estimar o crescimento esperado da renda dos trabalhadores e mostramos que o “suavizamento do consumo” não pode explicar o aumento do endividamento. Em vez disso, as evidências apontam para um “excesso de consumo”: trabalhadores menos sofisticados financeiramente tomaram mais empréstimos a taxas de juros reais elevadas e acabaram experimentando tanto maior volatilidade no consumo quanto menor consumo médio.

Link aqui 

Rir é o melhor remédio

Quando a estratégia vence a força
 

Falando em impostos, Lady Godiva ...


(...) uma nobre anglo-saxã do século XI, teria cavalgado nua pelas ruas de Coventry para protestar contra os impostos opressivos que seu marido, o conde Leofric de Mercia, impunha aos habitantes da região. De acordo com a lenda, após as repetidas súplicas dela, Leofric finalmente concordou em reduzir a tributação, mas impôs uma condição incomum: que ela fizesse o trajeto completamente nua. Assim, Lady Godiva aceitou o desafio, anunciando que os cidadãos deveriam manter-se em suas casas e fechar as janelas. Apenas um homem, mais tarde apelidado de "Peeping Tom", desobedeceu — e foi, conforme a tradição, punido por isso. Como resultado, Leofric cumpriu sua promessa e reduziu os impostos.

Fonte: Wikipedia 

Imposto e a lógica de Morton

A lógica de Morton era a seguinte: se o súdito vivia no luxo e gastava muito consigo mesmo, obviamente tinha renda suficiente para contribuir com o rei. Por outro lado, se o súdito vivia de forma frugal e não mostrava sinais de riqueza, então devia ter economias substanciais — e, portanto, também podia pagar ao rei.

Fonte: aqui 

Relação dívida PIB em 25 anos


Desde 2000, especialmente após a crise financeira de 2008 e a pandemia de COVID-19, os níveis de endividamento público cresceram significativamente em diversas economias avançadas. O indicador dívida/PIB mede quanto um país deve em relação ao tamanho de sua economia e reflete sua capacidade de administrar e pagar obrigações futuras.

Segundo dados do FMI, os países com maiores aumentos foram Japão (+116 pontos percentuais), Singapura (+86 pp) e Estados Unidos (+71 pp). Apesar de possuírem economias estáveis e pouco risco de calote, enfrentam o peso crescente dos pagamentos de juros.

Em contrapartida, apenas Bélgica (-2,8 pp), Islândia (-21,2 pp) e Israel (-20,6 pp) reduziram sua relação dívida/PIB desde 2000. Os dados da figura acima estão desatualizados, mas isto não afeta a análise da tendência. 

A relação para o Brasil acompanha o crescimento mundial. Em 2000, no governo FHC, a relação era de 62%. Agora, em 2025, está em 92%, com estimativa, para 2030, de 99,4%, ainda abaixo das economias mais avançadas.  

A evolução da relação dívida/PIB está diretamente ligada à contabilidade pública, pois esse indicador resulta da mensuração e do registro das obrigações financeiras do Estado em comparação com a riqueza gerada pela economia. A contabilidade pública não apenas cumpre uma função técnica de registro, mas também exerce um papel estratégico: oferece transparência, subsidia análises sobre solvência e capacidade de endividamento e orienta tanto os órgãos de controle quanto a sociedade sobre a viabilidade das políticas fiscais e a necessidade de reformas estruturais.

Efeitos da obrigação de divulgação ESG no mundo


 Eis o resumo:

Compilamos um novo conjunto de dados sobre a divulgação obrigatória de informações ambientais, sociais e de governança (ESG) ao redor do mundo para analisar os efeitos dessas exigências na liquidez das ações. Documentamos um efeito positivo das exigências de divulgação ESG sobre a liquidez das ações em nível de empresa. Os efeitos são mais fortes quando os requisitos de divulgação são implementados por instituições governamentais, não em regime de “cumprir ou explicar”, e quando estão associados a uma forte aplicação por instituições informais. Empresas com ambientes informacionais mais frágeis se beneficiam mais das exigências de divulgação ESG. Nossos resultados apoiam a visão de que a regulação da divulgação ESG melhora o ambiente informacional e gera efeitos benéficos nos mercados de capitais. 

Fonte: The Effects of Mandatory ESG Disclosure Around the World - Philipp Krueger et al

06 setembro 2025

Rir é o melhor remédio

Como você lia um jornal - antes e depois da tecnologia. 
 

Reputação e valor


Este artigo investiga como o consumo da obra criativa de um artista é impactado quando há um movimento de “cancelamento” do artista nas redes sociais devido a sua má conduta. Diferentemente de marcas de produtos, marcas humanas são particularmente vulneráveis a riscos de reputação, mas ainda se entende pouco sobre como a má conduta afeta seu consumo. Usando o caso de R. Kelly, examinamos a demanda por sua música após choques inter-relacionados de publicidade e sanções de plataformas — especificamente, a remoção de suas músicas das principais playlists da maior plataforma global de streaming. Uma análise superficial do consumo após esses escândalos poderia levar à conclusão equivocada de que os consumidores estão intencionalmente boicotando o artista em desgraça. Propomos uma estratégia de identificação para distinguir os efeitos da curadoria da plataforma dos da escuta intencional, explorando a variação no status de remoção das músicas e a demanda geográfica. Nossas descobertas mostram que a queda no consumo é motivada principalmente por fatores do lado da oferta devido às remoções de playlists, e não por mudanças na escuta intencional. A cobertura midiática e os apelos ao boicote têm efeitos promocionais, sugerindo que boicotes nas redes sociais podem, inadvertidamente, aumentar a demanda musical. A análise de outros casos de cancelamento envolvendo Morgan Wallen e Rammstein não mostra queda de longo prazo na demanda, reforçando os potenciais efeitos promocionais dos escândalos na ausência de sanções pelo lado da oferta.

Fonte: aqui . Imagem aqui

Pensando no valor do artista como sendo a geração de caixa, a remoção de playlist pode afetar o ativo. Mas veja que o boicote como fator para aumentar a demanda parece estranho, já que não é este o objetivo.  

Trabalho mais chato perto da extinção

Neste semestre, na minha primeira aula da graduação, apresentei um slide com alguns motivos para se ter orgulho da contabilidade. E agora, passando por textos publicados recentemente sobre o assunto, deparei com este artigo da Business Insider com o título de America's most boring job is on the brink of extinction. Eis uma ideia do conteúdo do texto:

A contabilidade carrega um estereótipo persistente: o profissional entediante, preso em um cubículo, sem glamour. Embora os CPAs possam atuar em áreas estratégicas, como auditorias em grandes empresas ou investigações no FBI, a imagem negativa da profissão continua forte. Para a Geração Z, esse estigma pesa ainda mais. Jovens buscam propósito no trabalho e rejeitam carreiras vistas como seguras, mas pouco estimulantes. O contraste com as redes sociais, que valorizam experiências “interessantes” e visíveis, também afasta muitos da contabilidade.

Além da questão de imagem, tornar-se CPA é um processo árduo: exige mestrado, quatro exames rigorosos e um período de prática supervisionada. Ao mesmo tempo, a remuneração inicial é inferior à de outros cargos em finanças, como o de banqueiro de investimento, que pode ultrapassar US$ 100 mil já no primeiro ano. Assim, a profissão enfrenta tanto desafios de atratividade quanto barreiras estruturais de formação, agravando a atual escassez de contadores.

É bem verdade que o título é bem sensacionalista. Mas a crise de credibilidade é somente em alguns países? Precisamos de pesquisa sobre o assunto.  

Ensino online versus presencial

Pesquisas recentes destacaram os efeitos prejudiciais do ensino on-line para alunos mais jovens, mas, no nível universitário, há poucas evidências sobre se a instrução virtual é tão eficaz quanto a experiência educacional presencial em sala de aula.

Em um artigo publicado na American Economic Review: Insights, os autores Michael S. Kofoed, Lucas Gebhart, Dallas Gilmore e Ryan Moschitto apresentam os resultados de um experimento em um curso introdutório universitário e constatam que o aprendizado on-line reduziu as notas finais em meio grau de letra.

No semestre do outono de 2020, a Academia Militar dos EUA em West Point transferiu alguns alunos para o ensino on-line a fim de ajudar a conter a disseminação da COVID-19. Naquele momento, os pesquisadores organizaram um experimento para comparar os resultados de desempenho, designando aleatoriamente 551 estudantes entre 12 instrutores em 36 turmas de um curso obrigatório de Princípios de Economia. Ao comparar os estudantes alocados em turmas presenciais com aqueles em turmas virtuais, foi possível isolar o impacto da instrução on-line


 

Como Trump ganhou bilhões com a política

Um texto da Forbes mostra depois de deixar a presidência em 2021, Donald Trump viu seu patrimônio cair para cerca de US$ 2,4 bilhões, quase saindo da lista Forbes 400. No entanto, sua fortuna se recuperou quando ele abraçou novos modelos de negócio vinculados à política. 

Trump entrou no setor de mídia e tecnologia com uma proposta de participação de 90% sem investimento inicial, o que o impulsionou de volta ao topo dos bilionários com um patrimônio estimado em US$ 4,3 bilhões. Grande parte dessa valorização vem da Trump Media & Technology Group, dona da Truth Social, que abriu capital em março, elevando sua fortuna a US$ 2,2 bilhões apenas desse negócio. A renda operacional total estimada de seus empreendimentos saltou 58% em relação ao período em que estava na Casa Branca. Seus clubes e campos de golfe também triplicaram de valor, chegando a US$ 1,1 bilhão em patrimônio. Ele também capitalizou sua imagem, vendendo de NFTs a pedaços do terno usado em debates, reforçando a estratégia de monetizar sua presença política como marca pessoal. 

Ceticismo saudável em pesquisas contábeis


O resumo:

Examinando estatísticas de testes em artigos de seis dos principais periódicos de contabilidade, detectamos descontinuidades em suas distribuições em torno dos limiares convencionais de significância (valores de p de 0,05 e 0,01) e encontramos uma abundância incomum de estatísticas de teste que são apenas significativas. Análises adicionais revelam que essas descontinuidades são mais proeminentes em estudos com amostras menores e mais marcantes em estudos experimentais do que em estudos arquivísticos. A discrepância de descontinuidade entre estudos experimentais e arquivísticos relaciona-se a vários indicadores de graus de liberdade dos pesquisadores. No entanto, essa evidência não implica que a pesquisa experimental seja mais propensa a práticas questionáveis do que os estudos arquivísticos. De modo geral, nossos achados dialogam com a preocupação de que pesquisadores em contabilidade possam exercer discricionariedade não revelada para obter e relatar resultados estatisticamente significativos. Com base em nossos resultados, um ceticismo saudável em relação a algumas estatísticas de teste “apenas significativas” é justificado. 

O artigo é de março deste ano, mas os achados estão dentro do esperado.  

Discontinuous Distribution of Test Statistics Around Significance Thresholds in Empirical Accounting Studies - XIN CHANG, HUASHENG GAO, WEI LI. Imagem aqui

05 setembro 2025

Fábrica de mosquito


Uma “fábrica de mosquitos” em Curitiba, Brasil, produz semanalmente até 100 milhões de ovos de Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia. Essa estratégia — chamada de “wolbitos” — ajuda a reduzir a transmissão de doenças como dengue e zika. Segundo um texto da Nature, em Niterói, houve queda de 69% nos casos nas áreas onde foram liberados mosquitos modificados, comparado os locais sem essa intervenção.  

Acho que o assunto poderia dar um belíssimo estudo sobre finanças públicas, onde o apoio a uma técnica científica permite (ou não) a economia de recursos em saúde pública. 

Blueskyismo


De Nate Silver 

O Bluesky, derivado do Twitter e que já foi promovido como uma alternativa mais gentil e acolhedora ao que hoje é conhecido como X, provavelmente não está à beira da morte. Mas, após um surto de crescimento em torno das eleições, a plataforma vem encolhendo e perdendo influência de forma constante, mesmo enquanto outros setores da esquerda prosperam durante o segundo mandato de Trump.

A vida e a morte das plataformas de mídia social são ditadas pelos efeitos de rede. Embora às vezes possam existir pontos de inflexão, em geral sua trajetória é previsível. Você entra porque outras pessoas estão entrando, o que as torna progressivamente mais úteis. E você permanece nelas por hábito até que, ou a menos que, uma massa crítica migre para outro lugar.

O Twitter/X vem declinando lentamente em influência, segundo evidências externas — apesar das alegações ocasionais em contrário de Elon Musk. Ainda assim, apesar de características extremamente problemáticas já documentadas pelo *Silver Bulletin*, o X permanece relativamente estável, em parte porque sua queda tem sido lenta após um pico elevado alcançado em anos anteriores de crescimento exponencial.

Alternativas como o Threads da Meta, o Truth Social de Trump e o independente Mastodon não conseguiram ganhar força. E, neste ponto, é provavelmente seguro assumir que o Bluesky também não substituirá o Twitter.

Nate Silver destaca o que ele chama de Blueskyismo, como uma atitude cultural, que corresponderia ao "politicamente correto", com uma atitude agressiva de censura interna, usando o que seria uma superioridade moral. É uma atitude excludente, que termina por dificultar o dialogo. O Blueskyismo não é exclusivo da plataforma Bluesky.  

Nvidia e a concentração nas receitas


As informações contábeis do segundo trimestre de 2025 da Nvidia revelaram que cerca de 40% da receita total — 47 bilhões de dólares — advêm de apenas dois grandes clientes, identificados como “Cliente A” (23%) e “Cliente B” (16%). A grande dependência de uma empresa na geração de receita para dois clientes pode ser um fator de risco: se um dos clientes reduzir suas compras, o fato poderá afetar as receitas reportadas e, como consequência, o resultado.

Acredita-se que esses dois clientes sejam gigantes de tecnologia, como Microsoft ou Apple. O problema é que quatro outros clientes também foram representativos na geração de receita, indicando que a soma dos seis representa 85%.

Ativos Culturais repugnantes são ativos?


O turismo sombrio parece existir na Alemanha. Uma notícia (via blog de Al Roth) informa que algumas pessoas que visitam Berlim procuram o local onde ficava o bunker de Hitler. Hoje, o local é somente um estacionamento, mas mesmo assim não desestimula os turistas. O governo sempre resistiu em transformar o local em atração turística, mas, em 2006, uma placa informativa foi colocada no espaço. Dez anos depois, um museu de história de Berlim construiu uma réplica completa do bunker. 

O Nobel Al Roth propôs o conceito de mercados repugnantes. Mesmo que a sociedade tenha aversão a certos tipos de atividades, podendo proibir ou reprimir sua existência, o mesmo existe. A prostituição, a venda de órgãos humanos, o mercado de ingressos para eventos, o aumento de preços após um desastre são exemplos. O turismo sombrio também seria um exemplo. Mesmo com todo esforço de reprimir a demanda, sempre haverá pessoas interessadas em consumir o produto. 

Aqui uma dificuldade para o contador: seria o local um ativo cultural? Creio que a resposta envolve uma discussão sobre ética do reconhecimento. 

Multa de 3 bilhões de euros para o Google


A União Europeia impôs à Google uma multa recorde de € 2,95 bilhões (aproximadamente US$ 3,5 bilhões) por práticas anticompetitivas na área de tecnologia de publicidade (ad tech), incluindo o favorecimento de seus próprios serviços, um comportamento conhecido como “self-preferencing”. Essa penalidade representa o quarto grande processo antitruste contra a empresa no mercado europeu nos últimos anos. A Comissão Europeia determinou que a Google deve cessar tais práticas em até 60 dias, sob risco de enfrentar ações mais rigorosas, incluindo a obrigatoriedade de vender parte do seu negócio de ad tech, segundo notícia do Financial Times (via aqui).

Google anunciou que irá apelar.

A força da Wikipedia


No Pluralistic leio que a razão pela qual  a Wikipédia funciona tão bem na prática, mesmo que, em teoria, pareça caótica: em vez de verificar os editores, passou a verificar as fontes. Ou seja, o critério de confiabilidade repousa nas referências citadas, e não na identidade ou qualificação dos editores. 

A Nupedia, que antecedeu a Wikipédia, exigia que os autores fossem especialistas e demorava a produzir conteúdo (apenas 20 artigos no primeiro ano). O mesmo ocorria com a Britânica - isto é uma afirmação minha, não do Pluralistic. 

Assim, uma página pode afirmar algo não porque seja um fato incontestável, mas porque uma fonte confiável publicou essa informação e isso pode ser verificado por qualquer pessoa. Essa estrutura fundamentada em fontes verificáveis sustenta a credibilidade da Wikipédia, mesmo com milhares de colaboradores anônimos ou pseudônimos empenhados na criação coletiva de conhecimento. 

04 setembro 2025

Método científico é relevante?


As conclusões são impactantes:

Usando dados sobre todas as principais descobertas científicas — incluindo tanto as que receberam o Prêmio Nobel quanto outras grandes descobertas — podemos abordar a questão do quanto o “método científico” é de fato aplicado na realização das pesquisas mais inovadoras e se precisamos ampliar esse conceito central da ciência. Este estudo revela que 25% de todas as descobertas desde 1900 não aplicaram o método científico comum (com seus três elementos). Especificamente, 6% das descobertas não usaram observação, 23% não usaram experimentação e 17% não testaram uma hipótese. Assim, as evidências empíricas desafiam a visão tradicional do método científico.

O texto original pode ser obtido aqui  . Imagem aqui

Pilares de Esperança

“Pilares da Esperança” é um nome irônico dado às barras de aço de arranque — também chamadas de vergalhões de espera ou extensões de armadura — que ficam projetadas dos telhados das casas após a construção. Deixar essas barras expostas é uma solução prática, pois economiza tempo e dinheiro na hora de acrescentar um novo andar: a estrutura já está parcialmente preparada para a expansão. A “esperança” no nome reflete a expectativa e o otimismo de ampliar a casa no futuro, seja pelo crescimento da família ou pela melhora da situação financeira.

Crescendo no Reino Unido, nunca me deparei com a prática de deixar vergalhões expostos em casas. No entanto, ao viajar pela América Central e pela Ásia, fiquei surpreso ao ver essas hastes em muitas cidades e vilarejos. No começo, não entendia por que tantos prédios pareciam inacabados, deixando o horizonte um tanto desordenado. Só quando alguém me explicou sua finalidade tudo fez sentido.

As barras de aço no concreto combinam a resistência à tração do aço com a resistência à compressão do concreto, criando um método de construção extremamente eficaz e amplamente utilizado. Os vergalhões embutidos e projetados da estrutura existente fornecem uma conexão forte e estável entre a nova adição e o edifício já construído. Eles transferem as cargas e ancoram os dois juntos.

Os Pilares da Esperança são um exemplo evidente de futureproofing (preparação para o futuro). Outros exemplos em construções são instalações elétricas ou hidráulicas, em que se deixam canos tampados ou pontos de conexão elétrica previstos para trabalhos futuros. Laptops e desktops com slots de expansão vazios também seguem essa lógica, assim como a primeira edição de um software que já inclui um gerenciador de atualizações.

No desenvolvimento de software e na metodologia ágil, gosto da ideia do livro Rework: “Um meio-produto incrível é melhor do que um produto inteiro malfeito.” Não tenha partes do seu produto visivelmente inacabadas ou “em construção” para os usuários. Não deixe vergalhões aparentes em seu software. E evite resolver problemas que ainda não existem. Embora possa parecer útil acrescentar algo agora para facilitar uma função futura, o equilíbrio é delicado. Muitas vezes, opta-se por outro caminho e ficam pelo código alguns pilares da esperança — dívida técnica que poderá ter de ser paga mais tarde.

Se, à primeira vista, aquelas barras de aço aleatoriamente expostas nos telhados me pareceram caóticas e desordenadas, hoje, ao pensá-las como Pilares da Esperança, vejo nelas uma certa beleza — um horizonte que esboça as aspirações e o futuro desenvolvimento de famílias, casas e da própria cidade. 


Edit: Várias pessoas me disseram que deixar os vergalhões expostos no telhado faz com que o prédio seja considerado “inacabado” e, assim, não sujeito a impostos sobre a obra. Embora isso seja repetido em muitos lugares, não tenho 100% de certeza sobre a veracidade. Se você tiver experiência com isso, entre em contato! 

Fonte: aqui 

Dinheiro em extinção

O uso de dinheiro em transações está em rápido declínio global, substituído por cartões e carteiras digitais como Apple Pay, Paytm e Alipay. Dados mostram que a participação do dinheiro no valor das transações caiu significativamente entre 2019 e 2023, e deve encolher ainda mais até 2027. Países que antes dependiam quase exclusivamente de dinheiro já apresentam mudanças expressivas: na Nigéria, por exemplo, o uso caiu de mais de 90% em 2019 para 55% em 2023.

Apesar disso, o dinheiro ainda é o principal meio de pagamento em várias nações da África, América do Sul e Ásia, como México, Filipinas, Peru e Japão. Em contraste, países como Canadá, Nova Zelândia, Austrália e os nórdicos já quase não utilizam cédulas. Até 2027, França, Singapura, Coreia do Sul, Reino Unido e EUA devem registrar menos de 10% das transações em dinheiro, consolidando a “morte do cash”.

O gráfico mostra que a tendência acontece também no Brasil.  

É interesse este dado (divulgado há de um ano e recuperado nos arquivos do Feedly), pois estou no processo de atualização de um livro didático. E como usávamos, no passado, a conta "Caixa". 

Imigração e criminalidade

Existiria uma associação entre crime e imigração? Tenho visto muito isto em algumas redes sociais, com exemplos. Mas será que são "casos" ou realmente há uma relação? Veja o resumo deuma pesquisa sobre o tema:

A associação entre imigração e criminalidade tem sido objeto de debate há muito tempo, e apenas recentemente começamos a dispor de evidências empíricas sistemáticas sobre o tema. Os dados mostram que imigrantes — frequentemente mais jovens, homens e com menor escolaridade em comparação aos nativos — estão desproporcionalmente representados entre os infratores em diversos países de acolhimento. No entanto, pesquisas existentes, incluindo nossa análise de novos dados internacionais, indicam de forma consistente que a imigração não impacta de maneira significativa as taxas locais de criminalidade nesses países. Além disso, estudos recentes ressaltam que a obtenção de status legal reduz o envolvimento de imigrantes em atividades criminosas. Por fim, discutimos possíveis explicações para a aparente incongruência entre a sobrerrepresentação de imigrantes entre infratores e o efeito nulo da imigração sobre as taxas de criminalidade.

É interessante como o processo de imigração foi importante para contabilidade. Recentemente, o blog postou uma série sobre grandes nomes da contabilidade mundial. Há vários deles que eram imigrantes e de cabeça lembro de Ijiri e Mattessich, mas certamente há outros. No Brasil tivemos o caso de Stanislaw Kruzynski, professor de Carlos de Carvalho. 

  

Rir é o melhor remédio


 Fonte: aqui

Fabricantes de veículos elétricos demitem


A indústria de veículos elétricos (EV) enfrenta uma onda mundial de demissões: mais de 30.000 funcionários foram dispensados em fabricantes de EVs e setores relacionados no ano encerrado em agosto de 2025. As demissões, que variam entre 1% e 40% da força de trabalho, afetam desde gigantes como General Motors até startups. Marcas tradicionais como Nissan, Volvo e Porsche têm demitido milhares para reestruturar diante da queda na demanda e dos desafios geopolíticos. 

O setor  tem enfretado a concorrência chinesa, que consegue colocar no mercado um produto com menor preço. Mas existem dúvidas sobre o futuro do produto. Na contabilidade, a onda deve afetar os resultados das empresas, podendo ter consequências no teste de recuperabilidade. 

03 setembro 2025

Músicas mais traduzidas: há uma surpresa aqui

Eis um trecho 

(...) uma nova análise do blog linguístico WordFinderX buscou revelar os artistas e músicas mais traduzidos em cada país do mundo (com dados disponíveis).


Os autores da análise usaram o Lyrics Translate, uma biblioteca online de traduções de músicas, como ponto de partida, examinando 627.000 traduções individuais de mais de um quarto de milhão de faixas, interpretadas por mais de 11.000 artistas diferentes. Em seguida, classificaram as músicas pelo número de vezes em que foram traduzidas de sua língua original para outro idioma; já os artistas foram classificados pelo número de faixas em que aparecem (como intérpretes principais ou creditados, em gravações ao vivo e de estúdio) que foram traduzidas para idiomas diferentes daquele em que foram originalmente gravadas.

Taylor Swift é a artista mais traduzida do mundo, com um total de 4954, seguida de BTS, Lana del Rey e Beatles. 

Agora a surpresa: Teló é o brasileiro com maior número de músicas traduzidas, com 498. E é dele a grande surpresa do estudo: a música mais traduzida, em 131 idiomas, é a "poesia em estado puro", Aí se eu te pego. Mais do Yesterday (108) ou Sound the Silence (97) ou outra qualquer.  

Vitória robusta de Harvard


Um tribunal distrital federal em Massachusetts concedeu, na quarta-feira, uma vitória quase completa à Universidade de Harvard, decidindo que a administração Trump errou ao encerrar mais de US$ 2 bilhões em subsídios e contratos em abril.

A juíza Allison D. Burroughs concedeu julgamento sumário em quase todas as acusações a favor de Harvard, concluindo que o governo havia violado os direitos da instituição sob a Primeira Emenda e a Lei dos Direitos Civis, Título VI.

Fonte: aqui . Imagem: primeira aula da turma de Design, ontem, em Harvard, com slide da UnB. 

Educação e bem-estar


 Nuestro principal resultado confirma que el gasto público en educación tiene un impacto positivo en el grado de satisfacción con la vida reportado por los europeos. Este hallazgo es robusto a encuestas y enfoques. Sin embargo, el gasto en los distintos niveles educativos no contribuye de manera homogénea al bienestar. Únicamente la educación terciaria muestra una contribución positiva y consistente. Por el contrario, el gasto en educación primaria y secundaria no muestra un efecto significativo sobre la satisfacción con la vida.

Texto completo está aqui 

Um exemplo de como a contabilidade pode ajudar os mais fracos

Elouise Pepion Cobell (1945–2011), foi uma líder tribal e que ficou famosa por sua luta pela justiça financeira dos povos indígenas dos Estados Unidos. Da tribo dos "pés pretos" (Blackfeet), Cobell descobriu que os fundos fiduciários do governo federal, destinados aos indígenas, eram geridos de forma inadequada. Com base no seu conhecimento contábil, Cobell moveu uma ação coletiva. Um pouco antes de morrer, o governo aprovou um acordo de 3,4 bilhões de dólares, o maior da história. 


Ao questionar a prestação de contas do governo na gestão de fundos fiduciários, Cobell mostrou que o governo não tinha registros contábeis confiáveis, com extravios, má gestão, ausência de demonstrações financeiras auditáveis, entre outros pecados. Os fundos fiduciários eram compostos por receitas de arrendamento de terras, que deveriam gerar renda para os nativos. 

Inovação Chinesa na ciência


O perigo não é a ascensão da China, mas a mentalidade americana. Tratar a ciência como um jogo de soma zero faz com que cada patente chinesa pareça uma perda. Mas as ideias não são rivais: uma descoberta chinesa não empobrece os americanos, ela enriquece o mundo. Um mundo científico multipolar significa crescimento mais rápido, maior riqueza e aceleração tecnológica — mesmo que os EUA conquistem uma fatia menor dos prêmios Nobel.

Fonte: aqui 

Devedor Contumaz


Encontra-se em tramitação no poder legislativo um norma que trata do devedor contumaz, figura prevista na legislação para caracterizar empresas que adotam a inadimplência sistemática como estratégia de negócio. A medida tem impacto direto na área fiscal, pois busca coibir práticas que geram concorrência desleal e reduzem a arrecadação tributária. A regulamentação define critérios para identificar esses contribuintes e permite a aplicação de sanções específicas, como maior fiscalização e restrições a benefícios fiscais. A proposta reforça o objetivo do Estado de proteger a receita pública, garantindo que empresas cumpram suas obrigações tributárias e que a carga fiscal não recaia de forma desigual sobre quem paga corretamente.

O texto já foi aprovado no senado e deve voltar para Câmara

02 setembro 2025

Valor das patentes científicas

 O resumo:

Estimar o valor privado das patentes é importante, mas desafiador. Ao desenvolver um método que utiliza os retornos do mercado de ações para produzir uma distribuição de valores de patentes (e não apenas uma estimativa da média dessa distribuição), Kogan, Papanikolaou, Seru e Stoffman (2017) (KPSS) abriram caminho para novas pesquisas. Pesquisadores têm usado essas estimativas para comparar os valores médios de diferentes tipos de patentes. Neste artigo, argumentamos que os valores de KPSS não devem ser usados em sua forma atual para comparar as médias de diferentes grupos de patentes, e mostramos que isso é o caso no contexto de pesquisas sobre os retornos privados de patentes científicas. Estendemos o método original de KPSS para permitir que as patentes sejam extraídas de duas distribuições de valor distintas. Usando essa abordagem, constatamos que as patentes científicas possuem um valor médio mais alto em comparação às patentes não científicas.

O desenvolvimento de método de estimativa de patente é importante para destravar o reconhecimento deste item como ativo 

Escravo e cadeia de produção


O artigo “Chains of Credit: The Entrepreneurial Advantage of Slavery”, publicado no JSTOR Daily, destaca como a liquidez associada às pessoas escravizadas transformou-as em ativos financeiros fundamentais no sistema capitalista norte-americano do século XIX. Cadeias de crédito conectavam “plantadores do Mississippi” a intermediários de algodão em Nova Orleans, e esses, por sua vez, a banqueiros de Nova York e mercadores de Liverpool — criando uma intrincada teia financeira global baseada em escravidão.

A escravidão não era meramente trabalho forçado, mas também uma forma de capital altamente negociável, utilizada como garantia para hipotecas, contratos de seguro e garantias. O número de escravizados era contado integralmente para fins de representação legislativa, embora não tivessem direitos de voto. Além disso, o comércio de pessoas escravizadas para o Sul era mais lucrativo do que seu uso no trabalho agrícola local.

Fiquei na dúvida se faz sentido a posição do autor. O ano de 1858, citado no texto, já marcava uma redução drástica no comércio mundial de escravos. 

IA e duas notícias


A primeira:

Os desenvolvedores de medicamentos estão aumentando a adoção de tecnologias de inteligência artificial para testes de descoberta e segurança de novas drogas a fim de obterem resultados mais rápidos e mais baratos, em linha com um impulso da agência norte-americana que regula o setor (FDA) para reduzir os testes em animais em um futuro próximo.

Nos próximos três a cinco anos, o uso da IA e a redução dos testes em animais poderão acelerar cronogramas e diminuir custos em pelo menos 50%, de acordo com 11 especialistas diferentes de empresas de pesquisa contratadas, companhias de biotecnologia e corretoras.
 

A segunda:

Seu robô consegue vencer os melhores previsores humanos e de IA do mundo?

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Início: segunda-feira, 1º de setembro.

 

Finanças públicas brasileiras e a solução

The Economist, via aqui

Talvez a maior razão para o gasto elevado seja o fato de que a constituição o exige. A carta determina um extraordinário 90% de todo o gasto federal. Notavelmente, ela vincula a maior parte das aposentadorias públicas ao crescimento dos salários e exige que os gastos com saúde e educação aumentem em linha com o crescimento da receita. Se o Brasil eliminasse a maior parte das isenções fiscais e revertesse essas duas políticas, sua relação dívida/PIB — que já está acima de 90% — seria quase 20 pontos percentuais menor em 2034 do que seria sem qualquer reforma, estima o FMI. Para lidar com tudo isso, o que realmente é necessário é emendar a constituição.

Os altos gastos e a confusão de esquemas de crédito subsidiado também reduzem a eficácia da política monetária. Isso significa que o banco central precisa elevar ainda mais os juros para controlar a inflação. A taxa real de juros do Brasil, de 10%, está entre as mais altas do mundo. Taxas tão elevadas sufocam o investimento e reduzem o crescimento, enquanto empresários bem conectados conseguem acesso a taxas artificialmente baratas. Entre aqueles que precisam pagar a taxa integral está o próprio governo.

As isenções fiscais somam 7% do PIB, acima dos 2% em 2003 (ver gráfico 2). Dezenas de setores recebem benefícios fiscais ou subsídios de crédito sob a justificativa de que são campeões nacionais, ou a partir de ajudas “temporárias” que nunca terminaram. O Judiciário brasileiro custa 1,3% do PIB, sendo o segundo mais caro do mundo, com grande parte desse valor destinada a aposentadorias e benefícios generosos. Cerca de US$ 15 bilhões por ano, ou 78% do orçamento militar, são gastos com pensões e salários. Os Estados Unidos gastam apenas um quarto do orçamento de defesa com pessoal.

Isto deveria aparecer claramente no balanço do setor público.  

Reliogisidade e ceticismo profissional

Muito interessante: 


 

Esta pesquisa analisou a influência da religiosidade no ceticismo profissional em auditores independentes no Brasil. Realizou-se um estudo de levantamento survey exploratório e de abordagem quantitativa. O estudo foi executado com auditores independentes de empresas Big Four e Não Big Four, através do uso de questionário enviado pela rede social profissional LinkedIn®. O questionário foi elaborado através da ferramenta Google Forms, contendo 40 questões, sendo cinco de religiosidade da escala de Durel (2010), 30 da escala de ceticismo profissional de Hurtt (2010) e cinco perguntas demográficas. O acesso ao questionário foi fornecido através de link de acesso para 1484 auditores independentes, obtendo-se um retorno de 205 respostas. Para efetuar a análise dos dados, usou-se estatística descritiva, correlação de Person e regressão linear simples. Constatou-se que o nível de ceticismo profissional é maior no gênero masculino e que as mulheres obtêm maiores resultados na característica de suspensão de julgamento, além de serem mais religiosas. Embora a religiosidade, considerada como uma variável agregada, não tenha demonstrado influência estatisticamente significativa sobre o ceticismo profissional de forma global, análises mais aprofundadas revelaram que, ao desmembrar tanto a religiosidade quanto o ceticismo em suas dimensões específicas, emergem relações estatisticamente significativas entre determinados aspectos dessas variáveis. Os resultados podem indicar que a influência da religiosidade sobre o ceticismo não é uniforme, mas varia conforme o tipo de religiosidade (organizacional, não organizacional, intrínseca) e conforme a dimensão do ceticismo.

Fonte: Oliveira, D. J. de & Schlotefeldt, J. de O. (2025). Influência da religiosidade no ceticismo profissional em auditores independentes no Brasil. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 30(1), 58-73.