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13 março 2013

A Econometria do Conclave

Nunca imaginei que tivessem pesquisas de econometria sobre o conclave. Econometria pressupõe dados, mas há dados sobre a escolha do Papa? Via de regra não deveria haver, já que o sigilo total dos votos é determinação do Vaticano. Espera um pouco, a menos que os dados vazem…

Sim, foi exatamente isso que aconteceu. Encontrei uma excelente pesquisa do econometrista J.T. Toman (via David Gibson) que a partir de “transbordamentos de informação” analisou os padrões de voto de sete conclaves. Alguns resultados interessantes foram encontrados.

Primeiro dos fatos: ao longo de cada conclave os cardeais agem cada vez mais estrategicamente. O autor do artigo classifica os cardeais eleitores em dois tipos: os sincere voters que votam num mesmo candidato rodada a rodada independente da probabilidade de sucesso; e os strategic voters que mudam o voto a luz dos acontecimentos.

[...] De modo análogo há um aumento rodada a rodada de votantes estratégicos. Podemos cogitar várias razões para isso, transmitir coesão dentro da Igreja aos fiéis pode ser um dos motivos em não se estender muito a decisão do conclave.

Segundo, foi constatado que parte desse aumento dos votantes estratégicos comportam-se em efeito de manada com o decorrer das rodadas. Isto é, votos convergem para cardeais que receberam mais votos durante a votação anterior e, especialmente, sobre aqueles cujo número de votos é crescente.

Terceiro, um efeito negativo bastante peculiar de “conversas noturnas” foi identificado. O número de votos do cardeal líder cai consideravelmente na manhã seguinte à última votação. Uma explicação razoável para isso é que as conversas noturnas permitem que os cardeais combinem e dificultem a eleição do cardeal que vinha liderando.

Por fim, há de se considerar que nem todo cardeal é na prática elegível, muitos por serem desconhecidos têm chances mínimas. Isto impõe o problema da heterogeneidade (comum na economia em modelos cujos agentes não são idênticos). Tucker notou que lá pelas tantas do artigo o autor da pesquisa procura entender a existência da heterogeneidade usando um curioso mix de econometria e religião:

Finally, as is seen by the uneven voting activity among the cardinals, there is unobservable heterogeneity among the cardinals that is constant across time. Only a select subset are considered serious contenders for the position of the Papacy. One interpretation is that this is the Word of God. The voters do not perceive the cardinals as equal candidates. More cynically, one might argue that the differences observed are the result of the pre-conclave maneuverings. However, why would the effects of these be constant over time? We could expect these effect to die off after the observations of the first vote count. However, as God is omnipresent and all-knowing, having His effect to be constant over time is less of a surprise. Either way, this unobservable heterogeneity is accounted for in the estimation process through the inclusion of fixed effects parameters.

Por Adriano Teixeira - Prosa Econômica

31 agosto 2011

Efeito manada

(...) O bom e velho efeito manada, com os investidores vendendo ações a qualquer preço. Mas para ganhar dinheiro na bolsa não é interessante comprar papéis justamente num momento de baixa? Ao se desfazer dos ativos, o investidor pode até estar cometendo um erro, mas errar em companhia da maioria é menos estressante, diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais da Santander Asset Management e especialista em finanças comportamentais. Já conviver com as consequências de um erro em virtude de um posicionamento oposto ao do grupo é um constrangimento que a maioria evita.

Segundo Mosca, existem quatro elementos principais que definem um movimento de manada. O primeiro é exatamente a necessidade que as pessoas têm de agir como a maioria; outro é a percepção de que as pessoas que estão a sua volta possuem uma boa razão para fazer o que estão fazendo, no caso, vendendo as ações. O terceiro elemento é a vontade de não ser o último a entrar ou sair do mercado e, por fim, a necessidade de fazer parte do grupo, independentemente deste estar certo ou errado.

A prova de que o investidor está se deixando levar muito mais pela emoção do que pela razão é que ele vendeu suas ações, ignorando qualquer notícia positiva que saísse. "O mundo não foi apenas desgraça nos últimos dias, saíram dados positivos da economia americana, o Banco Central Europeu voltou a injetar liquidez nos países e o investidor não colocou nada disso na balança na hora de decidir o que fazer com os papéis", diz Mosca. (...)

O velho efeito manada amplifica as perdas - Daniele Camba - Valor Econômico - 08/08/2011

É interessante notar que o efeito manada não tem sido considerado relevante pelos teóricos de finanças comportamentais. Wilkinson, em An Introduction to Behavioral Economics, não aborda este conceito.

22 junho 2011

Jogo da Confiança

Pesquisa tenta mapear o que faz os grandes investidores locais e estrangeiros terem maior ou menor segurança para aplicar seu dinheiro no Brasil ou em outros mercados pelo mundo.

O que leva um investidor que mal sabe onde fica o Brasil a destinar parte de seus recursos ao país? E que fatores o fazem sair do país tão rápido quanto entrou? Ou por que o estrangeiro confia mais que o brasileiro no mercado local?Para responder a essas perguntas, a advogada Anna Lygia Costa Rego, do escritório Trench, Rossie Watanabe Advogados, procurou 50 investidores, locais e estrangeiros e reguladores do mercado, para saber o que os faz confiar no país e o que mais eles temem. O resultado da pesquisa revela que alguns vícios dos grandes investidores são iguais aos de qualquer pequeno aplicador na hora de tomar decisões. O trabalho transformou-se em tese de doutorado defendida no ano passado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Perguntados sobre se confiam no Brasil, 75% dos estrangeiros responderam que sim, número que cai para 45% no caso dos brasileiros. Segundo Lygia, isso mostra que os motivos para estrangeiros e locais confiarem no país são diferentes, apesar de os dados econômicos analisados serem os mesmos.

Para Lygia, há um certo exagero nas duas pontas. "De 1990 para cá, a confiança dos estrangeiros no Brasil melhorou muito, mas nem tanto com os locais", diz. Entre os brasileiros ouvidos estão representantes de corretoras, escritórios de advocacia e bancos. "Os outros 55% locais confiam desconfiando, são muito céticos com o futuro do país."

O principal problema do Brasil para os brasileiros é a morosidade do Judiciário, enquanto, para o estrangeiro, é a corrupção, diz Lygia. Já com relação à confiança, para o estrangeiro, é mais importante o retorno do investimento do que o arcabouço legal. Já para o brasileiro, o fator de confiança é a estabilidade econômica e o controle da inflação.

Um ponto importante na pesquisa de Lygia é que, depois do controle da inflação, o principal fator de confiança dos investidores locais é o crescimento econômico. Somente em terceiro lugar aparece a segurança jurídica, que deveria ser justamente o que garantiria o cumprimento das regras dos mercados. A explicação de Lygia é que, apesar de não ser citada, a segurança jurídica aparece subliminarmente. "Os reguladores também afirmaram que os fatores econômicos vêm antes na definição da confiança", diz.

O fundamento do trabalho de Lygia é que, apesar de toda a base racional dos investimentos, tudo está lastreado na confiança. "Se não confia na contraparte, ou o banco exige tanta garantia que torna a operação inviável ou nem faz." Confiança, admite ela, pode ser um tema abstrato, mas está presente no dia a dia de todos. "Um empresário tem de confiar em seus funcionários, senão a empresa não funciona, pois não há como fiscalizar todos o tempo todo", diz.

Ao mesmo tempo, sabe-se que reconquistar a confiança é um processo muito mais complexo do que criá-la. "Por isso resolvi trabalhar com essa variável no campo do investimento", afirma.

De acordo com ela, a primeira observação é que aumentar a regulamentação é a primeira medida para tentar recuperar a confiança abalada entre os agentes econômicos. Um exemplo disso é a lei americana Sarbanes-Oxley depois do caso da quebra fraudulenta da empresa de energia Enron em 2001. E que se repete hoje com a tentativa do governo americano de reforçar a fiscalização sobre os bancos e os derivativos depois da crise de 2008.

Segundo Lygia, apesar de a questão da confiança ser tratada por muitos grandes gestores internacionais de recursos como derivada de fatores técnicos, há uma questão afetiva e que envolve a psicologia do investidor. "Recorri a dois autores, os israelenses Daniel Kahneman e Amos Tversky, e sua ciência cognitiva, as escolhas irracionais humanas, para explicar como se dá a criação da confiança", explica.

Os estudos dos dois autores, que renderam a Kahneman o Prêmio Nobel de Economia de 2002, conseguiram convencer os economistas mais ortodoxos de que nem sempre a racionalidade é que comanda as decisões.

Ela dá os exemplos também de outros autores como Kenneth Arrow, que classifica que os países mais atrasados do mundo são os que apresentam maior falta de confiança de seus agentes. Cita também o ex-presidente do Fed, o banco central americano, Alan Greenspan, que se surpreendeu ao analisar os mercados dos EUA e concluir que todas as transações são feitas por necessidades espontâneas dos agentes e muitas delas são acordos verbais que depois são registrados oficialmente. Dessa forma, a confiança seria o maior valor de uma empresa.

Um exemplo de como essa confiança pesa no mercado é novamente o caso Enron. A descoberta das irregularidades em uma das maiores empresas do mercado americano abalou não só a confiança nas empresas, como também nas auditorias em geral e no mercado.

O que Lygia tenta mostrar é como a confiança entra na questão dos erros dos investidores, usando as teorias de Kahneman e da irracionalidade na hora da tomada das discussões. E como isso leva um investidor a confiar em determinado mercado e não em outro. O que fica claro é que, se um país perde a confiança dos investidores, ele demora a recuperá-la, mesmo que os fatores que tenham levado ao problema já tenham sido eliminados. Foi assim com o Brasil na década de 90 após a crise da dívida externa.

Isso é reforçado pelo fato de todos os investidores internacionais olharem apenas duas ou três fontes de informações, em geral grandes bancos ou agências de rating. Isso tudo acentua movimentos de manada como os que ocorreram na época das crises dos mercados emergentes nos anos 90 e mais recentemente em 2008. "O medo das perdas faz os investidores tomarem decisões rápidas e acompanhando o mercado", diz.

Lygia chama a atenção para o fato de que os investidores usam as mesmas palavras para definir a confiança, tanto na China quanto no Brasil. Uma das razões para isso é o efeito da imprensa como formadora de opinião e fonte das probabilidades de ocorrência de problemas.

Por isso, as pessoas usam exemplos de confiança dados pela imprensa para basear suas opiniões. "Hoje a confiança não é vista como uma questão técnica pelos investidores, assim como a transparência também não era há alguns anos", diz Lygia.

A proposta de Lygia é tentar criar um sistema para analisar os fatores que influenciam a confiança e usar isso como política pública, corrigindo os fatores que possam distorcer a imagem do país lá fora ou internamente.


Fonte: Angelo Pavini -Valor Econômico -21/06/2011

20 abril 2011

Conselhos de adminstração têm efeito manada

Por Pedro Correia



Muita gente prefere errar junta do que se arriscar a estar certa sozinha. Esse comportamento humano pode ser visto em vários vídeos no YouTube. Num deles, cinco pessoas estão numa sala, sendo uma “cobaia” e quatro atores. Quando os atores dão a mesma resposta errada para uma pergunta, o indivíduo testado até se mostra contrariado, mas costuma errar junto com os demais. Se um dos atores dá a resposta certa, aquele que é testado se sente confortável para acertar e contrariar os demais.

Segundo o professor Alexandre Di Miceli, esse tipo de comportamento pode se repetir em conselhos de administração, assim como o de obediência a um líder.

Isso pode ser verificado, segundo ele, no teste de Milgram. No experimento, pessoas comuns são requisitadas a acionar uma máquina que dá choques em outro indivíduo – no caso um ator – quando ele erra em um teste de memória. A intensidade do choque aumenta a cada erro. Orientadas por um cientista – também ator – cerca de dois terços das pessoas são capazes de dar choques letais no outro, apenas por confiarem no “especialista”.


Fonte: Catherine Vieira e Fernando Torres, Valor Economico


10 abril 2011

Fractais e Análise gráfica

Por Pedro Correia

"...Em meados de 2005, passei a considerar fortemente a possibilidade de uma ruptura no mercado imobiliário americano, o que poderia gerar uma crise de confiança e afetar as bolsas de valores negativamente. Com receio do que pudesse vir a ocorrer, adicionado ao estigma que muitos me imputam de ser um “pessimista de carteirinha”, procurei estudar teses que pudessem justificar comportamentos de “manada” dos mercados, sobretudo para os momentos de pânico, quando a hipótese de Fama pouco funcionaria. Foi quando descobri a teoria das finanças fractais[1].


De forma resumida, essa teoria contrapõe-se à hipótese de mercado eficiente, ao advogar a tese de que os preços e a experiência passada influem de forma decisiva o comportamento do investidor hoje, exercendo influência também sobre as expectativas futuras. Outro ponto importante a se ressaltar diz respeito ao horizonte temporal do investidor, o que influencia na liquidez. Alguns “operam” com viés de curtíssimo prazo, outros a médio prazo, enquanto os institucionais objetivam mais o longo prazo (cada qual com um interesse distinto). Assim sendo, não teremos necessariamente os preços negociando aos seus valores justos, sem contar que a liquidez, nos momentos de crise sistêmica, “seca”, derrubando os preços de forma dramática.


Sob essa ótica não seria errôneo considerar que a análise gráfica incorpora conceitos dos fractais. Ao tentar antecipar os movimentos de alta ou baixa das cotações, o analista gráfico avalia comportamentos passados (inclusive sob aspectos psicológicos) que tendem a se replicar, através de linhas de tendências, suportes, resistências, que “desenham” figuras geométricas, como triângulos, retângulos, cunhas, ombro-cabeçaombro e tantas mais. Muitos investidores, sobretudo os mais jovens, vêm investindo em cursos de análise técnica para aumentar sua eficiência no mercado..."




[1]Definição do ramo da matemática criado por Mandelbrot :"A geometria fractal é o ramo da matemática que estuda as propriedades e comportamento dos fractais. Descreve muitas situações que não podem ser explicadas facilmente pela geometria clássica". Recentemente foi lançado um livro intitulado:“Finanças e Mercado de Capitais. Mercados fractais: a nova fronteira das finanças.


Aqui mais postagens sobre os fractais e seu criador: o genial Mandelbrot.

30 maio 2009

Efeito Manada

Folha de São Paulo - 6/5/2009
PAULO RABELLO DE CASTRO
O retorno da bolha

A euforia, desta vez, é alimentada pelos bancos centrais com uma quantidade
sem precedentes de moeda

O SISTEMA de crédito norte-americano ainda vai precisar de uma grande faxina
de ativos desvalorizados antes de se ouvirem as trombetas da recuperação
global. O anúncio da concordata da Chrysler desmancha a profecia das
autoridades e dos diversos porta-vozes do setor financeiro de que o balanço
de lucros e perdas da crise já teria virado o "cabo da boa esperança".

Os grandes bancos americanos terão que contabilizar enormes perdas
adicionais decorrentes da transformação dos seus empréstimos às montadoras
GM e Chrysler em partes acionárias. Mas é possível também que, fora dos seus
balanços, os bancos problemáticos carreguem mais alguns bilhões em operações
de troca de riscos (ou "swaps") de crédito, tendo que arcar com o pagamento
integral de dívidas asseguradas, independentemente de as montadoras poderem
ou não saldar os valores originalmente devidos.

Se isso se confirmar, mais socorro do governo americano aos bancos por meio
do Tarp ("Troubled Asset Relief Program") vai se tornar indispensável. Desde
o início da crise, cerca de US$ 2,7 trilhões (cerca de 20% do PIB) já foram
despendidos pelo governo em operações de socorro ou estímulo.

Na absoluta contramão, os mercados de renda variável continuaram a emitir
sinais de euforia cada vez mais acentuados nas últimas semanas e dias. A
alta generalizada das Bolsas e das cotações em março, abril e nestes
primeiros dias de maio (no Brasil, isso ocorre desde o fim de 2008) é
interpretada por muitos como um sintoma inequívoco da virada, não só de
humor dos investidores como da próxima retomada de compras pelos
consumidores, mesmo nos países hoje mais afetados pela retração
generalizada. Está mais para retorno da bolha.

A leitura alternativa é que essa recuperação recente das cotações de Bolsa
de Valores e de commodities, especialmente petróleo e soja, foge aos padrões
esperados de oferta e demanda, para se localizar, de novo, como no ano
passado, na mesma febre especulativa que enfeitiçou os especuladores com
delírios de ganhos extraordinários. E por que essa nova bolha acontece? A
explicação ainda é a mesma que a de 2007 e a de 2008, só que a euforia,
desta vez, é alimentada pelas autoridades monetárias dos principais países
com uma quantidade sem precedentes de moeda, emitida para financiar as
operações de socorro. Sem risco imediato de inflação, o Fed dos EUA, os
bancos centrais da China e Japão, os bancos da Inglaterra e da Europa
passaram a utilizar o expediente das emissões sem lastro como recurso de
última instância para financiar as intervenções de ajuda dos seus governos
ao setor financeiro, às empresas em apuros e às agências hipotecárias insolventes.

A enorme liquidez adicional, neste primeiro momento, contorna o mercado de
empréstimos a empresas, de cujos riscos de crédito os bancos estão fugindo,
para se alojar no circuito mais líquido da compra e venda de ativos.
Constitui atrativo permanente a especulação compradora em mercados de
valores e commodities que permitem a entrada e a saída a qualquer momento,
embora extremante voláteis. São esses movimentos de acomodação da enorme
massa monetária adicional que, afinal, conduzem a estímulos altistas nas
Bolsas, como temos visto.

Mesmo um não especialista desconfiaria de que o apelo desesperado à injeção
de liquidez encontrará, mais à frente, empresas e indivíduos ainda mais
debilitados para prosseguir na rolagem de seus débitos. Mas, até lá, é uma
festa dos comprados.


Enviado por Camila MAchado. Grato.

06 maio 2009

Efeito Manada

BC tenta conter efeito manada no câmbio
Folha de São Paulo - 6/5/2009
SHEILA D'AMORIM

(...) Segundo a Folha apurou, a forte atuação do BC no mercado de câmbio ontem teve dois objetivos. O primeiro foi tentar conter um efeito manada no mercado, que se traduz em aumento das apostas a favor do real e que poderia fazer a cotação cair abaixo do R$ 2,10, alimentando ainda mais o movimento de baixa do dólar.

O outro foi aproveitar a oferta de dólares e, com a compra de cerca de US$ 3,4 bilhões, neutralizar contratos de venda no valor de US$ 3,3 bilhões que o BC assumiu no auge da crise internacional e que vencerão no início de junho.

Segundo o comunicado de ontem, o BC "decidiu fazer leilão de swap reverso [contratos especiais de câmbio, veja quadro nesta página] agindo em função de alterações nas condições de fluxo prevalecentes no mercado nas última semanas". (...)


Tenho dúvidas se esta situação representa efetivamente um efeito manada. Acho que se trata de especulação.

22 janeiro 2009

Efeito propriedade e o Comportamento em situações críticas

O efeito propriedade refere-se ao fato de valorizarmos mais o que possuímos. Um estudo parece sugerir que tocar num produto na prateleira pode criar uma vontade de pagar mais por ele. As pessoas sentem proprietários de um determinado item antes de comprá-lo. O estudo da Ohio State parece indicar que o efeito propriedade funciona 30 segundos antes do primeiro toque no objeto. (Via Marginal Revolution )

Outro texto interessante trata do Titanic e a tentativa de estabelecer uma regra que determina quem sobreviveu ao desastre:

Este texto explora os determinantes da sobrevivência em situações de vida ou morte criadas por um choque externo e não previsto. Nós estamos interessados em verificar se um comportamento social em situações extremas. Nós focalizamos o afundamento do RMS Titanic como um experimento quase-natural para ter evidencia do comportamento que é raro em um evento controle e de ameaça de vida. Os resultados empíricos mostram que normas sociais tais como “mulheres e crianças” sobrevivem em tais ambientes. Nós também observamos que mulheres em idades reprodutivas possuem maior probabilidade de sobrevivência entre as mulheres. Por outro lado, nós observamos que membros da tripulação usam sua vantagem de informação e seu melhor acesso a recursos (isto é, botes de salva-vidas) para gerar uma maior probabilidade de sobrevivência.

Fonte: Marginal Revolution

15 outubro 2008

Efeito manada

O efeito manada é uma das pesquisas realizadas em finanças comportamentais. As pessoas agem conforme o que é feito pela manada.

Este viés ajuda a explicar o comportamento das pessoas em situações de crise. Uma forma de entender este efeito é através desta fotografia que encontrei na internet.

A fotografia mostra as pessoas num campo de futebol reagindo da mesma forma.

25 agosto 2008

Efeito manada

Muito do que está acontecendo é uma função do que economistas chamam de "herding." Em condições de incerteza, os seres humanos, tal como outros animais, junta-se ao rebanho. Em instabilidade dos mercados, esta tendência conduz ao seguinte: quando um comprar, outros compram; vender, outros vendem. (...)

Em primeiro lugar, os gestores de fundos oferece garantias que o seu desempenho, quer seja bom ou ruim, não irá divergir demasiado do normal. (...) É por isso que, quando uma ação começa a subir, os comerciantes muitas vezes assumem que deve haver uma boa razão, e, por isso, comprar a fim de não perder a festa. (...) E esta situação foi agravada pela propagação do quantitativo(...). Estas estratégias podem ampliar as tendências em vez de as combater.

James Surowiecki, That Uncertain Feeling, New Yorker

16 abril 2008

Finanças Comportamentais: artigo


O jornal Valor Econômico traz hoje um artigo de Andre Delben Silva onde se comenta, resumidamente, alguns dos problemas existentes no processo decisório. Apesar do autor não usar o termo "finanças comportamentais" (ou algo próximo), os aspectos abordados são provenientes de pesquisas da área.

O ser humano é muito menos racional do que nos faz crer as teorias tradicionais de finanças. A experiência tem mostrado que, no mercado financeiro, as decisões dos investidores, das mais simples às mais complexas, nem sempre seguem a racionalidade. No processo de julgamento, é muito comum esses investidores serem afetados por questões psicológicas, que pode levar a um comportamento equivocado no mundo dos investimentos, como as principais que são abordadas a seguir:

- Excesso de confiança e otimismo: Ocorrem quando as pessoas se classificam como acima da média e acham que os outros irão julgá-las melhores do que são realmente. Excesso de confiança sugere que o investidor superestima a habilidade de prever eventos futuros. Na prática, a grande maioria dos investidores não pode estar acima da média.

- Aposta errônea: Quando se trata de probabilidades, a falta de conhecimento pode levar a conclusões erradas. Considere uma série de 20 moedas que, quando jogadas, caíram todas com o lado "cara" virado para cima. Numa aposta errônea, pode-se pensar que é mais provável que a próxima moeda caia com o lado "coroa" virado para cima. Essa linha de raciocínio representa uma compreensão inexata de probabilidade, porque a chance de uma moeda não viciada cair com o lado "cara" para cima é sempre de 50%.

- Ancoragem: Daniel Kahneman e Amos Tversky (1974), conduziram estudo no qual uma roda com números de 1 a 100 seria girada. Os candidatos eram questionados se a porcentagem de países africanos membros das Nações Unidas era maior ou menor do que o número dado na roda. Em seguida os candidatos deveriam fazer uma estimativa atual desse valor. Tversky e Kahneman descobriram que esse valor apresentado na roda mostrou grande influência sobre as respostas dadas pelos candidatos. Por exemplo, quando a roda parou no número 10, a estimativa média dada pelos candidatos foi de 25%. Porém, quando parou no 60, a estimativa média foi de 45%.

- Contabilidade mental: É a tendência que as pessoas têm de separar seu patrimônio em partes com finalidades individuais. Existem casos de pessoas que têm uma poupança para os filhos e que usam o limite do cheque especial. Outras tratam o dinheiro da restituição do imposto de renda como se fosse um prêmio e reservam o valor para um gasto especial. Uma maneira de evitar o mau uso da contabilidade mental é sempre lembrar que o patrimônio, incluindo ativos e passivos, deve ser analisado de forma única.

- Tendência ao exagero e disponibilidade: Uma conseqüência de envolver emoções no mercado financeiro é a tendência ao exagero ante uma nova informação. Boas notícias devem aumentar o preço do ativo, e este não deve cair se nenhuma nova informação for dada. Às vezes, participantes do mercado financeiro criam um efeito de supervalorização do ativo. Segundo a teoria da disponibilidade, as pessoas tendem a dar maior peso às informações mais recentes para uma tomada de decisão. Por exemplo, imagine um acidente de carro que acaba de acontecer num trecho de rodovia de uso diário. É possível que, pelas próximas semanas, você dirigirá com mais cautela pela rodovia. Presenciar o acidente o induziu a tendência ao exagero, porém, em pouco tempo você voltará aos seus hábitos normais.

- Efeito Manada: Eventos no mercado financeiro, como o estouro da bolha da internet, continuam a acontecer dado o efeito manada, que é a tendência do indivíduo em imitar as ações de um grupo maior. Temos a necessidade de agir em conformidade com o grupo onde estamos inseridos. Errar em companhia da maioria é menos estressante. Já conviver com as conseqüências de um erro em virtude de um posicionamento oposto ao do grupo é um constrangimento que a maioria evita.

- Viés de confirmação: No mundo dos investimentos, esse viés sugere que é mais provável que o investidor busque informações que confirmem sua idéia inicial a respeito de um investimento em vez de fatos que contradigam sua opinião. Como conseqüência, isso pode resultar em um processo de decisão errado, dado o conjunto incompleto de informações disponíveis.Viés de retrospecto: Psicólogos atribuem esse viés a nossa necessidade inata de encontrar ordem no mundo por meio de explicações que nos levem a acreditar que os eventos são previsíveis. Muitas pessoas acham, agora, que os sinais da bolha de internet eram óbvios. Se a formação de uma bolha fosse óbvia na época, ela nunca teria existido, pois os investidores teriam medo de comprar à medida que os preços subiam.


Questões psicológicas afetam comportamento do investidor
Valor Econômico - 16/4/2008
Andre Delben Silva

14 fevereiro 2008

Efeito manada

Em momentos de crise, a questão da racionalidade (e o contraponto das finanças comportamentais) são utéis para entender o que aconteceu. Estudar efeito manada e como os indivíduos são levados para uma situação de excesso de otimismo é importante e ajuda a entender o que ocorreu. O artigo a seguir mostra um pouco desta visão:

O contágio do passado na decisão de aplicação
Aquiles Mosca
Valor Econômico - 13/02/2008

"Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura". Apesar de simples, a frase de alerta que acompanha os prospectos dos investimentos parece lutar em vão contra ao menos três tendências comportamentais. Para a maioria dos investidores, uma aplicação, independentemente de seu risco, parece mais atraente quanto maior o retorno apresentado no passado recente, a despeito de qualquer aviso que o regulador determine obrigatoriamente.

Estudos indicam que as expectativas que formamos em qualquer situação que exija avaliação em condição de incerteza são, em grande parte, uma extrapolação do que foi observado no passado recente. Isso vale para circunstâncias que envolvam um futuro incerto, como previsão do tempo ou a performance de aplicações.

Bange (2000) demonstra em um estudo para a Associação Americana de Investidores Individuais que não apenas o aplicador extrapola para o futuro a performance passada, mas também há a tendência de aumentar a parcela de sua carteira em ativos que tiveram retornos atraentes no passado. Assim, quanto mais o mercado sobe (como visto no Brasil entre 2003 e 2007), mais os investidores ficam otimistas com a performance esperada das aplicações de risco, aumentando ao mesmo tempo sua exposição em tais mercados. Em um cenário de baixa (como o atual), observamos o efeito inverso. Ao portar-se de tal forma, o aplicador acaba executando para a carteira o inverso do que é recomendado, isto é, compra ativos que estão em alta (compra caro) e vende os que estão em queda (vende barato).

O investidor que se comporta dessa maneira é denominado "momentum investor", ou aquele que crê, conscientemente ou não, na continuidade dos movimentos do mercado. Há também os chamados "contrarian investors", que crêem na reversão das tendências.

Estudo da Universidade de Yale (Dhar e Kumar 2001) buscou identificar qual grupo é predominante, usando uma amostra de 41 mil investidores do mercado de ações americano. Fica claro no estudo que a performance observada entre uma semana e três meses é o principal fator que atua na tomada de decisão. O número de investidores que age no sentido oposto à tendência corrente é 25% inferior ao dos que se deixam levar pela tendência observada. O estudo foi repetido em mercados emergentes e revelou a mesma conclusão, mostrando que o efeito "momentum" é mais significativo em ativos com performance extrema, como no mercado acionário.

Observando os dados relativos a investimentos de pessoas físicas no mercado de fundos de ações no Brasil em 2007, temos forte evidência do fator "momentum" nas decisões dos investidores. Por exemplo, as aplicações em fundos Vale, que em média renderam 84% em 2007, ante 44% do Ibovespa, lideraram o fluxo de investimentos em fundos de renda variável no ano passado, totalizando 50% do total investido em fundos de ações nesse ano. Em contrapartida, a média dos fundos de ações após três meses de performance negativa, entre novembro e janeiro, passou a sofrer saques líquidos. Não por coincidência, no mesmo período os fundos DI, seguros e em terreno positivo, voltaram pela primeira vez em 12 meses a receber ingressos líquidos.

Observamos em momentos como o atual uma tendência dos agentes de inferir que a realização observada ontem tende a continuar. Basta ler nos jornais a avaliação de analistas para confirmar esse fenômeno. Isso equivale a prever o futuro com base no passado, a chamada "representatividade" na teoria financeira comportamental. Esse fator é acentuado pela ampla divulgação na mídia dos estragos sofridos pelo mercado. Tal disseminação recebe o nome de "saliência" na teoria comportamental e refere-se à grande disponibilidade de informação relativa a um fato e ao peso que essas informações, salientes para o investidor, têm na formação de expectativas e na tomada de decisão, sendo o principal combustível do efeito contágio.

O componente final que define o comportamento do investidor refere-se à necessidade que os agentes têm de agir em conformidade com o grupo. Se todos estão vendendo, também tendemos a vender e vice-versa. Afinal, errar em companhia da maioria é menos desgastante. Esse é o principal combustível do efeito manada, que tende a acentuar o efeito contágio e a magnificar a amplitude de variação dos preços, realimentando o processo e definindo a direção do fluxo de recursos para os ativos.

Ante essas tendências, alertar o investidor que "rentabilidade passada não garante rentabilidade futura" é tão útil quanto dizer a uma criança com um chocolate que comer doce antes da refeição estraga o apetite. O pai cumpre com seu dever de zelar pela nutrição, a criança come o doce de qualquer jeito e, se der dor de barriga, o pai pode dizer com toda autoridade: "Eu bem que avisei!"

Enviado por Ricardo Viana

01 fevereiro 2008

Otimismo dos analistas

Crise no mercado traz a necessidade de buscar os culpados. A atenção se volta para os analistas, que são acusados de serem otimistas demais ou de se deixarem enganar por um clima de festa (veja sobre o efeito manada aqui) .

Um artigo de Rodolfo Cirne Amstalden (Por trás das projeções para resultados corporativos, pode haver muito viés) comenta a questão da existência de viés na projeção dos analistas (aqui). Destaco aqui, os três motivos para o otimismo dos analistas:

• Fomentando o trade
A renda dos analistas está intimamente associada à quantidade de operações que suas estimativas fomentam para as corretoras. Como há muito mais trade gerado por posições compradas que por vendidas, faz sentido estimular a entrada no mercado.
• Interesses institucionais
As divisões internas em um banco de investimentos não são tão eficientes quanto sustentam os códigos de ética. Assim, uma recomendação positiva por parte da equipe de análise freqüentemente ajuda a área comercial nos negócios com a empresa coberta.
• Insider
Ter postura otimista frente a resultados corporativos é um passo importante para ficar próximo da diretoria da empresa e obter informações privilegiadas.



P.S. Agradeço a Ricardo Viana, que chamou a atenção para este artigo

Crise e Finanças Comportamentais

Em tempos de crise, explicações são necessárias. Como isto pode ocorrer? A visão tradicional de finanças, baseada no comportamento racional do investidor, não ajuda muito a explicar os problemas do mercado de capitais. Voltamos para as Finanças Comportamentais, com seus conceitos de framing, aversão à perda e, principalmente, efeito manada.

Num artigo publicado no Valor Econômico de 23/1/2008 (O problema é que os investidores só querem boas notícias), Vera Rita Ferreira usa estes conceitos para comentar sobre a crise. Sobre o efeito manada, a psicanalista afirma:

Oscilações importantes do mercado são terreno fértil para a eclosão do conhecido comportamento de manada. Somos dotados de um profundo sentido de desamparo e, como tentativa (vã) de nos afastarmos desse sentimento, buscamos refúgio na companhia de nossos pares. O problema é fazermos isso independentemente da direção que tomarem e mesmo quando contrária ao que acreditamos ser a melhor alternativa. Identificar essa sensação de solidão ativa, medos e fantasmas mais profundos pode ser o primeiro antídoto ao impulso de juntar-se à multidão, para que seja possível, então, usar a própria cabeça para decidir o que é melhor naquele caso. Por outro lado, há de se ficar alerta com relação à atração pelo comportamento oposto, de auto-confiança excessiva, de acreditar que tudo sabe e tudo pode. Se olharmos com cuidado, veremos que, ainda que possam levar sinais opostos, ambas são manifestações da mesma dificuldade para tolerar a própria fragilidade, e podem sinalizar necessidade de assessoria técnica para serem enfrentadas.

Não deixa de ser uma interpretação interessante para a situação atual. Um outro artigo, da InterPress Service, de 30/01/2008, Adid Aslam (Explicação sobe ciclo de penúrias financeiras que afligem a economia mundial) usa novamente o termo efeito manada para tentar entender a crise:

As acentuadas altas e baixas dos mercados são com freqüência atribuídas ao "instinto de manada" dos operadores, que compram ou se desfazem em massa de um determinado bônus ou ação.

Mas a análise de Aslam também mostra o aspecto político da crise, onde a mudança nas normas encorajou que o sistema financeiro assumisse riscos desnecessários. Para Aslam, as questão das normas incentivou o aumento de “artimanhas do setor financeiro”. Ele completa afirmando:

O empurrão final ocorreu em 1998-1998, quando as companhias financeiras, seguradoras e imobiliárias investiram em lobby outros US$ 200 milhões e contribuíram com US$ 150 milhões adicionais com os fundos de campanha de diversos legisladores, muitos deles membros das comissões de Finanças das duas câmaras do Congresso.
O então secretário do Tesouro, Robert Rubin, deu a luz verde do governo do ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) para revogar a Lei de Bancos de 1933. Poucos dias depois Rubin anunciou que deixava a vida pública para voltar atividade privada, para trabalhar no Citigroup, o maior banco do mundo, junto com Sanford Weill, que havia lançado a ofensiva final contra a lei "anacrônica".


P.S. Agradeço a Ricardo Viana por enviar o artigo do Valor Econômico.