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12 setembro 2022

SEC e a regulação das criptomoedas


Enquanto a regulação de criptomoedas caminha a passos largos em todo o mundo, o presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) demonstra uma postura ofensiva contra aqueles que não seguirem as regras.

Segundo Gary Gensler, a maioria dos criptoativos atualmente representa um valor mobiliário e, por isso, as empresas envolvidas com o setor nos EUA devem se registrar com a SEC. Caso contrário, elas enfrentarão problemas com a Justiça do país, de acordo com o presidente da SEC. Empresas como a Ripple já enfrentam processos por parte da “CVM dos EUA” por conta do mesmo motivo.

“Existem muitas plataformas que estão em operação hoje que seriam mais engajadas e, em vez disso, há um pouco de… implorar por perdão em vez de pedir permissão”, afirmou Gensler.

Atualmente, uma série de projetos de lei tramitam nos Estados Unidos para regular o setor de criptomoedas. A maioria usa a abordagem de que a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities deveria ser o órgão responsável, ao contrário da visão de Gary Gensler, da SEC.

Por isso, Gensler acredita que a aprovação de uma lei só funcionará caso “não prejudique inadvertidamente as leis de valores mobiliários subjacentes aos mercados de capitais de US$ 100 trilhões”. Em outras palavras, ele quer garantir que a SEC não perca nenhum poder no processo.

Nesta quinta-feira, em entrevista ao Financial Times, Gensler disse que qualquer legislação de regulamentação de criptomoedas deve ser feita de forma a manter a supervisão da SEC de “security tokens”, ou seja, criptoativos que se caracterizam como valores mobiliários. Para ele, estes seriam a maioria no mercado atualmente.

Além disso, o presidente da SEC acredita que ainda que as plataformas de finanças descentralizadas (DeFi) representem desafios para os órgãos reguladores, eles “seriam capazes de exercer autoridade até mesmo sobre plataformas supostamente descentralizadas”, já que, para ele, plataformas DeFi têm “um nível razoável de centralização”, citando mecanismos de governança, modelos de taxas e sistemas de incentivo.

“Com cerca de US$ 2 trilhões de valor em todo o mundo, está no nível e na natureza de que, se tiver alguma relevância daqui a cinco ou dez anos, será dentro de uma estrutura de política pública. A história apenas lhe diz que não dura muito lá fora. Finanças é sobre confiança, em última análise”, afirmou Gary Gensler.

No último mês, Gensler chegou a escrever uma carta à senadora Elizabeth Warren pedindo ao Congresso americano que fornecesse mais financiamento e desse aos reguladores “autoridade plenária para escrever regras e anexar proteções ao comércio e empréstimo de criptomoedas”.

Grifo meu. Veja a questão do poder. Fonte: Exame. Foto: Kanchanara

Mechanical Turk e o problema do p-hacking

Na postagem sobre p-hacking e o viés da publicação, onde mostramos uma pesquisa que verificou se procedimentos de registro de análise prévia poderia resolver este problema, a boa notícia é que um dos procedimentos, o PAP, pode ser uma possível resposta para a questão. Lembrando que p-hacking é a tendência a forçar um resultado que torna a pesquisa com mais chance de ser publicada ou de ser citada. E o viés da publicação é o fato de que editores e pareceristas de periódicos terem uma preferência prévia por certos resultados, afetando a decisão de aceite de um artigo. 

Em um exemplo, é mais "publicável" um estudo que afirma que um alimento pode ajudar a reduzir uma doença do que outra pesquisa que diz não existir nenhuma relação. A nossa postagem mostrou que fazendo fazendo um registro prévio das hipóteses e da forma como a questão será abordada na pesquisa pode ajudar a resolver o p-hacking e o viés da publicação. 

Três dos quatro autores do estudo que descrevemos na postagem analisaram também o Mechanical Turk. Para quem não conhece, é uma ferramenta de propriedade da Amazon que tem sido muita usada em pesquisas em diversas áreas. Sua grande vantagem é permitir que uma pesquisa seja realizada com um universo de respondentes demograficamente mais diverso, sendo possível obter grandes amostras com baixo custo. 

Analisando os estudos publicados entre 2010 e 2020, os autores constataram que a amostra dos estudos é relativamente baixa (média de 249 respondentes). Em uma das notas de rodapé da pesquisa há um caso interessante de um estudo realizado em 2013 em que cinco anos depois o líder não se lembrava de nada do experimento com 956 participantes. Isto seria um sinal de que o MTurk apresenta um baixo custo de oportunidade: se a pesquisa tivesse sido presencial, você iria lembrar de algo, já que seu custo de aplicação é elevado. 

O resultado final é que pesquisas que usam o MTurk possuem p-hacking, viés de publicação e confiança excessiva nos resultados. O próprio comportamento da comunidade de responde pode afetar o resultado. 

Eis o abstract:

Amazon Mechanical Turk is a very widely-used tool in business and economics research, but how trustworthy are results from well-published studies that use it? Analyzing the universe of hypotheses tested on the platform and published in leading journals between 2010 and 2020 we find evidence of widespread p-hacking, publication bias and over-reliance on results from plausibly under-powered studies. Even ignoring questions arising from the characteristics and behaviors of study recruits, the conduct of the research community itself erode substantially the credibility of these studies’ conclusions. The extent of the problems vary across the business, economics, management and marketing research fields (with marketing especially afflicted). The problems are not getting better over time and are much more prevalent than in a comparison set of non-online experiments. We explore correlates of increased credibility

Eis um gráfico que diz tudo sobre o MTurk:

Esta é a curva dos resultados da estatística Z. A curva deveria está em formato decrescente - caso as pesquisas não tivessem problemas. 

(Uma curiosidade: o MTurk tem este nome em homenagem da Edgar Allan Poe. Na sua época, apareceu uma máquina que jogava xadrez, um robô, representado por um turco. Poe é do século XIX, então esta máquina era um truque. O escritor relata como a "maquina" funcionava)

Cidade holandesa proíbe anúncio de carne

Será uma nova tendência? A proibição vai além da carne, mas nunca tinha visto algo parecido: 


A cidade holandesa de Haarlem, a cerca de 32 quilômetros de Amsterdã, está dando um passo controverso para combater o impacto climático da carne, proibindo anúncios que a promovam em espaços públicos. A mudança, a primeira do mundo, começaria em 2024. Outras cidades da Holanda, incluindo Amsterdã, já tinha proibido as companhias aéreas e outras empresas dependentes de combustíveis fósseis de colocarem anúncios nos ônibus, abrigos e telas da cidade.

Naturalmente, nem todo mundo está feliz com a decisão, de acordo com BBC News:

A moção elaborada por GroenLinks - um partido político verde - enfrentou oposição do setor de carnes e alguns que dizem que isso sufoca a liberdade de expressão ..

"As autoridades estão indo longe demais para dizer às pessoas o que é melhor para elas", disse um porta-voz da Organização Central para o Setor de Carne.

O partido de direita do BVNL chamou de "violação inaceitável da liberdade empresarial" e disse que "seria fatal para os criadores de porcos".

"Proibir comerciais de motivos politicamente nascidos é quase ditatorial", disse Joey Rademaker, vereador do Haarlem BVNL.

Ziggy Klazes, vereador do GroenLinks, disse à publicação holandesa Trouw, "A carne é igualmente prejudicial ao meio ambiente. Não podemos dizer às pessoas que há uma crise climática e incentivá-las a comprar produtos que fazem parte da causa."

EY separa a auditoria da consultoria

Os sócios da EY aprovaram nesta quinta-feira, 8, um plano para separar os negócios de auditoria e consultoria.


A decisão, que deve ser votada por mais de 13 mil parceiros, reformularia o setor de contabilidade da EY, e segue um verão de atrasos e divergências internas sobre as operações.

A EY pretende abrir o capital de seu braço de consultoria no final do próximo ano.

A empresa, presente em mais de 150 países e com 312 mil funcionários, faz parte das chamadas "Big Four", o grupo que reúne as quatro maiores consultorias do mundo, junto com Deloitte, KPMG e PwC.

A decisão de separar as operações teria sido aprovada por unanimidade pelos sócios.

Divisão dos negócios da EY vai permitir crescer mais rapidamente, evitando conflitos de interesse Segundo o presidente global da EY, a decisão de separar as operações teria sido tomada na base da ideia que os ramos de auditoria e consultoria podem crescer mais rapidamente à medida que negócios separados não sejam limitados por conflitos de interesse que impedem para seus consultores de trabalhar com clientes de auditoria.

Para o executivo, essa divisão das operações "vai mudar o setor", dando aos clientes “mais opções”.

A EY audita gigantes do Vale do Silício, incluindo Amazon (AMZO34) e Alphabet (GOGL34), controladora do Google. Isso limita sua capacidade de competir na área de consultores que se unem a gigantes da tecnologia para vender serviços terceirizados para empresas.

De acordo com o plano, as atividades de consultoria da EY, que têm receitas de cerca de US$ 18 bilhões, permaneceriam na estrutura de parceria existente.

Uma divisão de consultoria maior e separada seria transformada em uma empresa independente, e cerca de 15% do capital seria colocado no mercado, por um valor estimado em US$ 11 bilhões.

O plano da EY pressupõe um crescimento agressivo da receita em ambos os negócios – até 7% na auditoria e 18% na consultoria.

Fonte: Exame. Duas observações:

(1) O plano precisa ser aprovado pelos reguladores de vários países. 

(2) A nova empresa terá que enfrentar não somente três concorrentes, mas gigantes do setor de consultoria, como Accenture (divisão da Anderson em 2001), Bain, BCG e outras, conforme lembra Jim Petersen

Foto: Will Francis

Rir é o melhor remédio

 

Como funciona o coração de um cão

11 setembro 2022

Sem imposto de herança

 

Enquanto os plebeus pagam 40% de imposto de herança, os bens da rainha serão transferidos para Carlos III (ou Charles III, como querem os brasileiros) sem a taxação. Será verdade isto? 

Exemplo de professoras mulheres


Veja que interessante: professoras mulheres servem de exemplo para estudantes mulheres. Certamente temos exemplos para contar, mas uma pesquisa, usando dados do passado, constatou isto. Eis o resumo:

It is widely believed that female students benefit from being taught by female teachers, particularly when those teachers serve as counter-stereotypical role models. We study education in rural areas of the US circa 1940–a setting in which there were few professional female exemplars other than teachers–and find that female students were more successful when their primary-school teachers were disproportionately female. Impacts are lifelong: female students taught by female teachers were more likely to move up the educational ladder by completing high school and attending college, and had higher lifetime family income and increased longevity.

Via aqui. Foto: ThisisEngineering RAEng

IFRS para as pequenas empresas

 

Sobre a atualização da norma de contabilidade, emitida pela Fundação IFRS, para as Pequenas e Médias empresas:

O International Accounting Standards Board apresentou propostas de atualização para a IFRS for SMEs accounting standard quinta-feira, para refletir melhorias recentes nas Normas Internacionais de Relato Financeiro para pequenas e médias entidades.

As propostas do IASB incluem a atualização dos princípios padrão atuais para alinhar-se (1) aos da Conceptual Framework for Financial Reporting emitida em 2018, que visava estabelecer conceitos fundamentais de relatórios financeiros para apoiar o conselho no desenvolvimento do IFRS. O papel da estrutura é fornecer informações precisas aos investidores, credores e credores enquanto implementa um precedente padrão, para que transações semelhantes sejam sempre tratadas da mesma maneira. Os novos padrões também são definidos para seguir requisitos simplificados com base em IFRS 13 Fair Value Measurement e IFRS 15 Revenue from Contracts with Customers. O IFRS para PMEs fornece um conjunto simplificado de padrões que pequenas e médias empresas privadas podem usar sem lidar com as regras complexas exigidas pelas empresas de capital aberto (2).

IASB e Fundação IFRS Foundation em Londres

"O IFRS para o Padrão Contábil para PMEs foi desenvolvido a partir dos princípios e requisitos das Normas Contábeis IFRS completas, mas simplificado levando em consideração as diferentes necessidades dos usuários e reduzindo o custo e a complexidade dos preparadores" disse o presidente do IASB, Andreas Barckow, em um comunicado.

(1) Isto é interessante, pois a Estrutura Conceitual está subordinada aos pronunciamentos. Assim, não é necessário atualizar a norma somente por conta deste fato.

(2) O texto assume que as normas IFRS são para empresas de capital aberto. Há uma confusão aqui. 

Rir é o melhor remédio

 

Como formar preço. Uma lição de economia. Via aqui

10 setembro 2022

A existência de trapaça no xadrez

Nesta semana, o mundo do xadrez teve um grande assunto: o abandono do atual campeão Magnus Carlsen em um torneio que estava sendo disputado em Saint Louis, no dia seguinte a sua derrota para um jovem enxadrista. É a primeira vez que Carlsen abandona um torneio, ele que é conhecido por sequer deixar de lado partidas que seriam empatadas.

Ao comunicar sua decisão nas redes sociais, Carlsen colocou um link para um vídeo do técnico de futebol português José Mourinho, dando a entender que ocorreu algum tipo de trapaça no jogo onde foi derrotado. Os comentários dos fãs reforçaram a ideia de que tinha ocorrido algum problema no jogo. O adversário, Hans Moke Niemann, tem 19 anos e confessou que trapaceou em jogos online de xadrez quando era mais jovem.

Um dos maiores jogadores atuais, Nakamura, fez um comentário no seu site de que provavelmente ocorreu algo estranho no jogo. Alguns outros jogadores entenderam que a derrota de Carlsen seria algo natural e que não ocorreu nenhum tipo de trapaça.

Nos dias seguintes ao abandono de Carlsen, o torneio reforçou as medidas de segurança. Era possível notar que na chegada dos jogadores ao local do torneio a revista por detectores era mais demorada.

Trapaça no Xadrez - É estranho falar em trapaça em um jogo onde as informações estão disponíveis para ambos os jogadores. Mas isto faz parte da história. Nos anos trinta, em uma disputa pelo título de campeão mundial, um dos jogadores tinha uma inclinação para a bebida. Conta a lenda que alguns amigos do adversário induziram o acesso à bebida e isto terminou por prejudicar seu desempenho na disputa.

No final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta, o candidato a disputa ao título era decidido em um torneio onde os principais jogadores jogavam entre si. Como a antiga União Soviética tinha bons jogadores, as partidas entre eles eram rápidas e o resultado, afirma-se, decidido conforme o interesse os dirigentes. Se um jogador soviético estava disputando as primeiras posições e jogava contra outro jogador soviético, em uma posição menos favorável, a partida era curta, com resultado favorável ao primeiro. Na rodada seguinte, mais descansado, este jogador tinha mais chance contra seus adversários.

O esquema funcionou até que jovem Bob Fisher fez uma denúncia e disse que só disputaria o título se a forma de escolha do candidato que desafiaria o campeão mudasse. Fisher conseguiu a mudança do critério. Fisher provou sua qualidade, vencendo dois dos maiores jogadores da época: 12 vitórias em 12 partidas.

Durante os anos setenta, no confronto entre Karpov, então campeão mundial, e o dissidente Korchnoi, este acusou o soviético de usar um hipnotizador na plateia. Isto estaria atrapalhando o desempenho de Korchnoi. Como o enxadrista conhecia os truques usados pela União Soviética, incluindo a combinação de resultados e outras acusações, a história parece ter um fundo de verdade.

Nos tempos atuais temos diversas formas de trapaça. Uma delas é criar torneios arranjados, ou até mesmo falsos, para que uma pessoa, que contratou os serviços, possa ter um desempenho suficiente para ele obter o título de Grande Mestre ou Mestre Internacional. Outra é usar aparelhos eletrônicos. Um enxadrista foi pego no banheiro com um celular, consultando um software sobre sua melhor jogada. E não podemos descartar a possibilidade de alguma forma de comunicação entre o jogador e alguém externo, que repassaria as melhores jogadas a serem realizadas. E, finalmente, não podemos descartar resultados arranjados entre jogadores.

Ocorreu Trapaça? - O jogo entre Carlsen e Neumann tem alguns aspectos curiosos. Geralmente a organização de um grande torneio convida alguns dos melhores jogadores do mundo. No caso de Saint Louis, foram dez dos melhores. Estão jogando, além de Carlsen, o primeiro do mundo, o terceiro, quarto, quinto, sexto, oitavo e nono do mundo. Completam os melhores o 12o. E o 16o. Do mundo. Também é comum convidar uma jovem promessa local. Neumann tinha um rating de 2687 antes do torneio e era o 51o. Do mundo. Uma posição respeitável, mas há outros jovens mais promissores: Fiorouja, com 2780 de rating e quarto lugar no mundo, está no torneio. Ereigsi (Índia, 19 anos, 2728), Gukesh (Índia, 2726, 16 anos), Abdusattorov (Uzbequistão, 2713, 17 anos) e Keymar (Alemanha, 2712,8, 17 anos). Mas Neumann é da casa e isto pode justificar o convite.

Uma das características de Magnus Carlsen é fazer a preparação de abertura “fora do livro”. Mesmo que a posição não seja a melhor para ele, sua preferência é causar desconforto no adversário. Quando a partida vai para o meio jogo ou final, Carlsen, com sua habilidade, consegue reverter o jogo. Um ponto que depõe a favor daqueles que acreditam ter acontecido algo estranho é o fato de que Neumann confessou que tinha estudado a abertura escolhida por Carlsen no dia. Pareceu muito coincidência.

Outro ponto é o fato de Neumann não ser muito bom em xadrez com uma menor quantidade de tempo. Seu rating em rápido é 2529, ou 272o. No mundo, e seu rating no xadrez blitz é 2672 ou 72o lugar no mundo. Apesar do jogo ter sido no xadrez tradicional, com tempo para reflexão, a posição no xadrez jogado com menor tempo é importante para casos de apuros no tempo.

A lembrança que Neumann trapaceou no passado é controversa. Estamos aqui analisando a seguinte questão: o trapaceiro do passado terá mais propensão a trapacear no futuro? Se você responde que sim, então a desconfiança faz sentido. Se você acredita que um jovem pode mudar seu comportamento com o passar do tempo, então não faz sentido voltar no tempo. Caso acredite que dependerá dos benefícios, podemos dizer que a vitória de Neumann, se não fosse contestada, teria um elevado valor, seja em termos da premiação, ou em termos da quantidade de pontos que obteria no rating. A partir, para Neumann, significou 7,3 pontos e fez o jovem romper a barreira dos 2700 de rating.

O passado também ajuda a questionar o que ocorreu. Sua evolução nos últimos meses foi fantástica o que também tornar a posição de Neumann mais duvidosa.

Logo após o torneio, Neumann deu uma entrevista dizendo que Carlsen perdeu para um idiota. Bem deselegante. Alguns acham que isto, na verdade, foi o motivo de Carlsen sair do torneio.

A favor de Neumann há vários pontos. Os jogadores do torneio passaram por uma revista na sua chegada, o que dificulta a transmissão de opiniões para os jogadores durante o jogo. Como então Neumann poderia trapacear? Além disto, a segurança ficou maior após o que ocorreu e Neumann, após o ocorrido, conseguiu três empates, contra jogadores mais fortes, e uma derrota. Isto reforça a posição de Neumann.

Ainda não é possível afirmar com segurança o que ocorreu no jogo. Mas diante de todo este contexto, eu arriscaria a dizer que algo de estranho ocorreu na partida. Talvez não a comunicação via aparelho de comunicação, mas a venda da análise por parte de alguém da equipe de Carlsen. É um grande palpite meu.

Trabalho em casa no mundo com pandemia

Uma pesquisa com quase 30 mil pessoas, em 27 países do mundo, incluindo o Brasil, mostrou a mudança ocorrida no mundo com a pandemia. O trabalho em caso parece ser uma nova realidade, onde em média as pessoas trabalham 1,5 dia por semana (1,7 para o Brasil). Há também uma diferença entre o número de dias oferecido pelo empregador para o trabalho em casa (0,8 dia para o Brasil) para o número desejado pelo empregado (2,3 também para o Brasil), indicando uma diferença grande. 

Entre os países da amostra, o Brasil foi o segundo em mortes por habitantes durante a pandemia. 

Eis o resumo:

The pandemic triggered a large, lasting shift to work from home (WFH). To study this shift, we survey full-time workers who finished primary school in 27 countries as of mid 2021 and early 2022. Our cross-country comparisons control for age, gender, education, and industry and treat the U.S. mean as the baseline. We find, first, that WFH averages 1.5 days per week in our sample, ranging widely across countries. Second, employers plan an average of 0.7 WFH days per week after the pandemic, but workers want 1.7 days. Third, employees value the option to WFH 2-3 days per week at 5 percent of pay, on average, with higher valuations for women, people with children and those with longer commutes. Fourth, most employees were favorably surprised by their WFH productivity during the pandemic. Fifth, looking across individuals, employer plans for WFH levels after the pandemic rise strongly with WFH productivity surprises during the pandemic. Sixth, looking across countries, planned WFH levels rise with the cumulative stringency of governmentmandated lockdowns during the pandemic. We draw on these results to explain the big shift to WFH and to consider some implications for workers, organization, cities, and the pace of innovation. 

Rir é o melhor remédio

 


09 setembro 2022

O valor do selo real


Encontrei uma notícia interessante:

Fornecedor real - De champanhes franceses a bebidas gaseificadas, passando por pequenos produtores britânicos, as marcas que abastecem a Coroa têm o privilégio de expor o brasão real em seus comércios. Uma grande honra e, sobretudo, um formidável argumento de venda para os escolhidos.

Eis um bom exemplo para discutir o valor da realeza. 

Os ativos da realeza britânica

A Inglaterra ainda lamentava a morte da rainha Elizabeth II enquanto saudou a ascensão de seu filho como rei Charles III. Por mais que os procedimentos formais do luto real e da coroação de um novo monarca estejam em destaque, também vale a pena examinar o estado da fortuna multibilionária dos Windsors, que agora mudará de mãos.

Em 2021, a Forbes estimou que o império da família real estava acumulado em US$ 28 bilhões (R$ 144 bilhõesm aproximadamente) , o que, na teoria, tornava os Windsors um dos dois clãs mais ricos da Grã-Bretanha. Entre suas propriedades está o Palácio de Buckingham (foto), assim como as joias da própria coroa que a rainha usava. Além disso, eles possuem escritórios, um importante campo de críquete em Londres e vastas extensões de terra, localizadas inclusive em áreas externas à ilha.

fonte: aqui. Foto: Hailey Wagner

O problema aqui é a liquidez e a falta de comerciabilidade. Não existe dúvida que um palácio, como o de Buckingham, tem um elevado valor histórico e hedônico. Mas como "contabilizar" isto? E a dinastia tem autorização de vendê-lo? (Acredito que não). 

Charles, Elisabeth e nosso blog - 1

Pesquisando o histórico das postagens do blog encontramos este recorte de jornal:



Uma coluna do jornal faz uma fofoca sobre o jovem Charles, herdeiro do trono inglês. Era 1966 e Charles realmente era um jovem. O texto diz que Charles era fraco em matemática. Conclui que “quem é pobre, não precisa se preocupar com matemática nem contabilidade; quem é rico, contrata um bom contador”.

Já em julho deste ano postamos que o príncipe Charles, que defende o ambiente, usa jatinho particular para não pegar trânsito:

Também postamos sobre o custo da monarquia (aqui a espanhola e aqui a britânica). Recentemente, o custo do casal William e Meghan

Rir é o melhor remédio

 

Do Chess Anarchy: rainha versus duas torres. Dois eventos em setembro, nos EUA e no RU

08 setembro 2022

Uma possível solução para o p-hacking e o viés da publicação

Um dos problemas da pesquisa científica publicada é a existência do p-hacking, ou seja, a manipulação e/ou a seleção de resultados com determinados valores estatísticos. Como o pesquisador sabe que certos resultados podem aumentar a chance de publicação da sua pesquisa, há uma escolha ou uma tentativa de forçar certos resultados.

Suponha uma pesquisa sobre a relação entre o anúncio de resultados contábeis afetando o preço das ações. E considere também que os resultados serão mais aceitos caso tenha a comprovação da relação. Haverá uma tendência do pesquisador em forçar a apresentação dos resultados. Para o periódico, a publicação de uma pesquisa com esta relação será mais interessante, pois pode aumentar o número de pessoas que irá ler o trabalho e o número de outros pesquisadores que irão citá-lo. Isto é o p-hacking e sua consequência é um viés de publicação dos resultados. 

Um forma de resolver este problema é exigir um registro prévio do método a ser empregado, antes de iniciar a pesquisa. Isto irá garantir que não exista mudança na técnica estatística usada, que é algo comum quando o pesquisador deseja encontrar certo resultado. Uma forma mais rigorosa ainda é garantir que hipótese será testada e como isto irá ocorrer; Isso deve ser feito antes da pesquisa começar e é chamada de análise prévia ou PAP em inglês. 

Como o p-hacking passou a ser discutido nas ciências, ambas as soluções (registro prévio e análise prévia do planejamento) tornaram-se desejáveis. 
O gráfico mostra que o registro prévio nos periódicos de economia estão crescendo substancialmente. E entre os periódicos mais relevantes isto parece ser uma regra básica. Os outros periódicos estão acompanhando a onda. 

Mas será que isto funciona? Já foram desenvolvidos testes para verificar a existência de p-hacking e do viés da publicação que ocorre. Agora, quatro pesquisadores analisaram quase 16 mil estudos, com ensaios aleatórios controlados (RCT em inglês) e se isto reduziu os dois problemas. 
 
Como o pré-registro e o PAP são procedimentos distintos, a pesquisa analisou ambos. O gráfico acima mostra a distribuição dos testes estatísticos para a primeira situação, ou seja, do pré-registro. Na verdade, o gráfico da esquerda é a pesquisa sem pré-registro e o gráfico da direito é com o pré-registro. Se você achou que os gráficos parecem iguais, sua impressão é correta. Será que isto muda com um maior rigor, ou seja, com o PAP? O resultado está abaixo:
Os dois gráficos podem parecer idênticos, mas quando os autores analisaram os testes para verificar a presença de p-hacking o resultado mostrou que são estatisticamente diferentes. 

Eis o resumo do artigo:

Randomized controlled trials (RCTs) are increasingly prominent in economics, with preregistration and pre-analysis plans (PAPs) promoted as important in ensuring the credibility of findings. We investigate whether these tools reduce the extent of p-hacking and publication bias by collecting and studying the universe of test statistics, 15,992 in total, from RCTs published in 15 leading economics journals from 2018 through 2021. In our primary analysis, we find no meaningful difference in the distribution of test statistics from pre-registered studies, compared to their non-pre-registered counterparts. However, preregisterd studies that have a complete PAP are significantly less p-hacked. This results point to the importance of PAPs, rather than pre-registration in itself, in ensuring credibility

07 setembro 2022

Abismo entre o valor de mercado no futebol

 

Os dados são do site Transfermarkt e o gráfico é do site Statista e mostra o valor de alguns times estarão em campo nesta semana, disputando a Champions League. Enquanto o City possui um valor de mercado estimado de 1 bilhão, o israelense Maccabi Haifa tem um valor de 22 milhões de euros. A discrepância é muito grande e os cinco clubes com menor valor de mercado não devem passar para próxima fase. Mas a participação agora no campeonato de futebol europeu já garante uma receita adicional substancial. 

06 setembro 2022

 Em "Com Tecnologia, Uber barrou Fiscalização" mostra como uma grande empresa pode colocar barreiras na fiscalização da autoridade local e o uso da tecnologia para esta finalidade.

O foco é a fiscalização européia contra o Uber em 2015. Alguns trechos:

Vinte minutos depois de as autoridades invadirem o escritório do Uber em Amsterdã, em abril de 2015, a tela do computador de Ligea Wells ficou misteriosamente em branco. A assistente executiva escreveu uma mensagem para o chefe avisando sobre mais um dos acontecimentos estranhos naquele dia já movimentado.

“Olá!”, digitou ela em mensagem que faz parte de uma coleção valiosa de mais de 124 mil registros do Uber não revelados antes. “Meu laptop desligou depois de se comportar de modo esquisito.”

(...) O então CEO do Uber, Travis Kalanick, tinha ordenado que o sistema de computadores em Amsterdã fosse desconectado da rede interna da empresa, tornando os dados inacessíveis às autoridades enquanto fiscalizavam a sede europeia, mostram documentos.


“Acione o botão de emergência o mais rápido possível, por favor”, pediu Kalanick por e-mail, ordenando que se desconectassem os laptops do escritório e outros dispositivos.

O Uber ter lançado mão do que pessoas do setor chamam de “kill switch” foi um exemplo claro de como a empresa empregava ferramentas tecnológicas para impedir que autoridades investigassem as práticas de negócios da empresa, enquanto ela prejudicava a indústria global de táxis, de acordo com os documentos.

Durante aquele período, como a avaliação de mercado do Uber ultrapassava os US$ 50 bilhões, inspeções do governo ocorriam com tanta frequência que a empresa distribuiu um manual para que os funcionários soubessem o que fazer quando acontecessem. O guia tinha 66 passos a serem seguidos, incluindo “levar as autoridades para uma sala de reuniões sem qualquer arquivo” e “nunca deixá-las sozinhas”.

Esse manual, assim como as trocas de mensagens de texto e e-mails relacionados àquela fiscalização em Amsterdã, fazem parte do “Uber Files”, um tesouro de 18,7 gigabytes de dados obtidos pelo jornal britânico Guardian e compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, um grupo de veículos de imprensa sem fins lucrativos que ajudou a liderar o projeto. Os arquivos, que abrangem o período de 2013 a 2017, incluem 83 mil e-mails, apresentações e mensagens.

Nos dias atuais, o Uber reconhece que fez isto. Mas joga a responsabilidade na gestão anterior.

Controvérsia no Custo Social do Carbono


O custo social do carbono (SCC) é o custo dos impactos gerados pela emissão de uma tonelada a mais de dióxido de carbono. Por sua definição trata-se de um custo marginal. O SCC leva em consideração não somente os efeitos mercantis quanto as consequências da emissão para o meio ambiente e a saúde humana.

A proposta de media o SCC é ter um parâmetro para os formuladores de política pública avaliarem o efeito no clima da emissão é justificado. Se o gestor público tem um projeto que irá produzir mil unidades monetárias de benefício social, mas emite 10 toneladas de carbono, deve multiplicar estas dez toneladas pelo SCC e confrontar com o benefício social geral. Como algumas estimativas consideram que o SCC tem um valor acima de 300 dólares por tonelada, o projeto não deve ser implementado, já que o custo para o ambiente ultrapassa o benefício social.

Um dos grandes desafios é mensurar o valor do SCC. Na metodologia é necessário considerar os impactos para a saúde humana, os danos causados pela emissão e o esforço necessário para reduzir este impacto. Isto é difícil, já que em muitos casos não temos um parâmetro, como o preço de mercado, para determinar os valores envolvidos nos cálculos. Mas não é somente isto. Como muitos efeitos são a longo prazo, é necessário trazer os montantes para valor presente no processo de comparação, o que exige uma taxa de desconto. Mais um complicador para a medição do SCC.

Mesmo a estimativa dos efeitos deve levar em consideração os vários cenários existentes, além de calcular as chances dos cenários ocorrerem. Em muitos modelos, a estimativa leva em consideração acordos que foram feitos pelos países em relação ao comportamento do aquecimento global no futuro. Vamos explicar isto. Se os países concordaram que a temperatura média da terra não deve aumentar mais que um grau Celsius, este deve ser o objetivo do modelo usado para o cálculo. Apesar de termos uma grande quantidade de informações sobre o clima, a complexidade é enorme.


Veja a questão da taxa de desconto. Se usarmos uma taxa de desconto próxima ao que é praticada com os títulos do governo, o valor final será diferente se utilizarmos uma taxa de desconto próxima aos títulos privados. Considere um exemplo de um projeto que irá gerar um custo anual para sociedade de $50 para as próximas décadas. Para simplificar, este valor é constante no tempo. Suponha que a taxa de retorno dos títulos públicos seja de 1%. É possível usar esta taxa, supondo que caso a questão ambiental seja um problema no futuro, deve ser resolvida pelo governo.

O valor de $50 pode ser trazido a valor presente, bastando dividir este valor pela taxa de 1% ou 0,01. Uma calculadora simples mostra que este valor é de $5.000. Este seria o custo do projeto deve ser considerado na decisão do governo.


Mas há controvérsia sobre a taxa de desconto. Alguns consideram que a taxa usada deve ser a do mercado. Afinal, um problema ambiental irá afetar a sociedade como um todo, o que inclui as empresas e os negócios. Esta é a posição de Nordhaus, um cientista conhecido por sua contribuição neste cálculo e que ganhou o prêmio Nobel em Economia. Se a taxa de desconto dos negócios estiver em 6%, eu devo usar este valor, não a taxa de 1%. Isto pode fazer diferença no resultado final. Usando este 6% ou 0,06, o valor presente do exemplo será de 833, bem menor que o valor anterior.

De qualquer forma, quando uma autoridade define o preço do carbono, este valor termina sendo usado neste tipo de cálculo. Esta autoridade pode ser um grupo de cientistas, uma organização que estuda o assunto ou mesmo o governo. O peso do governo é importante aqui, pois o próprio governo irá usar seus cálculos.

O problema é que cada estudo que é realizado tem um resultado diferente. E é normal que isto ocorra, pois variando as “entradas” do modelo e o modelo usado para cálculo teremos um resultado diferente.

Há um problema aqui, pois se subestimamos o valor do SCC, decisões de fazer certos projetos serão positivas, mesmo tem um elevado SCC real. Se superestimamos o SCC, projetos “bons” não serão implementados. Isto dá margem para que a discussão sobre o SCC seja também política. Veja a questão nos Estados Unidos. A discussão sobre o assunto começou ainda no governo Reagan. Mas o debate foi adiante quando, no governo Obama, a administração usou um “consenso” para fazer uma estimativa de US$38 para 2015, com valores crescentes ao longo do ano. Com a mudança da administração, o governo Trump passou a usar uma estimativa entre US$1 a US$7 em 2020. A nova alteração na presidência provocou uma nova mudança, retomando a metodologia anterior. Isto corresponde a US$51 nos dias atuais.

O fato do SCC ter valores incertos não ajuda. Em alguns países, como aqueles da Comunidade Europeia, o SCC não é mais usado. Mas mesmo nos Estados Unidos, que utiliza o SCC, o valor tem sido questionado. Um estudo recente, publicado na Nature, estimou que o valor correto seria de US$185 por tonelada, mais de três vezes o valor usado atualmente pelo governo dos Estados Unidos. Isto significa que naquele país projetos “ruins” estão sendo aprovados.

O assustador no estudo acima é que o principal fator do custo social do carbono é a estimativa de mortes relacionadas com as mudanças do clima. Metade do valor teria esta origem. Este trabalho enfatiza, inclusive, que a estimativa feita é conservadora, pois não levou em consideração a perda de biodiversidade, a redução de produtividade no trabalho, o aumento nos conflitos, a violência e a migração relacionada com o clima.

Sobre o assunto:

Pontecorvo, Emily. The Most Influential Calculation in US Climate Policy is Way off Study Finds. Grist

Social Cost of Carbon. Wikipedia.

Rennert, Kevin; Errickson, Frank; Prest, Brian C.; Rennels, Lisa; et al. (1 September 2022). "Comprehensive Evidence Implies a Higher Social Cost of CO2". Nature. doi:10.1038/s41586-022-05224-9

Neste blog: aqui, aqui (uma crítica ao risco financeiro climático) e aqui (uma reportagem de 2006 do Valor)

Foto: veeterzy