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09 setembro 2022

O valor do selo real


Encontrei uma notícia interessante:

Fornecedor real - De champanhes franceses a bebidas gaseificadas, passando por pequenos produtores britânicos, as marcas que abastecem a Coroa têm o privilégio de expor o brasão real em seus comércios. Uma grande honra e, sobretudo, um formidável argumento de venda para os escolhidos.

Eis um bom exemplo para discutir o valor da realeza. 

Os ativos da realeza britânica

A Inglaterra ainda lamentava a morte da rainha Elizabeth II enquanto saudou a ascensão de seu filho como rei Charles III. Por mais que os procedimentos formais do luto real e da coroação de um novo monarca estejam em destaque, também vale a pena examinar o estado da fortuna multibilionária dos Windsors, que agora mudará de mãos.

Em 2021, a Forbes estimou que o império da família real estava acumulado em US$ 28 bilhões (R$ 144 bilhõesm aproximadamente) , o que, na teoria, tornava os Windsors um dos dois clãs mais ricos da Grã-Bretanha. Entre suas propriedades está o Palácio de Buckingham (foto), assim como as joias da própria coroa que a rainha usava. Além disso, eles possuem escritórios, um importante campo de críquete em Londres e vastas extensões de terra, localizadas inclusive em áreas externas à ilha.

fonte: aqui. Foto: Hailey Wagner

O problema aqui é a liquidez e a falta de comerciabilidade. Não existe dúvida que um palácio, como o de Buckingham, tem um elevado valor histórico e hedônico. Mas como "contabilizar" isto? E a dinastia tem autorização de vendê-lo? (Acredito que não). 

Charles, Elisabeth e nosso blog - 1

Pesquisando o histórico das postagens do blog encontramos este recorte de jornal:



Uma coluna do jornal faz uma fofoca sobre o jovem Charles, herdeiro do trono inglês. Era 1966 e Charles realmente era um jovem. O texto diz que Charles era fraco em matemática. Conclui que “quem é pobre, não precisa se preocupar com matemática nem contabilidade; quem é rico, contrata um bom contador”.

Já em julho deste ano postamos que o príncipe Charles, que defende o ambiente, usa jatinho particular para não pegar trânsito:

Também postamos sobre o custo da monarquia (aqui a espanhola e aqui a britânica). Recentemente, o custo do casal William e Meghan

Rir é o melhor remédio

 

Do Chess Anarchy: rainha versus duas torres. Dois eventos em setembro, nos EUA e no RU

08 setembro 2022

Uma possível solução para o p-hacking e o viés da publicação

Um dos problemas da pesquisa científica publicada é a existência do p-hacking, ou seja, a manipulação e/ou a seleção de resultados com determinados valores estatísticos. Como o pesquisador sabe que certos resultados podem aumentar a chance de publicação da sua pesquisa, há uma escolha ou uma tentativa de forçar certos resultados.

Suponha uma pesquisa sobre a relação entre o anúncio de resultados contábeis afetando o preço das ações. E considere também que os resultados serão mais aceitos caso tenha a comprovação da relação. Haverá uma tendência do pesquisador em forçar a apresentação dos resultados. Para o periódico, a publicação de uma pesquisa com esta relação será mais interessante, pois pode aumentar o número de pessoas que irá ler o trabalho e o número de outros pesquisadores que irão citá-lo. Isto é o p-hacking e sua consequência é um viés de publicação dos resultados. 

Um forma de resolver este problema é exigir um registro prévio do método a ser empregado, antes de iniciar a pesquisa. Isto irá garantir que não exista mudança na técnica estatística usada, que é algo comum quando o pesquisador deseja encontrar certo resultado. Uma forma mais rigorosa ainda é garantir que hipótese será testada e como isto irá ocorrer; Isso deve ser feito antes da pesquisa começar e é chamada de análise prévia ou PAP em inglês. 

Como o p-hacking passou a ser discutido nas ciências, ambas as soluções (registro prévio e análise prévia do planejamento) tornaram-se desejáveis. 
O gráfico mostra que o registro prévio nos periódicos de economia estão crescendo substancialmente. E entre os periódicos mais relevantes isto parece ser uma regra básica. Os outros periódicos estão acompanhando a onda. 

Mas será que isto funciona? Já foram desenvolvidos testes para verificar a existência de p-hacking e do viés da publicação que ocorre. Agora, quatro pesquisadores analisaram quase 16 mil estudos, com ensaios aleatórios controlados (RCT em inglês) e se isto reduziu os dois problemas. 
 
Como o pré-registro e o PAP são procedimentos distintos, a pesquisa analisou ambos. O gráfico acima mostra a distribuição dos testes estatísticos para a primeira situação, ou seja, do pré-registro. Na verdade, o gráfico da esquerda é a pesquisa sem pré-registro e o gráfico da direito é com o pré-registro. Se você achou que os gráficos parecem iguais, sua impressão é correta. Será que isto muda com um maior rigor, ou seja, com o PAP? O resultado está abaixo:
Os dois gráficos podem parecer idênticos, mas quando os autores analisaram os testes para verificar a presença de p-hacking o resultado mostrou que são estatisticamente diferentes. 

Eis o resumo do artigo:

Randomized controlled trials (RCTs) are increasingly prominent in economics, with preregistration and pre-analysis plans (PAPs) promoted as important in ensuring the credibility of findings. We investigate whether these tools reduce the extent of p-hacking and publication bias by collecting and studying the universe of test statistics, 15,992 in total, from RCTs published in 15 leading economics journals from 2018 through 2021. In our primary analysis, we find no meaningful difference in the distribution of test statistics from pre-registered studies, compared to their non-pre-registered counterparts. However, preregisterd studies that have a complete PAP are significantly less p-hacked. This results point to the importance of PAPs, rather than pre-registration in itself, in ensuring credibility

07 setembro 2022

Abismo entre o valor de mercado no futebol

 

Os dados são do site Transfermarkt e o gráfico é do site Statista e mostra o valor de alguns times estarão em campo nesta semana, disputando a Champions League. Enquanto o City possui um valor de mercado estimado de 1 bilhão, o israelense Maccabi Haifa tem um valor de 22 milhões de euros. A discrepância é muito grande e os cinco clubes com menor valor de mercado não devem passar para próxima fase. Mas a participação agora no campeonato de futebol europeu já garante uma receita adicional substancial. 

06 setembro 2022

 Em "Com Tecnologia, Uber barrou Fiscalização" mostra como uma grande empresa pode colocar barreiras na fiscalização da autoridade local e o uso da tecnologia para esta finalidade.

O foco é a fiscalização européia contra o Uber em 2015. Alguns trechos:

Vinte minutos depois de as autoridades invadirem o escritório do Uber em Amsterdã, em abril de 2015, a tela do computador de Ligea Wells ficou misteriosamente em branco. A assistente executiva escreveu uma mensagem para o chefe avisando sobre mais um dos acontecimentos estranhos naquele dia já movimentado.

“Olá!”, digitou ela em mensagem que faz parte de uma coleção valiosa de mais de 124 mil registros do Uber não revelados antes. “Meu laptop desligou depois de se comportar de modo esquisito.”

(...) O então CEO do Uber, Travis Kalanick, tinha ordenado que o sistema de computadores em Amsterdã fosse desconectado da rede interna da empresa, tornando os dados inacessíveis às autoridades enquanto fiscalizavam a sede europeia, mostram documentos.


“Acione o botão de emergência o mais rápido possível, por favor”, pediu Kalanick por e-mail, ordenando que se desconectassem os laptops do escritório e outros dispositivos.

O Uber ter lançado mão do que pessoas do setor chamam de “kill switch” foi um exemplo claro de como a empresa empregava ferramentas tecnológicas para impedir que autoridades investigassem as práticas de negócios da empresa, enquanto ela prejudicava a indústria global de táxis, de acordo com os documentos.

Durante aquele período, como a avaliação de mercado do Uber ultrapassava os US$ 50 bilhões, inspeções do governo ocorriam com tanta frequência que a empresa distribuiu um manual para que os funcionários soubessem o que fazer quando acontecessem. O guia tinha 66 passos a serem seguidos, incluindo “levar as autoridades para uma sala de reuniões sem qualquer arquivo” e “nunca deixá-las sozinhas”.

Esse manual, assim como as trocas de mensagens de texto e e-mails relacionados àquela fiscalização em Amsterdã, fazem parte do “Uber Files”, um tesouro de 18,7 gigabytes de dados obtidos pelo jornal britânico Guardian e compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, um grupo de veículos de imprensa sem fins lucrativos que ajudou a liderar o projeto. Os arquivos, que abrangem o período de 2013 a 2017, incluem 83 mil e-mails, apresentações e mensagens.

Nos dias atuais, o Uber reconhece que fez isto. Mas joga a responsabilidade na gestão anterior.

Controvérsia no Custo Social do Carbono


O custo social do carbono (SCC) é o custo dos impactos gerados pela emissão de uma tonelada a mais de dióxido de carbono. Por sua definição trata-se de um custo marginal. O SCC leva em consideração não somente os efeitos mercantis quanto as consequências da emissão para o meio ambiente e a saúde humana.

A proposta de media o SCC é ter um parâmetro para os formuladores de política pública avaliarem o efeito no clima da emissão é justificado. Se o gestor público tem um projeto que irá produzir mil unidades monetárias de benefício social, mas emite 10 toneladas de carbono, deve multiplicar estas dez toneladas pelo SCC e confrontar com o benefício social geral. Como algumas estimativas consideram que o SCC tem um valor acima de 300 dólares por tonelada, o projeto não deve ser implementado, já que o custo para o ambiente ultrapassa o benefício social.

Um dos grandes desafios é mensurar o valor do SCC. Na metodologia é necessário considerar os impactos para a saúde humana, os danos causados pela emissão e o esforço necessário para reduzir este impacto. Isto é difícil, já que em muitos casos não temos um parâmetro, como o preço de mercado, para determinar os valores envolvidos nos cálculos. Mas não é somente isto. Como muitos efeitos são a longo prazo, é necessário trazer os montantes para valor presente no processo de comparação, o que exige uma taxa de desconto. Mais um complicador para a medição do SCC.

Mesmo a estimativa dos efeitos deve levar em consideração os vários cenários existentes, além de calcular as chances dos cenários ocorrerem. Em muitos modelos, a estimativa leva em consideração acordos que foram feitos pelos países em relação ao comportamento do aquecimento global no futuro. Vamos explicar isto. Se os países concordaram que a temperatura média da terra não deve aumentar mais que um grau Celsius, este deve ser o objetivo do modelo usado para o cálculo. Apesar de termos uma grande quantidade de informações sobre o clima, a complexidade é enorme.


Veja a questão da taxa de desconto. Se usarmos uma taxa de desconto próxima ao que é praticada com os títulos do governo, o valor final será diferente se utilizarmos uma taxa de desconto próxima aos títulos privados. Considere um exemplo de um projeto que irá gerar um custo anual para sociedade de $50 para as próximas décadas. Para simplificar, este valor é constante no tempo. Suponha que a taxa de retorno dos títulos públicos seja de 1%. É possível usar esta taxa, supondo que caso a questão ambiental seja um problema no futuro, deve ser resolvida pelo governo.

O valor de $50 pode ser trazido a valor presente, bastando dividir este valor pela taxa de 1% ou 0,01. Uma calculadora simples mostra que este valor é de $5.000. Este seria o custo do projeto deve ser considerado na decisão do governo.


Mas há controvérsia sobre a taxa de desconto. Alguns consideram que a taxa usada deve ser a do mercado. Afinal, um problema ambiental irá afetar a sociedade como um todo, o que inclui as empresas e os negócios. Esta é a posição de Nordhaus, um cientista conhecido por sua contribuição neste cálculo e que ganhou o prêmio Nobel em Economia. Se a taxa de desconto dos negócios estiver em 6%, eu devo usar este valor, não a taxa de 1%. Isto pode fazer diferença no resultado final. Usando este 6% ou 0,06, o valor presente do exemplo será de 833, bem menor que o valor anterior.

De qualquer forma, quando uma autoridade define o preço do carbono, este valor termina sendo usado neste tipo de cálculo. Esta autoridade pode ser um grupo de cientistas, uma organização que estuda o assunto ou mesmo o governo. O peso do governo é importante aqui, pois o próprio governo irá usar seus cálculos.

O problema é que cada estudo que é realizado tem um resultado diferente. E é normal que isto ocorra, pois variando as “entradas” do modelo e o modelo usado para cálculo teremos um resultado diferente.

Há um problema aqui, pois se subestimamos o valor do SCC, decisões de fazer certos projetos serão positivas, mesmo tem um elevado SCC real. Se superestimamos o SCC, projetos “bons” não serão implementados. Isto dá margem para que a discussão sobre o SCC seja também política. Veja a questão nos Estados Unidos. A discussão sobre o assunto começou ainda no governo Reagan. Mas o debate foi adiante quando, no governo Obama, a administração usou um “consenso” para fazer uma estimativa de US$38 para 2015, com valores crescentes ao longo do ano. Com a mudança da administração, o governo Trump passou a usar uma estimativa entre US$1 a US$7 em 2020. A nova alteração na presidência provocou uma nova mudança, retomando a metodologia anterior. Isto corresponde a US$51 nos dias atuais.

O fato do SCC ter valores incertos não ajuda. Em alguns países, como aqueles da Comunidade Europeia, o SCC não é mais usado. Mas mesmo nos Estados Unidos, que utiliza o SCC, o valor tem sido questionado. Um estudo recente, publicado na Nature, estimou que o valor correto seria de US$185 por tonelada, mais de três vezes o valor usado atualmente pelo governo dos Estados Unidos. Isto significa que naquele país projetos “ruins” estão sendo aprovados.

O assustador no estudo acima é que o principal fator do custo social do carbono é a estimativa de mortes relacionadas com as mudanças do clima. Metade do valor teria esta origem. Este trabalho enfatiza, inclusive, que a estimativa feita é conservadora, pois não levou em consideração a perda de biodiversidade, a redução de produtividade no trabalho, o aumento nos conflitos, a violência e a migração relacionada com o clima.

Sobre o assunto:

Pontecorvo, Emily. The Most Influential Calculation in US Climate Policy is Way off Study Finds. Grist

Social Cost of Carbon. Wikipedia.

Rennert, Kevin; Errickson, Frank; Prest, Brian C.; Rennels, Lisa; et al. (1 September 2022). "Comprehensive Evidence Implies a Higher Social Cost of CO2". Nature. doi:10.1038/s41586-022-05224-9

Neste blog: aqui, aqui (uma crítica ao risco financeiro climático) e aqui (uma reportagem de 2006 do Valor)

Foto: veeterzy

Desonestidade ou Generosidade: não é tão simples

 


O ser humano é generoso, como parece indicar do jogo do ultimatum? Ou será egoísta, como observamos na realidade, quando somos desonestos? 

Um experimento com o jogo do ladrão chegou ao seguinte resultado interessante. Os participantes foram generosos com outras pessoas, como é possível ver na nossa realidade. Mas quando a decisão era realizada, podendo prejudicar um grupo de pessoas, a desonestidade apareceu. 

Quando roubamos de um grupo grande pessoas, a recompensa monetária é maior e o efeito, em termos de desigualdade, é menor. Somos generosos com o outro, mas gananciosos com o grupo. E parece que o valor envolvido é relevante. Eis a conclusão

Lo que nuestro experimento demuestra es que el comportamiento humano es complejo, y que ni somos egoístas sin escrúpulos ni angelitos de ojos verdes. Psicópatas aparte (que haberlos, “haylos”), pocos quieren hacer daño a los demás… pero si el beneficio propio es lo suficientemente grande, muchos de nosotros caeremos en la tentación, aunque nos hayamos jurado que no. Quizá no deberíamos sorprendernos si personas que no habían nunca roto un plato, sean políticos de altos ideales, emprendedores campechanos, o gente como nosotros, caen en la tentación al alcanzar ciertos niveles. Y quizá debiésemos asumir lo que somos y apostar más por instituciones sólidas con mecanismos de control transparentes, y menos por personas de sonrisa cálida, palabra ágil, o incluso currículum impecable. No es que no nos fiemos de ellos y ellas. Es que no nos fiamos de nosotros.

05 setembro 2022

Fraude contábil não é suficiente para manter chefão da Samsung na cadeia

Lee Jae-youg possui uma fortuna estimada em 11 bilhões de dólares. Apesar de ocupar formalmente o cargo de vice-presidente da Samsung Electronics, ele realmente quem comanda a empresa. Além de rico, Lee é poderoso, especialmente na Coréia do Sul. 


Tendo começado a trabalhar na empresa do seu pai, Kun-He, em 1991. Kun-He foi responsável por transformar a Samsung na empresa atual, mas em 1996 e 2008 foi condenado por corrupção e evasão tributária. Sua influência foi suficiente para obter o perdão em ambas as situações. 

Já seu filho, Lee Jae-youg, enfrentou problemas com a justiça coreana em 2017, quando o Ministério Público da Coréia do Sul acusou Lee de três crimes: suborno, peculato e perjúrio. As acusações contra Lee mostraram a influência dele no governo. A Coréia do Sul vivia uma onda de protestos contra sua presidente, Park Geun-hye, que terminou com seu impeachment. Estes protestos começaram em 2016; provavelmente as acusações contra Lee é uma das consequências do movimento popular. No caso de Lee, havia a acusação de suborno à Park Geun-hye e a uma amiga dela. 

Mesmo com as acusações, inicialmente a justiça coreana rejeitou a prisão. Mas logo a seguir, Lee foi preso, acusado de subornos de 38 milhões de dólares. Em troca do dinheiro, Park Geun-hye deveria apoiar a Samsung em um processo de fusão. A própria empresa admitiu ter feito contribuição para duas fundações em fins lucrativos controladas pela amiga da presidente Park Geun-hye. 

A opinião pública começou a pressionar contra os grandes grupos empresariais coreanos, denominados de chaebols. Em agosto de 2017, Lee foi condenado a cinco anos de prisão, mas alguns meses depois a sentença foi reduzida para dois anos e meio, tendo sua sentença sido suspensa. O resultado é que Lee foi solto depois de um ano de prisão. Em um novo julgamento, Lee foi condenado em janeiro de 2021 a dois anos e seis meses de prisão, sendo novamente preso. 

No mês passado, o atual presidente da Coréia perdoou Lee e argumentou que a Samsung era importante para economia (sic). 

O caso de Lee confirma a percepção popular que líderes empresariais são intocáveis e estão acima da lei. A maior fabricante de smartphones do mundo, marca global na área de eletrônicos, com atuação em diversos setores, a Samsung é muito importante para a Coréia do Sul. Mas chaebols significa redução da concorrência, restrição aos movimentos trabalhistas, suborno e corrupção. Quando os executivos são condenados, suas penas são reduzidas ou suspensas. O pai de Lee também foi condenado, mas não conheceu a prisão. 


Entre as acusações contra Lee, temos fraude contábil. Mas o perdão apaga o que ocorreu no passado. Conforme nota a BBC, apesar de existir uma concepção que os chaebols são importantes para a economia coreana, não existem provas concretas deste fato. Mais ainda, durante a fase que Lee estava afastado, na prisão, a empresa teve um bom desempenho. O mais curioso é que a aversão aos grandes grupos empresariais que existia há seis anos foi alterada: uma pesquisa mostrou que 70% das pessoas apoiavam o perdão. 

Foto: Daniel Bernard e Imdb

Museu Getty devolve estátuas para Itália e resolve um problema contábil

Um grupo de estátuas de terracota em tamanho real (foto abaixo) esta sendo devolvida para a Itália pelo museu Getty. O conjunto foi adquirido pelo J. Paul Getty, o milionário que fundou o museu com suas obras de artes, nos anos setenta. 

O museu teve como curador Jiri Frel, que recomendou a Getty, em 1976, a aquisição. Frel esteve envolvido em aquisição de itens de origem duvidosa ou retirados de vários países de forma ilegal. Este é o caso das estátuas. As esculturas foram produzidas entre 350 a 300 anos antes de Cristo, na colônia grega de Tarentum, atual Taranto, Itália.

Segundo o diretor do museu, via TheHistoryBlog, trata-se de um dos itens mais importantes da coleção do Getty. As estátuas foram compradas por 550 mil dólares, o que seria equivalente a 3 milhões nos dias atuais. Mas há uma estimativa que seu valor de mercado seria 8 milhões. 

Em termos contábeis, objetos de procedência duvidosa é um interessante desafio para o profissional. Em certa situações, a baixa liquidez pode comprometer sua mensuração. Mas existindo a possibilidade do museu perder seu acervo, uma vez comprovado que o objeto foi obtido por meio questionável, não deve constar como ativo. Recentemente a França devolveu inúmeros objetos que foram saqueados do Benin. Este caso é muito semelhante das estátuas do museu Getty.

Outros casos a chance de devolução talvez seja remota, seja pela falta de interesse de ter a obra de volta, ou pelo fato que não há registro fidedigno de quem é o verdadeiro dono, ou pelo fato que a devolução pode colocar em risco a obra, ou pela preciosidade da obra. Pense na pedra Roseta, que está no Museu Britânico. Este museu listou dez itens mais relevantes de sua coleção, sendo metade de origem duvidosa. 

A questão contábil inclui responder se o item roubado deve ser considerado um ativo; se deve estar reconhecido na contabilidade do museu que detém sua posse; e como mensurar. No caso do museu Getty, as estátuas serão devolvidas e estas questões já estão resolvidas. 




Empresas, investidores e contadores querem um alinhamento nas normas de sustentabilidade

No final de agosto, foi divulgado um documento redigido pelo Word Business Council for Sustainable Development (WBCSD), pelo Principles for Responsible Investment (PRI) e pelo Intenational Federation of Accountants (IFAC). A primeira entidade reúne executivos; a segunda, é uma rede de investidores, sob a coordenação da ONU. O IFAC é a entidade que congrega profissionais contábeis. Estas três entidades elaboraram um documento que foi assinado por 65 organizações, pedindo o alinhamento na regulação sobre sustentabilidade. 

A lista das 65 inclui empresas de auditoria (Big Four, BDO e GT), grupo de investidores e empresas. O termo da declaração pede que o ISSB, a SEC dos Estados Unidos e a Comunidade Européia possam evoluir nos relatórios com informações sobre a sustentabilidade. O texto deixa claro que os rascunhos atuais não são tecnicamente compatíveis em termos de conceitos, terminologias e métricas. 

Há uma solicitação que seja evitado a "fragmentação regulatória e de definição de padrões", com o alinhamento solicitado. 

Este é um documento interessante por várias razões. Inicialmente é importante destacar que o WBCSD tem uma elevada concentração de membros europeus. Mas a entidade já foi denunciada no passado, pelo Greenpace, por ser um dos principais atores responsáveis por impedir que as sociedades mundiais enfrentem as mudanças climáticas, sendo dominado por empresas de energia não renovável e poluidoras. Isto foi em 2011. 

Não reconheci nenhum participante brasileiro; como o Brasil faz parte do IFAC, talvez possamos dizer, forçando muito, que esta participação é indireta. 

Economia circular e custos

Sobre a economia circular, uma entrevista com o professor da USP, Aldo Roberto Ometto, tratou do assunto. Antes de prosseguir, a economia circular é um conceito relacionado com a sustentabilidade, assunto que se tornou relevante nos últimos tempos. O conceito do texto é que "representa uma dissociação do crescimento econômico do consumo de recursos. Para as empresas, significa conservar materiais, prolongar a vida útil de um produto por meio de reparo e reutilização e, por fim, reciclagem. Também inclui a melhoria da utilização por meio de novos modelos de negócios, como aqueles que oferecem produtos como serviço e plataformas de economia compartilhada." Realmente não é um bom conceito. 

Interessa particularmente o seguinte trecho:

Como você vê o avanço da economia circular no setor privado brasileiro?

O avanço da economia circular no setor privado no Brasil e no mundo se dá pelo avanço da visão da economia circular em relação aos valores que ela pode gerar. É uma mudança de mindset que já vem de algum tempo. O principal critério de decisão das empresas sempre esteve focado somente na redução de custos, e a economia circular traz uma visão mais ampla, sistêmica, que traz, além da redução do custo, que, claro, é importante, a busca por gerar mais valor por mais tempo de modo diversificado e mais amplo, o que traz principalmente maior resiliência para os negócios e a empresa.

Com essa visão de geração de mais valor, por mais tempo e de modo diversificado, para todos, para uma gama de atores mais amplo em relação aos modelos lineares [de produção], a economia circular começa a ganhar força e mostrar suas oportunidades de implementação e de ganhos. Isso começa a partir do momento que a economia circular deixa de ser vista apenas como algumas atividades operacionais, como a reciclagem, para uma mudança estratégica do modelo de negócio, no qual, na proposta de valor central se inclui as possibilidades de recuperação de recursos, de extensão da vida útil do produto, de produto como como serviço, de compartilhamentos, de virtualização, digitalização, desmaterialização. É quando se começa a se a visão do negócio, do valor que a economia circular pode gerar.

(grifo meu) Tenho dúvidas disso e a visão de geração de valor sempre esteve presente. A inovação parece surgir da consideração da cadeia de produção como um todo. 

Rir é o melhor remédio

 

Idade do Bronze. 

04 setembro 2022

CVM fiscalizando influenciadores financeiros do Twitter

A entidade que regula o mercado de capitais percebeu a importância das mídias sociais:  

Alguns usuários do Twitter foram notificados nesta quarta-feira (31) pela empresa de mídia social de que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitou os dados da conta deles, como parte de uma revisão da atuação de influenciadores digitais.

(...) A CVM confirmou o envio do ofício e disse que trata-se "de trabalho de supervisão temática", envolvendo atuação de influenciadores digitais nos mercados regulamentados pela autarquia.(...) 

A Reuters confirmou com pelo menos 10 perfis, a maioria dedicada a assuntos financeiros, o recebimento do e-mail.(...)

Escolhendo nomes para pesquisa

 Eis o resumo:

In recent decades, researchers have found compelling evidence of discrimination in the labor and housing market toward ethnic minorities based on field experiments using fictitious applications. However, these findings may be exaggerated as the names used for ethnic minorities in various experiments may have also signaled low socioeconomic class. Therefore, in this study, we perform a name categorization experiment in the United States that yields 56 names associated with six ethnicity groups, which signal different ethnicities and genders but similar social classes. These names should greatly improve the validity of future experiments on ethnic discrimination.

A tabela 1 mostra que alguns nomes possui um vínculo com cada grupo étnico. 

Isto me fez lembrar do seguinte artigo do Congresso da USP deste ano (dica de Fernanda Rodrigues):

Investigou-se, nesta pesquisa, se e como a mulher é citada em exemplos e exercícios do livro didático texto e de exercícios Contabilidade Introdutória, da Equipe de Professores da FEA/USP, usados como referência bibliográfica na disciplina Contabilidade Introdutória ou equivalente, nos cursos de graduação em Ciências Contábeis de universidades federais brasileiras, após confirmação, mediante consulta a projetos pedagógicos e fichas de disciplinas, de que este livro didático é o mais usado pelo curso de Ciências Contábeis. (...) Ao final, confirmou-se que em todos os exemplos e exercícios são citados nos enunciados apenas nomes e artigos masculinos, caracterizando sócios, proprietários, clientes, gerentes, fornecedores e empregados, em um total de 44 termos e expressões no livro texto e 143 termos e expressões no livro de exercícios. Nomes de mulheres apareceram em 11 vezes, sendo 6 vezes no livro texto e 5 vezes no livro de exercícios, mas apenas como denominações sociais das empresas, o que levou a entender que eles não representam a figura feminina, visto que no exemplo e exercício não é possível verificar se a empresa foi constituída por mulheres sócias ou acionistas. Confirmou-se, dessa forma, tanto a invisibilidade da figura feminina no livro didático mais usado como bibliografia básica na disciplina de Contabilidade Introdutória, quanto sua objetificação ao se usar nomes femininos para denominar nomes de empresas.

Para quem se interessar, o livro "Todo mundo mente" tem uma pesquisa interessante mostrando como o nome está associado a classe social. Geralmente nomes "criativos" são de pessoas oriundas de classe mais baixa. (Apesar da pesquisa ter sido feita nos EUA, creio ser aplicável para o Brasil)

Rir é o melhor remédio

 

Segurança em primeiro lugar

03 setembro 2022

Amor e ódio

 Estreou no Prime O Senhor dos Anéis. O Imdb, que é de propriedade da mesma empresa do Prime, a Amazon, registrava ontem a seguinte opinião sobre o filme:

É algo raro um programa despertar esta relação de paixão e ódio. Eram 27 mil votos e a ampla maioria estava dividida entre 10 e 1. 

Até memes acusando o site de deletar as opiniões contrárias:


A nota, de 6,1, parece refletir bem a discussão na rede sobre o assunto. Se está existindo manipulação, talvez só o tempo. Mas isto poderia desacreditar o site, o que não seria bom para a Amazon. 

EUA exigem acesso imediato a toda pesquisa com dinheiro do governo federal


Os Estados Unidos decidiram que toda pesquisa financiada pelo governo federal deverá ter seus resultados acessíveis. Atualmente é possível um atraso de um ano antes que a pesquisa seja publicada fora dos paywalls. Como o país é o maior financiador de pesquisa do mundo, a mudança, que será implementada até final de 2025, poderá ter um grande efeito para o Open Access (OA). 

As agências de financiamento estão desenvolvendo os protocolos nos próximos meses. A ideia é que não exista nenhum atraso ou barreira entre o financiador da pesquisa, o contribuinte, e os resultados. 

Anteriormente, a Europa estava liderando este movimento de OA. 

Obviamente, os periódicos pagos estarão buscando meios de manter seus negócios. A notícia publicada aqui tem sua origem na Nature, um periódico que tem acesso pago. Talvez estes periódicos concentrem na receita de bibliotecas. O setor parece passar por uma concentração, muito embora seja ainda pulverizado: três maiores periódicos publicaram 2% dos artigos. 

Em 2019, a Universidade da Califórnia bateu de frente com a Elsevier. Mas a questão de quem paga os artigos precisa ser considerada. 

Rir é o melhor remédio

 

Subtítulo: este conhece seus clientes