05 fevereiro 2022
04 fevereiro 2022
Facebook e o fracasso da sua criptomoeda
Há alguns meses, o Facebook anunciou com grande alarde a criação de uma moeda. Em parceria com algumas empresas com nome na área financeira, como Paypal e Visa, a empresa que possui uma grande participação nas redes sociais, parecia ser uma ameaça para os bancos tradicionais e os próprios bancos centrais.
Se o surgimento da moeda foi notícia, quase não se fala do seu fracasso. Um artigo do The Washington Post , de autoria de Elizabeth Dwoskin e Gerrit De Vynck, deixa claro que os problemas da moeda estão relacionados com conflitos internos e questões regulatórias:
Diem foi efetivamente condenado desde o início, disseram pessoas familiarizadas com o tema. Foi anunciado em 2019, com grande alarde, sob o nome de Libra. Os governos estrangeiros, os membros do legislativo e reguladores expressaram medos sobre o projeto de imediato, dizendo que o Facebook não estava preparado para resolver as preocupações com lavaem de dinheiro, proteção ao consumidor e outros riscos financeiros em potencial.
É bom lembrar que meses antes a empresa tinha sido um grande fracasso em controlar a manipulação da rede durante as eleições e existiam denúncias de venda de informações dos usuários para a Cambrigde Analitys. Afinal, como confiar um tema tão sensível à uma empresa com tão baixa credibilidade? Agora temos o seguinte:
Dois anos depois, após uma mudança de nome para Diem e uma revisão do projeto, para que fosse atrelado ao dólar dos Estados Unidos, criando mais estabilidade, [o projeto] enfrentou uma resistência maior dos reguladores, que disseram que a empresa agia de maneira arrogante.
Alguns chegam a dizer que a reputação e confiança condenaram o projeto desde o início. Diversos episódios fortaleceram esta análise, como o ataque ao Capitólio e monitoramento da rede em diversos países.
Foto: Kate Winegeart
Sobrepeso e corrupção
O uso inexplicável de uma tecnologia
Como o uso da tecnologia pode ter uma razão inexplicável. Eis um caso: Em 2018, a equipe do Facebook tinha um quebra-cabeça nas mãos. Os usuários cambojanos representavam quase 50% de todo o tráfego global da função de voz do Messenger, mas ninguém na empresa sabia o porquê, de acordo com documentos divulgados pela denunciante Frances Haugen.
Um funcionário sugeriu a realização de uma pesquisa, de acordo com documentos internos visualizados por Resto do mundo Tinha a ver com baixos níveis de alfabetização. eles se perguntaram? Em 2020, um estudo do Facebook tentou perguntar aos usuários em países com alto uso de áudio, mas só conseguiu encontrar um único entrevistado do Camboja, mostraram os mesmos documentos. O mistério, ao que parecia, permaneceu sem solução.
Surpreendentemente, a resposta tem menos a ver com o Facebook e mais com a complexidade da linguagem Khmer, e com a maneira como os usuários se adaptam a uma tecnologia que nunca foi projetada com eles em mente.
No Camboja, todos, desde motoristas de tuk-tuk até Primeiro Ministro Hun Sen prefere enviar notas de voz em vez de mensagens. O estudo do Facebook revelou que não eram apenas os cambojanos que favorecem as mensagens de voz - embora em nenhum outro lugar fosse mais popular. No estudo, que incluiu 30 usuários da República Dominicana, Senegal, Benin, Costa do Marfim e o único cambojano, 87% dos entrevistados disseram que usavam ferramentas de voz para enviar notas em um idioma diferente daquele definido em seus aplicativos. Isso aconteceu no WhatsApp - a plataforma mais popular entre os entrevistados - junto com o Messenger e o Telegram.
No caso do Camboja, nunca houve uma maneira fácil de digitar Khmer. Enquanto Khmer Unicode foi padronizado bastante cedo, entre 2006 e 2008, o próprio teclado ficou para trás. Os desenvolvedores do primeiro teclado de computador Khmer tiveram que acomodar os 74 caracteres do idioma, o máximo de qualquer script do mundo.
Fonte: aqui
Links
Emprego informal e seguro imperfeito no Brasil
Onde a criptomoeda é mais usada? (mapa acima)
Computação quântica tem futuro? - parece que não e isto pode estar retirando dinheiro de outras pesquisas
03 fevereiro 2022
Crime precisa ter um bom contador?
Usando dados da máfia italiana, a resposta é SIM. Eis o abstract:
We investigate if organized crime groups (OCG) are able to hire good accountants. We use data about criminal records to identify Italian accountants with connections to OCG. While the work accountants do for the OCG ecosystem is not observable, we can determine if OCG hire “good” accountants by assessing the overall quality of their work as external monitors of legal businesses. We find that firms serviced by accountants with OCG connections have higher quality audited financial statements compared to a control group of firms serviced by accountants with no OCG connections. The findings provide evidence OCG are able to hire good accountants, despite the downside risk of OCG associations. Results are robust to controls for self-selection, for other determinants of auditor expertise, direct connections of directors and shareholders to OCG, and corporate governance mechanisms that might influence auditor choice and audit quality.
Um exemplo de decisão empresarial ruim
As livrarias estão lotadas de obras descrevendo decisões sábias das empresas. Mas poucas obras analisam os erros. A vida empresarial é feita de muitos erros e poucos acertos. Mas os empresários de sucesso divulgam os "grandes" acertos, que muitas vezes é muito mais sorte do que uma decisão pensada e planejada.
Gosto muito do exemplo a seguir, da Yahoo, se bem que são várias decisões ruins. Vejamos
1998 - a Yahoo recusa comprar o Google por US$1 milhão
2002 - a Yahoo oferece comprar o Google por 3 bilhões, mas o Google queria 5 bilhões. A Yahoo recusou a oferta
2006 - Yahoo quer comprar o Facebook por 1,1 bilhão, mas seu CEO baixou a oferta para 800 milhões e o Facebook recusou
2008 - A Microsoft ofereceu comprar a Yahoo por 44,6 bilhões, mas a empresa recusou
2016 - A Verizon comprou a Yahoo por 4,6 bilhões.
Da mesma empresa, comprou Tumblr por 1,1 bilhão e vendeu por 3 milhões, seis anos depois.
Links
“Quase todos os sites estão presos em um sistema de capitalismo de vigilância, no qual roubam dados ou dependem de tecnologia que rouba dados." - sobre as razões dos principais meios de comunicação não lutarem pela regulamentação da publicidade de vigilância
02 fevereiro 2022
IPSASB propõe mudanças na EC do Setor Público
A entidade que emite normas para o setor público, o IPSASB, está propondo diversas alterações na Estrutura Conceitual. Parte das mudanças reflete as alterações ocorridas em 2018 na Estrutura do Iasb, na qual as normas do setor público são inspiradas.
A proposta ainda está na fase da minuta, mas podemos destacar aqui quatro alterações relevantes.
Prudência - O antigo termo conservadorismo sempre foi marcado por polêmica e a mudança de nome, para prudência, não eliminou os problemas. Há uma acusação que o excesso de prudência pode descaracterizar a mensuração contábil e impedir a representação fiel. Se a presença da prudência traz problemas, a ausência pode ser muito pior. Os políticos perceberam isto durante a crise de 2008 e pressionaram para que o termo estivesse presente na estrutura conceitual. Além disto, incorporar a prudência na Estrutura é reconhecer algo que já fazemos na prática: o teste de recuperabilidade e o custo ou mercado são situações práticas onde a prudência domina.
As cabeças pensantes do Iasb e do Fasb apostaram na neutralidade. Mas em 2018, o termo retorna na EC do Iasb de uma forma torta e confusa. Sem retirar a representação fiel e a neutralidade, o Iasb disse que seria possível a convivência com a prudência. O IPSASB resolveu bater na mesma tecla e repetiu a dose na proposta: a neutralidade é suportada pelo exercício da prudência e isto significa o exercício da cautela quando fazer julgamentos em condições de incerteza - ou seja, sempre.
Nesta situação, a prudência não seria subestimar as receitas e ativos, nem subestimar as despesas e passivos. Mas como fazer esta mágica não é explicado. Talvez o Iasb quisesse dizer: seja conservador, ma non tropo. Na proposta, os argumentos se repetem nos itens 3.14 e 3.15. Mas mais adiante, no item BC3,16 e 17, o IPSASB reconhece que a não inclusão da prudência nas características qualitativas da informação é problemática.
Materialidade - Assim como o conservadorismo perdeu terreno para a representação fiel, a materialidade também cedeu espaço para relevância. Mas uma vez que o próprio Iasb está revendo o termo em termos da preparação das demonstrações e no âmbito dos erros e estimativas, através da emenda ao IAS 1 e IAS8, o IPSASB resolveu acrescentar algumas mudanças neste sentido. Mais ainda, o IPSASB considerou que o termo obscuring information é importante para o setor público.
A própria entidade entende que em lugar de ser uma restrição, a materialidade é um aspecto qualitativo. Mas de forma incoerente, manteve a materialidade como subitem de restrição.
Ativo - os chamados elementos são essenciais para a contabilidade. A definição de ativo, para o setor público, seria de "um recurso controlado presentemente pela entidade, como um resultado de eventos passado". A definição proposta não inclui nenhum termo que possa lembrar "fluxo esperado". E assim como o Iasb, mantém os três elementos: recurso (recurso econômico no caso do Iasb), controle e eventos passados. Há outras pequenas diferenças, como o fato do Iasb usar "past events" - no plural - e o IPSAB usa o termo no singular.
Passivo - o termo passivo agora enfatiza a transferência de recursos como resultado de eventos passados. As diferenças entre a definição do Iasb e do IPSASB são similares as listadas anteriormente, para o ativo. Diante da mudança da definição, há uma mudança no texto sobre os critérios relacionados com o termo.
Fortalecendo o ISSB
Em meados do ano passado, a Fundação IFRS anunciou que estava interessada em criar uma entidade que pudesse trabalhar, de forma exclusiva, com a questão da sustentabilidade. A oficialização desta entidade aconteceu durante o encontro ocorrido em novembro, na Escócia, quando foi anunciada a criação da ISSB.
Um dos pontos sobre o processo de criação é que a nova entidade parecia ser mais uma, dentre as dezenas existentes, que trabalham com a regulação de evidenciação na área ambiental, social e de governança. Assim, um dos desafios era a legitimação da entidade e, por consequência, do seu trabalho. A nova entidade conseguiu resolver em parte este problema: duas entidades prometeram se juntar ao trabalho da ISSB. A primeira entidade é a Value Reporting Foundation, cuja associação está marcada para meados de 2022. A segunda entidade é a Climate Disclosures Statements Board (CDSB), menos conhecida, mas que oficializou o matrimônio com a ISSB agora. Uma das vantagens para o ISSB é que a entidade pode usar o trabalho já realizado pelo CDSB e VRF, enquanto não produz suas próprias normas. Previsto para começar a funcionar na metade do ano, a produção de normas para áreas tão complexas pode demorar um pouco.
Somente no final do ano é que o Chairman foi escolhido. Em janeiro, a vice também foi anunciada e neste mês, fevereiro, começam as entrevistas para preencher as cadeiras que faltam.
Foto: Sandy Millar
Climate Disclosure Standards Board (CDSB)
Fundos ESG e a manipulação da ingenuidade do investidor
Investir em fundos que sejam sustentáveis, com empresas de elevada governança e cuidado com os recursos humanos, passou a ser a nova moda do mercado. Segundo Lance Roberts, The Epoch Times (via aqui) o assunto ESG em Wall Street virou sinônimo de roubo de investidores ingênuos. Se em 2008 os fundos ESG correspondiam a zero por cento do total de fundos, hoje o valor investido é superior a 16 trilhões. Significa que Wall Street mudou? Provavelmente não, pois parece não passar de um modismo, segundo os dados de Roberts.
01 fevereiro 2022
Valor da Coca-Cola e a Sustentabilidade
Em um mundo com uma longa preocupação com a sustentabilidade, a empresa de consumo não é um bom exemplo e recomendação para investir. Além de contribuir com a poluição, em razão dos restos de produtos que são lançados na natureza, a Coca-Cola também é responsável pela redução da qualidade de vida dos consumidores, já que seus produtos não são realmente saudáveis. Assim, o impacto da Coca-Cola não entra neste valor de mercado e Rajgopal tenta fazer uma estimativa.
Para isto é necessário identificar as externalidades negativas da empresa, o seu custo social. O autor foca na emissão de carbono, no uso de água, nos produtos não reciclados e nos custos incrementais pelo consumo dos seus produtos. Todos estes itens precisam ser mensurados.
Carbono – usando uma estimativa de US$100 por tonelada de carbono emitido e considerando 53 milhões de toneladas anuais, uma taxa de desconto de 5%, tem-se um valor de US$106 bilhões: (53 x 100 / 0.05).
Água – usando as estimativas de uso de água nas terras agrícolas que fabricam açúcar para as bebidas da empresa e novamente uma taxa de 5%, o autor chega a um valor de 60 bilhões.
Garrafas plásticas – isto é bem difícil e a estimativa do autor é de um custo social de 50 bilhões
Custo de saúde – que inclui os custos incrementais em razão da diabete, provocada pelo consumo dos produtos da Coca-Cola, com um valor de 168 bilhões.
Somando temos 384 bilhões, que o autor acrescentou um gasto pelo lobby da empresa de 2 bilhões (o valor é tão pequeno que não aparece no gráfico abaixo), totalizando 386 bilhões.
Recomendo a leitura das notas do texto para uma explicação mais detalhada do cálculo. Um ponto importante é que o autor obteve os valores a partir dos relatos que são divulgados.
Previsão do futuro e Café
Para os amantes do café, eis um aplicativo interessante, que usa uma tradição oriental de leitura do futuro a partir da borra do produto. Eis um resumo do que se trata:Todos os dias, mais de um milhão de usuários do Faladdin enviam fotos de suas moagens de xícaras de café, e a equipe de Taşdelen fornece "leituras" personalizadas em 15 minutos. Dessas leituras, 700.000 estão em turco, 200.000 em árabe e 100.000 em inglês. Com sua publicidade extravagante e reivindicações bombásticas, o aplicativo certamente está pronto para zombaria. No entanto, desde o seu lançamento no início de 2017, mais de 20 milhões de pessoas, principalmente da Turquia e do Golfo Pérsico, baixaram Faladdin.
31 janeiro 2022
Cinco Motivos para ter Orgulho da Contabilidade
Em uma roda de amigos, você precisa de argumentos para vangloriar da profissão que escolheu. Ou então, você comunica aos seus pais a escolha da profissão e eles não entendem. Em um encontro, você diz o que faz e precisa mostrar que isto pode ser importante. Bom, depois de alguns poucos anos na profissão (afinal, nem todo mundo me conhece) eu fiz uma lista de argumentos para que você possa se orgulhar de trabalhar com contabilidade.
Eis a minha lista dos CINCO MOTIVOS PARA TER ORGULHO DE TRABALHAR COM CONTABILIDADE:
1. O primeiro nome que os historiadores conhecem, ou seja, o nome que está no registro mais antigo já encontrado, é de um contador. Apareceu em uma relíquia arqueológica, encontrada na cidade de Uruk. Há uma registro de cevada recebido por Kushim, que é o primeiro nome da história que conhecemos. Não é um general ou um rei. Mas é um contador. Aproveite e cite que isto está no livro Sapiens, de Hariri.
2. Se você tivesse que citar os dois maiores escritores da língua portuguesa, quem você citaria? A lista pode ser controversa, mas provavelmente Machado de Assis e Fernando Pessoa seriam lembrados. Sabe o que eles possuem em comum? Ambos trabalharam com contabilidade. Machado de Assis trabalhou no Ministério de Obras e Viação e foi responsável pelas contas públicas da repartição. Há trabalhos que mostram este fato. Fernando Pessoa chegou a ser editor de um periódico de contabilidade.
3. Já que estamos falando de pessoas conhecidas, durante muito tempo a contabilidade foi um porto seguro para artistas que não sabiam o que desejavam da vida. No Brasil há uma extensa relação de pessoas que estudaram contabilidade, inclusive fizeram o curso de técnico em contabilidade: Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Zico. Está bom, pois a lista é grande. Lá fora também temos artistas como Mick Jagger, Kenny G ou John Grisham.
4. A contabilidade foi um dos fatores responsáveis pela expansão do capitalismo. No livro A Mensuração da Realidade, Crosby aponta três fatores responsáveis pela quantificação da sociedade ocidental, no período anterior à revolução industrial: a pintura, a música e a contabilidade. O economista político Sombart, que viveu entre 1863 e 1941 destacou o papel da contabilidade no processo do surgimento e consolidação do capitalismo. E Sombart não foi o único a fazer esta ligação.
5. Há uma ligação entre a boa contabilidade e o desenvolvimento de um país. Segundo as palavras de Soll, no livro The Reckoning, "se há alguma lição histórica a ser aprendida aqui, é que as sociedades que conseguiram aproveitar a contabilidade como parte da sua cultura geral, floresceram". As evidências mostram que levar a contabilidade a sério permitiu que a Grécia, Roma, as cidades italianas, Holanda, entre outras civilizações, pudessem aproveitar melhor seus recursos e desenvolver. Quando não fizeram, a ruína chegou rápido.
Com estes cinco argumentos é impossível que as pessoas não respeitem sua escolha. E certamente irão entender o motivo do seu orgulho. Use e abuse. Eis a cola:
Mais um capítulo na fraude HP Autonomy
A distância temporal entre as notícias de um escândalo contábil e o seu término parece muito longa. Na última semana, um destes casos ter mais um capítulo adicionado: o caso HP Autonomy.
Recapitulando em poucas palavras: a empresa HP resolveu adquirir a empresa de software Autonomy diante dos números que foram apresentados. Após o processo, a HP descobriu que muitos valores eram manipulados. A HP entrou na justiça, processando o empresário Mike Lynch (foto). Isto ocorreu em 2011.
As notícias de agora dizem respeito ao processo de fraude que a HP moveu contra Lynch. O empresário perdeu a ação, segundo o julgamento de um Tribunal britânico. A HP queria um valor de 5 bilhões de dólares por danos, mas obteve um valor menor. Em 2011, Lynch ganhou 800 milhões pela venda e alegava que a HP geriu de maneira inadequada a Autonomy. Mas a justiça entendeu que realmente ocorreu manipulação nos números passados da receita da empresa, incluíndo resultado negativo na venda de software.