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26 abril 2012

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FCO sobre Ativo

Definição – Este índice mede o fluxo gerado pelas operações da empresa num determinado período sobre o ativo total.

Fórmulas – FC sobre Ativo = (Fluxo de Caixa das Operações / Ativo ) x 100

Fluxo de Caixa das Operações – corresponde ao caixa gerado nas atividades operacionais da empresa.
Ativo – representa os itens que promoveram a geração do caixa.

Unidade de Medida – Em percentual. Apresenta quantos por cento de retorno, em caixa, o ativo gerou.

Intervalo da medida – O fluxo de caixa pode ser negativo ou positivo. Assim, o índice pode variar entre -100% a 100%. Valores acima ou abaixo desse intervalo são possíveis de serem obtidos na prática, mas são raros.

Como calcular – Os valores são obtidos na demonstração dos fluxos de caixa e no Balanço patrimonial.
Considere o caso da Usiminas, apresentado a seguir através de um pedaço da demonstração dos fluxos de caixa:

Observe que a empresa gerou R$1,3 bilhão de caixa das atividades operacionais no primeiro trimestre de 2012.  O ativo encontra-se na figura a seguir:

O ativo, no final de março, era de 33 bilhões. O índice pode ser calculado facilmente:

FCO sobre Ativo = (1286 894 / 33 038 904) x 100 = 3,9%

Para cada unidade monetária de ativo, a empresa gerou 0,04 centavos no primeiro trimestre de 2012.

Grau de utilidade – Moderado. A primeira limitação é o fato de que somente algumas empresas calculam o fluxo de caixa das operações, em especial aquelas com ação negociada na bolsa.

Controvérsia de Medida – Alguma. O cálculo do FC das operações pode considerar os valores pagos para o capital de terceiros sob a forma de juros. Além disto, o uso do ativo pode gerar algumas controvérsia.

Observações Adicionais
a)     Quando divide e múltipla os valores pelo lucro operacional teremos o retorno do ativo multiplicado pelo fluxo sobre o lucro. Ou seja, o fluxo sobre o ativo corresponde ao retorno do ativo pela capacidade de converter o lucro em caixa da empresa;
b)     Observe que no exemplo apresentado consideramos o fluxo das operações sem a despesa financeira. Veja que após o lucro líquido do exercício foi somado às despesas de juros, anulando seu efeito sobre o fluxo das operações. Esta é a forma mais correta de obtenção do fluxo das operações.
c)     Com respeito ao ativo, pode-se usar o valor do ativo médio ou o ativo inicial. No exemplo apresentado, o valor do ativo inicial e final são  próximos, o que não afeta a escolha do ativo. Usar o ativo de 31 de março evita perder uma informação. O uso do ativo médio ou do ativo inicial pode ficar mais próximo do ativo que foi efetivamente usado ao longo do primeiro trimestre.
d)     A melhor alternativa seria usar o “investimento”, considerando aqui, com o sinal negativo, o valor do passivo não oneroso. Veja mais sobre isto no índice ROI.
e) A geração de caixa irá depender de uma série de fatores. Em algumas situações, como no caso de empresas em setores novos da economia, é razoável trabalhar com fluxos de caixa das operações negativo. Apesar disto, provavelmente maiores valores do índice indicariam maiores rentabilidades.

Esta é uma série de textos sobre os principais índices usados na análise das demonstrações contábeis. Outros textos publicados foram: Retorno Total, Crescimento Sustentável, FC sobre VE, FC sobre Vendas, PLCFCL sobre VEDistribuição do Valor adicionadoLucro Líquido sobre AtivoDividendo por lucro, Lucro por açãoPreço sobre vendasDividend yieldCapital Circulante LíquidoCusto da DívidaInvestimento sobre DepreciaçãoComposição do EndividamentoCobertura de dívida,. Cobertura de investimentoPrazo de Pagamento a FornecedoresTaxa de QueimaPrazo de EstocagemValor Adicionado sobre ReceitaMargem LíquidaGiro do AtivoP/LRSPLEndividamento OnerosoEndividamentoFluxo de Caixa LivreEbitdaMargem OperacionalNIG sobre VendasValor do EmpreendimentoCapitalizaçãoMargem BrutaROI e Liquidez Corrente


Qual o melhor dia para ser do Dia do Contador?

Eis um trecho de um texto interessante de Alexandre Alcântara:

Uma coisa muito interessante acontece no Brasil. O profissional de contabilidade tem duas datas comemorativas.

No dia 25 de abril comemora-se o dia do contabilista, em lembrança ao Senador João Lyra, que em 25 de abril de 1926, proferiu discurso que enalteceu a Classe Contábil Brasileira.

No dia 22 de setembro é comemorado o dia do contador, data em que os católicos comemoram o dia de São Mateus. Mateus, um dos apóstolos de Jesus era publicano, exercia de forma terceirizada a coletoria de impostos para o governo romano, apesar de ser judeu.

Entendo que esta não é a melhor data para se comemorar o dia do contador. O contador, não pode ser comparado ou lembrado como um mero agente do fisco.

Como bem diz o Prof. Dr. Eliseu Martins, a contabilidade como a conhecemos hoje surgiu há mais de 1.000 anos como "instrumento de controle e gestão", porém nos países latinos foi "roubada para interesses fiscais". O fisco vem se utilizando da contabilidade na sua atividade de apurar o imposto devido, e o contador dentre suas muitas atribuições, realiza o que se convencionou chamar de contabilidade tributária, com as elaboração de guias de recolhimento, declarações, planejamentos tributários, etc.

Não podemos imaginar uma empresa que não tenha o controle efetivo de suas atividades mercantis. A contabilidade não é em essência fiscal, pelo contrário, em sua essência ela é gerencial, a peça chave na produção de informações para tomada de decisão.

Um dos pilares da contabilidade é a escrituração, e esta é feita em quase na totalidade dos países seguindo a técnica das "partidas dobradas" apresentada pelo Frei Luca Pacioli, em 1494.

O Prof. Dr. David Albrecht lamenta não haver um dia dedicado aos contadores nos EUA, mas ao discorrer sobre qual deveria ser este dia em nenhum momento cogita questões fiscais e tributárias. Ele propõe o dia 10 de novembro (Accounting Day) porque neste dia, no ano de 1494, foi publicado o Volume 2 do marco na história da contabilidade, a "Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita" (Summa de Aritmética, Geometria, Proporções e Proporcionalidade), do Frei Luca Pacioli.Um justa e correta homenagem.

Para quem quiser saber mais sobre o assunto, o CFC publicou em 2004 o livro Luca Pacioli - Um mestre do Renascimento, do Prof. Dr. Lopes de Sá (aqui download em pdf), que além da biografia do frei, e comentários sobre o ambiente histórico em que surgiu as "partidas dobradas", traz ainda uma tradução da Parte I, Distinção IX, “Tratado” XI, da "Summa de Arithmética", a partir da edição Paganino de Paganini, Veneza de 1494. Este capítulo vem seguido de um outro, com os comentários do próprio Prof. Dr. Lopes de Sá.

Governança

As duas figuras abaixo fazem parte de um artigo escrito por Alexandre Di Micheli de Silveira (Conselhos Revistos, Revista Capital Aberto, 7 de abr de 2012)

O autor faz uma análise histórica interessante sobre os conselhos de administração nas empresas brasileiras. Segundo o autor:

De forma geral, a tabela mostra alterações significativas nos conselhos brasileiros ao longo da última década, todas alinhadas às práticas de governança recomendadas: 1) aumento do número de comitês nos conselhos; 2) maior frequência de comitês de auditoria e de remuneração; 3) aumento da proporção de companhias com pessoas diferentes ocupando os cargos de diretor–presidente e presidente do conselho; e 4) aumento da proporção de conselheiros considerados independentes. Além disso, o aumento do número de reuniões pode ser considerado um indício de um maior nível de atividade dos conselhos. No entanto, a estagnação na proporção de mulheres indica que a busca por maior diversidade de gênero nos conselhos ainda não virou realidade no País.

Combinação de Negócios

Uma combinação de negócios corresponde a uma operação em que um adquirente obtém controle de um ou mais negócios. Um negócio corresponde a um conjunto integrado de atividades e ativos capaz de ser conduzido e gerenciado para gerar retorno em forma de dividendos, redução de custos ou outros benefícios econômicos.


O custo da combinação de negócios será o resultado: entre os valores justos, na data da operação, dos ativos entregues, passivos incorridos ou assumidos, e instrumentos emitidos pela adquirente em troca do controle da adquirida; e quaisquer custos diretamente atribuíveis à combinação de negócios.


O valor da contraprestação paga pelo adquirente deverá ser alocado entre os ativos e passivos identificáveis na data de aquisição, a valor justo. As diferenças entre o valor contábil e o valor justo dos ativos e passivos são alocadas nas respectivas contas, não sendo mais consideradas como mais–valias. Esses valores deverão ser baixados de acordo com a amortização ou depreciação desses ativos.


Qualquer diferença entre o custo da combinação de negócios e a participação da adquirente no valor justo dos ativos (inclusive intangíveis, se houver), passivos, e passivos contingentes identificáveis e não reconhecidos, será contabilizada como goodwill (ágio por expectativa de rentabilidade futura). Um ativo é definido como sendo um recurso controlado pela entidade decorrente de eventos passados e que pode gerar futuros benefícios econômicos para a entidade. O benefício econômico futuro inserido em um ativo representa o potencial de contribuição direta ou indireta ao fluxo de caixa do empreendimento.


Montante registrado como ágio por rentabilidade futura deverá ser submetido a teste de impairment anualmente
O International Accounting Standards Board (Iasb) concluiu que o goodwill (ágio por expectativa de rentabilidade futura) representa recursos dos quais se espera a geração de futuros benefícios econômicos para a entidade.


O montante da contraprestação pago que exceder o valor justo dos ativos adquiridos deverá ser registrado como ágio por expectativa de rentabilidade futura. Nesse processo de identificação de ativos e passivos a valor justo, a companhia deverá levar em consideração ativos e passivos não registrados nas demonstrações financeiras da adquirida (ativos intangíveis e passivos contingentes).


Nos casos de compra vantajosa (deságio), este deverá ser contabilizado no resultado da adquirente no momento da combinação de negócios. Ele também deverá ser reconhecido no resultado quando a participação da adquirente no valor justo dos ativos, passivos e passivos contingentes identificáveis da adquirida ultrapassar o custo da combinação (deságio por expectativa de rentabilidade futura), depois de se reavaliarem:


1) os valores atribuídos aos ativos identificáveis da adquirida;


2) os passivos e/ou passivos contingentes identificáveis da adquirida; e


3) os valores atribuídos aos componentes do custo da combinação de negócios.


O montante registrado como ágio por rentabilidade futura deverá ser submetido a teste de recuperabilidade (impairment) anualmente, e as perdas por redução ao valor recuperável não poderão ser revertidas.


Combinação de Negócios - Revista Capital Aberto - 7 de Abril de 2012 - Mário V. Lopes & Sheila Conrado


Concorrência e Legislação

Robson Barreto e Mariana Villela (A nova lei de defesa da concorrência e os desafios das operações de M & A, Revista Capital Aberto, 7 de abril de 2012) lembra que daqui há um mês, em 29 de maio, entrará em vigor a lei 12529/2011 que exige a análise prévia do Cade para operação de concentração econômica. A lei tenta garantir que até a aprovação da operação de fusão e aquisição devem ser preservadas as condições de concorrência.

Mulheres e Contabilidade

Há um mês o prof. Scarpin postou no seu blog sobre mulheres na contabilidade. Agora recebo esta incrível contribuição da Flávia Carvalho sobre mulher e contabilidade. ( M.O. ROBINSON em "Como contabilizar sem mestre"):

(Clique na imagem para ler melhor). Mais do mesmo autor:


25 abril 2012

Rir é o melhor remédio

Duas fotos em dois jornais sobre o futebol. A primeira prevê que Barcelona estaria em Munique (empatou e não estará na final) com destaque para o fundo, a posição estranha de Xavi e Puyol.. A segunda, o goleiro do Corinthians, com o fundo de um comercial.

O Lobby das Big Four

Um texto muito importante da Reuters (Insight: Big 4 auditors spend more than ever on U.S. lobbying, David Ingram e Dena Aubin, 13 Mar 2012) mostra a intensa atividade das grandes empresas de auditoria em defender seus interesses.

Segundo a Reuters, as empresas Deloitte, Ernst & Young, KPMG e Price gastaram no último ano 9,4 milhões de dólares em lobby. Este valor é o maior montante desde 2002, quando o setor esteve pressionado pelo problema da Enron.

A evolução dos gastos inclui também o aumento no número de lobistas registrados pelas empresas de auditoria. (Nos Estados Unidos a atividade é regulada)

Qual a finalidade dos gastos? Segundo a Reuters, o alvo é o PCAOB, entidade criada recentemente que pretende implantar o rodízio de auditoria nos Estados Unidos. O gráfico mostra o volume de gastos com atividade de lobby por empresa de auditoria.

Além da atividade de lobby, as empresas também fazem contribuições políticas. O mais beneficiado com as contribuições do setor foi o senador Spencer Bachus, que recebeu 370 mil dólares. O senador Bachus preside um comitê da Câmara legislativa dos EUA que supervisiona o PCAOB. Em retribuição, Bachus tem ameaçado o PCAOB na luta pelo rodízio, ameaçando retirar os poderes do PCAOB.

Retorno Total


Definição – Corresponde ao lucro operacional gerado pela entidade pelo valor do empreendimento. O inverso do índice refere-se ao período de tempo de retorno proporcionado pelo lucro operacional da empresa.

Fórmulas – Retorno Total = (Lucro Operacional / Valor do Empreendimento) x 100

Lucro Operacional = corresponde ao resultado da empresa antes das despesas financeiras, imposto de renda e participações. Inclui a receita financeira
Valor do Empreendimento = refere-se ao valo de mercado da empresa mais as dívidas menos o caixa e equivalentes.

Unidade de Medida – Em percentual. Corresponde a percentagem de retorno total da empresa, usando uma aproximação do valor de mercado da empresa.

Intervalo da medida – O lucro operacional é positivo, mas eventualmente poderá ser negativo. Assim, o intervalo irá variar entre -100% a infinito. Como em geral dificilmente o lucro operacional é superior ao valor do empreendimento, o intervalo natural do índice está entre -100% a 100%, mas com valores positivos.

Como calcular – Para determinar o valor do empreendimento é necessário obter o valor de mercado do patrimônio líquido. Vamos usar o exemplo da Embraer. Num sítio da internet localizamos que o valor da empresa em dezembro de 2011:

Os valores do passivo e do caixa são obtidos no balanço patrimonial da empresa:


Assim, o valor do Empreendimento é dado por:

Valor do Empreendimento em 31/12/2011 = 8,7 + 10,8 – 2,5 = 16,9 bilhões de reais

O lucro operacional pode ser obtido na DRE da empresa:

Observe que este não é o resultado operacional correto já que não inclui as receitas financeiras (é isto mesmo, as receitas financeiras fazem parte do resultado operacional). Isto tende a reduzir o valor o retorno total encontrado para empresa. O índice é dado por:

Retorno Total = Lucro Operacional / VE = 521 / 16 943 = 3,1% ao ano

Grau de utilidade – Regular. Seu uso está limitado a empresas de capital aberto e que tenham perspectiva de lucratividade.

Controvérsia de Medida – Alguma. O cálculo do lucro operacional é sempre complicado em razão da dificuldade de separação da receita financeira da despesa financeira. Estes dois itens devem ter tratamento financeiro distinto, já que o primeiro é operacional, mas o segundo não. Entretanto, as DRE das empresas não apresentam desta forma.  

Observações Adicionais
a)     O inverso do índice informa em quanto tempo o lucro operacional gerado pela empresa paga o capital investido hoje. No caso da Embraer, são 32 anos para se pagar este capital.
b)     Uma forma de minimizar o problema do lucro operacional é considerar um conceito de VE mais abrangente, incluindo todas as aplicações financeiras. No caso da Embraer, isto reduziria o VE para 15,5 bilhões já que seria subtraído de 1,413 bilhão de “instrumentos financeiros ativos”. O novo índice seria de 3,36% ou 29,7 anos para pagar o capital.
c)     Este índice é interessante, pois leva em consideração todo o capital investido na empresa e não somente o patrimônio líquido. Alguns analistas usam o preço da ação sobre o lucro operacional por ação, o que é inconcebível em termos teóricos. Neste caso está usando um lucro derivado do ativo e comparando com o patrimônio líquido

24 abril 2012

Rir é o melhor remédio


Fonte: Malvados

Teste 550

Em abril de 2009 a família do banqueiro Pedro Conde (1922-2003) fez uma doação de R$1 milhão para faculdade de direito da Universidade de São Paulo. A contrapartida da doação previa que a USP iria batizar uma sala com o nome do banqueiro, com um retrato do mesmo. Pela tradição, as salas da faculdade de direito recebem o nome de professores da casa. Em 2010 a nova direção da faculdade retirou o nome da sala. A família de Pedro Conde considerou que houve uma ruptura de contrato e entraram na justiça pedindo a devolução do dinheiro, além de indenização por danos morais. Em abril de 2012 o juiz condenou a Universidade a ressarcir a família o dinheiro, com juros e correção, mas sem danos morais. Qual o nome técnico que recebe a doação de R$1 milhão? (a) doação condicional; (b) doação incondicional; (c ) gratuidade; (d) receita de serviço (Fonte: Justiça Condena USP a devolver doação de R$1 milhão. Estado de S Paulo, 23 de abril de 2012, A14)

Resposta do Anterior: economia de escopo.

Por que as empresas usam medidas alternativas de desempenho?


Na contabilidade tradicional, o desempenho de uma empresa é dado pelo lucro. É algo relativamente simples: a empresa teve um bom desempenho quando o resultado é positivo; o desempenho não é adequado quando ocorre prejuízo.

Mas algumas empresas gostam de destacar medidas alternativas. Uma destas medidas é, por exemplo, o EBITDA. Qual a razão das empresas usarem estas medidas de desempenho se já existe uma medida preparada pela contabilidade da empresa?

A companhia aérea Gol anunciou que em 2011 teve um EBITDAR de 707 milhões de reais. A empresa destacou este fato na sua apresentação:

Observe o leitor que o EBITDAR está em destaque na apresentação.

A resposta para pergunta é relativamente simples: este destaque geralmente ocorre quando a empresa não apresenta um bom desempenho pelas medidas tradicionais. Veja o caso da empresa Gol: um prejuízo líquido de 710 milhões. Para suavizar o efeito do desempenho ruim, a empresa procurar destacar medidas alternativas de desempenho.


As vantagens da Virtude

A responsabilidade social das empresas é algo que se tornou popular. Apesar de existir uma corrente que compartilha da célebre opinião de Milton Friedman - "a responsabilidade das empresas é maximizar os lucros" - o número de empresas que querem estar associadas a responsabilidade social parece aumentar a cada dia.

Uma questão importante é saber se empresas socialmente responsáveis possuem maior ou menor rentabilidade que as demais empresas. Existe um ditado popular que afirma não existir almoço grátis. A maior responsabilidade social gera custo, que será repartido com os acionistas. Mas alguns acreditam que ser "correto" pode atrair clientes. Algumas pesquisas parece que não encontraram relação entre responsabilidade social e desempenho financeiro. Isto parece sugerir que a responsabilidade social não aumenta os custos.

Folbre, num artigo para o New York Times, propõe uma hipótese: empresas socialmente responsáveis atraem mais empregados talentosos, com vontade de trabalhar em troca de salários menores. Isto pode afetar inclusive o ambiente de trabalho. Mas isto ainda não foi demonstrado.

Como confiscar uma empresa de petróleo

Josh Keating apresenta em Como Confiscar uma Companhia Petrolífera (Foreign Policy, publicado no Estado de S Paulo, 23 de abr 2012) os passos necessários para estatizar uma empresa de petróleo. O resumo está na figura abaixo
O momento propício está associado ao aumento no preço do petróleo. Em momentos de baixa, geralmente ocorrem as privatizações; quando o petróleo aumenta de preço no mercado, torna-se mais vantajoso fazer o confisco. A justificativa geralmente está associada a algum aspecto nacionalista. O terceiro passo é apresentar uma proposta "irrecusável" para mostrar que está sendo justo. A seguir, abrandar a postura, mas sem deixar o confisco de lado. Finalmente, é preciso ter cuidado com a possibilidade de ser derrubado do poder. Os interesses são muitos. 

Crescimento Sustentável

Definição – este índice determina a taxa de crescimento máxima das vendas em comprometer a estrutura financeira.

Fórmulas – Crescimento sustentável = Variação no PL / PL inicial

Variação no PL = corresponde à variação ocorrida no patrimônio líquido da empresa no período. Nas situações onde nenhum lucro é distribuído, a variação irá corresponder ao próprio lucro líquido. Caso exista distribuição, a variação no PL corresponde ao lucro vezes a taxa de retenção.
PL Inicial = refere-se ao patrimônio no inicio do período.

Unidade de Medida – Pode ser expresso em percentual se multiplicar por 100.

Intervalo da medida – Este índice pode variar, pelo menos em teoria, entre menos infinito a infinito. Entretanto, em situações de lucro irá variar entre zero a cem por cento.

Como calcular – Os valores podem ser obtidos na DMPL de uma empresa. A figura a seguir é um pedaço da DMPL da empresa Les Lis Blanc Deux, do setor de moda.

Em 31 de dezembro de 2010 o patrimônio líquido da empresa era de 153 milhões de reais. A empresa gerou um lucro de 37,7 milhões, dos quais 8,9 foram distribuídos. Assim, o lucro que ficou na empresa foi de 28,7 milhões. O crescimento sustentável é de

Crescimento Sustentável = 28,7 / 153 = 0,1877

Ou seja, a empresa pode crescer a uma taxa de 18,77%. Observando a demonstração do resultado da empresa tem-se a seguinte figura:

Durante o ano de 2011 a receita da empresa apresentou o seguinte crescimento:

Crescimento das Receitas = (471,1 / 351,1) – 1 = 0,342

Ou seja, a receita vem aumentando muito além do crescimento sustentável da empresa. Persistindo esta diferença, isto pode gerar problemas financeiros.

Grau de utilidade – Regular. É um índice interessante para empresas com lucro e taxa de crescimento elevada. Além disto, não é muito usada pelos analistas.

Controvérsia de Medida – Alguma. É muito difícil prever uma taxa de crescimento adequada para uma empresa. No anterior, a empresa do exemplo apresentou um crescimento sustentável de 0,24. Naquele período o crescimento das vendas foi novamente superior ao crescimento sustentável (34%).

Observações Adicionais
a) Este índice é bastante defendido por Robert Higgins, no livro Analysis for Financial Management.
b) Multiplicando o numerador e denominador por vendas e ativo, o índice corresponde a margem líquida vezes a taxa de retenção do lucro vezes o retorno do ativo vezes o giro do ativo. Higgins denomina esta fórmula de PRAT, sendo P = margem líquida (profit margin), R = retenção do lucro; A = giro do ativo e T = alavancagem que poderíamos traduzir para MARA.
c) Este índice deve ser considerado no longo prazo. A empresa que apresenta crescimento de vendas muito acima da sua capitalização pode estar aumentando o endividamento, com reflexo no risco.
d) Trata-se, portanto, de um índice conservador, onde a expansão deve ser feita com recursos próprios da própria empresa.

Esta é uma série de textos sobre os principais índices usados na análise das demonstrações contábeis.  Outros textos publicados foram:


23 abril 2012

Rir é o melhor remédio

Todo Juiz, mergulhado num julgamento de corrupção, sofre um impulso pra cima igual ao peso dos corruptos por ele inocentados


Millor Fernandes

Teste 549

Veja o cartaz abaixo. Trata da oferta de diversos serviços de engenharia. É um exemplo de: (a) economia de escala (b) economia de escopo (c ) ambos




Resposta do Teste Anterior: Trata-se de um aumento do passivo em razão da recuperação do valor de mercado. Neste caso, o mercado está valorando o passivo da empresa de forma mais otimista
Fonte: Aqui

Fluxo sobre Vendas


Definição – este índice mede o fluxo de caixa gerado pelas vendas da empresa. Corresponde ao percentual das vendas que é transformado em caixa das operações.

Fórmulas – FC sobre Vendas = Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais / Vendas Líquidas

Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais = corresponde ao fluxo oriundo das atividades operacionais da empresa. Não deve constar deste fluxo as despesas financeiras pagas ao capital de terceiros, que para fins de análise corresponde ao fluxo de financiamento.
Vendas Líquidas = refere-se a receita líquida originária da venda de produtos e prestação de serviços, sem considerar as devoluções, abatimentos e impostos sobre vendas.

Unidade de Medida – Corresponde a um número absoluto. Entretanto, pode-se multiplicar a fórmula por 100 para usar um percentual.

Intervalo da medida – O fluxo pode assumir valores positivos e negativos. Espera-se que seu valor, quando positivo, não seja superior as vendas. Assim, o intervalo da medida deve estar normalmente entre -1 a 1.

Como calcular – Os valores necessários para cálculo do índice são obtidos na demonstração do resultado do exercício e na demonstração dos fluxos de caixa.
A figura a seguir apresenta o fluxo operacional da Coelba, uma empresa de energia.

A receita é obtida na DRE da empresa, conforme figura a seguir:

Podemos calcular o índice da seguinte forma:

FC sobre Vendas = 1 269 991 / 4967 359 = 0,2557

No ano de 2010 este índice seria:

FC sobre Vendas = 950 123 / 4394 324 = 0,2162

Indicando que a empresa consegue transformar em caixa operacional ¼ da sua receita.

Grau de utilidade – Regular. Este índice faz sentido analítico quando a empresa gera caixa nas operações.

Controvérsia de Medida – Alguma. A incorporação dos encargos financeiros no fluxo das operações não fica muito claro em algumas DFCs.

Observações Adicionais
a)     Em algumas empresas é interessante somar ao valor das vendas as outras receitas, como as receitas financeiras. Isto tende a reduzir o valor do índice.
b)     O volume de deduções das receitas pode ser expressivo, como é o caso da empresa usada no exemplo, onde o valor foi de 2 bilhões de reais. Deste total, 1,2 bilhão é referente ao ICMS e 460 milhões ao Cofins.
c)     Desconsiderando a despesa financeira do fluxo das operações, no valor de R$489 milhões, o resultado seria de 35% para 2011. Esta seria a forma mais correta de cálculo deste índice.
d)     Valores elevados deste índice pode ser um sinal da qualidade do lucro, já que seu valor estaria mais próximo do fluxo de caixa. Entretanto, para empresas que revendem produtos, como é o caso de varejistas, este índice tende a ser menor.

Esta é uma série de textos sobre os principais índices usados na análise das demonstrações contábeis.  Outros textos publicados foram: PLC, FCL sobre VE, Distribuição do Valor adicionado, Lucro Líquido sobre Ativo, Dividendo por lucro, Lucro por açãoPreço sobre vendasDividend yieldCapital Circulante LíquidoCusto da DívidaInvestimento sobre DepreciaçãoComposição do EndividamentoCobertura de dívida,. Cobertura de investimentoPrazo de Pagamento a Fornecedores,  Taxa de QueimaPrazo de EstocagemValor Adicionado sobre ReceitaMargem LíquidaGiro do AtivoP/LRSPLEndividamento OnerosoEndividamentoFluxo de Caixa LivreEbitdaMargem OperacionalNIG sobre VendasValor do EmpreendimentoCapitalizaçãoMargem BrutaROI e Liquidez Corrente

As maiores do Brasil

A liderança econômica do Brasil, na América Latina, foi sancionada, mais uma vez, na edição 2012 do Índice Forbes Global 2000, divulgado na quarta-feira 18. Na lista, o Brasil participa com 33 empresas, mais do que o dobro do México, que emplacou 16. A brasileira mais bem posicionada é a Petrobras, em décimo lugar, duas posições abaixo em relação à edição de 2011. Mesmo com a queda, a petrolífera estatal cujas vendas somaram US$ 145,9 bilhões no ano passado segue à frente de competidoras de maior porte como a British Petroleum, com receitas de US$ 375,5 bilhões, a Chevron, US$ 236,6 bilhões, e a Sinopec, US$ 391,4 bilhões. (...)


Petrobras no topo - Isto é Dinheiro - 21 abr 2012

Wal-Mart

O Walmart do México pagou mais de US$ 24 milhões em subornos a prefeitos e vereadores em licenças para acelerar a construção de lojas em todo o país. Segundo reportagem do The New York Times, maior empregador privado no México, com 29 mil funcionários, a rede varejista era tida como um modelo para o crescimento futuro da companhia, já que uma a cada cinco lojas da multinacional no mundo estão na nação da América Latina.


O esquema de suborno foi revelado à matriz, nos EUA, em setembro de 2005, quando um advogado da companhia recebeu um e-mail de um ex-executivo da subsidiária no México, que era responsável pela obtenção de licenças . Ao iniciar uma investigação, a rede nos EUA abafou o caso e demitiu o funcionário responsável pela análise da suspeita de corrupção. Não houve nenhum tipo de punição. Pelo contrário, o diretor-executivo da rede no México Eduardo Castro-Wright foi promovido a vice-presidente do Walmart em 2008.


Após pressão de parte da diretoria, a rede varejista demitiu alguns executivos do México. Em dezembro, após o Walmart saber que o esquema havia vazado para o jornal “The New York Times”, a rede varejista informou ao Departamento de Justiça dos EUA que havia aberto uma investigação interna.


À SEC(órgão regulador do mercado americano), a rede informou não acreditar que estas questões terão efeito sobre os negócios. O porta-voz da empresa David W. Tovar disse que o Walmart está trabalhando para descobrir o que aconteceu.


Segundo um ex-funcionário, a licença par a as lojas saía dias depois do pagamento do suborno, que incluía o loteamento do terreno e a redução das taxas de impacto ambiental.

Walmart subornou políticos do México para construir lojas - O Globo - 22 Abr 2012

22 abril 2012

Enquanto isso, em 2004, na UnB


Discurso proferido como Patrono da Turma de Formandos em Ciências Contábeis, Fevereiro 2004.

Saudações: Vice-reitor, autoridades presentes, professores, senhoras e senhores, formandos.

Há um ditado no Brasil que diz que “conselho, se fosse bom, não seria de graça”. Peço portanto aos formandos que interpretem o que vou dizer apenas como pensamentos em voz alta de alguém mais velho que vocês.

Se me permitem, vou cometer a ousadia de falar sobre a profissão de contador. Tradicionalmente, a profissão tem sido a menos nobre ou o “patinho feio” dentre aquelas da área econômico-financeira (economia, administração, contabilidade e engenharia de produção). Talvez isso se deva ao fato de que os antigos contadores, na verdade técnicos em contabilidade, limitavam-se ao “fechamento de balanços”, atividade que tinha finalidades legais e de onde não saiam informações úteis para o gerenciamento da organização. O contador era o funcionário que ficava numa pequena sala entre pilhas de notas fiscais trabalhando até altas horas para fechar as contas da empresa.

Os tempos mudaram, e vêm mudando cada vez mais rápido para todo mundo. A formação do contador tornou-se muito mais complexa. O contador gera e analisa as informações financeiras estratégicas para as organizações. A importância da profissão aumentou muito e estão aí os cursos de mestrado em contabilidade, inclusive o nosso da UnB, o doutorado da USP e futuramente o nosso doutorado também.

No entanto, como quase tudo nesse mundo, as coisas não evoluem homogeneamente. Assim é com a evolução das profissões. Com relação à contabilidade, infelizmente ainda há empresários para os quais o contador só serve para manipular o balanço da empresa e mostrar o lucro desejado ou pagar o menos imposto de renda. Não perceberam ainda que o contador pode ser um agente crucial para a tomada de decisões estratégicas num mundo competitivo. Nessas empresas, as reuniões decisórias geralmente envolvem economistas, engenheiros, administradores, etc, mas o contador não é chamado a participar.

Do outro lado dessa arena, muitos contadores e estudantes de contabilidade parecem não ter percebido as possibilidades que a profissão lhes permite. Ao se limitarem a pouca coisa além do conhecimento das normas e procedimentos contábeis, talvez passem ao largo de outros assuntos de grande importância para a vida profissional, tais como os aspectos filosóficos, econômicos, sociológicos, psicológicos, quantitativos, dentre outros.

Na verdade, talvez isso já esteja mudando. Meus ex-alunos devem lembrar, talvez com algum calafrio, que tiveram que estudar algumas coisas meio distantes da contabilidade, tais como derivadas, logaritmos, matrizes, variâncias e regressões lineares. Alguns não escondiam a surpresa e até o medo de ter que passar por isso. No entanto, dentre mortos e feridos, salvaram-se quase todos.

Outros demonstraram a capacidade de vencer desafios ao elaborarem monografias sobre assuntos bem acima do que estudaram durante o curso, tais como redes neurais artificiais, teorias de Modigliani & Miller, modelo Black-Scholes, etc.

Assim, quando soube que havia sido escolhido patrono dessa turma, perguntei-me qual teria sido o motivo. Talvez com um pouco de otimismo, quero acreditar que o motivo é que, apesar da relutância inicial, os alunos sentiram-se gratos pelo desafio de enfrentar coisas novas, teoricamente mais difíceis. Se não foi por isso, agradeço de qualquer forma.

Conhecer os princípios e normas e saber “fechar um balanço” é fundamental para o contador, pois é a base de sua profissão. Entretanto, ouso pensar em voz alta que não deve haver obsessão pelas normas, até porque elas mudam. Muitas das normas contábeis são estabelecidas por lei e como disse Otto von Bismarck, chanceler da Alemanha no século XIX, a respeito das leis: “as leis são como as salsichas. Melhor é não ver como elas são feitas”.

Não estou sugerindo que os contadores devam desobedecer as normas e as leis, mas simplesmente que é importante ter um olhar crítico sobre essas coisas e, sempre que possível, questionar, sugerir e lutar por alterações que sejam pertinentes, especialmente quando é para o bem da sociedade em geral.

Muitos dos conceitos contábeis em vigor foram escritos numa época em que não havia preocupação com a validação empírica das idéias. Hoje em dia, impera a busca pela validação das teorias e hipóteses em todas as áreas do conhecimento. Se queremos que a contabilidade seja uma ciência, pensemos no que disse Karl Popper, o filósofo da ciência: “uma teoria só pode ser considerada científica se puder ser testada empiricamente”.

Para que as idéias evoluam é necessário testar e criticar a validade do que está estabelecido, em qualquer área do conhecimento. Só é possível criticar alguma coisa se pudermos olhá-la como se estivéssemos do lado de fora. Daí a importância de o contador estar aberto a outras áreas do conhecimento e de não ter receio de aprender. Para mim está mais do que claro que os estudantes de contabilidade têm competência para aprender tudo o que quiserem. Basta não terem medo das derivadas, logaritmos, elasticidades, curvas de demanda e outras coisas mais.

Com essa atitude, pode-se esperar que o contador assuma o seu devido papel como participante efetivo do processo decisório das organizações e não meramente como “fechador” ou manipulador de balanços para cumprir a lei ou para que o patrão pague menos impostos ou cometa fraudes, que podem prejudicar milhares de pessoas (vide Parmalat).

Com isso, podemos esperar que no futuro não ocorra mais o que ocorreu aqui mesmo nessa Universidade, quando um professor de uma outra área afirmou com desdém que ciências contábeis era algo que cabia num disquete de computador.

A valorização da profissão depende de vocês. A superação de uma pretensa inferioridade, inexistente de fato, que tentam às vezes impingir a essa profissão depende da atitude de vocês.

Muito obrigado.

Rir é o melhor remédio

As armas dos heróis. Fonte: Aqui

Tony Judt


No meio do caminho deste livro provocador e inspirador, Tony Judt afirma que Richard Cobb, um dos mais renomados especialistas sobre a Revolução Francesa no mundo, "na verdade nunca me considerou um historiador. Para Cobb, eu era um intruso na disciplina, com todos os piores vieses de um intelectual francês: escrevendo política sob o manto de erudição histórica". Se Cobb, historiador britânico que morreu em 1996, realmente o depreciou nesses termos, podemos suspeitar que Judt tenha extraído uma satisfação maliciosa do fato. Em certos aspectos, Judt - que encerrou sua carreira como professor de estudos europeus na Universidade de Nova York -, era realmente mais um intelectual francês do que um historiador acadêmico inglês.

Aos vinte e poucos anos, confessa Judt, ele estava "maravilhosamente contente" vivendo em Paris como estudante de pós-graduação. Publicou seu primeiro livro, um estudo sobre o Partido Socialista francês na década de 1920 - em francês, e não em inglês. Como qualquer fervoroso polemista parisiense, amava os embates das discussões públicas entre os intelectuais sobre as questões do momento.

Mas Judt tinha uma aversão a extremismos ideológicos mais típica de um pensador inglês do que de um francês. A mordacidade com que tratava os estudantes na École Normale Supérieure, uma das prestigiadas "grandes écoles" francesas, é essencialmente inglesa: no início da década de 1970, diz ele, ela estava "repleta de jovens franceses absurdamente supercultos, com egos inchados e peitos encolhidos".

Além disso, em seus campos de especialização, política europeia e pensamento político do século XX, Judt aderia aos mais altos padrões de erudição histórica anglo-americana. Autodisciplinado, bem como extraordinariamente talentoso como pensador e escritor, ele acreditou até o fim que o estudo das ideias políticas deve ser solidamente fundamentado em seu contexto histórico.

O fim de Judt veio, aos 62 anos de idade, em agosto de 2010, quando sucumbiu à esclerose lateral amiotrófica, doença neurológica degenerativa. "Thinking the Twentieth Century" ("Pensando o século XX") é produto de uma série de longas conversas que manteve em 2009, em Nova York, com Timothy Snyder, amigo e historiador americano especializado em Europa Oriental. Snyder gravou e editou as conversas, e então enviou-as para serem revisadas por Judt.

Por pura coragem humana, assim como por seu brilho intelectual, o resultado é notável. Apesar de sua alarmante deterioração física, Judt produziu um derradeiro conjunto de ideias eloquentes sobre o fascismo, o stalinismo, o pensamento dissidente na Europa Oriental pós-1956, as falhas da moderna Israel, a invasão americana no Iraque em 2003 e o futuro da democracia social ocidental.

O livro cobre parte do terreno já explorado em duas outras obras. "O Mal Ronda a Terra" [Objetiva], publicado em 2010, disseca a busca desenfreada de autointeresse material que, acreditava ele, caracterizou as sociedades americana e britânica desde a década de 1980 até a crise financeira de 2008. "O Chalé da Memória", de 2011, é uma coletânea de ensaios publicada logo após sua morte [lançada agora no Brasil pela editora Objetiva]. Já "Thinking the Twentieth Century" é, em si mesmo, um feito substancial.

O livro acompanha o leitor por meio de nove dimensões da vida de Judt, cada uma precedida de seu próprio título de capítulo: Questionador Judeu, Escritor Inglês, Politicamente Marxista, Sionista de Cambridge, Intelectual Francês, Liberal do Leste Europeu, Historiador Europeu, Moralista Americano e, finalmente, Social-Democrata. Como indicam esses rótulos, Judt não residia numa torre de marfim, sendo, antes, um homem incansável que assumia riscos, tendo raramente ficado em uma mesma cidade ou cargo acadêmico por muito tempo.

Nascido em Londres, filho de pais judeus com origens no Leste Europeu, durante sua adolescência Judt desenvolveu uma posição sionista de esquerda, tendo servido como intérprete no exército israelense durante a Guerra dos Seis Dias em 1967. Até o fim de sua vida, foi um crítico severo contra Israel. Ele comenta no livro que o Estado "se destaca por sua cultura política nacional um tanto paranoica e tornou-se doentiamente dependente da muleta do Holocausto - a muleta moral e arma predileta com que Israel se defendia de todas as críticas".

Essas opiniões incisivas valeram-lhe uma condenação em círculos pró-Israel americanos, acusado de "judeu antissemita". Mas a polêmica, sob muitos aspectos, errava o alvo, pois a disputa entre Israel e os palestinos nunca esteve no centro das preocupações intelectuais de Judt.

Sua estatura como historiador repousa mais em "Pós-Guerra - Uma História da Europa desde 1945" [Objetiva], e em seus cinco livros sobre a França. Em minha opinião, os melhores são "Passado Imperfeito" [Nova Fronteira], que analisa por que tantos pensadores franceses nas décadas de 1940 e 1950 foram atraídos para o comunismo linha-dura, e "The Burden of Responsibility" [o fardo da responsabilidade], de 1988, que celebra a coragem política e intelectual de Raymond Aron, Léon Blum e Albert Camus na resistência a essa moda.

A mensagem central de "Thinking the Twentieth Century" é o que Judt denomina "pecado do intelectual do século: emitir juízo sobre o destino de outros em nome do futuro como você o vê". Se Lênin, Hitler, Stálin e Mao foram abomináveis bandidos e tiranos, os intelectuais que os defendiam também podem ser culpados por seu apoio.

"É crucialmente importante, para uma sociedade aberta, estar familiarizada com seu passado", diz Judt. "Foi uma característica comum das sociedades fechadas do Século 20, tanto de esquerda como de direita, que manipularam a história. Reescrever o passado é a mais antiga forma de controle do conhecimento."

Ele tem razão: o conhecimento da história, embora não garanta contra abusos de poder, contribui em alguma medida para sustentar a liberdade. A vida de Tony Judt foi uma homenagem corajosa e vibrante a essa verdade. (Tradução de Sérgio Blum).
Fonte: Tony Barber - Financial Times


21 abril 2012

Rir é o melhor remédio

Adaptado daqui

Princípio da Incerteza


Durante a leitura do livro Gigantes da Física : Uma História da Física Moderna através de oito biografias, de autoria de Richard Brennan, cheguei ao trecho sobre o Princípio da Incerteza, que já foi tema da seguinte postagem: Por que o contador influencia a medida?. Segue transcrição das páginas 182,182,183,184:


Na primavera de 1927, Werner Heisenberg, então com apenas 26 anos, propôs a Zeitschrift für Physik um curto artigo intitulado " Sobre o conteúdo perceptivo da cinemática da mecânica quântica teórica". Essse texto de 27 páginas, enviado da Dinamarca para a revista, continha a forumulação do famoso Princípio da Incerteza na Mecânica Quântica (também conhecido como Princípio da Indeterminação) assegurou a Heisenberg um lugar na história da ciência. Isso porque o princípio da incerteza tem amplas implicações não só parara a física subatômica como para todo o conhecimento humano.

A compreensão que está no cerne do Princípio da Incerteza surgiu das tentativas teóricas para determinar a órbita exata dos elétrons num átomo. Para determinar a posição de um elétron em circulação em um átomo, é necessário iluminá-lo d alguma maneira; isto é, um feixe de alguma radiação eletromagnética de comprimento de onda curto dve ser concentrado no elétron. Essa radiação iluminante, contudo, comporta-se como um grupo de partículas, e estas- ou até só uma delas-, ao colidir com o elétron, alteram-lhe a posição. Mais ou menos como uma bola de bilhar que atinge e move uma outra. Portanto, o próprio ato de iluminar o elétron apara observá-lo e medir sua posição altera-lhe o movimento e, consequentemente, deixa de ser possível medir sua posição com certeza.

Pode-se faer uma analogia simples, que ajuda a explicar o princípio, com uma sala de aula cheia de estudantes. O diretor da escola não tem como descobrir por observação direta como os alunos se comportam normalmente porque o mero fato de sua entrada na sala de aula os faz se comportarem de uma menira atípica. Para dar um outro exemplo, quando se tenta medir a temperatura da água quente de uma chaleira sobre o fogão, a própria insrção de um trmômetro na água muda sua temperatura-não muito, é claro, mas o suficiente para tornar a exatidão impossível. O mesmo se aplica a todas as quantidades físicas. O ato da observação sempre altera o observado de maneira a tal impedir uma medida indiscutível.

(...)Heisenberg mostrou que, na verdade, a incerteza impregna toda a natureza; não é um mero efeito colateral anômalo do trabalho com variáveis experimentais muito diminutas. A incerteza está sempre presente, é inescapável.

(...)Que diferença faz a inexatidão para nós que vivemos no mundo mais amplo, o macrocosmo? A resposta é que, embora todas as medidas envolvam alguma grau d incerteza, na escala macroscópica ele não é significativo. Podemos continuar voando de São Francisco para Nova York com a certeza de alcançar nosso destino final. Não tingiremos exatamente o alvo, mas estaremos suficientemnte próximos. Podemos até lançar satélites nas profundezas do espaço com segurança de que, ainda que nossos cálculos tenha sido um pouquinho inexatos, o erro será tão pequeno que nenhum instrumento de medida poderá detectá-lo.

Ainda assim, pode ser filosoficamente pertubador compreender que há uma inexatidão inerente em tudo o que fazemos, em cada medição que fazemos. Alguns matmáticos gostariam de acreditar que quando fazem todos os seus cálculos da manira mais acurada possível, o resultado é inteiramente previsível. Mas não é o que acontece com o Princípio de Heisenberg. A própria tenativa de conhecer com absoluta precisão qualquer fato físico é fundamentalmente invasiva. Devemos por isso desistir da investigação científica? Obviamente não. A pesquisa científica prossegue, mas temos nova compreeensão de suas limitações.

Com o tempo, as implicações do princípio da incerteza d Heisenbrg começaram a mergir. Primiro so físicos quânticos aceitaram as ideias de Heisenberg, depois outros cintistas, e finalmente uns poucos do público esclarecido em geral. Com essa aceitação veio a compreensão pertubadora de que a incerteza não está confinada ao laboratório.

Logo se descobriram analogias com a mcânica quântica em muitos outros campos, e começou-se a fazer perguntas inquietantes sobre o próprio conhecimento. Haveria alguma área da investigação humana m que o conhcimento poderia ser pensado como absolutamente certo e correto? Mesmo no campo da matemática, por muito tempo considrado a cidadela da certeza, surgiram dúvidas. O matmático austríaco Kurt Godel mostrou no início da década de 1930 que no interior de qualquer sistema lógico, por mais rigidamente estruturado que seja, sempre há questões que não são possíveis resolver com certeza, sempre se pode descobrir contradições e imprecisões que nele se ergueiraram.

(...)A influência de Eisenberg foi tão difusa que pode ser detectada até no mundo da ficção. Num artigo publicado no The New York Times Book Review, um crítico disse a propósito de uma romancista: "Ela conhece bastante sobre Heisenberg para compreender que o ato de observar altera o objeto que está sendo observado; ou, em termos literários, que o ato de contar a história altera a história que está sendo contada."