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13 setembro 2017

Ética, JBS e o Relatório dos Auditores

1) Abra as três últimas demonstrações contábeis anuais da JBS (aqui, aqui e aqui)
2) Digite “Crtl” + “f” e a palavra “ética”
3) O resultado será o seguinte: demonstração de 2016 = 4; 2015 = 1; e 2014 = 1 resultado. Todos no Relatório dos Auditores Independentes

Outro dado curioso: número de palavras deste Relatório (escrita pelo mesmo auditor)

2016 = 2862

Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira, individual e consolidada, da JBS S.A

2015 = 551

Em nossa opinião, as demonstrações contábeis individuais e consolidadas acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira, individual e consolidada, da JBS S.A.

2014 = 557

Em nossa opinião, as demonstrações contábeis individuais e consolidadas acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira, individual e consolidada, da JBS S.A.

Rir é o melhor remédio

Restrito somente para empregados, exceto ...

12 setembro 2017

Links

Rússia reivindica o Monte Everest (erro técnico?) (ao lado)

Banksy em Calais

O preço da ação do Banco Suíço subiu 64% em dois meses

Relação entre falha nos controles internos e fraude


Big Three dominam o tênis masculino

Uma nova maneira de aprender economia


Custo de desenvolver um novo medicamento contra o câncer

Em uma análise de 10 medicamentos contra o câncer aprovados entre 2006 e 2015 os pesquisadores descobriram que o custo médio para desenvolver um novo medicamento foi de US $ 648 milhões (US $ 757,4 milhões ao considerar um custo de oportunidade de 7% ao ano). O tempo médio necessário para desenvolver as novas drogas foi de 7,3 anos. 

A indústria farmacêutica falava em US$2 bilhões. Há um problema de amostragem na pesquisa, mas o número dos pesquisadores parece ser mais confiável.

Desastre natural e crescimento econômico

Los resultados de este estudio muestran que, solamente desastres de grandes proporciones tienen un impacto negativo en el PIB per cápita de un país tanto en el corto como en el largo plazo. Por ejemplo, diez años después de un gran desastre natural, el PIB per cápita promedio en los países afectados es un 10% más bajo que antes del desastre, mientras que, en países similares que no sufrieron el shock hubiera sido un 18% mayor.

Continue lendo aqui

Bolsa e a ilusão da moeda 2

Comentamos ontem sobre o Ibovespa e a ilusão da moeda. Eis um trecho da primeira página do Valor de hoje.

Rir é o melhor remédio


11 setembro 2017

Mudança na norma sobre fatos relevantes

A CVM divulgou pequenas alterações na norma sobre a evidenciação de fatos relevantes:

Alteração do § 2º, do art. 5º: a divulgação de ato ou fato relevante durante o horário de negociação deve se dar com a observância dos procedimentos previstos nos regulamentos editados pelas bolsas de valores e entidades do mercado de balcão organizado sobre o assunto.

Revogação do § 3º, do art. 5º: o dispositivo vinculava a suspensão de negociação dos valores mobiliários de emissão da companhia no Brasil à suspensão simultânea dos negócios em outros países onde esses valores mobiliários também fossem negociados, o que muitas vezes não era factível na prática.

Exigência de que diretores, membros dos conselhos de administração e fiscal e de quaisquer órgãos com funções técnicas ou consultivas criados por disposição estatutária apresentem e atualizem, quando necessário, relação contendo o nome e o número de inscrição no CNPJ ou no CPF das pessoas a eles ligadas no momento da investidura no cargo ou quando da apresentação da documentação para o registro como companhia aberta na CVM.

Equiparação da aplicação, resgate e negociação de cotas de fundos de investimento, cujo regulamento preveja que a sua carteira de ações seja composta (exclusivamente) por ações de emissão da companhia, de sua controlada ou de sua controladora àquelas realizadas com valores mobiliários emitidos pela companhia e por suas controladoras ou controladas. Nestes dois últimos casos, desde que se tratem de companhias abertas.



Mais sobre o assunto, aqui.(O terceiro item parece um pouco exagerado, mesmo que a entidade queira reduzir o uso de informação privilegiada)

Bolsa atinge nível recorde e a ilusão da moeda

Fonte: Aqui. As possíveis explicações: liquidez internacional elevada; perspectiva de continuidade de queda da taxa básica de juros (Selic); recuperação gradual da economia; dólar em queda; avanço da agenda de reformas do governo; e recuperação do preço de commodities.

O problema desta notícia é a ilusão da moeda: não é possível comparar os 73.516 pontos de 2008 com os 74.319 de agora. Mas de qualquer forma, é um grande avanço diante dos 37 mil pontos de 2015. 

JBS vendeu uma empresa para... JBS

A JBS anunciou a venda da empresa Moy Park para a Pilgrim´s Pride, por US$1 bilhão. O interessante é que ambas as empresas são controladas pela própria JBS, num negócio entre partes relacionadas. Na figura a seguir, outros negócios recentes do grupo:

Como a JBS adquiriu a Moy Park em 2015, da Marfrig, por US$1,5 bilhão, a transação representou, a princípio, um prejuízo de US$500 milhões. Com a transação, a JBS obtém caixa para melhorar o perfil da dívida, conforme afirmou a empresa em nota. O valor da transação foi definido de maneira independente. Para a compradora, a Pilgrim´s, a aquisição permite uma expansão da empresa.

Além disto, existe uma razão tributária: a Pilgrim´s irá captar dívida, com benefício fiscal, e a JBS terá um prejuízo na transação, reduzindo seu resultado.

Essa não foi a primeira vez que a família Batista fez uma operação de compra e venda entre as empresas do grupo. Em dezembro do ano passado, o Banco Original cedeu para a J&F Investimentos a titularidade e todos os direitos sobre a marca e nome de dois domínios na internet. O banco continuou a explorar a marca e domínio mediante pagamento de royalties para a J&F. O preço de venda acordado foi de R$ 422 milhões.

Links

Copa do mundo de xadrez e o jogador punido por vestir shorts (foto)

Quatro países da Europa querem taxar o faturamento de gigantes da internet (aqui também)

CFO da Kraft-Heinz tem 29 anos

Automação e desigualdade: os robôs devem ser taxados?

Efeitos da liberalização da maconha na escola

Quatro programas de MBA do Brasil entre os melhores do mundo

Futebol e Contabilidade

Segundo levantamento realizado pelo Valor Econômico (Auditor aponta erros graves em metade dos balanços dos clubes, Nelson Niero, 5 de setembro de 2017, B2) metade das demonstrações financeiras dos grandes clubes de futebol do Brasil vieram com ressalvas dos auditores. Para fins de comparação, somente 7% das cias abertas tiveram demonstrações com ressalvas.

Anteriormente comentamos o caso do Corinthias no blog. O texto do Valor apresenta outros exemplos: o Internacional não apresentou os documentos relacionados aos impostos e contribuições; o Botafogo não possui controle individual sobre o imobilizado e muitos deles com incerteza quanto a continuidade operacional, que corresponde basicamente ao montante de capital de giro.

O texto também comenta a falta de confiança nas grandes empresas de auditoria em trabalhar com estes clubes (não seria em razão do elevado custo da hora destas empresas e da irrelevância da grife Big Four para os clubes?) e da relação entre os números e a crise do São Paulo, o clube.

Rir é o melhor remédio

10 setembro 2017

Fato da Semana: Equifax

Fato da Semana: Equifax

Data: 7 de setembro de 2017

Contextualização

O desenvolvimento tecnológico recente está mudando a forma como as organizações trabalham. Como em qualquer mudança, existem pontos positivos e negativos. Nesta semana tivemos um fato que diz respeito a vulnerabilidade de um sistema de informação numa empresa. Um ataque realizado em julho expôs os dados de milhões de clientes nos Estados Unidos. Realmente não é o primeiro ataque deste tipo, nem será o último. Mas a quantidade de dados que foram obtidos pelos hackers e a reação dos gestores talvez seja algo inédito. A Equifax reconheceu, somente em setembro, o problema. E algumas pessoas que sabiam do problema usaram a informação para reduzir as perdas, vendendo ações da empresa.

Relevância

Temos neste fato alguns bons ingredientes: risco com um sistema de informação frágil, uso de informação privilegiada, falta de tempestividade na divulgação da informação e falha nos controles internos da empresa.

Notícia boa

Não. Um ataque de hacker pode ajudar a prevenir dados maiores se ocorrer um aprendizado por parte das empresas. Mas a fragilidade dos sistemas de informações é preocupante.

Desdobramento

Os executivos devem ser punidos. A empresa perde credibilidade e tem sua continuidade questionada.

Mas a semana só teve isto?

As malas da corrupção encontradas na Bahia e a prisão do executivo da JBS parece mostrar que ainda teremos muito que aprender sobre a forma de fazer negócio no Brasil.

08 setembro 2017

Equifax

A Equifax é uma agência de crédito ao consumidor dos Estados Unidos. Ontem a empresa anunciou que foi alvo de um ataque cibernético que envolveu 143 milhões de clientes dos Estados Unidos. O problema foi descoberto no dia 29 de julho. Pelas notícias, os hackers tiveram acesso aos nomes dos clientes, número do Social Security (uma espécie de carteira de identidade), data de nascimento, endereço e, em alguns casos, o número da licença de motorista. Para alguns clientes, vazaram também as informações dos cartões de créditos. Estima-se que 209 mil clientes foram afetados. Não se sabe se o PIN destes cartões foram revelados.

O problema ficou maior já que a empresa não explicou o atraso em revelar o ataque. E a razão de três executivos da empresa terem vendido ações após o ataque e antes do incidente ser de conhecimento público.

04 setembro 2017

Links

Inovação e o caso da indústria de caneta

Pizza, cérebro e opináceos (fotografia)

A mansão de férias de Putin

Uber deve fazer IPO em até três anos

Empresas brasileiras conseguiram reduzir endividamento

Cemig questiona MP 579

Através da Medida Provisória 579, o governo Dilma promoveu uma grande reestruturação do setor elétrico. Naquele momento, algumas empresas resolveram entregar algumas concessões. Agora, o governo Temer pretende fazer um novo certame para os interessados. A Cemig, uma das empresas que não aceitaram a proposta do antigo governo, resolveu barrar no Supremo o leilão das ex-usinas da empresa. Segundo Fernandes e Moura (Por Cemig, governo de Pimentel ataca Dilma, Estado de S Paulo, 2 de setembro, B11) a empresa, no processo, afirmou o seguinte:

Utilizou-se a máscara de reorganizar o sistema elétrico brasileiro, mas seu intuito, na realidade, era simplesmente eleitoreiro.

O atual governo de Minas Gerais, principal acionista da Cemig, é do mesmo partido de Dilma. O texto também afirma que o governo estadual argumenta:

Caso as concessões das três usinas não sejam prorrogadas, a empresa perderá mais de 50% de sua capacidade de geração de energia elétrica com reflexos sociais e financeiros para a região. 

Somente o desespero para produzir uma pérola de argumento como este. Ao Supremo não interessa a perda de capacidade de geração da empresa. Haverá simplesmente uma transferência para outra entidade, não fazendo sentido o choro sobre reflexos sociais (item 2). Além disto, a empresa quando decidiu devolver as usinas sabia o que estava fazendo.

Um teste para a família Widjaja

A empresa Paper Excellence (PE) aparentemente efetuou a compra da empresa de celulose do grupo JF, a Eldorado Celulose, com uma oferta de R$15 bilhões pela empresa brasileira. Neste processo, três pontos interessantes se destacam: a história da PE e o preço de negociação.

A empresa PE faz parte do grupo Asia Pulp e Paper, que por sua vez pertence a família Widjaja. A PE tem sede na Holanda e começou suas atividades em 2007, com operações no Canadá. Atualmente a PE possui uma capacidade de produção de 2,7 milhões de celulose por ano (Scaramuzzo, Mônica. Dona da JBS fecha venda da Eldorado Celulose por R$ 15 bi em duas etapas, Estado de S. Paulo, 3 de setembro de 2017, p. B1). Apesar destas informações divulgadas na imprensa, a PE é, de certa forma, um mistério. Não possui página na wikipedia, na página da APP não existe referência a PE e sequer do negócio anunciado (vide aqui) e até na página da PE não existia nenhuma notícia sobre a aquisição.

História - A própria vida empresarial do seu fundador, Widjaja, possui algumas controvérsias. Nascido na China, imigrou para Indonésia com nove anos de idade, fez doutorado em economia em Pittsburg, Estados Unidos. Segundo a Wikipedia, iniciou seus negócios na década de 70 com a produção de soda caústica. O negócio cresceu durante o governo do presidente Suharto, um governante conhecido como estudo de caso sobre corrupção. Certamente a proximidade com a família Suharto deve ter favorecido o crescimento do grupo.

A partir de meados dos anos 1990 a APP iniciou um agressivo processo de expansão. Isto resultou num elevado endividamento, que não resistiu a crise a dívida da Ásia. A empresa declarou moratória de uma dívida que 14 bilhões de dólares. Posteriormente a dívida foi negociada, com elevado prejuízo para os financiadores. No início dos anos 2000 a empresa também esteve envolvida em outra controvérsia: sua política de desmatamento provocou a ira do Greenpeace, WWF e de outras organizações ambientais. A empresa tentou negociar acordos para reduzir os efeitos econômicos do boicote, que afetou encomendas por parte de empresas como a Mattel.

Negócio - Inicialmente a Eldorado seria negociada para um grupo chileno, que desistiu do negócio. O valor do negócio foi considerado excessivo por alguns analistas (Stella Fontes e Ivo Ribeiro, Asiátios oferecem prêmio alto para assumir Eldorado, Valor, 1 de setembro de 2017, B4). Nos 15 bilhões estão 7,7 bilhões de dívida líquida e correspondem a 2.792 dólares por tonelada. Usando este múltiplo na empresa Fibria, tem-se um preço da ação que corresponde ao dobro do negociado no mercado acionário. (Esta comparação não é muito adequada, já que a PE está também adquirindo o controle, que não é negociado no mercado). Segundo o Itau, o prêmio seria de 100%, enquanto o Citi estima o prêmio em 80%. Segundo o mesmo texto, desde 2004 o preço máximo desembolsado foi de US$2 mil. E o investimento realizado na Eldorado foi de US$1.467 por tonelada. (Este número deve ser considerado com cautela, já que estamos falando de valor de venda de uma empresa, não seu investimento)

Um aspecto da negociação que foi destacado pelo texto de Scaramuzzo é o fato de ter sido fechado em duas etapas. Parece que PE irá comparar uma parcela minoritária e depois fará uma aquisição completa. Não foram divulgadas notícias mais precisas sobre estes detalhes, mas este fato pode indicar que talvez o preço não seja o anunciado.

A PE possui uma capacidade de 2,3 milhões de toneladas e a capacidade da Eldorado é de no mínimo 1,7 milhão. Um executivo da empresa deu uma empresa hoje e afirmou estar feliz com o negócio (Stella Fontes e Carolina Mandi, Paper Excellence diz que Eldorado é chance rara, Valor, 4 de setembro de 2017). O negócio permitiria que a PE expandisse sua capacidade e incorporasse um tipo de produto onde sua produção é baixa, segundo afirmou o executivo da PE.

Preço adequado? - o valor de um negócio depende de muitas variáveis, sendo um número subjetivo. Talvez a Eldorado não tenha o valor de R$15 bilhões para um concorrente, como a Fibria. Ou assuste, por não ter informações claras sobre seus passivos, como parece que ocorreu com o grupo chileno, que inicialmente tinha preferência no negócio. Além disto, negociar com os irmãos Batista deve ser complicado, seja pela forma como eles transacionam, seja pelo risco judicial envolvido em razão dos potenciais desdobramentos das operações de investigação de corrupção. Os compradores parecem calejados nestas situações e o contrato deve ter cláusulas que resguardem algum problema.

Tudo leva a crer que o preço de negociação não foi à vista. Segundo declaração do executivo da empresa, “como o financiamento leva quase doze meses”. Segundo Carolina Mandl e STella Fontes (Compra de fatia minoritária assegurou negócio com JF, Valor, 4 de set, B3), a PE irá desembolsar 2,25 bilhões de reais agora e em até um ano o restante para garantir 100% das ações. Neste período terá que negociar com minoritários e os financiadores; basicamente, fundos de pensão e bancos oficiais de fomento.

Para quem deseja entrar no mercado produtor brasileiro, a aquisição da Eldorado pode ser interessante: os principais problemas para implantação de uma fábrica de celulose, como licença ambiental e tecnologia, já foram vencidos. Além disto, a família da indonésia já provou, no passado, que tem apetite pelo risco. Será um bom teste.

Rir é o melhor remédio


03 setembro 2017

Fato da Semana: Venda da Eldorado

Fato: Venda da Eldorado Celulose

Data: 1 de setembro

Contextualização - A empresa Eldorado Celulose pertencia aos irmãos Batista, do grupo JBS. Diante da crise do grupo e da necessidade de ter dinheiro, o grupo está decidido a desfazer de alguns negócios. Já vendeu anteriormente a Alpargatas e agora tenta comercializar a Eldorado.

Alguns interessados desistiram do negócio. Tudo parece encaminhar para venda da empresa para um grupo da Indonésia. A negociação seria em duas etapas.

Relevância - Num processo de negociação, o comprador faz uma diligência para certificar a qualidade do negócio e verificar se existe alguma pendência. O interessante da Eldorado foram as desistências de diversos interessantes. Aparentemente, o problema foram alguns passivos.
O processo é de interesse da contabilidade já que envolve uma transação de parte de uma empresa, com um prêmio elevado, onde os valores poderiam indicar um grande valor para a Eldorado.

Notícia boa para contabilidade? Não. Dada como certa a venda para um grupo chileno, sua desistência parece indicar alguns problemas obscursos na Eldorado. O histórico do grupo comprador também não inspira confiança.

Desdobramentos - A venda deverá ser concluída em 12 meses. Mas é preciso ficar a atento para uma eventual desistência.

31 agosto 2017

Eletrobras destruiu R$562 bilhões de valor do acionista em 22 anos

A notícia da possibilidade de privatização da Eletrobras trouxe também a oportunidade de analisar o papel desempenhado pela entidade nos últimos anos. Para fazer isto, usei os dados da empresa de 1995 até 2016. Ou seja, minha análise contempla o início do processo de estabilização, a mudança drástica do setor promovida no governo Dilma e inclui o último resultado da empresa.

Método - Na minha análise utilizei o conceito de lucro econômico. Esta medida de desempenho nada mais é do que considerar, após o lucro contábil, uma remuneração mínima para os acionistas. Em termos gerais, é possível provar que no longo prazo o lucro econômico equivale ao fluxo de caixa descontado, que é o método mais defensável de mensuração de desempenho de uma entidade. Para um determinado exercício social, o lucro econômico é medido da seguinte forma:

Lucro Econômico = Lucro Contábil - Taxa de Desconto x Capital Investido pelo Acionista

O lucro contábil é obtido numa base de dados; no meu caso, eu usei os dados das demonstrações consolidadas disponível na Economática (gráfico abaixo). No capital investido pelo acionista foi utilizado o patrimônio líquido contábil, apresentado pela empresa nas suas demonstrações. Apesar de parecer estranho, a mensuração do lucro econômico realmente utiliza o valor apurado pela contabilidade. Como se deseja saber o valor do retorno obtido pelo investimento na empresa, o montante utilizado corresponde ao valor inicial.

Um problema típico deste tipo de avaliação é determinar a taxa de desconto. Uma vez que o principal acionista da empresa é o governo federal, considerei nos cálculos do custo de oportunidade do capital. Basicamente é preciso imaginar qual o uso alternativo do dinheiro investido na empresa. Assumi que o mais razoável seria a taxa Selic:



Como estamos comparando valores de épocas distintas, faz-se necessário considerar a inflação. Afinal, nos primeiros anos da série a inflação chegou a 22% e não usar valores constantes poderia dar uma visão distorcida do desempenho da empresa. Escolhi como inflator o IPCA, do IBGE, um índice que expressa a inflação brasileira bem melhor que o IGP, muito usado no mercado, ou índices específicos. Assim, todos os valores estão corrigidos para o final de 2016.



Agregando valor para a empresa - a expressão do lucro econômico mostra que a agregação de valor depende de três variáveis: o lucro contábil, o custo de oportunidade de capital e o valor investido. No período analisado, a empresa gerou lucro em quase todos: somente de 2012 a 2015 o resultado foi negativo em 31 bilhões de reais, nominais. Em termos reais, o resultado contábil corrigido foi de 45 bilhões de reais. Aparentemente nada ruim para uma empresa estatal.

A segunda variável é o custo de oportunidade do capital. Quanto maior o custo, mais difícil é para a empresa conseguir agregar valor. Em razão das elevadas taxas da Selic dos primeiros anos, este custo de oportunidade apresentou um valor médio de 17,7%, nominais, sendo 7,57% ao ano o menor valor. Em termos reais, desde 2007 a taxa Selic ficou na casa de um dígito. Observe que quanto maior o custo da Selic, maior deve ser o lucro contábil para compensar o percentual.

A terceira variável é o capital investido. Durante o período a média do PL da empresa ficou em 66 bilhões de reais, sem considerar a inflação. Já quando se considera a inflação é possível observar um padrão nítido de descapitalização da empresa, conforme pode-se notar na figura abaixo. É verdade que o capital nominal sofreu uma forte redução nos últimos anos, passando de 77 bilhões no final de 2011 para 44 bilhões no último exercício social.

A redução do capital investido é boa em termos de agregação de valor: isto indicaria que os acionistas estão colocando menos recursos na empresa e continuam obtendo resultado. O problema é que a soma do lucro contábil obtido, da taxa Selic e do capital investido revela um resultado econômico ruim. O gráfico a seguir apresenta os números obtidos:



 Em nenhum exercício, a empresa foi capaz de gerar lucro econômico positivo. Vamos falar de outra forma: de 1995 a 2016 a Eletrobras só fez destruir valor. Em termos numéricos, isto significa uma destruição anual média corrigida de 25 bilhões de reais.



Observe que o gráfico possui a linha do zero no topo, indicando que todos os valores são negativos. Também é possível perceber que o desempenho de 1995 é claramente destoante; existe aqui uma explicação: a elevada taxa Selic, imposta no início do Plano Real. Assim, o número anterior está claramente influenciado pelo outlier de 1995. Veja o gráfico apresentado, sem o valor de 1995:



A média de destruição de valor anual foi de 20,8 bilhões de reais, corrigidos, sendo o melhor desempenho da empresa ocorrido em 2016.

Justificando a destruição de valor - Seria interessante verificar o efeito do lucro contábil, da taxa Selic e do capital investido no lucro econômico. O que queremos é tentar estabelecer o que foi mais relevante para a destruição de valor da empresa: o baixo desempenho do seu resultado contábil, o elevado custo de oportunidade do capital ou o montante excessivo de capital investido na empresa? Usamos aqui uma análise de correlação ao longo do período, retirando da série o ano de 1995.

Usando somente os valores nominais, a maior correlação foi com a Selic (-0,77). Já com valores sem o efeito da inflação, tanto o capital investido, quanto o custo de oportunidade do capital foram relevantes (-0,70 e -0,71).

Como estamos usando uma série histórica longa, uma questão surge naturalmente: qual a influência da pessoa que estava sentada na cadeira mais importante do Palácio do Planalto? Usando variáveis binárias para marcar os períodos do governo do PSDB, o governo Lula e Dilma, cheguei a uma constatação surpreendente: nenhum governo foi diretamente responsável pelos problemas da empresa. Mesmo no governo Dilma, com sua confusa mudança regulatória, a Eletrobras teve um desempenho diferente dos anos anteriores. Mesmo observando o gráfico acima, com a série histórica do lucro econômico corrigido, não podemos responsabilizar o PSDB pelo fracasso da empresa. (Se retirarmos os efeitos das decisões macroeconômicas, o resultado da empresa não apresenta diferença estatística)

A conclusão é a seguinte:

(a) a política não é uma variável relevante para explicar o desempenho da empresa;

(b) de 1995 a 2016, a Eletrobras destruiu valor para seu acionista no total de R$562 bilhões ou R$2.700 para cada brasileiro.

Rir é o melhor remédio


30 agosto 2017

Links

Somos 207 milhões de habitantes

Propina no futebol brasileiro e o FBI

Concessionária não pode reter o veículo aguardando o pagamento do conserto: "A recusa em devolver o bem pode, inclusive, ensejar a propositura de ação de reintegração de posse, quando comprovado o esbulho."

Setor público tem déficit de 16 bilhões em julho

A influência do Instagram

US Open é o torneio mais igualitário e lucrativo

Afinal, o que está ocorrendo no BNDES?

Um conjunto de informações sobre o banco de fomento BNDES conduzem a seguinte pergunta: o que está ocorrendo naquela entidade?

Durante o governo petista, o BNDES foi usado para fomentar a política dos campeãs nacionais. Algumas empresas e setores foram escolhidos para receber o apoio do governo. Esta política fracassou e o melhor exemplo da ascensão e queda desta filosofia é a empresa JBS. O BNDES aportou recursos baratos na empresa para que pudesse fazer uma expansão gigantesca, adquirindo concorrentes, no Brasil e no exterior. O resultado foi uma empresa com um faturamento bilionário, mas que desbravou mercado através de favores nem sempre razoáveis. O corpo técnico do BNDES insiste em afirmar que agiu dentro da ética. Conseguiu até a saída da ex-presidente inicialmente indicada pelo atual presidente por achar que não estava defendendo os interesses da instituição.

Nos anos anteriores, a instituição impôs muita resistência em revelar os empréstimos efetuados e as condições, alegando serem informações sigilosas e estratégicas. Com muito esforço o Tribunal de Contas da União conseguiu acesso aos dados. Há muito meses existe uma expectativa de que estas informações podem provocar um abalo na política brasileira, mas isto ainda não ocorreu.

Com este passado pouco recomendável, o governo decidiu melhorar o custo do financiamento, através da criação da TLP, uma taxa de juros de longo prazo, que seria o balizador dos empréstimos da instituição e que reduziria o tamanho do subsídio. Imediatamente o atual presidente foi contra a proposta. Conforme comentamos anteriormente neste blog, este gestor chegou a fazer declarações errôneas (ou de má fé) sobre os investimentos passados do banco. Mais ainda, deixou claro que é candidato a presidente da república em 2018.

Também em agosto, o BNDES mudou a forma de cálculo do retorno sobre ativo, que pode reduzir (qual a razão?) o spread básico e ao mesmo tempo reduzindo com que o controlador, o Tesouro, tenha um resultado menor. A justificativa seria a possibilidade de “competir com spreads mais baixos”, o que é no mínimo estranho.

Ao mesmo tempo, surgiu a notícia de que os salários pagos pelo BNDES, um componente do custo - e do resultado, são elevados. Muito acima do padrão usual do mercado e do setor público.

E hoje, o Estado de S Paulo informa que o governo deseja obter um retorno de 100 milhões do banco, recurso este que foi alocado no passado para o banco. A questão é que o BNDES tem acesso a um dinheiro barato, do contribuinte, e tem realizado uma alocação dos recursos pouco transparente e questionável.

Afinal, o que está ocorrendo no BNDES?

Fundef e a remuneração de advogados

Vários municípios brasileiros têm recebido precatórios da União, emitidos para complementar a cota federal que formava o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), no período de 1998 até 2006, quando o Fundef foi substituído pelo Fundeb.

O Fundef recebia recursos dos Estados, dos municípios e, quando o montante não atingia um valor mínimo por aluno, a União fazia a complementação. O Ministério Púbico Federal de São Paulo propôs ação contra a União ao constatar que ela repassou valores inferiores ao que seria devido.

O processo julgado, nesta quarta-feira (23), pelo TCU teve origem na representação elaborada por órgãos que formam a Rede de Controle da Gestão Pública do Maranhão, como Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Estado do Maranhão (MPE-MA) e Ministério Público de Contas do Maranhão (MPC-MA). De acordo com essas instituições, 110 municípios maranhenses firmaram contratos com apenas três escritórios de advocacia, sem licitação, para pleitear as diferenças da complementação devidas pela União ao Fundef. Os honorários contratuais correspondem a 20% do montante dos valores a serem recebidos pelos municípios.


Segundo informação do TCU, somente no Maranhão, as prefeituras receberam 7 bilhões; deste montante, 1,4 bilhão seriam para advogados. O TCU considerou ilegal este tipo de pagamento.

Rir é o melhor remédio

A notícia é séria e refere-se a crise internacional na Ásia. Um pequeno erro geográfico realmente causa estranheza. 

29 agosto 2017

Links

Novo padrão do Fasb de Hedge accounting

Risco da inteligência artificial

Assessoria para mediar a relação entre os Batistas e o BNDES

O efeito do regulador dos auditores (ou seja, PCAOB) nas decisões financeiras

Rússia resgata o maior banco privado do país

Café e a morte precoce

Novo relatório de auditoria no maior mercado de capitais do mundo

James Peterson discute a adoção de um novo relatório de auditoria nos Estados Unidos. Esta é uma decisão da SEC, a partir de uma proposta do PCAOB. O Reino Unido já adotou um relatório deste tipo, assim como o IAASB, em abril de 2016. A principal alteração nos Estados Unidos é a inclusão dos assuntos críticos, ou sejam, os tópicos desafiantes, subjetivos ou complexos.

A poderosa Câmara de Comércio dos EUA já reclamou do padrão proposto e alego até que o novo relatório irá afetar a formação de capital, tornando-a menos eficiente. Mas Newquist e a Bloomberg são favoráveis: mais informação é melhor.

Peterson duvida que um relatório de auditoria ampliado tenha algum valor. Não há, até o momento, nada que comprove, sua qualidade. Além disto, um mercado onde a informação é enviada em alta velocidade, o relatório tenderia a ser “padronizado”. Segundo Peterson, “o reconhecimento da receita seria um desafio no setor de tecnologia” (e isto estaria em todo relatório de empresa de tecnologia). Finalmente, Peterson enxerga que o novo relatório pode trazer mais conflitos legais.

Rir é o melhor remédio

Memes da luta de boxe Mayweather x McGregor:





27 agosto 2017

Diligência e sua relevância

Sobre a venda da Eldorado, a Fibria pretende oferecer 12 bilhões de reais pela empresa do grupo J e F. Segundo o Estadão:

Até agora, a maior oferta foi feita pela indonésia April, de R$ 16 bilhões, montante considerado elevado pelo mercado e, na visão de especialistas, insustentável depois de um processo de diligência. Um dos fatores que contamina o balanço da Eldorado é o fato de créditos tributários, como ICMS, serem contabilizados como geração de caixa. A própria chilena Arauco, que chegou a negociar de forma exclusiva, ofertou inicialmente R$ 14 bilhões pela companhia, valor que caiu a R$ 11,5 bilhões após due dilligence. (grifo do blog)

O fato da existência de diligência contagiando o valor diz muito sobre os riscos do negócio.

Limpando o balanço da Distribuidora

A Petrobrás vai injetar R$ 6,3 bilhões na BR Distribuidora, como parte de uma reestruturação societária anunciada para tornar mais atraente a abertura de capital da subsidiária. Os recursos serão usados para abater a dívida da BR e limpar seu balanço, aumentando as chances de sucesso da oferta de ações, que deve ocorrer até 1.º de dezembro. A operação envolve a transferência de créditos da distribuidora com o grupo Eletrobrás à estatal (...)

A empresa petrolífera pretende fazer a oferta em dezembro. O texto continua:

Os R$ 6,3 bilhões do aporte de capital serão 100% destinados ao pagamento de dívidas da BR. A redução da dívida abre espaço para que a empresa seja mais bem avaliada pelos investidores, aumentando o interesse por seu IPO. Além disso, também é afastado o fantasma de um eventual calote da Eletrobrás. Ao fim de 2016, sua dívida bruta era de R$ 12,4 bilhões. O balanço da BR do ano passado mostra que o total a receber de empresas termoelétricas do Sistema Eletrobrás era de R$ 6,064 bilhões.

A sinalização da redução da dívida é realmente importante. A distribuidora ficará muito mais atrativa para os potenciais compradores, sem os créditos podres da Eletrobas.

Para o professor Eliseu Martins, um dos maiores especialistas em contabilidade do País, nada se altera no balanço consolidado da petroleira. “A Petrobrás apenas perde liquidez, ao deixar de ter dinheiro e passar a ter recebíveis”, explica.

A companhia informa no comunicado que a operação será realizada a valor contábil, sem gerar resultado para nenhuma das duas empresas envolvidas. “Não vai ser gerado nenhum lucro interno nas operações da mãe (Petrobrás) com a filha (BR). Às vezes uma empresa passa um ativo para outra não a valor contábil, mas a valor de mercado, o que pode gerar problemas tributários. Nesse caso, a Petrobrás não deve pagar mais nem menos que o valor pelo qual os créditos estão contabilizados”, diz Martins.


Mais do que isto, os créditos são da Eletrobras, uma empresa do próprio governo.

Rir é o melhor remédio

Fonte: adaptado daqui (baseado em fato real)

26 agosto 2017

Fato da Semana: Privatização da Eletrobras

Fato: Privatização da Eletrobras

Data: 21 de agosto

Contextualização - Na segunda a Eletrobras informou que faria a proposta de desestatização da empresa. Logo depois, o governo anunciou que o processo seria estendido para aeroportos, Casa da Moeda, etc. O movimento de privatização foi provocado pela má gestão pública dos últimos anos. O crescimento das despesas e a dificuldade de conseguir novas receitas mostraram os problemas do uso político das empresas do governo. As estatais não conseguem gerar caixa para o governo; pelo contrário, estão demandando mais dinheiro, quando o governo não possui mais recursos.

Relevância - A privatização pode ajudar a tornar o Estado menor. Representando um terço da economia, o governo é útil para os políticos, mas não para quem gostaria de uma melhor aplicação dos seus recursos.

Qual a relação com a contabilidade? Teremos agora algumas situações interessantes. A Petrobras avisou esta semana que irá colocar dinheiro na BR para melhorar as chances de privatização. As contingências da Eletrobras necessitam de efetiva verificação da sua probabilidade. O custo da Casa da Moeda pode ser discutida de forma mais clara.

Notícia boa para contabilidade? - Sim. Os aspectos apresentados anteriormente podem trazer algumas discussões interessantes.

Desdobramentos - Conforme afirmamos numa postagem na semana, o processo será demorado.

Mas a semana só teve isto?
- A denúncia do diretor de governança da Petrobras foi outro tema relevante.

Rir é o melhor remédio


E eu que achava que era um professor exigente...

25 agosto 2017

Risco do Direito

Uma notícia interessante sobre a justiça de outros países. Joaquín El Chapo Guzmán está sendo julgado nos Estados Unidos. El Chapo (foto ao lado e sua esposa) está tentando contratar alguns advogados privados para ajudar na sua defesa. O valor estimado para a defesa é bastante elevado, já que as acusações são graves.

Os advogados contratados solicitaram ao juiz garantias de que seus honorários não seriam confiscados, antes de aceitarem oficialmente o caso. O receio é que a justiça considere que o dinheiro tenha sido obtido ilegalmente. O juiz da corte federal negou o pedido e considerou que este seria o “risco” de trabalhar para defender El Chapo, acusado de comercializar cocaína, além de outros crimes. Um dos advogados conseguiu livrar da prisão o ex-mafioso Gotti Jr, em 2005.

O julgamento deverá começar em abril de 2018.

Links

Herdeiro da Samsung é condenado a cinco anos de prisão por corrupção

Herdeiros da Gerdau saem da empresa por conta da operação Zelotes (corrupção no Carf)

Ações da Eletrobras antes do anúncio da privatização: insider information?

Governo quer acelerar a privatização

A inteligência artificial é sexista

Gênero e as palavras nos filmes

Rir é o melhor remédio

24 agosto 2017

3o. Congresso UnB

O terceiro congresso UnB de Contabilidade e Governança tem como tema "Aprender Contabilidade como Autor". Irá ocorrer entre 29 de Novembro a 1º de dezembro de 2017 e conta com os seguintes palestrantes confirmados: Stephen Penman (Columbia University), Wai Fong Chua (University of Sydney), David Cooper (University of Alberta), Peter Pope (London School of Economics), Pedro Demo (Universidade de Brasília), Otávio Ribeiro de Medeiros (Universidade de Brasília). Terá também os seguintes workshops: Pesquisa Quantitativa em Contabilidade (Otávio Ribeiro de Medeiros); Pesquisa Qualitativa em Contabilidade I (David Cooper); e Pesquisa Qualitativa em Contabilidade II (Wai Fong Chua), os dois últimos com tradução simultânea.

Pela primeira vez teremos também o consórcio doutoral. Participe.

Links

Eletrobras pode significar 17 bi para a União

Mensurando a censura na Internet (Brasil não possui nenhum endereço bloqueado)

Usar Emoji faz as pessoas pensarem que você é incompetente

80% dos coreanos abusam das namoradas

Apesar de mais um prejuízo, os resultados do Uber foram bons (aqui também)

Pontos a destacar na proposta de privatização

O governo apresentou uma proposta de privatização da Eletrobras e de diferentes negócios, incluindo a Casa da Moeda, aeroportos, loterias e rodovias. A notícia foi bem recebida pelo mercado e provocou uma alta nos preços das ações da Eletrobras. Alguns pontos a destacar:

a) Ineficiência - a privatização de alguns destes negócios pode colocar um ponto final - ou pelo menos reduzir - as ineficiências destes negócios. Uma estimativa feita por uma gestora e divulgada ontem aponta que somente na Eletrobras, ao longo dos últimos quinzes anos, houve uma perda de 228 bilhões de reais. Este valor inclui investimentos inadequados, desvio de recursos por políticos corruptos, formação de preço inadequada, atraso em projetos, entre outros fatores.

b) Ganhos para o contribuinte - a privatização pode não trazer, a curto e médio prazo, um ganho para o contribuinte. O mais provável é um aumento nos preços dos produtos, com a cobrança de pedágios nas rodovias ou a redução de subsídios artificiais. Mas para a sociedade como um todo, a privatização torna mais claro quem está pagando pelos serviços prestados. Se uma tarifa de um aeroporto está abaixo no custo, alguém está pagando por isto. Existindo rombo, o governo cobre com os recursos dos tributos. Assim, quem paga o imposto termina por assumir esta diferença que deveria ser paga pelo usuário do serviço. A transparência é um grande ganho quando o governo decide sair dos negócios que ele não deveria fazer. Mas a longo prazo, a privatização deverá valer a pena.

c) Resistência política - um programa como este terá resistências. A primeira delas é dos políticos, que hoje indicam apadrinhados para os cargos no sistema Eletrobrás, por exemplo. Lógico que eles não irão colocar este argumento e sim afirmar que o processo é contra os interesses do país e da classe trabalhadora. Esta resistência será pesada e difícil de vencer. Outro foco de resistência encontra-se no próprio governo. A Infraero, que irá perder a sua grande fonte de renda, o aeroporto de Congonhas, já afirma que o governo deverá ter um custo de 3 bilhões a mais com o processo, sem sequer conhecer como o mesmo será feito.

d) Modelo de privatização - ainda não está claro como o processo será realizado, mas este aspecto será fundamental para o sucesso ou fracasso do programa proposto pelo governo. Alguns já especulam que a Eletrobras, por exemplo, ficará sem controle definido. Outros já calculam o valor do dinheiro que o governo irá receber. É certo que talvez o momento não seja o mais adequado (perdemos um bom momento em 2005, por exemplo, quando o mercado mundial estava confiante e com muitos recursos disponíveis), mas quanto mais o governo garantir a geração de fluxo de caixa futuro melhor. O processo conduzido pelo governo anterior, com ênfase na menor tarifa, foi um fracasso. Um aspecto crucial do processo é garantir os direitos daqueles que estão participando do processo.

e) Melhoria na transparência - o anúncio do processo poderá ajudar a melhorar a transparência das informações contábeis das empresas estatais. Um texto do Valor já fez uma estimativa, a maior, que as contingências da Eletrobras chegam a 64 bilhões. Mas esqueceu da conta de chegada entre esta estatal e a Petrobras. Este fato, por sua vez, pode ajudar na privatização da BR.

f) Quem serão os interessados? - as privatizações do governo Dilma foram um fracasso por não garantir a sustentabilidade do negócio. Além disto, ocorreu um erro de análise (e projeção) por parte das empresas. Muitos dos potenciais investidores estão com sérios problemas, seja de caixa ou com a justiça. Os participantes no passado, composto por empreiteiras e fundos de pensão, não participarão do processo atual. Afinal, quem serão os interessados? Interessados em Congonhas será fácil de encontrar, mas na Casa da Moeda e em algumas usinas/empresas elétricas será mais difícil. O modelo irá incluir o pequeno investidor e o investidor estrangeiro? São questões relevantes que ainda precisam ser respondidas no futuro. Como será vencida a resistência política? O atual governo tem usado a estrategia da compra de opinião. Isto será a melhor opção agora?

Comportamento exemplar

Durante o início das denúncias sobre a Petrobras, uma das medidas tomadas pelos gestores foi a criação da Diretoria de Governança e Conformidade (DGC). Para o cargo, foi nomeado o funcionário de carreira do Banco do Brasil, João Elek, ainda na gestão do ex-presidente Bendine (que atualmente está preso).

Hoje saiu a notícia que o diretor foi temporariamente afastado do cargo. Segundo o Estado de S Paulo, o afastamento cumpre uma determinação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, que fez uma advertência ao diretor. O portal G1 afirma que a medida foi tomada pelo Conselho de Administração.

O motivo foi um conflito de interesse entre Elek Jr, que participou do processo de contratação de uma empresa de auditoria, com dispensa de licitação, com contrato assinado em dezembro de 2015. Ocorre que na empresa de auditoria - os dois textos não citam o nome - tinha iniciado um processo um processo seletivo de trainee, onde a filha de Elek tinha sido selecionada.

O Comitê de Auditoria da empresa considereu que Elek não agiu contra as normas da empresa. Elek decidiu ingressar com recurso na Comissão de Ética Pública da Presidência. É interessante notar que a empresa tinha recebido uma denúncia sobre o conflito de interesses; esta denúncia foi encaminhada para a CEP, conforme a legislação.

Obviamente que um salário de trainee numa empresa de auditoria é bastante reduzido. Mas espera-se do responsável pela área de governança da Petrobras, uma empresa manchada nos últimos anos pelos escândalos de corrupção, um comportamento exemplar.