Translate

03 julho 2008

Inbev e Anheuser-Busch


Diante do interesse natural na questão da aquisição da Anheuser-Bush pela Inbev, faço uma listagem de alguns textos encontrados na internet sobre o assunto:

1) Em Who Can Cut More Jobs: InBev or Anheuser-Busch?, Heidi N. Moore faz uma análise sob a ótica do número de empregos que serão cortados nas duas situações (com a compra ou sem a compra). A Anheuser-Busch (AB) anunciou, como contra-ataque a proposta, que irá implementar um programa de corte de custos que implicará, entre outras coisas, na redução de empregos. Entretanto, uma das objeções a aquisição é a possibilidade de existir redução no número de empregados. Os trabalhadores parecem favoráveis a AB independente. Para a administração atual da empresa AB é necessário convencer os acionistas que o corte de custos de 1 bilhão é melhor que uma ação a 65 dólares em dinheiro.

2) No Deal Journal, do Wall Street Journal (Could InBev-Anheuser Brew-Haha Yield a Mexican Beer Giant?) discute a possibilidade da criação de uma empresa Mexicana gigante com a junção da Modelo e Femsa. Talvez as autoridades mexicanas não fiquem satisfeitas em perder as empresas para os estrangeiros e incentive o acordo.

3) Em Anheuser-InBev: August Busch’s Conference Call Blunder, Dennis K. Berman comenta a reação de August Busch IV a um questionamento de um acionista.

4) Segundo Duane D. Stanford e Loveday Morris, a InBev NV necessita de adicionais 7 bilhões para persuader o board a AB, além dos 46,3 bilhões já oferecidos.

5) Para David Silver (Anheuser to In Bev: "This Bud's Not For You") apesar de Warren Buffet ter somente uma pequena parcela de ações da AB, o fato de ser Buffet e ser o segundo maior acionista deve ter uma papel importante no negócio. A direção tomada por Buffet deve ser seguida por muitos outros acionistas.

O futuro da GM


Uma possibilidade, apresenta pela Business Week em A GM-FORD Marriage (via Merging GM with Ford?, Brian White), é a junção da GM e Ford.

A longo prazo é uma opção interessante para ambas. Mas o problema é que a GM necessita de uma solução de curto prazo. White acredita que seja uma distração para ambas.

Para Paolo Pezzutti (Is General Motors Closer to a Default?) a estratégia de resultado baseado em carros grandes está errada no atual mercado.

Greg Bensinger e Jeff Green, da Bloomberg, acreditam que um default na GM seja algo possível de acontecer.

Mas como mudar para adaptar a uma situação de maior eficiência e competição no preço?

Victoria Erhart questiona se a estratégia do carro elétrico poderia ser a solução. A GM está incentivando a divisão Volt na tentativa de derrotar a Toyota.

No Gráfico, a cotação da GM nos últimos dozes meses.

Como calcular o valor de uma Social Networks (SN)

Michael Arrignton propõe, em Calculating the Real Market Value of Social Networks (23/06/2008) uma metodologia para avaliar empresas como Orkut, Facebook e MySpace.

O processo começa determinando o Mercado de cada empresa. Já foi observado que diferentes países possuem diferente Social Networks (SN) predominantes. No Brasil, por exemplo, é o Orkut. Em cada país, Arrignton usou a média de gasto em propaganda, conforme estimativa da PWC. Por exemplo, na Austrália o gasto médio é de 148 dólares. Usando esse valor, multiplou pelo número de usuários, para determinar o valor relativo de um usuário. Assim, o usuário do Orkut no Brasil é diferente do usuário do MySpace nos Estados Unidos, já que gastam de maneira diferenciada. Assim, o Orkut ficou em 14º. Na lista de Arrignton (MySpace ficou em primeiro, com um valor relativo de vinte vezes o Orkut.

O próximo passo foi verificar três negociações ocorridas no mercado (Facebook, Bebo e LinkedIn) e sua relação com o peso estabelecido pelo autor. O preço da Facebook e LinkedIn estão próximos, mas não a Bebo. Como a Facebook foi vendida por 15 bilhões de dólares e a relação entre Facebook e Orkut é de 16,4 para 1, o valor do Orkut é determinado como sendo 916 milhões (ou 15 bilhões por 16,4).

02 julho 2008

Rir é o melhor remédio




Fonte: Aqui

Ainda sobre remuneração

Martin Sullivan, chefe executivo deposto da AIG, poderá receber 68 milhões de dólares conforme a Corporate Library, um empresa de pesquisa em governança. Os seus acionistas perderam 41% do valor de mercado desde que ele assumiu a empresa em março de 2005.

Fonte: Aqui

Ford está queimando o Caixa?

Um dos índices mais interessantes de fluxo de caixa é a “taxa de queima” (aqui).
Segundo o Wall Street Journal (Ford Reels as Truck Sales Plunge --- Soaring Gas Prices Force New Production Cuts; Big Three Facing a Cash Drain, Matthew Dolan, John D. Stoll & Kate Linebaugh, 21/06/2008, A1) questiona se a Ford não estaria queimando seu caixa.

Em 31 de março as reservas de caixa da empresa eram de 33,8 bilhões (GM tinha 23,9 bilhões) e estava gastando muito nos novos modelos. Os executivos dizem que possuem caixa para muitos anos, apesar dos problemas atuais.

Dividindo os dados na pesquisa científica


A transparência parece ser algo desejável no mundo empresarial (mas nem sempre é). No mundo científico deveria ser uma regra. Entretanto, poucos periódicos e pesquisadores colocam a disposição do leitor os dados que foram usados numa pesquisa para que possam ser verificados e testados.

O livro SuperCrunches, de Ian Ayres, discute o caso interessante de Lott x Levitt (aqui). Lott fez uma pesquisa relacionando a posse de armas e o crime nos Estados Unidos. A tese defendida por Lott era “mais armas, menos crimes”. Usando os dados que Lott tornou disponível os dados, Ayres e Donashue refizeram os cálculos e conferiram a metodologia e confirmaram que estava errada.

(Levitt, em Freakonomics, deu a entender que Lott teria tratado de maneira inadequada seus dados sobre a questão das armas e o crime nos Estados Unidos.)

Agora o Journal of Political Economy está envolvido em controvérsia pois dois autores que publicaram no periódico, Oberholzer-Gee e Strumpf recusaram a dividir os dados da pesquisa. O editor do JPE é Levitt, que apoiou a decisão dos autores em não compartilhar.

Grasso ganhou


Em 2003 foi revelado que Richard Grasso (foto), então chefe da Bolsa de Valores de Nova Iorque, tinha um pacote de vantagens de remuneração que garantia valores de 140 milhões de dólares. A controvérsia e a discussão foram intensas e terminou na renúncia de Grasso.

Em 2004, o então Attorney General do estado de Nova Iorque, Eliot Spitzer (que depois seria envolvido num escândalo), exigiu a devolução de 140 milhões.

Agora, segundo o Wall Street Journal (Grasso Wins Court Fight, Can Keep NYSE Pay, Aaron Lucchetti, 02/07/2008) a batalha terminou. E Grasso venceu.

Grasso afirmou, depois do anúncio de sua vitória na justiça, que "sempre confiou no sistema"

Aumento de Custos

(...)Donos de fábricas dizem que seus lucros diminuíram por terem de pagar mais por matérias-primas e energia. O fortalecimento da moeda chinesa deixou os produtos de Honghe mais caros para mercados importantes como os Estados Unidos, onde, em maio, o preço de mercadorias chinesas teve um aumento recorde de 4,6% em relação ao ano passado, segundo o Departamento de Comércio americano. Compradores estrangeiros, acostumados com os produtos baratos da China e nervosos por causa da economia fraca em seus países, quase sempre se recusam a pagar mais.

Pequim também contribuiu para esse aperto: empresários dizem que a proteção mais forte do governo para os trabalhadores e o meio ambiente tornou mais caro fazer negócios. Importadores dizem que políticas mais rígidas para a concessão de vistos dificultam suas visitas à China ou a participação em feiras.

Essa pressão é sentida por empresas em todo o país. Mas as mais atingidas são as que alimentam o grande apetite mundial por produtos baratos como brinquedos, utensílios domésticos, sapatos e roupas. Manufaturas de produtos de baixo custo têm sido um dos principais motores do milagre econômico chinês, ajudando a fazer do país o segundo maior exportador mundial, depois da Alemanha. Durante muitos anos, essas empresas continuaram a crescer, expandindo o volume de produção e podando as margens de lucro para ganhar da concorrência. Com o aumento dos custos de material e trabalho e a valorização da moeda chinesa, essas indústrias estão entre as que têm menos capacidade para absorver os custos. (...)

Máquina exportadora da China é ameaçada por aumento de custos
James T. Areddy, The Wall Street Journal, de Honghe, China
The Wall Street Journal Americas - 01/07/2008

Aviação, combustível e economia


(...) Uma viagem entre Rio e São Paulo, que normalmente dura 40 minutos, ganhou dois minutos a mais, com uma economia de 0,5% no consumo de combustível. Agora, o combustível também é comprado com maior freqüência nos aeroportos dos Estados onde o ICMS cobrado é menor.Por enquanto, o mercado financeiro tem reagido com pessimismo à possibilidade de as empresas conseguirem compensar o aumento do petróleo, que chegou ontem a U$ 140 o barril. As ações da TAM e da Gol foram as que mais caíram ontem na Bovespa.

Vôos mais lentos para poupar combustível
Valor Econômico - 02/07/2008

Auditoria e mercado de trabalho

Auditoria aposta em nova lei contábil para manter ritmo
Por Aluísio Alves
01/07/2008
Reuters Focus

As empresas de auditoria independente apostam no potencial de mercado criado com a nova legislação contábil para não perder o "ritmo chinês" de crescimento no Brasil patrocinado pela recente febre de aberturas de capital.

Para isso, estão contratando um batalhão de mais de 2 mil pessoas só neste ano, investindo dezenas de milhões de dólares em treinamento e importando profissionais de diversas partes do mundo.

(...) Um dos desdobramentos desse processo foi a criação de uma agenda para alinhamento do padrão contábil brasileiro às IFRS, modelo já abraçado por mais de 100 países e que será obrigatório para bancos nacionais e para as quase 500 empresas listadas na Bovespa.

O outro é a obrigatoriedade da divulgação de balanços auditados para grandes empresas de capital fechado. Só essa mudança deve trazer imediatamente para o mercado de 400 a 500 novos clientes, estimam as firmas de auditoria.

(...) O ciclo começou com a lei societária Sarbanes-Oxley, que exigiu gastos elevados para implementação de rigorosos controles internos das empresas listadas nas bolsas de Wall Street, inclusive as do Brasil, segunda maior matriz de companhias não-americanas com ADRs.

O passo seguinte foi a avalanche doméstica de ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), que levou mais de 130 empresas à Bovespa nos últimos quatro anos. Esse movimento fez explodir a demanda por serviços das empresas para ganhar eficiência e se alinhar às melhores práticas de governança.

Por terem atuação global e multidisciplinar, as chamadas "big four" --Price, Deloitte, KPMG e Ernst & Young-- nadaram de braçada, passando a atuar fortemente em serviços de consultoria como nas áreas de gestão e de impostos. Resultado: chamá-las atualmente de firma de auditoria já virou uma incorreção.

"Hoje, 60 por cento do nosso faturamento vem de serviços de consultoria", conta Fernando Alves, presidente da Price, a maior no país. No começo da década, 70 por cento da receita vinham de serviços de auditoria.

Com isso, essas firmas vêm dobrando de tamanho a cada três a quatro anos. As unidades das quatro gigantes no país movimentam cerca de 1,5 bilhão de dólares.

SEM CRISE

Nem a crise nos mercados internacionais deve interromper esse processo. "Vamos dobrar de tamanho de novo nos próximos quatro anos", estima Hellmeister Filho, da Deloitte.

O motivo, segundo as companhias, é que a demanda por produtos prestados por elas, especialmente de auditoria, ainda é baixo no país.

"O Brasil ainda é um dos países menos auditados do mundo", avalia Alves, da Price.

Neste ano, boa parte das contratações previstas pelas "big four" será focada para trabalhar com IFRS.

"Um grande limitador para o crescimento é a falta de talentos", reclama Alves, da Price, que está contratando 500 novos funcionários.

"Se tivéssemos mais gente, teríamos mais clientes", emenda Sergio Ricardo Romani, sócio da Ernst & Young.

Para compensar a escassez de profissionais que combinem conhecimentos de auditoria, finanças, contabilidade, tributação e inglês, essas firmas passaram a buscar novos funcionários nas universidades e investir num caro e demorado processo para complementar a formação.

A Price e a Deloitte têm cada uma cerca de 500 trainees em fase de formação. "Num prazo de dois a três anos eles estarão prontos", conforma-se Hellmeister Filho, da Deloitte.

A Ernst criou em 2007 uma universidade interna só para complementar a formação de seus novos colaboradores, como parte de um projeto educativo que consome 3 por cento da receita.

Muito frequentemente, esse processo inclui a passagem por um treinamento em outras unidades das empresas, na Europa e na América do Norte, que pode levar até dois anos.

"Ainda assim, estamos tendo que importar gente de fora", conta Romani, da Ernst.

"Com uma taxa de crescimento de 30 por cento ao ano, vai ficando difícil achar profissionais especializados", completa Pedro Melo, sócio-líder de auditoria da KPMG no país.

(Edição de Daniela Machado)

01 julho 2008

Rir é o melhor remédio

Patrocinador do médico



Fonte: New Yorker

Petrobrás


"Comprar [a ação da] Petrobrás hoje é igual a ter oportunidade de investir na Aramco 40 anos atrás", diz Shawn Reynolds da Van Eck Global's Hard Assets Fund.

Fonte: Aqui

Ao lado, a cotação, em doze meses, da empresa na bolsa de NY

Novas regras para petróleo


A SEC anunciou o propósito de modernizar as regras para a indústria de petróleo, adotando informações adicionais sobre as reservas das empresas do setor. Entre as novidades é a exigência de relatório baseado no critério da Society of Petroleum Engineers. Além disso, para permitir comparação, exige-se o uso do preço médio dos 12 meses anteriores, na determinação dos valores da reserva, em lugar do preço de uma única data.

Fonte: SEC Proposes Rule Changes to Modernize Oil and Gas Reporting Requirements

A força do pedido

O blog Marginal Revolution relata uma experiência interessante: o poder da justificativa (The power of "because").

Ellen Langer e alguns colegas decidiram mostrar o poder da persuasão da palavra “because”.

Em uma fila com pessoas que esperavam a vez em uma foto copiadora, um estranho pede para “furar” a fila.

Quando utilizou-se uma abordagem direta e normal, 60% das pessoas concordaram e deixaram o estranho passar a frente. Entretanto, quando o pedido foi feito relacionando-o a uma razão (e aí a palavra “because” foi utiizada), 94% concordaram.

Mais ainda: mesmo quando o estranho utilizou a palavra “because” (justificou a sua motivação para furar a fila), porém a razão alegada era sem qualquer sentido, 93% ainda assim deixaram o furão passar à frente. Faz sentido? Você deixaria ou não alguém que lhe pediu furar a fila?

Isso talvez seja interessante para os autores de livros que desejam mostrar formas de ser persuasivo.

Herói


O número de soldados que receberam medalhas por heroísmo tem reduzido ao longo do tempo (de 1900 a 1975), quando se compara com o total de tropas. Além disso, o custo de um herói está maior, já que o número de heróis mortos em batalha aumentou proporcionalmente.
Fonte: The Economics of Heroism

GASB e derivativos

O GASB (Governmental Accounting Standards Board) anunciou uma nova norma para contabilidade pública estadunidense: GASB Statement No. 53, Accounting and Financial Reporting for Derivative Instruments.

O objetivo é melhorar as informações sobre derivativos usados pela contabilidade pública. O Gasb exige o uso do fair value para esses instrumentos financeiros e o regime de competência.

“By requiring the fair values of derivative instruments to be reported on the face of financial statements prepared using the accrual basis of accounting, Statement 53 brings additional transparency to those transactions,” said Robert Attmore, chairman of the GASB. “The application of the financial reporting standards required by this Statement gives the users of financial statements a clearer look into the risks their governments are sometimes exposed to when they enter into these transactions and how those risks are managed.”

GASB Issues Statement No. 53, Accounting and Financial Reporting for Derivative Instruments
Business Wire 30/06/2008

Brasil irá adotar XBRL

Uma boa notícia: a possibilidade de adoção da XBRL (clique aqui para ler notícias anteriores sobre o assunto):

Brasil desenvolve versão nacional de formato eletrônico para balanços
Valor Econômico - 1/7/2008

O Brasil poderá se alinhar às mais avançadas práticas mundiais de divulgação de dados contábeis pela internet dentro de algumas semanas. Já foi considerado compatível e está para ser aprovado um conjunto de regras e padrões para que as empresas apresentem seus balanços pelo modelo XBRL, sigla que, em inglês, deriva de linguagem extensível de informações empresariais. Por ela, qualquer interessado terá mais facilidade e agilidade em monitorar o desempenho das empresas. No fim de maio, a Securities and Exchange Commission (SEC) tornou obrigatório para as 500 maiores empresas em valor de mercado listadas em Nova York, o arquivamento dos balanços também nesse novo formato, a partir do balanço deste ano, a se publicado em 2009.Empresas brasileiras, com recibos de ações nas bolsas dos EUA, também terão de se adequar à regra da SEC. Três brasileiras, no entanto, já participavam do processo de testes e experiências de publicação via XBRL, iniciados em 2006.

"O processo de adoção não é tão complexo, pois trata-se de apenas mais uma maneira de divulgar o balanço, com a vantagem de termos mais transparência", diz Márcio Minoru, diretor para mercado de capitais da Net. "É muito mais rápido para as áreas de relações com investidores disseminarem informações pelo mercado", diz Edson Luiz Riccio, professor à frente do Laboratório de Tecnologia e Sistemas da Informação (Tecsi) da FEA/USP.

Pelo XBRL, assim que uma empresa divulgar seu balanço, infinitas pessoas que tenham em seus computadores códigos específicos cadastrados receberão as informações. Essa linguagem tem a mesma origem do sistema de divulgação de notícias RSS, pelo qual é possível receber informações, quando conectado, em tempo real. O XBRL tem a vantagem de também definir lacunas específicas no qual devem ser encaixadas as informações dos balanços das empresas. Dessa forma, cria-se um padrão para a comparação de companhias. A replicação desses dados também é livre de erros de digitação, porque ela será toda automática, diz Riccio. Será mais fácil e seguro, por exemplo, comparar o lucro líquido de diversas empresas, sem ter de buscar os balanços em papéis ou o seu formato completo no site da cada companhia. Em apenas um programa de computador, será possível ter esses dados, sempre atualizados conforme divulgados pelas companhias.

"No processo de divulgação da companhia, quase nada mudará. Mas para investidores e analistas, o XBRL é uma revolução", diz Denys Pacheco Roman, gerente da empresa de serviços de relações com investidores MZ Consult, que trabalha na versão brasileira da linguagem. Hoje, as companhias daqui entregam à CVM e deixam disponíveis em seus sites arquivos de resultados nas extensões HTML, PDF e DOC. Agora, poderão também produzir a versão XBRL.

As brasileiras pioneiras nesse formato - Petrobras, Bradesco e Net Serviços - fazem parte do grupo experimental de 17 companhias que se dispôs a testar o sistema. Elas encaminharam à SEC seus balanços no padrão americano com a nova linguagem. Hoje, 85 empresas já publicaram balanços nesse formato XBRL na SEC. Por enquanto, o XBRL só existe para os padrões contábeis estrangeiros, o IFRS e o americano. O que o Brasil está desenvolvendo é justamente a adaptação da linguagem XBRL às regras nacionais. O Tecsi, da FEA/USP, é quem está trabalhando na criação o arcabouço para preenchimento dos balanços brasileiros (taxonomia), que foi submetido à organização mundial de criação do XBRL. "A taxonomia nacional já foi considerada compatível com os termos mundiais e deverá ser aprovada em poucas semanas", diz Riccio.

Ele diz que também já está em fase avançada a criação da jurisdição brasileira do XBRL, a primeira da América Latina. A instituição ficará abaixo do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e sua organização já foi definida. O projeto também foi apresentado ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). No organograma da jurisdição está uma representante da Bovespa, a gerente de desenvolvimento de empresas Wang Jiang Horng. "As empresas ganharão com o XBRL porque aumentará a transparência das informações", diz ela. No mercado, sabe-se ainda que a Comissão de Valores Mobiliário (CVM) vê a experiência com simpatia, e espera-se que, no futuro, o regulador participe do projeto e venha a exigir o método de divulgação via XBRL, como a SEC.

A MZ Consult e a KPMG trabalham junto com o grupo da USP no desenvolvimento da versão brasileira. Frank Meylan, sócio da firma de auditoria na área de gerenciamento de riscos, acha fundamental que a CVM torne o XBRL obrigatório para a sua popularização no Brasil. A SEC tornou a publicação obrigatória às grandes dos EUA depois do período experimental.

Para Roman, da MZ Consult, mesmo que a CVM não regule o assunto, as companhias oferecerão o novo formato de arquivo e o mercado (analistas e investidores) utilizará a ferramenta, porque ela é mais amigável. Meylan, porém, acredita que a adoção da nova ferramenta sem a condução do regulador abriria espaço para versões diferentes, para que cada companhia fizesse da forma que entendesse melhor. O XBRL é rígido em suas formas e lacunas a serem preenchidas pelas empresas, respeitando apenas questões específicas de setores, lembra Riccio, do Tecsi.

Para Roman, as empresas do Brasil deveriam aproveitar o momento atual - de revisão dos sistemas de tecnologia da informação de contabilidade em razão da nova legislação, que promoverá a convergência aos padrões do IFRS - para adotar o padrão XBRL. Minoru, da NET, diz que a empresa não teve custos significativos com a adoção do método de divulgação do balanço XBRL, mas ele acredita que, mesmo quando for exigido, o custo será baixo, porque a adoção não é tão trabalhosa. "Mas fica difícil se a empresa não tiver um plano de contas específico e claro."O interesse das companhias brasileiras pelo assunto cresceu exponencialmente depois que a SEC adotou esse formato como obrigatório, conta Roman. Nos EUA a entrega desse relatório será obrigatória para todos a partir de 2011, independentemente do tamanho do negócio. Só em junho, foram cerca de 30 consultas à MZ Consulto a respeito do assunto.

Para Meylan, da KPMG, levará ainda cerca de seis meses, depois de aprovadas as regras nacionais, até que as companhias adotem o novo formato. "É algo muito novo, sobre o qual só agora as empresas estão tomando conhecimento."