Translate

18 setembro 2025

Obituário e o espelho da sociedade

Uma pesquisa nos obituários expôs um retrato da nossa sociedade:


A forma como as sociedades lembram os mortos pode revelar o que as pessoas valorizam em vida. Analisamos 38 milhões de obituários dos Estados Unidos para examinar como os valores pessoais são codificados em legados individuais e coletivos. Usando a teoria dos valores humanos básicos de Schwartz, constatamos que tradição e benevolência dominaram as reflexões sobre legados, enquanto valores como poder e estimulação apareceram com menor frequência. Grandes eventos culturais — os ataques terroristas de 11 de setembro, a crise financeira de 2008 e a pandemia de COVID-19 — foram associados de forma sistemática a mudanças nas reflexões de legado sobre valores pessoais, com segurança diminuindo após o 11/9, realização caindo depois da crise financeira e benevolência declinando por anos após o início da COVID-19 e, até o momento, ainda não retornando ao patamar anterior. Gênero e idade dos falecidos também se ligaram a diferenças no legado: homens foram mais lembrados por realização, poder e conformidade, enquanto mulheres foram mais lembradas por benevolência e hedonismo. Pessoas mais velhas foram lembradas mais por tradição e conformidade do que as mais jovens. Esses padrões se deslocaram dinamicamente ao longo do ciclo de vida, com obituários de homens mostrando mais variação relacionada à idade do que legados de mulheres. Nossas descobertas revelam como os obituários servem como cápsulas do tempo psicológicas e culturais, preservando não apenas legados individuais, mas também indicando o que a sociedade norte-americana valoriza coletivamente em relação a uma vida bem vivida.

Fonte: aqui, via aqui 

Campeonato de lançamento de pedras


O World Stone Skimming Championships é um torneio anual realizado na ilha de Easdale, na Escócia. A competição já é tradicional e ocorre da seguinte maneira: cada pessoa deve lançar pedras planas sobre a superfície da água, fazendo-as quicar o maior número possível ou percorrer a maior distância no lago da antiga pedreira da ilha.  

As pedras devem ser da ilha, planas, com no máximo 7,62 centímetros de diâmetro. Antes do lançamento, a pedra deve passar por um anel de metal, que garante o tamanho máximo permitido. Das três tentativas de cada participante, apenas o melhor resultado é considerado. 

O evento ocorre desde 1983 e consegue atrair centenas de competidores. Mas no torneio de 2025 levantaram-se suspeitas que os competidores adulteraram as pedras, lixando-as, o que não é permitido. O vencedor conseguiu lançar sua pedra na distância de 177 metros. 

Foto: aqui 

Enquanto você dormia...

Um estudo recente (via aqui) investiga como desastres naturais influenciam o comportamento de membros do Congresso dos EUA. Os autores analisaram mais de 1.500 projetos de lei entre 2005 e 2017, observando que, nos dias logo após uma catástrofe, os congressistas são mais propensos a votar de acordo com os interesses de doadores especiais (lobbyistas) do que nos dias anteriores. 


Especificamente, a adesão às posições dos doadores sobe de cerca de 80 % para aproximadamente 86 % nos primeiros dois dias após o desastre, retornando ao normal após cerca de três dias. O estudo também usa análise de notícias por aprendizado de máquina para mostrar que a cobertura política cai nesse período, criando uma janela de menor escrutínio público. O trabalho sugere que momentos de crise podem ampliar a influência de interesses particulares sobre decisões legislativas.

Contabilidade afetando a sustentabilidade

Um novo estudo está desafiando suposições de longa data sobre o papel da contabilidade nos negócios, sugerindo que os registros financeiros podem ajudar a impulsionar o desenvolvimento sustentável, em vez de simplesmente relatar transações. A pesquisa, publicada no International Journal of Managerial and Financial Accounting, discute como os sistemas de informação contábil podem ser adaptados para ajudar as organizações a reduzir custos ao mesmo tempo em que avançam metas ambientais e sociais.

Desenvolvimento sustentável é a prática de atender às necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas. Isso exige equilibrar três fatores: proteção ambiental, bem-estar social e, claro, economia. Este estudo argumenta que os sistemas contábeis podem ser alinhados a essas prioridades para ajudar as empresas a equilibrá-las, revelando ineficiências, orientando investimentos e oferecendo previsões confiáveis.

Os pesquisadores se basearam em dados de profissionais de contabilidade e auditoria de diversas organizações. Sua análise estatística mostra que, quando informações orientadas à sustentabilidade são integradas aos sistemas contábeis, as empresas ficam mais bem posicionadas para reduzir custos de produção, cortar desperdícios e diminuir suas emissões de gases de efeito estufa. Por exemplo, ao acompanhar não apenas os gastos financeiros, mas também impactos ambientais, como uso de energia ou descarte de resíduos, as empresas podem identificar


custos ocultos que a contabilidade tradicional pode negligenciar. Isso pode permitir um planejamento de recursos mais eficaz e aumentar a inovação no design de produtos ou nos processos de manufatura.

Os resultados também reforçam a importância de desenvolver normas contábeis que incorporem explicitamente a sustentabilidade. As práticas contábeis convencionais foram projetadas principalmente para investidores, credores e reguladores, portanto focaram em lucratividade e solvência. A contabilidade sustentável requer uma perspectiva mais ampla e exige a integração de medidas não financeiras — como emissões de carbono, uso de água e condições de trabalho — nos mesmos sistemas de reporte que acompanham vendas ou despesas. A evolução dos sistemas contábeis nessa direção ajudará empresas e formuladores de políticas a enxergar o quadro mais amplo dos custos e benefícios de suas atividades.

Fonte: aqui. Imagem aqui

17 setembro 2025

XI ACG


Começa hoje o XI ACG. A partir das nove horas, teremos o Consórcio Doutoral, no qual várias propostas de tese serão debatidas. A cerimônia formal de abertura ocorre às 14 horas e, logo em seguida, às 15 horas, talvez o ponto alto do evento: a Palestra Magna com Katherine Schipper (Duke University, EUA), sobre Sustainability reporting from a financial reporting perspective, mediada pelo professor Paulo Lustosa (UnB).

Após o coffee break das 17 horas, a agenda se divide entre duas atividades: o Painel Temático 1, com Selene Peres Nunes, minha ex-coorientanda de doutorado, discutindo “Lições das regras fiscais: um estudo comparado da OCDE e do Brasil”. Simultaneamente, haverá um Workshop sobre as mudanças na DRE com a IFRS 18, conduzido por Silvio Hiroshi Nakao (USP Ribeirão), Roberta Lira Caneca (Caixa) e Bruno Belon (BB).

IA afetando o comportamento humano: pôquer

No livro No Limite, de Nate Silver, o autor narra o desenvolvimento do PioSolver, voltado para o jogo de pôquer (página 65 da versão em português). O responsável pelo projeto descobriu que o protótipo fazia um tipo de jogada estranho para os jogadores da época. Refere-se ao blefe. No caso, os computadores blefam porque é isso que a teoria dos jogos, usada no protótipo, os instrui a fazer. Isso pode incluir grandes blefes, mas, com frequência, preferem pequenos blefes táticos. Mas é importante lembrar que o objetivo final do programa é ganhar o dinheiro dos oponentes e as pequenas apostas trazem suas vantagens. Uma delas é evitar revelar informações.

O curioso da história é que, na época, isso não era comum. Mas, com a adoção cada vez maior dos solucionadores, a jogada passou a fazer parte dos repertórios dos jogadores humanos. Isso me fez lembrar um caso similar no xadrez, em que o maior jogador de todos os tempos, o norueguês Magnus Carlsen, afirmou que seu jogo mudou depois do lançamento do software de xadrez do Google. E que isso é perceptível na forma como os jogadores de hoje expõem mais seu rei do que no passado, fruto da alteração provocada pelo computador.

Quando uso a IA nas atividades diárias, como ajudar a responder um e-mail complicado, observo que a resposta é diferente do que eu faria. Em alguns casos, para melhor; em outros, nem tanto. Mas penso que, provavelmente, estou, de forma quase imperceptível, mudando minha forma de responder a esse e-mail.

Este texto mesmo: a partir da leitura do trecho do livro, fiz uma redação. A próxima etapa é pedir uma correção ortográfica, mas sei que, em alguns casos, a IA irá fazer mais do que isso. E, se não estiver atento, o estilo meio pomposo da IA irá prevalecer no texto. Mas tenho percebido que minhas respostas, mesmo aquelas que não passam pelo crivo da IA, estão mais “fluídas e natural".

Ou seja, não devemos esquecer que o computador, seja através de uma IA atuando em um texto ou de um solucionador jogando pôquer, irá mudar a forma como agimos no mundo real. Isso é muito fascinante. 

Nova plataforma tributária

Eis um resumo da notícia (via aqui)

O governo federal está desenvolvendo uma nova plataforma tributária extremamente robusta, prevista pela reforma tributária, que substituirá os atuais tributos sobre o consumo (PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS) pelo IBS nos estados/municípios e pela CBS federal. O sistema será até 150 vezes mais “rico” em informações que o PIX: ele processará cerca de 70 bilhões de notas fiscais eletrônicas por ano, com dados detalhados de produto, emissor e crédito fiscal. Um dos seus principais módulos será o split payment, que permitirá que os valores de tributos incidentes em cada operação sejam distribuídos em tempo real para os entes federativos competentes, visando reduzir a sonegação. Haverá também devolução de créditos fiscais instantânea para empresas, e um projeto-piloto com ~500 empresas está em curso. A expectativa é de que esteja operacional em 2026, com função plena em 2027-2029, quando esses tributos forem migrados gradualmente. O sistema inclui mecanismos para evitar fraudes fiscais, simplificar obrigações e devolver parte do imposto para pessoas de baixa renda via “cashback”.

Minuta para adoção do IFRS 18 em pauta até 29/09

Eu estava passando um pente fino em alguns materiais e me lembrei do IFRS 18. Já comentamos por aqui que o objetivo da norma é estabelecer requisitos de apresentação e divulgação das demonstrações financeiras, denominadas pelo IASB de “demonstrações financeiras de propósito geral”. Do início da discussão até a publicação do texto final foram 8 anos de tramitação. (Relembre: aqui).

Pois bem: vi no site do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) que a a Minuta de Revisão de Pronunciamentos Técnicos nº 28 (Alterações decorrentes da IFRS 18/CPC 51) está aberta para audiência pública até 29 de setembro de 2025.

Segundo o CFC, a proposta busca alinhar a norma brasileira ao Anexo D da IFRS 18 – Presentation and Disclosure in Financial Statements, atualizando as referências ao CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, que será revogado. Além disso, outros documentos emitidos pelo CPC (CPCs, ICPCs e OCPCs) também passarão por revisão para incorporar as mudanças necessárias.

É um daqueles movimentos de revisão em cascata, já que a nova norma entra e puxa a revisão de diversas outras. É importante ficar atento, não só à revogação do CPC 26, mas também às pequenas alterações consequentes. É interessante acompanhar e, se possível, participar da audiência. Pena que faltam apenas 12 dias.


Fonte da imagem: Gemini

16 setembro 2025

Denúncia anônima como uma forma de governança


Seria esse um novo instrumento de governança? As linhas diretas corporativas para denúncias anônimas permitem que funcionários relatem desde pequenos problemas cotidianos até casos graves de fraude, assédio e conflitos de interesse. A Nestlé, por exemplo, registrou em 2024 mais de 3.200 mensagens em sua hotline, envolvendo situações de bullying, fraude e irregularidades diversas, das quais cerca de 20% foram confirmadas, resultando em medidas concretas.

Em vários países, a legislação já obriga grandes empresas a manterem canais formais de denúncia. No Brasil, o setor público conta com as ouvidorias como mecanismo equivalente. O crescimento desse tipo de prática deu origem a um mercado especializado: empresas terceirizadas que operam e gerenciam esses sistemas, oferecendo às organizações uma forma estruturada de estimular a transparência, proteger denunciantes e reforçar a confiança interna.

Uma observação sobre III Prêmio Qualidade da Informação Contábil e Fiscal


As duas figuras apresentam os resultados do ranking dos Estados e das Capitais. Também é possível obter os valores dos municípios, mas observe um ponto interessante: em verde (?) estão destacados os entes com as melhores notas. É visível que, com o passar do tempo, as notas máximas melhoraram — e muito.

Uma possibilidade é que a qualidade das informações tenha melhorado substancialmente, quase como em um passe de mágica. No entanto, essa hipótese parece pouco plausível. É mais provável que os entes tenham passado a perseguir as metas do prêmio, seguindo uma espécie de cartilha para alcançar boas avaliações. Trata-se de um caso típico de inflação de notas, fenômeno já bastante discutido no campo da educação.

A inflação de notas corresponde ao aumento contínuo e generalizado das avaliações escolares ou acadêmicas sem que haja, necessariamente, uma elevação proporcional no desempenho real dos estudantes. Esse fenômeno ocorre quando professores ou instituições, pressionados por expectativas sociais, políticas educacionais ou pela busca de prestígio, passam a atribuir notas mais altas de forma desproporcional. Como consequência, reduz-se a capacidade das notas de refletir com precisão o nível de conhecimento ou das habilidades adquiridas, comprometendo comparações entre turmas, instituições e gerações distintas. Além disso, a inflação de notas pode criar uma falsa percepção de mérito, desvalorizar o esforço dos alunos mais dedicados e enfraquecer o papel da avaliação como instrumento de diagnóstico e de incentivo ao aprendizado.

Será que o mesmo não estaria acontecendo também no prêmio?

 

Mais sobre relatórios trimestrais


A Long-Term Stock Exchange, uma Bolsa dos EUA que se diz especializada em companhias que priorizam as metas de longo prazo, quer acabar com o ritual dos balanços trimestrais. “Ouvimos muito a respeito de como é excessivamente oneroso ser uma empresa de capital aberto”, Bill Harts, o CEO da LTSE, disse ao Wall Street Journal. Para ele, o fim dos relatórios trimestrais é “uma ideia cuja hora chegou.”

Segundo o Journal, a LTSE planeja encaminhar uma petição à Securities and Exchange Commission sugerindo o fim da obrigatoriedade de publicação dos balanços trimestrais. A divulgação passaria a ser semestral, e valeria não apenas para as companhias de capital aberto. Nos EUA há cerca de 3.700 companhias com ações negociadas na Bolsa – uma queda de 17% em relação a 2022 e quase metade do pico de 1997.

Em 2018, em meio a um movimento empresarial para reavaliar as exigências regulatórias, Jamie Dimon, o CEO do JP Morgan, e Warren Buffett defenderam o fim do guidance trimestral em um artigo no Wall Street Journal e numa entrevista à CNBC. “O ‘curto-prazismo’ está prejudicando a economia,” dizia o título do artigo.

“Reduzir ou mesmo eliminar as projeções de lucros trimestrais não eliminará, por si só, todas as pressões de desempenho de curto prazo que as empresas de capital aberto dos EUA enfrentam atualmente, mas seria um passo na direção certa,” escreveram Dimon e Buffett. Na opinião de Dimon e Buffett, tudo que os mercados acionários dos EUA puderem fazer para “focar no futuro e construir riqueza e oportunidades de longo prazo tornará o país mais forte, resiliente e competitivo.”

Fonte: aqui 

Contabilidade para Criptomoedas


O resumo:

Este artigo investiga as participações em criptomoedas e as práticas contábeis de empresas públicas nos Estados Unidos entre 2013 e 2022, no contexto da recente norma de contabilidade para criptoativos, a ASU 2023-08. As análises descritivas indicam um crescimento exponencial nas participações corporativas em criptoativos e uma variação significativa nas práticas contábeis adotadas, ressaltando a necessidade da norma. Testes de hipóteses com dados anteriores à regra revelam três achados diretamente relevantes. Primeiro, as empresas tendem a tratar os criptoativos mais como investimentos do que como ativos intangíveis, em linha com a exigência do modelo de valor justo. Segundo, as auditorias das Big Four direcionam as empresas ao modelo de impairment e a escolhas de apresentação menos detalhadas. Essa abordagem conservadora dificilmente atende ao objetivo da nova norma de fornecer informações mais úteis à decisão. Terceiro, a maior liquidez dos mercados de criptoativos incentiva o uso do modelo de valor justo e uma apresentação mais detalhada, coerente com o foco da norma em tokens mais ativamente negociados. Contudo, na amostra analisada, há indícios de que o reporte a valor justo aumenta a volatilidade do retorno das ações e não há evidência de que melhore a relevância das informações sobre lucros. 

Grifo do blog.  Imagem aqui

Trump sugere eliminar relatórios trimestrais


O presidente Trump sugeriu abolir os relatórios trimestrais. Lembro de Johnson e Kaplan, em Relevance Lost, já criticavam a frequência da contabilidade financeira nos anos oitenta, então a crítica não é nenhuma novidade. O foco no desempenho de curto prazo seria o grande problema.

Mas veja que temos algo bom hoje: alguns países tentaram fazer no passado. E o resultado foi a não adesão das próprias empresas. As poucas que aderiram tiveram uma redução na liquidez e uma menor cobertura dos analistas. 

Regime contábil nos Fundos Imobiliários


Sobre a contabilidade dos Fundos Imobiliários (FIIs):  

A contabilidade dos Fundos Imobiliários (FIIs) pode adotar dois regimes distintos para o reconhecimento de receitas e despesas: o de caixa e o de competência. [A CVM publicou] em novembro de 2024, um ofício circular reforçando que a distribuição dos FIIs deve ser baseada em 95% em resultado do lucro caixa. (...)

Outro ponto importante é que o gestor precisa definir se o fundo seguirá o regime de caixa ou de competência e manter essa escolha de forma consistente. “Antes, era comum os administradores alternarem entre os regimes, dependendo do cenário. Agora não pode mais: a decisão deve ser definitiva, sempre respeitando a trava dos 95% do caixa”, destaca Corrêa. Essa regra reduz a margem para distribuições artificiais e aumenta a previsibilidade para o investidor.

Imagem aqui 

15 setembro 2025

China está salvando o mundo da mudança climática?


Noah Smith argumenta que, embora a China ainda seja a maior fonte individual de poluição, é hoje quem executa a estratégia mais eficaz para conter a crise climática: escalar maciçamente tecnologias verdes até que fiquem mais baratas do que as fósseis. Com subsídios, crédito barato, cadeias integradas e abundância de engenheiros, a China domina a produção global de painéis solares, turbinas eólicas e mais de 70% dos carros elétricos. 

Esse volume aciona leis de escala (gráfico 2), derruba custos e já começa a substituir o carvão na geração elétrica e no aquecimento industrial, levando as emissões chinesas a um platô e leve queda recente (gráfico 1). Ao exportar painéis e automóveis elétricos baratos, o país permite que nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil, cresçam pulando a etapa fóssil — não por moral, mas por economia. 

É interessante lembrar que o segundo posto do ISSB, entidade criada para regular as normas contábeis relacionadas à sustentabilidade, é ocupado por um chinês.  Mas o país ainda é reticente em usar as IFRSs. 

OpenAI e sua crise existencial

 


A OpenAI, responsável pelo ChatGPT, está procurando resolver o que o NY Times chamou de crise existencial. Isso inclui redefinir sua parceria com a Microsoft e ajustar sua forma de atuação. Hoje, a OpenAI é uma entidade sem fins lucrativos, e a solução passa pela mudança desse status. Vários financiamentos, inclusive alguns já contratados, dependem dessa mudança — que também permitiria, no futuro, a abertura de capital.

Quanto à parceria com a Microsoft, as mudanças negociadas alterariam a cláusula do acordo original que tratava do acesso da empresa à tecnologia mais avançada caso a startup atingisse a chamada inteligência geral artificial — uma IA tão capaz quanto o cérebro humano, seja lá o que isso seja. Pelo desenho discutido, a Microsoft ficaria com cerca de 30% da nova OpenAI, enquanto a organização sem fins lucrativos que hoje a controla teria algo acima de 20%.

Para a Microsoft, o acordo pode ajudar a manter a empresa na liderança do desenvolvimento de IA. Há dúvidas se os reguladores aceitarão a conversão e existe, naturalmente, a pressão dos concorrentes.

A OpenAI precisa resolver o problema, pois os custos de IA são enormes. A própria empresa projetou um desembolso de caixa de 115 bilhões de dólares até 2029, o que inclui computação em nuvem e processadores.

Do ponto de vista contábil, essa mudança de natureza jurídica conecta-se ao que Niyama e Silva destacam no capítulo 1 de Teoria Contábil: a forma de estruturação de uma entidade — inclusive se pertence ao segundo ou ao terceiro setor — afeta como ela mensura e evidencia seu desempenho. Uma entidade do terceiro setor privilegia métricas de missão; já uma companhia com fins lucrativos passa a enfatizar geração de resultado, retorno ao investidor e divulgações alinhadas a essa finalidade.

Confiabilidade facial e auditores independentes

Eis trecho do resumo: 


Utilizando  um  algoritmo  de machine  learning para detecção facial, a pesquisa identifica a confiabilidade facial por meio de 68 pontos de referência facial, com foco na aparência, gênero e expressão. Características-chave como sobrancelhas, formato do rosto, queixo e buço foram analisadas em 700 imagens. Doze imagens representando os quartis mais altos e mais baixos de confiabilidade foram selecionadas manualmente para uso em cenários baseados em questionários aplicados a 101 auditores independentes.

Resultados:Os  principais  resultados,  obtidos  a  partir  de  análise  de  regressão  pelo modelo Probit,   sugerem   que   os   auditores   tendem   a   considerar parcialmente   a confiabilidade  facial  dos  executivos  na  precificação  de honorários,  especificamente  o gênero facial e a expressão facial. Quando a aparência facial foi analisada, verificou-se que não há associação com os valores dos honorários de auditoria, já que não apresentou significância estatística.

Relação entre IPSAS e Investimento Estrangeiro Direto

Objetivo: Esta pesquisa investigou a relação entre a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade do Setor Público (IPSAS) e os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED). 
Método: Foi analisado um painel de dados, composto por 352 observações de 32 países que concentram cerca de 80% do IED global, utilizando o método do Método Generalizado dos Momentos (GMM-Sys).
Originalidade/Relevância: Com base em evidências empíricas, os resultados sublinham que a adoção das IPSAS não parece ser uma estratégia significativa para aumentar a credibilidade junto dos investidores internacionais e atrair IED. Esta conclusão faz avançar o debate acadêmico sobre os benefícios, críticas e consequências da adoção das IPSAS.
Resultados: Os resultados das cinco estimativas GMM-Sys mostraram que a adoção das IPSAS não levou a um aumento significativo nos influxos de IED dos países da amostra.
Contribuições Teóricas/Metodológicas: Do ponto de vista acadêmico, esta pesquisa acrescenta evidências sobre os efeitos das IPSAS nas economias e também levanta discussões sobre a suposição em estudos anteriores que presumem benefícios da
adoção das IPSAS na forma de aumento do investimento estrangeiro.
Contribuições Sociais/para a Gestão: Para os gerentes públicos e formuladores de políticas públicas, essa conclusão sugere que a adoção das IPSAS dentro de uma estratégia de reforma governamental destinada a obter recursos externos deve ser
considerada com cautela, de modo que outros fatores institucionais parecem, neste momento, ser mais eficazes.

Begnini, D. L., Azevedo, F. G. P., Portulhak, H., Barros, C. M. E. (2025). A (Não) relação das IPSAS com o Investimento Estrangeiro Direto. Revista Contabilidade, Gestão e Governança, 28 (esp), 240-273

Rastreabilidade do impacto climático

O impacto da mudança climática tem sido atribuído aos produtores de combustíveis fósseis. À medida que novos dados e novas técnicas se desenvolvem, as informações ficam mais precisas, embora continuem apontando para os mesmos responsáveis. Entre 2000 e 2023, um quarto das ondas de calor registradas pode ser associado a empresas de energia e a outros grandes emissores de carbono. Eis um gráfico esclarecedor:

Para as empresas que estão no gráfico, isso pode ser uma má notícia: conseguir traçar uma onda de calor a uma empresa específica pode ajudar nos processos judiciais. Ou seja, tratem de aumentar as provisões

14 setembro 2025

Escravos no século XIX


Em agosto de 1833, os britânicos aprovaram uma legislação que aboliu a escravidão no Império Britânico, colocando mais de 800 mil africanos escravizados no caminho da liberdade. Para viabilizar isso, o governo britânico pagou uma soma enorme — £20 milhões, ou cerca de 5% do PIB da época — para compensar/subornar os proprietários de escravos a aceitarem o acordo. Em termos ajustados pela inflação, isso corresponde a cerca de £2,5 bilhões hoje (2025), mas, em proporção ao PIB, os britânicos gastaram o equivalente a cerca de $170 bilhões para libertar os escravizados — uma despesa muito elevada.

De fato, a despesa foi tão grande que o dinheiro foi tomado emprestado e os pagamentos finais dessa dívida só foram feitos em 2015. (...) Claro, em um mundo ideal, a compensação teria sido paga aos escravizados, não aos proprietários de escravos. Todo homem tem propriedade sobre a própria pessoa, e foram os escravizados que tiveram sua propriedade roubada. Em um mundo ideal, porém, a escravidão jamais teria acontecido. Assim, a questão enfrentada pelos abolicionistas britânicos não é o que acontece em um mundo ideal, mas como sair de onde estávamos para chegar a um mundo melhor. Compensar os proprietários de escravos foi a única forma prática e pacífica de alcançar um mundo melhor. 

O grande impacto ocorreu quando o Brasil, o maior mercado remanescente de trabalho escravizado (em meados do século XIX, quase 80% das viagens transatlânticas de escravos navegavam sob bandeiras brasileira ou portuguesa), promulgou sua lei contra o tráfico de escravos em 1850. A campanha britânica, porém, também influenciou o lado da demanda: a aprovação do Aberdeen Act, em 1845, permitiu à Royal Navy apreender navios negreiros brasileiros, o que pressionou o Brasil e ajudou a impulsionar a lei de 1850. (fonte: aqui)

No Brasil, o governo compensou os "proprietários" de escravos também como uma forma de obtenção de um apoio pacífico desse grupo. 

Trabalho remoto e o desligamento de funcionários do Itau

Há uma semana, o Itaú Unibanco desligou cerca de mil funcionários, e o assunto trouxe o debate do trabalho remoto e híbrido. Um grande desafio de uma empresa é monitorar o desempenho dos seus funcionários. Pela teoria da agência, o empregado — o agente — atua observando seus interesses, que nem sempre são os mesmos da empresa. A administração superior da empresa — o principal — deve criar mecanismos que conciliem os interesses do empregado com os da gestão.

No trabalho presencial, o monitoramento é mais fácil. A disposição das mesas, o ponto e a presença de um superior próximo ajudam a fazer com que os objetivos não sejam divergentes.

No trabalho remoto, a conciliação é bem mais difícil, pois a empresa tem dificuldade de saber o horário em que o funcionário começou a trabalhar, o que ele fez durante o período, entre outros aspectos. Em um mundo em que uma parte expressiva do trabalho é feita através de uma máquina, fazer um acompanhamento das tarefas realizadas remotamente não é tão difícil.

No caso do Itaú Unibanco, parece que os funcionários foram monitorados durante meses e a empresa descobriu que eles tinham “baixa aderência”. A instituição financeira verificou que muitos empregados ficavam mais de quatro horas sem atividade em seus computadores.

Há aqui um desafio para a instituição, que seria instalar o monitoramento dos funcionários sem ferir a legislação. A empresa pode acessar os aplicativos de mensagens — como Teams e WhatsApp —, se for usado o computador da empresa.

O problema é a Justiça do Trabalho, muito favorável ao empregado. Uma entidade como o Itaú deve tomar muito cuidado para não ter ultrapassado as normas. E a chance é razoavelmente grande de se encontrar um juiz simpático aos funcionários.

É bom lembrar que desligamentos em massa exigem reconhecimento de despesas em razão da rescisão e que pode afetar as provisões para contingências trabalhistas

Rir é o melhor remédio

Tetris para depois dos 40
 

Bem-estar financeiro no Brasil


O resumo 

Aumentar o bem-estar financeiro tem sido um desafio para os países, sobretudo devido aos seus impactos positivos sobre o crescimento econômico, a qualidade de vida e a saúde física e mental dos cidadãos. O objetivo principal deste artigo é estimar o nível de bem-estar financeiro percebido na população brasileira e investigar como variáveis socioeconômicas e demográficas influenciam essa percepção. Utilizando uma escala adaptada a países emergentes, este estudo empregou uma amostra ampla de 3.998 participantes, abrangendo as cinco regiões do Brasil. Os resultados revelam que uma parcela significativa da população brasileira apresenta um nível de bem-estar financeiro percebido abaixo do ideal, refletindo uma preocupante insegurança financeira que afeta mais de 60% dos respondentes. Observou-se, ainda, que certos grupos — como jovens, pessoas negras e pardas, indivíduos das classes socioeconômicas mais baixas, com escolaridade até o ensino fundamental completo e trabalhadores autônomos — são particularmente vulneráveis. Esses achados apontam para a necessidade de maior atenção dirigida da sociedade e de órgãos governamentais para mitigar desigualdades e promover o bem-estar financeiro de todos os estratos da população brasileira.

Fonte: aqui Imagem aqui


13 setembro 2025

Epstein e o contador

Jeffrey Epstein foi um criminoso condenado que morreu na cadeia em 2019; oficialmente, sua morte foi considerada suicídio. Suas ligações com políticos poderosos e pessoas famosas o tornaram conhecido, assim como o esquema de recrutamento de meninas e jovens mulheres para exploração sexual. Dizia-se executivo, mas provavelmente parte de sua riqueza vinha dos serviços que prestava e do sigilo que mantinha.


Depois de morto, Epstein ainda provoca comoções. Antes de ser eleito, o presidente Donald Trump afirmou que revelaria o “arquivo Epstein”, mas, até o momento, nada foi feito.

Se o Serviço Secreto não mostra o que tem, a imprensa conseguiu acessar e-mails dele no Yahoo e obteve mais de 18 mil mensagens, especialmente entre 2005 e 2008. Na correspondência, foi encontrada uma planilha de um contador com aproximadamente dois mil presentes, compras e pagamentos, totalizando cerca de 1,8 milhão de dólares.

Simplificação tributária é igual a desemprego? O caso de Callaghan

Encontrei a seguinte frase aqui:


Fifty years ago, in 1965, the Chancellor (Jim Callaghan) introduced his Budget Speech with the prophecy that he would so simplify the system that accountants would be put out of business. 

Mas será verdade? Jim Callaghan existiu e parece que lidou com a questão em 1965: em novembro, segundo a Wikipedia, ele anunciou um aumento no imposto sobre o lucro, sobre petróleo e a criação de um imposto de ganho de capital.  

Parece que ele realmente falou que o sistema tributário era complicado por ter dois impostos (income tax e profits tax) e, então, apresentou o corporate tax. No discurso de apresentação, parece ressaltar eficiência e simplificação, sem afirmar que os contadores estaria foram do sistema. Ele nem usou a palavra accountant.

Mas como é dito no blog que trouxe a lembrança de Callaghan:

Pouco mudou nos últimos 50 anos. Cada mudança tributária que pretende introduzir simplicidade no sistema acaba, da mesma forma, prejudicada por complexidade excessiva, omissões e “conceitos tacanhos”. 

Economia hiperinflacionária 2

Sobre a dificuldade de aplicação do IAS 29, segundo a Deloitte:


Os níveis mais elevados de inflação geral têm contribuído para o aumento do número de jurisdições sujeitas à hiperinflação (conforme definido na IAS 29 Financial Reporting in Hyperinflationary Economies). As entidades estão, portanto, enfrentando cada vez mais os seguintes desafios:

  • determinar se uma economia é hiperinflacionária, conforme definido na IAS 29, pode ser, por vezes, difícil. A definição inclui várias características da hiperinflação, como o fato de a taxa de inflação acumulada em três anos se aproximar ou ultrapassar 100%. Também pode ser desafiador decidir qual índice geral de preços deve ser aplicado aos valores nas demonstrações financeiras;

  • dificuldades em determinar a moeda funcional de uma entidade em circunstâncias nas quais tanto a moeda local quanto uma moeda internacional são de uso comum. Isso pode ser particularmente relevante quando a moeda local é hiperinflacionária. A IAS 29 aplica-se apenas às entidades cuja moeda funcional é a moeda de uma economia hiperinflacionária (e não a qualquer entidade que opere nessa economia). Deve-se observar ainda que a IAS 21 The Effects of Changes in Foreign Exchange Rates declara especificamente que “[u]ma entidade não pode evitar a reexpressão de acordo com a IAS 29 ao adotar, por exemplo, como sua moeda funcional, uma moeda diferente da determinada em conformidade com este Pronunciamento (como a moeda funcional de sua controladora)”;

  • quando há restrições às trocas entre a moeda local e moedas negociadas globalmente, pode ser difícil identificar uma taxa de câmbio adequada para a conversão de itens monetários em demonstrações financeiras individuais e para a conversão das demonstrações financeiras de uma operação no exterior para a moeda de apresentação de sua controladora. Embora essa questão não seja exclusiva de economias hiperinflacionárias, a escassez de moeda “forte” e, consequentemente, a necessidade de restrições cambiais são, frequentemente, características de economias cuja moeda local está perdendo valor.

Economias hiperinflacionárias


As economias hiperinflacionárias exigem a aplicação da norma IAS 29 'Financial Reporting in Hyperinflationary Economies'. Lembrando que a norma foi emitida pelo antigo Iasc, mas ainda está em vigor. Na norma há alguns indicativos de quando um país seria classificado como tal, a maioria subjetivos, como o uso de moeda estrangeira nas transações domésticas. E também existe uma regra objetiva, que seria uma inflação de 100% em três anos. 

Como não há uma definição expressa da classificação, na prática isso tem sido feito pelo International Practices Task Force (IPTF) do Centre for Audit Quality (CAQ), que monitora o status de economia hiperinflacionária. 

O mais recente documento do IPTF é de maio de 2025.  A lista também traz as explicações para a classificação. É bem verdade que o relatório do International Practices Task Force (IPTF) usa os critérios do ASC 830 (US GAAP). Para classificar uma economia como altamente inflacionária, considera-se uma taxa acumulada superior a 100% em três anos. De acordo com os dados do FMI, vários países se enquadram nessa categoria, incluindo Argentina, Egito, Etiópia, Gana, Haiti, Irã, Líbano, Malaui, Mianmar, Nigéria, Serra Leoa, Sudão, Suriname, Turquia, Venezuela e Zimbábue. Casos graves destacam-se no Líbano, com taxas acumuladas acima de 600%, na Venezuela, com mais de 1.400%, e no Zimbábue, que ultrapassou 8.000% em 2025. Outros países, como Burundi e Sudão do Sul, também passaram recentemente a ser classificados como altamente inflacionários. Além disso, Angola e Iêmen foram incluídos em categoria de monitoramento, com taxas entre 70% e 100% ou forte aceleração recente. 

Imagem aqui 

Educação

Fonte: aqui
 

12 setembro 2025

Palestrantes de um encontro sobre sustentabilidade: um comentário


 Eis o trecho da notícia:

A Fundação IFRS divulgou a lista de palestrantes do Simpósio Anual de Sustentabilidade IFRS, a ser realizado no dia 30 de outubro de 2025. O evento, sediado no Convene Sancroft, St. Paul's, em Londres, está com inscrições abertas para participantes virtuais e presenciais.

Entre os convidados estão a diretora de relatórios de sustentabilidade do grupo Nestlé, bem como a diretora de Relatórios de Sustentabilidade da Shell.
 

Interessante e provocativo ter duas das empresas que mais contribuem para o problema ambiental no mundo. Se a participação for no sentido de anunciar uma mudança de rumos, parece válido. Mas, se for apenas uma estratégia de marketing para suavizar o impacto das empresas, há o risco de o evento perder credibilidade.

Foto: aqui 

Efeito da desconfiança nos números

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos demitiu Erika McEntarfer do Bureau of Labor Statistics (BLS), acusando-a de manipular os dados. Os números não eram agradáveis e isso irritou o presidente. Não foi o primeiro, nem será o último caso em que isso ocorre. E, até onde se sabe, as acusações são infundadas.


Mas a decisão de Trump traz, pelo menos, quatro consequências ruins. Em primeiro lugar, desloca o debate do assunto mais relevante — o desemprego — para outro tema, que seria a manipulação dos dados. Funciona como uma distração. Em segundo lugar, abre a oportunidade de difamar os números toda vez que eles não forem favoráveis. O fato de considerar que há parcialidade no processo, por razões políticas, poderá trazer desconfiança em resultados futuros. Em terceiro lugar, os apoiadores da visão política do presidente irão desconfiar dos dados a partir de agora e usarão esse argumento em toda discussão. Em quarto lugar, os dados são usados em decisões, inclusive de investimento. Como os números futuros estarão sob desconfiança, os tomadores de decisão podem levar isso em consideração. Geralmente, os dados de emprego afetam o mercado acionário; mas isso poderá perder força, já que os números futuros serão produzidos sob desconfiança.

O que ocorreu com as estatísticas de emprego também pode acontecer na contabilidade. Imagine que os resultados divulgados pelas empresas sejam questionados pelo principal executivo da companhia por não serem confiáveis. Seria fruto de políticas contábeis — realmente são, mas com motivações escusas e manipulações. Haveria um descrédito nos números. Na verdade, isso já ocorre com a contabilidade há anos. Os executivos, quando apresentam os resultados, não falam no lucro líquido, mas em um tal de Ebitda. Eles estão dizendo que o número contábil foi manipulado. Só ainda não demitiram o contador, o auditor e os profissionais associados ao número contábil. Mas, nas informações, o executivo e o responsável pelas relações com investidores destacam o Ebitda, e não o lucro líquido, numa atitude semelhante à do presidente dos Estados Unidos.

Imagem aqui 

Rir é o melhor remédio


 

11 setembro 2025

Estados Unidos pode exigir IFRS, mas só com conciliação com US GAAP


O presidente da SEC (Securities and Exchange Commission) dos EUA, Paul Atkins, advertiu que pode revogar a regra que permite a empresas multinacionais apresentarem seus demonstrativos financeiros segundo as IFRS sem a necessidade de reconciliação com o US GAAP.

Ele enfatizou que uma condição para manter essa dispensa é que a IFRS Foundation (entidade que supervisiona o IASB) tenha financiamento estável. Se não houver garantias de continuidade e qualidade no trabalho do IASB, ele alertou que pode ser preciso reavaliar a decisão tomada em 2007 de eliminar essa exigência de reconciliação.

Atkins também expressou preocupação sobre a expansão da missão da IFRS Foundation, principalmente com envolvimento em padrões de sustentabilidade via o ISSB (International Sustainability Standards Board). Ele defendeu que os padrões contábeis financeiros sejam mantidos focados em relatórios financeiros confiáveis, sem servir de “porta de entrada” para agendas políticas ou sociais.

Claramente um maior distanciamento com entre os Estados Unidos, leia-se Fasb, e os demais países do mundo, leia-se IFRS.  

Albânia quer colocar a IA no governo

Uma nova ministra da Albânia encarregada de cuidar dos contratos públicos será imune a subornos, ameaças ou tentativas de obter favores. Isso porque Diella, como é chamada, é um bot gerado por inteligência artificial.

O primeiro-ministro do país, Edi Rama, que está prestes a iniciar seu quarto mandato, disse nesta quinta-feira que Diella, que significa “Sol” em albanês, administrará todas as licitações públicas nas quais o governo contrata empresas privadas para vários projetos.

“Diella é o primeiro membro do gabinete que não está fisicamente presente, mas é virtualmente criado pela IA”, disse Rama durante um discurso de apresentação de seu novo gabinete. O bot ajudará a tornar a Albânia “um país onde as licitações públicas são 100% livres de corrupção“.

(...) Mas nem todo mundo está convencido da eficácia do sistema. Um usuário do Facebook disse: “Até a Diella será corrompida na Albânia.” Outro disse: “Os roubos continuarão e Diella será responsabilizada.”

Fonte: aqui


O uso de inteligência artificial na política desperta entusiasmo e desconfiança. Entre os principais desafios está a transparência: quem controla o algoritmo e define seus critérios de decisão? Sem clareza, há risco de reproduzir ou até ampliar vieses já existentes. Outro ponto crítico é a responsabilidade: se uma IA toma uma decisão equivocada, quem responde por suas consequências?

Uma leitura do livro Weapons of Math Destruction: How Big Data Increases Inequality and Threatens Democracy , de Cathy O’Neil, publicado em 2016, poderia ser útil nesse debate. 

Nesse cenário, a governança torna-se fundamental. Não se trata apenas de regular a tecnologia, mas de garantir mecanismos de supervisão humana, auditoria independente e participação social nos processos. A governança deve equilibrar eficiência e inovação com princípios democráticos, preservando a legitimidade das decisões políticas. Afinal, substituir ou apoiar políticos com IA só fará sentido se for para fortalecer — e não fragilizar — a democracia.

 

Salve o Corinthians


O Corinthians fechou o primeiro semestre de 2025 com um déficit de cerca de R$ 60 milhões, o que elevou a dívida bruta do clube para aproximadamente R$ 2,6 bilhões. O principal fator para esse resultado negativo foi o alto gasto com pessoal, incluindo salários, direitos de imagem e encargos, que superaram em muito as projeções. Apesar de contar com receitas expressivas vindas de televisão, patrocínios, bilheteria e transferências de jogadores, o montante arrecadado não foi suficiente para equilibrar as contas, sobretudo diante das despesas do clube social e dos esportes amadores.

Leia mais aqui. A impressão que tenho é que o clube precisa de um choque de gestão, o que inclui uma condução mais séria e organizada das suas finanças. Os mesmo dirigentes de sempre só fazem agravar a crise. 

XI ACG - II


Ainda sobre o evento, que ocorrerá de 17 a 19 de setembro de 2025, em Brasília. Os palestrantes presentes no evento.

O congresso conta com o patrocínio do Banco do Brasil, da Caixa e do Governo Federal, além da promoção do Sebrae e da organização da Finatec. Também recebe o apoio do CRCDF, do CFC, do CNPq e do Banco do Brasil.

Este evento surgiu no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis e ganhou muita força ao longo do tempo. Já tivemos a presença de dois nomes que fazem parte do Hall da fama da Ohio University.  

XI ACG


Entre os dias 17 e 19 de setembro de 2025, Brasília será palco de mais uma edição do UnB Accounting & Governance Conference (ACG). O evento, que chega à sua 11ª edição, já se consolidou como um dos principais espaços de debate acadêmico sobre contabilidade e governança no Brasil. A programação deste ano mostra um equilíbrio entre temas clássicos da área e discussões atuais que atravessam fronteiras acadêmicas e sociais.

Dia 17 – Abertura e Sustentabilidade em foco

O congresso começa com o Consórcio Doutoral, espaço essencial para jovens pesquisadores trocarem experiências e receberem feedback qualificado.
À tarde, a Palestra Magna será ministrada por Katherine Schipper (Duke University), referência mundial em pesquisa contábil, discutindo sustainability reporting from a financial reporting perspective. Um tema que conecta diretamente os relatórios financeiros às crescentes demandas por transparência socioambiental.
Na sequência, os participantes poderão escolher entre dois debates de peso: o Painel sobre regras fiscais, conduzido por Selene Peres Nunes, e o Workshop sobre a nova IFRS 18, com Silvio Hiroshi Nakao.

Dia 18 – Inteligência Artificial, digitalização e recursos naturais

A manhã do segundo dia abre com duas atividades paralelas. De um lado, o Painel sobre inteligência artificial e tomada de decisão, liderado por Daniel Cajueiro (UnB). De outro, o Workshop sobre pesquisa qualitativa, com Niamh Brennan (University College Dublin). Logo depois, a Plenária 1 traz Dorota Dobija (IESE Business School) discutindo os lados “claros e escuros” da digitalização na contabilidade e auditoria. À tarde, além das tradicionais sessões paralelas de artigos, o destaque é a Plenária 2, novamente com Niamh Brennan, sobre extração e esgotamento de recursos naturais no Sul Global — um tema que extrapola a contabilidade e toca dimensões sociais, políticas e ambientais. O dia se encerra com o Painel dos patrocinadores sobre risco e um coquetel de confraternização.

Dia 19 – Novas fronteiras da pesquisa

O último dia dá destaque à produção acadêmica. Pela manhã, o Fórum de Editores de Periódicos discute o uso da inteligência artificial na produção científica, enquanto Katherine Schipper conduz um workshop sobre os efeitos econômicos das normas contábeis. Depois do coffee break, Dorota Dobija retorna com um workshop inovador sobre o uso de fotografias em pesquisas qualitativas. O encerramento fica por conta de novas sessões paralelas de artigos e da cerimônia de fechamento, coroando três dias intensos de troca de conhecimento.

10 setembro 2025

Estrutura Conceitual: enxuta ou detalhada?


A Estrutura Conceitual do IASB/CPC vive um dilema curioso. De um lado, existe a tentação de mantê-la curta e objetiva, uma espécie de documento simples que orienta sem complicar. Essa escolha traz clareza, facilita a leitura e cumpre bem a função de guia geral para acadêmicos, reguladores e profissionais. Mas, ao ser concisa demais, a Estrutura corre o risco de deixar de fora pontos essenciais e abrir espaço para diferentes interpretações.

Do outro lado, há a opção de detalhar cada vez mais. Isso permitiria enfrentar lacunas que ainda persistem, como a discussão sobre manutenção de capital, a definição explícita de unidade de medida ou mesmo a questão da periodicidade. O problema é que, quanto mais a Estrutura cresce — já são cerca de 30 mil palavras — mais ela se aproxima de virar um documento denso. E grandes documentos estão mais sujeitos a erros, incoerência, falta de consistência e outros problemas. 

Quando pensamos no dilema da Estrutura Conceitual do IASB — ser curta e objetiva ou crescer para preencher lacunas — há um detalhe importante que não pode ser ignorado: a posição hierárquica da EC. Ela está abaixo de um pronunciamento e, muitas vezes, é tratada quase como um apêndice sem grande importância. Se esse papel secundário é real, faria sentido optar pelo caminho mais simples: um documento enxuto, sem ambições de resolver tudo.

Por outro lado, a história mostra que a EC já influenciou mudanças em normas, revelando que talvez não seja tão irrelevante quanto aparenta. Afinal, se ela é o fio condutor que deveria dar coesão às normas, não seria lógico aproveitar esse espaço para tratar de temas ainda nebulosos, como os princípios da evidenciação ou a distinção entre materialidade e relevância? Um documento que conseguisse esclarecer essas bases teria impacto direto na aplicação da técnica contábil.

Uma tendência recente dos reguladores é alongar as explicações, sendo redundantes, exemplificando e incorporando novas seções, como glossários ou FAQs. Tendências como essa parecem indicar que os reguladores são remunerados pelo número de palavras redigidas na estrutura, e não pela concisão e objetividade. É essa contradição que alimenta o dilema sobre seu futuro: manter-se simples ou assumir, de vez, sua relevância.

Imagem aqui 

Rir é o melhor remédio


 Fonte: aqui

Darwin e IA


Um site que documenta os maiores fracassos em tecnologia relacionados à Inteligência Artificial, destacando como a arrogância humana frequentemente colide com a ineficiência das máquinas. O portal lista os “desastres mais bobos” envolvendo IA no ano, incentivando leitores a enviar novas indicações. A ideia é transformar essas falhas em material educativo — como alerta: “A decisão de IA catastrófica de hoje pode bem ser a vencedora do Darwin Award de amanhã!”

Um dos nominados envolvendo o tema importante para contabilidade, a fraude:

A Inovação

Nosso visionário Superhost do Airbnb descobriu o que acreditava ser o casamento perfeito entre tecnologia moderna e espírito empreendedor: usar geração de imagens por IA para fabricar provas de danos à propriedade no valor de mais de £12.000. Para quê se preocupar com danos reais quando a inteligência artificial poderia criar destruição muito mais convincente?

A Catástrofe

O plano espetacular envolvia enviar imagens manipuladas digitalmente mostrando grandes danos a uma mesa de café, junto com alegações de colchões manchados de urina, eletrodomésticos destruídos e diversos outros reparos caros. A obra-prima do anfitrião incluía várias fotos da mesma mesa exibindo diferentes tipos e padrões de danos — um nível de inconsistência que faria até editores de fotos amadores chorarem.

As Consequências

Inicialmente, a equipe de investigação do Airbnb mostrou-se tão pouco criteriosa quanto o anfitrião foi criativo, ordenando que o hóspede acadêmico, baseado em Londres, pagasse £5.314 em indenização com base em sua “análise cuidadosa das fotos”. No entanto, quando o The Guardian entrou no caso e a vítima apontou as discrepâncias óbvias entre imagens do mesmo objeto, o Airbnb subitamente desenvolveu a capacidade de reconhecer que casos falsos não atendem a padrões mínimos de evidência.

Por que Foi Nomeado

Este caso representa a tempestade perfeita da má utilização da IA: um humano confiantemente usando IA para cometer fraude, combinado com sistemas de investigação assistidos por IA que não detectaram manipulações óbvias. Nosso indicado demonstrou que, com grande poder da IA, vem absolutamente nenhuma responsabilidade — enquanto os sistemas do Airbnb mostraram que a inteligência artificial é perfeitamente capaz de ser tão ingênua quanto os humanos, apenas mais cara.

Evidenciação da voz

Do JAR: 


 Examinamos a utilidade de abordagens de aprendizado de máquina para medir o tom vocal em divulgações corporativas. Documentamos uma discrepância substancial entre os dados de treinamento amplamente adotados, baseados em atores, que fundamentam essas abordagens, e a fala em divulgações corporativas. Constatamos que os modelos existentes alcançam classificação de tom vocal quase perfeita dentro de seu domínio de treinamento. No entanto, quando testados em discursos reais de executivos durante teleconferências, seu desempenho cai para níveis próximos ao acaso. Assim, introduzimos o **FinVoc2Vec**, um modelo de deep learning que se adapta a gravações de teleconferências e classifica o tom vocal de executivos de forma significativamente mais precisa do que o acaso. As estimativas do FinVoc2Vec estão associadas ao desempenho futuro das empresas e podem ser usadas para construir carteiras de ações lucrativas. Em nossas análises, as estimativas de modelos anteriores de tom vocal mostraram-se em grande parte não relacionadas ao desempenho das firmas. Nossos achados enfatizam a importância de uma abordagem específica ao domínio para a análise de voz em contabilidade e finanças.

Listen Closely: Measuring Vocal Tone in Corporate Disclosures
Jonas Ewertz, Charlotte Knickrehm, Martin Nienhaus, Doron Reichmann 

Imagem aqui 


A sazonalidade de IA


Conforme reportado pelo Sherwood News, o uso do ChatGPT começa a aumentar novamente agora que estudantes do ensino médio e universidade retornam às aulas neste outono de 2025. Dados compartilhados pelo Voronoi indicam uma queda marcante no uso durante os meses de verão: o número diário de tokens gerados passou de cerca de 97 bilhões em maio para 36,7 bilhões em junho, período que coincide com o fim dos semestres e o início das férias. Com o retorno às aulas, observa-se uma retomada do uso, sugerindo que os estudantes constituem uma porção significativa dos usuários do ChatGPT. Esse padrão ressalta como o chatbot se tornou um recurso amplamente utilizado no contexto acadêmico — possivelmente como ferramenta auxiliar em tarefas escolares — e levanta preocupações quanto à dependência da tecnologia para fins educativos.

IA fez aumentar os recibos falsos de despesas nas empresas


Uma consequência da IA: recibos falsos de despesas para serem reembolsados pelas empresas; 

A Association of Certified Fraud Examiners, que certifica cerca de 5.000 novos examinadores por ano, pede regularmente a seus membros que relatem o maior caso de fraude ocupacional investigado nos últimos 18 meses. Na pesquisa mais recente, cerca de 13% dos casos envolviam funcionários que apresentaram despesas infladas ou inventadas, o que pode levar a acusações criminais. A perda mediana foi de US$ 50.000.

Recibos falsos tornam isso mais fácil. Aproximadamente 30% dos recibos fraudulentos que a AppZen detecta agora são gerados por chatbots de IA, em vez de editores de imagem ou serviços de modelos, disse a empresa. E o número total de recibos fraudulentos detectados aumentou cerca de 30% desde maio de 2024. A Expensify afirmou que detecta centenas de recibos gerados por IA a cada mês, entre os milhões que processa. A SAP Concur sinalizou cerca de 1% dos recibos auditados pela ferramenta Verify como potencialmente gerados por IA.

“Definitivamente tenho ouvido de membros e outros especialistas em combate à fraude que a IA está resultando diretamente não apenas em um aumento desse tipo de fraude em volume, mas também tornando esse tipo de fraude mais difícil de detectar”, disse Mason Wilder, diretor de pesquisa da associação de examinadores de fraude, ao DealBook.

Falsificações convincentes provocaram uma nova escalada tecnológica. Não muito diferente de quando, por exemplo, as impressoras domésticas criaram a necessidade de novos métodos de detecção de fraude em despesas, empresas de software construíram um arsenal de técnicas para identificar um novo nível de recibos falsos gerados por IA.

Chatbots deixam uma espécie de impressão digital nos metadados das imagens que produzem, mas, se um funcionário tira uma foto ou captura de tela da imagem, esse sinal desaparece.

Um algoritmo pode comparar recibos criados por IA com recibos reais do mesmo fornecedor. Ele pode captar pequenas diferenças em fonte ou espaçamento, por exemplo, que o olho humano não perceberia.

Fonte: A cat-and-mouse game’. Sarah Kessler. NY Times, DealBook, 6 de setembro de 2025