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20 novembro 2010

Juros do Panamericano

Nas instituições médias, a taxa do crédito pessoal não chega a 3% ao mês; no banco de Silvo Santos juro mensal supera os 4%

A burocracia para conseguir um crédito pessoal no Banco Panamericano é mínima se comparada à exigida em outras instituições. A facilidade ao cliente, no entanto, é compensada com o pagamento de um dos juros mais altos do mercado.

Segundo dados do Banco Central, a taxa média praticada pelo banco de Silvio Santos no crédito pessoal é de 4,15% ao mês. Instituições de porte semelhante não chegam em 3% ao mês. O banco Votorantim, por exemplo, cobra taxa mensal de 2,19%; o Cruzeiro do Sul 1,59%; o BMG 2,20% e o Daycoval 1,97%.

“A instituição, que trabalha com um crédito massificado direcionado para quem tem uma renda mais baixa, assume um risco maior”, explica o professor José Pereira da Silva, do Centro de Contabilidade, Finanças e Controle da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A história da aposentada Maria Carmem Martins, de 56 anos, ilustra bem o nível de risco que o Panamericano assume ao conceder crédito com baixo nível de exigência burocrática. Ela, que já acumula há alguns meses prestações de outros empréstimos atrasadas, saiu animada na tarde de ontem da agência do Panamericano na Avenida Paulista. “Aqui eu consegui empréstimo.”

A ex-funcionária da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) não consegue contar nos dedos de uma mão a quantidade de instituições em que está inadimplente. “Nossa Caixa, agora o Banco do Brasil, no Real, uma outra financeira... E ainda tem outras mais”, diz.

Questionada sobre qual será a taxa de juros cobrada no novo empréstimo, feito no Banco Panamericano, Maria Carmem diz que não sabe. “A atendente esqueceu de me falar essa parte.”

Pereira, da FGV, reforça que “as taxas de juros elevadas cobrem o risco do crédito”. Ele diz que cada vez mais a concorrência nesse mercado tem ficado acirrada o que, de alguma forma, pode beneficiar o consumidor, desde que ele pesquise as melhores taxas.

Manuel Enriquez Garcia, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), confirma que os bancos comerciais, como o Panamericano, têm uma política diferente das instituições maiores. “Os grandes bancos adotam regras mais seguras para o empréstimo.”

Profissionais liberais, como taxistas e motoboys, também são atraídos pelo Panamericano, uma vez que não há necessidade de comprovação de renda fixa. Clerto Barbosa financiou seu novo táxi há oito meses por meio do banco. “Foi o vendedor que me levou ao Panamericano para fazer o empréstimo”, conta. “Ele disse que lá o financiamento era liberado mais rápido.” Dito e feito: duas horas depois, Clerto já estava dando a partida no novo carro.

Regulamentação. No Brasil, o Banco Central funciona como o regulador da liberação do crédito. Os principais bancos adotam o que é denominado de ‘boas práticas’. Dessa forma, eles exigem dos clientes comprovação de renda e endereço e fidelidade ao banco, o que torna o empréstimo mais seguro.

Apesar de recomendar as melhores práticas para o empréstimo, o Banco Central libera às instituições para aplicarem as normas de crédito da forma mais conveniente.

Na avaliação do professor Garcia, da USP, ocorre um “afrouxamento nas regras de empréstimo”. “Às vezes uma pessoa tem o nome sujo na praça e o banco não checa o antecedente dela”, afirma.


Banco Panamericano tem a taxa de juro mais alta - Roberta Scrivano e Luiz Guilherme Gerbelli - 20 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Caixa no Controle

A Caixa Econômica Federal hoje é responsável por lei pelo que vier a acontecer no Banco PanAmericano. Ela não responde pelo passado, mas depois da nomeação da nova diretoria e do acordo de acionistas, a CEF passa formalmente a integrar o bloco de controle e nesta condição responde até juridicamente por problemas na instituição. Em outras palavras: o risco foi estatizado.

No mercado, ainda existem muitas dúvidas sobre a operação, e ela tem provocado efeitos na relação entre os bancos. “Ainda não conhecemos o fim dessa história”, me disse uma fonte do mercado bancário privado.

O Banco Central está investigando o procedimento das empresas de auditoria neste caso, porque houve falhas em rotinas que as empresas têm que cumprir. Um exemplo é a de mandar circular para todas as contrapartes, no caso de venda de carteiras, um pedido de dados, para conferir o que uma instituição diz que vendeu e a que a outra diz que comprou. O cruzamento das informações dessas transações tem que ser feito. O que se investiga é por que isso não foi feito ou, se foi, por que nada detectou.

O Banco Central durante a crise de 2008/2009 deu financiamento para que os grandes bancos comprassem carteiras de bancos médios e pequenos. A compra e venda de carteira de crédito é uma transação que ocorre regularmente entre os bancos, mas durante a crise houve um incentivo para que isso ocorresse mais intensamente, para assim dar liquidez às instituições menores ameaçadas pelo aumento da insegurança do investidor. Mais uma razão para que as auditoras fossem cuidadosas com isso. Uma parte da fraude que produziu o rombo no PanAmericano foi exatamente a venda da carteira, mantendo os créditos vendidos no ativo do banco.

No mercado, uma das dúvidas é por que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) emprestou a juros zero ao grupo Silvio Santos. No FGC, que tem no seu conselho grandes nomes do mercado bancário brasileiro, o que se explica é que o Banco PanAmericano pagava um seguro ao Fundo para cobrir aplicações dos investidores institucionais até o limite de R$20 milhões por investidor. Isso, além da cobertura normal que o FGC faz, que é dos depósitos até o valor de R$60 mil. Tudo somado, o custo do Fundo seria de R$1,8 bilhão caso o banco quebrasse. Sem falar no risco de contaminação.

O que o FGC quer é não esperar os três anos de carência e começar logo a vender os ativos. O grupo tem 44 empresas, entre elas algumas mais valiosas como a seguradora, a fábrica de cosméticos e, principalmente, o próprio banco, já posto à venda. O que o Fundo quer deixar por último é o SBT, porque considera que a presença de Silvio Santos na emissora é um ativo em si e um atrativo para receitas publicitárias e audiência. Sem ele, a emissora perderia seu principal nome.

O problema foi descoberto pelo próprio Banco Central. A instituição intensificou o trabalho de supervisão exatamente por causa da crise que se abateu sobre bancos de vários países do mundo, a partir da quebra do Lehman Brothers. Portanto, a autoridade monetária acredita que fez seu trabalho.

No mercado, existem algumas dúvidas e sequelas. Uma das dúvidas é quando exatamente o fato foi conhecido pelo BC. A autoridade monetária elevou a exigência de provisão do PanAmericano após o balanço do segundo trimestre. Outra, e mais complexa, é o fato de que quando um banco origina um crédito ele o faz de forma a criar um casamento entre ativos e passivos. Ao vender a carteira, ele tem receita imediata, mas o passivo continua. Pode haver descasamentos. Além disso, continua sendo corresponsável pelo crédito concedido, mesmo após a venda da carteira. Nos bons momentos, nada disso é problema, mas em uma conjuntura de crescimento forte de crédito e de um evento como esse do PanAmericano, os cuidados precisam ser redobrados e é o que os bancos mais prudentes estão fazendo. Um evento desse sempre produz um aumento da incerteza e da insegurança. Contra esse sentimento é que a autoridade monetária está trabalhando. Bancos vivem de um ativo intangível: a confiança.

O caso foi resolvido neste primeiro momento, mas a um preço alto. Para o FGC, um empréstimo a IGP mais 0% de juros de um fundo cuja principal função não é a de emprestar recursos para uma holding que tem um banco para que ela capitalize a instituição. A principal função do Fundo é garantir depositantes. Para a Caixa Econômica Federal, o custo é de ter que entrar mais fundo na instituição. A criação da CaixaPar gerou muita controvérsia e agora se vê que os críticos estavam certos.

Ainda que o negócio tenha recebido a aprovação do Banco Central em julho, a aprovação da constituição da nova diretoria e a entrada da presidente da Caixa na presidência do conselho de administração só aconteceram após anunciado o rombo. Isso significa que sobre o passado só quem responde é o grupo controlador, Silvio Santos, mas de agora em diante a Caixa também é responsável porque integra o grupo controlador, e o acordo de acionistas consagra isso. Ninguém mais tem dúvidas de que se houver qualquer problema de liquidez no banco quem vai cobrir será a Caixa, o que significa uma estatização do risco futuro da instituição.

O problema dessa solução é que ela não pode ser repetida. O FGC não pode sair por aí distribuindo recursos a juros zero, nem se poderá estatizar o risco de outras instituições. O único remédio é aumentar a vigilância, apertar os controles e elevar as exigências prudenciais sobre o mercado bancário brasileiro.


A Caixa no controle - 20 Nov 2010 - O Globo

Panamericano não está à venda

Em reunião realizada nesta sexta-feira (19/11) com representantes da Caixa Econômica Federal, o Grupo Silvio Santos decretou que o Banco Panamericano não está à venda.

O encontrou, que também contou com representantes do próprio Panamericano, controlado pelo GSS, tratou da entrada efetiva da Caixa na gestão e desenvolvimento do banco.

Outro ponto discutido foi a criação de um plano para distribuição de produtos e serviços da Caixa por meio do Panamericano e vice-versa, tais como cartões, consignado, leasing e crédito imobiliário.

Segundo comunicado, foram estabelecidas diretrizes e a construção de um plano de metas para os próximos meses. A meta é transformar o Panamericano "no maior agente de financiamento para pessoas físicas no país, nos segmentos em que atua".

Silvio Santos define que Panamericano não está à venda - Brasil Econômico - 19/11/10 20:55

Resgate de investimento no Panamericano

O rombo no balanço do Panamericano elevou o grau de ansiedade dos investidores que compram cotas dos dois fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) que o banco oferece nas agências.

Desde que começou o problema, os resgates no Autopan e no Master Panamericano superam as aplicações.

E com folga. Neste mês, até dia 16, os dois FIDCs - também chamados de fundos de recebíveis - perderam um total de R$ 324 milhões em saques líquidos (descontados os depósitos) nas cotas seniores, segundo dados levantados pelas consultorias Fortuna e Risk Office.

Esses fundos têm como política de investimentos a aquisição de créditos originários dos financiamentos de veículos concedidos pelo Panamericano.

O Autopan promete retorno de 108% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), enquanto o Master Panamericano tem como rentabilidade alvo 112% do CDI. Os dois possuem liquidez diária, sendo que os resgates são pagos no dia seguinte ao pedido.

Foi valendo-se dessa prerrogativa que, estourado o escândalo no dia 10, os investidores imediatamente intensificaram os saques. Só no dia 11, o Autopan perdeu R$ 18 milhões e o Master Panamericano, R$ 65 milhões.

O auge dos saques ocorreu na terça-feira pós-feriado, quando o primeiro fundo viu R$ 31 milhões escorrerem pelo ralo e o segundo, outros R$ 127 milhões.

Os resgates de R$ 324 milhões representam cerca de 12% do patrimônio total que os dois FIDCs tinham no fim de outubro, de R$ 2,7 bilhões, incluindo as cotas seniores e as subordinadas.

Cerca de R$ 486 milhões eram do Autopan e R$ 2,2 bilhões, do Master Panamericano. Considerando apenas o patrimônio das cotas seniores (de pouco mais de R$ 1,6 bilhão), a perda chega a 20%.

As cotas subordinadas servem de garantia para as seniores em caso de inadimplência. Usualmente, são compradas pelo próprio emissor dos direitos creditórios (nesse caso, o Panamericano).

Se algum dos financiamentos de veículo da carteira dos FIDCs não for honrado, o prejuízo recai primeiro sobre as cotas subordinadas. As seniores - em certo grau, protegidas de calote - são as efetivamente distribuídas aos investidores. O patrimônio dos fundos em cotas seniores está hoje em R$ 1,3 bilhão.

Dificuldades

O número de cotistas nos fundos também reduziu sensivelmente. No Master Panamericano, caiu de quase 400 para 317. No Autopan, foi de 182 para 130.

Segundo dados levantados pela consultoria Economatica, fundos de investimentos de gestores como HSBC, Bradesco, BES, Banestes, Capitânia e Gap estão entre os investidores que compram cotas dos dois FIDCs.

"A liquidez diária dos FIDCs já mostra que o banco tinha certa dificuldade de captação. Não é simples vender créditos para honrar resgates", avalia o consultor de investimentos especializado em fundos Marcelo D'Agosto.

"Se confirmados, os resgates das últimas semanas, significa dizer que mais de R$ 300 milhões do aporte de R$ 2,5 bilhões feito pelo controlador com recursos obtidos junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foram usados só para comprar créditos incluídos nos FIDCs."

Isso sem contar os resgates nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do banco, sobre os quais não há informações oficiais disponíveis. Sem que as aplicações no fundo sejam retomadas, a tendência, segundo D'Agosto, é de que novos resgates saiam do aporte do controlador.

Procurado, o Panamericano informou que não falará sobre captações e resgates no momento.


Fundos do Panamericano perdem R$ 324 mi no mês - Mariana Segala - Brasil Economico - 19/11/10

19 novembro 2010

Rir é o melhor remédio


O investidor, diante do problema da dívida, encontra o para-quedas. O resultado, as medidas de austeridade. Fonte: The Economist

Teste #384

No período de 1989 a 2009, a Ernest & Young doou 17 milhões de dólares para as campanhas políticas nos Estados Unidos. Este foi o valor aproximado doado pela Deloitte e um pouco acima da quantia doada pela Price (16 milhões). A KPMG foi mais mesquinha, com doações de 11 milhões de dólares. Ou 39o., 47o., 50o. e 75o. lugares entre as empresas. Uma destas empresas fez doações iguais entre os democratas (Obama, Clinton etc) e os republicanos (Bush e partidários), enquanto as outras três doaram mais de 60% para um dos dois grandes partidos políticos dos Estados Unidos. Quais são as três empresas de auditoria que privilegiaram um dos partidos e qual é este partido?

Resposta do Anterior: Adobe = 358; Firefox = 12; iTunes = 46; Sims = 1760. Fonte Gizzmodo

Panamericano: Deloitte fala

Entrevista com Maurício Pires Resende, sócio e auditor da Deloitte. Muito interessante.

No jogo de empurra criado com a descoberta do rombo de R$ 2,5 bilhões no Panamericano, ninguém apanhou mais do que a Deloitte, o escritório que audita as contas do banco de Silvio Santos há nove anos. Silvio anunciou que vai processar a empresa, além dos ex-diretores do Panamericano. O Banco Central (BC) apontou o dedo para Silvio e para os auditores. E, no mercado, fala-se em responsabilidade do BC e da Deloitte.

Contratada especialmente para conferir as demonstrações financeiras do Panamericano, a empresa só soube do buraco quando o BC convocou seus auditores para uma reunião na segunda-feira da semana passada (8 de novembro), um dia antes de o assunto vir a público. Como isso aconteceu?

“O auditor verifica as informações que lhe são oferecidas. A base é a boa-fé”, diz o sócio Maurício Pires Resende. Nesta entrevista, o Estado apresenta a versão da Deloitte.

O que houve no Panamericano?

Ficamos muito mais surpresos do que vocês possam imaginar. Nosso negócio está fundado em reputação. No momento em que essa credibilidade é colocada em jogo, é muito difícil. Estamos pagando um preço alto: os clientes estão perguntando o que aconteceu, o mercado pergunta, os bancos querem saber... Estamos apanhando, todo mundo quer explicação.

O que vocês têm respondido?

Como já foi dito pelo BC, a Deloitte não cometeu fraude, não maquiamos balanço. O BC encontrou inconsistências contábeis. Onde está a fonte disso? Está no banco, nas pessoas do banco. O que a administração tem a dizer? O que os controladores têm a dizer? Somos auditores, temos um papel e não vamos nos furtar às responsabilidades. Mas entendemos que, numa situação como essa, todos os componentes têm responsabilidade. O administrador em primeiro lugar.

O sr. está dizendo que trabalharam com fatos que não eram verdadeiros. Mas o trabalho de vocês não é justamente avaliar as informações do banco e dizer se são verdadeiras ou não?

Não preparamos as demonstrações financeiras. Somos contratados para emitir opinião sobre até que ponto uma demonstração está de acordo com práticas contábeis estabelecidas em uma jurisdição. Há o papel da administração. Ela tem de ter um sistema de controle interno que permita capturar e registrar as operações, o que, por sua vez, vai gerar as demonstrações financeiras. Quando o auditor faz seu trabalho, aplica testes para se certificar de que a demonstração é correta.

Vocês não tinham de ter detectado os problemas no banco?

Não. Não é papel do auditor detectar uma fraude. Muitas vezes, uma fraude não envolve só a empresa. Estamos falando de uma série de agentes que podem estar dentro da empresa, fora da empresa... Não temos condições de fazer isso. Aí não se trata mais de trabalho de auditor, mas de polícia. O problema é que, no Brasil, especificamente, a figura do auditor é confundida com a figura de polícia.

Não são polícia...

Nós não somos polícia. A cada um compete sua parte de responsabilidade. Se nós não cumprirmos a nossa, estamos sujeitos a processos éticos, administrativos e criminais em questões mais complicadas - que não é o caso.

Desculpe a insistência, mas o auditor dá um atestado para o que está nas demonstrações. Para isso, não precisa checar tudo, para evitar erros?

O auditor verifica as informações e os sistemas que lhe são oferecidos. A base é a boa-fé. A carta de responsabilidade do administrador é para garantir que ele está oferecendo as informações corretas. É fundamental porque ele assume a responsabilidade pelo que está entregando para a auditoria.

Vocês fizeram a circularização (checagem de informações com clientes e outros bancos)?

É importante deixar bem claro: todos os procedimentos de auditoria foram realizados.

Inclusive a circularização?

Sim. Todos os procedimentos foram realizados. Há procedimentos obrigatórios. Há alguns que dependem do planejamento do auditor. Aplicamos os que entendíamos serem necessários para essa situação.

Não dava para um auditor pegar essa fraude contábil?

Não vou dizer que temos fraude porque não sabemos. Sabemos aquilo que o BC reportou de inconsistências contábeis. Dentro desse universo, ainda não chegamos à conclusão se era algo possível de ser descoberto por um auditor.

Como o BC conseguiu descobrir o problema?

O BC fez um trabalho específico, que identificou que havia uma movimentação grande de cessões de crédito e foi investigar. Os procedimentos, quando adotados, revelaram diversas inconsistências. Até chegar à conclusão de que havia o problema.

O auditor não poderia ter feito a mesma coisa que o BC fez?

Não, porque não temos os dados de todo o sistema.

Desde quando vocês auditam os balanços do Panamericano?

Desde 2001.

Vocês continuam trabalhando no banco?

Sim. A menos que o trabalho seja interrompido. Nossa disposição é de cooperar.

Quantos auditores estavam no Panamericano?

É uma equipe.

Como eles estão?

Como estamos todos.

E como estão todos?

Cansados. Em primeiro lugar, estamos profundamente indignados. A adrenalina sobe quando você se sente assim. Então, fica-se mais forte ainda. Sabemos que temos de continuar lutando. Fechamos contratos todos os dias.

Há semelhanças entre esse caso e o da Enron nos EUA?

São muito diferentes. Mas veja que interessante: dois anos depois, a Arthur Andersen foi absolvida no caso. Isso é o que nos preocupa. É uma história que ninguém conta.

Qual a reação da matriz?

A Deloitte não tem matriz. Somos uma rede de empresas, congregada numa entidade chamada Deloitte. Aqui somos uma empresa brasileira que tem sócios, não temos vinculação. Somos 4.000, com 152 sócios. O faturamento no último ano foi de R$ 738 milhões.

Vocês cogitam processar os responsáveis pelas informações falsas?

Estamos impedidos de fazer isso enquanto eles são clientes. Mas, se houver algum dano, é algo que consideramos. Evitamos ao máximo, mas é uma possibilidade jurídica.


‘Não somos polícia. Cada um tem sua responsabilidade’ - 19 Nov 2010 - O Estado de São

Panamericano: Novo diretor

Um dos indicados pela Caixa Participações (Caixapar) para integrar a nova diretoria do Banco Panamericano já foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por irregularidades na celebração e execução de contratos. Raphael Rezende Neto, até então superintendente nacional de Contabilidade e Tributos da Caixa Econômica Federal, mesmo com a decisão do tribunal, foi escolhido para dirigir a área de Controle e Risco.

A Caixa informou que, respeitando a decisão do TCU, “o empregado Raphael Rezende Neto não cometeu nenhuma irregularidade no desempenho de suas atribuições e que prossegue na defesa do referido empregado nas instâncias competentes”. Além disso, o banco reafirmou a confiança na capacidade de a nova diretoria do Banco Panamericano executar o Plano de Negócios definido pelos acionistas.

Em 2005, o TCU constatou irregularidades em contrato da Caixa com a RiskMaths Consultoria e Participações Ltda., para prestação de serviços técnicos de consultoria e transferência de tecnologia na implantação do sistema de gerenciamento do risco operacional. Dentre as irregularidades investigadas estavam contratação de serviço sem licitação, falta de clareza sobre o que estava sendo contratado e ausência de justificativa de preço.

Na época, Rezende Neto e outros executivos do banco foram condenados a devolver R$ 95.719,07 para pagamento de transporte, hospedagem e consultoria em descumprimento às cláusulas do contrato. Também foi fixada multa individual de R$ 4 mil. Rezende Neto recorreu da decisão e teve o provimento acatado parcialmente. Para o TCU, não há como afastar a responsabilidade do executivo no caso, já que sua participação foi decisiva para a contratação.


Diretor indicado pela Caixa foi condenado pelo TCU - Edna Simão - 19 nov 2010 - O Estado de São Paulo

Panamericano e remessa para Miami

Rafael Palladino, ex-diretor superintendente do PanAmericano, remeteu US$2 milhões aos EUA quatro meses antes de o Banco Central descobrir o rombo de R$2,5 bilhões no banco do Grupo Silvio Santos. Em 14 de maio, uma das empresas de Palladino, a Max América Negócios Imobiliários, registrou na Junta Comercial de São Paulo a decisão dos sócios — ele e a mulher, Ruth Ruivo Palladino — de transferir o montante para outra empresa do casal, a homônima Max America of Florida LLC, sediada em Miami.

O registro da Junta Comercial reproduz ata com a decisão de fazer a remessa: “As sócias, expressamente e por unanimidade, sem restrições ou ressalvas, aprovam a seguinte deliberação: aprovar a sociedade a realizar investimentos no exterior no valor em reais equivalente a US$2 milhões, a serem aportados na Max America of Florida LLC”.

Em um documento anterior, de setembro de 2009, um mês depois da criação da empresa de Miami, há a indicação de uma remessa de US$300 mil.

Executivo está no Grupo SS desde o início dos anos 90

O GLOBO teve acesso a dados da Divisão de Corporações do Departamento de Estado da Flórida que mostram que o casal Palladino registrou a empresa em Miami em 4 de agosto de 2009. O endereço é o mesmo da administradora da empresa em Miami, a NS Corporate Services Inc., de um advogado brasileiro.

A Max América Negócios Imobiliários foi comprada por Palladino em fevereiro de 2007. Originalmente, era uma holding de instituições não financeiras, registrada em 2006 como Marosan e com capital de apenas R$1 mil. Palladino mudou o nome, trocou o objeto social para incorporação de imóveis e injetou R$2,19 milhões no capital.

Palladino tem uma série de empresas particulares, como a Max América Participações, aberta em 2007 com capital de R$4,9 milhões. A empresa é constituída por dois sócios, a Max Control Eventos e a Max Control Assessoria e Investimento, ambas de Palladino e de sua mulher. O capital social dessas duas empresas é baixo, o que não impediu que elas declarassem aportes de R$2,1 milhões na Max América Participações.

Também é de Palladino a RCF Administração e Participações, aberta em 2005, com capital de R$549 mil, para atuar no setor de incorporação imobiliária.

Primo de Íris Abravanel, mulher do empresário Silvio Santos, Palladino entrou no Grupo SS no início dos anos 90. Na época, ele era sócio, em postos de gasolina, de Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio que era o homem forte no SBT e que ontem foi indicado como presidente do Grupo Silvio Santos. O GLOBO não conseguiu localizar Palladino em São Paulo. O banco disse que não se manifestará sobre o assunto.

Outros ex-executivos compraram empresas

A prática de comprar empresas pequenas, alterar nomes e objetos sociais e aportar grandes somas também foi usada por outros dois ex-executivos do banco, Elinton Bobrik e Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno. Em dezembro, Bruno comprou a Antillas Empreendimentos e Participações, criada dois meses antes com capital de R$100. Aplicou R$300 mil, mudou o nome para Lagonegro Empreendimentos e o objeto social para aluguel de imóveis próprios.

Na mesma ocasião, Bobrik comprou a Razak e a transformou em Bob Rik Serviços Administrativos. Registrou um capital de R$30 mil e mudou o objeto social para serviços de escritório e apoio administrativo. As duas empresas foram compradas dos mesmos negociadores, Ivan dos Santos Freire e Valdison Amorim dos Santos. A dupla tem dezenas de empresas vendidas a altos executivos de empresas brasileiras.

Outra movimentação que chama a atenção é a do ex-diretor financeiro e de relações com investidores do PanAmericano Wilson de Aro. Ele aparece na Junta Comercial como diretor ou ex-diretor de 25 empresas do Grupo Silvio Santos. Também é sócio do empresário no SBT e dono da TV Studios Vale do Paraíba, uma das firmas do Sistema Brasileiro de Televisão. A companhia foi registrada com capital de R$150 mil, divididos igualmente entre De Aro e Luiz Antonio Droghetti Neto.

De Aro abriu duas empresas de consultoria financeira, Focus e Infocus. Nelas, entrou como sócia a GWM Participações, da mulher e da filha de De Aro, com patrimônio de R$3,1 milhões. A GWM foi aberta em 30 de setembro de 2010 e, em 15 de outubro, comprou a Focus e a Infocus. Dez dias depois, a família abriu a M2GW, de R$3,1 milhões. De Aro e a mulher, Marcia Regina Mazeto de Aro, transferiram todo o patrimônio aos filhos.

Ainda para preservar seu patrimônio de possíveis ordens judiciais, o casal declarou que sua casa, nos Jardins, é bem de família. A casa estava em nome de uma das empresas de consultoria de De Aro.


Ex-diretor do PanAmericano fez remessa aos EUA - 19 Nov 2010 - O Globo
Tatiana Farah

Fundos e o Panamericano

O banco PanAmericano, que teve um rombo de R$2,5 bilhões por fraude, é motivo de conversas nos bastidores do 31º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, que acontece esta semana em Olinda (PE). A instituição financeira era, até três semanas atrás, a queridinha dos gestores de investimentos do país, que compravam ações do banco para montar o portfólio dos fundos de previdência. Nos corredores do evento, realizado pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), o comentário, unânime, é de “dar um tempo” no banco para ver o “desenrolar da situação”.

Os papéis do PanAmericano fazem parte da carteira de inúmeros fundos de pensão patrocinados por empresas que oferecem planos de previdência aos seus funcionários. São companhias dos mais variados setores, como automobilísticas, de alimentos e de infraestrutura. Segundo um executivo que participa do evento, o PanAmericano sempre era um dos primeiros bancos a serem lembrados na hora de se escolher uma empresa do setor financeiro para compor a carteira de investimentos.

— Essa situação se inverteu. Antes, colocávamos o banco na nossa carteira, pois era uma instituição com bons indicadores e em crescimento. Mas, mesmo que o banco venha a sofrer ainda mais, não deverá causar estragos no mercado, pois a maioria das empresas compra uma quantidade pequena de ações do PanAmericano — disse o executivo, lembrando que há fundos que venderam os papéis assim que estourou o escândalo, para evitar perdas maiores.

Mesmo que a Caixa Econômica Federal tenha ações que correspondem a 49% do capital votante do PanAmericano, as dúvidas são crescentes:

— Ninguém sabe se o banco será vendido. Não se podem comprar ações ou papéis da companhia nesse ambiente. Hoje, ninguém está olhando mais o banco e, ainda assim, todos estão sendo mais criteriosos em relação a instituições financeiras do mesmo porte -— afirma outro executivo que participa do evento.

Enquanto isso, o PanAmericano tenta levar uma vida normal. No estande do evento, do qual já participa há 15 anos, distribui canetas e apresenta seu portfólio de investimento, como fundo de recebíveis, Certificados de Depósito Bancário e debêntures. Muitos clientes em potencial, como empresas e fundos de pensão, passam ao largo do estande para evitar constrangimento. Executivos do PanAmericano batem ponto na porta do estande, mas não estão concedendo entrevistas.


Fundos vão ‘dar um tempo’ no banco - 19 Nov 2010 - O Globo - Bruno Rosa

Mudança na direção do Grupo Sílvio Santos

SÃO PAULO. O presidente do Grupo Silvio Santos, Luiz Sandoval, pediu demissão do cargo ontem à noite. Braço direito do empresário e apresentador, Sandoval pediu demissão, em caráter irrevogável, num momento de grande desgaste para o grupo. Ele estava na holding há 40 anos e deixa o seu cargo máximo pouco mais de uma semana depois de vir a público a existência de um rombo de R$2,5 bilhões nos balanços do banco PanAmericano, o principal braço financeiro do grupo.

Sandoval era próximo de diretor do PanAmericano

Os problemas no banco levaram Silvio Santos a negociar pessoalmente um empréstimo de R$2,5 bilhões junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para salvar a instituição. Todos os executivos do banco haviam sido demitidos na semana passada. Agora cai Sandoval, que tinha relação próxima com o ex-diretor superintendente do PanAmericano, Rafael Palladino, primo da mulher de Silvio Santos, Íris Abravanel.

Essa foi, assim, a primeira baixa no grupo de um executivo do alto escalão fora do banco PanAmericano.

Rafael Palladino e Wilson de Aro, ex-diretor Financeiro e de Relações com Investidores do PanAmericano, são vistos pelo mercado como principais suspeitos pelas manipulações na contabilidade do banco. Ambos estavam há muito tempo no grupo —- Palladino desde 1992, e de Aro, desde 1974 —- e eram considerados pratas da casa na área financeira. Naturalmente, desfrutavam da confiança de Sandoval.

Há alguns anos, em 2004, Palladino tornou-se sócio de Sandoval na TV Studios Anhanguera, empresa de papel que criaram juntos e que é uma afiliada do SBT. Na mesma época, de Aro também tornou-se sócio da TV Studios Vale do Paraíba.

José Roberto Maciel assume vice-presidência da TV

Ontem à noite mesmo, Silvio Santos nomeou seu sobrinho, Guilherme Stoliar, para assumir a presidência do grupo, um holding que controla 44 empresas. Muito próximo ao tio, Stoliar era diretor de rede SBT.

E em seu primeiro ato à frente da holding SS, Stoliar nomeou José Roberto Maciel para assumir a vice-presidência do SBT, cargo que estava vago há três anos. Maciel, como Stoliar, era diretor executivo da Rede de TV do Grupo SS.


Presidente do Grupo Silvio Santos pede demissão - 19 Nov 2010 - O Globo
Ronaldo D’Ercole

Uma parceria de mais de 40 anos foi encerrada ontem à noite com a saída do executivo Luiz Sebastião Sandoval da presidência do Grupo Silvio Santos. Em comunicado oficial, a empresa apenas informa que ele pediu demissão em caráter irrevogável.

Em seu lugar, assume o sobrinho de Silvio Santos, Guilherme Stoliar, que também acumula 40 anos em várias funções no SBT. Atualmente, ocupava o cargo de diretor executivo da rede de emissoras do empresário.

Stoliar, em conversa com o Estado, demonstrou tranquilidade e disse que todos estão “chateados” com o que aconteceu, mas que assumir o novo posto “é natural na vida de um profissional”.

Sobre a saída de Sandoval, alegou que a motivação é de ordem pessoal e não estaria relacionada com os últimos acontecimentos. “Sandoval está abatido como qualquer um de nós. Tão logo soube da situação no Panamericano, convocou uma reunião com todos os executivos da casa.”

Conflito. Sandoval contou ao Estado que deixou o grupo porque houve um momento de confronto com Silvio Santos. “Ele queria decidir de uma maneira, eu de outra. Virou um conflito. Caso eu não concordasse, ele sugeriu que eu pedisse demissão. E foi o que eu fiz. É uma questão de opinião. Ele aceitou a decisão e, no comunicado, fez um elogio ao meu talento e dedicação ao grupo.”

Segundo Sandoval, a crise do Banco Panamericano está bem resolvida. “O dinheiro do fundo garantidor está depositado no banco e garante o dia a dia da operação. A Caixa Econômica está na sociedade. Em breve, tudo voltará ao normal.”

Não haveria outra razão para a sua saída, além do que definiu como “questão conflitante”, sobre a qual não quis dar detalhes por enquanto. “É como um casamento que vai se desgastando. Fiquei na presidência do grupo por 28 anos. É muita coisa.”

Apesar das diferenças, Sandoval reitera que Silvio Santos “é um sujeito fantástico, correto e leal”. “Sempre tivemos personalidades diferentes e agora pusemos um ponto final nessa convivência.”

Palestras. Com aparente calma na voz, Sandoval disse que vai tirar umas férias e depois volta a advogar. Disse também que tem planos de fazer palestras e escrever um livro.

Na nota divulgada pelo Grupo Silvio Santos, o último parágrafo elogia o executivo.

“Há 40 anos no Grupo Silvio Santos, o dr. Luiz Sebastião Sandoval teve um papel fundamental no crescimento dos negócios, tendo participado ativamente na construção de suas empresas. O Grupo Silvio Santos agradece todo o profissionalismo, dedicação e comprometimento com que exerceu sua função em todos esses anos.”

O comunicado também informa que o novo presidente, Guilherme Stoliar, é um profissional de larga experiência e profundo conhecimento dos negócios do grupo. “Stoliar terá como missão dar continuidade ao trabalho de desenvolvimento do grupo, que reúne 44 empresas.”

A nota informa ainda que Stoliar, “já no uso de suas atribuições”, nomeou José Roberto dos Santos Maciel, então diretor administrativo e financeiro do SBT, para o cargo de vice-presidente da emissora.

Daniela Beyruti, filha de Silvio Santos, e Leon Abravanel, sobrinho do empresário, continuam nos cargos de diretores executivos.


Sandoval deixa o comando do Grupo SS - Marili Ribeiro - 19 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

PanAmericano e o atrevimento do Bacen

Em texto publicado no seu último número, a revista The Economist (Nothing to see here) afirma que Henrique Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil, vangloriou da descoberta que um banco sob sua supervisão tinha avaliado em excesso seus ativos.

Os problemas no PanAmericano, especialista em cartões de crédito e crédito consignado e financiamento de automóveis, se tornou público este mês. O banco parece ter vendido empréstimos empacotados para outros bancos, mantendo-os registrados no ativo. Seu diretores foram amplamente substituído. A polícia está investigando o que o banco chama de "inconsistências contábeis".


O texto cita Meirelles, que afirmou que o Banco Central encontrou o problema antes de todos, através de uma verificação de rotina. Uma questão posta pela revista é qual a razão da investigação do mercado de cessão de crédito. Uma possível resposta é a preocupação com a expansão de crédito no Brasil (gráfico)

Madoff

Duas ex-funcionárias que ajudaram o financista Bernard Madoff a preparar a maior fraude da história de Wall Street foram acusadas em Nova York, anunciou nesta quinta-feira a promotoria.

Anette Bongiorno, de 62 anos e funcionária de Madoff durante 40 anos, e Joan Crupi, de 49 e que trabalhou 25 anos para o fraudador, foram detidas na Flórida e em Nova Jersey, respectivamente, informou a promotoria do distrito sul de Nova York.
Madoff, de 72 anos, cumpre desde o ano passado uma pena de 150 anos de prisão pela fraude estimada em cerca de 65 bilhões de dólares, através do "esquema Ponzi".

Segundo a promotoria, Bongiorno e Crupi foram cúmplices, ajudando Madoff durante anos a construir esse sistema fraudulento e beneficiando-se do mesmo. Podem pegar, respectivamente, até 75 e 65 anos de prisão.

"Como todos sabem, Bernard Madoff realizou a maior fraude financeira da história, mas como demonstramos hoje mais uma vez, outros o ajudaram em seu crime épico", comentou Preet Bharara, procurador-chefe do distrito sul.

Segundo Bharara, "um castelo de cartas quase nunca é obra de apenas um arquiteto" e as duas funcionárias "ano após ano protegeram e perpetuaram a fraude de Madoff, enquanto elas mesmas embolsaram dinheiro".

Outros seis colaboradores de Madoff já haviam sido acusados por fraude: seu braço direito, dois executivos, dois especialistas em informática e um contador
.


Funcionárias que ajudaram Madoff em fraude são detidas - Por AFP

18 novembro 2010

Rir é o melhor remédio

A seguir, uma seleção da coluna do José Simão, humorista da Folha de São Paulo, sobre o caso Panamericano:

E o apocalipse do século? O Silvio Santos? Para provar que dinheiro não traz felicidade, olha o slogan: "SBT, A TV MAIS FELIZ DO BRASIL!" Rarará!

E a filha do Silvio Santos que era casada com o filho do Edemar Ferreira? Se separaram, mas continuam com algo em comum: os pais conseguiram quebrar um banco.
18 Novembro


E o Seu Silvio? A PIPA DO VOVÔ NÃO SOBE MAIS! A pipa do vovô quebrou! E o SBT já mudou o Topa Tudo Por Dinheiro pra TROCA TUDO POR DINHEIRO!

Quero ver eles conseguirem trocar a Cristina Rocha. Quando aperta, afrouxa! Rarará!

E o comentando revela que o Ratinho vai fazer exame de DNA em todos os funcionários do PanAmericano. Pra descobrir quem foi que f@#%&odeu com o patrão! Rarará! E um amigo estava no aeroporto quando viu um "banner" perfeito pro Silvio Santos: massagem anticrise financeira. Rarará!

E por que a Hebe não bota as joias no prego da Caixa Econômica? Um brinco já salvava o SBT! Rarará! E a Dilma vai lançar um PAC pro Silvio Santos: Programa de Auditório Caloteiro! E quem vai fazer a auditoria? O auditório. Auditoria de auditório!

17 Novembro


E adivinha qual o tema do dia? SILVIO SANTOS! Rarará! Com a musiquinha do site Comentando: "Silvio Santos Vende Aí! Lalalalá! Siiilvio Santos veeeende aí!" Rarará! E ninguém precisa se preocupar: o Silvio, a Hebe, o Carlos Alberto de Nóbrega e o Moacyr Franco têm, juntos, 2,5 bilhões. De anos! Rarará!

E eu sei como o Silvio Santos pode resolver o rombo do banco: resgatando o FGTS da Hebe! Rarará! E agora, sim, é que o Silvio Santos vai cantar: "A pipa do vovô não sobe mais". Rarará!

E, no meio desse babado todo, um amigo meu recebeu um e-mail: "Auxílio Funeral Banco PanAmericano". Eles estão oferecendo ou pedindo? Rarará! E já reparou que todo banco que patrocina o Corinthians acaba quebrando? Excel, PanAmericano...

O Silvio vai acabar trabalhando no "Pânico", fazendo o papel dele mesmo! Ou, então, vai acabar na vila da dona Florinda, dividindo um quarto com o Quico. Rarará!

Aliás, diz que a rua 25 de Março inteira já está cantando: "Silvio Santos Vem Aí!". E um outro diz que empresta R$ 2,5 bilhões pro Silvio, se ele transferir a Patricia dos produtos Jequiti. E um outro quer comprar o SBT só pra jogar uma torta na cara do Ratinho! Rarará!

16 Novembro



E chegou 2012! APOCALIPSE NOW! O SILVIO SANTOS QUEBROU! E vai pedir ajuda pros universitários? O banco do seu Silvio tem rombo de 2,5 bilhões! Por que ele não botou a menina Maisa pra tomar conta desse banco?

E, em garantia, ele ofereceu o SBT e o Baú. E o Jaça, a menina Maisa e o Bozo. E, se ele não pagar, o Banco Central fica com o Celso Portiolli! Rarará. E um leitor me disse que, pra salvar o SBT, o Silvio Santos vai ter que lançar o TELETOMBO!

E diz que ele maquiou o balanço do banco com produtos Jequiti. Só podia dar nisso! É claro que ia quebrar. Uma hora o dinheiro acaba!

De tanto que ele grita "Quem quer dinheiro?". "EU! EU!", gritou o Silvio! Ele devia pagar tudo com aviãozinho de dinheiro. Pegava aquelas notas de R$ 50 e vuuuum! Direto do Banco Central!

E eu sou o maior fã do Silvio Santos, de verdade. Principalmente quando ele combina a cor do cinto com a cor do sapato!

E o Chaves? Tô preocupado com o Chaves! Aliás, o seu Silvio vai acabar vestindo o barril do Chaves. Só vai sobrar o barril do Chaves!

14 de Novembro


E 2012 é hoje! Apocalipse Now! O Silvio Santos quebrou! Vamos fazer uma vaquinha! Vou comprar uma telessena pra ajudar o Silvio Santos. Ou um novo Teleton: Teletombo! E o Eike quer comprar o SBT. "Eike gracinha", gritou a Hebe! Mas o Silvio falou pra colunista da Folha Mônica Bergamo que não sabe quem é o Eike! "Não conheço! Quem é esse Elque?" Deve ser a Elque Maravilha. Elke Maravilha compra o SBT!

O Eike vai contratar a Madonna pra trabalhar no SBT! E o site Sensacionalista revela que o Eike quer comprar A PERUCA DO SILVIO SANTOS! Por R$ 2,5 bi! Intermediada pelo Jassa! O Silvio deu como garantia o SBT e o Baú. O Jassa, a menina Maisa e o Bozo! E, se não pagar, o credor fica com o Celso Portiolli! E ele maquiava o balanço do banco com produtos Jequiti. Só podia dar nisso. Rarará! Eu amo o Silvio Santos. Eu acho que o Silvio Santos não existe, é ficção!

13 Novembro

Teste #383

Este é sobre informática. Quantos disquestes de 3 1/4 seriam necessários para instalar:

Adobe Photoshop CS4
Firefox 3
iTunes 8.02
Sims 3

Eis as possibilidades:

12
46
358
1760

Resposta do Anterior: PwC. Fonte: aqui

Otimismo e a fiscalização bancária

Desde 2004, quando houve a intervenção no Banco Santos, bancos pequenos e médios passaram a enfrentar dificuldades na captação de recursos. Tornaram-se, então, bastante comuns as cessões de carteiras de crédito desses bancos para instituições maiores, de acordo com as normas do Banco Central (BC). Tudo se processava em clima de normalidade, até vir a público o rombo de R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano. Graças à utilização de recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), com garantia dos bens do controlador, foi possível manter o Panamericano em operação, sem prejuízo para os depositantes e aplicadores e sem repercussões danosas para o sistema financeiro e para a economia. Contudo, vieram à tona distorções que exigiram um esforço concentrado de fiscalização nessa área por parte do BC.

Não se pode negar que, pela regulamentação adotada no País, com exigências ainda mais rígidas que as previstas pelos Acordos de Basileia, a autoridade monetária evitou que os bancos do País se envolvessem em operações de alto risco, capazes de abalar o sistema financeiro no período mais agudo da crise de crédito internacional. Mas está hoje claro que, em face da não adoção das melhores práticas bancárias, das deficiências de controle interno e falhas não menos graves das auditorias interna e externa, podem surgir problemas como os que se verificaram no Panamericano.

Isso não significa que a autoridade monetária deva mudar totalmente a sua forma de atuar na supervisão do sistema. A regulamentação pode ser aperfeiçoada, mas como assinalou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em entrevista ao Estado, seria operacionalmente inviável substituir todos os controles internos e a auditoria externa. Isso “aumentaria de forma descontrolada o chamado risco moral, aquele do qual todos partem do pressuposto de que o governo está olhando todos os detalhes, substituindo todos os órgãos controladores e auditores. De maneira que os gestores, os auditores, os investidores passam a não fazer o seu trabalho, no pressuposto de que o governo fará por eles”.

É evidente que esse trabalho não foi feito no caso do Panamericano. De fato, em dezembro de 2009, a Caixa Econômica Federal, por meio da Caixapar, adquiriu por R$ 793,27 milhões uma participação de 51% no capital votante do Panamericano, depois de oito meses de negociações, com assessoria da KPMG. Apesar da “due diligence” requerida em casos como este, a venda de ativos, sem a correspondente baixa contábil, não foi acusada pelos órgãos de controle interno e passou despercebida pela empresa auditora.

Da mesma forma, a Deloitte, responsável por auditar os balanços, não identificou manobras contábeis que chegam a ser grosseiras, na opinião de técnicos. Observa-se que, para a transparência necessária, os balanços devem conter notas explicativas sobre cada operação de cessão de crédito, o que não foi observado no caso do Panamericano.

Desde que detectou o problema, o BC agiu com presteza. Há um mês uma equipe de técnicos da instituição vem trabalhando para verificar a lisura dessas operações entre bancos pequenos e médios e as grandes instituições financeiras. E, de agora em diante, passará a ser rotina o cruzamento de dados entre os bancos que vendem ativos com os daqueles que os compram, como declarou ao jornal Valor o diretor de Fiscalização do BC, Alvir Hoffman.

Ao constatar que os diferentes bancos adotam sistemas operacionais diferentes na compra e venda de carteiras de crédito, o BC enviou um questionário detalhado a 40 bancos mais atuantes nessa área. A partir daí poderá estabelecer padrões que facilitem uma supervisão mais efetiva, sem, contudo, congelar esse mercado, como disse o diretor de Fiscalização do BC.

As responsabilidades apuradas no caso do Panamericano passam à área do Ministério Público e da Justiça. O sistema bancário brasileiro é sólido, mas não pode ser totalmente blindado contra fraudes.


A fiscalização dos bancos - 18 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Panamericano e o Grupo SS

Entre 2006 e 2009, o Banco Panamericano evitou que o Grupo Silvio Santos tivesse prejuízo. Nesse período, o banco lucrou R$ 716,7 milhões, enquanto o grupo como um todo apresentou ganho de R$ 678 milhões. Ou seja, considerando o intervalo inteiro, sem a instituição financeira, o resultado teria sido negativo em quase R$ 40 milhões.

Esses cálculos foram feitos com base nos balanços colocados no site do Panamericano e no Relatório Anual referente ao exercício 2009, disponível no site do Grupo Silvio Santos.

É preciso ressaltar que a descoberta do rombo de R$ 2,5 bilhões no Panamericano colocou em dúvida toda a contabilidade do banco. Como lembra um analista do setor bancário, os dados podem ter sido manipulados pela antiga administração do Panamericano para maquiar perdas.

Partindo do princípio de que refletiam minimamente a realidade do banco e do grupo, fica claro por que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que emprestou os R$ 2,5 bilhões ao empresário Silvio Santos, e outras instituições envolvidas no negócio acreditam que o Panamericano será o primeiro dos ativos do grupo a ser vendido. A outra candidata principal é a empresa de cosméticos Jequiti, considerada bem sucedida do ramo.

Segundo fontes ligadas ao processo, já existiriam interessados no Panamericano – chegou-se a falar que seriam cinco. No entanto, outra pessoa ligada às negociações pondera que Silvio Santos não deve correr para vender os ativos – apesar da pressão dos credores. Em primeiro lugar, porque é um negociador duro.

Em segundo, porque o acordo que fez com o FGC prevê uma carência de três anos para começar a pagar o empréstimo. Até lá, o crédito será corrigido apenas pela variação do IGP-M, o índice de inflação que corrige a maioria dos aluguéis no Brasil.

Hora ruim. Outra fonte observa que o Panamericano mostrará, nos próximos meses, que tem boa capacidade de gerar lucro. “Se (os controladores do banco) me perguntassem, eu diria a eles com muita segurança que agora não é o melhor momento para falar em vendas, pois o ativo tem muito a valorizar no curto/médio prazo”, afirmou.

Em novembro do ano passado, a Caixa Econômica Federal adquiriu 49% do capital votante do Panamericano por quase R$ 740 milhões. Segundo aquela avaliação, o banco valeria cerca de R$ 1,5 bilhão.

No mercado, muitos analistas e investidores têm levantado dúvidas sobre o futuro do Panamericano, uma vez que, nos últimos dias, o banco assistiu a uma sangria de recursos – principalmente em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs).

O Estado apurou que o ritmo de saques, que alcançou R$ 500 milhões no primeiro dia pós-anúncio da operação de salvamento, caiu “drasticamente” ontem, nas palavras de uma pessoa a par da situação.


Sem Panamericano, Grupo SS teria prejuízo - Leandro Modé - 18 Nov 2010- O Estado de São Paulo - COLABOROU PATRÍCIA CANÇADO

A possível venda do Panamericano

Possíveis compradores temem pegar um mico; assusta os interessados a fuga de R$ 200 milhões por dia de CDBs

As negociações para a eventual venda do controle acionário do Banco Panamericano não devem ser concluídas rapidamente. Pessoa que acompanha interessados em adquirir a financeira de Silvio Santos avalia que as conversas caminham para um resultado em um horizonte de “várias semanas”, provavelmente apenas no próximo ano. “Pelo andamento das conversas, caminhamos para uma eventual venda apenas nos primeiros meses do próximo ano”, diz a fonte que acompanha as discussões.

Um dos motivos que impediriam a venda imediata foi a sequência de saques observados na última semana, quando a média diária de retiradas de Certificados de Depósito Bancário (CDB) do Banco Panamericano girou em torno de R$ 200 milhões. O movimento preocupou a direção do banco e assustou interessados na instituição.

Atualmente, há pelo menos cinco interessados em adquirir o controle da financeira que sofreu o rombo de R$ 2,5 bilhões, como o Estado informou no sábado. Em todos esses casos, as instituições procuraram o controlador do banco, o Grupo Silvio Santos. Por enquanto, as conversas são preliminares e, para os acionistas, ainda estão na esfera “informal”. Apesar desse tom aparentemente descompromissado, há avanços. Entre os interessados, o mineiro Banco BMG é o que mais evoluiu para tentar ficar com a financeira e com a sociedade com a Caixa, como antecipou ontem a coluna de Sonia Racy.

“A explicação para o horizonte mais distante é a necessidade dos interessados em olhar muito detalhadamente a estrutura e a saúde financeira do Panamericano. Obviamente, o temor é que o rombo gerado pela antiga administração seja maior que os R$ 2,5 bilhões cobertos pelo atual controlador.

Fuga. Como o anúncio do rombo foi feito na noite de terça-feira da semana passada, foram quatro dias úteis até ontem de saques de cerca de R$ 200 milhões ou quase R$ 800 milhões no acumulado do período. Ou seja, saíram do caixa impressionantes 32% de todo o aporte de R$ 2,5 bilhões feito por Silvio Santos. Diante desse quadro preocupante, o feriado de 15 de novembro acabou sendo comemorado pela direção do Panamericano, já que foi um dia a menos de saques.

Por enquanto, executivos do Panamericano tentam a todo custo equilibrar o ingresso e saída de recursos da financeira. Em uma segunda etapa, a intenção é retomar a captação de recursos. A saída maciça de recursos vista nos últimos dias assustou os interessados em levar o controle do banco. Estancar a sangria é o objetivo urgente da nova diretoria do Panamericano.


Banco Panamericano não deve ser vendido no curto prazo - Fernando Nakagawa - 18 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Banco Central e o Panamericano II

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, exibiu uma estranha interpretação do papel da instituição: ele acha que se o Banco Central fizesse um trabalho de supervisão mais amplo provocaria “risco moral”, ou seja, as instituições de mercado relaxariam. O Fundo Garantidor de Crédito emprestou sem juros e tem pressa em vender o PanAmericano, que está quase estatizado.

Em entrevista, ontem, ao “Estado de S.Paulo”, Meirelles falou pela primeira vez sobre o rombo do banco do grupo Silvio Santos. Defendeu a tese de que seria “operacionalmente inviável substituir os controles internos e a auditoria externa.” Mas ninguém pede que o BC seja a Delloite ou a KPMG. Quer que ele seja o Banco Central. E as auditorias externas que sejam cobradas pelo seu mau trabalho de análise das contas.

Meirelles entende que, se o BC for minucioso em sua análise, “os gestores, auditores, e investidores passam a não fazer seu trabalho, baseado no preceito de que o governo fará por eles.” Essa defesa de que a fiscalização do BC seja perfunctória para que os outros se esforcem é de difícil compreensão. Melhor é fazer a mais eficiente fiscalização possível e exigir do mercado os mais rigorosos controles através da regulação imposta às instituições privadas. O trabalho da fiscalização bancária tem que aprender a cada evento, aperfeiçoar-se a cada erro, duvidar de si mesmo, sempre.

Segundo Meirelles, o “único prejudicado foi o acionista controlador, que assumiu o prejuízo de acordo com a lei.” Há pelo menos mais um: os contribuintes, que são, através do Tesouro, donos da Caixa Econômica, que agora tem 49% do capital votante de um banco que perdeu 45% de seu valor em pouco mais de um mês e está perdendo investidores. A Caixa, na prática, assumiu a instituição. Tem cinco diretorias e a presidente da CEF será a presidente do Conselho de Administração. Se novos rombos forem encontrados, como é comum em episódios assim, de quem será o prejuízo? A questão permanece em aberto até porque o banco já perdeu R$200 milhões de resgate de CDBs e fundos desde que a crise aconteceu e sofre crise de imagem. Segundo disse o diretor Celso Antunes da Costa, ao “Valor Econômico”, “o PanAmericano ainda tem em carteira 90% dos investidores institucionais do país.” Isso quer dizer que lá estão os grandes fundos de pensão.

Desde o início do episódio, a autoridade monetária tenta se desvencilhar do problema. Quem comunicou o fato foi o próprio Banco PanAmericano à Comissão de Valores Mobiliários, como se fosse apenas uma questão do mercado acionário. O BC demorou 24 horas para falar e insistiu que o assunto estava resolvido sem recursos públicos.

É mais complicado. O BC estava dentro do banco havia várias semanas dimensionando o tamanho do sinistro; nenhum assunto que envolve solvência de instituição financeira pode ser estranho ao Banco Central; uma instituição estatal recebeu o sinal verde para comprar o ativo, por isso mais diligente ainda tinha que ser o BC; a entrada da Caixa torna parte do custo inegavelmente público.

Foi o Proer que estabeleceu que o maior responsável em casos de desequilíbrio patrimonial ou liquidação de bancos passasse a ser o acionista controlador. Antes, o dono do banco escapava do sinistro com seus bens preservados. O que o programa protegeu foi o dinheiro dos depositantes. Apesar disso, o programa de recuperação financeira foi execrado pelo partido que hoje está no poder, como sendo benesse aos banqueiros. O PT entrou na Justiça contra seus formuladores e executores. Algumas ex-autoridades ainda respondem a processos. Imagina o escândalo que o PT faria se um daqueles bancos — o Econômico, Nacional ou Bamerindus, entre outros — tivesse tido parte de suas ações compradas pela Caixa Econômica, no meio do processo de descoberta das tais “inconsistências contábeis”.

Meirelles disse aos jornalistas que a atual regulação das auditorias externas “não se revelou inadequada.” Óbvio que se revelou. Do contrário, não aconteceria o que aconteceu. É preciso a cada caso como este rever a regulação evitando os furos pelos quais as auditorias deixaram escapar o que deveriam ter visto. O BC deve agora apertar a fiscalização e fazer teste de estresse em outras instituições.

O Fundo Garantidor de Crédito, felizmente criado em 1995 pelo Conselho Monetário Nacional, também na esteira do Proer, funcionou, emprestou recursos para manter o banco aberto. Ele é formado por uma fração de cada depósito de cada cliente de banco. Os bancos recolhem e administram o fundo, mas o custo é repassado aos correntistas. Somos nós, os clientes, que capitalizamos o fundo que agora socorreu o PanAmericano. E o empréstimo foi dado nas seguintes condições: três anos de carência, dez anos para pagar, sem juros, com apenas a correção pelo IGP-M. Na verdade, o que os gestores do FGC querem é vender o banco e liquidar as garantias o mais rapidamente possível para reaver o dinheiro.

O episódio mostra que o Proer continua sendo útil por ter criado instrumentos que ainda são usadas como o FGC e a ideia da responsabilidade do controlador. Mostra também que a fiscalização bancária tem que ser aperfeiçoada sempre; aqui, como em qualquer país do mundo.


Papel do BC - 18 Nov 2010 - O Globo

Panamericano: CFC

A crise do PanAmericano será investigada também pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), responsável pela normatização e fiscalização dos profissionais e empresas de contabilidade e de auditoria. Uma semana após se tornarem públicos os desvios contábeis identificados pelo Banco Central (BC) no banco do Grupo Silvio Santos, o órgão decidiu formar um grupo de trabalho para investigar o caso e apurar responsabilidades.

A entidade deve instaurar ainda processo administrativo e ético e, se constatada a prática de fraudes ou irregularidades, os profissionais do banco e da Deloitte, a auditoria contratada pelo banco, poderão ser punidos com a cassação dos registros profissionais. Os contadores envolvidos no caso terão um prazo de 15 dias para prestar esclarecimentos e apresentar documentos.

— O Conselho vai agir — afirmou o presidente do CFC, Juarez Domingues Carneiro.

Segundo ele, até a próxima semana o CFC tomará as medidas necessárias nos casos em que constatar e comprovar irregularidades contábeis. O órgão informou que pediu ao PanAmericano os nomes dos profissionais supostamente envolvidos na fraude. (Lino Rodrigues)


PanAmericano: auditor na mira de Conselho - 18 Nov 2010 - O Globo

Panamericano: Deloitte II

A Deloitte, que audita os balanços do banco PanAmericano desde 2004, diz que não faz sentido a ideia de que auditores tenham maquiado números da instituição financeira de Silvio Santos.

Maurício Pires Resende, sócio da auditoria, afirma que esse tipo de interpretação equivocada decorre de uma incompreensão do papel das auditorias.

"Auditor não fecha balanço nem prepara demonstração financeira. A responsabilidade por isso é da empresa. O nosso trabalho é verificar se o dado está correto. Se alguém maquia, não é o auditor", afirma Resende, responsável por assuntos regulatórios na Deloitte.

Silvio Santos afirma que pretende processar a auditoria por não ter apontado o rombo de R$ 2,5 bilhões, descoberto em agosto pela fiscalização do Banco Central.

Segundo o sócio da Deloitte, o próprio presidente do BC, Henrique Meirelles, endossa a noção de que a empresa de auditoria não tem culpa sobre os problemas ao apontar que os responsáveis pelo rombo do PanAmericano são os diretores e o controlador da instituição.

Resende diz que não procede a informação publicada ontem pela Folha de que a Deloitte enviou uma demonstração financeira ao BC, em que o rombo aparecia apenas numa nota.

Bancos, afirma o auditor, enviam balancetes mensais ao Banco Central e a cada trimestre remetem um documento chamado IFT (Informação Financeira Trimestral), o qual é acompanhado de um relatório de revisão de auditores.

No caso do PanAmericano, a Deloitte não enviou o relatório do trimestre, segundo Resende. "Se alguém fez isso, não foi a Deloitte."

ILAÇÃO IRRESPONSÁVEL

Ele classificou de "ilação absolutamente irresponsável" a avaliação de auditores ouvidos pela Folha de que a auditoria do PanAmericano cometeu erros básicos.

"Para alguém dizer isso, teria de ter acesso ao nosso trabalho. Falar isso sem analisar tudo o que fizemos é uma ilação irresponsável."

Também não tem nenhum fundamento, segundo ele, o rumor de que a matriz inglesa tem planos de descredenciar a Deloitte brasileira da rede. Segundo ele, a Deloitte Touche Tohmatsu Auditores Independentes é uma empresa brasileira, que participa de uma rede mundial.

"O descredenciamento não foi cogitado pela firma internacional. Não há nenhuma ameaça", diz.

Os problemas com o banco PanAmericano foram expostos na rede internacional da Deloitte e a resposta foi de solidariedade, afirma Resende. A empresa brasileira "está recebendo todo o apoio necessário de toda a rede".

Resende afirma que também não tem nenhum fundamento a informação de que a empresa brasileira não tem seguro para eventuais indenizações.

O auditor diz que a Deloitte não pode se manifestar sobre o rombo do PanAmericano por restrições éticas da profissão. "Pretendemos esclarecer todas as dúvidas. Vamos nos manifestar no momento adequado."


Auditoria nega erro em banco de Silvio - 18 Nov 2010 - Folha de São Paulo

Panamericano: Deloitte

De acordo com a empresa, números do terceiro trimestre não foram auditados

A auditoria Deloitte Touche Tohmatsu Limited, contratada pelo banco Panamericano para verificar os dados financeiros da empresa trimestralmente, negou que tenha 'maquiado' o rombo nos resultados auditados no terceiro trimestre, como havia afirmado o jornal Folha de S. Paulo na edição desta quarta-feira. Segundo a reportagem, a Deloitte teria tratado do rombo em uma nota técnica, no final do documento.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a auditoria negou que tenha emitido qualquer relatório sobre o banco no terceiro trimestre. E que, portanto, tal relatório não poderia ter ido parar nas mãos do Banco Central. A empresa também negou que a subsidiária brasileira possa ser descredenciada da matriz alemã devido ao ocorrido com o banco Panamericano. "Trata-se de um absurdo sem igual, sem qualquer vínculo com a verdade", afirmou a Deloitte em comunicado.


Auditoria Deloitte nega ter "maquiado rombo" no balanço do banco - Veja

Registro da Corrupção

A justiça russa está investigando a empresa alemã Daimler AG. A acusação refere-se ao pagamento de milhões de dólares em suborno para autoridades daquele país. A empresa disse que irá cooperar com a justiça russa. No início de 2010 a Daimler concordou em pagar 185 milhões de dólares para acabar com processo parecido na justiça dos Estados Unidos.

Do lado russo, Medvedev, o primeiro-ministro, pretende reduzir a corrupção do país.

Conforme o Wall Street Journal (Corporate News: Russia Investigates Daimler Bribery Claims, William Mauldin, 13 November 2010):

Na sua contabilidade interna, a Daimler registrou o suborno como comissões, descontos especiais ou um termo alemão que se traduz como pagamentos útil ou necessário, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA.

Leilão arrecada 2 milhões para vítima de fraude


O sapato acima foi leiloado por 6 mil dólares. Com monograma de Bernard L Madoff, os chinelos de pelúcia estavam entre centenas de produtos da família Madoff, que atraiu os interessados, num leilão promovido pelo governo. A estimativa inicial era do chinelo ser arrematado por $100 dólares.

O valor total obtido foi de 2 milhões de dólares, que servirão para pagar as vítimas enganadas por Madoff. O item de maior valor foi um anel, arrematado por 550 mil dólares.

Fonte: New York Times

Stock option

Um dos requisitos mais importantes para garantir o sucesso de uma empresa é o comprometimento do seu quadro pessoal com o empreendimento. Para esse entrelaçamento de interesses, uma das medidas mais eficazes é estabelecer a possibilidade de empregados, administradores e executivos poderem se beneficiar com a valorização das ações da sociedade na qual trabalham.

Com esse objetivo, pode-se adotar o sistema de stock options, que tem previsão legal (artigo 168 da Lei 6.404/1976). Trata-se de uma opção para aquisição de ações da companhia ou de outra do grupo, cujo mecanismo pode ser descrito assim: a) preestabelece-se um preço para as ações; b) marca-se uma data futura para que a ação possa ser adquirida por aquele preço, se houve a permanência do profissional na companhia; c) vencida a data e durante algum tempo, fica o beneficiário com a opção de, caso o preço de mercado da ação esteja superior, exercer a opção de adquiri-la, e, à sua escolha, realizar a diferença ou carregar a posição para mais longo prazo; d) o valor da recompensa oferecida poderá ser dispêndio da empresa beneficiada com o sucesso pretendido. Ou seja, é um motivador extra para que todos trabalhem e apostem na valorização continuada da companhia.

O plano de remuneração por meio de stock options representa um benefício para todas as partes. Além de vantagens gerenciais e econômicas, as empresas também usufruem de proveitos na seara tributária e trabalhista, pois se o benefício fosse repassado de outra forma para os participantes, seria duramente onerado, e em várias rubricas.

Sendo assim, para que o saudável mecanismo não possa ser futuramente contestado, deve revestir-se de requisitos essenciais, sob pena de ser questionada a sua essência e, não só perder o predicado de incentivo ao progresso da empresa, mas virar um pesadelo empresarial: descobrir um “passivo adormecido no armário”.

Notadamente porque, no atual estágio do nosso arcabouço jurídico, não basta cumprir as formalidades da Lei 6.404/1976. É que a partir da contabilidade realizada com base nos padrões internacionais do IFRS, e a adoção do princípio da primazia da essência sobre a forma, será reforçado o entendimento das autoridades fiscais de poderem desconsiderar negócios jurídicos com base em avaliação subjetiva da sua essência, se foi pago tributo a menor. Não que as formalidades sejam dispensadas, principalmente um minucioso instrumento de stock option, mas que é apenas o mínimo esperado.

De logo deve ser estabelecido que o benefício não pode confrontar a Lei 10.101/2000, que trata da participação de lucros; principalmente quanto à periodicidade; sendo delicado haver habitualidade. É que, se não se aproveitar também da natureza de distribuição de lucro, a stock option pode ser estampada como de natureza salarial, com todos os encargos inerentes, por exemplo, tributação a 27,5% pelo IRPF, IR na fonte, INSS, FGTS e verbas trabalhista ordinárias, além de ganho de capital. Ainda podendo restar para a fonte pagadora a penalidade de multa pela não retenção do IRPF. No caso de um dirigente já acionista, poderá representar a vetusta distribuição disfarçada de lucros.

Então a preocupação não deve se limitar a afastar a natureza salarial, pois o plano de compra ainda poderia ter seus efeitos negados para fins tributários. Sendo assim, tem que ficar configurado que houve um risco do benefício não se aperfeiçoar, visível na relação preço de aquisição/venda, senão viraria irreal generosidade. Para isso, também o lapso temporal, entre a fixação do preço e o momento da aquisição da ação, tem que ser suficiente para que a volatilidade natural do mercado de capital aconteça; ficando presente a eventualidade. Ademais, tudo tem sempre que ficar sob a pecha de expectativa de direito, e não direito adquirido ao benefício. Vale apontar que a Justiça Trabalhista vem negando o caráter salarial àqueles que decidem desconhecer o próprio acordo para auferir esse tipo de ganho.

Observe-se que esses são alguns cuidados para efetivar stock option em sociedade anônima de capital aberto, pois, para as sociedades de capital fechado, a vulnerabilidade é maior, ante, por exemplo, a falta de parâmetro de preço de ação a mercado.

Aliás, o impacto que gera registrar essa obrigação da companhia, durante o transcurso do plano, deve ser bem aquilatado no balanço patrimonial, pois reside aqui um potencial de se negar efeitos tributários a uma convenção particular. Agora, se a stock option estiver bem configurada, não pode sofrer censura, quer na esfera trabalhista, quer na previdenciária, ou tributária de uma maneira geral.

Todavia, se algum plano de stock option tiver pecado com uma ou outra fragilidade, ainda assim deve a companhia se acautelar e reposicionar o quadro jurídico, antecipando-se à possibilidade de ser desconsiderada a operação. É importante fazer uma revisão dos seus termos para evitar futuras autuações.

O que não pode acontecer é as empresas, por temor das consequências, abrirem mão desse importante instrumento de aperfeiçoamento gerencial. A economia brasileira já está madura o suficiente para tornar usual o que é normal no estrangeiro.


Stock options não devem ser direito adquirido - Por Antonio Elmo Queiroz e Mary Elbe Gomes Queiroz (dica de Caio Tibúrcio)

17 novembro 2010

Rir é o melhor remédio

A Vodafone usa uma situação onde uma empresa pretende cortar custos.

Fonte: funnyplace.

Teste #382


Não bastasse os problemas com suas auditoria, esta big four teve e-mails de funcionários divulgados por um jornal inglês, com comentários machistas sobre funcionárias (incluindo uma "lista" das mulheres pelos atributos físicos. Foto). A empresa é:

Deloitte Touche Tohmatsu
Ernst & Young
PwC

Resposta do Anterior: Madoff. Madoff Auction Raises $2 million. New York Times

Auditoria na União Européia

Este blog tem-se concentrado nas notícias sobre o problema do banco Panamericano. O trecho a seguir deixa este foco e é interessante (as vezes engraçado). Mostra exemplos típicos de auditoria no setor público, na Europa. Para quem já cansou de ler sobre o Sílvio Santos:

Limoeiros inexistentes na Sicília, vacas imaginárias na Eslovênia, cursos de liderança em plantações de repolho na Eslováquia ou acadêmicos com carros de luxo na Grécia. Vivendo um arrocho de gastos públicos sem precedentes e pressionada a reduzir seu déficit, a União Europeia (UE) lança uma verdadeira caça às bruxas para determinar qual o destino dado a bilhões de euros nos últimos anos e descobre que a fraude com os recursos vai bem além do que muitos contribuintes imaginavam.

Com um dos PIBs (Produto Interno Bruto) mais altos do planeta, o bloco que representa a maior economia do mundo esteve acostumado nas últimas décadas a orçamentos bilionários e que eram distribuídos para diversos grupos com a meta de aumentar a competitividade do continente, garantir pesquisa e mesmo proteger áreas verdes.

Mas com os principais contribuintes em profundas dificuldades, a ordem é a de cortar gastos. Países que deveriam fazer suas contribuições ao orçamento europeu como França, Espanha e Reino Unidos estão sendo obrigados a elevar a idade mínima de aposentadoria, demitir funcionários públicos e congelam salários de enfermeiros, médicos, professores e policiais.

Não por acaso, a ordem é a de cortar também o aporte que dão à UE em Bruxelas. Para o orçamento de 2011, a Comissão Europeia apresentou uma proposta para um aumento de 5,9% no valor de gastos em comparação a 2010. Vivendo sua pior crise da dívida em décadas, os estados insistiram que apenas dariam um aumento de 2,9%.

Varredura. Mas outro pilar da estratégia é o de fazer uma varredura nas contas. O que seria apenas mais uma auditoria nas contas públicas, porém, acabou mostrando o que muitos já chamam de “o lado negro da civilização europeia”.

Nesta semana, auditores da UE revelaram que mais de 1,4 bilhão de foi alvo de fraude apenas em 2009. Outros 15 bilhões de euros ainda foram usados em projetos sem qualquer relevância ou em licitações públicas repletas de irregularidades.

Alguns dos casos mais graves estão no setor rural europeu. Quase metade do orçamento de 120 bilhões da UE é distribuído em subsídios agrícolas. A conclusão dos auditores é de que, por dia, 3,8 milhões do dinheiro público são desviados ou usados de forma irregular por fazendeiros.

Um dos casos descobertos pelos auditores foi o pagamento de subsídios para um fazendeiro que alegava ter limoeiros na Sicília. Ao ser visitado, o beneficiário não conseguiu achar sua própria produção de limões.

Em outro caso, também na Itália, um criador de ovelhas alugava seu rebanho a pessoas que quisessem mostrar à UE que tinham uma produção e que precisavam de subsídios. Como Bruxelas envia os recursos dependendo do número de cabeças de animais, o criador não hesitou em percorrer sua região “alugando” as ovelhas para que fazendeiros fraudassem a UE.

Na Eslovênia, o produtor foi ainda mais ousado: recebia recursos da UE por vacas que jamais teve. Na Hungria, 411 mil foram destinados a uma clínica de reabilitação de cães, enquanto na Áustria 16 mil foram dados para um programa que ajudava fazendeiros da região do Tirol a “incrementar sua conexão emocional com a terra”.

Há ainda os exageros de 5,2 milhões gastos em apenas um ano com carros de luxo para parlamentares, ou outros 5,1 milhões para promover atividades culturais para os funcionários da UE. O que mais assusta a UE é que os casos de fraude e irregularidades dobraram entre 2008 e 2009. Apenas no setor agrícola, a fraude em um ano chegou a quase 600 milhões. Só a Grécia terá de devolver aos cofres da UE mais de 347 milhões.


Crise da dívida revela fraude massiva na União Europeia - Jamil Chade - 16 Nov 2010
O Estado de São Paulo

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Corrige: O texto anterior estaca com erro no valor informado sobre o rombo no Panamericano. Segue o correto:

A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, disse ontem que, após análise inicial dos novos executivos do Panamericano, é possível constatar que o rombo descoberto no banco em nada difere dos números encontrados pelos técnicos do Banco Central.

"A nova diretoria está trabalhando desde o dia 10 e essa equipe já fez uma avaliação preliminar e verificou que (no problema contábil) não há nada além do que já estava dito", disse, ao reafirmar que o rombo soma R$ 2,5 bilhões e não valor maior, hipótese que tem sido aventada nos últimos dias. "O banco vai contratar auditoria para verificação ainda mais rigorosa. Mas, por enquanto, não há elementos que nos leve a crer que haja problemas adicionais. Por isso, mantemos o número", explicou, em entrevista ao Estado.

Ao ser questionada se haveria arrependimento por ter comprado metade de um banco envolvido em um dos maiores escândalos contábeis dos últimos anos no Brasil, Maria Fernanda responde que não e reafirma o plano desenhando quando o contrato de compra das ações do Grupo Silvio Santos foi assinado. "O negócio foi baseado em estudos. Vamos fazer uma avaliação desses objetivos. Em princípio, a Caixa pretende executar esse plano. Temos os diretores empossados para isso", diz.

Apesar de todo o governo ter sido informado oficialmente que o Panamericano enfrentava problemas em meados de setembro, Maria Fernanda nega que o Poder Executivo tenha participado ativamente da saída encontrada para o caso. "Houve uma solução privada que defendeu interesses dos acionistas e clientes. Não interessava a ninguém, tampouco à Caixa uma liquidação", explica.


Panamericano: rombo não é maior que R$ 2,5 bilhões - Fernando Nakagawa - 17 Nov 2010
AE Noticiário

Meireles fala

Em sua primeira entrevista exclusiva desde que o socorro de R$ 2,5 bilhões ao Banco Panamericano foi anunciado, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, rebate os ataques feitos nos últimos dias à instituição, critica os controles do banco (auditorias interna e externa) e diz que, em última instância, o responsável pelos problemas era o controlador (Silvio Santos).

“O único prejudicado foi o acionista controlador, que assumiu o prejuízo de acordo com a lei - corretamente - e era, em última análise, o responsável”, afirmou ao Estado no início da tarde de ontem. A seguir, os principais trechos da conversa.

Como o BC descobriu a fraude?

O BC, dentro de seu processo de análise sistêmica, fez uma avaliação consolidada do total das posições dos bancos cedentes e cessionários (de carteiras de crédito) e concluiu que havia uma inconsistência.

Quem era responsável por descobrir isso?

O responsável número 1 é o acionista majoritário. Em seguida, os órgãos de controle da instituição: os conselhos, a auditoria interna, controles internos etc. Além do controle externo, do ponto de vista do mercado/ investidores, que é feito pela auditoria externa. Essa é a linha de responsabilização direta pela integralidade dos resultados contábeis da instituição. O trabalho de supervisão do BC faz uma série de avaliações que não substituem os controles internos e a auditoria externa.

Como recebe a crítica de que o BC demorou para descobrir?

Essas críticas revelam um mal-entendido sobre o papel da supervisão. Primeiro, seria operacionalmente inviável substituir todos os controles internos e a auditoria externa. Mas o mais importante e mais grave: aumentaria de forma descontrolada o chamado risco moral, aquele do qual todos partem do pressuposto de que o governo está olhando todos os detalhes, substituindo todos os órgãos controladores e auditores. De maneira que os gestores, os auditores, os investidores passam a não fazer seu trabalho, baseados no preceito de que o governo fará por eles. O BC agiu a tempo de não causar prejuízo ao poder público, aos depositantes, ao sistema financeiro e à economia. O único prejudicado foi o acionista controlador, que assumiu o prejuízo de acordo com a lei - corretamente - e era, em última análise, o responsável.

É preciso rever a regulação das auditorias externas?

A regulamentação, no momento, tem de ser aplicada.

Mas ela é adequada?

No momento não se revelou inadequada. Mas estamos sempre, a qualquer momento, com o Comitê da Basileia e os demais bancos centrais do mundo, revisando a regulamentação para buscar aperfeiçoamentos.

Quando o sr. diz que a responsabilidade era do controlador, das auditorias, etc, é possível afirmar que eles foram omissos?

Isso será a essência do processo administrativo. Não pode haver por parte da autoridade pré-julgamento. Há um procedimento legal muito rigoroso que terá de ser seguido

O sr. tem dito há tempos que o sistema financeiro está com boa saúde, se saiu bem na crise, etc. Mas ouvimos que, se o Panamericano tivesse sido liquidado, veríamos sérios problemas.

É correta a afirmação de que o sistema financeiro brasileiro resistiu muito bem à crise, que os níveis de capitalização dos bancos são adequados e todo o aparato prudencial brasileiro é usado como modelo no mundo. Isso não quer dizer que não possa haver problemas. Não há dúvida de que uma liquidação desnecessária, que seria o caso - porque o acionista controlador tinha condições de cobrir o prejuízo - causaria prejuízo aos credores, para o próprio Fundo Garantidor de Crédito (FGC, que emprestou os R$ 2,5 bilhões) e para uma percepção de mercado de riscos sistêmicos que poderiam não existir.

O fato de parte desse rombo ter sido gerado em cartão de crédito não exibe com mais clareza a necessidade de uma regulamentação desse setor?

Existe um Grupo de Trabalho, do qual o BC faz parte, que está exatamente trabalhando em uma proposta de regulamentação desse setor. Muitas coisas já foram feitas, já foram levadas. A próxima etapa será a regulamentação das tarifas de cartão de crédito que são cobradas por uma parte do sistema, os bancos. Existem discussões em andamento com o Congresso Nacional para definir se se justifica ou não criar um sistema de fiscalização do cartão de crédito, que pode ser o BC ou qualquer outra entidade reguladora.

Há hoje um vácuo regulatório?

O cartão de crédito é como muitos outros setores do Brasil, em que não há necessariamente um regulador específico.

Já existem indícios de que houve desvio de dinheiro ou, por enquanto, o que se tem é uma certeza de que havia fraude contábil?

No momento, o processo administrativo está em andamento, em início ainda, e a investigação do Ministério Público está também se iniciando. Portanto, ainda não temos nenhum relatório das áreas de fiscalização que chegue a alguma conclusão a esse respeito. Esse é um processo que tem de seguir rigorosamente as normas e todo o procedimento regimental para que seja bem feito e não possa ser contestado no futuro.

Qual a chance de o rombo ser maior que R$ 2,5 bilhões?

São duas coisas diferentes. Essa investigação do BC mostrou que o problema do banco é um pouco inferior a R$ 2,1 bilhões. A parte do cartão de crédito foi feita pelo Conselho do banco. O BC, de novo, não tem acesso ao cartão de crédito. Sobre os demais aspectos do banco, certamente isso será objeto de continuada avaliação dos acionistas. Agora, o que eu quero dizer é o seguinte: o BC, pelo risco moral, jamais, com instituição nenhuma, pode afirmar: “Não existe mais problema com ninguém.” Isso, por definição, seria o risco moral. O BC não pode fazer esse tipo de afirmação. O BC sempre tem de dizer: “Riscos existem; em qualquer banco, em qualquer financeira, em qualquer instituição financeira, a todo tempo.”

Não está claro o que aconteceu na parte de cartões. A princípio, se fala em R$ 400 milhões de prejuízo. Mas pode ser mais. Se for mais, pode bater no próprio banco e levar a que os cálculos sejam refeitos?

O BC não faz raciocínios teóricos nem especulações sobre o que pode acontecer. Não há, no momento, nenhuma evidência achada pelo BC de que problemas no cartão possam levar a passivos para o banco.

Outra operação no caso envolve um CDB que teria sido comprado há tempo, com rentabilidade muito distinta da paga às pessoas físicas. Não houve falha do BC em observar essa operação?

Não. Você quer que o BC substitua o acionista controlador para defender o interesse dele? O BC não pode ficar julgando a cada momento se o banco está captando caro ou barato.

Em termos de supervisão, o diretor Alvir Hoffmann (Fiscalização) disse que existiriam operações que já têm de três a quatro anos. Esse não é um período muito grande para descobrir esse tipo de inconsistência?

O BC agiu a tempo e a hora porque evitou prejuízos para o setor público, para os depositantes, para o sistema, para a economia brasileira, etc. Agiu quando o processo todo adquiriu uma dimensão que tinha um interesse sistêmico.

Não era o caso de descobrir antes de virar risco sistêmico?

Não. Repetindo para não perdermos mais tempo: o BC agiu a tempo e a hora porque a função do BC é prevenir riscos que levem a prejuízos para o País, para o sistema e, nesse caso, para os depositantes, que não perderam nenhum centavo.

Como é que fica a investigação daqui para a frente?

As informações vão sendo remetidas para o Ministério Público na medida em que forem apuradas. Não é um processo em que apenas ao fim será enviado. O BC já remeteu na semana passada as primeiras informações ao MP, deve remeter mais informações nesta semana e, no curso das investigações, vai informando o mais cedo possível ao MP. O BC olha do ponto de vista administrativo, o MP olha do ponto de vista penal.

Os ex-diretores vão ser chamados pelo BC para se explicar no processo administrativo. O fato de eles estarem nessa situação os impede de sair do Brasil?

Compete ao Ministério Público Federal pedir à Justiça uma ação nesse sentido. A decisão final é da Justiça.


‘Você quer que o BC substitua o acionista controlador para defender o interesse dele?’ - Leandro Modé, Fabio Graner, Fernando Nakagawa - 17 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Patinho feio

A rede Lojas do Baú Crediário, braço varejista do Grupo Silvio Santos, é tida pelo mercado como o “patinho feio” do conglomerado, caso o empresário Silvio Santos decida vendê-la para quitar o empréstimo de R$ 2,5 bilhões recebido na semana passada do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), após a descoberta de fraude no Banco Panamericano.

Fundada em 2007, os planos da rede varejista eram ambiciosos. A meta inicial era chegar em 2010 com 224 lojas espalhadas entre as regiões Sul e Sudeste. Hoje, no entanto, são apenas 125 pontos de venda concentrados nos Estados de São Paulo e Paraná, onde estão localizadas 40 e 84 lojas, respectivamente. Há somente uma unidade em Minas Gerais, na cidade de Poços de Caldas. Apesar de não divulgar dados por ser uma companhia fechada, o Estado apurou que a receita da rede girou em torno R$ 400 milhões no ano passado.

Além de ficar aquém no plano de expansão inicialmente traçado, fontes do mercado dizem que a empresa seria deficitária. As lojas do Paraná, compradas da rede Dudony em 2009, estariam vendendo 40% do previsto. A administração anterior, que durou até meados deste ano e da qual fizeram parte familiares do empresário Silvio Santos e pessoas de sua confiança, teria levado a rede a acumular estoques indesejados e uma série de problemas. A integração dos funcionários da rede Dudony com os das Lojas do Baú Crediário, por exemplo, foi difícil, o que desmotivou a equipe.

Estoques. Segundo fontes do mercado, a administração anterior teria errado a mão na hora de fazer as encomendas a fabricantes e importadores. Com isso, a rede teria acumulado um volume de produtos maior que o normal. Para redes de móveis e eletrodomésticos 40 dias de estoques já são considerados um volume alto. Também o mix de produtos escolhidos estaria longe de atrair o interesse da classe C, que é o alvo da rede e gosta de itens de marca.

Egresso do Ponto Frio, José Roberto Priost, que desde julho é o diretor de Varejo da rede, acumulando as funções de compra, venda e marketing, nega que a companhia seja deficitária. “Hoje estamos no zero a zero”, diz o executivo encarregado de reestruturar a rede. “Não há receita do bolo para o varejo. Vim para dar mais velocidade ao negócio de varejo, que tem normalmente margens apertadas.”

Priost diz que os planos da rede de dobrar de tamanho dentro de um ano estão mantidos depois do revés sofrido pelo Grupo na semana passada. O plano de ter lojas maiores, de 300 metros quadrados, na cidades onde a companhia já está também não foi modificado e contempla 23 unidades, que foram adquiridas da Dudony. O executivo também discorda da baixa atratividade da companhia, caso o empresário Silvio Santos opte pela venda da rede varejista.

“A rede tem potencial de venda se o comprador olhar para a perspectiva de ganho futuro que a empresa pode proporcionar, não para o passado e o presente”, diz um empresário do setor que não quer ser identificado.

Na bolsa de apostas de quais seriam os potenciais interessados pela rede varejista, ganham destaque a Máquina de Vendas, união da rede mineira Ricardo Eletro com a baiana Lojas Insinuante, e o Magazine Luiza, que acabou de dar um passo ousado comprando as Lojas Maia no Nordeste.

Oficialmente ambas as companhias negam o interesse pelas Lojas do Baú Crediário. Analistas de varejo dizem que a rede do Grupo Silvio Santos caberia como uma luva no plano de expansão da Máquina de Vendas, que domina o Nordeste, o Sudeste e o Centro-Oeste, mas ainda não fincou bandeira no Sul. Para o Magazine Luiza, por sua vez, apesar de estar presente no Paraná e no interior de São Paulo, a compra da rede seria uma estratégia acertada para brecar o avanço da concorrência.

No caso das Casas Bahia e do Ponto Frio, o modelo das Lojas do Baú Crediário seria interessante apenas para o Ponto Frio. Isso porque a rede é formada por pontos de venda de pequeno porte, incompatíveis com o formato das Casas Bahia.

FICHA TÉCNICA

Lojas do Baú se apoiam na marca do Baú, mídia do SBT e crédito do Panamericano

Fundação: 2007

Número de lojas: 125

Número de funcionários: 2.000

Onde está: São Paulo e Paraná

Foco: móveis e eletrônicos

Receita em 2009: R$400 milhões


Lojas do Baú são o‘patinho feio’ do grupo - Márcia De Chiara - 17 Nov 2010 - O Estado de São Paulo

Sob nova direção

A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, disse ontem que, após análise inicial dos novos executivos do Panamericano, é possível constatar que o rombo descoberto no banco em nada difere dos números encontrados pelo Banco Central.

“A nova diretoria está trabalhando desde o dia 10 e essa equipe já fez uma avaliação preliminar e verificou que (no problema contábil) não há nada além do que já estava dito”, disse, ao reafirmar que o rombo soma R$ 2,5 bilhões e não valor maior, hipótese que tem sido aventada nos últimos dias.

“O banco vai contratar auditoria para verificação ainda mais rigorosa. Mas, por enquanto, não há elementos que nos levem a crer que haja problemas adicionais. Por isso, mantemos o número”, explicou, em entrevista ao Estado.

Ao ser questionada se haveria arrependimento por ter comprado metade de um banco envolvido em um dos maiores escândalos contábeis dos últimos anos no Brasil, Maria Fernanda responde que não e reafirma o plano desenhando quando o contrato de compra das ações do Grupo Silvio Santos foi assinado. “O negócio foi baseado em estudos.

Vamos fazer uma avaliação desses objetivos. Em princípio, a Caixa pretende executar esse plano. Temos os diretores empossados para isso”, diz.

Apesar de todo o governo ter sido informado oficialmente que o Panamericano enfrentava problemas em meados de setembro, Maria Fernanda nega que o Poder Executivo tenha participado ativamente da saída encontrada para o caso.

“Houve uma solução privada que defendeu interesses dos acionistas e clientes. Não interessava a ninguém, tampouco à Caixa uma liquidação”, explica.

Sem alteração. Maria Fernanda, que assume nos próximos dias a presidência do Conselho de Administração do Panamericano, descartou qualquer alteração da participação acionária da Caixa na instituição.

Ela rechaçou as hipóteses de que o banco estatal poderia ter interesse em vender sua participação minoritária - atualmente de 49% das ações ordinárias - ou a de que poderia adquirir o controle acionário de Silvio Santos. “Não está no plano comprar a parte do controlador”.

O vice-presidente de finanças da Caixa, Márcio Percival, informou que, após poucos dias de negócios abaixo da média, a concessão de crédito já voltou ao normal no Panamericano. “Voltamos ao ritmo em que o Panamericano concede cerca de R$ 30 milhões a cada dia.”

PARA LEMBRAR

Participação em banco é disputada

Cinco bancos, até o momento, demonstraram interesse em adquirir a participação de 51% do Grupo Silvio Santos no Banco Panamericano. Segundo fonte que acompanha as negociações, as propostas serão analisadas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que emprestou R$ 2,5 bilhões ao Grupo Silvio Santos para cobrir o rombo encontrado nas contas da instituição. A Caixa deve ajudar a achar um novo parceiro.


Nova diretoria vasculha Panamericano - Fernando Nakagawa - 17 Nov 2010 - O Estado de São Paulo