Especial
Economia deve se admitir imperfeita, afirma Frydman
Valor Econômico - 26/2/2009
Além de culpar Alan Greenspan, o governo Bush e a desregulamentação financeira feita no governo Clinton, os economistas deveriam olhar para si mesmos ao buscarem as causas da atual crise global. Uma causa subjacente, segundo o economista Roman Frydman, foi a pretensão da corrente dominante do pensamento econômico nos últimos 30 anos de que podia estimar com precisão os preços dos ativos e, consequentemente, prever os movimentos dos mercados. Esse modelo fracassou, diz Frydman. Em seu lugar, ele defende um modelo baseado no que chama de conhecimento imperfeito.
(...) O alvo de Frydman é a teoria (ou hipótese) das expectativas racionais, um pressuposto usado atualmente nos principais modelos macroeconômicos e que prevê que a expectativa dos agentes econômicos (consumidores, empresas, traders, associações etc) é correta na média, pois essas expectativas se baseiam na análise de todos os fatores envolvidos.
"As expectativas racionais são uma metodologia muito poderosa, que postula que os economistas são capazes de determinar com precisão o que os mercados pensam sobre o futuro. Soa estranho, mas é isso", disse Frydman.
Assim, seria possível prever "cientificamente" a evolução dos preços dos ativos, isto é, de ações, imóveis, moedas, commodities etc. Obviamente há oscilações não previstas, mas com o tempo o preço do ativo tenderia a voltar a uma situação de equilíbrio.
"Todos esses modelos são baseados na ideia de que os economistas, analistas ou alguém que trabalha num banco pode precificar uma ação. Isso se chama a precificação racional das ações. O preço depende das expectativas de para onde a ação está indo. Se essa expectativa está errada, então o preço não é o preço racional. Mas, por causa dessa crença dos economistas de que podem saber exatamente quais são as expectativas, eles achavam que podiam desenvolver métodos para modelar os preços."
Essa ideia levou à elaboração de complexos modelos matemáticos que são usados diariamente por instituições financeiras e empresas em todo o mundo para tentar antecipar preços dos ativos. "Isso se tornou um enorme negócio", afirma Frydman.
O que isso tem a ver com esta crise? Frydman cita dois efeitos importantes. Em primeiro lugar, os modelos fracassaram ao não conseguir prever os riscos da valorização contínua dos ativos. Como o modelo previa "cientificamente" o preço dos ativos, e estes só subiam, isso desestimulou os agentes econômicos a prestar atenção aos fundamentos que deveriam sustentar aqueles preços. Os mercados se iludiram de que os preços podiam continuar se apreciando indefinidamente.
Em segundo lugar, se o mercado conseguia fazer uma avaliação científica do risco, o principal fator para se precificar um ativo, então não era necessário que a autoridade regulatória fiscalizasse as instituições. Elas mesmas estariam se fiscalizando continuamente, ao analisarem o risco umas das outras. O ex-presidente do Fed (o banco central americano) Alan Greenspan comprou essa ideia. Deu no que deu.
"Os EUA precisam aceitar o fato de que desregulamentar não foi uma boa ideia. A teoria econômica nos EUA não está muito boa, pois é amplamente baseada nas expectativas racionais. E as expectativas racionais fazem você pensar que, quando os mercados disparam, eles estão certos, ou então não teriam disparado. Essa teoria é incapaz de explicar o que estamos vendo agora."
O embate com as expectativas racionais marcou a atividade acadêmica de Frydman. "Eu tinha acabado de imigrar para os EUA no final dos anos 60, vindo da Polônia, onde a economia planificada havia fracassado, e fiquei muito surpreso de saber que lá se pretendia elaborar um modelo exato para o mercado. Fui até Phelps e perguntei a ele se as pessoas nos EUA acreditavam mesmo que podiam dizer exatamente para onde o mercado estava indo. Então começamos a desenvolver uma crítica às expectativas racionais."
Ele mesmo admite que boa parte dessa crítica (como o livro escrito com Phelps e publicado em 1983, "Individual Forecasting and Aggregate Outcomes: 'Rational Expectations' Examined") foi ignorada. "O pensamento econômico continuou trabalhando com as expectativas racionais."
"Todas essas implicações fracassaram na prática. Há uns dez anos começou a ficar claro que a economia tinha de aceitar que não pode prever exatamente para onde vai o mercado", diz Frydman. "Então, a pergunta principal passou a ser: é possível fazer algum tipo de modelo se você não sabe para onde o mercado está indo? Ou se teríamos de desistir dos modelos?"
Em 2007, Frydman publicou, em conjunto com Michael Goldberg, "Imperfect Knowledge Economics" (Economia do Conhecimento Imperfeito), que viria a ser a sua resposta a essa pergunta. Resumidamente, sim, é possível elaborar modelos, mas eles têm de se basear no fato de que o conhecimento é imperfeito, diz Frydman.
Como isso funciona? "A economia do conhecimento imperfeito postula que há limites para o que os economistas podem saber. Ela permite a formulação de modelos substituindo condições quantitativas - economistas gostam de fortes condições matemáticas nos seus modelos - por condições qualitativas, que são o máximo que podemos ter. Ou seja, regularidades qualitativas, não regularidades quantitativas."
O conceito fundamental para Frydman é o de padrão histórico (historical benchmark) de preços de um certo ativo. Assim, o risco relacionado a determinado ativo cresce à medida que o seu preço se distancia, para cima ou para baixo, de seu padrão histórico. "O modo tradicional de pensar sobre o risco é que ele depende de volatilidade. Nós temos um modo de olhar o risco que retoma Keynes, que mede o risco relativamente ao distanciamento de um ativo, por exemplo uma moeda, em relação a um padrão de valores das moedas."
Como professor, Frydman gosta de dar exemplos de seus conceitos. Foram vários na conversa com o Valor. Eis um deles: "O valor padrão do dólar é perto da paridade com o euro. Sabemos que, na história do dólar, quando ele sobe 30% ou 35% acima da paridade, é muito alto. Então, as chances são grandes de que ele vá cair".
Assim, o modelo de Frydman não consegue prever (mas será que alguém hoje consegue?) onde o dólar estará em relação ao euro na semana que vem, mas pode dizer se ele está alto ou baixo demais em relação a onde normalmente está.
Esse padrão histórico proposto por Frydman para a avaliação de preços de ativos não é um valor, mas um intervalo dentro do qual o preço do ativo costuma oscilar. Esse intervalo também não é fixo, já que ao longo do tempo vários fatores, como ganhos de produtividade, podem alterar a tendência de preço de longo prazo. "Essa visão que temos, de conhecimento imperfeito, implica que só fundamentos sólidos podem mover os preços dos ativos para além de seu padrão. Nós não negamos que a psicologia tenha um papel, mas não precisamos da psicologia para ter flutuações. O importante é que as flutuações de preços ocorrem por conta dos fundamentos."
Frydman acha que seu modelo ajuda a evitar grandes oscilações nos mercados, que acabam resultando em grandes correções, com custos sociais elevados. Ele defende que, em caso de distanciamento importante do preço de um ativo em relação ao seu padrão histórico, caberia à autoridade reguladora intervir, mas sem se comprometer com um determinado preço.
Exemplo: "O índice Shiller-Case [de preço de moradias nos EUA] dobrou de 2000 a 2006. E, ainda assim, o governo continuou a oferecer financiamento imobiliário a taxas mais e mais vantajosas. É o oposto do que deveria ser feito."
Ele admite que seria superficial atribuir toda a culpa à economia. "Houve pressão política, dos democratas e dos republicanos, para a concessão de financiamento imobiliário, para que todo mundo possuísse uma casa. Isso é bem documentado. Instituições como a Fannie Mae foram informadas de que deveriam expandir os financiamentos. Isso é política."
"A solução que propomos para esse tipo de problema é que sejam tomadas medidas que contenham a magnitude das oscilações, mas sem assumir nenhuma posição sobre onde os preços devem estar amanhã", diz Frydman.
Que medidas? "Pode haver intervenção direta e indireta. O Fed tem discutido se a política monetária deve ser usada para limitar as oscilações do mercado. Mas as taxas de juros não são uma medida adequada, pois afetam toda a economia. Uma coisa simples que pode ser feita é ressaltar os padrões históricos de vários tipos de ativos. Isso deixaria claro que o risco está aumentando para os investidores, quanto mais o mercado sobe."
Frydman sugere que as autoridades reguladoras divulguem regularmente o seu padrão histórico para os preços de ativos. O banco central, por exemplo, divulgaria o que considera o padrão para a cotação do real em relação ao dólar. Mas não se comprometeria a manter a moeda nesse padrão, apenas alertaria o mercado de que se reserva o direito de intervir sempre que a cotação estiver muito fora do padrão. "Quanto mais ela se distanciar, mas arriscado será para o mercado. O BC nunca perde credibilidade, pois ele nunca se compromete em manter uma certa taxa de câmbio." Essa intervenção poderia ser feita comprando ou vendendo dólares ou por meio de medidas administrativas que onerem (ou desonerem) as operações.
"Se acreditarmos que as flutuações são o normal no mercado, e não que os mercados estão sempre em equilíbrio, e se não acreditarmos que, quando o mercado sobe, a única coisa a fazer é rezar para que volte, então teremos a chance de limitar, não de eliminar, mas de limitar as crises."
Apesar dessa extensa acusação a um pensamento econômico que se julgava preciso, científico, Frydman não acredita que os economistas se tornarão menos arrogantes no futuro. "Num fenômeno tão complexo como essa crise, não é fácil atribuir as responsabilidades. Eu ainda não vi o movimento entre meus colegas de que tudo isso tenha de ser reexaminado. Há pessoas, como Phelps, que acham que essa responsabilidade é inequívoca. Mas é muito difícil para os economistas aceitar que a economia não pode afinal dizer o que vai acontecer. É duro. Os economistas tiraram fortes conclusões a partir disso. E economistas têm a tendência de ser muito seguros de si mesmos."
03 março 2009
Conseqüência da IFRS
IFRS pode desenquadrar debêntures
25/2/2009 - Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa)
Gazeta Mercantil
São Paulo, 25 de Fevereiro de 2009 - As alterações dos indicadores financeiros das empresas por conta da adequação às regras do padrão contábil internacional - International Financial Reporting Standards (IFRS) - poderão levar ao desenquadramento de algumas cláusulas contratuais, chamadas de covenants, relativas a limitadores de endividamento nos contratos de emissões de dívida como debêntures, notas promissórias ou empréstimos sindicalizados.
Segundo a presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de (Apimec), Lucy Aparecida de Sousa, algumas mudanças contábeis com a adoção do IFRS, como a contabilização de instrumentos financeiros, incluindo derivativos, e alterações na reserva de reavaliação de ativos imobilizados, podem impactar no valor do passivo e patrimônio líquido das empresas. "Alguns contratos de debêntures, por exemplo, colocam um compromisso de limite de alavancagem da empresa de três vezes o patrimônio. Com as mudanças contábeis pode haver um desenquadramento desses limites, devendo haver um acordo particular entre as partes para sua renegociação", diz.
Segundo o diretor de normas contábeis da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Eliseu Martins, essa renegociação não cabe à autarquia e deve ser realizada entre investidores e empresas. O diretor da Pentágono DTVM - que atua como agente fiduciário - Maurício Ribeiro afirma que, na maioria das escrituras de emissões de debêntures, há algumas cláusulas que estabelecem que em casos de eventual desenquadramento dos convenants, os investidores podem pedir o vencimento antecipado dos papéis. Nesse caso, o agente fiduciário pode convocar uma assembléia para renegociar novos limites de alavancagem, que variam para cada setor. (...)
Bancos com Problemas

A figura mostra o número de bancos nos EUA com problemas. Em 2008 foram 252 entidades, muito abaixo da crise do início dos anos 90. Mas isto não é tranquilizador por dois motivos: primeiro, não se considera que o porte atual das entidades é maior; segundo, a crise está começando e o ano de 2009 pode ser pior que 2008.
Passivo Ambiental
Apesar de uma grande maioria de empresas possuírem passivos ambientais, não existe a preocupação em evidenciar. É o que afirma as pesquisas acadêmicas na área. As empresas ignoram a possibilidade dos reguladores aplicarem multas em razão da não evidenciação, conforme uma pesquisa da Universidade do Arkansas (via It's Easy Not Being Green, Sarah Johnson, CFO, 18/2/2009)
Esta pesquisa revela que o principal motivo para não evidenciação é o receio que isto afete o preço da ação. Mas uma eventual punição por não evidenciar também possui efeito sobre o valor de mercado da empresa. Efetivamente, a experiência mostra que as penalidades possuem um grande efeito sobre a ação.
Uma possibilidade é que a evidenciação de uma violação ambiental pode ter reflexo na necessidade de mostrar que as empresas são “amigas” do meio-ambiente.
Tenho outra hipótese: provavelmente a possibilidade de uma punição seja pequena, o que torna o valor presente favorável a não evidenciação
Esta pesquisa revela que o principal motivo para não evidenciação é o receio que isto afete o preço da ação. Mas uma eventual punição por não evidenciar também possui efeito sobre o valor de mercado da empresa. Efetivamente, a experiência mostra que as penalidades possuem um grande efeito sobre a ação.
Uma possibilidade é que a evidenciação de uma violação ambiental pode ter reflexo na necessidade de mostrar que as empresas são “amigas” do meio-ambiente.
Tenho outra hipótese: provavelmente a possibilidade de uma punição seja pequena, o que torna o valor presente favorável a não evidenciação
02 março 2009
Teste #27
Grau de Dificuldade: **
1) Carlos Carvalho, pensador contábil brasileiro e autor de diversos livros de contabilidade, poderia ter lido Uniform Accounting?
2) Fabio Besta poderia ter usado protetor solar?
3) Bernardo Cotrugli poderia ter usado óculos de grau para escrever o primeiro manuscrito sobre as partidas dobradas?
Resposta do Anterior: “cada lançamento no diário deve originar dois lançamentos no razão [ um em uma conta de débito e outro em uma conta de crédito]” Luca Pacioli (via SCHMIDT, Paulo. História do Pensamento Contábil, p. 43)
1) Carlos Carvalho, pensador contábil brasileiro e autor de diversos livros de contabilidade, poderia ter lido Uniform Accounting?
2) Fabio Besta poderia ter usado protetor solar?
3) Bernardo Cotrugli poderia ter usado óculos de grau para escrever o primeiro manuscrito sobre as partidas dobradas?
Resposta do Anterior: “cada lançamento no diário deve originar dois lançamentos no razão [ um em uma conta de débito e outro em uma conta de crédito]” Luca Pacioli (via SCHMIDT, Paulo. História do Pensamento Contábil, p. 43)
Lei 11638 e Imposto
Alterações da lei 11.638 podem refletir no caixa
2 de Março de 2009 - Com o agravamento da situação econômica mundial, a precisão do planejamento financeiro das empresas assume um papel ainda mais relevante - e se torna também mais complexo. Assim como nas demais áreas das empresas, no planejamento fiscal a palavra de ordem é evitar tudo o que tenha impacto tributário imediato. Em outras palavras: para enfrentar a crise, é preciso aliviar o fluxo de caixa e cortar custos das empresas.
Neste sentido, a Medida Provisória (MP) 449, editada em dezembro de 2008 pelo Governo Federal, foi muito bem-vinda. Para assegurar a necessária neutralidade fiscal dos ajustes provocados pela nova Lei das SAs (Lei nº 11.638/07), a MP instituiu o Regime Tributário de Transição (RTT), que permite às empresas optar entre continuar no sistema de cálculo atual ou adotar os novos métodos.
Como já era esperado, a MP não trouxe aumento de imposto para as organizações. Mas, dependendo da forma como os ajustes forem feitos, principalmente na fase de transição de um sistema de cálculo para o outro, as empresas podem ter impactos tributários significativos. Todas as possibilidades de reduzir ou postergar desembolsos têm de ser avaliadas.
É importante relembrar que o conjunto de normas que começa a ser construído pela lei 11.638 e pelos novos pronunciamentos contábeis emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e aprovados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), visa harmonizar as demonstrações financeiras adotadas no Brasil ao padrão internacional, conhecido como IFRS (International Financial Reporting Standards). É neste sentido que as novas regras podem afetar a demonstração de resultados das empresas e a base de cálculo do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Entre as questões mais complexas do novo sistema, estão aquelas que envolvem a avaliação dos ativos das empresas, uma vez que a nova legislação introduz o critério de mensuração de ativos e passivos de longo prazo com base no valor presente e o conceito de valor justo para certos ativos.
A opção ou não pelo RTT não tem repercussão sobre os valores registrados no ajuste de avaliação patrimonial, que decorrem da avaliação de ativos a valor justo, mas pode provocar impacto para empresas com ativos trazidos a valor presente que sejam superiores aos passivos. Isso porque, ao descontar os juros futuros dos recebíveis de longo prazo, haverá uma redução patrimonial temporária. O inverso também pode ocorrer, no caso de companhias com valores a pagar.
Outro ponto importante diz respeito à criação do critério de valor recuperável dos ativos, que pode resultar no lançamento de ajustes que reduzirão contas do ativo. Com isso, as alterações podem repercutir na apuração do PIS e da Cofins não cumulativos, uma vez que a lei admite créditos referentes à depreciação dos bens do ativo imobilizado.
Há diversas outras mudanças nas normas contábeis que devem ser consideradas no momento de optar ou não pelo RTT, como, por exemplo, a contabilização de investimentos, no que diz respeito ao método da equivalência patrimonial e a amortização fiscal do ágio decorrente da expectativa de rentabilidade futura nas aquisições seguidas de incorporações.
A forma de reconhecer os resultados de investimentos em controladas e coligadas no exterior, no balanço das controladoras no Brasil, também sofreu mudanças que podem ter impacto significativo. Em alguns casos, desconsidera-se a existência da subsidiária e o registro das suas transações é feito no balanço da controladora.
Como o prazo para formalizar a opção pelo RTT se estende até a entrega da declaração do IR do ano-calendário 2008 - normalmente até o final de Junho -, ainda há tempo suficiente para uma análise profunda da situação da empresa dentro do novo cenário criado pela MP 449. No entanto, a recomendação é que esta análise seja feita o mais breve possível, pois requer um estudo de todos os pronunciamentos contábeis emitidos até agora pelo CPC e a avaliação do correspondente impacto da MP 449.
Apesar do objetivo de neutralidade fiscal, a MP pode trazer surpresas. É o caso de empresas que têm incentivos fiscais na forma de subvenção para investimento, que agora devem ser lançados no resultado como receita. Para que esta receita não seja tributada pelo IR e pela CSLL, é preciso destinar a parcela do lucro correspondente a esta receita para uma conta de reserva de incentivo fiscal, criada pela nova lei. Porém, empresas que têm prejuízo contábil, mas que tem IR a pagar, poderão ter um impacto no cálculo do imposto, devido à impossibilidade de fazer a destinação prevista na lei, por não ter lucros. O tema tem gerado discussão. A limitação estaria em desacordo com o objetivo de neutralidade da MP. O fato é que, dependendo da relevância dos ajustes contábeis decorrentes da lei 11.638, os impactos tributários podem ser significativos.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Pedro Anders - Sócio da KPMG no Brasil na área de impostos)
Sapatos
Em novembro, a Subprefeitura da Sé autuou um engraxate que estava trabalhando irregularmente na Avenida Paulista. Junto estavam mais de 30 pares de sapatos de clientes vips da região, como políticos e empresários. Entre eles, o presidente da Cohab, Ricardo Pereira Leite, e o deputado estadual Salim Curiati (PP), que teve 20 pares "'apreendidos". Depois de um longo verão, o engraxate pagou a multa e a Subprefeitura prometeu entregar-lhe o precioso acervo ainda hoje, para alívio dos clientes.
Pés descalços - 2/3/2009 - Gazeta Mercantil
Valor Justo em Bancos
Um texto muito interessante sobre a questão do valor justo em bancos:
Balanços de bancos começam a revelar algumas verdades
Valor Econômico - 2/3/2009
Os investidores que analisam os ativos nos balanços patrimoniais dos bancos simplesmente querem boas estimativas de quanto valem. Não é fácil ter uma resposta direta.
Vejamos o que foi divulgado quarta-feira pelo Regions Financial no balanço anual. Para propósitos contábeis, o Regions informou ter terminado 2008 com US$ 94,9 bilhões em créditos. Em nota de rodapé, porém, explicava que o "valor justo" desses mesmos créditos era de US$ 79,9 bilhões, ou seja, US$ 15 bilhões a menos.
No Huntington Bancshares, a história é parecida. O valor no balanço da carteira de crédito era de US$ 40,2 bilhões. O banco, porém, informava que o valor justo era de US$ 33,9 bilhões. Segundo o balanço, o número menor "refletia descontos que o Huntington acreditava ser consistentes com as transações ocorrendo no mercado". Em outras palavras, "há muito mais ceticismo aí fora sobre o valor dos ativos", segundo o diretor de finanças do Huntington, Donald Kimble. Nisto, não há discussão.
O motivo pelo qual os valores nos balanços são tão maiores é que as regras contábeis não exigem que os bancos marquem todos os créditos a mercado com periodicidade trimestral. Em vez disso, os créditos normalmente são carregados no balanço pelo custo histórico e recebem baixa contábil só para refletir perdas que os executivos consideram prováveis.
Uma vez por ano, contudo, as empresas precisam incluir notas de rodapé nas demonstrações financeiras auditadas que mostrem a diferença em relação ao valor justo de todos os instrumentos financeiros, incluindo os créditos. O Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Fasb, na sigla em inglês) propôs a exigência de que a revelação seja trimestral, a partir do próximo mês. Essa mudança na regra é mais do que necessária e deveria ter chegado bem antes.
A discussão se os créditos deveriam ser marcados pelo valor de mercado, assim como os derivativos e muitos outros instrumentos financeiros, arde há anos. Desde 2005, o Fasb e seu homólogo em Londres, o Conselho de Padrões de Contabilidade Internacional (Iasb), vêm dizendo que acabariam querendo ver todos os instrumentos financeiros calculados pelo valor justo, com ganhos e perdas reconhecidos trimestralmente.
As autoridades reguladoras do setor nos EUA, ecoando a visão de muitos executivos, opõem-se a estender a contabilidade pelo valor justo. Dizem que seria muito complicado fazê-lo com itens difíceis de avaliar e que resultaria em volatilidade demais nos números.
No mercado, o argumento é altamente controverso. Os preços das ações do Regions e Huntington, por exemplo, já são negociados com grandes descontos em relação ao patrimônio líquido que reivindicam ter nos livros. As regras contábeis dizem que as instituições de crédito podem escolher registrar os empréstimos pelo valor justo. Assim como a maioria dos bancos, o Regions e o Huntington optam por não o fazer.
O valor de mercado das ações do Regions é hoje de US$ 2,6 bilhões, 19% do patrimônio líquido, de US$ 13,5 bilhões. Tirando os US$ 15 bilhões em excesso do valor da carteira de crédito, o valor seria negativo. Tim Deighton, porta-voz do banco, não quis comentar.
A capitalização de mercado do Huntington é de US$ 608 milhões, uma pequena fatia de seu valor contábil, de US$ 5,3 bilhões. O banco também teria valor negativo não fossem as regras contábeis.
A parte mais enervante dessas divulgações é que os bancos sabiam, em todo o ano passado, que o valor de mercado dos portfólios de crédito estava despencando. E, ainda assim, não foram forçados a revelar os números. Mesmo assim, o mercado percebeu sozinho que não deveria confiar nos balanços.
O valor justo também tem implicações para o capital dos bancos. O propósito de um balanço patrimonial é fornecer uma foto da posição financeira de uma empresa em determinado momento. O capital de um banco é ilusório, se seus ativos na vida real não valem o que o balanço diz, não importa quão maluca seja a matemática que o governo usa para embelezar os índices oficiais de capital dos bancos. Embora uma divulgação correta não seja a cura para a má contabilidade, oferece de fato informações valiosas para investidores dispostos a estudá-las. (Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News. As opiniões expressas neste artigo são pessoais.)
01 março 2009
28 fevereiro 2009
Remuneração de Executivo
Empresas
Presidente da Novartis é criticado por salário milionário
26 February 2009
Valor Econômico
Embolsar remuneração de cerca de US$ 140 mil por dia é uma façanha para poucos executivos no mundo hoje em dia, em plena crise financeira e econômica global. Mas foi o que aconteceu com Daniel Vasella, presidente do grupo farmacêutico suíço Novartis no ano passado, provocando indignação na Suíça.
Vasella tem o salário mais elevado do país, com um total de US$ 35 milhões em 2008. A divulgação dos números alimentou as pressões de pequenos acionistas para o governo controlar as remunerações de executivos.
"Se a ânsia de ganho fosse uma doença, você deveria tomar remédio", reclamou durante o empresário Thomas Minder durante a assembleia geral da companhia. Ele é autor de uma iniciativa popular que pode levar a votação no pais sobre os salários de altos dirigentes. Minder ainda busca assinaturas de apoio para a ação.
A fundação Ethos, que representa oito fundos de pensão, reclama que Vasella é um dos raros dirigentes no país que ainda mantém a dupla função de presidente do conselho de administração e de principal executivo do grupo. Com isso, ele pode continuar a julgar seu próprio rendimento antes de defende-lo no conselho de administração, critica a fundação.
Vasella, que já chegou a insinuar sobre a possibilidade de transferir a sede da Novartis para fora da Suíça, parece tranquilo. Apesar da revolta, pequenos acionistas não conseguiram aprovar o princípio de um voto de consulta sobre os salários dos principais executivos.
O vice-presidente do conselho de administração da Novartis, Ulrich Lehner, defendeu o executivo dizendo que todos seus objetivos foram alcançados, e que não há razão para o setor de saúde baixar salário de dirigentes, já que não recebe ajuda do Estado e aNovartis teve lucro em 2008.
A remuneração total de Vasella aumentou 107% entre 2003 e 2008, sempre provocando manchetes indignadas em vários jornais. Os ganhos do executivo são 747 vezes mais elevadas do que os de empregados com menor salário, o que causa problemas num pais onde a disparidade de renda sempre foi relativamente controlada.
O debate sobre as remunerações prossegue um pouco em cada lugar, hoje em dia, e a tendência é de impor um salário diretamente relacionado ao desempenho alcançado.
No caso da Swiss Re, a maior resseguradora do mundo, não foi exatamente o que aconteceu em 2008. O diretor David Blumer embolsou US$ 12,5 bilhões, sendo o mais bem pago da empresa. O detalhe é que Blumer é diretor da divisão mercados financeiros, que registrou perda de US$ 5 bilhões. "Dilapide US$ 5 bilhões e ganhe US$ 12,5 bilhões", resumiu a "Tribuna de Geneve" num titulo. A empresa argumenta que o executivo ganhou mais porque teve opções de ações do antigo empregador, Credit Suisse, convertidas em ações da Swiss Re. (AM)
Exemplo para nós
Direito Corporativo
Construtora deve R$ 50,6 milhões
25/2/2009 Gazeta Mercantil
Washington, 25 de Fevereiro de 2009 - ADaewoo Engineering & Constrution, maior construtora da Coreia do Sul, perdeu a apelação de uma multa de US$ 50,6 milhões imposta devido ao que o governo norte-americano chamou de fraude em um contrato para a construção de uma rodovia em Palau.
A Daewoo, ao apresentar uma oferta de US$ 88,6 milhões, ganhou o contrato em 1998 para construir uma estrada de 85 km na ilha de Babeldaod (Palau) no oceano Pacífico. Mais tarde, a empreiteira pediu outros US$ 13,3 milhões para cobrir custos adicionais até dezembro de 2001 e mais US$ 50,6 milhões para cobrir despesas futuras. A empresa afirmou que precisaria de mais tempo e recursos para concluir a obra devido ao clima chuvoso e os solos úmidos de Palau.
A justiça federal dos Estados Unidos defendeu que a Daewood apresentou falsas alegações para receber mais fundos, impôs uma multa de US$ 50,6 milhões e invalidou o direito da companhia sobre os outros US$ 13,3 milhões. A corte rejeitou as alegações da Daewoo segundo as quais o governo norte-americano teria incluído informações falsas nas especificações da obra e que o contrato era "impossível de ser cumprido". O argumento de que o valor da multa era injusto também foi rejeitado pela corte federal dos EUA.
(...)
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Bloomberg News)
Aracruz move ação contra seu ex-diretor financeiro
Aracruz move ação contra seu ex-diretor financeiro
25 February 2009
Valor Econômico
Quase três meses depois que o conselho de administração da Aracruz decidiu processar Isac Zagury e a assembleia aprovou a medida, a companhia finalmente abriu a ação contra seu ex-diretor financeiro, na sexta-feira, por conta dos prejuízos com derivativos de alto risco. A ação foi aberta na 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. (...)
Os administradores da companhia chegaram a considerar a possibilidade de não mover a ação contra ele. Porém, como a decisão foi sancionada em assembleia, qualquer acionista poderia iniciar a ação, em nome da Aracruz, se a companhia não fizesse isso em três meses após a deliberação - conforme o artigo 159 da Lei das Sociedades por Ações. Esse prazo terminou ontem, feriado de Carnaval. Daí, a ação ter sido aberta na sexta-feira.
Para que os investidores não pudessem tomar a decisão em nome da empresa, seria necessário aval de uma nova assembleia para que anular a definição anterior. Tal procedimento iria expor a companhia e seus executivos, quase como um atestado de responsabilidade conjunta.
Em contrapartida a ter evitado essa polêmica, a Aracruz terá de enfrentar as consequências de assumir publicamente um erro da administração.
O fato pode trazer efeitos colaterais indesejáveis, especialmente na defesa contra a ação coletiva movida nos Estados Unidos por investidores que querem ser ressarcidos de seus prejuízos, provocados pela desvalorização da ação da companhia desde que o episódio com os derivativos veio à tona.
(...)
Falta de Evidenciação é ativo?
Algumas pessoas afirmam que a evidenciação caminha ao lado da melhoria no valor da empresa. Eis um exemplo em que a falta de evidenciação produz valor! É um ativo?
Sem o segredo bancário, o mercado financeiro suíço perde importância
25/2/2009
Valor Econômico
A praça financeira suíça, uma das maiores do mundo, será reduzida pela metade se a Europa e os Estados Unidos conseguirem desmantelar o segredo bancário helvético. A afirmação é de Ivan Pictet, um dos principais banqueiros privados suíços, em meio à tensão generalizada na praça financeira do país depois que o UBS fez o segredo bancário cambalear ao entregar os nomes de 250 clientes americanos ao fisco dos EUA.
O valor na bolsa dos bancos de gestão de fortuna suíça caíram de 10% a 15% desde a semana passada, após o Ministério da Justiça dos EUA ter publicado um relatório devastador detalhando os métodos do UBS para ajudar clientes americanos a fraudar o fisco.
A Suíça é provavelmente o único país no mundo que faz distinção entre evasão fiscal (que não considera crime) e fraude fiscal. Sem essa distinção, que significaria não acolher mais legalmente o dinheiro de evasão fiscal de todas as partes do mundo, o banqueiro Pictet diz que o setor financeiro suíço passaria para algo entre 6% e 7% do PIB, comparado a 12% hoje. Segundo ele, o prejuízo seria enorme, porque 140 bancos estrangeiros sediados em Genebra não teriam mais razão de continuar na cidade, já que oferecem sobretudo o segredo bancário suíço. A especialização suíça de gestão de fortuna seria insuficiente para compensar a perda da dita proteção, disse Pictet em entrevista ao jornal "Le Temps", de Genebra. (...)
A queda do presidente do conselho de administração, Peter Kurer, e de seu presidente-executivo Marcel Rohner, parece programada. Ambos são suspeitos de terem conhecimento do sistema do banco para praticar atividades ilegais nos EUA, o que eles negam.
A Suíça tem um acordo com os EUA, assinado em 2001, pelo qual todo americano possuindo ativos (ações ou dinheiro depositado) num banco helvético deveria declarar os ganhos em juros e dividendos. Mas o fisco americano detalha métodos dignos de James Bond de funcionários do banco suíço para praticar atividades ilegais no território americano entre 2000 e 2007, sob o manto do segredo bancário. Para receber as orientações dos clientes, o UBS criou um código, pelo qual cada moeda correspondia a uma cor e cada montante aplicado correspondia a um símbolo. Assim, uma noz amarela significava aplicação de 250 mil euros.
Para garantir o máximo de anonimato a seus clientes americanos, o UBS criou centenas de empresas fantasmas, onde os nomes dos verdadeiros donos das contas não aparecem, segundo o documento do fisco americano. Para encontrar os clientes ou buscar novos, o UBS mandava funcionários três a quatro vezes por ano aos EUA. Ainda segundo o relatório, o banco proibia os funcionários de imprimir qualquer documento no solo americano, e eram orientados a mudar frequentemente de hotel.
Além disso, o banco montou uma "hotline'', uma linha telefônica 24 horas por dia para dar orientação a seus funcionários no caso de serem pegos nos EUA, como chegou a ocorrer nos últimos dois anos, depois que um ex-empregado americano, Brandley Birkenfeld, resolveu colaborar com o fisco americano.
27 fevereiro 2009
Links
Dois links discutem sobre Copula, um termo na área da estatística (não, não é isto que você pensou!). Seria a aplicação do modelo em finanças o responsável pela crise? O primeiro texto diz que sim. O segundo link, do conhecido autor de estatística Wilmott, comenta o primeiro texto.
A fórmula que matou Wall Street: David Li, autor da função gaussiana de copula
A formula que matou Wall Street: Copula e culto, Segundo Wilmott
A fórmula que matou Wall Street: David Li, autor da função gaussiana de copula
A formula que matou Wall Street: Copula e culto, Segundo Wilmott
Teste #26
Grau de Dificuldade: ***
Se um conhecido personagem histórico da contabilidade estivesse vivo hoje ele poderia ter enviado o seguinte torpedo (SMS) pelo seu celular:
2232 5262263686 66 34746 3383 6744627 3647 5262263686 66 72926
Qual a mensagem? Você seria capaz de dizer o nome da pessoa?
Resposta do Anterior: 9 meses
Se um conhecido personagem histórico da contabilidade estivesse vivo hoje ele poderia ter enviado o seguinte torpedo (SMS) pelo seu celular:
2232 5262263686 66 34746 3383 6744627 3647 5262263686 66 72926
Qual a mensagem? Você seria capaz de dizer o nome da pessoa?
Resposta do Anterior: 9 meses
Xerife do Mercado
Pouco a pouco percebe-se que a CVM começa a se impor como xerife do mercado. Uma notícia confirma isto:
CVM celebra termos de compromisso com UBS Pactual e Morgan Stanley
Valor Econômico - 27/2/2009
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou ontem a celebração de dois termos de compromisso a fim de suspender processos administrativos que corriam no órgão regulador do mercado de capitais. As propostas foram aprovadas na reunião do Colegiado da autarquia em 6 de janeiro.
O primeiro acordo foi fechado com o banco UBS Pactual, que apresentou proposta de pagamento à CVM de R$ 200 mil, antes mesmo de a acusação ter sido formulada e o processo administrativo sancionador instaurado. O UBS foi investigado devido a indícios de infração em razão da aquisição de participação relevante em ações preferenciais (PN, sem direito a voto) de emissão do Banco Cruzeiro do Sul entre 4 de abril e 2 de junho do ano passado sem qualquer divulgação. De acordo com a regra em vigor, a compra de mais de 5% de qualquer classe de ações deve ser informada ao mercado.
O outro acordo foi feito com o banco Morgan Stanley, que apresentou proposta de pagamento à autarquia de R$ 100 mil, também antes da instauração do processo administrativo e da formulação da acusação. A CVM investigava indícios de infração relacionados ao período de silêncio. Isso porque foi publicada nota na imprensa contendo declarações de um funcionário do banco sobre a oferta pública de distribuição primária de ações ordinárias de emissão da Le Lis Blanc, da qual o Morgan Stanley era um dos coordenadores.
"Após o cumprimento das obrigações previstas nos termos de compromisso, os processos serão extintos em relação aos compromitentes", diz o comunicado divulgado pela CVM.
Resultado da GM
A GM está divulgando seu resultado em 2008. A questão é se os auditores irão considerar que a empresa tem condições de continuidade. Numa situação usual, a resposta seria não. Mas esta não é uma situação usual.
Eis a notícia do Valor Econômico:
A Gazeta Mercantil completa a notícia sobre o desempenho da empresa na América Latina:
Como seria interessante que a Lei 11.638 tivesse sido aprovada na sua forma original: as grandes empresas fechadas deveriam divulgar amplamente as demonstrações. Acredito que os consumidores dos automóveis da empresa precisam saber sobre a possibilidade ou não de continuidade no futuro.
Mas acho que a notícia de maior destaque não é o prejuízo da empresa, mas o comportamento do caixa. Em 2008 a empresa queimou 19,2 bilhões de dólares da sua reserva de caixa. No último trimestre foi 9,6 bilhões, informa o New York Times (GM Posts $9.6 billion loss, expects ´Going Concern´ notice, 26/2/2009). No final de dezembro a empresa possuía ainda 14 bilhões, sendo 4 bilhões de dinheiro do contribuinte dos EUA. Existe a previsão de uma queima de 9,6 bilhões adicionais em janeiro e fevereiro. A estimativa é que a empresa necessita de 100 bilhões de dólares para financiar sua reorganização. Mas é bom lembrar que esta estimativa é da própria empresa e, provavelmente, deve estar subestimada.
Eis a notícia do Valor Econômico:
Prejuízo de US$ 31 bilhões cria dúvidas sobre futuro da GM
Valor Econômico - 27/2/2009
A General Motors (GM) anunciou ontem que seus auditores estudam se há "dúvida substancial" de que a montadora possa continuar em atividade, depois de ter registrado prejuízo líquido anual de US$ 30,9 bilhões. A empresa espera que os auditores tenham uma opinião pronta quando a GM enviar seu balanço anual à Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) em março. Ela pretende aproveitar a possibilidade de uma extensão de 15 dias no prazo para entrega dos resultados. (...)
A GM anunciou prejuízo líquido no quarto trimestre de US$ 9,6 bilhões, pior do que o esperado, e sobrevive graças a um empréstimo-ponte emergencial de US$ 13,4 bilhões, concedido pelo governo dos EUA. A empresa gastou US$ 5,2 bilhões no quarto trimestre e confirmou que o caixa caiu para US$ 14 bilhões no fim de dezembro. Ela diz que precisa de um mínimo entre US$ 11 bilhões e US$ 14 bilhões para continuar em operação.
"A GM e seus auditores precisam determinar se há dúvida substancial sobre a capacidade da GM para continuar como uma empresa em atividade [...] A GM requer [financiamento do governo] em 2009 para continuar suas operações até que as vendas automotivas mundiais se recuperem e suas ações de reestruturação gerem benefícios, resultando em que a empresa seja capaz de financiar suas próprias necessidades de operações", informou em comunicado.
Em informe enviado ao Tesouro dos EUA na semana passada, a GM pedia até US$ 16,6 bilhões em auxílio emergencial adicional do governo, sustentando que a demanda por carros e as condições do mercado de crédito se deterioraram nos dois meses desde seu pedido inicial de resgate. A montadora diz que gastará os US$ 14 bilhões neste ano devido às "condições duras do setor". Ela precisará de US$ 2 bilhões em fundos em março e mais US$ 2,6 bilhões em abril, para continuar operando.
O grupo encolhe rapidamente. A receita caiu para US$ 148 bilhões no ano passado, em comparação aos US$ 178 bilhões verificados em 2007, afetada pela profunda queda nas vendas de veículos e pelo corte de suas operações. (...)
A Gazeta Mercantil completa a notícia sobre o desempenho da empresa na América Latina:
Região do Brasil foi a única a dar lucro no balanço da GM
Gazeta Mercantil - 27/2/2009
Mesmo com a desaceleração do mercado brasileiro no final do ano passado, a divisão LAAM da General Motors, obteve lucro de US$ 1,3 bilhão no ano passado e um faturamento de US$ 20,26 bilhões. A região, que congrega América Latina, África e Oriente Médio, foi a única com o resultado positivo para a montadora. No mundo a GM perdeu US$ 30,86 bilhões, um resultado melhor se comparado ao prejuízo do ano anterior, quando as perdas alcançaram US$ 38,73 bilhões.
No quarto trimestre, a GM LAAM registrou prejuízo ajustado de US$ 154 milhões (prejuízo divulgado de US$ 181 milhões), abaixo do lucro ajustado de US$ 424 milhões no quarto trimestre de 2007 (lucro divulgado de US$ 424 milhões). Segundo a montadora, os resultados do quarto trimestre foram afetados principalmente pelo volume menor do setor no Brasil, Venezuela e outros mercados-chave, e pelo câmbio estrangeiro desfavorável, equilibrado pelo mix favorável de modelo e preço. No ano como um todo o volume de vendas da GM LAAM foi de 1,3 milhão de veículos.
Após divulgar os resultados negativos, a GM informou que espera que auditores emitam um alerta sobre a capacidade da companhia de se manter viável em um momento em que atravessa as piores condições de mercado em décadas.
A companhia divulgou prejuízo trimestral maior que o esperado e uma queda de mais de 30% no faturamento. A montadora também alertou que seus planos de pensão para funcionários de produção e administração tinham um déficit de US$ 12,4 bilhões no final de 2008.
A GM informou que pode receber um "alerta de preocupação" de auditores que avaliam o risco da empresa talvez não ser capaz de continuar operando. A montadora tem se mantido com ajuda de empréstimos do governo dos Estados Unidos desde o início do ano. A perda de 2008 é o segundo maior prejuízo anual da montadora de 100 anos de existência, atrás apenas do déficit de US$ 38,7 bilhões registrado em 2007.
A empresa encerrou dezembro com US$ 14 bilhões em caixa e disponibilidades que incluem os primeiros US$ 4 bilhões em empréstimos recebidos do Tesouro norte-americano. O prejuízo do quarto trimestre aumentou para US$ 9,6 bilhões, ante US$ 722 milhões.
Excluindo eventos não recorrentes, o prejuízo trimestral da GM foi de US$ 9,65 por ação. Analistas consultados pela Reuters Estimates esperavam, em média, perda de US$ 7,4 nessa comparação. A receita no trimestre caiu de US$ 46,8 bilhões para US$ 30,8 bilhões.
O vice-presidente financeiro da GM, Ray Young, informou que o grande prejuízo líquido no trimestre refletiu a crise financeira global. Young foi presidente da GM do Brasil.
A divulgação do resultado da montadora aconteceu no mesmo dia em que o presidente-executivo da GM, Rick Wagoner, se encontrou com membros da força-tarefa dirigida pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e pelo conselheiro econômico da Casa Branca, Larry Summers.
A GM pediu um total de até US$ 30 bilhões em ajuda do governo norte-americano para sobreviver à queda nas vendas.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(Ana Paula Machado e Reuters)
Como seria interessante que a Lei 11.638 tivesse sido aprovada na sua forma original: as grandes empresas fechadas deveriam divulgar amplamente as demonstrações. Acredito que os consumidores dos automóveis da empresa precisam saber sobre a possibilidade ou não de continuidade no futuro.
Mas acho que a notícia de maior destaque não é o prejuízo da empresa, mas o comportamento do caixa. Em 2008 a empresa queimou 19,2 bilhões de dólares da sua reserva de caixa. No último trimestre foi 9,6 bilhões, informa o New York Times (GM Posts $9.6 billion loss, expects ´Going Concern´ notice, 26/2/2009). No final de dezembro a empresa possuía ainda 14 bilhões, sendo 4 bilhões de dinheiro do contribuinte dos EUA. Existe a previsão de uma queima de 9,6 bilhões adicionais em janeiro e fevereiro. A estimativa é que a empresa necessita de 100 bilhões de dólares para financiar sua reorganização. Mas é bom lembrar que esta estimativa é da própria empresa e, provavelmente, deve estar subestimada.
26 fevereiro 2009
Teste #25
Grau de dificuldade: ** médio
Uma empresa construiu uma fábrica com capacidade de produzir 12.800 unidades/mês. Por questões de planejamento operacional, a controladoria decidiu começar produzindo poucas unidades por mês e dobrar a capacidade a cada período. Com isto, a controladoria acreditava ser possível aproveitar ao máximo a aprendizagem produtiva. Em dez meses a empresa conseguiu atingir a capacidade total da fábrica. Em quantos meses foi possível produzir metade da capacidade produtiva?
Resposta do Anterior: 1) Sim, Moonitz, da consolidação, nasceu em 1910 e Gantt, pioneiro na contabilidade de custos, morreu em 1919; 2) Sim, Andersen morreu em 1947 e o raiom foi inventado em 1890; 3) Não. Mckinsey morreu em 1937 e o Brasil foi campeão em 1958.
Uma empresa construiu uma fábrica com capacidade de produzir 12.800 unidades/mês. Por questões de planejamento operacional, a controladoria decidiu começar produzindo poucas unidades por mês e dobrar a capacidade a cada período. Com isto, a controladoria acreditava ser possível aproveitar ao máximo a aprendizagem produtiva. Em dez meses a empresa conseguiu atingir a capacidade total da fábrica. Em quantos meses foi possível produzir metade da capacidade produtiva?
Resposta do Anterior: 1) Sim, Moonitz, da consolidação, nasceu em 1910 e Gantt, pioneiro na contabilidade de custos, morreu em 1919; 2) Sim, Andersen morreu em 1947 e o raiom foi inventado em 1890; 3) Não. Mckinsey morreu em 1937 e o Brasil foi campeão em 1958.
Teste para os Bancos
Difícil solução para os bancos
Maria Clara R. M. do Prado - 26/2/2009 - Valor Econômico
(..) Ontem, um passo promissor foi dado com o anúncio do Tesouro dos Estados Unidos de que até o final de março se saberá afinal em que situação se encontra o capital das 19 maiores instituições bancárias do país tanto em termos de valor, quanto de qualidade dos ativos. A avaliação está sendo feita por um arsenal de especialistas enviados pelo governo americano para escrutinar a contabilidade daquelas instituições com base na aplicação de modelos de testes de estresse que vão contemplar dois distintos cenários econômicos pela frente. No primeiro cenário, a economia dos Estados Unidos sofre queda de 2% este ano e tem expansão de 2,1% em 2010. No segundo, mais drástico, o PIB cairá 3,3% este ano e terá variação positiva de apenas 0,5% no ano que vem.
Os resultados dos testes de estresse darão a dimensão das perspectivas de perdas e da necessidade de capital adicional de cada banco. Os bancos terão um tempo - fala-se em seis meses - para levantar o capital indicado como necessário a partir da revisão dos seus balanços. A nova injeção poderá vir de fundos privados ou do governo, sendo que este se daria na forma de ações preferenciais conversíveis em ações com direito a voto.
Essas novas informações ajudam a clarear o quadro, mas não respondem às inúmeras dúvidas que envolvem questões como regulação e supervisão bancária, forma de atuação das instituições financeiras e atividades que poderão ou não exercer daqui para frente. Por exemplo, devem os bancos comerciais ser proibidos de negociar no mercado de capitais, como defende Paul Volcker, ex-presidente do Fed e atual presidente do Comitê Consultivo para a Recuperação Econômica? A que instituição deve ser conferido o poder único e inconteste da regulação bancária?
Mais relevante de tudo é saber se o arsenal de contabilistas e gerenciadores de risco incumbidos de mergulhar nos balanços dos bancos será capaz de definir o efetivo preço dos ativos considerados podres - os chamados "ativos tóxicos" - com potencial de contaminar o capital dos grandes bancos. Esse é o ponto básico no qual esbarram as tentativas de estabilizar o sistema financeiro dos Estados Unidos. Dele depende a definição crucial do aporte necessário para qualquer plano que busque isolar (pela venda a terceiros) ou cobrir (com injeção de capital), os ativos ruins na esperança de recuperar a confiança no setor.
Problemas com a Epson
Epson inflou lucros no Brasil por nove anos
Folha de São Paulo - 26/2/2009
ÁLVARO FAGUNDES - JULIO WIZIACK
A Epson, fabricante japonesa de equipamentos eletrônicos, como impressoras e projetores de imagens, anunciou ontem os resultados financeiros do terceiro trimestre de 2008 com uma surpresa: diretores nas subsidiárias do Brasil e do México manipularam os balanços, provocando perdas de US$ 45,2 milhões, sendo US$ 13,4 milhões no ano em exercício e o restante (US$ 31,8 milhões) nos nove anos anteriores.
Em comunicado, a empresa afirma que três executivos brasileiros inflaram os lucros em US$ 42 milhões por nove anos, incluindo o ano fiscal corrente.
Uma equipe de investigação do escritório da Epson nos EUA afirmou que o "incidente" foi causado por um erro na hora de ajustar os diferentes padrões contábeis do Brasil e dos EUA. Mas o mesmo comunicado afirma que os executivos brasileiros devem ter tentado "cobrir suas posições", um jargão que no mercado significa "disfarçar perdas".
No México, um executivo está envolvido acusado de aumentar os lucros em US$ 4,1 milhões por quatro anos. Segundo a Epson, os executivos foram demitidos ou afastados, mas nomes e a situação de cada um não foram revelados.
Como os números divulgados não impactam os balanços anteriores, segundo a Epson, os US$ 45,2 milhões lançados indevidamente serão computados como perdas extraordinárias no balanço do quarto trimestre de 2008. Até setembro de 2008, as receitas fecharam em US$ 9,9 bilhões, queda de 12,6% em relação ao mesmo período de 2007.
Entre os motivos alegados pela matriz japonesa estão a fragilidade do mercado de tecnologia na América Latina, a falta de controle da contabilidade pelos presidentes das subsidiárias e até a diferença geográfica e de cultura dos países.
Ainda segundo a Epson, os presidentes da filial no Brasil e no México terão de aprimorar o controle da contabilidade. A assessoria da Epson no Brasil disse que o presidente comentaria o caso, mas não retornou até o fechamento desta edição. O escritório dos EUA também não respondeu.
É a segunda vez que uma empresa global do setor admite manipulação contábil em dois meses. Em janeiro, o presidente do conselho da Satyam Computer Services, admitiu cometer uma fraude de US$ 1 bilhão.
Caixa
A média de caixa por ativo para empresas industriais dos EUA mais que dobrou entre 1980 a 2006. Uma medida da importância econômica deste aumento é que ao final do período da amostra, uma empresa média pode pagar todas as suas dívidas com seu caixa. A taxa de caixa aumentou em razão do fluxo de caixa das empresas estarem mais arriscados. Além disto, as empresas mudaram: elas possuem menos estoques e contas a receber e elas são mais intensivas em P&D. Enquanto o motivo precaução tem um importante papel na explicação do aumento da taxa do caixa, nos não encontramos nenhuma evidência consistente que os conflitos de agência contribuem com o aumento.
Why do U.S. firms hold so much more cash than they used to? Thomas W. Bates, Kathleen M. Kahle, and René M. Stulz
Journal of Finance
Why do U.S. firms hold so much more cash than they used to? Thomas W. Bates, Kathleen M. Kahle, and René M. Stulz
Journal of Finance
Estatização dos Bancos
Aqui, as principais instituições do setor financeiro que foram estatizadas:
Citigroup (Estados Unidos) = 40% das ações com o governo
Lloyds (Inglaterra) = 43%
Northern Rock (Inglaterra) = 100%
RBS (Escócia) = 70%
Kaupthing (Islândia) = 100%
Fonte: WSJ via Seeking Alpha
Citigroup (Estados Unidos) = 40% das ações com o governo
Lloyds (Inglaterra) = 43%
Northern Rock (Inglaterra) = 100%
RBS (Escócia) = 70%
Kaupthing (Islândia) = 100%
Fonte: WSJ via Seeking Alpha
O mistério dos gêmeos
A cidade de Candido Godoi tem sido notícia no mundo (Mystery of the ‘Land of Twins’: Something in the Water? Mengele?, New York Times Alexei Barrionuevo, 23/2/2009) pela grande quantidade de gêmeos. Qual a explicação? São 38 pares de gêmeos entre 80 famílias.
A cidade possui uma grande parcela de habitantes com descendentes alemães. Uma possível explicação é a água.
Alguns pesquisadores sugerem a possibilidade de Josef Mengele, medico nazista conhecido do holocausto, estar envolvido.
Mengele rondou a região como veterinário, nos anos 60, no momento que o fenômeno começou.
A cidade possui uma grande parcela de habitantes com descendentes alemães. Uma possível explicação é a água.
Alguns pesquisadores sugerem a possibilidade de Josef Mengele, medico nazista conhecido do holocausto, estar envolvido.
Mengele rondou a região como veterinário, nos anos 60, no momento que o fenômeno começou.
Para Justificar a Contabilidade
José Carlos Batista, ex-sócio da Guaranhuns Empreendimentos, envolvida no caso do mensalão, afirmou à Justiça em dezembro que a empresa produziu um contrato fictício em 2005 para justificar valores recebidos da agência SMP&B, do empresário Marcos Valério.
Segundo a Procuradoria Geral da República, a Guaranhuns repassou os recursos oriundos da SMP&B em 2003 e 2004 ao PL (atual PR), então sob o comando de Valdemar da Costa Neto, num esquema montado por dirigentes do PT para comprar o apoio de políticos do PL.
Os R$ 6,1 milhões foram repassados a Costa Neto, segundo a Procuradoria. Após o escândalo do mensalão, Costa Neto renunciou ao mandato de deputado federal, mas foi eleito novamente à Câmara em 2006.
Em depoimentos anteriores à CPI dos Correios e à PF, Batista não havia apontado que o contrato com a SMP&B era de fachada. O relato dele à Justiça reforça o conjunto de indícios sobre a existência de uma estrutura financeira para fazer repasses do PT para o PL. Em depoimento à PF, Marcos Valério já havia afirmado que o contrato foi feito "para justificar a entrada de recursos na contabilidade da Guaranhuns".
Empresa do mensalão diz que fez contrato fictício
Folha de São Paulo – 23/2/2009 – Flávio Ferreira
Para Justificar a Contabilidade
José Carlos Batista, ex-sócio da Guaranhuns Empreendimentos, envolvida no caso do mensalão, afirmou à Justiça em dezembro que a empresa produziu um contrato fictício em 2005 para justificar valores recebidos da agência SMP&B, do empresário Marcos Valério.
Segundo a Procuradoria Geral da República, a Guaranhuns repassou os recursos oriundos da SMP&B em 2003 e 2004 ao PL (atual PR), então sob o comando de Valdemar da Costa Neto, num esquema montado por dirigentes do PT para comprar o apoio de políticos do PL.
Os R$ 6,1 milhões foram repassados a Costa Neto, segundo a Procuradoria. Após o escândalo do mensalão, Costa Neto renunciou ao mandato de deputado federal, mas foi eleito novamente à Câmara em 2006.
Em depoimentos anteriores à CPI dos Correios e à PF, Batista não havia apontado que o contrato com a SMP&B era de fachada. O relato dele à Justiça reforça o conjunto de indícios sobre a existência de uma estrutura financeira para fazer repasses do PT para o PL. Em depoimento à PF, Marcos Valério já havia afirmado que o contrato foi feito "para justificar a entrada de recursos na contabilidade da Guaranhuns".
Empresa do mensalão diz que fez contrato fictício
Folha de São Paulo – 23/2/2009 – Flávio Ferreira
Erro da Microsoft
Quando uma empresa como a Microsoft erra é notícia:
WASHINGTON, feb 23 (Reuters) - Un error de contabilidad de Microsoft Corp obligó al mayor fabricante de software del mundo a notificar a algunos empleados despedidos la semana pasada que deberían devolver parte de su finiquito.
La compañía despidió a 1.400 trabajadores el mes pasado, los primeros de los 5.000 que Microsoft ha dicho que prevé eliminar en los próximos 18 meses.
Se cree que el error llevó a pagar de más a algunos ex empleados y a otros menos de lo debido. Los que recibieron más dinero del que les correspondía recibieron cartas en las que les piden que devuelvan el dinero a la compañía enviando un cheque o un giro postal.
Microsoft intenta recuperar dinero pagado de más a despedidos
23/2/2009 - Reuters - Noticias Latinoamericanas
Novo Déficit
O presidente Obama baniu quatro truques contábeis que o presidente George W Bush usou para fazer a projeção do déficit parecer menor. (…)
A nova contabilidade envolve gastos com a Guerra no Iraque e Afeganistão, reembolso do Medicare para médicos e o custo da resposta aos desastres.
Obama Bans Gimmicks, And Deficit Will Rise, Jackie Calmes, 20/2/2009, The New York Times, Late Edition - Final
17
Em outro texto (Obama quer cortar déficit em 50% até 2013, 24/2/2009 - Folha de São Paulo) além da questão orçamentária, destaca a crítica que o atual presidente faz em termos da contabilidade:
O presidente Barack Obama confirmou ontem na abertura de uma cúpula na Casa Branca que pretende diminuir o déficit fiscal dos EUA, atualmente estimado em US$ 1,3 trilhão, em 50% até o final de seu primeiro mandato. A declaração chega três dias antes da data marcada para o novo governo entregar ao Congresso seu primeiro projeto orçamentário geral, que poderá chegar a US$ 3 trilhões para o ano fiscal de 2010.
(...) Entre as inúmeras críticas que fez ao governo anterior, uma das principais foi em relação à contabilidade "desonesta". "Por muito tempo o Orçamento foi um exercício de manipulação", disse Obama. Desta vez o governo pretende incluir em sua proposta de Orçamento gastos com as guerras no Iraque e no Afeganistão e provisões para desastres naturais -todos solicitados extraordinariamente ao Congresso na administração passada.
Dívida pública e Crise
Uma consequência inesperada da crise é a atuação dos governos democráticos no sentido de evitar que grandes instituições fechem suas portas. Isto significa que esta participação, pelas regras da contabilidade nacional (ONS conjures up a statistical shocker; Public sector debt, 20/2/2009 - Financial Times - London Ed1 – 02) devem ser consideradas como dívida pública.
Investimento ou despesa
Novamente a questão do regime de caixa x competência na área pública:
O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) não tem condições financeiras para custear as despesas decorrentes de uma ampliação do seguro-desemprego para até dez parcelas, segundo avaliação da área técnica do governo. Essa ampliação, cuja possibilidade foi admitida no início do mês pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, teria de ser bancada com recursos adicionais do Tesouro ou pela redução ou eliminação dos empréstimos do FAT ao setor produtivo.
(...) Os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), no acórdão nº 1.817, de agosto de 2008, recomendaram que o Codefat estabeleça medidas para evitar o déficit. O TCU considerou ser de “extrema gravidade” a situação apresentada pelo Fundo. (...)
Nos bastidores, Lupi trava uma queda de braço com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que o governo aceite eliminar os 20% da DRU sobre o PIS e o Pasep. Lupi quer também alterar a contabilidade do Fundo para lançar como investimento, e não despesas, os 40% dos recursos destinados ao BNDES. Com isso, Lupi diz que o FAT seria superavitário. (...)
Deficitário, FAT não tem dinheiro para ampliar seguro-desemprego
Ribamar Oliveira, BRASÍLIA – Estado de São Paulo - 20/2/2009
Controladoria e Controller
A seguir, dois textos, do Jornal do Commércio, explicando a função da controladoria e do controller
Foco na contenção de gastos
20/02/2009 - Jornal do Commércio do Rio de Janeiro
Richard Andersen é controller da empresa Shire HGT Brasil e conta que a profissão demanda a capacidade de interrelacionar aspectos das diferenças áreas gerenciadas, como contabilidade, fiscal, tesouraria e orçamento. "Após os escândalos financeiros de 2001/2002 (WorldCom, Enron, etc), as profissões de controller e de contador sofreram uma grande valorização, ao mesmo tempo em que passaram a ser requeridas outras habilidades que antes e-ram tidas como secundárias em algumas empresas, como fortalecimento do ambiente de controle interno, entendimento do processo de preparação e revisão das informações financeiras, entre outros. Por exemplo, no contexto econômico atual, está sendo exigido do controller cada vez mais iniciativas visando a redução e controle de gastos", destaca.
Andersen destaca que é primordial que o profissional mantenha-se atualizado com as ferramentas tecnológicas, pronunciamentos contábeis, legislação fiscal e produtos bancários e as melhores práticas de compliance e controles internos. "Além disso, deve possuir sólidos conhecimentos de boas práticas de governança corporativa". A fluência em outros idiomas é mais do que requerida, sobretudo no inglês e espanhol.
Segundo Andersen, deve-se adquirir conhecimento em IFRS, ou princípios contábeis internacionais, os quais já vêm sendo adotados por diversos países e pode tornar-se a linguagem contábil global. "Vale a pena destacar também o conhecimento sobre a legislação tributária brasileira, pois devido a sua alta complexidade, existem inúmeras oportunidades de ganhos fiscais advindos de iniciativas de planejamento tributário", ressalta.
Para Ronaldo Carvalho, ex controller e atual diretor geral do Grupo Consenso, a função de controller, quando reconhecida pela organização, é gratificante, principalmente quando se atua estrategicamente, seja no planejamento ou na execução. "Atualmente, o controller deve ter visão de negócio, apagar o rótulo de ser apenas o profissional que controla o que já aconteceu. Seguramente, nos últimos dez anos de minha carreira 50% do meu tempo foi dedicado à área comercial, pois as empresas, principalmente na área de serviços, envolve o controller para que, juntamente com compras, avalie os efeitos tributários, com terceirização, por e-xemplo. O objetivo é a redução de custo, por preço ou por foco na atividade principal", conta.
De olho no caixa
VIVIANE FAVER
Jornal do Commércio do Rio de Janeiro – 20/2/2009
Nem todos os profissionais estão sendo afetados negativamente pela crise. Aqueles envolvidos com os meandros da gestão financeira das organizações, por exemplo, vivem um período de forte valorização. Uma pesquisa da consultoria Robert Half constatou que 30% dos executivos de finanças têm a intenção de aumentar suas esquipes em 2009. Os controllers, profissionais que antes tinham pouca visibilidade e estão ganhando importância.
O controller, dentro da eestrutura organizacional das empresas, desempenha a função de controlar e organizar as contas da empresa, reportando dados relevantes revelados pela contabilidade e exercendo influência no sentido de induzir os gerentes a decisões lógicas e consistentes.
Para além das tarefas contábeis, esse profissional acaba se tornando o responsável pelo projeto, implementação e manutenção de um sistema integrado de informações, que operacionaliza a contabilidade e a quitação das responsabilidades da empresa.
Para melhor exercer suas funções, o profissional tem que ter a confiança dos diversos setores da empresa quanto ao cumprimento dos prazos na divulgação regular das informações, bem como à confiabilidade dos números e informações apresentados.
De acordo com Odair Bobbio, controller da General Eletric, a transformação da informação em um ativo valioso, fundamental para a tomada de decisão dos negócios de uma empresa levou à valorização da profissão, num processo que tomou corpo a partir da década de 90.
"O controller tem que ter credibilidade. Sua obrigação principal é a de assegurar que a empresa utilize os métodos contábeis conformes com os padrões exigidos pelas autoridades, bem como buscar a maior transparência dos dados para os diversos públicos", destaca Bobbio.
Em períodos de turbulência, o foco da atuação está em proteger os ativos da empresa e prover informações que apontem possibilidades para manter a organização tão segura quanto possível e capitalizada, com um sistema eficiente de monitoramento diário do caixa.
sem desperdício. Segundo o consultor e diretor executivo do Grupo Soma, Arlindo Felipe Junior, cabe sobretudo ao controller não deixar haver desperdícios na operação da empresa. "O papel dele é racionalizar os processos no que se refere a custos, e descobrir como deixar a empresa mais leve", conta.
Os melhores profissionais nessa área buscam, além da formação na área contábil, cursos de Economia. "É papel dele saber de que área está vindo o resultado. Por isso, a formação em Economia é fundamental para obter uma visão mais ampla do ambiente de negócios", ressalta o consultor.
Dentro da empresa, o controller busca uma postura pró-ativa, sempre em busca das melhores práticas. Além do monitoramento diário, o profissional deve pensar de forma prospectiva. Faz parte do aprimoramento desses profissionais cursos na área de gestão de risco.
Justamente nesse momento de crise, gerir risco é um requisito essencial para qualquer profissional da área. "Agora mais do que nunca, o controller está em alta. Ele se torna necessário para achar soluções para empresa diante dessa crise. É um ótimo momento para investir na profissão", afirma Felipe Junior. Uma pesquisa da consultoria Ricardo Xavier apontou que, em janeiro, foram abertas 288 vagas na área, um crescimento de 60% em relação a dezembro.
Lobby como Indicador
Em postagem anterior afirmei que o gasto com atividade de lobbying é um bom indicador das dificuldades (aqui). O gráfico abaixo, do The Wall Streeet Journal (SEC Accuses Texas Financier Of 'Massive' $8 Billion Fraud, Kara Scannell, Miguel Bustillo and Evan Perez, 18/2/2009, The Wall Street Journal, A1) é muito revelador. A Stanford, grupo financeiro envolvido no escândalo na semana passada) e os gastos com esta atividade.
Custo do Empréstimo
Considerações sobre custos dos empréstimos
25/2/2009 - Gazeta Mercantil
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) deu mais um passo importante em direção à harmonização entre as atuais práticas contábeis brasileiras e as Normas de Contabilidade Internacional, ou IFRS (International Financial Reporting Standards). Apesar de as companhias abertas já estarem capitalizando os custos dos empréstimos de acordo com as deliberações e carta-circular da própria CVM, o pronunciamento técnico da CPC 20 foi colocado em audiência e estabelece harmonia, na sua essência, com a norma internacional IAS 23 (R).
Essa norma trata da contabilização de custos com empréstimos, compostos por juros, amortizações de descontos, prêmios e encargos financeiros. Esses custos também incluem encargos financeiros relacionados a arrendamentos registrados no imobilizado, assim como diferenças de câmbio decorrentes de empréstimos em moeda estrangeira relacionados.
A nova norma, além de descrever em detalhes a formação dos custos dos empréstimos e a forma a ser calculada e aplicada aos ativos, define o conceito de ativos qualificados, assim como inclui um novo conceito relacionado à determinação do montante de custos de empréstimos elegíveis à capitalização durante o período pelo qual quaisquer receitas financeiras auferidas sobre os empréstimos obtidos são deduzidas dos custos dos empréstimos capitalizados.
Sendo assim, as receitas provenientes das aplicações financeiras relacionadas ao recurso obtido deverão ser lançadas contra os juros que foram capitalizados nos ativos qualificados (estoques a longo prazo, imobilizado em formação etc.). Levando em consideração que todas as empresas que possuem ativos em construção estão sujeitas à aplicação da lei e das normas do CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), eventualmente os seguintes efeitos serão observados nos balanços das empresas em 2009:
Capital aberto - redução no lucro decorrente dos juros ativos capitalizados;
Capital fechado - os resultados poderão ser decorrentes do mesmo efeito enquadrado para as empresas de capital aberto. Todavia, para certas empresas de capital fechado ou limitadas que adotavam a prática de registrar contabilmente os custos dos empréstimos diretamente na demonstração do resultado - principalmente para os casos relacionados aos estoques de longa formação -, os custos deverão ser estornados do resultado para o ativo, ocasionando efeitos na apuração do lucro ou prejuízo no ano da adoção em 2009.
As normas internacionais relacionadas ao tema possuem um aperfeiçoamento técnico contábil brasileiro já adotado por muitas empresas na prática. A capitalização deve cessar quando as atividades necessárias para preparar o ativo para o uso pretendido ou venda estejam completadas. O bem não precisa estar operando, basta estar pronto para uso. Em alguns casos, os empréstimos são obtidos para aquisição de um ativo específico, tornando a identificação e capitalização dos custos mais fácil.
Entretanto, na medida em que empréstimos são tomados para fins gerais e usados parcial ou totalmente na obtenção ou construção de um ativo, os custos do crédito devem também ser considerados. Nesse caso, a entidade deve utilizar a média ponderada dos empréstimos, excluindo aqueles que tenham fins específicos, cujo cálculo é individualizado. Quando os fundos que são usados para financiar ativos qualificados não podem ser especificamente identificados, o custo dos empréstimos será determinado pela taxa de capitalização dos gastos definidos para o respectivo ativo.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Ricardo Maciel - Sócio-diretor da BDO Trevisan)
Imparidade e Balanço da Vale
Investimentos
Empresas enfrentam teste de valor
25/2/2009
Valor Econômico
A decisão da Vale do Rio Doce de fazer uma baixa de R$ 2,4 bilhões no balanço do ano passado, em função da perda de valor da Inco, empresa que adquiriu em 2006, deixa claro o ano crítico em que as empresas brasileiras enfrentarão, pela primeira vez, uma das principais regras da nova legislação contábil. Outras baixas desse tipo, em maior ou menor proporção, poderão aparecer nos resultados desta safra. No caso da mineradora, o ajuste foi de cerca de 11% do lucro anual, que ficou em R$ 21,3 bilhões segundo as novas regras.
Na prática, a mensagem do que a Vale fez é que esse investimento na Inco gerará uma riqueza menor do que a companhia esperava no momento em que fez a compra, quando pagou pouco menos de US$ 18 bilhões pelo negócio.
A partir do balanço anual referente ao ano passado, todas as empresas abertas e fechadas de grande porte terão que fazer a análise que a mineradora fez e que a levou a esse ajuste, anunciado na quinta-feira à noite, junto com os dados do quarto trimestre e o acumulado de 2008. É o chamado teste de recuperabilidade ou "impairment".
Essa avaliação verifica se os bens registrados na contabilidade trarão para a empresa riqueza compatível com o valor descrito no balanço. "É um belo ano para estrear essa regra", comentou Ernesto Rubens Gelbcke, sócio da Directa Auditores e vice-coordenador técnico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). [ISTO É UMA IRONIA?]
E como a mineradora, diversas outras companhias que fizeram aquisições terão de rever suas análises. Especialmente, as avaliações das compras feitas durante a euforia e abundância de liquidez no mercado global, nos últimos anos, quando as projeções eram as mais positivas possíveis e a exuberância parecia não ter fim.
Os auditores não gostam de admitir oficialmente, mas se dizem "curiosos" para ver o resultado da aplicação da regra sobre o balanço de 2008, cujo fechamento foi feito com a crise plenamente instalada.
A mudança do cenário econômico, com a crise financeira internacional, pode indicar que ganhos previstos com alguns ativos não irão mais ocorrer na mesma proporção ou no mesmo tempo esperado. O julgamento sobre a necessidade ou não da baixa ficará a cargo da companhia e de seus auditores.
Como era previsível, para aplacar o ânimo dos investidores, as empresas tenderão a, assim como fez a Vale na apresentação de seus resultados, alegar que se trata de um registro "contábil", que não afeta seu caixa. Essa é a reação esperada dos executivos, em tempos de crise e balanços no vermelho: dizer que se trata de um ajuste "contábil", algo que nada teria a ver com a vida real.
De fato, um ajuste desse tipo não retira dinheiro da empresa instantaneamente. Mas significa que a expectativa do momento é que esse dinheiro não entrará nos cofres da companhia no futuro, no prazo esperado na hora do investimento - nem com a operação, nem com a venda do bem.
Segundo André Ferreira, sócio da firma de auditoria Terco Grant Thornton, a baixa deve ser feita quando o ativo não for capaz de trazer a mesma rentabilidade ou quando o prazo necessário para o retorno do capital for ampliado.
O fato é que há uma dificuldade de se entender que os balanços não são feitos para anotar simplesmente entradas e saídas de caixa. Há algo sagrado para os contadores que alicerça as demonstrações financeiras, que o chamado "regime de competência", que se contrapõe ao "regime de caixa".
Um dos princípios básicos da contabilidade, a competência manda registrar os eventos quando eles ocorrem, o que pode não coincidir com a entrada ou saída de dinheiro - vendas e compras a prazo é o exemplo mais corriqueiro. Portanto, se o bem não vale mais o que está escrito, a ordem é ajustar.
A baixa, de fato, não tira dinheiro da companhia no presente. Porém, pode significar perda imediata de valor para o investidor, já que o preço de uma ação nada mais é do que a projeção dos lucros futuros do negócio, calculados ao valor presente.
Testar se os ativos já não valem o que está registrado não é uma prática nova. A provisão para crédito de liquidação duvidosa é um exemplo clássico. As empresas já fazem isso com estoques e em casos de perdas de investimentos societários.
A diferença é que se restringia a um pequena parte dos bens das companhias vale agora para tudo: máquinas, marcas e, o que costuma dar o que falar, o ágio pago em aquisições.
Quando a Time Warner registrou o que foi chamado de maior prejuízo empresarial da história americana a culpa foi do teste de imparidade (a tradução direta do "impairment" inglês). Depois do estouro da bolha da internet, não havia mais paridade entre o que estava no ativo e a expectativa de geração de fluxo de caixa daquele ativo. O resultado: uma baixa de US$ 54 bilhões.
O balanço de 2008 está repleto de desafios e esse é um deles. A estreia da regra do teste de recuperabilidade chega em meio ao que os especialistas estão tratando como a pior crise desde o "crash" de 1929. Gelbcke, da Directa Auditores e do CPC, enfatiza, porém, que é preciso ter cuidado para não exagerar e não se deixar impressionar pelas reações do mercado. "Senão, tudo seria baixado a zero neste momento."
Fábio Cajazeira, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC), destaca que há ainda elementos como a inexperiência das companhias com o tema e a complexidade envolvida no teste em si. E lembra que a decisão da baixa não precisa ser imutável. Quando se tratar de um bem tangível, a empresa pode reverter o ajuste no futuro, caso o cenário forneça elementos suficientes para isso.
Já Ana Cristina França, sócia da Apsis Consultoria Empresarial, acredita que excesso de pessimismo não é uma grande preocupação. Isso porque, na opinião dela, a tendência é que, ao contrário, as companhias tendam a ser mais otimistas, para evitar baixas expressivas. Na opinião da especialista, o melhor a fazer num cenário em que a companhia suspeita da necessidade de ajuste é contratar a avaliação de um terceiro, no lugar de fazer o estudo internamente.
Entre os ativos sujeitos a sofrer baixas, um dos alvos mais prováveis é o ágio. De forma resumida, ele é a diferença entre o preço pago numa aquisição e o valor de mercado do bem ou da companhia comprado. A referência para a taxa de mercado é, em muitos casos, o custo de reposição dos ativos.
O ágio é proveniente da expectativa de rentabilidade futura que o bem trará à empresa que fez o investimento. O ágio é registrado no balanço como um ativo intangível, pois a existência real de seu valor se confirmará com o passar do tempo. Daí o fato de ser o ativo mais sensível ao teste de recuperabilidade.
Foi exatamente sobre o ágio da Inco que a Vale fez o ajuste. Em dezembro, a companhia tinha R$ 5,9 bilhões contabilizados. Mas a avaliação de ativos operacionais de níquel, segundo a mineradora, mostrou valor inferior ao do registro, o que produziu a baixa de R$ 2,4 bilhões.
Ana Cristina, da Apsis, destaca que as baixas de ágio não podem ser revertidas mais á frente, mesmo que o cenário se modifique - isso só pode ocorrer em eventuais ajustes sobre ativos tangíveis.
Vale destacar que o ágio gera benefícios fiscais às empresas, que podem utilizar até 34% de seu valor para abater do imposto sobre o resultado, durante um intervalo de no mínimo cinco anos e no máximo dez. As baixas causadas pelo teste de recuperabilidade não afetam o ganho fiscal da companhia.
Empresas enfrentam teste de valor
25/2/2009
Valor Econômico
A decisão da Vale do Rio Doce de fazer uma baixa de R$ 2,4 bilhões no balanço do ano passado, em função da perda de valor da Inco, empresa que adquiriu em 2006, deixa claro o ano crítico em que as empresas brasileiras enfrentarão, pela primeira vez, uma das principais regras da nova legislação contábil. Outras baixas desse tipo, em maior ou menor proporção, poderão aparecer nos resultados desta safra. No caso da mineradora, o ajuste foi de cerca de 11% do lucro anual, que ficou em R$ 21,3 bilhões segundo as novas regras.
Na prática, a mensagem do que a Vale fez é que esse investimento na Inco gerará uma riqueza menor do que a companhia esperava no momento em que fez a compra, quando pagou pouco menos de US$ 18 bilhões pelo negócio.
A partir do balanço anual referente ao ano passado, todas as empresas abertas e fechadas de grande porte terão que fazer a análise que a mineradora fez e que a levou a esse ajuste, anunciado na quinta-feira à noite, junto com os dados do quarto trimestre e o acumulado de 2008. É o chamado teste de recuperabilidade ou "impairment".
Essa avaliação verifica se os bens registrados na contabilidade trarão para a empresa riqueza compatível com o valor descrito no balanço. "É um belo ano para estrear essa regra", comentou Ernesto Rubens Gelbcke, sócio da Directa Auditores e vice-coordenador técnico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). [ISTO É UMA IRONIA?]
E como a mineradora, diversas outras companhias que fizeram aquisições terão de rever suas análises. Especialmente, as avaliações das compras feitas durante a euforia e abundância de liquidez no mercado global, nos últimos anos, quando as projeções eram as mais positivas possíveis e a exuberância parecia não ter fim.
Os auditores não gostam de admitir oficialmente, mas se dizem "curiosos" para ver o resultado da aplicação da regra sobre o balanço de 2008, cujo fechamento foi feito com a crise plenamente instalada.
A mudança do cenário econômico, com a crise financeira internacional, pode indicar que ganhos previstos com alguns ativos não irão mais ocorrer na mesma proporção ou no mesmo tempo esperado. O julgamento sobre a necessidade ou não da baixa ficará a cargo da companhia e de seus auditores.
Como era previsível, para aplacar o ânimo dos investidores, as empresas tenderão a, assim como fez a Vale na apresentação de seus resultados, alegar que se trata de um registro "contábil", que não afeta seu caixa. Essa é a reação esperada dos executivos, em tempos de crise e balanços no vermelho: dizer que se trata de um ajuste "contábil", algo que nada teria a ver com a vida real.
De fato, um ajuste desse tipo não retira dinheiro da empresa instantaneamente. Mas significa que a expectativa do momento é que esse dinheiro não entrará nos cofres da companhia no futuro, no prazo esperado na hora do investimento - nem com a operação, nem com a venda do bem.
Segundo André Ferreira, sócio da firma de auditoria Terco Grant Thornton, a baixa deve ser feita quando o ativo não for capaz de trazer a mesma rentabilidade ou quando o prazo necessário para o retorno do capital for ampliado.
O fato é que há uma dificuldade de se entender que os balanços não são feitos para anotar simplesmente entradas e saídas de caixa. Há algo sagrado para os contadores que alicerça as demonstrações financeiras, que o chamado "regime de competência", que se contrapõe ao "regime de caixa".
Um dos princípios básicos da contabilidade, a competência manda registrar os eventos quando eles ocorrem, o que pode não coincidir com a entrada ou saída de dinheiro - vendas e compras a prazo é o exemplo mais corriqueiro. Portanto, se o bem não vale mais o que está escrito, a ordem é ajustar.
A baixa, de fato, não tira dinheiro da companhia no presente. Porém, pode significar perda imediata de valor para o investidor, já que o preço de uma ação nada mais é do que a projeção dos lucros futuros do negócio, calculados ao valor presente.
Testar se os ativos já não valem o que está registrado não é uma prática nova. A provisão para crédito de liquidação duvidosa é um exemplo clássico. As empresas já fazem isso com estoques e em casos de perdas de investimentos societários.
A diferença é que se restringia a um pequena parte dos bens das companhias vale agora para tudo: máquinas, marcas e, o que costuma dar o que falar, o ágio pago em aquisições.
Quando a Time Warner registrou o que foi chamado de maior prejuízo empresarial da história americana a culpa foi do teste de imparidade (a tradução direta do "impairment" inglês). Depois do estouro da bolha da internet, não havia mais paridade entre o que estava no ativo e a expectativa de geração de fluxo de caixa daquele ativo. O resultado: uma baixa de US$ 54 bilhões.
O balanço de 2008 está repleto de desafios e esse é um deles. A estreia da regra do teste de recuperabilidade chega em meio ao que os especialistas estão tratando como a pior crise desde o "crash" de 1929. Gelbcke, da Directa Auditores e do CPC, enfatiza, porém, que é preciso ter cuidado para não exagerar e não se deixar impressionar pelas reações do mercado. "Senão, tudo seria baixado a zero neste momento."
Fábio Cajazeira, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC), destaca que há ainda elementos como a inexperiência das companhias com o tema e a complexidade envolvida no teste em si. E lembra que a decisão da baixa não precisa ser imutável. Quando se tratar de um bem tangível, a empresa pode reverter o ajuste no futuro, caso o cenário forneça elementos suficientes para isso.
Já Ana Cristina França, sócia da Apsis Consultoria Empresarial, acredita que excesso de pessimismo não é uma grande preocupação. Isso porque, na opinião dela, a tendência é que, ao contrário, as companhias tendam a ser mais otimistas, para evitar baixas expressivas. Na opinião da especialista, o melhor a fazer num cenário em que a companhia suspeita da necessidade de ajuste é contratar a avaliação de um terceiro, no lugar de fazer o estudo internamente.
Entre os ativos sujeitos a sofrer baixas, um dos alvos mais prováveis é o ágio. De forma resumida, ele é a diferença entre o preço pago numa aquisição e o valor de mercado do bem ou da companhia comprado. A referência para a taxa de mercado é, em muitos casos, o custo de reposição dos ativos.
O ágio é proveniente da expectativa de rentabilidade futura que o bem trará à empresa que fez o investimento. O ágio é registrado no balanço como um ativo intangível, pois a existência real de seu valor se confirmará com o passar do tempo. Daí o fato de ser o ativo mais sensível ao teste de recuperabilidade.
Foi exatamente sobre o ágio da Inco que a Vale fez o ajuste. Em dezembro, a companhia tinha R$ 5,9 bilhões contabilizados. Mas a avaliação de ativos operacionais de níquel, segundo a mineradora, mostrou valor inferior ao do registro, o que produziu a baixa de R$ 2,4 bilhões.
Ana Cristina, da Apsis, destaca que as baixas de ágio não podem ser revertidas mais á frente, mesmo que o cenário se modifique - isso só pode ocorrer em eventuais ajustes sobre ativos tangíveis.
Vale destacar que o ágio gera benefícios fiscais às empresas, que podem utilizar até 34% de seu valor para abater do imposto sobre o resultado, durante um intervalo de no mínimo cinco anos e no máximo dez. As baixas causadas pelo teste de recuperabilidade não afetam o ganho fiscal da companhia.
Mais endividado
Dívidas de alto custo
25/2/2009 - O Estado de São Paulo
Os brasileiros estão aumentando seu endividamento pessoal mediante o uso de cartões de crédito e operações com cheque especial - as mais caras do mercado -, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Isso tanto pode indicar que é insuficiente a oferta de crédito a juros módicos como o agravamento da inadimplência, que empurra os devedores para qualquer crédito disponível, a despeito dos altos juros.
25/2/2009 - O Estado de São Paulo
Os brasileiros estão aumentando seu endividamento pessoal mediante o uso de cartões de crédito e operações com cheque especial - as mais caras do mercado -, segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Isso tanto pode indicar que é insuficiente a oferta de crédito a juros módicos como o agravamento da inadimplência, que empurra os devedores para qualquer crédito disponível, a despeito dos altos juros.
25 fevereiro 2009
IFRS e polêmica
Finanças & Mercados
Normas ainda trarão à tona muita polêmica
Gazeta Mercantil - 19/2/2009
São Paulo, 19 de Fevereiro de 2009 - O ciclo de debates iniciado ontem pela Gazeta Mercantil em parceria com a KPMG trouxe à tona mais do que os principais benefícios que o processo de convergência contábil trará às empresas brasileiras. As palestras também deixaram claras as dificuldades a serem enfrentadas até 2010. Esse é o prazo que as companhias listadas em bolsa e as de grande porte têm para preparar seus demonstrativos contábeis consolidados utilizando o modelo International Financial Reporting Standards (IFRS).
O seminário serviu para evidenciar que as dificuldades não se limitam à contabilidade. Como as normas IFRS se baseiam em princípios de transações e negócios para definir a forma de contabilização, haverá mudanças radicais. "É o fim da expressão meramente contábil", disse no evento Eliseu Martins, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Não é mera retórica. Com tantas novidades para serem colocadas em prática - e em meio à crise internacional -, os contadores são apenas uma parte atingida pela convergência. Analistas, auditores e profissionais de relações com investidores estão entre aqueles que já percebem os efeitos das alterações. Aumentou a necessidade de conhecer, em profundidade, o tema. A nova safra de balanços já traz empresas que incorporaram alguns pronunciamentos aprovados pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis e pela CVM.
A atenção de analistas estará voltada para uma das principais alterações do IFRS em relação às normas contábeis locais: o conceito de fluxo de caixa futuro. A métrica é utilizada por investidores em suas decisões de aplicação em ativos e empresas.
Se não são os únicos atores do processo de convergência à lei 11.638, que alinha o modelo contábil doméstico ao IFRS, os contabilistas verão sua profissão ser valorizada e ganhar um novo status. No entanto, a capacitação dessa mão-de-obra está sendo colocada em xeque no País. "Estamos muito atrasados no que diz respeito ao ensino de contabilidade internacional no Brasil. No Canadá, os profissionais já saem das universidades treinados pelas normas do IFRS", comparou Vania Borgerth, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), que também ocupa o cargo de contadora-chefe do BNDES.
Segundo a executiva, o processo de adaptação às normas IFRS foi adiado por diversas empresas ao longo do ano passado. As desculpas foram da piora da crise internacional à indefinição da Receita Federal, que somente no final de 2008 publicou uma Medida Provisória garantindo a neutralidade tributária das companhias que adotassem o IFRS.
Mais trabalho
O calendário de normatização das normas internacionais no País será apertado. São cerca de 30 novas normas a serem colocadas em audiência pública. Entre elas as que tratam de imobilizados e propriedades para investimento.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Luciano Feltrin)
IFRS e educação
IFRS: um alerta aos cursos de contabilidade
Gazeta Mercantil - 19/2/2009
19 de Fevereiro de 2009 - A adoção do modelo de contabilidade conhecido como International Financial Reporting Standards (IFRS) pelas empresas brasileiras é um caminho sem volta. Elas terão de apresentar suas demonstrações financeiras segundo as novas regras em 2010, referentes aos números de 2009. Mas a implementação pode esbarrar em um entrave: a falta de profissionais qualificados para trabalhar sob as normas. O alerta foi feito ontem por Vania Borgerth, vice-presidente-executiva do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), também contadora-chefe do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em evento realizado pela Gazeta Mercantil, com o apoio da firma de auditoria KPMG, que lotou o auditório.
Contando que sua sobrinha está seguindo os passos da tia, em se debruçar sobre os números das empresas, Vania afirmou que a moça já cursou dois semestres de Ciências Contábeis em uma boa universidade no Rio de Janeiro. A aluna já passou todo um ano na faculdade e não aprendeu o que é e como usar o IFRS, nem uma sombra das noções. Quando ela for diplomada e for enfrentar o mercado de trabalho, irá encontrar as companhias em pleno uso das regras internacionais de contabilidade. "A implantação é um trabalho hercúleo, principalmente em termos de formato", disse ela. "E não temos um currículo nas faculdades para a formação de contador em IFRS."
A desventura, no entanto, não se restringe à sobrinha da contadora do BNDES. No Brasil existem mais de 400 mil contabilistas e técnicos ativos, segundo dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) de dezembro do ano passado. Mais 69 mil escritórios individuais e sociedades contábeis no mercado. É uma multidão. E boa parte terá de voltar para os bancos escolares para se afinar com as novas regras da contabilidade.
Além disso, existem mais de 1.100 cursos de Ciências Contábeis no País. Se imaginarmos uma média de 40 alunos por sala, serão mais de 40 mil contabilistas saindo do forno fresquinhos todos os anos, para enfrentar o mercado de trabalho. É importante que as universidades despertem para a urgência da implantação das regras do IFRS e comecem já a ministrar a matéria sob pena de o corpo discente sair da sala de aula com o conhecimento completamente defasado.
O professor Eliseu Martins, titular da cadeira de Contabilidade da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), que acaba de assumir uma diretoria na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), afirmou, também no evento, que estava vendo "esse filme" pela segunda vez na vida.
A primeira "exibição", conta Martins, ocorreu logo após a criação da Lei das Sociedades Anônimas, em 1976. As regras contábeis determinadas pela então revolucionária legislação foram publicadas somente em setembro de 1977, para serem aplicadas nos balanços daquele mesmo ano, apresentados à sociedade no início do ano seguinte. "Os balanços publicados eram uma calamidade", recorda o professor, que já formou gerações de contabilistas. "Muitas demonstrações tiveram de ser refeitas." Martins ressalva, porém, que não se pode esperar que tudo seja feito "certinho, sem erros", na primeira elaboração. É claro que haverá muitos erros e acertos, até que contabilistas, administradores, gestores, as empresas enfim, entronizem todos os detalhes da contabilidade internacional.
Ele lembrou que hoje o processo de educação pode ser acelerado e fortalecido, já que a rede mundial de computadores pode ser usada para disseminar os novos conhecimentos. Eu acrescentaria o papel que a mídia impressa tem feito no sentido de mostrar todos os passos que têm sido dados pelos órgãos envolvidos na elaboração e definição das regras, como o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), os órgãos federais e estaduais de representação de contabilistas, de analistas e das companhias abertas, além da própria CVM e do BNDES, que financiou a edição de um CD em português com a totalidade das regras do IFRS, já que uma edição impressa consumiria mais de 5 mil páginas.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) NELSON ROCCO*
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